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Capacitismo

Significa discriminação de pessoas com deficiência.

O termo é pautado na construção social de um corpo padrão, sem deficiência,


denominado como “normal” e da subestimação da capacidade e aptidão de pessoas em
virtude de suas deficiências.

O capacitismo é considerado uma forma de preconceito, comumente vindo de pessoas


sem deficiência, que pré-julgam a capacidade e habilidades das pessoas com deficiência
com base apenas no que elas acreditam sobre aquela condição.

Capacitista é como são chamadas as pessoas que possuem crenças limitantes a respeito
das pessoas com deficiência. Elas as julgam de modo que as excluem da sociedade, seja
e uma roda de conversa ou ate mesmo no mercado de trabalho.

A LBI (lei brasileira de inclusão), que contempla desde acessibilidade em


estabelecimento comerciais, como também no ambiente digital, na educação e no
trabalho, além de também punir pessoas e organizações que desrespeitam e agridem as
pessoas com deficiência.

O capacitismo está previsto em lei, sendo considerado crime. A lbi, garante os direitos
das pessoas com deficiência e um deles é o respeito. Por isso, atitudes preconceituosas
contra as pessoas com deficiência, podem e devem ser punidas conforme a lei.

Aplica-se a pessoa autista a lei de cotas para pessoas com deficiência.

A Lei de Cotas para pessoas com deficiência (LEI Nº 8.213, DE 24 DE JULHO DE


1991) garante que essas pessoas sejam incluídas no mercado de trabalho. Ela
determina que as empresas com mais de cem colaboradores devem ocupar uma
porcentagem de seus cargos com pessoas com deficiência. Mas não vale contratar
pessoas com deficiência só para cumprir cota. Existem muitos profissionais
capacitados e que merecem ocupar seus espaços de direito.

AUTISMO E A POLITICA PÚBLICA - É CONDIÇÃO IMPRESCINDÍVEL


PARA O DESENVOLVIMENTO DA CIDADANIA.
DIREITOS DOS AUTISTAS NA ESFERA ADMINISTRATIVA

Os direitos dos autistas decorrem da previsão constitucional em que, o nosso


constituinte, estabeleceu o direito à saúde como direito fundamental e que a prestação
desse serviço deve ser oferecida pelo Estado na integralidade da necessidade do
paciente autista.
A integralidade informada acima consiste na entrega do acesso ao serviço de saúde,
baseando-se na necessidade do paciente e indicada pelo médico que o assiste. Sendo
assim, havendo a prescrição de terapias semanais com profissional especialista no
tratamento de autistas, deve o Estado oferecer a terapia indicado pelo médico, sob pena
de desobediência ao art. 198, II da CF.
Na própria CF, em seu art. 196, estabelece que a saúde é direito de todos e dever do
Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco
de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços
para sua promoção, proteção e recuperação. Pensando nisso e em obediência ao direito à
dignidade da pessoa humana e à vida, nosso legislador editou a Lei 8080/90, que dispõe
sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o
funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. E a proteção de
direitos, não somente aos ligados à saúde, incumbe ao Estado a atenção das
necessidades de cidadãos que demandam dedicação diferenciada para que, então, lhe
seja promovido o direito a igualdade. A partir desse entendimento, tivemos algumas
edições de leis
que garantem direitos diferenciados ao paciente autista em razão de sua particularidade
advinda do Transtorno do Espectro Autista (TEA). A justificativa desses benefícios
advém da promoção do direito à igualdade em que o autista merece receber e, para
tanto,
é de suma importância que o legislador conheça o Transtorno e promova a execução
desse direito fundamental de acordo com a necessidade da pessoa com deficiência.
Sendo assim, em 2012, foi publicada a Lei n. 12.764, conhecida como Lei Berenice
Piana, A mencionada lei, instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da
Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, prevendo, dentre outros direitos, a atenção
integral às necessidades de saúde da pessoa com Transtorno do Espectro Autista,
objetivando
o diagnóstico precoce, o atendimento multiprofissional e o acesso a medicamentos e
nutrientes. E sabemos da importância sobre o diagnóstico precoce para o acesso
imediato as terapias, tratamentos, medicamentos, entre outros.
Em 2015, foi publicada a Lei 13.146, que instituiu a Lei Brasileira de Inclusão da
Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), que assegura e promove,
em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por
pessoa
com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania.

Assim, dentre os diversos direitos previstos em nossas Legislações, enumera-se os


aqueles passíveis de acesso pela via administrativa, ou seja, sem a necessidade de
acionar o Judiciário para que possa ter acesso a ele, de modo mais rápido e sem
burocracia.

1. Fornecimento gratuito de medicamento pelo SUS


Em alguns casos, o médico que assiste a pessoa autista pode prescrever medicamentos
para auxiliar no tratamento do paciente, sendo assim, o art. 3º, III, “d”, da Lei
12/764/2012
prevê que é direito do autista o acesso a fármacos, com vistas à atenção integral às suas
necessidades de saúde. No mesmo sentido é a previsão no Estatuto da Pessoa com
Deficiência, que garante a obrigatoriedade do acesso ao remédio de maneira gratuita e
universal. Para o acesso, é necessário que o paciente tenha o cartão do SUS e a
prescrição médica. Caso seu direito não seja obedecido, a via judicial é a melhor
escolha.
2. Acesso ao ensino
É direito do autista ter acesso a educação, seja pública ou privada, e é dever do Estado e
instituições privadas assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência,
colocando-a a salvo de toda forma de violência, negligência e discriminação.
A escola não pode negar matrícula do aluno com deficiência, tampouco dificultar o seu
acesso. A instituição de ensino que recusar a matrícula de aluno com Transtorno do
Espectro Autista, ou qualquer outro tipo de deficiência, será punido com multa de 3
(três) a 20 (vinte) salários-mínimos (art. 7º da Lei 12764/12). É dever da escola integrar
o aluno em sala de aula com crianças da mesma idade que a sua e oferecer, caso seja
necessário,
um profissional capacitado para auxiliá-lo durantes as aulas. O custo desse profissional
não pode ser repassado para os pais da criança autista e nem ser negado pela instituição
de ensino (art. 28, § 1º da Lei 13146/15). Há diversas decisões judiciais de operadoras
de planos de saúde incumbidas na obrigação de custear psicopedagogo para a criança
que tiver indicação médica sobre essa necessidade.
3. Assistência Social
O art. 203, V, da Constituição Federal de 1988, garante um salário mínimo mensal à
pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovar não possuir meios de prover a
própria manutenção ou de tê-la provida por sua família. Sendo assim, caso a pessoa
autista ou sua família não obtiver renda financeira mensal suficiente para o sustento terá
direito ao Benefício de Prestação Continuada (BPC ou LOAS). O benefício tem caráter
assistencial e é garantido aquele que não tiver condições para manter seu sustento e de
sua família.
4. Reserva em cargo público
A Constituição Federal, em seu art. 37, VIII, delegou para o legislador nacional a edição
de lei visando reservar percentual de cargos e empregos públicos para as pessoas
portadoras de deficiência, bem como a definição de critérios de sua admissão.
Em obediência a determinação constitucional, o art. 5º, § 2º, da Lei nº. 8112/90, dispõe
que é assegurado o direito de se inscrever em concurso público para provimento de
cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são portadoras; para
tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas no
concurso.
No âmbito da iniciativa privada o art. 93, I a IV da Lei nº. 8.213/91, assinala que a
empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher de 2% (dois por
cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas
portadoras de deficiência, habilitadas na proporção lá sinalizada.
5. Isenção de impostos
A Lei n. 8989/95, dispõe sobre isenção de imposto sobre produtos industrializados (IPI)
para automóveis na aquisição de automóveis para utilização no transporte autônomo de
passageiros, bem como por pessoas com deficiência. Assim, pessoas com Transtorno do
Espectro Autista pode obter a isenção de IPI, para um único carro, a cada 3 (três) anos.
Motoristas profissionais (taxistas) podem solicitar a isenção a cada 2 (dois) anos.
Com o reconhecimento do benefício fiscal, deve-se levar a documentação ao órgão da
respectiva Receita Estadual, para então se buscar a isenção do Imposto sobre a
Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS. E por último, no momento do
emplacamento, é
possível a solicitação de isenção do IPVA.

6. Atendimento prioritário
O atendimento prioritário vem de encontro com o princípio da dignidade da pessoa
humana, previsto na nossa CF, que estabelece que todos devem ser tratados de maneira
digna. Esse esclarecimento é fundamental para compreendermos que, diferentemente de
outros transtornos, o TEA nem sempre é perceptível para as pessoas ao redor, mas, para
o autista, determinadas situações ultrapassam o seu limite de tolerância, como aguardar
o atendimento por horas em uma fila bancária. Assim, é direito do autista o atendimento
prioritário para que ele receba atendimento imediato e diferenciado em qualquer
estabelecimento, sobretudo com a finalidade de: I – proteção e socorro em quaisquer
circunstâncias; II - atendimento em todas as instituições e serviços de atendimento ao
público; III - disponibilização de recursos, tanto humanos quanto tecnológicos,
que garantam atendimento em igualdade de condições com as demais pessoas; IV -
disponibilização de pontos de parada, estações e terminais acessíveis de transporte
coletivo de passageiros e garantia de segurança no embarque e no desembarque; V –
acesso a informações e disponibilização de recursos de comunicação acessíveis; VI -
recebimento de restituição de imposto de renda; VII - tramitação processual e
procedimentos judiciais e administrativos em que for parte ou interessada, em todos os
atos e diligências (art. 9º da Lei 13146/15).
7. Vagas preferenciais
O art. 47 da Lei 13146/15 determina que, em todas as áreas de estacionamento aberto ao
público, de uso público ou privado de uso coletivo e em vias públicas, devem ser
reservadas vagas próximas aos acessos de circulação de pedestres, devidamente
sinalizadas, para veículos que transportem pessoa com deficiência com
comprometimento de mobilidade, desde que devidamente identificados. Para garantia
desse direito, é de suma importância que a pessoa compareça ao órgão de trânsito
municipal para emissão do cartão Defis e apresente a documentação necessária.
8. Passe livre
O Programa Passe livre é um programa do Governo Federal que garante às pessoas
carentes com deficiência a gratuidade no transporte coletivo interestadual – entre
Estados - de ônibus, barco ou trem. O objetivo do programa é fomentar a inclusão do
autista e terá direito aquele que tiver renda per capita de até 01 salário mínimo. Pessoas
autistas que necessitem de acompanhamento podem requerer que o benefício seja
estendido ao acompanhante. Vale lembrar que toda empresa deve reservar dois assentos
por viagem para beneficiários do Programa e os assentos devem estar,
preferencialmente, na primeira fileira das poltronas em proximidade de seus
acompanhantes.
9. Desconto na aquisição de passagem aérea
A pessoa autista, que necessite de acompanhante, tem direito de adquirir passagem
aérea para seu acompanhante com desconto de, no mínimo, 80% a depender da
companhia aérea. A regra está prevista na Resolução n. 280 de 2013 da ANAC,
que dispõe sobre os procedimentos relativos à acessibilidade de passageiros com
necessidade de assistência especial ao transporte aéreo. A aquisição é feita diretamente
na companhia aérea, com preenchimento do formulário MEDIF entregue por eles. É
necessário o envio do documento preenchido e assinado por médico com antecedência e
cópia do laudo médico. Vale lembrar que a Lei n. 14019/20, no seu art. 3º-A, § 7º,
dispõe
que é dispensado o uso de máscara no caso de pessoas com TEA que as impeçam de
fazer o uso adequado de máscara de proteção facial, conforme declaração médica, que
poderá ser obtida por meio digital.
10. Redução da jornada de trabalho
A Lei n. 13370/16 estende o direito a horário especial ao servidor público federal que
tenha cônjuge, filho ou dependente com deficiência de qualquer natureza e para revogar
a exigência de compensação de horário. Em dezembro de 2022, o STF decidiu, por
unanimidade, pelo direito à redução da jornada de trabalho do servidor público que
tenha filho ou dependente com deficiência (RE 1237867).
Para ter acesso a redução, o servidor deverá fazer o pedido administrativo ao seu órgão
com apresentação de documentos comprobatórios da deficiência e a necessidade de
terapias complementares com horários especificados. Quantos aos profissionais que
prestam serviços em empresas privadas, tivemos duas importantes decisões judiciais,
uma
da Sétima e outra da Terceira Turma do Tribunal Superior do Trabalho, que garantiram
o direito à redução da jornada de trabalho, sem redução de salário, a profissionais de
saúde que têm crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Nos
dois casos, levou-se em consideração que, na ausência de legislação específica, aplicam-
se normas internacionais, disposições constitucionais e, por analogia, o Regime Jurídico
Único (RJU) dos servidores públicos federais (Lei 8.112/1990), que assegura o direito
nessas circunstâncias. Esses foram alguns dos principais direitos administrativos da
pessoa autista, que foram conquistados a duras penas para garantir ao deficiente direitos
e igualdades até então inexistentes e que devem ser obedecidos por todos.

A INTERAÇÃO ENTRE OS CIDADÃOS E O PARLAMENTO MUNICIPAL EM


MATÉRIA DE INCLUSÃO ESCOLAR DOS ALUNOS COM AUTISMO

Portanto, algumas indagações podem trazer um norte sobre o caminho que se percorreu
e as estratégias que ainda podem ser adotadas para o alcance da efetividade de direitos
nesta
temática. Como, por exemplo: há interação entre os munícipes e as Câmaras
Legislativas em matéria de inclusão escolar das pessoas com autismo? As ações
praticadas pelo Poder Legislativo Municipal respondem às demandas sobre este
assunto? Há legisladores municipais com autismo ou que sejam responsáveis por
pessoas com TEA? Há participação popular na construção normativa ou na decisão da
destinação orçamentária?
se as políticas públicas funcionam como a ponte que ligará os direitos aos seus
destinatários e se “é uma diretriz elaborada para enfrentar um problema público, ou seja,
destinada a solucionar algo à coletividade”, (SECCHI, 2016, p.5), nada mais coerente
do que a participação cidadã, pois nela está o “lugar de fala” e o espelho das realidades
locais.( da participação popular no processo legislativo e do planejamento de políticas
públicas.) A educação como direito social fundamental exige por si só do Estado, um
engajamento em recursos financeiros para a promoção de políticas públicas; o que
segundo o próprio autor, faz com que a “administração direta e indireta, assuma
relevante
papel no controle da segurança dos direitos fundamentais”, Nesse contexto, o orçamento
público é a principal fonte de custeio das políticas públicas na promoção da inclusão à
educação das pessoas com autismo, sendo o município o ente federativo que apresenta
uma maior proximidade às necessidades da população local, mormente como indicador
dos verdadeiros problemas locais.
Um fato comumente enfrentado em municípios de interior, por exemplo, é a ausência de
profissionais da educação capacitados para ensinar, mediar e incluir o aluno com
autismo
no ambiente escolar. Ou seja, se por um lado o legislador federal entende o seu dever
cumprido, quando materializa este direito através de norma federal, por outro, o
legislador
municipal é quem realmente conhece as realidades locais e ações necessárias para dar
vida a lei. Igualmente, o Poder Legislativo Municipal pode exercer um importante papel
na mobilização de sua base nos governos estaduais e federal. Aqueles que o representa
podem propor emendas individuais ou mesmo votar pela apresentação de
emendas coletivas nos colegiados, que são constituídos pelas comissões permanentes ou
bancadas estaduais. Isso significa dizer que é possível que as propostas orçamentárias
do
Poder Executivo Estadual podem ser ajustadas e prever benefícios que ajudem o aluno
com autismo a partir de um esforço do Legislativo Municipal.
Ressalta-se que a Lei Complementar 101/2000, garante a participação popular também
na elaboração e no processo de discussão dos projetos de leis relacionados ao plano
plurianual, diretrizes orçamentárias e créditos adicionais. Em outras palavras, a Câmara
Municipal deve promover o debate junto a população e/ou órgãos de participação
popular.
Além disso, o Estatuto da Cidade, endossa as Leis Orgânicas ao estabelecer que “o
planejamento municipal adotará a gestão orçamentária participativa como instrumento”,
(BRASIL, 2001).
E ainda, especifica os meios utilizados para a sua efetivação, como debates, audiências e
consultas públicas sobre o orçamento anual, sendo esta uma condição inclusive para
aprovação das próprias leis.
A exigibilidade de um direito pelo cidadão aparece nas várias fases de construção de
políticas públicas. Como se percebe, desde uma iniciativa legislativa até participação no
orçamento público. Deste modo, em um primeiro momento se percebe a
importância do papel do Legislativo Municipal à materialização de direitos difusos e
coletivos daqueles que se encontram dentro do espectro autista, especialmente em
matéria de educação inclusiva. Por tanto, uma maior interação entre aquele Poder e
estes cidadãos traduziria não apenas a escolha do caminho legalmente imposto, mas
sobretudo a promoção daquele que terá maiores chances de ser efetivo.
Legislativo destina orçamento para capacitação e qualificação de profissionais
especializados para educação inclusiva??

OS DIREITOS DAS CRIANÇAS COM AUTISMO E AS DIFICULDADES DE


ACESSO A TRATAMENTO MULTIDISCIPLINAR NOS PLANOS DE SAÚDE

Os direitos das crianças com autismo e as dificuldades de acesso a tratamento


multidisciplinar nos planos de saúde constitui uma prática que deve ser inibida, de modo
a impedir que crianças com TEA tenham seus direitos violados.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) engloba diferentes condições no
desenvolvimento neurológico, que podem manifestar- -se com características
específicas, em conjunto ou isoladamente, marcadas pelos déficits qualitativos na
interação social e na comunicação, padrões de comportamento repetitivos e
estereotipados e repertório restrito de interesses e atividades. O diagnóstico do
Transtorno do Espectro Autista é eminentemente clínico, fruto da observação e da
aplicação de escalas cientificamente
validadas. Ele é um diagnóstico de exclusão, uma vez levantada a suspeita de TEA,
cada criança exige um tipo de acompanhamento específico e individualizado, que exige
a participação dos pais, dos familiares, dos educadores e de uma equipe profissional
multidisciplinar.
O tratamento com terapias de reabilitação com equipe multidisciplinar de profissionais,
que trabalham em conjunto para o tratamento sistêmico da criança com TEA, podem
reduzir substancialmente os sintomas do distúrbio.
Há uma série de consequências do reconhecimento tardio do espectro autista, algumas
delas estão relacionadas diretamente aos agravos de seus comportamentos.
“Quando a criança autista é diagnosticada tardiamente, aumenta a probabilidade do
fracasso em desenvolver relacionamentos com seus pares e a tentativa espontânea de
compartilhar prazer, interesses ou realizações com outras pessoas, ou seja, ela terá
ainda mais prejuízo e dificuldades na sua vida social. Logo o autismo precisa da sua
identificação o mais cedo possível para que se modifique, com efeito, os sérios
prejuízos sociais e de funcionamento cognitivo que, se nada feito, desembocarão em
permanentes dependências e impedimentos para o resto de suas vidas.”2
Segundo a literatura, o Transtorno do Espectro Autista-TEA não tem cura. Entretanto,
as descobertas da Neurociência e as terapias de intervenção precoce podem apresentar
resultados de ganhos significativos no desenvolvimento neuropsicomotor- DNPM das
crianças. Quanto mais precoce a detecção das alterações no DNPM, maior a capacidade
de organização neural através da neuroplasticidade e potencial de mielinização cerebral,
uma vez que nos primeiros anos de vida que a formação sináptica apresenta maior
velocidade e resultados satisfatórios, a estimulação precoce aproveita o período
sensitivo determinado pelas janelas de oportunidades no cérebro da criança3.

Direitos das crianças com autismo


A Constituição Federal de 1988, que instituiu o Estado Democrático de Direito, possui
entre suas cláusulas pétreas a proteção aos direitos e garantias fundamentais de todos os
cidadãos que estão sob a jurisdição nacional, todos essenciais para o exercício de uma
vida digna.4
Existem algumas pessoas que, por possuírem condições especiais, exigem do Estado
uma maior regulamentação que positive e torne efetivo o exercício desses direitos,
dentre eles aqueles que possuem o chamado transtorno do espectro autismo (TEA).5
Essa obrigação do Estado está expressamente prevista na Lei de Apoio às pessoas
portadoras de deficiência em vigor desde o ano de 1989, que em seu artigo 2º dispõe:
Art. 2º Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de
deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação,
à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância e à
maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu
bem-estar pessoal, social e econômico (BRASIL, 1989).
Os direitos dos autistas foram expressamente regulamentados pela Lei 12.764/2012, que
no parágrafo 2º do artigo 1° da norma determina que os diagnosticados com esse
transtorno tem seus direitos assegurados pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência que
abrange modalidades diversas de deficiência. Os direitos das pessoas diagnosticadas
com o transtorno do espectro autista estão enumerados no artigo 3º da Lei da Política
Nacional do TEA e são os seguintes:
Art. 3º São direitos da pessoa com transtorno do espectro
autista:
I – a vida digna, a integridade física e moral, o livre desenvolvimento da
personalidade, a segurança e o lazer;
II – a proteção contra qualquer forma de abuso e exploração;
III – o acesso a ações e serviços de saúde, com vistas à atenção
integral às suas necessidades de saúde, incluindo:
a) o diagnóstico precoce, ainda que não definitivo;
b) o atendimento multiprofissional;
c) a nutrição adequada e a terapia nutricional;
d) os medicamentos;
e) informações que auxiliem no diagnóstico e no tratamento;
IV – o acesso:
a) à educação e ao ensino profissionalizante;
b) à moradia, inclusive à residência protegida;
c) ao mercado de trabalho;
d) à previdência social e à assistência social.
Parágrafo único. Em casos de comprovada necessidade, a pessoa com transtorno do
espectro autista incluída nas classes comuns de ensino regular, nos termos do inciso IV
do art. 2º, terá direito a acompanhante especializado.
A Lei que dispõe sobre os planos e seguros de saúde, Lei 9.656/98, consagra o autismo
como um subtipo do Transtorno Global do Desenvolvimento, de maneira a não permitir
dúvidas da sua cobertura obrigatória. No entanto, apesar da ampla a regulamentação de
proteção legal dada às pessoas com Transtorno do Espectro Autismo, a simples previsão
legal não é suficiente, tendo em vista as operadoras de plano de saúde continuam a
negar tratamentos às crianças com TEA.
As negativas, a exclusão ou a limitação das operadoras dos planos de saúde para
garantir o tratamento multidisciplinar às crianças com autismo viola o princípio da
dignidade humana, afronta todo o regramento de proteção aos pacientes com TEA,
esvazia a finalidade do contrato, já que o paciente fica desamparado por quem, mediante
justa expectativa, deveria suportar os custos do tratamento prescrito, além do mais, não
pode o plano de saúde se furtar a prestar assistência, sob o argumento de que não há
previsão contratual, ou no rol da Agência Nacional de Saúde, em patente violação ao
Código Consumerista, artigo 51, IV, do CDC. O tratamento das crianças com TEA na
rede credenciada das operadoras de saúde deve ser realizado por profissionais
capacitados, nos termos indicados no relatório médico, sob pena de serem obrigadas a
custear tratamento fora da rede credenciada, sem qualquer tipo de limitação, não
podendo esquivar-se de sua responsabilidade. A escolha da técnica de tratamento
pertence ao médico, que a faz por meios dos conhecimentos adquiridos nos estudos e na
prática da profissão. Não cabe à operadora do plano de saúde interferir sobre as escolhas
do profissional. Assim prevê o Código de Ética Médica, ao dispor que os médicos
devem aprimorar seus conhecimentos e que nenhuma disposição por parte do hospital
ou instituição pública ou privada pode interferir na escolha por parte do médico, senão
vejamos a disposição contida no capítulo inicial sobre os princípios que assim enuncia:
XVI. Nenhuma disposição estatutária ou regimental de hospital ou de instituição,
pública ou privada, limitará a escolha, pelo médico, dos meios cientificamente
reconhecidos a serem praticados para o estabelecimento do diagnóstico e da execução
do tratamento, salvo quando em benefício do paciente.
As operadoras podem predeterminar as doenças passíveis de cobertura, que são
delimitadas no contrato de adesão, mas não podem determinar os tipos de tratamento
dos contratantes. Os serviços médicos essenciais à vida não podem ser interrompidos,
suspensos ou negados. O não fornecimento do tratamento é considerado abusivo, afinal,
causa prejuízo excessivo ao consumidor e impede que o contrato atinja sua finalidade,
que é proteger a vida do beneficiário. Em caso de resposta negativa, caberá uma ação
judicial com pedido de liminar contra o plano de saúde para que seja obrigado a custear
imediatamente o tratamento multidisciplinar para a criança com TEA com equipe
multidisciplinar capacitada com o método ABA e outros indicados pelo médico
assistente, nos termos do relatório médico.
O relatório médico deve conter o nível de urgência da necessidade do tratamento, com
destaque para as consequências, em caso desatendimento, inclusive com a especificação
na literatura para o tratamento recomendado.
Os direitos das crianças com autismo e as dificuldades de acesso a tratamento constitui
uma prática abusiva que deve ser inibida, de modo a impedir que crianças com TEA
tenham seus direitos violados, evitando atrasos substanciais no desenvolvimento
neurológico. A atitude das operadoras dos planos de saúde em negar, excluir ou limitar
o tratamento multidisciplinar das crianças com TEA está em total descompasso com o
direito e com o entendimento da jurisprudência pátria, vez que está cerceando a garantia
das coberturas contratadas, e pior, está colocando em risco a oportunidade de tratamento
adequado das crianças.

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