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Resumo
O presente projeto objetiva-se em contrapor os aspectos jurídicos em relação aos direitos
fundamentais e civis das pessoas com Transtorno do Espectro Autista - TEA, normatizado na Lei
nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos
da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Ressalta-se que em várias concerne da lei, há
analogia sinônima do termo deficiência com incapacidade, havendo ratificação desta análise no
Artigo 1º, § 1º, Inc. I e II do referido dispositivo legal, sem considerar a diversidade de
características e complexidades do transtorno no aspecto do neurodesenvolvimento do indivíduo,
dentre outros. As lacunas existentes na aludida lei constitui a necessidade de definir os possíveis
níveis de deficiência que a pessoa com o TEA pode ser diagnosticada, considerando que
deficiência não é sinônimo de incapacidade como a lei normatiza. De tal modo, que contravém
direitos e retira da pessoa autista toda e qualquer autonomia civil, como a possibilidade de casar,
trabalhar, por exemplo, por desconsiderar as variabilidades do grau de afetação do transtorno.
Assim, o presente projeto visa à condita da lei nos termos de estabelecer o tipo, grau e variação
da deficiência para que se possa verificar se a pessoa com TEA, dita deficiente na Lei nº
12.764/12, será considerada relativamente ou absolutamente incapaz ou ainda, se nesse quadro
neurofuncional, a possibilita ou não de ser plenamente capaz de expressar de forma autônoma e
consciente a sua vontade, garantindo constitucionalmente seus direitos fundamentais e civis no
ordenamento jurídico brasileiro.
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1. Tema e Problema
Pretende-se neste projeto, investigar, por meio de pesquisas, grupos de estudo inter e
transdisciplinar, cursos, seminários, dentre outros, como profissionais da saúde, da educação e
do jurídico, que trabalham a possibilidade de autonomia dos sujeitos autistas. Buscar-se-á nesse
projeto, modos de ressignificação da doença que não seja o discurso da medicina patologizante,
naquilo já conhecido nos enunciados desses representantes da ciência contemporânea. Para
isso, precisasse ressignificar o lugar do sujeito diagnosticado com autismo numa perspectiva
psicojurídica e neurofuncional, de modo a considera-lo como sujeito de direitos e garantias que
devem ser observadas, respeitadas e cumpridas, não por uma possível “incapacidade” civil que
eles representam, mas, construir outro significado, o qual se rediscuta o lugar destinado a estes
sujeitos como ser cidadão. Exemplo disto cita-se a Lei nº 12.764/2012, que os inscreve no lugar
de incapazes de gerir sua vida civil, uma vez que para o ordenamento jurídico pátrio a
capacidade e incapacidade são institutos relacionados aos direitos das pessoas portadoras de
deficiência, constituindo-se etimologicamente como sinônimos.
Entretanto, autores referenciados sobre a temática, apontam que a pessoa com
transtorno do espectro autista, apresenta singularidades e estágios que não necessariamente
acomete a todos da mesma forma e intensidade. Essas singularidades, embora não tenham sido
observadas na feitura da referida Lei, não podem engendrar o discurso da incapacidade civil
para aspectos como a autonomia afetiva; profissional; social; intelectual dentre outras dos
sujeitos assim diagnosticados. Mediante a premissa, tem-se como:
Tema: O Autismo e a Lei nº 12.764/12: o que se aproxima e o que desafia nas garantias
dos direitos fundamentais e civis da pessoa com TEA.
Problema: Em que medida a Lei nº 12.764/12 negligencia constitucionalmente os direitos
fundamentais e civis das pessoas com TEA?
2 – Justificativa
Objetivos específicos:
• Descrever os diferentes níveis de comprometimento pelo autismo;
• Estabelecer a diferença entre deficiência e incapacidade no aspecto legal e clínico;
• Analisar a capacidade de desenvolvimento da criança com autismo a partir das várias
perspectivas de intervenção existentes;
• Propor nova redação para a Lei n. 12.764/2012, a fim de esclarecer o termo deficiência e
incapacidade;
• Restituir os direitos civis da pessoa autista, conforme singularidades e estágios
neurofuncional.
4 – Referencial Teórico
A expressão autismo foi utilizada pela primeira vez por Bleuler em 1911, para designar a
perda do contato com a realidade, o que acarretava uma grande dificuldade ou impossibilidade
de comunicação. Foi Leo Kanner, em 19431 quem isolou alguns casos semelhantes de 11
crianças que apresentavam entre outros aspectos, forte isolamento, ausência de reciprocidade
no olhar e desinteresse profundo em estabelecer contato. Essas definições ainda hoje são
consideradas apropriadas por pesquisadores da área médica, não sendo para os psicanalistas
da infância a referência observada.
Assim, Kanner usou a mesma expressão para descrever o quadro clínico de seus
clientes. Sugeriu que se tratava de uma inabilidade inata para estabelecer contato afetivo e
interpessoal e que era uma síndrome bastante rara, mas, provavelmente, mais frequente do que
o esperado, pelo pequeno número de casos diagnosticados.
Em 1944, Asperger descreveu casos em que havia algumas características semelhantes
ao autismo em relação às dificuldades de comunicação social em crianças com inteligência
normal. Após vários contextos investigativos, compreendeu-se que o Autismo não é uma doença
única, mas sim um distúrbio de desenvolvimento complexo, definido de um ponto de vista
comportamental, com etiologias múltiplas e graus variados de severidade.
A apresentação fenotípica do autismo pode ser influenciada por fatores associados que
não necessariamente seja parte das características principais que definem esse transtorno. Um
fator muito importante é a habilidade cognitiva. As manifestações comportamentais que definem
o autismo incluem déficits qualitativos na interação social e na comunicação, padrões de
comportamento repetitivos e estereotipados e um repertório restrito de interesses e atividades.
Conforme Tuchman (1991), a grande variabilidade no grau de habilidades sociais e de
comunicação e nos padrões de comportamento que ocorrem em autistas tornou mais apropriada
o uso do termo – Transtorno Invasivos do Desenvolvimento (TID). A partir da descrição de
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Em 1943, o psiquiatra Leo Kanner, em seu ensaio clássico “Autistic Disturbances of Affective Contact”, cunhou o termo
“autismo infantil”e forneceu um dos primeiros relatos sobre a síndrome da primeira infância.
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autismo e a delimitação de seus limites permanecem à sombra de uma decisão clínica um tanto
subjetiva.
Em relação a quantificação cosmopolita, se forem utilizados os critérios aceitos
presentemente para definir autismo, este certamente não é um distúrbio raro. Dependendo dos
critérios de inclusão, a prevalência de autismo tem variado de 40 a 130 por 100.000 habitantes,
ocupando o terceiro lugar entre os distúrbios do desenvolvimento, na frente das malformações
congênitas e da síndrome de Down.
Atualmente os critérios utilizados para diagnosticar autismo são os descritos no Manual
Estatístico e Diagnóstico da Associação Americana de Psiquiatria, o DSM. Seguindo este
padrão, estudos recentes sugerem que a prevalência dos TEA possa ser de dois a cinco casos
por 1.000, o que levou a especulações a respeito de uma epidemia de TEA. Não está claro que
a prevalência dos TEA tenha realmente aumentado; é provável que o aumento no número de
pessoas diagnosticadas se deva a um maior reconhecimento desses transtornos em crianças
menos gravemente afetadas e a diferenças nos critérios diagnósticos entre o DSM-III e o DSM-
IV-R, que estabelece o Autismo no valor de 130 para 100.000 hab. (DSM-IV, 1994).
Sendo assim, constituindo a retomada da historicidade, até meados da década de 80,
autismo não era considerado como uma entidade separada da esquizofrenia. Em 1.987, o DSM-
III-R instituiu critérios diagnósticos com uma perspectiva de desenvolvimento, e foram
estabelecidos dois diagnósticos, constituído sob o termo transtorno invasivo (ou global) do
desenvolvimento ou Desenvolvimento não-especificado (TID-NE). (DSM-IV, 1994). Desta forma,
o avanço no processo de identificação do transtorno possa significar o aumento deste na
população mundial.
Na prática, os TID ou transtornos do espectro autista (TEA) têm sido usados como
categorias diagnósticas em indivíduos com déficits na interação social, déficits em
linguagem/comunicação e padrões repetitivos do comportamento, contudo nem sempre estes
são autistas.
Os critérios do DSM-IV para autismo têm um grau elevado de especificidade e
sensibilidade em grupos de diversas faixas etárias e entre indivíduos com habilidades cognitivas
e de linguagem distintas. Não obstante, há uma necessidade de identificação de subgrupos
homogêneos de indivíduos autistas tanto para finalidades práticas quanto de pesquisa. As
subdivisões estabelecidas pelo DSM-IV relacionam termos mais gerais, como tentativa de
atender aos imperativos científicos de pesquisa, bem como permitir o desenvolvimento de
serviços que supram as necessidades de indivíduos com autismo e distúrbios relacionados.
Observa-se que desde a descoberta do TEA, poucos são os trabalhos, onde o foco
principal seja a escuta do sujeito, em sua grande maioria, estão centrados na perspectiva da
saúde mental, onde ao se abordar especificamente o autismo, as investigações são feitas a
partir dos primeiros meses de vida. Marcadamente heterogêneo, o discurso da ciência
considera-a, em um dos poucos aspectos de consenso, a mais precoce doença mental, discurso
centrado no saber médico.
Considerando o viés psicanalítico, Freud considerou impróprias as categorias de
racionalidade e objetividade para a compreensão do homem, uma vez que este vive por meio do
mundo simbólico da linguagem. Inventou, então, um procedimento para desvelar o sentido da
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palavra do homem, e dar-lhe voz, isso engloba a clínica Autista (ROSA, 2004).
O olhar da clínica psicanalítica versa o sujeito e não no seu sintoma. A clínica
psicanalítica do sujeito autista busca não reduzir a criança ao seu sintoma, mas, no lugar de
quem tem um psiquismo dotado de subjetividade, com conflitos, desejos e sofrimentos e que
deve ser simbolizado por meio da fala e não necessariamente a fala verbal.
Para isso Winnicott (1975, p. 15), referindo-se a clínica psicanalítica com bebês, diz que
há uma parte da vida de um ser humano que não podemos ignorar, “constitui uma área
intermediária de experimentação, para a qual contribuem tanto a realidade interna quanto a vida
externa”. Realidades internas e externas são constitutivas desse indivíduo, estão, portanto,
interligadas, constituindo subjetividade.
Buscando estabelecer uma visão geral do autismo e da síndrome de Asperger, Klin
(2006), diz que um diagnóstico de transtorno autista requer o enquadramento em uma
determinada e fixa quantidade de critérios comportamentais, dentre os vários apontados pelo
DSM-42, hoje quase a bíblia da psiquiatria, por exemplo: que o início do autismo se dá sempre
antes dos três anos de idade; falta de respostas a abordagens verbais; pouco interesse na
interação social; falta de contato visual, de apontar dar ou demonstrar comportamentos ou
alegria social, compartilhadas; prejuízo qualitativo na comunicação verbal e não-verbal e nas
brincadeiras; repertório notavelmente restrito de atividades e interesses.
No entanto, pesquisas recentes e que veem o sujeito sob uma perspectiva subjetiva,
consideram que esse interesse social pode aumentar com o passar do tempo. Há, em geral,
uma progressão no desenvolvimento tanto da fala quanto da interação social.
Entretanto, tem-se padrão de sintomas predominantemente centrados na observação
destes, que não levam em consideração a subjetividade do indivíduo, considerando novamente
uma classificação definida pelo saber médico psiquiátrico.
O que se pode afirmar, a partir de autores referenciados e com leitura científica mais atual
do espectro autista, que o diagnóstico, em lugar de auxiliar, muitas vezes se colocava como
obstáculo na busca por melhores formas de intervenção, levando a muitos impedimentos de
significar subjetivamente esses sujeitos.
Diante o ensejo, observa-se que muito se há para investigar quanto ao contexto
neurocientífico e psicanalítico do Transtorno do Espectro Autista, sendo assim, se compreendem
que uma lei não pode restringir direitos e deveres da pessoa autista, como decorre no limiar
jurídico da Lei n. 12.764/12.
Assim sendo, quando a referida lei define que a pessoa com transtorno do espectro
autista é considerada pessoa com deficiência também se torna necessário saber qual o tipo,
grau, variação da deficiência para que se possa declarar judicialmente se a pessoa com
transtorno do espectro autista é ou não incapaz, haja vista que para o ordenamento jurídico
brasileiro os dois institutos estão imbricados aos direitos das pessoas portadoras de deficiência.
Ressalta-se que a Lei n° 7.853 de 1989, que dispõe sobre a Política Nacional para a
Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, regulamentada pelo Decreto nº 3.298 de 1989
que definiu o que é deficiência e a separou em vários tipos.
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American Psychiatric Association. Diagnotic and Statistical Manual of Mental Disorders.
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5 – Metodologia
6 – Parcerias
APAE-Belém e Ananindeua.
8 – Cronograma de Execução
DSM-IV. Pervasive Developmental Disorders. In: Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders. 4th ed. Washington, DC: American Psychiatric Association; 1994. p. 65-78.
FOMBONNE, E. Epidemiological trends in rates of autism. Mol Psychiatry. 2002;7 Suppl 2:4.
KLIN, Ami. Autismo e síndrome de Asperger: uma visão geral. São Paulo: Revista Brasileira de
Psiquiatria, v. 28 maio de 2006.
PERINE, Marcelo (org). Estudos Platônicos: sobre o ser e o aparecer; o belo e o bem. São
Paulo: Edições Loyola, 2009.
ROSA, Miriam Debieux. A pesquisa psicanalítica dos fenômenos sociais e políticos. Revista
mal-estar e subjetividade. Fortaleza: V. IV, N. 2, p. 329 – 348. Set. 2004
TOTAL R$
Total R$
10.4 – Infraestrutura
ESPECIFICAÇÃO QUANTID.
Microcomputador ... 01
Software ... -
Livro – Periódico (Virtual – Gratuito) -
11 - Orçamento - Resumo
ITENS CUSTO TOTAL
Bolsa de Pesquisa – São duas. A definir
Material de Consumo – (em torno) 178,70