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17/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

A pessoa portadora de deficiência e a educação


no Brasil

A PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA E A EDUCAÇÃO NO BRASIL


Revista de Direito Constitucional e Internacional | vol. 60 | p. 7 | Jul / 2007
Doutrinas Essenciais de Direitos Humanos | vol. 4 | p. 907 | Ago / 2011DTR\2007\425
Andraci Lucas Veltroni Atique
Mestre e Doutora em Direito do Estado pela PUC-SP. Vice-Reitora do UNIRP. Ex-Conselheira do
Conselho Estadual de Educação de São Paulo. Advogada.

Alexandre Lucas Veltroni


Mestre em Direito do Estado pela PUC-SP. Assessor Jurídico da Secretaria Municipal de Gestão da
Prefeitura do Município de São Paulo. Advogado.

Área do Direito: Constitucional

; Internacional
Resumo: Este trabalho visa enfocar, especialmente, o direito da pessoa portadora de deficiência
à educação, entendendo-se esta como um dos direitos fundamentais da pessoa humana. Também
observa esse direito sob a luz dos vários mandamentos do Direito Internacional, ao analisar,
mesmo brevemente, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Pacto Internacional sobre os
Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais,
além de outros instrumentos internacionais de proteção dos Direitos Humanos, e sua incidência
sobre nosso ordenamento jurídico, bem como observar os mandamentos de nossa Constituição
Federal de 1988 e outros documentos infraconstitucionais, especialmente a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, visando à educação inclusiva e concomitante aceitação social da
pessoa deficiente. Tendo em vista que os deficientes são uma significativa parcela da população
mundial e o assunto ainda é tratado de forma evasiva ou mesmo evitado, queremos mostrar que
quaisquer que sejam as várias acepções de insuficiência, carência, ausência ou perda de
capacidades funcionais ou atributos físicos, deve-se sempre levar em consideração a dignidade da
pessoa humana, realçando-se a idéia de que, por mais divergente que seja a pessoa do padrão de
"normalidade" da maioria das demais, deve-se sempre buscar sua aceitação e inclusão social,
visando minorar sua situação depreciativa e sua dificuldade de se relacionar.

Palavras-chave: Educação - Direito fundamental - Direitos humanos - Pessoa portadora de


deficiência
Abstract: This work aims to approach, especially, the right to education of the handicapped
person, understood as one of the fundamental rights of the human being. It also faces these
rights under the various commandments of the International Law by analyzing even if briefly, the
Universal Declaration of Human Rights, the International Covenant on Civil and Political Rights and
the International Covenant on Economic, Social and Cultural Rights, besides other international
instruments for the protection of Human Rights and their influence upon our juridical organization,
as well as observing the commandments of our Federal Constitution of 1988 and other
infraconstitutional documents, especially the National Education Directive Law - LDB -, aiming for
inclusive education and the same time or sequent social acceptance of the handicapped one. How
the handicapped people are a significant parcel of the world population and this matter is still
avoided or focused evasively, even nowadays, we aim to show that, whatever their incapacities,
needs, lack or losses may be, either functional or physical, one must always consider the dignity
of the human person, enhancing that, the more different form the "normal pattern" of the most
society, the more you should seek for its acceptance and social inclusion, searching to lessen its
depreciative situation and difficulties to relate to others.

Keywords: Education - Fundamental right - Human rights - Handicapped person


Sumário:

1.Introdução - 2.Deficiência e a pessoa "portadora de" ou "com" deficiência - 3.Os portadores de


deficiência e o Direito Internacional - 4.O ordenamento jurídico brasileiro e os portadores de
deficiência - 5.A educação brasileira e o portador de deficiência - 6.Considerações finais -
7.Bibliografia

1. Introdução
O presente trabalho tem como enfoque o Direito à Educação como Direito Fundamental e a pessoa

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portadora de deficiência.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, o censo de 2000 revelou
existirem 24,6 milhões de pessoas portadoras de, pelo menos, uma das deficiências investigadas, o
que corresponde a 14,5% da população brasileira, que era de 169,8 milhões naquele ano.
Assim, os dados estatísticos revelam tratar-se de uma expressiva parcela da sociedade brasileira
e, à medida que o número de pessoas deficientes aumenta, necessário se faz não apenas positivar
os seus direitos, mas também assegurar-lhes o seu exercício, preservando-se-lhes, assim, a
devida dignidade e cidadania.
A proteção dos direitos das pessoas portadoras de deficiência evoluiu nas últimas décadas,
passando de uma quase nulidade para enfoque meramente assistencialista e que, infelizmente,
perdura na mentalidade do povo, já de há muito tempo, remontando à Idade Média, passando uma
grande parcela da humanidade a reconhecer, atualmente, mas apenas formalmente o significado
de Estado Democrático de Direito, com a garantia da Dignidade Humana a todos os seus membros,
portadores ou não de deficiência.
Assim, pretendemos com este estudo, de início, analisar o conceito de pessoa portadora de
deficiência, segundo a perspectiva da Constituição Federal de 1988, apoiados na legislação
internacional existente, deixando claro que não queremos esgotar o assunto, mas tão-somente
proporcionar uma análise da questão para melhor entendimento dos termos utilizados.
Adotamos a expressão "pessoa portadora de deficiência", termo acolhido pelos primeiros
movimentos de defesa de direitos dessa categoria social, e ainda hoje reconhecido por muitos
como o mais adequado, enfatizando a "pessoa" e não a "deficiência", também, por ser esta a
expressão utilizada por nossa Carta Magna (LGL\1988\3), em alguns de seus artigos.
É dentro desses limites que observaremos a Educação e a pessoa portadora de deficiência,
verificando, de forma primordial, o dever do Estado em proporcioná-la e o direito das pessoas
portadoras de deficiência em recebê-la, a fim de se garantir o Princípio base de nosso Estado, que
é a Dignidade da Pessoa Humana.
O tema, por sua importância e fundamentalidade para a inserção da pessoa portadora de
deficiência no cerne da sociedade em que vive, garantindo-lhe direitos, e também para o exercício
da cidadania desse grupo de pessoas, merece uma maior visibilidade e atenção. Portanto, faz-se
necessário o seu enfoque por parte da sociedade como um todo, na medida em que a Educação
tem um papel de suma relevância quanto ao destino das pessoas portadoras de deficiência em
relação à sua plena inserção no meio social.
2. Deficiência e a pessoa "portadora de" ou "com" deficiência
Como um enfoque inicial de nosso trabalho, abordamos o conceito de deficiência e também da
pessoa portadora de algum tipo desta, lembrando que não é uma extensiva delimitação do tema,
mas tão-somente uma colocação para o entendimento dos termos amplamente utilizados em nossa
tarefa.
Como o assunto ainda é tratado, de forma evasiva e evitado pela sociedade, com um sentido
muito descaracterizado de seu real significado, vamos tentar indicar o sentido da palavra
deficiência.

Assim, do dicionário Houaiss1 transcrevemos:


"Deficiência: s.f. (1661 cf. RB). 1. med. insuficiência ou ausência de funcionamento de um órgão
<d. glandular>. 2. psiq. insuficiência de uma função psíquica ou intelectual <d. mental> <d.
sensorial>. 3. p.ext. perda de quantidade ou qualidade; falta, carência <d. de recursos> <d. de
vitaminas>. 4. p.ext. perda de valor; falha, fraqueza <há que suprir as d. da educação pública
primária>."
Pela análise do termo, verificamos que em todas as acepções trazidas se diz "insuficiência",
"ausência", "falta" ou ainda de "perda" de algo de importância no ser humano, dando-se uma
conotação negativa ao termo. Faz-se, assim, uma valoração depreciativa da palavra que, como
veremos adiante, quando associada à pessoa, alguém com algum tipo de deficiência, também vai
acabar por depreciar o próprio portador de qualquer deficiência, situação que se quer ao menos,
tentar minorar.
Passemos então à pessoa que, quando nasce com vida, adquire personalidade jurídica. Qualquer
que seja o lugar de seu nascimento, sua cor de pele, as condições financeiras de sua
ascendência, independentemente de qualquer atributo físico, sua dignidade humana deve ser
levada em consideração e também realçada.
Entretanto, todos os indivíduos que, de modo aparente, tenham qualquer dificuldade natural ou
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mesmo dificuldade de aceitação social, que sejam divergentes do padrão de "normalidade" da


maioria das pessoas de um determinado grupo social, podem ser considerados como pessoas
portadoras de deficiência.
A Declaração dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência, editada em 1975 pela ONU,
afirma, em seu art. 3.º, que:
"Às pessoas portadoras de deficiência assiste o direito inerente a todo e qualquer ser humano, de
ser respeitadas, sejam quais forem seus antecedentes, natureza e severidade de sua deficiência.
Elas têm os mesmos direitos que os outros indivíduos da mesma idade, fato que implica desfrutar
de vida decente, tão normal quanto possível."
Assim, conforme afirmamos, e sendo nossa afirmação corroborada pela citada Declaração, a
pessoa com deficiência tem exatamente os mesmos direitos que qualquer outra pessoa que seja
compatível em sua idade, e merece, ou melhor, deve ter respeitada a sua dignidade enquanto ser
humano.
Luiz Alberto David Araújo ensina que: "O que define a pessoa portadora de deficiência não é a
falta de um membro nem a visão ou audição reduzidas. O que caracteriza a pessoa portadora de
deficiência é a dificuldade de se relacionar, de se integrar na sociedade. O grau de dificuldade
para a integração social definirá quem é ou não portador de deficiência." 2
Entre as várias concepções de pessoa deficiente trazidas pelo nosso ordenamento jurídico, o art.
2.º, III, da Lei 10.098, de 19.12.2000, que atendeu aos mandamentos constitucionais dos arts.
227, § 2.º, e 244, da CF/1988 (LGL\1988\3), diz que "pessoa portadora de deficiência ou com
mobilidade reduzida: a que temporária ou permanentemente tem limitada sua capacidade de
relacionar-se com o meio e de utilizá-lo".
O Dec. 914/93, que instituiu a política nacional para a integração da pessoa portadora de
deficiência, estabeleceu que pessoa portadora é aquela que tem deficiência permanente, perdas
ou anormalidades de sua estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, o que gera
incapacidade para o desempenho de atividades, dentro do padrão considerado normal para o ser
humano, não querendo nós aqui discutir o que é ou não considerado "normal". Este decreto foi
revogado pelo Dec. 3.298/99, que manteve o entendimento anterior e ampliou a descrição de
cada tipo de deficiência.
Precisamos frisar, também, que deficiência não é uma doença. É, sim, uma insuficiência, uma
falha, um defeito que estabelece limitações à pessoa que a possui sem, todavia, torná-la incapaz
para o desempenho de variadas atividades laborativas ou lúdicas e de lazer, mas apenas exigindo-
lhes o exercício de certas atividades mais adequadas às suas condições pessoais por ser
portadora de deficiência.
A insuficiência traz ao seu portador alguma deficiência, por certo, visto impor-lhe determinadas
limitações ou alguma redução em sua capacidade produtiva, mas não o torna incapaz absoluto; ao
contrário, podemos citar como exemplo o paraplégico, que tem impossibilidade ou dificuldade tão-
somente quanto a sua locomoção com as próprias pernas, mas que continua com todas suas
outras funções inalteradas. Pode e deve ser um indivíduo produtivo, apesar de não ter plena
capacidade para caminhar por si só, fazendo-o de forma apropriada ou com aparelhos, e com a
agilidade que lhe é peculiar, não como a pessoa sem aquela insuficiência, mas não podendo, só
por essa razão, ser simplesmente excluído da sociedade.
Assim, optamos por utilizar o termo portador de deficiência, uma vez que nosso ordenamento
jurídico assim o faz, especialmente a Constituição Federal de 1988, quando em alguns de seus
artigos também utiliza essa expressão, mas queremos, aqui, dar a ênfase à pessoa, que deve ser
respeitada e valorizada em sua dignidade humana, independentemente de ser ou não portadora de
alguma deficiência.
3. Os portadores de deficiência e o Direito Internacional
A deficiência do ser humano bem como sua prevenção e também a proteção do homem portador
de qualquer deficiência, não é uma preocupação recente. Estudo realizado estima que haja na
Terra mais de 600 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, seja ela mental, física ou
sensorial, traduzindo-se em aproximadamente dez por cento da população do planeta. 3
Durante o decorrer da história humana, os portadores de deficiência foram, em grande parte,
excluídos das sociedades em que viviam, seja por seu extermínio, seja pela segregação ou
afastamento do convívio com seus pares. Tal exclusão passou dos limites do aceitável em muitas
das sociedades do globo, na medida em que o deficiente era efetivamente considerado como um
morto, ou seja, civilmente sem direitos, ou ainda, em virtude de que não tinha direito a ter
direitos.

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No século passado - séc. XX -, testemunhou-se, a mando de Adolf Hitler, nos campos de


concentração, o extermínio de milhares de pessoas portadoras de deficiência, em nome da crença
na superioridade da "raça ariana". Também a guerra fez com que o número de deficientes
aumentasse consideravelmente.
Luiz Alberto David Araújo leciona que: "Um importante divisor de águas para o estudo da proteção
das pessoas portadoras de deficiência foi a ocorrência das duas guerras mundiais, o que fez
aumentar, desgraçadamente, o número de pessoas portadoras de deficiência de locomoção,
audição e visão". 4
Também foi após o período das Guerras Mundiais que se impulsionou o desenvolvimento do Direito
Internacional, tendo como sua propulsora a Organização das Nações Unidas - ONU e seus vários
organismos que incitaram e obrigaram o estabelecimento de direitos a serem assegurados
internacionalmente, por suas Declarações, Tratados e Convenções.
3.1 A Declaração Universal dos Direitos Humanos
Após a II Guerra Mundial, começa a nascer a vontade política internacional de assegurar direitos
fundamentais ao ser humano com abrangência universal. Assim, a criação da Organização das
Nações Unidas - ONU em 1945, através da Carta das Nações Unidas, e a promulgação da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, é que impulsionaram uma série de outras
manifestações no sentido de assegurar os direitos fundamentais às pessoas.
É nesse momento histórico do pós-guerra que surgem os fenômenos da universalização, por meio
da expansão internacional e da multiplicação dos direitos humanos, uma vez que então se
começou a se considerar o homem na sua individualidade, ou seja, respeitando-se a sua
dignidade.
Nesse sentido, Camila Leal Calais e Elaine Campos Guijarro ensinam que:
"A preocupação com os direitos humanos, posta de forma 'consciente e organizada' no âmbito do
Direito Internacional Público, somente aparece após 1945 com a fundação das Nações Unidas. É
nesse contexto de pós-guerra que surge, em 1948, a Declaração Universal dos Direitos do Homem,
base para qualquer direito, principalmente para os direitos da pessoa portadora de deficiência
mental (...)." 5
Claro é que as ilustres juristas referem-se ao portador de deficiência específica, in casu, mental,
mas que, em amplo aspecto, o ensinamento é válido para qualquer deficiente, especificamente
quando nos trazem o artigo II da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que aqui também
reproduzimos:
"Artigo II - 1. Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos
nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião,
opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer
outra condição."

Norberto Bobbio reflete que, dessa multiplicação de direitos surge o fenômeno da especificação, 6
afirmando que, com relação ao gênero, reconhecem-se as diferenças entre homem e mulher; em
relação às fases da vida, distinguem-se os direitos da infância, da velhice e da fase adulta do
homem, e que, quanto às limitações, considera-se a pessoa normal e a portadora de alguma
deficiência, querendo aqui indicar a pessoa portadora e a não portadora de deficiências.
Assim, após a Declaração Universal dos Direitos do Homem, e dentro do conceito de proteção aos
direitos do homem em termos pactuados internacionalmente, não obrigatoriamente seguindo a
cronologia de edição dos atos, temos que nos reportar a dois pactos subseqüentes, que
complementaram a primeira Declaração e que, todos em conjunto, formam a denominada "Carta
Internacional dos Direitos Humanos", conforme nos ensina Flávia Piovesan: 7
"Todavia sob um enfoque estritamente legalista (não compartilhado por este trabalho) a
Declaração Universal, em si mesma, não apresenta força jurídica obrigatória e vinculante. Nessa
visão, assumindo a forma de declaração (e não de tratado), vem a atestar o reconhecimento
universal de direitos humanos fundamentais, consagrando um código comum a ser seguido por
todos os Estados.
À luz desse raciocínio e considerando a ausência de força jurídica vinculante da Declaração, após
a sua adoção, em 1948, instaurou-se uma larga discussão sobre qual seria a maneira mais eficaz
em assegurar o reconhecimento e a observância universal dos direitos nela previstos. Prevaleceu,
então, o entendimento de que a Declaração deveria ser 'juridicizada', sob a forma de tratado
internacional, (...) concluído apenas em 1966, com a elaboração de dois tratados internacionais
distintos - o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional de Direitos

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Econômicos, Sociais e Culturais - que passavam a incorporar os direitos constantes da Declaração


Universal."
Ainda temos que lembrar que no período entre a edição desses três documentos, esteios da "Carta
Internacional dos Direitos Humanos", e no decorrer do tempo até sua entrada em vigor, foram
editadas várias outras Declarações e Tratados ou Convenções também de fundamental
importância na proteção dos Direitos e Garantias Fundamentais ou, por assim dizer, dos Direitos
Humanos, conforme Lindgren Alves explana:
"Os três principais elementos que dão sustentação a toda a arquitetura internacional de normas e
mecanismos de proteção aos direitos humanos são a Declaração Universal de 1948, o Pacto
Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional Sobre Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais. (...) Enquanto a Declaração Universal foi redigida e adotada em menos de três
anos, o início da vigência internacional dos dois pactos que iriam complementá-la, conferindo-lhe a
força obrigatória de ato jurídico conforme o Direito Internacional, exigiu trinta anos (...)." 8
Assim, visto que a Carta Internacional dos Direitos Humanos, documento tríplice, é formada pela
Declaração Universal dos Direitos Humanos, pelo Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos
e pelo Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, passemos, então, ao
enfoque dos citados pactos.
3.2 O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos
Este pacto, que foi aprovado pela Assembléia Geral da ONU em 1966, entrou em vigor somente no
ano de 1976, em virtude da necessidade das diversas ratificações por parte dos países que o
adotaram para sua implementação.
Tal pacto, "não só incorpora inúmeros dispositivos da Declaração, com maior detalhamento (...)
como ainda estende o elenco desses direitos", 9 que são Direitos Humanos juridicamente
vinculantes aos Estados signatários, e que são basicamente os seguintes: direito à vida; direito à
não submissão do homem a torturas ou tratamentos cruéis; direito à não escravização; direito à
liberdade, segurança pessoal e à não prisão arbitrária; direito a julgamento justo; igualdade
perante a lei; liberdade de movimento; direito a uma nacionalidade; direito a formar família;
liberdade de pensamento e de religião; liberdade de expressão; direito de reunião e de associação;
direito de voto e do indivíduo tomar parte em governo.
A regulamentação do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos foi acatada pelo Brasil no
ano de 1992, através do Dec. 592/92, que implicou na necessária ratificação por parte de nosso
Estado, que com ele concordou em seguir suas normas, aceitando seus ditames.
Assim, podemos analisar que a adoção do presente Pacto, por nosso país, reafirmou a vigência e a
observância dos Direitos Civis e Políticos enquanto Direitos Fundamentais, vinculando o Estado
brasileiro ao sistema internacional de proteção dos Direitos Humanos, incluindo-se nele todas as
pessoas, considerando-se tão-somente a sua dignidade humana, independentemente de serem ou
não portadoras de alguma deficiência, pois, como reza o próprio Pacto, em seu preâmbulo:
"Os Estados-partes no presente Pacto,
Considerando que, em conformidade com os princípios proclamados na Carta das Nações Unidas, o
reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos
iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo, (...)." 1 0
Assim, assegurou-se a "todas as pessoas" seus Direitos Civis e Políticos, enquanto Direitos
Humanos, reconhecidos internacionalmente, verificando-se que, basicamente, os direitos e
garantias individuais têm enfoque todo especial no Direito à Liberdade e têm, como fundamento, a
dignidade da Pessoa Humana.
3.3 O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
Em complementação à "Carta Internacional de Direitos Humanos", a ONU editou, através de sua
Assembléia Geral, o nomeado Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais -
PIDESC, com o objetivo de fortalecer o "(...) sistema normativo global de proteção dos direitos
humanos", 1 1 sendo este de vital enfoque em nosso estudo, em virtude de trazer, em âmbito
internacional, a regulamentação dos direitos culturais, dentre os quais se insere e destacamos o
Direito à Educação.
Em 16.12.1966, o Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais - PIDESC
foi adotado pela Resolução 2.200-A (XXI) da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas
- ONU, tendo sido também adotado no mesmo ano, apenas para relembrarmos, o Pacto
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos.

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Em 03.01.1976, após quase dez anos de sua edição, entrou em vigor o PIDESC, somente após sua
35ª ratificação, feita pela Jamaica, tendo este tempo entre sua adoção pela ONU e sua entrada
em vigor decorrido apenas em função das necessárias ratificações pelos Estados signatários,
número esse de ratificações que o próprio instrumento determinou.
Concordante com os ritos de nossa Constituição Federal (LGL\1988\3), o PIDESC foi aprovado em
12.12.1991 pelo Congresso Nacional Brasileiro, através do Dec. Leg. 226/91 e já em 24.01.1992, o
Estado brasileiro ratificou sua adesão ao citado Pacto, através do depósito do documento em que
se vinculou a ele como Estado-parte, ratificação essa feita junto ao Secretariado Geral da ONU.
Após o trâmite exigido por nossa Carta Magna (LGL\1988\3), de apreciação pelo Congresso
Nacional e da assinatura do Tratado, ou seja, sua ratificação, o PIDESC foi promulgado em
06.07.1992 pelo Dec. 591/92 da Presidência da República, vinculando-se a ele, então, para efeitos
legais, o nosso Direito Interno.
O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais - PIDESC, que na sua forma de
"tratado" internacional adotado mediante as exigências constitucionais locais de cada Estado-
parte, bem como pelos próprios procedimentos nele mesmo exigidos, vincula os signatários a vários
direitos que a seguir elencamos, citando os correspondentes artigos:
- Direito ao trabalho - art. 6.º;
- Direito a condições justas de trabalho e de associação sindical - arts. 7.º e 8.º;
- Direito à previdência e seguro social - art. 9.º;
- Direito à proteção da família e nível adequado de vida - arts. 10 e 11;
- Direito a um elevado nível de saúde física e mental - art. 12;
- Direito à educação com a obrigatoriedade e gratuidade da educação primária - arts. 13 e 14;
- Direito do indivíduo de participar da vida cultural, de desfrutar do progresso científico e de
beneficiar-se da produção da qual seja ele autor. - art. 15.
Assim, como visto, o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais traz, em seu
bojo, o Direito à Educação, que é o nosso enfoque neste estudo.
O Pacto contempla, especificamente em seu art. 13, a noção de que o direito à educação é um
direito humano, sendo, portanto, um direito fundamental, conforme transcrição do citado artigo:
"Art. 13.º - 1. Os Estados-partes no presente Pacto reconhecem o direito de toda a pessoa à
educação. Concordam em que a educação deverá visar ao pleno desenvolvimento da
personalidade humana e do sentido de sua dignidade e a fortalecer o respeito pelos direitos
humanos e liberdades fundamentais. (...)" (Grifo nosso.)
Prossegue então o PIDESC, ainda no "item" 1 do mesmo artigo, dizendo que a educação deverá
ser adotada para o desenvolvimento da personalidade humana em sua dignidade, e para o
fortalecimento dos Direitos Humanos, enfocando as idéias básicas das liberdades fundamentais, da
justiça e da paz.
E, ainda aqui, também de valiosa importância ressaltar,
"(...) Concordam ainda que a educação deverá capacitar todas as pessoas a participar
efetivamente de uma sociedade livre, favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre
todas as nações e entre todos os grupos raciais, étnicos ou religiosos e promover as atividades
das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. (...)."
O item 2, com suas alíneas, contempla a obrigatoriedade do ensino fundamental e sua
acessibilidade a todas as pessoas, bem como sua gratuidade. Já o ensino médio (2.º grau),
incluindo-se nele o técnico e o profissionalizante, apesar da não obrigatoriedade de sua
gratuidade, deve também ser acessível a todos e ministrado de forma generalizada, bem como a
busca de uma progressiva implantação daquela almejada gratuidade, enquanto o ensino superior
só se submete à obrigatoriedade da acessibilidade a todos e da progressiva implantação da sua
gratuidade, não contemplando aquele dispositivo sua obrigatoriedade a todos os indivíduos.
Ainda nesse artigo faz-se expressa referência ao oferecimento de ensino básico, na medida do
possível, às pessoas que não o receberam ou não o concluíram na época adequada. Então, têm-
se:
a) Ensino Fundamental - obrigatório, acessível a todos e gratuito;
b) Ensino Médio - acessível a todos, mas não obrigatório e com gratuidade almejada;
c) Ensino Superior - acessibilidade, mas não obrigatoriedade a todos e gratuidade almejada;
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d) Educação de base a pessoas de idade superior àquela normal da época.


Para finalizar o pactuado em termos de educação no PIDESC, o item 3 do citado art. 13 diz ser de
competência dos pais dos educandos a escolha do tipo de ensino a ser ministrado a seus filhos,
tendo-se, porém, de obedecer à legislação nacional do Estado e ainda aos princípios enunciados
pelo próprio Pacto, além da previsão desse ensino ter a possibilidade de ser promovido por
particulares.
Lembrando as lições de Hannah Arendt acerca da educação, e para ilustrar este estudo,
transcrevemos:
"(...) A educação está entre as atividades mais elementares e necessárias da sociedade humana,
que jamais permanece tal qual é, porém se renova continuamente através do nascimento, da
vinda de novos seres humanos. Esses recém-chegados, além disso, não se acham acabados, mas
em um estado de vir a ser. Assim, a criança, objeto da educação, possui para o educador um
duplo aspecto: é nova em um mundo que lhe é estranho e se encontra em processo de formação:
é um novo ser humano e é um ser humano em formação. (...)." 1 2
Assim, vimos que o PIDESC previu em seu bojo os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais,
garantidos como Direitos Fundamentais do homem e inerentes à sua dignidade, baseados no
Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, mais uma vez aqui ressaltados, e que através dele -
PIDESC - qualquer pessoa, portadora ou não de alguma deficiência que seja, tem garantida sua
qualidade de vida e sua educação, enquanto membro da família humana.
3.4 Instrumentos internacionais de proteção dos Direitos Humanos
Após a citação da "Carta Internacional dos Direitos Humanos" - documento hipotético formado
pela reunião da Declaração Universal dos Direitos Humanos, do Pacto Internacional sobre Direitos
Civis e Políticos e do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, para melhor
vislumbrarmos os direitos garantidos aos homens, portadores ou não de deficiências, dentro do
sistema internacional de garantia dos Direitos Humanos, temos que citar ainda a edição de vários
outros instrumentos seguidos pela comunidade internacional.
Assim, nosso país ratificou também a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas
Cruéis, Desumanos ou Degradantes, em 1984, a Convenção Internacional sobre a Eliminação de
todas as Formas de Discriminação Racial, em 1965, a Convenção sobre a Eliminação de todas as
Formas de Discriminação contra a Mulher, em 1979, além da filiação do Estado brasileiro a diversos
organismos internacionais, membros da própria ONU, que visam promover o desenvolvimento,
fomentar a educação e a implantação dos Direitos Humanos a todos os indivíduos, em escala
mundial.

Nesse sentido, trazemos o ensinamento de Cançado Trindade, 1 3 de que "foi tão-somente nos
tempos modernos que se veio a aceitar, na teoria e na prática, que não havia impossibilidade
lógica ou jurídica de normas de direito internacional se dirigirem diretamente aos indivíduos como
pessoas protegidas a nível internacional (...)", fazendo ele ver que o Direito Internacional se
transforma num direito protetor do homem, dirigindo-se também à proteção do indivíduo e não
mais direcionado somente aos Estados pactuantes de tratados e convenções.
E prossegue o autor sobre a pessoa humana em relação ao sistema de direitos internacionais: "
(...) Fator determinante da posição dos indivíduos em um sistema de proteção internacional reside
no reconhecimento de sua capacidade processual, i.e., de seu direito de recorrer a um órgão de
supervisão internacional". 1 4
Então, para o desenvolvimento do pensamento e também das normas jurídicas de proteção ao
portador de deficiência, importante ressaltarmos os esforços de vários países, enquanto membros
da comunidade internacional, e ainda da ONU e seus organismos específicos, como a OIT -
Organização Internacional do Trabalho, a OMS - Organização Mundial de Saúde, o PNUD -
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, e também da Unesco - Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, bem como, do Unicef - Programa das
Nações Unidas para a Infância.
Ainda, dentre os vários documentos internacionais de proteção ao portador de deficiência, que
são a base das legislações sobre o assunto, podemos citar a Declaração dos Direitos do Impedido,
de 1975, as Normas Internacionais do Trabalho sobre a Readaptação Profissional da OIT, de 1983,
as Normas sobre a Igualdade de Oportunidades para as pessoas portadoras de deficiência, da
Assembléia Geral da ONU, de 1993, a Declaração de Salamanca, de 1994, que trata das ações
sobre necessidades educativas especiais. Ainda aqui há que se lembrar de todas as declarações
específicas relativas ao enfoque da deficiência de forma geral, que são "a base filosófica" dos
documentos normativos relativos à matéria, conforme Maria de Lourdes Canziani: 1 5

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"Todos esses documentos e normas internacionais mencionados têm sua base filosófica inspirada
na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), na Declaração dos Direitos das Pessoas com
Retardamento Mental (1971), nas Resoluções da Organização Mundial de Saúde para a Prevenção
de Deficiências e Reabilitação (1976), na Declaração dos Direitos da Criança (1979), na
Declaração dos Direitos da Pessoa Surda e Cega (1971), na Carta dos anos 80, nas
Recomendações da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a
Mulher, na Declaração da I Conferência de Ministérios de Saúde e Bem-Estar Social dos Países da
América e Espanha (1981), nas Recomendações dos Congressos e Seminários Interamericanos
sobre Retardamento Mental organizados pelo Instituto Americano Del Nino (1965-1976 e 1986), na
Declaração Mundial sobre Educação para Todos, no Programa de Ação Mundial de Saúde, no
Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e outras organizações que lutam pela proteção
e defesa das pessoas."
Vimos, portanto, que muitos são os Organismos Internacionais, as Declarações e Tratados, enfim,
documentos de proteção aos Direitos Humanos, editados e pactuados internacionalmente, que
tratam da proteção aos direitos dos portadores de deficiência, e que também incidem em nosso
país, uma vez que nosso Estado é membro da ONU e ainda da OEA - Organização dos Estados
Americanos, a qual contempla, em nível regional, a proteção dos Direitos Humanos nas Américas.
Em nível regional, então, temos de lembrar da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do
Homem, adotada em abril de 1948, anteriormente à Declaração Universal, quando foi aprovada
também a própria OEA. Sem nos alongarmos no exame das Cartas, vale lembrar também da
Convenção Americana sobre Direitos Humanos, chamada de "Pacto de San José da Costa Rica", de
1969, que foi ratificado pelo Brasil em 1992 (Dec. 678/92), o qual garantiu Direitos Civis e Políticos
às pessoas nos Estados Americanos. Nesse âmbito regional de defesa dos Direitos Humanos, nosso
país ratificou várias declarações de direitos, mas, importante frisar, sob nosso enfoque, a
Convenção Interamericana para a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra as
Pessoas Portadoras de Deficiência (1999).
A Convenção Interamericana para a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra as
Pessoas Portadoras de Deficiência, conhecida também como Convenção da Guatemala, foi
adotada pelo Brasil, pela sua ratificação, através do Dec. 3.965/2001, que vinculou nosso país, em
termos jurídicos, ao Sistema Internacional de Proteção dos Direitos Humanos, especificamente aos
direitos dos portadores de deficiência, uma vez que esta não é meramente uma Declaração de
Direitos, mas um documento pactuado, obedecidos os critérios trazidos por nossa Constituição
Federal (LGL\1988\3) que, no seu art. 5.º, § 2.º, obriga nosso ordenamento jurídico a não excluir
outros direitos "decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte".
Para frisar, ainda, a obrigatoriedade da vinculação de nosso país aos direitos dos portadores de
deficiência trazidos pelos pactos internacionais, temos o art. 5.º, § 3.º, da CF/1988 (LGL\1988\3),
incorporado pela EC 45/2004, que nos obriga a reconhecer os pactos de que o Brasil seja parte em
matéria de Direitos Humanos, como sendo equivalentes às Emendas Constitucionais, conforme
explica Pedro B. de Abreu Dallari, 1 6 "(...) que, originalmente eram apenas dois os parágrafos. A
nova regra é fruto certamente da intenção de se superar controvérsia que se estabeleceu
inicialmente na doutrina e posteriormente na jurisprudência brasileira (...)". Assim, estabeleceu-se
que os direitos previstos em tratados internacionais sobre direitos humanos são considerados em
nosso ordenamento jurídico de forma constitucional, e não mais, a contrario sensu, como se
discutia, somente equiparados à legislação infraconstitucional.
Então, a Convenção Interamericana para a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra
as Pessoas Portadoras de Deficiência trouxe em seu bojo, os conceitos básicos. Definiu
"deficiência" e "discriminação" logo de início; no art. 2.º estabelece seus objetivos como sendo a
prevenção e a eliminação de todas as formas de discriminação e as medidas necessárias para
favorecer a plena integração das pessoas portadoras de deficiência à sociedade; além das formas
como devem os Estados agir em relação a toda essa sistemática.
4. O ordenamento jurídico brasileiro e os portadores de deficiência
Como vimos acima, o Brasil adota o sistema de garantia dos Direitos Humanos, através do art. 5.º,
§§ 2.º e 3.º, da CF/1988 (LGL\1988\3), quando institui que os tratados internacionais são
integrados a nosso ordenamento na categoria de normas constitucionais.
Assim, no campo do Direito Internacional, nosso país está adstrito aos mandamentos pactuados
em todos os âmbitos de proteção aos direitos dos portadores de deficiência, seja em nível global,
seja em nível regional, ao ratificar os tratados que tratam da proteção dos Direitos Humanos,
garantindo a todos os indivíduos, quer tenham ou não alguma deficiência, a proteção aos seus
direitos fundamentais, com fulcro na dignidade da pessoa humana, que é elemento fundamentador
de nossa Constituição.
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4.1 A Constituição Federal de 1988 e o portador de deficiência


O mestre Canotilho, nos ensina que o local ideal para a positivação jurídica dos Direitos
Fundamentais é a Constituição: "A positivação de direitos fundamentais significa a incorporação
na ordem jurídica positiva dos direitos considerados naturais e inalienáveis do indivíduo. Não basta
uma qualquer positivação. É necessário assinalar-lhes a dimensão dos direitos fundamentais
colocados no lugar cimeiro das fontes de direito: as normas constitucionais. Sem esta positivação
jurídica, os direitos do homem são esperanças, aspirações, ideais, impulsos, ou até por vezes pura
retórica política, mas não direitos protegidos sob a forma de normas (regras e princípios) de
direitos constitucional". 1 7
Assim, a positivação constitucional de direitos relativos às pessoas portadoras de deficiência é
uma grande conquista, e, por isso, não pode ser esquecida ou subestimada, sendo fruto de uma
evolução histórica importante, uma vez que interage com os Direitos Humanos e com a cidadania.
Contudo, só a positivação desses direitos não basta, é preciso a garantia de seu efetivo exercício.
A Constituição brasileira de 1988, logo em seu preâmbulo, traz que, o nosso país é "(...) um
Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a
liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores
supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e
comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias,
promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República (LGL\1988\3)
Federativa do Brasil". Assim, nossa Lei Maior, assegura "a igualdade", "o bem-estar", "a segurança"
e "a justiça" como "valores supremos", querendo nós aqui destacar "a igualdade" entre todos os
indivíduos "sem preconceitos", a que todos têm direito em nosso país, sejam eles portadores ou
não de qualquer deficiência.
Também, entre os fundamentos da República Federativa do Brasil, além de outros, está "a
dignidade da pessoa humana", no art. 1.º, III, da CF/1988 (LGL\1988\3), a qual garante a todos,
indistintamente, valorização enquanto membro da humanidade.
O art. 3.º, da CF/1988 (LGL\1988\3) lista os "objetivos fundamentais da República Federativa do
Brasil", que são: "construir uma sociedade livre, justa e solidária"; "garantir o desenvolvimento
nacional";"erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais";
e, "promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação". E, neste sentido, especialmente quanto aos movimentos de
inclusão dos portadores de deficiência, trazemos as lições de Eugênia Augusta Gonzaga Fávero:
"(...) Isto fica bem claro quando nossa Lei Maior, além de garantir o direito à igualdade, à não-
discriminação, elege como objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil (art. 3.º): a
construção de uma sociedade livre, justa esolidária; garantir o desenvolvimento nacional; reduzir
as desigualdades sociais; promover o bem de todos, sem preconceitos.
Apenas com a leitura desses objetivos já fica nítido que nossa Constituição não prevê um mero
'abrir de portas e adapte-se quem puder'. Ela impõe à República o dever de promover, de realizar
ações garantidoras da não-exclusão.
Assim, quando os movimentos sociais lutam pela inclusão, não estão fazendo nada mais do que
reivindicar a aplicação do princípio da igualdade, na forma como é constitucionalmente garantida
no Brasil." 1 8 (Grifos da autora.)
O "Título II - Dos Direitos e Garantias Fundamentais", no "Capítulo I - Dos Direitos e Deveres
Individuais e Coletivos", especificamente no art. 5.º, caput, da CF/1988 (LGL\1988\3), reza que
"Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, (...)" (grifos nossos). E ainda, no art. 5.º, XLI, da CF/1988
(LGL\1988\3): "a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades
fundamentais". Assim, demonstrado está o princípio da isonomia, e, por conseguinte, o Direito à
Igualdade entre todos os indivíduos, sejam eles portadores de deficiência ou não.
Ainda no art. 5.º, da CF/1988 (LGL\1988\3), podemos destacar o § 2.º o qual diz que, "Os direitos
e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil
seja parte", bem como o § 3.º que traz textualmente: "Os tratados e convenções internacionais
sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois
turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais", os quais já mencionamos anteriormente, que nos obrigam a reconhecer como
normas constitucionais os Direitos Humanos, em virtude de Tratados dos quais o Brasil seja parte
integrante.
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Ainda, em nossa Carta Magna (LGL\1988\3), especificamente quanto aos Direitos Sociais -
Capítulo II, também integrantes dos "Direitos e Garantias Fundamentais", temos no art. 6.º os
Direitos Sociais, que são: "a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados", na
forma que a Constituição estabelece. E, ainda no art. 196, da CF/1988 (LGL\1988\3), o
mandamento diz que: "A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação" (grifos
nossos), assim, direito de toda e qualquer pessoa, portadora ou não de deficiência.
Ainda no âmbito dos Direitos Sociais, reza a Constituição, no art. 7.º, que "São direitos dos
trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condiçãosocial (...)"
(grifo nosso), o inciso XXXI que traz a "proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e
critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência".
Em seu Curso de Direito Constitucional, Luiz Alberto David Araújo e Vidal Serrano Nunes Júnior
explicam Direitos Sociais ao dizerem que "(...) os direitos fundamentais de segunda geração, são
aqueles que reclamam do Estado um papel prestacional, de minoração das desigualdades sociais".
19

Também nossa Constituição, na descrição das atribuições federativas, traz: "Art. 23. É
competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: I - zelar pela
guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o patrimônio público;
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de
deficiência; (...)" (Grifo nosso.)
No art. 37, da CF/1988 (LGL\1988\3), quando aborda os princípios da Administração Pública traz
que: "VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras
de deficiência e definirá os critérios de sua admissão".
No art. 203, da CF/1988 (LGL\1988\3), que institui que a Assistência Social será prestada a quem
necessitar, estabelece ainda que tem por objetivo "V - a garantia de um salário mínimo de
benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios
de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei".
Também, no artigo 227, da CF/1988 (LGL\1988\3), impõe o mandamento, que transcrevemos:
"Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente,
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.
§ 1.º. O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança e do
adolescente, admitida a participação de entidades não governamentais e obedecendo os
seguintes preceitos:
I - aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à saúde na assistência materno-
infantil;
II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os portadores de
deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente portador de
deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos
bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos.
§ 2.º A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público e
de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas
portadoras de deficiência.(...)." (Grifos nossos.)
Ainda em relação ao que reza o artigo anteriormente citado, nas "Disposições Constitucionais
Gerais", traz a Lei Maior o art. 244, cuja ordem transcrevemos in verbis: "Art. 244. A lei disporá
sobre a adaptação dos logradouros, dos edifícios de uso público e dos veículos de transporte
coletivo atualmente existentes a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de
deficiência, conforme o disposto no art. 227, § 2.º."
Todos esses direitos garantidos constitucionalmente em nosso país, vêm regulados por ampla
legislação infraconstitucional que vem ao encontro dos mandamentos insertos na nossa Lei Maior,
com a intenção de assegurar ao portador de deficiência, sua inclusão na sociedade brasileira.
Nosso tema central neste estudo é a Educação e o Portador de Deficiência, para o que, então,
passamos neste ponto a discorrer sobre a Educação como Direito constitucionalmente garantido.

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5. A educação brasileira e o portador de deficiência


Conforme citamos anteriormente, a Educação é o tema principal de nosso estudo, tendo um
conceito amplo e podendo ser também explicada, nas lições de Maria Garcia, como "um processo
contínuo de informação e de formação física e psíquica do ser humano para uma existência e
coexistência: o individual que, ao mesmo tempo, é social". 2 0
A fim de entendermos a Educação enquanto formadora do ser humano para sua existência em
sociedade, e também para a inclusão da pessoa portadora de deficiência na mesma sociedade,
vamos analisar, inicialmente, o contemplado em nossa Carta Magna (LGL\1988\3) de 05.10.1988,
que traz em seu Título II, denominado de "Dos Direitos e Garantias Individuais", o Capítulo II,
chamado de "Dos Direitos Sociais", no seu art. 6.º.
5.1 A educação e a Constituição de 1988
Conforme nos traz o texto constitucional in verbis:
"Capítulo II
Dos Direitos Sociais
Art. 6.º. São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na
forma desta Constituição." (Grifo nosso.)
Nossa Lei Maior classifica o Direito à Educação como um dos Direitos Sociais, os quais, nas lições
de José Afonso da Silva, "(...) são prestações positivas proporcionadas pelo Estado, direta ou
indiretamente, enunciadas em normas constitucionais, que possibilitam melhores condições de vida
aos mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualização de situações sociais desiguais. São,
portanto, direitos que se ligam ao direito de igualdade". 2 1
Observamos, aqui, que o Texto Magno insere esse capítulo sobre os Direitos Sociais logo no seu
início, com o intento de demonstrar a "importância" desses direitos, os quais foram elencados logo
após os Princípios Fundamentais da República (Título I) e, na seqüência, Dos Direitos e Deveres
Individuais e Coletivos (Título II - Capítulo I), e que, então, o art. 6.º, da CF/1988 (LGL\1988\3)
faz, de forma explícita, a enumeração dos Direitos Sociais.
A esse respeito leciona Ingo Wolfgang Sarlet:
"Também o direito fundamental social à educação obteve reconhecimento expresso no artigo 6.º,
da CF/1988 (LGL\1988\3), integrando, portanto, o catálogo dos direitos fundamentais e sujeito ao
regime jurídico reforçado a estes atribuído pelo Constituinte (especialmente os arts. 5.º, § 1.º, e
60, § 4.º, IV, da CF/1988 (LGL\1988\3)). No título da ordem social, a educação foi objeto de
regulamentação mais detalhada no capítulo III (...) partiremos da análise dos quatro primeiros
dispositivos do Capítulo III da ordem social (arts. 205 a 208, da CF/1988 (LGL\1988\3)), já que
entendemos que no mínimo quanto a estes se poderá considerá-los integrantes da essência do
direito fundamental à educação, compartilhando, portanto, a sua fundamentalidade material e
formal." 2 2
A esse mesmo respeito, disserta José Afonso da Silva:
"A Constituição de 1988 traz um capítulo próprio dos direitos sociais (capítulo II do título II) e,
bem distanciado deste, um título especial sobre a ordem social (título VIII). Mas não ocorre uma
separação radical, como se os direitos sociais não fossem algo ínsito na ordem social. O art. 6.º
mostra muito bem que aqueles são conteúdo desta, (...)." 2 3
Então, nossa Lei Maior procede à regulamentação da Educação no Título VIII de seu texto,
denominado "Da Ordem Social", Capítulo III - "Da Educação, da Cultura e do Desporto", nos arts.
205 a 214, que se encontram na Seção I, intitulada "Da Educação".
O art. 205 preceitua que a educação é um direito de todos e dever do Estado e da família, e deve
ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade. Estabelece, também, os objetivos
da educação nacional que são: a) o pleno desenvolvimento do homem; b) seu preparo para o
exercício da cidadania; e c) sua qualificação para o trabalho, conforme podemos depreender do
dispositivo em tela, in verbis:
"Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho."
Assim, como primeiro objetivo da educação - pleno desenvolvimento da pessoa - podemos
relacioná-lo aos fundamentos do Estado brasileiro, em especial quanto à dignidade da pessoa
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humana. A respeito do presente objetivo, comenta José Afonso da Silva:


"A dignidade da pessoa humana é um valor supremo que atrai o conteúdo de todos os direitos
fundamentais do homem, desde o direito à vida. Concebido como referência constitucional
unificadora de todos os direitos fundamentais (...) Daí decorre que a ordem econômica há de ter
por fim assegurar a todos existência digna (art. 170, da CF/1988 (LGL\1988\3)), a ordem social
visará a realização da justiça social (art. 193, da CF/1988 (LGL\1988\3)), a educação, o
desenvolvimento da pessoa e seu preparo para o exercício da cidadania (art. 205, da CF/1988
(LGL\1988\3)), não como meros enunciados formais, mas como indicadores do conteúdo normativo
eficaz da dignidade da pessoa humana." 2 4
Quanto ao objetivo educacional de preparo da pessoa para o exercício da cidadania, previsto no
artigo 1.º, II, da CF/1988 (LGL\1988\3), Gabriel Chalita explica:
"Apesar da importância da preparação para o mercado de trabalho, a Constituição deu primazia ao
preparo do cidadão para o exercício da cidadania. A consciência de direitos e deveres, a
possibilidade de participar de pleitos decisórios sem ser conduzido por falta de informação, o
direito à voz, à manifestação do próprio pensamento, o preparo para a autonomia, para a
independência, é a grande meta da educação. Todo o conteúdo a ser ensinado se justifica se
esse objetivo for mantido. (...)." 2 5
Ao relacionarmos o terceiro objetivo da Educação brasileira, qualificação para o trabalho,
trazemos o comentário de Zélia Luiza Pierdoná:
"Tendo a doutrina liberal se mostrado insuficiente para compor os conflitos sociais, agravando as
desigualdades existentes, o conceito de cidadania atrelada a indivíduos livres e dependentes de
sua própria sorte sucumbe para dar lugar ao conceito de cidadania vinculada a direitos que
propiciem a todos os meios para buscar uma existência digna. Nesse ponto, a função da educação
para o trabalho e para o exercício da cidadania se entrelaçam, o que nos permite afirmar a sua
interdependência, na medida que, por meio do trabalho, o indivíduo poderá alcançar inúmeros
direitos inerentes à cidadania. (...)." 2 6
Especificamente quanto à relação do Direito à Educação com os direitos dos portadores de
deficiência, expomos aqui a obrigatoriedade do Estado em fornecer Educação especializada a eles
e a indicação constitucional de que tal ensino específico se dê, de preferência, na "rede regular de
ensino", o que caracteriza a intenção de "incluir" a pessoa deficiente no cerne da sociedade,
apoiando a convivência e o respeito a eles.
O artigo 208, da CF/1988 (LGL\1988\3) impõe ao Estado tais obrigações, in verbis:
"Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para
todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva universalização do ensino médio gratuito;
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na
rede regular de ensino;
IV - atendimento infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade;
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a
capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII - atendimento ao educando, no ensino fundamental, através de programas suplementares de
material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.
§ 1.º. O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2.º. O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular,
importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3.º. Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a
chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela freqüência à escola." (Grifo nosso.)
Assim, como vimos anteriormente, por ser a Educação um Direito Social e, por conseguinte, um
Direito Fundamental, claro é que, à pessoa portadora de deficiência também se garantem os
mesmos direitos constitucionalmente garantidos, em virtude basicamente do Princípio da Isonomia,
consubstanciado no Direito à Igualdade - "Todos são iguais perante a Lei" - e, mais basilar, pelo
Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, fundamento máximo de nosso ordenamento jurídico.
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Mais adiante, abordaremos outros mandamentos constitucionais referentes à inclusão da pessoa


portadora de deficiência e a educação.
5.2 A lei de diretrizes e bases da educação
Após o advento da nossa atual Constituição, incorporou-se ao ordenamento jurídico nacional a Lei
9.394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), seguindo todos os preceitos já
adotados pela Lei Maior, a qual se preocupou com a finalidade precípua da Educação de formar
cidadãos independentes, contemplando também a chamada aprendizagem continuada.
Logo no art. 1.º, da LDB diz que a Educação está relacionada com a "vida familiar, na convivência
humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e
organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais".
Então, a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na família, na
convivência entre os homens, no trabalho, nos estabelecimentos escolares de ensino e pesquisa,
nos movimentos sociais e nas instituições da sociedade, bem como nas ações culturais de modo
geral. E, nesse contexto, esclarece Gabriel Chalita:
"A vida familiar é o primeiro contato do cidadão com o mundo. O exemplo materno e o paterno (...)
A convivência humana, que de certa forma é bastante abrangente, refere-se aos vizinhos, aos
amigos, ao clube, aos contatos que contaminam positiva ou negativamente a personalidade que
se encontra em formação (...) O trabalho como espaço de realização pessoal e profissional (...)
Nas instituições de ensino e pesquisa, que não representam o único espaço disponível de
desenvolvimento da aprendizagem, mas que são o esteio do processo educacional. (...) Os
movimentos sociais e as organizações da sociedade civil são muitos e de naturezas diferentes. O
partido político, o clube, as organizações não-governamentais, os ambientes de solidariedade. (...)
As manifestações culturais - que riqueza cultural possui este país continental: das grandes
manifestações de massa, como o carnaval, até as antigas festas populares (...)." 2 7
A Lei 9.394/96 não estabelece uma fórmula educacional ou método de ensino, mas sim
compromete-se com uma Educação e uma aprendizagem com alto padrão de qualidade, conforme
demonstram os arts. 3.º, IX, e 4.º, da LDB, sobre o que ensina Arnaldo Niskier:
"Temos uma nova lei da educação brasileira. Discutida durante oito anos, deverá vigorar, a
manter-se a nossa tradição, por um período nunca inferior a 20 anos, ou seja, é o instrumento de
transformação com o qual enfrentaremos os maiores desafios do Século da Informação.
Nela estão refletidas preocupações marcantes dos nossos educadores, como a extensão da
educação básica, o tempo de permanência na escola, novos currículos com características de
transversalidade, a remuneração do magistério, a autonomia universitária, o emprego inteligente
da metodologia da educação à distância - e outras questões igualmente essenciais." 2 8
Reafirmando os mandamentos da Carta Magna (LGL\1988\3), especificamente quanto aos
portadores de deficiência, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional institui que:
"Art. 4.º. O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de:
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na
idade própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;
III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de 0 (zero) a 6 (seis) anos de
idade;
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a
capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII - oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades
adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as
condições de acesso e permanência na escola;
VIII - atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde;
IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e quantidade mínimas,
por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem."

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(Grifos nossos.)
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional trouxe um capítulo específico relativo aos
portadores de deficiências, denominado "Capítulo V - Da Educação Especial".
No art. 58, da LDB, conceitua a "Educação Especial" como sendo "a modalidade de educação
escolar, (...) para educandos portadores de necessidades especiais". E reza ainda que deverá
também ser "oferecida preferencialmente na rede regular de ensino", claramente visando à
facilitação da inclusão do deficiente no seio da sociedade. Assegura este artigo, em seu § 1.º
que: "Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender
às peculiaridades da clientela de educação especial". Ainda, quando não for possível o
atendimento dos portadores de necessidades especiais nas classes regulares, em função da
especificidade do educando, o ensino se dará "em classe, escolas ou serviços especializados",
conforme o § 2.º. Já o art. 58, § 3.º, da LDB institui que a educação especial será ministrada
também durante a educação infantil, atendendo-se o educandos de zero a seis anos.
Quanto às atribuições dos sistemas de ensino em relação aos "educandos com necessidades
especiais", o artigo 59, da Lei 9.394/96 estabelece, conforme transcrevemos:
"Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais:
I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às
suas necessidades;
II - terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão
do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor
tempo o programa escolar para os superdotados;
III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento
especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses
educandos nas classes comuns;
IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade,
inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho
competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que
apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora;
V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o
respectivo nível do ensino regular."
Também o art. 60, da LDB estabelece que: "Os órgãos normativos dos sistemas de ensino
estabelecerão critérios de caracterização das instituições privadas sem fins lucrativos,
especializadas e com atuação exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e
financeiro pelo Poder Público." E o seu parágrafo único ainda institui que: "O Poder Público
adotará, como alternativa preferencial, a ampliação do atendimento aos educandos com
necessidades especiais na própria rede pública regular de ensino, independentemente do apoio às
instituições previstas neste artigo", dando notória preferência à inserção do portador de
deficiência na rede pública regular de ensino, com vistas a facilitar a inclusão do educando na sua
comunidade, facilitando não só sua inserção, mas também a eliminação da discriminação dos
demais alunos em relação aos primeiros.
Assim, a nosso ver, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional não só reafirmou o
mandamento constitucional de educação especializada ao deficiente, como também ampliou sua
abrangência ao garantir o acesso ao ensino em nível mais elevado, de acordo com a capacidade
do educando, seja ele portador ou não de qualquer deficiência.
5.3 A educação inclusiva
Com visto acima, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional garante, em tese, a inclusão
dos "educandos portadores de necessidades especiais", preferencialmente na rede regular de
ensino, seja nos estabelecimentos públicos como nos particulares, ao determinar que o ensino
respeitará a especificidade de cada educando em relação ao ensino ministrado, especificando
pormenorizadamente o mandamento constitucional.
Ainda, a Constituição de 1988 trouxe uma inovação significativa ao tratar da pessoa portadora de
deficiência, estabelecendo não somente a regra geral relativa ao princípio da igualdade, mas
também a proteção ao seu trabalho, proibindo qualquer discriminação no tocante ao salário e
admissão do portador de deficiência (art. 7.º, XXXI, da CF/1988 (LGL\1988\3)).
Outro grande avanço da Constituição Federal (LGL\1988\3) é a reserva de vagas para cargos
públicos às pessoas portadoras de deficiência (art. 37, VIII, da CF/1988 (LGL\1988\3)), além da
assistência social que tem por objetivo a "habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de

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deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária" (art. 203, IV, da CF/1988
(LGL\1988\3)), e ainda a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de
deficiência (art. 203, V, da CF/1988 (LGL\1988\3)).
Prosseguindo, nesse sentido Rossana Teresa Curioni explica que, o mandamento do art. 205, da
CF/1988 (LGL\1988\3): "(...) De forma implícita, visou também oficializar a escola como instituição
principal do processo ensino aprendizagem, o preparo e capacitação profissional, em virtude do
regime democrático e o processo de formalização da escola (educação escolarizada). O conteúdo
do artigo 205, da CF/1988 (LGL\1988\3), aplica-se também aos alunos com necessidades
especiais, em razão do princípio da igualdade, assegurado pela nossa Carta Maior". 2 9
Os fatores citados acima facilitam e estimulam a inclusão do deficiente na comunidade em que
vive. No campo específico da educação, nosso enfoque central, temos que é dever do Estado
assegurar atendimento especializado às pessoas portadoras de deficiência, de preferência, na
rede regular de ensino (art. 208, III, da CF/1988 (LGL\1988\3)).
Nesse sentido, Luiz Alberto David Araújo ensina que "a educação deve ser ministrada sempre
tendo em vista a necessidade da pessoa portadora de deficiência. Assim, pode parecer óbvio, mas
dependendo do tipo e do grau de deficiência é que se poderá estabelecer linhas de atuação na
educação. Um deficiente mental leve poderá estudar em classes comum, da mesma forma que um
deficiente físico (locomoção), ou portador de deficiências múltiplas ou mentais graves. Na
verdade, a educação inclusiva contempla a adaptação da escola às necessidades do aluno, daí
porque é possível tal solução". 3 0
E, aliando-se o Direito à Educação às condições relativas à acessibilidade do educando deficiente,
nossa Carta Magna (LGL\1988\3) determina que a "lei disporá sobre normas de construção dos
logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim
de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência" (art. 227, § 2.º, da CF/1988
(LGL\1988\3)).
Novamente, relembramos que o acesso ao ensino fundamental, obrigatório e gratuito, é um direito
público subjetivo e de eficácia plena, conforme o art. 208, § 1.º, da CF/1988 (LGL\1988\3) e
reafirmamos que esse direito inclui todas as pessoas, sejam elas deficientes ou não, e que o seu
não-oferecimento pelo Poder Público, ou mesmo sua oferta irregular, importa responsabilidade da
autoridade competente, autorizando a propositura de medidas judiciais que garantam a oferta.
Vale trazer ainda, neste ponto, que leis posteriores contemplaram e ratificaram os direitos acima
citados, com respeito à educação. Por ser esta o objeto de estudo deste trabalho trazemos,
então, o Estatuto da Criança e do Adolescente (LGL\1990\37) - ECA (LGL\1990\37), de 1990, que
no seu art. 54, III, estabelece como dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente
portador de deficiência atendimento educacional especializado.
Retornamos aos fundamentos do Estado Democrático de Direito, estabelecidos por nossa
Constituição, e que são a cidadania e a dignidade da pessoa humana (art. 1.º, II e III, da CF/1988
(LGL\1988\3)), os quais representam o que toda pessoa portadora de deficiência persegue, ou
seja, ser cidadão com dignidade.
Cidadania é, antes de mais nada, o resultado de uma integração social, de modo a tornar-se o
indivíduo realmente "cidadão", buscando a dignidade da pessoa, para que essa possa cumprir
deveres e usufruir dos seus direitos.
Como vimos, o portador de deficiência tem sua dignidade assentada no princípio da igualdade. Luiz
Alberto David de Araújo leciona que: "Igualdade formal deve ser quebrada diante de situações,
que logicamente, autorizem tal ruptura. Assim, é razoável entender-se que a pessoa portadora de
deficiência tem, pela sua própria condição, direito à quebra da igualdade, em situações das quais
participe com pessoas sem deficiência". 3 1
Assim, o deficiente tem necessidade de proteção especial em função da desvantagem física,
sensorial ou psíquica que possui em relação à pessoa não portadora de deficiência e, para que
seja respeitado o princípio constitucional da dignidade humana impõe-se observar o princípio da
isonomia.
Então, na educação inclusiva poderá haver um tratamento diferenciado para o aluno portador de
deficiência, visando garantir a aplicação da isonomia como condição da cidadania.
Relembrando, foi a Declaração de Salamanca, na Conferência Mundial sobre necessidades
educativas especiais (1994) que introduziu esse novo pensamento em relação ao aluno portador
de deficiência. Nesse evento, foram abordadas as questões da acessibilidade e da qualidade do
ensino para pessoas portadoras de deficiência.

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O papel da escola inclusiva deve ser o de ajudar pessoas a se tornarem "menos deficientes",
integrando-as à comunidade. Mas ainda se verifica que a escola não cumpre completamente o seu
papel, em função de vários fatores que contribuem para tal, como:
• professores sem qualificação específica para atender adequadamente às necessidades do
educando;
• crianças e adolescentes desinformados e despreparados para conviver e aceitar os colegas
portadores de deficiência, vindo, portanto, a rejeitá-los;
• profissionais da escola que se opõem à integração dos alunos com deficiência;
• edifícios inadequados que impedem ou dificultam o acesso de pessoas portadoras de deficiência;
• o preconceito das famílias de crianças e jovens não portadores de deficiência, que acreditam ser
o contato com tais pessoas prejudicial a seus filhos, ou que a presença daqueles prejudique a
reputação da escola, até mesmo com o fim de protegê-los;
• o receio dos pais e familiares de crianças ou jovens com deficiência, que isolam seus filhos da
sociedade, mantendo-os em casa e longe do convívio social;
• o complexo da pessoa portadora de deficiência que não foi ensinada e encorajada a enfrentar o
mundo e a sociedade com confiança em si própria. 3 2
Mesmo com as tais dificuldades apontadas, a inclusão é a forma mais eficaz de fazer valer a
cidadania dessa parcela da comunidade que, como vimos, é considerável, conforme apurado pelo
IBGE, sendo formada de 14% da população nacional e de 10% da população mundial e que vem
sendo paulatinamente sendo ampliada.
A cidadania é o exercício pleno de todos os direitos e deveres das pessoas de uma sociedade e
depende fundamentalmente da educação. Assim, para que haja uma efetiva inclusão das pessoas
portadoras de deficiência, imprescindível se faz informar e formar a sociedade para tal mudança.
A inclusão deve ser ampla, para não sermos taxativos, pois deveria ser completa, e não parcial,
devendo assim haver uma efetiva inclusão econômica, através de trabalho digno às pessoas
portadoras de deficiência, uma inclusão social, com a intenção de reduzir o preconceito em
relação ao portador de deficiência, uma inclusão ambiental, através da queda das barreiras
arquitetônicas, adaptando a escola ao aluno e não o contrário e, finalmente, a inclusão
educacional, no sentido de serem os portadores de deficiência inseridos na rede comum de ensino,
em todos os seus níveis, inclusive o superior, o que favorece todas as demais "inclusões", na
medida em que se quebram os preconceitos dos demais educandos e se proporciona educação
ampla aos deficientes, possibilitando, assim, sua inclusão no seio da sociedade e respeito à sua
dignidade, propiciando a efetiva cidadania a todos.
Frisando o que já afirmamos anteriormente, cidadania é o exercício pleno de todos os direitos e
deveres e depende fundamentalmente da educação. Para que haja uma efetiva inclusão das
pessoas portadoras de deficiência, imprescindível informar e formar a sociedade para tal mudança.
6. Considerações finais
1. Face à expressiva parcela da população composta por pessoas portadoras de deficiências na
sociedade brasileira, parcela esta crescente no decorrer do tempo devido a vários fatores,
incluindo-se entre eles a violência em geral, faz-se necessária a positivação de direitos das
pessoas portadoras de deficiência, e que definitivamente se efetive o exercício destes, por ser
processo absolutamente necessário para a confirmação da democracia e da prática da cidadania
em nosso país, vez que com isso é que se preserva a dignidade da pessoa humana também
daqueles que tenham necessidades especiais por sua inclusão no grupo social e conseqüente
eliminação ou amenização de preconceitos que porventura sofram por parte de outros indivíduos
"desinformados" ou não tão bem informados socialmente;
2. Por ser a educação direito constitucional também da pessoa portadora de deficiência, como de
qualquer outra pessoa, face ao que reza o art. 205, da CF/1988 (LGL\1988\3), deve ser ela
ministrada considerando-se o tipo e grau de limitação, sejam eles quais forem, não podendo essa
deficiência restringir a cidadania do deficiente e sua inclusão em todos os ramos da sociedade.
Deve também ser ministrada de acordo com as necessidades específicas de cada educando,
adaptando-se a escola a eles, e não o contrário, para que seja realmente uma educação inclusiva
e que garanta o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana;
3. Apesar de ser na escola onde se exercita de forma mais relevante a integração ou inclusão das
pessoas portadoras de deficiência ou necessidades especiais, muito há que se fazer para o bom
desempenho e melhora do preparo das instituições de ensino, em quaisquer dos seu níveis, para
que aqueles possam exercer alguma atividade economicamente produtiva e profissional, devendo
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os princípios da educação e as políticas educativas serem considerados como processo


permanente de evolução do conhecimento e, por conseguinte, da própria pessoa e suas relações
com outras, para o que as instituições de ensino, desde o básico até o superior, têm o dever de
adaptar não só seu mobiliário e imóveis, mas também programas e cursos, além de promover a
formação apropriada e continuada de seus profissionais e implementar ações no sentido de
divulgar os direitos dos deficientes, bem como garantir sua permanência em seus cursos até que
estejam completos, a fim de atender plenamente as necessidades dos educandos e promover seu
desenvolvimento conforme prevê nosso ordenamento jurídico, preparando-os e adequando-os para
sua inserção no mercado de trabalho, com igualdade de oportunidades, garantindo-se assim,
também, sua inclusão na sociedade;
4. O verdadeiro papel da educação é construir e ampliar as experiências das pessoas, preparando-
as para a vida e para alcançarem seus objetivos e aspirações, bem como os da sociedade em que
estão inseridos, sendo a inclusão de todos os indivíduos o caminho para a verdadeira democracia,
ao proporcionar a todos igualdade de possibilidades, para que se sintam capazes de serem
verdadeiramente livres, respeitados e iguais aos demais, podendo exercer um dos direitos
fundamentais para se atingir a cidadania, que é o direito à educação.
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2005.

1. Antonio Houaiss. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa, dez. 2001.

2. Luiz Alberto David Araújo. A proteção constitucional das pessoas portadoras de deficiência, p.
76.

3. Programa de ação mundial para as pessoas com deficiência, traduzido por Edílson Alkmim da
Cunha e veiculado pelo Ministério da Justiça - Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, 1997.

4. Luiz Alberto David Araújo. A proteção constitucional das pessoas portadoras de deficiência, p.
15.

5. Camila Leal Calais e Elaine Campos Guijarro. A proteção internacional da pessoa portadora de
deficiência mental. In: ARAÚJO, Luiz Alberto David. Direito da pessoa portadora de deficiência:
uma tarefa a ser completada, p. 15.

6. Norberto Bobbio. A era dos direitos, p. 30.

7. Flávia Piovesan. Direitos humanos e o direito constitucional internacional, p. 163-164.

8. José Augusto Lindgren Alves. A arquitetura internacional dos direitos humanos, p. 24-25.

9. Flávia Piovesan. Direitos humanos e o direito constitucional internacional, p. 167.

10. Preâmbulo do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, primeiro parágrafo.

11. Flávia Piovesan. Sistema internacional de proteção dos direitos humanos. Texto produzido
para o I Colóquio Internacional de Direitos Humanos. São Paulo, 2001. Disponível em: [http://
www.conectasur.org/files/A3P1.pdf]. Acesso em: 14.06.2006.

12. Hannah Arednt. Entre o passado e o futuro, p. 234-235.

13. Antonio Augusto Cançado Trindade. A proteção internacional dos direitos humanos:
fundamentos jurídicos e instrumentos básicos, p. 6-7.

14. Idem, ibidem.

15. Maria de Lourdes Canziani. Direitos Humanos e os novos paradigmas das pessoas com
deficiência. In: ARAÚJO, Luiz Alberto David (Coord.). Defesa dos direitos das pessoas portadoras
de deficiência, p. 253.

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16. Pedro Bohomoletz de Abreu Dallari. Tratados internacionais na Emenda Constitucional 45. In:
TAVARES, André Ramos; LENZA, Pedro; ALARCÓN, Pietro de Jesús Lora (Coord.). Reforma do
Judiciário: analisada e comentada, p. 102.

17. J. J. Gomes Canotilho. Direito constitucional e teoria da Constituição, p. 371.

18. Eugênia Augusta Gonzaga Fávero. Direitos das pessoas com deficiência: garantia da igualdade
na diversidade. Rio de Janeiro: WVA, 2004, p. 38-39.

19. Luiz Alberto David Araújo; Vidal Serrano Nunes Jr. Curso de direito constitucional, p. 205.

20. Maria Garcia. A nova lei de diretrizes e bases da educação nacional. Cadernos de
DireitoConstitucionale Ciência Política 23/59, 1988.

21. José Afonso da Silva. Curso de direito constitucional positivo, p. 285-286.

22. Ingo Wolfgang Sarlet. A eficácia dos direitos fundamentais, p. 333.

23. José Afonso da Silva. Curso de direito constitucional positivo, p. 276.

24. José Afonso da Silva. Curso de direito constitucional positivo, p. 109.

25. Gabriel Chalita. Educação: a solução está no afeto, p. 107.

26. Zélia Luiza Pierdoná. Objetivos constitucionais da educação e sua relação com os
fundamentos do Estado brasileiro. In: FERREIRA, Dâmares (Org.). Direito educacional em debate,
p. 126.

27. Gabriel Chalita. Educação: a solução está no afeto, p.125-128.

28. Arnaldo Niskier. LDB: a nova lei da educação: tudo sobre a lei de diretrizes e bases da
educação nacional: uma visão crítica, p. 302.

29. Rossana Teresa Curioni; Rossana Batassa Hadad; Raquel Custódio Alves. Pessoas portadoras
de deficiência: inclusão social no aspecto educacional. Uma realidade? In: ARAÚJO, Luiz Alberto
David (Coord.). Direito da pessoa portadora de deficiência: uma tarefa a ser completada, p. 421.

30. Luiz Alberto David Araújo. A proteção constitucional das pessoas portadoras de deficiência, p.
58.

31. Luiz Alberto David Araújo. A proteção constitucional das pessoas portadoras de deficiência, p.
52.

32. Escola para todos, Corde, Ministério da Justiça, 3. ed. Brasília, 1997.
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