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É PERGUNTANDO
QUE SE APRENDE
3ª Edição

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Descrição de imagem: Fotografia em preto e branco. Crianças brincam e sorriem em um gira-
gira de um parque. Em primeiro plano, olhando para frente, uma criança com síndrome de
down. Fim da descrição.

FICHA TÉCNICA
Coordenação: Luiza Russo
Organização: Luiza Russo e Luiza Percevallis Pereira
Colaboração: Arthur Calasans, Fernanda Garofalo Meister, Flavia Cintra
Projeto Gráfico e Diagramação: Fabricia Valeck
Fotografia: Arthur Calasans
Produção Editorial: Fabricia Valeck
Secretária-Executiva: Valdinéia Paviatti
Revisão acessibilidade do e-book: Danilo Namo

Instituto Paradigma
www.institutoparadigma.org.br
R. Alcides Lourenço da Rocha, 167 - 10º andar
Cidade Monções - São Paulo/SP, CEP 04571-110
Telefone: (11) 5090-0075

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SUMÁRIO

A COMEMORAÇÃO DOS 20 ANOS DE ATUAÇÃO DO INSTITUTO PARADIGMA 6

INTRODUÇÃO 8

Histórico das edições: É Perguntando que se Aprende: Legislação e Di-


reitos (2005)-1ª edição; É Perguntando que se Aprende: Inclusão Social
(2012) -2ª edição; É Perguntando que se Aprende: O que é preciso saber
sobre a inclusão das pessoas com deficiência (2022) -3ª edição

CONCEITOS BÁSICOS SOBRE A INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 12

Alinhando conceitos e procedimentos: Pessoa com necessidades es-


peciais, portador de deficiência, pessoa com deficiência/ público da
Educação Especial/ Crianças com deficiência intelectual/ Identificação
do Autismo/ Atendimento Educacional Especializado/ Transtornos/ Al-
tas Habilidades.

EDUCAÇÃO INCLUSIVA 27

O que está em jogo na inclusão educacional da pessoa com deficiên-


cia? A abordagem clínica e a pedagógica / direitos legais assegurados:
matrícula na escola regular em todas as modalidades de ensino e no
Atendimento Educacional Especializado/ Recursos de Acessibilidade/
Profissionais de Apoio/ Currículo inclusivo/ A avaliação pedagógica /
Políticas e órgãos públicos responsáveis pela inclusão educacional/
Violação de Direitos/ Relações entre Educação X Saúde X Família/ Di-
versidade de opinião e de perspectivas: escolas públicas e particulares,
família e sociedade/ A motivação para aprender e a Práxis pedagógica.

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INCLUSÃO ECONÔMICA 82

O que está em jogo na inclusão econômica da pessoa com deficiência?


A Legislação específica em vigor no País/ O processo de recrutamento,
contratação e treinamento praticado pelas empresas/ A escolarização
e a preparação para o trabalho dos jovens e adultos com deficiência/
O empregador e a formação de equipes inclusivas nas empresas/ Pre-
conceitos e resistências no mercado de trabalho/ A relação emprega-
dor- família / desafios do transporte acessível / Programas de Estágio/
Aspectos desfavoráveis à empregabilidade das pessoas com deficiên-
cia no ambiente de trabalho: isolamento, fragilidade das relações en-
tre pares, protecionismo, terceirização / Atitudes inclusivas / Evolução
Funcional.

PARTICIPAÇÃO SOCIAL 120

O que está em jogo na participação social da pessoa com deficiên-


cia? A Saúde e a Reabilitação/ Acessibilidade/ Transporte/ Política de
isenção de impostos/ Aposentadoria/ Benefício Assistencial/ Canais de
participação social e representatividade: Conselhos; Urnas Eleitorais
acessíveis/ como funciona o BCP-LOAS/ Programas sócio-assisten-
ciais/ Direitos Fundamentais das pessoas com deficiência/ Políticas
públicas de assistência e inclusão social/ Envelhecimento/ Lazer/ As
Organizações do terceiro Setor envolvidas com a inclusão social das
pessoas com deficiência/ A família, ONGs e a criança com deficiência
intelectual.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 177

DICAS DE FILMES E SÉRIES 182

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A comemoração dos 20 anos de
atuação do Instituto Paradigma
Luíza Russo

Celebramos, com muito orgulho, os 20 lamento, reivindicando equidade de


anos do Instituto Paradigma com um direitos, participação social e legitimi-
selo comemorativo e com a 3ª edição dade em seus direitos constitucionais.
do livro É perguntando que se Aprende,
A palavra de ordem era INCLUSÃO. Aos
atualizado com perguntas e respostas
poucos, as medidas conservadoras
pertinentes à inclusão das pessoas
foram desconstruídas por iniciativas
com deficiência.
inovadoras, pautadas nos direitos civis
O momento histórico da fundação do e humanos, e que traziam à superfície
Instituto Paradigma compõe uma série as incongruências da desinformação e
dos comportamentos sociais precon-
de iniciativas emblemáticas, no início
ceituosos.
dos anos 2000, que contribuíram para
significativos avanços na luta pelos Foi nessa ebulição social que o Insti-
direitos das pessoas com deficiência. tuto Paradigma foi fundado. Optando
Era um período em que convergiam por não se apresentar como mais uma
energias de diferentes grupos sociais, instituição de cuidado e proteção da
iniciativas de Estado e do movimento população com deficiência, mas como
das próprias pessoas com deficiência, um parceiro de luta pelo direito a edu-
que buscavam sair das invisibilidades, cação, a participação social e a equida-
da proteção assistencialista e do iso- de de direitos. E, para isso, era preciso

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formar professores da educação re- contribuindo para a formação de uma
gular para a educação inclusiva, assim geração de pessoas que hoje se des-
como de outros segmentos, e dessa tacam na continuidade do movimento
forma, mobilizar esforços para as ativi- pela inclusão social das pessoas com
dades legislativas do país no intuito de deficiência. Seu foi papel fundamental
buscar equidade de direitos.
na transformação e na construção de
Além de movimentos internos no Brasil, estratégias de gestão para sistemas
também acompanhamos e celebramos públicos de ensino, no contexto da edu-
a instalação da Convenção Internacio- cação inclusiva, assim como na gera-
nal sobre os Direitos das Pessoas com ção de conteúdo e informação técnica
Deficiência, marco orientador para as que puderam subsidiar, empregadores
políticas internas e externas relaciona- na inclusão econômica de pessoas com
das a equiparação de direitos para essa deficiência, assim como empoderando
população. O instituto participou in- famílias e pessoas com deficiência na
tensamente deste movimento, e com o medida em reconhecem e reivindicam
reconhecimento do governo brasileiro,
seus direitos.
na época tendo como presidente Luiz
Inacio Lula da Silva, que assinou como Conscientes de que informação é po-
signatário a Convenção dando-lhe for- der, seguimos nossa trajetória disse-
ça constitucional. Essa iniciativa pro-
minando conteúdos de qualidade que
vocou mudanças substanciais na legis-
fortaleçam a cidadania das pessoas
lação brasileira, trazendo novo ânimo
com deficiência e facilitem o encontro
aos movimentos sociais do país.
das principais perguntas com as me-
O Instituto Paradigma teve um prota- lhores respostas, afinal, é perguntando
gonismo significativo neste período, que se aprende. Boa leitura!

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Descrição da imagem: Em plano aberto, um homem
com próteses coloridas abaixo do joelho. Ele está
sentado em um muro. Ele é branco, com cabelos
compridos e loiros, está sem camisa, com as pernas
dobradas, os braços apoiados sobre as próteses.
Ao fundo a areia da praia, e o mar da cidade de São
Vicente. Fim da descrição.

INTRODUÇÃO

No cenário brasileiro, a representativida- com a missão de promover a inclusão so-


de social das pessoas com deficiência, cial das pessoas com deficiência, cons-
mesmo contando com avanços já con- truindo soluções e serviços para ampliar
quistados, ainda convive com situações o exercício da sua cidadania. Uma das
cotidianas, marcadas por atitudes exclu- metas deste trabalho visa a socialização
dentes; algumas transpiram concepções do conhecimento e da informação, para
passadas e ultrapassadas, traduzidas em facilitar e alavancar o exercício cidadão
atitudes preconceituosas, e outras po- dessa parcela da população.
dem ser identificadas nas dificuldades
apresentadas para sua participação ou Nesse caminhar, vale destacar que, em
no reconhecimento de seus direitos. maio de 2004, o Instituto Paradigma e
a Revista “Sentidos” firmaram uma par-
O Instituto Paradigma, fundado no ano ceria, através de um termo de coope-
de 2003, tem atuado nesse contexto ração, para a elaboração e divulgação

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de informações qualificadas sobre Di- do Instituto no Programa de Inclusão
reitos, Acessibilidade, Trabalho e Edu- Econômica, foi concretizada a segunda
cação desse público. Por meio da se- edição do livro, lançada no ano de 2012.
ção “Pergunte ao Instituto Paradigma”, Nesse momento, os questionamentos
criada no site da revista, as questões recaíram na inclusão social dessas pes-
dos internautas foram recebidas e res- soas, em seus diversos contextos. Eles
pondidas por profissionais envolvidos foram respondidos de forma didática
e compromissados em cada uma des- e com linguagem de fácil entendimen-
sas temáticas. to pela equipe técnica especializada
do Instituto Paradigma, que se baseou
Devido à diversidade e à riqueza do em pesquisas e na própria experiência
conteúdo produzido, das 211 perguntas profissional desenvolvida no Instituto,
e respostas reunidas, que abordaram atuando nos seus três programas: In-
temas prioritariamente sobre legisla- clusão Educacional, Inclusão Econômi-
ção e defesa de direitos das pessoas ca e Participação Social e Comunitária.
com deficiência, foram selecionadas
65 delas, que formaram o conteúdo da Essas duas edições foram lançadas
primeira edição do livro “É perguntan- em papel, e posteriormente transferi-
do que se aprende”. Esse conteúdo foi das para o site do Instituto Paradigma,
complementado com uma coletânea proporcionando livre acesso às infor-
de normatizações federais sobre os in- mações. Neste ano de 2022, devido ao
teresses levantados nas questões, or- grande número de acessos do público
ganizadas pelos técnicos do Instituto em geral ao site do IP (www.iparadig-
Paradigma. Essa 1ª edição do livro foi ma.org.br), no espaço “Pergunte”, lan-
lançada no ano de 2005, após a autori- çaremos a terceira edição do livro “É
zação dos 173 participantes. Perguntando que se aprende”, no for-
mato e-book, deixando as perguntas
O livro teve grande aceitação, princi- existentes revisadas e outras, novas, à
palmente por parte dos professores disposição dos interessados, em nosso
e equipes escolares, gestores e cola- site, como sempre fizemos.
boradores das empresas, pelas pes-
soas com deficiência e seus familiares Para esta nova etapa as respostas às
e por profissionais das organizações questões da 1ª e 2ª edições do livro foram
da sociedade civil, que continuaram atualizadas e ampliadas, considerando
enviando suas perguntas ao Instituto as disposições contidas nos textos le-
Paradigma. Motivados por esse movi- gais recentemente promulgados. Além
mento e contando com o patrocínio do dessa adequação, foram incluídas as
Instituto Camargo Correa, um parceiro questões surgidas nesse entretempo e

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um capítulo inicial, contendo perguntas recimentos por parte dos profissionais
que reiteradamente são feitas à equi- do Instituto Paradigma.
pe do Instituto Paradigma nos traba-
lhos de assessoria a escolas, empresas Temos certeza da relevância dessas in-
ou organizações do terceiro setor. São formações enquanto instrumento de
questionamentos básicos e específicos transformação social, uma vez que elas
sobre a temática da inclusão da pessoa trazem a oportunidade da população em
com deficiência e temáticas afins, que geral conhecer e compreender as dife-
complementam as informações já exis- rentes dimensões do processo de inclu-
tentes, e que sempre demandam escla- são social das pessoas com deficiência.

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Descrição de imagem: Em uma sala de aula,
uma criança segura uma telalupa em frente a um
dos olhos e escreve o que ele vê em um papel
sobre a mesa.Fim da descrição.

CONCEITOS BÁSICOS SOBRE


A INCLUSÃO DA PESSOA COM
DEFICIÊNCIA
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deficiência também podem apresentar
CONCEITOS necessidades educativas especiais,
BÁSICOS SOBRE mas a situação inversa não é necessa-
riamente verdadeira.
A INCLUSÃO DA
A expressão “deficiente” traz um senti-
PESSOA COM do de algo que falta ou até de “disfun-

DEFICIÊNCIA ção”, reduzindo a pessoa por conside-


rar apenas a sua deficiência. Por isso
esse termo está ultrapassado.

Muitas pessoas se referem às Outra expressão que caiu em desuso foi


pessoas com deficiência como: “pessoa portadora de deficiência”. Ape-
pessoas com necessidades sar de ainda constar de textos legais
especiais; criança especial; desse período histórico, ela foi abando-
deficiente e portador de nada por trazer a compreensão de que
deficiência. Qual seria o termo podemos portar ou não algo (o que nos
mais correto? remete, por exemplo, a objetos como
Com a Declaração de Salamanca (1994), uma bolsa ou um celular) e, por generali-
surgiram as expressões “crianças com zação, a deficiência. Entretanto, a defi-
necessidades educativas especiais” ciência é uma condição inerente ao su-
ou “criança especial” e “crianças com jeito, e faz parte de suas características
necessidades especiais”, para se refe- pessoais. O termo mais correto a ser uti-
rir à criança com deficiência. Porém, lizado, tendo como referência a Conven-
na atualidade, quando nos referimos à ção das Nações Unidas sobre os direitos
questão da deficiência, estes termos da pessoa com deficiência, é “pessoa
foram substituídos por “pessoa com com deficiência”. Os textos legais vi-
deficiência” (física, intelectual, visual, gentes no Brasil definem pessoas com
auditiva etc.). Por outro lado, a aplica- deficiência como “aquelas que apresen-
ção do termo “pessoa com necessida- tam impedimentos de longo prazo, de
des educativas especiais” se refere a natureza física, mental, intelectual ou
qualquer pessoa que tenha necessida- sensorial; os quais, em interação com
de considerada atípica que demande diversas barreiras, podem obstruir sua
algum tipo específico de ajuda, recur- participação plena e efetiva na socie-
so ou abordagem, quer seja de ordem dade em igualdades de condições com
comportamental, emocional, social, as demais pessoas” (Decreto Federal
familiar, física ou ocupacional. É im- Brasileiro n.º 6.949/09, que promulgou a
portante ressaltar que as pessoas com Convenção das Nações Unidas).

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Com essa denominação, a Convenção pondente ao membro da família com
afastou quaisquer termos pejorativos, deficiência. Mesmo assim, suas condi-
ou discriminatórios utilizados para se ções de vida eram insalubres, levando-
referir à população com deficiência, e -os à morte.
que possam transmitir idéias precon-
ceituosas de inferioridade, incapacida- Somente na Modernidade, com o pro-
de ou incompetência para gerenciar a gresso da ciência e da medicina, a
própria vida com autonomia. Por fim, partir da segunda metade do século
nessa perspectiva, não cabem apenas XVIII, a deficiência começou a ser com-
ações assistencialistas para prover preendida em seus aspectos orgânicos
suas necessidades básicas, e sim po- e sob o ponto de vista da ciência mé-
líticas públicas articuladas para pro- dica. Os avanços no campo da apren-
mover o cumprimento de seus direitos, dizagem, por exemplo, tiveram início
como qualquer cidadão. com as primeiras iniciativas para edu-
car as pessoas com surdez e as pes-
soas cegas. Essas primeiras iniciati-
vas, no campo educacional, ocorreram
Qual a origem do preconceito e da relacionadas a experimentos médicos,
exclusão social das pessoas com como as de Itard no processo de ree-
deficiência? ducação de Victor, conhecido como o
Para compreendermos a origem do “menino lobo”. Surgiram posteriormen-
preconceito e da exclusão social que te, por iniciativa de pessoas com defi-
marcaram a vida das pessoas com de- ciência, ou ligadas a elas, as primeiras
ficiência é necessário recorrermos ao instituições formais de ensino, como
tempo histórico. Na Antiguidade e na as voltadas às pessoas cegas e surdas,
Idade Média, através de interpretações e que foram responsáveis por desen-
de valores religiosos, a deficiência era volver recursos de acessibilidade para
vista como uma punição divina às famí- a comunicação como o Sistema Braille
lias. A exclusão social transparecia nas e a Língua de Sinais. Somente no sécu-
ações de abandono da criança à própria lo XIX (em 1840), em Paris, registrou-se
sorte, ou até mesmo condenando-a ao a primeira iniciativa de uma escola pri-
extermínio ou ao isolamento. As famí- vada dedicada à educação de pessoas
lias mais abastadas, para fugirem des- com deficiência intelectual.
ta forma de punição, entregavam seus
filhos ou parentes com deficiência às O Imperador D. Pedro II foi o precursor
instituições religiosas, pagando-lhes a na implantação da educação pública no
chamada “indulgência”, o que poderia Brasil, e das escolas especiais, estru-
representar parte da herança corres- turadas, seguindo o modelo europeu,

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como instituições especializadas, e deficiência. Esse conceito perdurou,
destinadas às pessoas com deficiên- sendo aprimorado mais intensamente
cia. Posteriormente, após a República, nos processos de reabilitação e inte-
a educação especial também passou a gração, no período da Segunda Guerra
ser organizada como escolas especiais Mundial, em resposta às demandas dos
e classes especiais, vinculadas às re- soldados feridos, que retornavam ao
des públicas de ensino, mas ainda sem convívio social, trazendo sequelas sig-
contemplar toda a universalização des- nificativas das batalhas travadas.
se atendimento.
O período seguinte, o da pós-moder-
Neste primeiro período utilizava-se nidade, foi marcado por movimentos
como parâmetro de atendimento o mundiais em prol da garantia dos di-
conceito de integração pela normaliza- reitos humanos universais. Em 1990,
ção, ou seja, almejava-se que a pessoa na Conferência realizada em Jomtien,
com deficiência alcançasse as condi- Tailândia, foi elaborada a Declaração
ções para o exercício de sua vida diária, Mundial sobre Educação para Todos
o mais próximo possível da vida da so- que reafirmou a Declaração dos Direi-
ciedade em geral. O sucesso desse mo-
tos Humanos, no sentido de que “toda
delo dependia de uma adaptação uni-
pessoa tem direito à educação”. Como
lateral, a ser exercida pela pessoa com
consequência, os princípios, as políti-
cas e as práticas na área da deficiência
foram elaboradas, no Brasil, na década
de 1990,a partir da Declaração de Sala-
manca, promovida pela Unesco, servin-
do de base para o movimento mundial
pela inclusão educacional a todas as
pessoas com deficiência, abrangendo
sua educação formal.

Seguindo esse processo, a inclusão


da pessoa com deficiência foi sendo
efetivada através de políticas públicas
locais, em resposta aos movimentos
e acordos globais firmados coletiva-
mente. Mas, as decisões políticas das
nações participantes desses primeiros
Descrição de imagem: Uma professora conversa acordos internacionais foram arquite-
com seis crianças em um parque de uma escola.
Eles formam um círculo. Uma das crianças usa
tadas em ritmos e formatos diferentes,
uma cadeira de rodas. Fim da descrição.

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seguindo as características políticas Os professores dizem que têm
e culturais de cada país signatário. No “alunos de inclusão” quando se
Brasil, essa efetivação, também seguiu referem a alunos com deficiência.
o processo de desenvolvimento atra- É correto se referir ao aluno com
vés de pressões sociais de grupos re- deficiência dessa forma? Quais são
presentativos e de defesa de direitos os equívocos dessa abordagem?
desta população, e como consequên-
A heterogeneidade sempre existiu nas
cia, houve a implantação de políticas
escolas e nas salas de aulas, pois cada
públicas, tanto no âmbito federal quan-
aluno é único e desenvolve seu proces-
to nos âmbitos locais. O processo de in-
so de aprendizagem de forma particu-
clusão trouxe essa dimensão ampla de
lar. Entretanto, essa heterogeneidade
envolvimento, fundamentado em duas
foi sufocada por séculos no ambiente
matrizes de valores:
escolar no decorrer do tempo histó-
rico, devido à gestão dos sistemas de
ƒ O reconhecimento da diversida-
ensino basear-se no agrupamento de
de humana, que preconiza olhar a
alunos buscando a homogeneização e
pessoa com deficiência como al-
a uniformidade e com a marginalização
guém que faz parte da sociedade e
dos considerados “diferentes”.
pertence a ela, com as caracterís-
ticas que possui. Significa tomar
Com o processo avançado de demo-
consciência de que a diversidade
cratização do acesso à Educação, os
é uma característica humana in-
professores ficaram diante da grande
dissociável.
diversidade do seu alunado, provenien-
ƒ O exercício do princípio democrá- te da complexidade presente tanto nas
tico da equiparação de oportuni- suas características individuais, quan-
dades e justiça social. Levando to de vivência familiar e social. Nesse
em conta as barreiras atitudinais, sentido, a escola precisou se preparar
arquitetônicas que restringem para atender à diversidade dos alunos,
a participação das pessoas com pois todos os alunos, com suas deman-
deficiência na vida cotidiana, é das específicas, necessitam ser incluí-
importante se propagar valores dos na rotina escolar, considerando-os
e providências que tornam as so- em suas singularidades, e respeitando
ciedades mais inclusivas, e aces- os seus direitos de aprender. É papel
síveis a todos. Devemos estar do professor ensinar e incluir todos os
atentos às marcas do passado, alunos com equiparação de oportuni-
pois ainda se tornam presentes dades por meio de estratégias pedagó-
nas contradições da vida comuni- gicas que permitam que cada indivíduo
tária e na tessitura social. desenvolva seus potenciais. Se a inclu-

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são é a premissa, por que rotular alunos dece a um padrão e modelo interna-
com deficiência como os “de inclusão”? cional, recomendando como foco de
observação, os seguintes aspectos: o
O acesso, a permanência e o sucesso Corpo - levando em conta a estrutura e
de todos e de cada aluno são funções corporais do indivíduo; a Ativi-
parâmetros atuais que estabelecem dade - considerando o que o indivíduo
os graus da qualidade da educação. realiza com o seu corpo e seu repertó-
Nesta perspectiva, alunos são rio de habilidades, e sua participação,
alunos. Todos possuem o direito avaliando o desempenho e a sua ca-
de serem incluídos em toda sua
pacidade de realização; por último, o
diversidade sem discriminação.
Contexto – onde são observadas as cir-
cunstâncias em que o indivíduo realiza
suas atividades. Levam-se em conta
Quais são os parâmetros legais também os fatores que representam o
para a concessão de benefícios ambiente físico e social, assim como o
sociais previstos em leis às estilo de vida. Esses fatores estão or-
pessoas com deficiência no ganizados em uma lista de requisitos
contexto da sua vida profissional? que partem do ambiente mais próximo
Para efeito da inclusão da pessoa com do indivíduo, seguindo para ambientes
deficiência no mundo do trabalho, as- sociais mais abrangentes.
sim como para a concessão dos benefí-
Conceitos importantes, em relação à
cios sociais, como a aposentadoria, por
deficiência, adotados na CIF:
exemplo,são considerados parâmetros
legais no Brasil a CIF (Classificação In-
A. Deficiências: são dificuldades nas
ternacional de Funcionalidade, Incapa-
funções e estruturas corporais,
cidade e Saúde) e o CID (Classificação
que proporcionam desvios ou per-
Internacional de Doenças).
das significativas;
Os conceitos de incapacidade e funcio- B. Funcionalidade: refere-se a todas
nalidade da CIF estão pautados numa as funções do corpo e desempe-
classificação de referência da Orga- nho de tarefas ou ações;
nização Mundial da Saúde (OMS), que
está baseada em um modelo etiológico C. Incapacidade: servindo como
e anátomo funcional, associada ao es- termo genérico descritivo da de-
tado de saúde do indivíduo. ficiência, são as limitações de
atividades e restrições de partici-
A CIF tem um caráter multidisciplinar pação, somadas aos atributos de
em sua análise e estrutura que obe- desempenho e capacidade.

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Uma pessoa que usa óculos 25 a 40 decibéis); com uma perda mo-
é considerada pessoa com derada, a pessoa sentirá dificuldade de
deficiência visual? E outra que ouvir, por exemplo, o som da voz de um
não escuta bem de um ouvido, tem interlocutor pelo telefone (som de 41 a
deficiência auditiva? Enfim, quais 70 decibéis); com uma perda severa,
são os critérios que identificam a pessoa conseguirá ouvir apenas os
cada deficiência? sons tão altos quanto o barulho de uma
Para se averiguar a situação de defi- britadeira (som de 71 a 90 decibéis); a
ciência visual são empregadas duas pessoa que apresentar perda auditiva
escalas oftalmológicas: a que detalha profunda só poderá ouvir ruídos muito
a acuidade visual, ou seja, aquilo que altos, como os provocados por uma tur-
a pessoa enxerga a determinada dis- bina de avião ou o disparo de revólver
tância e a mensuração do seu campo (som acima de 90 decibéis). Segundo o
visual, que é a amplitude da área alcan- Decreto nº 5.626/05, considera-se pes-
çada pela visão. No Brasil, o Decreto soa com deficiência auditiva a que tem
nº 5.296/04 define a cegueira como a perda bilateral, parcial ou total, de qua-
acuidade visual igual ou menor que 0,05 renta e um decibéis (dB) ou mais, aferi-
no melhor olho, com a melhor correção da por audiograma nas frequências de
óptica e a baixa visão, a acuidade visual 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz.
entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a
A definição de deficiência física
melhor correção óptica; ou quando a
foi delineada a partir do Decreto nº
somatória da medida do campo visual
3.298/99, que considera a pessoa com
em ambos os olhos for igual ou menor
que 60o; ou a ocorrência simultânea deficiência física aquela que apre-
das condições anteriores. senta alteração completa ou parcial
de um ou mais segmentos do corpo
Quanto à deficiência auditiva, é possí- humano, acarretando o comprometi-
vel identificar o grau da deficiência, de mento da sua função física, apresen-
acordo com a perda auditiva, avaliada tando-se sob a forma de paraplegia,
em decibéis – unidade de medida da in- paraparesia, monoplegia, monopare-
tensidade do som. Uma pessoa com au- sia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia,
dição normal ouve bem, por exemplo, o triparesia, hemiplegia, hemiparesia,
tic-tac de um despertador (som de zero amputação ou ausência de membro,
a 24 decibéis). Se for uma perda leve na paralisia cerebral, membros com de-
audição, a pessoa sentirá dificuldade formidade congênita ou adquirida, ex-
de desenvolver uma conversação nor- ceto as deformidades estéticas e as
mal, principalmente se houver a pre- que não produzam dificuldades para o
sença de ruídos no seu entorno (som de desempenho de funções (artigo 4º).

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Para compreender essa nomenclatura do nestes casos ser de dois tipos:
é necessário nos atentarmos aos dois flácida ou contrátil;
tipos de comprometimento do membro
ƒ Tetraplegia / Tetraparesia: os
afetado: quando há diminuição ou difi-
quatro membros encontram-se
culdade de movimento ela é denomina-
afetados quanto aos movimentos
da “paresia”; e a ausência de movimen-
e a sensibilidade.
to denominada “plegia”:
Quanto à definição de Deficiência In-
ƒ Monoplegia / Monoparesia: au- telectual, em 1995, a Organização Mun-
sência ou diferentes graus de difi- dial de Saúde (OMS), alterou o termo
culdade de movimento em um dos deficiência mental para deficiência in-
membros;
telectual, com o objetivo de diferenciá-
ƒ Hemiplegia / Hemiparesia: quan- -la dos transtornos mentais, que não
do o membro superior e inferior necessariamente estão associados ao
direito ou esquerdo é afetado de déficit intelectual.
um lado do corpo;
Para a OMS, a pessoa com deficiên-
ƒ Triplegia / Triparesia; quando três cia intelectual caracteriza-se por ter
membros são afetados tanto na um funcionamento intelectual signi-
parte motora quanto sensorial;
ficativamente inferior à média, acom-
ƒ Paraplegia / Paraparesia; quando panhado de limitações relevantes no
são afetados os movimentos ou funcionamento adaptativo. Segundo
os movimentos e a sensibilidade o manual diagnóstico e estatístico de
dos membros inferiores, poden- transtornos mentais – DSM-5, organi-

Descrição da imagem: Plano fechado da


cabeça de uma criança de costas que usa um
implante coclear e um aparelho auditivo na
orelha. Ao fundo, na sua direção, está uma
mulher. Fim da 18 descrição.
zado pela American Psychiatry Associa- tes, como em casa, na escola, no local
tion (APA): “Deficiência intelectual (ou de trabalho, e na comunidade; c) início
transtorno do desenvolvimento inte- dos déficits intelectuais e adaptativos
lectual) é um transtorno com início no durante o período do desenvolvimento.
período de desenvolvimento que inclui
déficits funcionais, tanto intelectuais Entretanto, no âmbito da educação, o
quanto adaptativos, nos domínios con- Ministério da Educação e Cultura (MEC)
ceitual, social e prático. brasileiro reconhece a complexidade do
diagnóstico de deficiência intelectual e
Para caracterizar essa definição é ne- problematiza a utilização do QI para de-
cessário que, pelo menos, três crité- fini-la. Afirma que a deficiência intelec-
rios estejam presentes: a) déficits em tual “não se esclarece por uma causa or-
funções intelectuais como raciocínio, gânica, nem tão pouco pela inteligência,
soluções de problemas, planejamento sua quantidade, supostas categorias e
abstrato, juízo, aprendizagem acadê- tipos”. Esse documento ressalta a ne-
mica e aprendizagem pela experiên- cessidade de considerar aspectos das
cia, confirmados tanto pela avaliação singularidades e subjetividades, além
clínica quanto por testes de inteligên- de um diagnóstico diferencial e sinali-
cia padronizados e individualizados; b) za que a deficiência intelectual é “uma
déficits em funções adaptativas que interrogação e objeto de investigação
resultam em fracasso para atingir pa- para todas as áreas do conhecimento”
drões de desenvolvimento e socio- (BRASIL: MEC, SEESP2006).
culturais, em relação a independên-
cia pessoal e responsabilidade social.
Sem apoio continuado, os déficits de
Como posso identificar o
adaptação limitam o funcionamento Transtorno do Espectro Autista
em uma ou mais atividades, como co- (TEA) em uma criança?
municação, participação social e vida
As pessoas que têm Transtorno do Es-
independente, e em múltiplos ambien-
pectro Autista (TEA) são consideradas
pela ONU como pessoas com deficiên-
cia, por terem impedimentos de longo
prazo, que podem prejudicar ou impe-
PARA SABER MAIS:
dir sua participação plena e efetiva na
Consulte o Manual Diagnóstico e
sociedade, em igualdade de condições
Estatístico de Transtornos Mentais
com as demais pessoas, conforme
(DSM-5), organizado pela American
previsto na Constituição Federal, e em
Psychiatry Association (APA)
outras legislações específicas.

19
Alguns sinais importantes podem indi- Por que as crianças que aparentam
car a presença de traços autistas: ter deficiência intelectual parecem
ser mais infantilizadas do que as
ƒ o relacionamento da criança com demais crianças?
outras pessoas pode não desper-
Segundo a teoria sociointeracionista o
tar seu interesse; ela age como se
acesso da pessoa com deficiência, nas
não escutasse (ex. não responde
diferentes fases da sua vida, a estágios
ao chamado do próprio nome); o
superiores de desenvolvimento, está
contato visual com outras pessoas
vinculado à dialética e a interação exis-
é ausente ou pouco frequente; pa-
tente entre a sua estrutura biológica e o
rece preferir ficar sozinha; pode
ambiente social e cultural que a cerca.
evitar o colo, afagos ou outros ti-
pos de contato físico; pode não Desde a infância, grande parte dessas
demonstrar envolvimento afetivo crianças tem uma desvantagem em
com outras pessoas. As pessoas relação às demais, devido à superpro-
podem ser utilizadas como meio teção familiar e à falta de participação
para alcançar o que a criança quer. em outros grupos sociais. Nas brinca-
ƒ A fala é usada com dificuldade, deiras infantis e no convívio coletivo,
ou pode não ser usada, ela se ex- por exemplo, as crianças aprendem
pressa fazendo gestos e apon- regras, exercitam seus direitos e deve-
tando; apresenta dificuldade em res, a ética individual e coletiva, assim
compreender o que lhe é dito, e como exercitam e compreendem os
de se fazer compreender. As pa- valores sociais e morais do grupo.
lavras ou frases podem ser repe-
Na vida solitária, a carência de expe-
tidas no lugar da linguagem co-
riências sociais assume aspectos for-
mum (ecolalia); e podem aparecer
tes como a alienação e instabilidades
movimentos repetitivos (estereo-
no comportamento social que, muitas
tipias). Pode ser resistente a mu-
vezes, passam a fazer parte das carac-
danças em sua rotina e se apegar
terísticas que explicam a deficiência.
a determinados objetos e pode
Vygotsky (1.984) assinala que a coopera-
ocorrer crises de agressividade
ção deve ser considerada como um fator
ou autoagressividade.
chave para o desenvolvimento sociocul-
Portanto, é importante buscar ajuda tural das pessoas com deficiência, pois
médica e especializada para se esclare- é, também, pelo caminho da atividade
cer e definir o diagnóstico, que é com- coletiva que se desenvolvem as suas
plexo e exige dedicação, tempo e a com- funções psicológicas superiores (pen-
petência de profissionais qualificados. samento, atenção, memória etc.).

20
Descrição da imagem: Mãos de um homem
branco e um homem negro fazem sinais em
Libras. Fim da descrição.
21
A essência deste infantilismo, tam- Espectro Autista (TEA) e síndromes do
bém estudado pela psicologia sócio- espectro do autismo e psicose infantil,
-histórica pode ser entendido como também conhecida como Transtorno
um descompasso, ou retardamento, Desintegrativo da Infância (segundo a
na reorganização qualitativa das suas Política Nacional de Educação Espe-
funções mentais; e, como consequên- cial na Perspectiva Inclusiva/08). Esses
cia, o desenvolvimento da criança fi- transtornos foram classificados con-
xa-se nas suas organizações mentais juntamente porque todos causam pre-
mais prévias e primitivas. Essas crian- cocemente, de algum modo, distúrbios
ças passam a apresentar dificuldades no desenvolvimento, ou seja, atrasos e
em estabelecer, por exemplo, relações mudanças qualitativas das habilidades
de causa e efeito e de categorização, sociais, comunicativas e com padrão
apresentando manifestações afetivas restrito de interesses. Todos afetam de
mais primitivas. Neste caso, suas per- várias maneiras e intensidades: a co-
sonalidades também são subdesenvol- municação, a interação social e o com-
vidas, deixando-as incapacitadas para portamento da pessoa. Os alunos com
observar e ter empatia pelo sentimen- Transtorno Global do Desenvolvimento
to do outro, assim como para assumir fazem parte do público da Educação
uma atitude crítica em relação ao seu Especial e podem ser matriculados na
próprio comportamento e ações. sala regular de ensino e no Atendimento
Educacional Especializado, participan-
do nas Salas de Recursos Multifuncio-
nais, no contraturno da sala regular.
Como identificar os alunos
com transtorno global do
Já os Transtornos Funcionais Específi-
desenvolvimento e os alunos com
cos são caracterizados por um conjun-
Transtorno Funcional Específico?
to de sintomas que provocam uma sé-
Também conhecidos como Distúrbio rie de perturbações na aprendizagem
Abrangente do Desenvolvimento (PDD, dos alunos. Os mais comuns são:
sigla em inglês) e Transtorno Invasivo
do Desenvolvimento, os Transtornos ƒ Dislexia: transtorno específico do
Globais do Desenvolvimento (TGD)são aprendizado da leitura, cuja carac-
aqueles que provocam alterações qua- terística principal é o rendimento
litativas nas interações sociais recípro- escolar abaixo do esperado para
cas, na comunicação e um repertório de a idade cronológica da pessoa,
interesses e atividades restrito, este- apesar de apresentar o potencial
reotipado e repetitivo. Incluem-se nes- intelectual e da escolaridade ade-
se grupo pessoas com Transtorno do quados para a idade;

22
ƒ Dislalia ou Distúrbio Articulató- recuperação e no uso da informa-
rio: distúrbio da fala caracteriza- ção contida nos sinais audíveis.
do pela dificuldade na articulação
Os alunos com Transtornos Funcionais
das palavras: omissões, trocas de
Específicos não fazem parte do públi-
sons e distorções;
co da Educação Especial e não devem
ƒ Discalculia: dificuldade para ser encaminhados para o Atendimento
aprender matemática, a despeito Educacional Especializado (AEE), pois
de ter inteligência normal, oportu- o professor do AEE não tem formação
nidade escolar, estabilidade emo- técnica acadêmica para esse atendi-
cional e motivação necessária; mento. Os profissionais das entidades
parceiras da educação (fonoaudiólo-
ƒ Disortografia: alteração na pla-
gos, psicólogos, psiquiatras, dentre
nificação da linguagem escrita,
outros) são indicados para orientar os
sendo considerado um distúrbio
professores e familiares para o me-
de ordem cognitiva de linguagem,
lhor aproveitamento escolar do aluno,
um problema de cunho neuro per-
quando necessário.
ceptor;

ƒ Transtorno de Déficit de Aten-


ção/Hiperatividade (TDAH): Por que as pessoas com altas
transtorno neurobiológico de habilidades/superdotação fazem
causas genéticas, que se carac- parte do público da Educação
teriza por sintomas de desaten- Especial como as pessoas com
ção, inquietude e impulsividade deficiência?
apresentadas pelos indivíduos e As pessoas com altas habilidades/su-
que desencadeiam alterações na perdotação demonstram potencial ele-
percepção, na cognição e no com- vado em qualquer uma das seguintes
portamento, comprometendo o áreas, isoladas ou combinadas:
aprendizado escolar.
ƒ Habilidade intelectual geral: apre-
ƒ Desordem do Processamento
senta curiosidade intelectual, po-
Auditivo (DPA): déficits no pro-
der excepcional de observação,
cessamento dos sinais audíveis
habilidades para abstrair, atitude
não atribuídos a perdas auditivas
de pensamento criativo e produ-
periféricas, nem a prejuízo inte-
tivo: apresenta ideias originais e
lectual. Esses déficits referem-
questionamento e habilidade de
-se às limitações na transmissão,
pensamento associativo;
análise, organização, transforma-
ção, elaboração, armazenamento, ƒ Aptidão acadêmica ou específica:

23
apresenta desempenho excepcio- cação especial porque se distingue
nal e alta habilidade nas tarefas da da média da população, sendo difícil o
vida acadêmica, alto rendimento desenvolvimento do seu potencial sem
em testes de conhecimento e ou- uma estratégia pedagógica qualificada
tras habilidades específicas; para atendê-la, tanto em grupo quanto
em situações individuais. Além disso,
ƒ Habilidades de divergentes, habi-
necessita de regras e rotinas diferen-
lidade para elaborar e desenvolver
ciadas tanto no ambiente escolar quan-
essas ideias. São pessoas capa-
to no familiar, incluindo-a no contexto
zes de perceber de muitas formas
social. Além dessa dificuldade e por ter
diferentes um determinado tópi-
interesse ampliado em uma área, nem
co;
sempre essa pessoa encontra parcei-
ƒ Liderança: destacam-se pelo ca- ros com interesses comuns aos seus e
risma, capacidade de argumenta- que acompanhem seu desenvolvimen-
ção e discurso articulado, como to, situações que lhe causam obstácu-
na pesquisa acadêmica, na cultu- los, algumas vezes, para sua interação
ra,nas causas sociais,etc; social. Ela necessita muitas vezes do
AEE (Atendimento Educacional Espe-
ƒ Artes visuais e cênicas: com des-
cializado) para organizar-se, propor e
taque na pintura, escultura, dese-
realizar inovações e desenvolver seu
nho, cinema, dança, canto, teatro
potencial.
e música;

ƒ Habilidades psicomotoras: desta-


cam-se no esporte, incluindo tam-
bém o uso superior de habilidades É comum os professores
motoras para determinadas tare- encaminharem alunos com
fas e habilidades mecânicas; dificuldades de aprendizagem
para o Atendimento Educacional
ƒ Em relação às características de Especializado, AEE. Nesses casos
personalidade, apresentam sen- qual é o procedimento correto?
so de humor, alto grau de ener-
Os professores constantemente soli-
gia, questionamento frequente
citam participar de processos de for-
de regras e autoridade, crítica
mação que lhes garantam ferramentas
de si mesmo e dos outros. São
para sua atuação técnico-pedagógica
independentes e se irritam com
para o trabalho em classes heterogê-
a rotina.
neas. Muitos deles se sentem sozinhos
A pessoa com altas habilidades/super- na resolução de situações rotineiras da
dotação faz parte do público da edu- vida escolar e acabam fazendo encami-

24
nhamentos de alunos com dificuldades escola, crie propostas alternativas de
de aprendizagem para o atendimento atendimento para este grupo, contan-
educacional especializado que é realiza- do com os recursos e infraestrutura
do na Sala de Recursos Funcionais nas da escola, uma vez que é fundamental
escolas regulares de ensino, sendo mi- apoiar estes alunos em suas dificulda-
nistrado por um professor especializado des como forma de mitigar a evasão es-
em educação especial. O AEE elabora, colar e as defasagens idade-série, que
identifica e organiza recursos pedagó- são as consequências mais comuns.
gicos e de acessibilidade para o acesso
à educação e complementa a formação Para superar os desafios com os alunos
de alunos que fazem parte da educação com dificuldades de aprendizagem, os
especial, que são os alunos com defi- professores atualmente também po-
ciência, transtornos globais do desen- derão contar com os conhecimentos
volvimento ou altas habilidades/super- dos profissionais da área da psico-
dotação. De acordo com as orientações pedagogia. Como esses profissionais
do MEC, as crianças com dificuldades nem sempre fazem parte dos recursos
de aprendizagem não fazem parte do humanos das redes públicas de en-
público do atendimento do AEE. sino, os professores podem recorrer
às entidades conveniadas, no caso
Portanto, é necessário que a equipe do sistema público, ou às secretarias
escolar, em conjunto com a coordena- parceiras da educação que contem-
ção pedagógica e a equipe gestora da plem esse atendimento.

25
Descrição da imagem: Grupo de crianças sentadas
em um refeitório de escola. uma criança de costas
está sentada em uma cadeira de rodas e carrega no
encosto da cadeira uma mochila vermelha. Fim da
descrição.

EDUCAÇÃO
INCLUSIVA
26
res. A dimensão secundária, trazendo o
EDUCAÇÃO seu histórico social, delineando as ca-
INCLUSIVA racterísticas pessoais e estilos de inte-
ração com o meio e o ambiente social
e cultural em que este indivíduo está
inserido. No entanto, este movimento
Qual a importância do diagnóstico dialético permanente entre essas duas
clínico para as ações educacionais, dimensões, não poderá ser interpreta-
visando o desenvolvimento do numa equação de causa e efeito, in-
do aluno em seus aspectos dependente das formas que o indivíduo
intelectual, emocional e social? utiliza para desenvolver seu potencial
A questão do diagnóstico clínico como de aprendizagem (Vygotsky, 1984).
informação que complementa as carac-
Nós, educadores, devemos sempre
terísticas pessoais do educando deve
apostar na qualidade das relações in-
ser tratada no ambiente escolar com
terpessoais; no planejamento das me-
muito cuidado e critério para que não
diações pedagógicas arquitetadas em
se construa uma pedagogia prescritiva,
função das singularidades do grupo
baseada em hipóteses e sintomas que
de alunos, promovendo a equiparação
passam a explicar o funcionamento do
de oportunidades de participação em
aluno, e até, em muitos casos, construir
sala de aula; na plasticidade do cére-
prognósticos em relação ao seu proces-
bro; e no papel estruturante da escola,
so de aprendizagem. Para se levar em
e da convivência social que dela decor-
conta o aspecto intelectual, emocional
re, onde o aluno é exposto, conviven-
e social relacionados ao desenvolvi-
do com parceiros mais experientes ou
mento da criança é interessante levar-
não, em uma série de situações signi-
mos em consideração as contribuições
ficativas, que irão enriquecer de expe-
de L. S. Vygotsky (1896 - 1934) em rela-
riências seu percurso histórico e, como
ção à interpretação do desenvolvimento
consequência, o seu desenvolvimento.
humano e a deficiência.

Para ele, todo o indivíduo com algum


tipo de deficiência é constituído como Você acredita que devemos matri-
sujeito a partir de duas dimensões que cular a criança com deficiência em
dialogam permanentemente, sem, con- escolas de ensino regular ou esco-
tudo, sozinhas o definirem: A dimensão las especiais? Ou devemos ouvir a
primária, biológica, cujas caracterís- criança e deixar que ela decida?
ticas estão relacionadas aos seus as-
pectos orgânicos e biológicos peculia- Para refletirmos sobre esta questão é

27
Descrição da imagem: Fotografia em plano
aberto de crianças em uma aula de ballet
clássico. No centro da imagem uma bailarina
em uma cadeira de rodas, realiza o segundo
movimento do ballet com os braços e as
mãos abertas. Fim da descrição.

necessário considerarmos a importân- de sentir ou de receber sensações


cia do sentimento de pertencimento e de atribuir sentidos à própria
nas relações pedagógicas, estudada vida e à vida do outro; e pela toma-
por muitos autores, dentre eles Vygo- da de consciência dos sentimen-
tsky (2001). Segundo o autor, todas as tos, sensações, da qualidade das
crianças desenvolverão seu sentimen- relações, e de sua importância no
to de pertencimento baseado em uma processo de aprendizagem.
construção social de suas aprendiza-
2. A dimensão política, em que o sen-
gens, entendida em sua heterogenei-
timento de pertencimento se efe-
dade. O desenvolvimento desse sen-
tiva nas relações heterogêneas de
timento de pertencimento poderá ser
explicado em 5 dimensões envolvidas dependência e de autonomia dos
neste processo: seres humanos. Uma autonomia
sempre relativa, já que precisa-
1. A dimensão ética, em que o senti- mos interagir com o outro para
mento de pertencimento é desen- viver. Essa interação também se
volvido pela capacidade humana estende aos outros seres vivos.

28
Este valor é apreendido pela ati- experimentar novas experiências,
tude de abertura para os próprios transportamo-nos a outra situa-
sentimentos, à cumplicidade com ção. Outras energias e sentimen-
o outro, à participação e corres- tos são suscitados em nosso ser.
ponsabilidade pela própria vida e
5. Finalmente, na dimensão educati-
a dos membros da comunidade e
va o sentimento de pertencimen-
do meio do qual se faz parte.
to ocorre quando organizamos,
3. A dimensão estética, em que o através da rotina escolar, ou fora
sentimento de pertencimento se dela, os jogos e brincadeiras, com
efetiva na criatividade dos seres a oportunidade de se experienciar
humanos frente aos desafios da a convivência no coletivo, pautada
vida, quando se sentem contagia- em regras sociais, e promovendo
dos um pelo outro, e pela natureza. o diálogo entre os processos in-
Suas relações buscam a simetria dividuais conscientes e incons-
nessa relação criadora. Dessa ex- cientes. O sentido educativo tem
periência, resulta uma diversida- a potencialidade de ampliar as
de de emoções que transformam possibilidades de pertencimento
o primeiro sentimento, superan- e enriquecer as vivências já exis-
do aquilo que o originou. Assim, tentes.
os primeiros sentimentos indi-
Quando as crianças vão à escola
viduais, que são transformados
e convivem com seus pares nas
em sentimentos sociais, muitas
rotinas escolares, elas estão
vezes, se colocam como opostos
construindo o próprio sentimento de
aos primeiros em suas soluções.
pertencer ao mundo dos seres vivos,
4. Na dimensão social o sentimento da espécie humana, da sociedade,
de pertencimento não se proces- da família e de pertencer a si próprio.
sa somente pela interação de um Quando todas as crianças estudam
indivíduo que influencia, ou mo- juntas, independentemente de
difica, a dinâmica de interação suas singularidades, elas ampliam
social de todos. No contato com essas possibilidades. A educação
novas experiências e com o con- nesse sentido, e na dimensão do
siderado “diferente”, temos a im- futuro, passa a dar vida ao seu
pressão de sentir o que propria- papel contemporâneo de intervir na
mente não sentimos, de entender sociedade para que se qualifique
o que não entendemos, de poder na direção da justiça social, do
o que não podemos. Nesta dinâ- sentimento de solidariedade e da
mica de refletir e de nos permitir paz. Este é um novo paradigma que

29
a pós-modernidade traz para os verão organizar um planejamento com
sistemas educacionais. a participação da comunidade escolar,
para a implantação e gerenciamento
Portanto, todo o ser humano, na sua dos processos da educação inclusiva.
mais tenra idade aprecia a convivência
com seus pares e aprende com ela. Ir Neste planejamento, é importante con-
para a escola é um ritual social, vivido siderar: a adequação da infraestrutura
por muitas gerações, nos faz evoluir e escolar; a acessibilidade arquitetônica;
compreender que todos nós pertence- a oferta do atendimento educacional
mos à humanidade. Assim, não há o que especializado; a confecção de material
decidir, pois já fazemos parte. pedagógico acessível e adaptado às ne-
cessidades dos alunos; assim como a
formação continuada aos professores
e equipe escolar; e o fortalecimento
Um discurso muito comum entre de um diálogo permanente com as fa-
os educadores é que não se mílias. A formação para a educação in-
consideram “preparados” para lidar clusiva provoca a necessidade de uma
com a inclusão. Como incluir os profunda discussão sobre o currículo e
alunos com deficiência em classes as rotinas pedagógicas adotadas pela
regulares, sem que o professor escola. Como o processo de inclusão e a
tenha a formação ou a consciência chegada dos alunos com deficiência nas
sobre o seu papel frente a esses escolas tem se dado de forma ampliada
alunos? e recorrente, não há uma melhor receita
Devemos partir de uma situação con- para esta formação. O importante é pos-
creta e que não mais está posta em dis- sibilitar que a informação flua entre os
cussão, que é o processo de inclusão professores, por meio de espaços para
educacional dos alunos com deficiên- trocas de experiências e divulgação
cia na rede regular de ensino. É lei e há das boas práticas. Além disso, levantar
mecanismos de monitoramento já ado- a real necessidade e interesse dos pro-
tados pelo MEC e por nosso País, como fessores sobre os temas a serem abor-
signatário da Convenção Internacional dados nas formações possibilita um pla-
dos Direitos da Pessoa com Deficiên- nejamento de conteúdos e estratégias
cia da ONU. No entanto, o processo de didáticas mais aderentes à realidade
inclusão se revela para além da relação desses professores em sala de aula. Ou-
professor – aluno, no âmbito da sala de tra questão importante nessas forma-
aula. As lideranças responsáveis pela ções é não reforçar a abordagem clínica
gestão dos serviços educacionais, quer da compreensão das deficiências, que
estes sejam públicos ou privados, de- muitas vezes leva os professores a se

30
deslocarem para a situação da “discus- dente, forem considerados pela perícia
são de casos”, debruçando-se mais na médica da Previdência Social incapa-
pergunta “o que o meu aluno tem?” ao zes de exercer suas atividades que lhes
invés de perguntar “o que o meu aluno garantam o sustento. Você terá de sub-
sabe e como ele aprende?”. meter-se a exame pericial do INSS para
verificar se este é o seu caso.

Tenho mielite com espasmos e


estou sob tratamento médico. Sabemos que a família deve
Posso solicitar à faculdade em que ser parceira da escola durante
estudo a prorrogação do prazo todo o processo de ensino e
para entregar meu trabalho de aprendizagem. O que fazer
conclusão de curso? Tenho direito quando a escola solicita o
à aposentadoria? encaminhamento de um aluno
para avaliação diagnóstica e não
Dispõe o artigo 27 do Decreto Federal
encontra o apoio da família? Existe
nº 3.298/99 que as instituições de en-
alguma lei que ampara essa ação
sino superior devem oferecer adapta-
educacional?
ções de avaliações e o apoio necessá-
rio ao aluno com deficiência, inclusive Segundo o Artigo 2º da Lei de Diretrizes
tempo adicional para entrega de traba- e Bases da Educação (9.394/96) a Edu-
lhos. Como você apresenta limitações cação é dever do Estado e da família. A
que o impedem de cumprir integral- Resolução ‘’CNE/CEB 02/01 prevê, no
mente com suas obrigações escola- inciso III, Artigo 6º, a colaboração da
res, sugerimos que o caso seja levado à família no processo de ensino-apren-
coordenação de seu curso com o obje- dizagem do educando com necessida-
tivo de pedir a prorrogação do prazo de des especiais. O Estatuto da Criança
entrega do trabalho de conclusão. Se e do Adolescente (Lei 8069/90) afirma
em seu Artigo 4º que é dever da família
as vias administrativas não forem su-
assegurar diversos direitos às crianças
ficientes para resolver a questão, você
e adolescentes. Portanto, a família é
poderá optar por uma solução judicial,
corresponsável por aspectos sociais
amparado por um advogado. Quanto à
aposentadoria por invalidez, ela é con-
cedida àqueles que não se encontram PARA SABER MAIS:Pesquise e leia a
aptos ao trabalho e que preencham os íntegra da Convenção Internacional
requisitos legais para o recebimento dos Direitos da Pessoa com
do benefício, concedido apenas aos Deficiência da ONU
trabalhadores que, por doença ou aci-

31
e educacionais das crianças, adoles- visual (cegos ou com baixa visão) têm
centes e jovens com e sem deficiência. direito de frequentar as salas de recur-
Dessa forma é necessário avaliar indi- sos multifuncionais no contraturno da
vidualmente cada caso e o quanto a ati- sala de aula regular. As atividades do
tude da família prejudica o desenvolvi- AEE neste caso, facilitariam o planeja-
mento do aluno e verificar se a escola já mento pedagógico destes alunos nas
esgotou todas as possibilidades de diá- diferentes etapas e modalidades de
logos. Nestes casos, e esgotadas todas ensino, introduzindo o uso do material
as possibilidades, é possível se ampa- adaptado às suas necessidades, como
rar na legislação citada acima para que por exemplo: material pedagógico com
tais direitos dos alunos sejam cumpri- textos ampliados, materiais em Braille,
dos. O Conselho Tutelar, nesses casos, mapas táteis etc.
pode ser uma alternativa para atuação
em conjunto com o gestor educacio-
nal. Mais informações: LDB – Lei de Di-
Qual o público-alvo das escolas de
retrizes e Bases da Educação – LEI Nº
Educação Especial? A legislação
9.394/96.
prevê a terminalidade dos estudos
para esses alunos?
Segundo a Lei de Diretrizes e Bases
Quando se tem um aluno com da Educação Nacional –LDBN- (Lei
baixa visão na escola regular, 9.394/96), em seu inciso III Artigo 4º,
sem material adequado e o dever do Estado com educação es-
os professores se sentem colar pública será efetivado mediante
incomodados em trabalhar com a garantia de atendimento educacio-
esses alunos, o que se deve fazer? nal especializado gratuito aos edu-
A Convenção sobre os Direitos das candos com deficiência, transtornos
Pessoas com deficiência (ONU, 2006), globais do desenvolvimento ou altas
a Política de Educação Especial na habilidades/ superdotação (público da
Perspectiva da Educação Inclusiva Educação Especial) transversal a to-
(MEC, 2008) e o Decreto 7.611/11, den- dos os níveis, etapas e modalidades,
tre outros documentos normativos, preferencialmente na rede regular de
oferecem subsídios legais para a im- ensino.
plementação do atendimento educa-
cional especializado (AEE) que ocorre PARA SABER MAIS: Pesquise a
nas salas de recursos multifuncionais, íntegra da LDB – Lei de Diretrizes
e as escolas devem prover este aten- e Bases da Educação – LEI Nº
dimento. Os alunos com deficiência 9.394/96.

32
Descrição da imagem: Fotografia em plano
fechado, mostra um grupo de professoras em
um ambiente de formação pedagógica. Na
mesa de trabalho folhas, cadernos coloridos
lápis e canetas. Fim da descrição.

Portanto, a redação estabelecida no ciar este direito do aluno, levando em


texto da lei, dá margem de interpreta- conta o marco legal referencial exis-
ção a exceções sobre a inclusão de alu- tente. É importante que este tema seja
nos na rede regular. Isto tem possibili- também discutido e referendado pelo
tado especialistas e familiares orientar Conselho Municipal de Educação, esta-
escolhas, nos casos mais complexos, belecendo assim a legitimidade neces-
buscando beneficiar o pleno desen- sária a este recurso.
volvimento do aluno. Os municípios,
através da Secretaria Municipal de O certificado de conclusão de escolari-
Educação e instituições especializadas dade, expedido como terminalidade es-
parceiras deverão responsabilizar-se, pecífica, só será considerado, quando
em conjunto com a família, pelo plane- comprovadamente refletir a conclusão
jamento e acompanhamento dos servi- de um processo de experiências, vivên-
ços educacionais oferecidos ao aluno.
cias e estratégias de aprendizado, de
desenvolvimento e desempenho esco-
A LDBN (Artigo 59), a Resolução CNE/
CEB 02/01 (Artigo 16) e o parecer CNE/ lar do aluno. A terminalidade específica
CEB 17/01 (Artigo 59) preveem a termi- pode ser expedida como a validação de
nalidade específica para alunos com uma etapa que possibilite continuidade
graves deficiências múltiplas ou in- das atividades acadêmicas em outras
telectuais. As redes municipais e Es- instituições de ensino regular ou pro-
taduais de ensino devem estabelecer fissionalizantes, ou em outras possibi-
seus processos e critérios para geren- lidades de rotinas formativas.

33
Qual a importância da estimulação zendo com que a criança se retraia ou
precoce para os alunos com deficiência crie formas compensatórias de intera-
que iniciam sua escolaridade nos gir com seu meio e seus pares. Como
primeiros anos de vida? consequência, a criança poderá dei-
De acordo com estimativas divulgadas xar de realizar, ou realizar com pouca
pela Organização Mundial de Saúde frequência, determinadas atividades,
(OMS), cerca de 10% da população mun- compatíveis com sua faixa etária. A ca-
dial apresenta algum tipo de deficiên- pacidade do organismo em se adaptar
cia. Essa porcentagem varia de acordo ao meio e a plasticidade cerebral estão
com o Índice de Desenvolvimento Hu- relacionadas diretamente à qualida-
mano (IDH) das cidades. Portanto, as de, duração e a forma de estimulação
condições de pobreza, desnutrição e que o indivíduo recebe. Ainda, os con-
precariedade do atendimento primá- ceitos de plasticidade sugerem que o
rio à saúde e a exclusão social influen- sistema nervoso central pode suprir
ciam significativamente neste quadro. uma função exercida por uma área le-
Essa falta de estímulos, de alimentação sada do encéfalo por outra não lesada
adequada, bem como alguns aspectos ou menos lesada. Pesquisas mostram
específicos da família pode levar mui- que se um trabalho de estimulação for
tas crianças a apresentarem atrasos no realizado de maneira adequada, nos
desenvolvimento. Atrasos estes que po- primeiros anos de vida, poderá cau-
deriam ser amenizados, em muito, caso sar significativas modificações no de-
fossem detectados precocemente. senvolvimento global de crianças com
deficiência, principalmente quando a
O desenvolvimento humano é con- intervenção terapêutica é associada
siderado um processo de mudanças ao comprometimento familiar. Quanto
complexas e interligadas das quais mais tarde a criança for exposta a es-
participam todos os aspectos de cres- timulação, mais defasado estará o seu
cimento e maturação do organismo. desenvolvimento motor, acarretando
Essas mudanças implicam na elabo- perdas irreparáveis de ordem senso-
ração e desenvolvimento de todas as rial, espacial, cognitiva etc.
funções mentais e motoras que inte-
ragem em uma relação dialética cons-
tante. Um bom desenvolvimento mo-
tor repercute na vida futura da criança Qual a contribuição da Tecnologia
de forma ampla: tanto nos aspectos de Informação e Comunicação em
sociais, intelectuais e culturais, como práticas pedagógicas para incluir
quando alguma dificuldade motora se alunos com lesões neurológicas ou
manifesta, afetando a autoestima, fa- deficiência múltipla?

34
Tecnologia Assistiva e ajudas técnicas A alta tecnologia dos vocalizadores
- são termos utilizados para identificar (pranchas com produção de voz) ou
todo o arsenal de recursos e serviços, o computador com softwares es-
metodologias, estratégias e práticas pecíficos e pranchas dinâmicas em
pedagógicas que contribuem para pro- computadores tipo tablets, garantem
porcionar ou ampliar habilidades fun- grande eficiência à função comuni-
cionais de pessoas com deficiência. cativa. Alguns exemplos: Prancha de
Nas práticas da inclusão educacional comunicação impressa; vocalizadores
é importante que o professor conheça de mensagens gravadas; prancha de
as possibilidades tecnológicas existen- comunicação gerada com o softwa-
tes, atrelando este conhecimento com re Boardmaker SDP no equipamento
a intencionalidade pedagógica, procu- EyeMax (símbolos são selecionados
rando integrar a tecnologia com outros pelo movimento ocular e a mensagem
materiais e atividades existentes no é ativada pelo piscar) e pranchas dinâ-
contexto da escola e, principalmente, micas de comunicação no tablet.
atentando para as necessidades e inte-
resses dos alunos. Além dos recursos tecnológicos, vale
considerar a parceria estreita entre o
A inclusão digital de pessoas com de- professor e seu grupo de alunos, na qual
ficiência física pode ser conseguida as formas alternativas de comunicação
com a acessibilidade dos mobiliários; poderão ser construídas e combinadas,
dos acionadores, teclados adapta- por meio da criatividade, motivação e a
dos, mouses especiais e software es- participação de todos os envolvidos.
pecialmente idealizado para tornar o
computador acessível e útil nas rotinas No período da pandemia da COVID 19,
escolares dos alunos com privações recrudescida a partir de 2020, os re-
sensoriais e motoras. cursos tecnológicos na educação se
estenderam às aulas online como ins-
A Comunicação Aumentativa e Alter- trumento facilitador do acesso à apren-
nativa (CAA) atende a pessoas sem fala dizagem e às rotinas escolares. No en-
ou escrita funcional ou em defasagem tanto, pelo ainda baixo investimento
entre sua necessidade comunicativa dos Estados e Municípios nos sistemas
e suas habilidades de fala ou escrita. públicos de ensino, em relação à in-
Existem programas de computador fraestrutura das escolas e treinamen-
que criam pranchas de comunicação to dos professores para a utilização
(semelhantes ao BLISS E PCS) que faci- dessas novas ferramentas, incluindo,
litam a expressão e comunicação plena também, os aspectos da acessibilida-
de seus usuários. de para a população com deficiência,

35
esses recursos e estratégias tecnoló- ƒ Na Lei 9394/96, que dispõe so-
gicas se mostraram excludentes para bre as Diretrizes e Bases da
a população de alunos com deficiência, Educação Nacional. O Capítulo
assim como para os outros alunos em V desta lei está dedicado à Edu-
situação de vulnerabilidade social, am- cação Especial. Orienta sobre
pliando significativamente a exclusão o atendimento especializado, a
necessidade de currículo, méto-
social e o acesso à educação.
dos, técnicas e recursos educa-
Quais são as diretrizes legais para tivos que atendam às necessi-
o processo de inclusão da pessoa dades dos alunos, bem como de
com deficiência na rede regular de professores especializados para
esse fim. Garante a matrícula de
ensino?
alunos com deficiência no ensino
No Brasil, a inclusão educacional da regular, dispondo também sobre
pessoa com deficiência é um direito a terminalidade específica para
constitucional. Todas as pessoas en- aqueles que não apresentaram
volvidas nesse processo e as redes de condições de conclusão do Ensi-
ensino precisam se preparar e se ade- no Fundamental. Prevê a acelera-
quar para esta nova realidade. ção de estudos para os superdo-
tados e a educação especial para
As diretrizes legais para o processo de o trabalho visando a integração
inclusão na rede regular de ensino es- dos alunos com deficiência na
tão contidas: vida em sociedade;

Descrição da imagem: Criança com deficiência


visual, em sala de aula, está com o rosto
próximo a uma folha de papel. Em uma das
mãos escreve com o lápis e na outra mão uma
tele-lupa. Fim da descrição.

36
ƒ Na Política de Educação Espe- a implementação do Atendimento
cial na Perspectiva da Educação Educacional Especializado (AEE),
Inclusiva, publicada pelo MEC em que ocorre nas salas de recursos
2008, que orienta a constituição multifuncionais. O Atendimento
de políticas públicas promotoras Educacional Especializado deverá
de uma educação de qualidade ser oferecido no contraturno das
para todos os alunos. Em rela- aulas regulares do aluno com de-
ção ao atendimento do público da ficiência;
Educação Especial suas diretrizes
ƒ Na Convenção Internacional da
tratam sobre a transversalida-
ONU/2006, que estabelece os
de da educação especial desde a
parâmetros legais para que os
educação infantil até a educação
países signatários estabeleçam
superior; a organização do Aten-
suas políticas internas de prote-
dimento Educacional Especiali-
ção e direitos das pessoas com
zado; a formação de professores,
deficiência;
a participação da família e da co-
munidade no processo de inclu- ƒ Na Lei nº 13.146/2015, que insti-
são; a necessidade de acessibili- tui a Lei Brasileira de Inclusão da
dade urbanística, arquitetônica, Pessoa com Deficiência (Estatu-
nos mobiliários e equipamentos, to da Pessoa com Deficiência),
nos transportes, na comunicação destinada a assegurar e a promo-
e informação. Quanto à implemen- ver, em condições de igualdade, o
tação das políticas públicas, des- exercício dos direitos e das liber-
taca a necessidade de articulação dades fundamentais por pessoa
intersetorial onde a rede de ensi- com deficiência, visando a sua in-
no está inserida; clusão social e cidadania. Em seu
artigo 27 preconiza a educação
ƒ No Decreto Federal 6.571/08, que
como direito da pessoa com de-
dispõe sobre a distribuição dos
ficiência, assegurando o sistema
recursos do FUNDEB, quanto ao
educacional inclusivo em todos
cômputo das matrículas dos alu-
os níveis e aprendizado ao longo
nos da educação regular da rede
de toda a vida, de forma que ela
pública que recebem Atendimento
alcance o máximo desenvolvi-
Educacional Especializado, sem
mento possível de seus talentos
prejuízo do cômputo dessas matrí-
e habilidades físicas, sensoriais,
culas na educação básica regular;
intelectuais e sociais, segundo
ƒ Na Resolução CNE/CEB 04/09, suas características, interesses
que oferece subsídios legais para e necessidades de aprendiza-

37
gem. Também especifica vários instituiu o Comitê de Ajudas Técnicas
de seus direitos aos serviços, (CAT) que aprovou, em 2007, o con-
recursos, metodologias, estraté- ceito brasileiro de Tecnologia Assis-
gias e práticas inclusivas; tiva (TA) como sendo: “uma área do
conhecimento, de característica in-
ƒ No Plano Nacional de Educação
terdisciplinar, que engloba produtos,
2014-2024, que apresenta 10 me-
recursos, metodologias, estratégias,
tas para a educação nesse decê-
práticas e serviços que objetivam pro-
nio. A meta 4 traz dois grandes
mover a funcionalidade, relacionada à
objetivos para a Educação Espe-
atividade e participação, de pessoas
cial: a universalização do acesso
com deficiência, incapacidades ou
à educação básica e ao atendi-
mobilidade reduzida, visando sua au-
mento educacional especializado
tonomia, independência, qualidade de
para a população de 4 a 17 anos
vida e inclusão social”. O contexto da
com deficiência, transtornos glo-
TA abrange recursos, metodologias,
bais do desenvolvimento (TGD) e
estratégias, práticas e serviços.
altas habilidades ou superdotação
e preconiza que o atendimento
As ajudas técnicas no contexto da
educacional especializado a essa
educação inclusiva são muito variadas
população ocorra por meio da
e estão em constante evolução, envol-
educação inclusiva, ou seja, “pre-
vem o conhecimento da especificida-
ferencialmente na rede regular de
de de cada deficiência e o contexto da
ensino”, com a garantia de siste-
escola (acessibilidade física, atitudinal
ma educacional inclusivo, de salas
e da comunicação). Para cada defi-
de recursos multifuncionais, clas-
ciência existem condições básicas que
ses, escolas ou serviços especia-
devem ser respeitadas, por exemplo:
lizados, públicos ou conveniados.
a deficiência física exige, de um modo
geral,a acessibilidade arquitetônica
(rampas, banheiro adaptado, mobiliá-
Quais os recursos pedagógicos, rio desenho universal e/ou adaptado,
tecnológicos e de apoio (professor adequação postural, órteses, próte-
de apoio à inclusão) devem ser ses). A deficiência visual necessita ter
contemplados e garantidos em acesso, por exemplo, a conteúdos em
uma sala com crianças com Braille e/ou digitalizado para os cegos,
deficiência? e materiais em letra ampliada e com
A Secretaria Especial dos Direitos Hu- contraste para aqueles que têm bai-
manos da Presidência da República xa visão, e em auto- relevo, como ma-
(SEDH/PR), através da portaria nº 142, pas, histórias e figuras, além de ajudas

38
técnicas específicas para o ensino das Por que as Salas de Recursos
ciências exatas e biológicas para os Municipais, algumas vezes, são
alunos cegos nos laboratórios. vistas como um ambiente a parte
da escola, se na lei estas salas
O MEC publicou cartilhas com as di- deveriam fazer parte do Projeto
retrizes para o AEE (Atendimento Eco Político Pedagógico da escola?
Educacional Especializado), onde en- Pelo fato das Salas de Recursos Fun-
contramos referências a recursos pe- cionais se constituírem como um espa-
dagógicos, apoios e ajudas técnicas ço recentemente implantado na escola
para cada uma das deficiências (Físi- é importante que a equipe escolar e os
ca, auditiva, visual e intelectual) e as gestores responsáveis pela implanta-
orientações básicas para a implanta- ção e monitoramento do Atendimento
ção da educação inclusiva. Educacional Especializado (AEE), reali-
zado nesse espaço,faça com que tanto
As escolas, públicas ou privadas, de- a Sala de Recursos Funcionais como
vem contar com profissionais habilita- o AEE façam parte do Projeto Político
dos para compor uma equipe de apoio Pedagógico da escola.
ao processo de inclusão dos alunos
com deficiência no ensino regular, que É necessário que se esclareça o tipo e a
deverá ser construída, com critérios finalidade dos serviços oferecidos nas
salas multifuncionais para toda a comu-
claros e objetivos, em relação ao tra-
nidade escolar, esclarecendo de forma
balho a ser realizado, assim como,ao
simples e clara seus benefícios e o seu
tipo de ajuda que esse profissional
papel integrador, dos alunos nas roti-
deverá prover à equipe escolar, para
nas escolares. O movimento da inclu-
que os papéis e responsabilidades em
são de mais este recurso na escola de-
relação ao processo de aprendizagem verá estabelecer-se de forma positiva,
desse aluno não sejam sobrepostos e, contribuindo para desmistificar a visão
tão pouco, esse profissional do AEE corrente de que alunos com deficiên-
tornar-se “moeda de troca” ou con- cia devem ser “tratados“ em ambiente
dição para que o professor receba o isolado das outras crianças e que só o
aluno com deficiência em sua sala de ensino especializado dará conta deles.
aula. É preciso que a equipe escolar colabo-
re para que o AEE não se realize em um
Obs: Consulte as informações dispo- cantinho da escola, diferenciando-se
níveis nas cartilhas do Atendimento do modelo da institucionalização, mar-
Educacional Especializado (AEE) no cado pelo isolamento daqueles que são
portal do MEC. diferentes.

39
Para elaborar um portfólio do vem ser considerados interconec-
processo de aprendizagem é tados para se poder fazer uso des-
preciso considerar os avanços e sas informações na estruturação
limitações do aluno em relação de um planejamento e um acom-
ao objeto do conhecimento. Quais panhamento do desenvolvimento
seriam os aspectos a serem pedagógico individual e coletivo
observados na composição dos dos alunos. Também merece des-
registros do professor em relação taque o registro das estratégias
aos alunos com deficiência? adaptativas a que os alunos (em
O desenvolvimento pedagógico do alu- especial aqueles com deficiência)
no com deficiência deve ser acompa- recorrem para resolverem seus
nhado e registrado da mesma maneira desafios frente ao conhecimento
que se realiza com os demais alunos. O e ao meio social e cultural em que
registro do desenvolvimento pedagó- estão inseridos. Nesse sentido, é
gico de cada aluno deve conter dados importante se observar e registrar
dos seus aspectos: os dados sobre as formas de inte-
ração dos alunos com seus pares,
ƒ Biológicos (sua história; o con- nas rotinas escolares: interesses
texto social e cultural de sua vida; comuns, duplas de alunos que se
suas experiências exitosas e habi- incentivam reciprocamente ao
lidades em processo de aprendi- desenvolverem as tarefas educa-
zagem; a qualidade das oportuni- cionais, o uso da imaginação, cria-
dades oferecidas e as habilidades tividade, e a curiosidade em rela-
adquiridas no ambiente escolar, ção à própria aprendizagem.
familiar e comunitário).
As diferenças nas estratégias peda-
ƒ Psicológicos (especialmente o gógicas se dão nos aspectos relacio-
desenvolvimento das funções nados à flexibilização e aos recursos
psicológicas superiores como a didáticos disponíveis para garantir o
memória, o pensamento, o racio- acesso ao currículo. As informações e
cínio, etc.). sugestões do(a) professor(a) do atendi-
ƒ Sociais (suas habilidades no mento educacional especializado e de
convívio com seus parceiros de outros profissionais que estão envol-
aprendizagem, familiares e comu- vidos no processo de desenvolvimento
nidade escolar); além das suas ex- do aluno com deficiência, são extrema-
periências culturais e educativas mente relevantes, uma vez que o pro-
(suas potencialidades cognitivas), cesso pedagógico e a aprendizagem
no coletivo. Esses aspectos de- exigem uma relação dialética entre to-

40
Descrição da imagem: Fotografia em plano
aberto de uma placa com as informações sobre
o espaço em português e Língua Brasileira
de Sinais, Libras. Ao fundo, uma criança
em uma cadeira de rodas conversa com a
professora que está sentada à sua frente. Fim
da descrição
41
dos os envolvidos. É fundamental que o individualmente. No entanto, não há
professor não negligencie a aprendiza- impedimento que os alunos com defi-
gem formal dos conteúdos, levando em ciência frequentem os programas de
conta os aspectos apontados acima, recuperação, além do AEE, mas não
e registrando também o desenvolvi- em substituição a ele. Neste caso de-
mento das habilidades do aluno frente ve-se ter muito claro que a proposta
à aprendizagem das disciplinas ofere- pedagógica do reforço escolar estará
cidas. O fracasso escolar do aluno com planejada em função de uma dificul-
deficiência não pode ser atribuído ape- dade apresentada em relação ao con-
nas às características peculiares da teúdo trabalhado em sua etapa /série
sua deficiência. escolar, e não em função da repetição
e memorização de conteúdos devido a
sua deficiência.

O reforço escolar, como


atualmente é ministrado, favorece
o desenvolvimento dos alunos O que existe de legislação sobre
com deficiência, ou reforça ainda a inclusão da Libras – Língua
mais a sua dificuldade? Brasileira de Sinais como disciplina
curricular?
Segundo a Política de Educação Es-
A Lei federal 10.436/02 (regulamenta-
pecial na Perspectiva da Educação In-
da pelo Decreto Federal 5.626/05) dis-
clusiva (MEC, 2008) o Decreto Federal
põe sobre a língua Brasileira de Sinais
6.571/08 e Resolução CNE/CEB 04/09,
(LIBRAS), reconhecendo-a como meio
não é o objetivo do atendimento Edu-
legal de comunicação e expressão e
cacional Especializado (AEE) oferecer
outros meios de expressão a ela asso-
reforço escolar aos alunos com defi-
ciados. Em seu Artigo 4º descreve que
ciência nas salas de recursos multifun-
os Sistemas Educacionais Federais,
cionais, mas sim, e de forma planejada
Estaduais, Municipais e do Distrito Fe-
com a equipe escolar, prover o material
deral devem garantir a inclusão do en-
pedagógico adaptado ao aluno para
sino da LIBRAS nos cursos de formação
atender suas necessidades específicas
de professores na Educação Especial,
em sala de aula.

Além disso, orientar e apoiar o pro-


PARA SABER MAIS:
fessor na construção das mediações
Acesse a íntegra da Lei de
pedagógicas mais eficazes para a in-
Diretrizes e Bases da Educação
clusão deste aluno nas atividades pe-
Nacional (Lei 9.394/96)
dagógicas em grupo na sala de aula, e

42
de Fonoaudiologia e de Magistério em dagogicamente, com possibilidade
seu nível médio e superior. Essa legis- de adaptações, considerando esses
lação também garante o ensino da Lín- aspectos apontados acima. Esse mo-
gua Brasileira de Sinais (Libras), como vimento é o que temos de mais inova-
parte integrante dos Parâmetros Curri- dor, estimulando equipes escolares a
culares Nacionais (PCNs). empreenderem pedagogicamente em
formas criativas de apresentação dos
conteúdos formais da escola, levando
em conta a diversidade e as singulari-
O currículo comum como é
dades da comunidade escolar. No caso
apresentado nas escolas, favorece
dos alunos com deficiência, a organi-
ou não os alunos com deficiência?
zação das salas de apoio, por meio do
Seria interessante repensar a
Atendimento Educacional Especializa-
organização curricular?
do (AEE) deverá conter um planejamen-
A formulação do currículo é de respon- to muito integrado com o currículo da
sabilidade de cada Secretaria de Educa- escola e com os desafios pedagógicos
ção em conformidade com a Lei de Dire- desses alunos. Esta é a grande contri-
trizes e Bases da Educação Brasileira, e buição que os gestores das redes pú-
as diretrizes das Políticas Educacionais blicas, e de todas as escolas, poderão
Federais, Estaduais e Municipais. Con- oferecer. Vale também lembrar, que a
sideradas as diretrizes nacionais e as legislação educacional brasileira já re-
referências internacionais em relação à comenda e prevê essas alternativas.
qualidade da educação, é necessário re-
fletir com a equipe técnica e gestora da
escola, que a estruturação de um currí-
culo escolar traz uma intencionalidade, Nas escolas públicas, a inclusão
e a responsabilidade na contribuição da de alunos com deficiência ainda
formação do cidadão que queremos ter enfrenta desafios importantes.
e ser na nossa sociedade contemporâ- Porém, mesmo assim, parece ca-
nea. Um cidadão do mundo que com- minhar a passos bem mais largos
preenda a diversidade como um valor do que na rede particular. Esse é,
e uma oportunidade de aprendizagem de fato, o cenário da Educação in-
com as diferenças em todos os aspec- clusiva? Em caso afirmativo, por
tos: individuais, comunitários, culturais, que isso acontece? E o que poderia
religiosos e políticos. ser feito para acelerar o processo
nas instituições particulares? Há
Assim, construir o currículo exige se alguma possibilidade de troca de
pensar em uma forma de operá-lo pe- experiências com as públicas?

43
De fato, os processos de inclusão edu- do que na rede privada. Há bons exem-
cacional nas redes públicas vêm avan- plos de inclusão em ambas as redes.
çando de forma significativa, apresen- Porém, pela forma autônoma com que
tando boas experiências e resultados. as escolas privadas organizam suas
Isso se deve a uma política clara que o atividades pedagógicas e suas ofertas
MEC vem desenvolvendo, mais forte- de serviço, também é fato que, pela
mente, desde a Convenção Internacio- exigência e pressão pelos resultados
nal sobre os Direitos das Pessoas com de performance de seus alunos, em
Deficiência, que o Brasil foi signatário, muitos casos, a comunidade escolar
e atribuiu força constitucional ao do- questiona o ingresso e a permanência
cumento. Com isso, foram iniciados dos alunos com deficiência em sala de
investimentos em formação de profes- aula. Mas, já verificamos mudanças
sores, na implantação do atendimento neste aspecto, que é provavelmen-
educacional especializado para o alu- te fruto da informação e da mídia que
no com deficiência, a ser realizado no tem tratado esse tema de forma re-
contraturno escolar e com o acompa- corrente.
nhamento dos professores especialis-
tas em sala regular de ensino, e no pla- Por outro lado, as instituições priva-
nejamento das atividades pedagógicas das vêm aos poucos demonstrando,
entre os professores envolvidos. por meio das suas próprias experiên-
cias, que o processo de inclusão edu-
Sabemos que ainda há muito que fazer,
cacional só traz ganhos. As institui-
mas é concreto o aumento de alunos
ções públicas e privadas que ainda
com deficiência nas redes públicas. É
resistem a esta realidade, convivem
certo que os desafios são muitos, ca-
diariamente com o desconforto do
racterizando um período de transição
discurso contraditório, quando suas
de estruturas e processos pedagógicos
práticas pedagógicas e valores insti-
tradicionais para uma ação inclusiva,
tucionais promovem uma ação sele-
com foco na diversidade. As diretrizes
tiva e discriminatória de alunos.A in-
educacionais da Lei de Diretrizes e Ba-
clusão das pessoas com deficiência é
ses da Educação Nacional (Lei 9.394/96)
um movimento sem volta, traz energia
e do Ministério da Educação (MEC) orien-
tam as políticas de educação no Brasil positiva no questionamento, na refle-
independentemente da escola (seja em xão e na mudança para todos os envol-
rede pública ou privada). vidos com a educação em nosso país,
e as situações de aprendizagem que a
É difícil determinar se o processo de sociedade contemporânea nos apre-
inclusão na rede pública é mais efetivo senta diariamente.

44
Muitos educadores relatam a No caso do aluno com deficiência inte-
dificuldade de avaliar os alunos lectual a grande questão não está loca-
com deficiência intelectual, lizada só na oferta de material acessível,
visto que ao aplicarem uma e sim na qualidade de um bom planeja-
prova a todos os alunos, esperam mento das atividades pedagógicas, ga-
resultados condizentes aos rantindo uma linguagem assertiva na
conteúdos trabalhados em sala de comunicação, vinculada às experiên-
aula. Como avaliar esses alunos e cias de vida e habilidades do aluno. Para
quais indicadores ou critérios que isso é importante se investir na escolha
podem sugerir o avanço na sua de atividades utilizando exemplos con-
aprendizagem? cretos e práticos que ajudem o aluno
A grande dificuldade em conceituar a a estabelecer relações, elaborar suas
deficiência intelectual trouxe conse- conclusões e perceber suas aprendiza-
quências na maneira de lidarmos com gens ao longo do processo.
ela. Ela é objeto de investigação de
inúmeras áreas do conhecimento. A É na forma como este aluno percor-
avaliação dos alunos com deficiência re estas experiências que poderemos
intelectual, como a dos demais alunos observar seus avanços e dificuldades
da classe, visa o reconhecimento dos frente ao conteúdo escolar proposto.
avanços do aluno no entendimento dos Medir somente o resultado da ativida-
conteúdos curriculares e no desenvol- de, não nos traz muita informação sobre
vimento de habilidades e competên- este aluno. O importante é que esses
cias para sua série / etapa / ciclo. A progressos sirvam de instrumento para
diferença que há entre os alunos sem que o professor verifique o que e como
deficiência e os alunos com deficiência o aluno aprendeu, e planeje estratégias
intelectual, em relação à rotina escolar, diferenciadas para que ele não pare de
está no planejamento de recursos de avançar. Essas observações também
acessibilidade que devem ser coloca- servirão para o planejamento dos obje-
dos à disposição desses alunos, quan- tivos e desafios pedagógicos seguintes.
do estão em contato com as atividades A avaliação assim compreendida, en-
escolares, para que possam aprender quanto processo, deverá ter uma estrei-
com equiparação de oportunidades, ta relação com as estratégias de ensi-
garantidas as adaptações necessárias no-aprendizagem, e de forma contínua.
às suas necessidades. Há uma grande Procura-se conhecer os progressos e as
gama de recursos da tecnologia assis- estratégias de trabalho utilizadas pelos
tiva já disponíveis, enfim, tudo aquilo alunos para aprender. Portanto, diferen-
que é necessário para suprir necessi- tes instrumentos de avaliação devem
dades impostas pela deficiência. ser utilizados tais como: relatórios bi-

45
mensais com observações individuais cidos e qual o grau de sucesso que foi
e coletivas, além dos portfólios com obtido com o seu uso. Eles permitem
anotações diárias, onde estão conti- que tomemos conhecimento não só das
das todas as observações e estratégias dificuldades, mas também das habilida-
dos alunos durante a execução das suas des dos alunos, para que, por meio dos
atividades. O portfólio é um instrumen- recursos necessários, estas habilidades
to que permite ao aluno, professores sejam ampliadas. Este registro pode-
e pais, perceberem como se iniciou o rá também colaborar expressivamente
trabalho e como ele se desenvolveu e, nos conselhos de classe, e nas decisões
consequentemente, as suas aquisições, da equipe escolar em relação à promo-
predefinindo futuros trabalhos, confor- ção ou retenção do aluno com deficiên-
me os focos de interesse que irão sur- cia intelectual, no seu percurso escolar.
gindo no processo de aprendizagem.
Esta maneira de avaliar permite que o
No caso dos alunos com deficiência, professor acompanhe o processo de
os portfólios podem facilitar a tomada aprendizagem de seus alunos e des-
de decisão sobre quais os recursos de cubra que cada aluno desenvolve o
acessibilidade que deverão ser ofere- seu “método” próprio de construir co-
nhecimentos, o que torna inadequado
Descrição da Imagem: Homem
a adoção de uma única metodologia
branco com deficiência visual como recurso de avaliação, como se
segura uma lupa em frente a houvesse homogeneidade no proces-
tela de um computador. Fim da
descrição. so de aprendizagem.

Minha filha nasceu com paralisia


cerebral – e hemiparesia. Ela tem
dificuldade de concentração e
apresenta comportamento agres-
sivo com crianças de sua idade (9
anos). Sempre que a matriculo em
escolas ditas inclusivas, ela é se-
gregada em turmas especiais – em
que há crianças comprometidas
física e mentalmente. Isso a faz se
desinteressar pelos estudos. Ela
só aprendeu a ler com uma profes-
sora particular e demonstra co-

46
nhecimento apenas para a família Nacional de Integração das Pessoas
e a professora. Sou obrigada, por Portadoras de Deficiência, prevê cri-
lei, a manter o vínculo escolar ou me mais específico ao caso concreto,
posso optar pela educação indivi- com pena ainda maior, conforme tex-
dual? to a seguir: “Art. 8º. Constitui crime
punível com reclusão de um a quatro
Nos termos do artigo 58 da Lei de Dire- anos e multa: I – recusar, suspender,
trizes e Bases da Educação/96 (LDB), procrastinar, cancelar ou fazer ces-
define-se como “educação especial” a sar, sem justa causa, a inscrição de
modalidade de educação escolar ofe- aluno em estabelecimento de ensino
recida preferencialmente na rede re- de qualquer curso ou grau, público ou
gular de ensino para estudantes com privado, por motivos derivados da de-
deficiência. O cumprimento da dispo- ficiência que porta; (…)”.
sição legal é tão difícil quanto pode
ser a inclusão educacional de pes- No entanto, apesar da educação domi-
soas com deficiência. Em casos ex- ciliar não estar expressamente previs-
tremos, muitos pais pensam em optar ta na Constituição brasileira, no atual
pela educação individualizada. Esta, governo do Presidente Jair Bolsonaro
porém, não nos parece ser a posição foi sancionado um projeto de lei, PL
mais adequada, uma vez que o pro- 2401/2019 (apensado ao PL3179/2012)
cesso de inclusão social, de qualquer que trata da regulamentação da educa-
aluno, fica prejudicado: a análise inte- ção domiciliar, alterando a Lei nº8.069
grada da LDB com outros normativos de 13/6/1990, que dispõe sobre o Esta-
(vide também artigo 55 do Estatuto da tuto da Criança e do Adolescente e a
Criança e do Adolescente, ECA) orien- Lei nº9394, de 20/12/1996. Esse proje-
ta que “é dever dos pais ou responsá- to de lei dispõe a educação domiciliar
veis efetuar a matrícula dos menores, como um dispositivo em que os pais, ou
a partir dos sete anos de idade, no en- tutores responsáveis, poderão assumir
sino fundamental” (artigo 6º da LDB). a educação de seus filhos, garantindo a
O descumprimento de tal dever pode possibilidade legal da oferta do ensino
ser enquadrado como crime nos ter- formal fora da escola. Segundo o MEC,
mos do art. 246 do Código Penal, puní- as famílias deverão fazer um cadastro
vel com detenção de quinze dias a um na sua Plataforma, via internet, inserin-
mês. Diz o referido artigo que a con- do uma série de informações relativas à
duta caracterizada é deixar, sem justa criança ou adolescente, incluindo certi-
causa, de prover a instrução primária dão criminal dos pais ou responsáveis,
de filho em idade escolar. Também a além do plano pedagógico individual a
Lei nº 7.853/89, que define a Política ser seguido para aprovação formal. Em

47
relação à avaliação, ainda segundo o lha na escola. Tente buscar ajuda atra-
MEC, elas deverão ocorrer anualmen- vés da equipe escolar onde sua filha
te, com possibilidade de recuperação, está matriculada, apoio e orientação
buscando o princípio da isonomia entre especializada no serviço de saúde da
o aluno que aprende na escola e aquele sua comunidade ou em organizações
que estuda em casa. sociais, sem afastá-la do convívio das
outras crianças, e do convívio escolar.
No entanto, há dissonâncias em relação
ao entendimento e ao risco ao direito à
educação previsto como direito huma-
no fundamental. Segundo a Campanha Há políticas públicas de inclusão
Nacional pelo Direito à Educação, por de pessoas com deficiência no
exemplo, essa modalidade de ensino ensino universitário?
poderá aumentar a desigualdade so- A educação inclusiva é um direito cons-
cial e educacional no país, assim como titucional garantido em todos os níveis
colocará em risco, em alguns casos, a de ensino: infantil, fundamental, mé-
exposição ao isolamento, à violência dio e superior. O poder público deve
e à desproteção de muitas crianças e garantir a formação de professores, a
adolescentes. Ela também poderá fra- acessibilidade física e a aquisição de
gilizar os investimentos na educação tecnologia assistiva que garantam a
pública, na medida em que as famílias participação do aluno com deficiência
assumem uma responsabilidade pre- dos programas de formação e pesqui-
vista pelo Estado. sas universitárias.

Para garantir o aprendizado de alunos Esse direito está garantido na Lei de


com e sem deficiência é preciso redo- Diretrizes e Bases da Educação nº
brar o investimento em atividades que 9394/96 que tratou da Educação Es-
estimulem a curiosidade, o interesse, pecial no seu Capítulo V. O artigo 58, §
a significação do conhecimento e que 3º desta lei dispõe que a oferta de edu-
mobilizem o aluno a pensar, inventar, cação especial tem início na educação
improvisar, descobrir e alcançar seus infantil e estende-se ao longo da vida,
objetivos”. É mais estimulante para a observados o inciso III do art. 4º e o pa-
criança ter convívio escolar com outras rágrafo único do art. 60 desta Lei.
crianças de sua idade, com ou sem de-
ficiência, seja em escolas da rede regu- O capítulo IV trata do Ensino Supe-
lar de ensino. Sugerimos que você pro- rior e em seu inciso III dispõe que se
cure orientação de pedagogos, caso deve “incentivar o trabalho de pes-
sinta necessidade, e mantenha sua fi- quisa e investigação científica, visan-

48
do o desenvolvimento da ciência e da É o Programa Universidade para To-
tecnologia e da criação e difusão da dos (PROUNI), previsto na Lei Federal
cultura, e, desse modo, desenvolver nº 11.096/05, que incentiva a reserva de
o entendimento do homem e do meio bolsas em instituições privadas de en-
em que vive”. O parágrafo único do art. sino superior, para alunos de baixa ren-
60 dispõe que “o poder público ado- da, para professores da rede pública da
tará, como alternativa preferencial, a educação básica, assim como para as
ampliação do atendimento aos edu- pessoas com deficiência que se encai-
candos com deficiência, transtornos xem nos critérios estabelecidos.
globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação na pró-
pria rede pública regular de ensino, Existem crianças com múltiplas
independentemente do apoio às insti- deficiências que necessitam
tuições previstas neste artigo”. durante o período escolar de serem
medicadas e alimentadas por
Assim como as escolas dedicadas às sonda. Essa função muitas vezes
outras modalidades de ensino, as ins- se torna atribuição do estagiário
tituições de ensino superior deverão de apoio ou mesmo da professora,
prover a acessibilidade arquitetônica e ambos sem formação na área de
pedagógica aos seus alunos com defi- enfermagem. Que preparo a escola
ciência, assim como garantir uma sala e sua equipe devem ter para lidar
do AEE (Atendimento Educacional Es- com estas questões que envolvem
pecializado) aos alunos com deficiên- a saúde da criança e a demanda
cia e seus professores, para as neces- de atendimento de enfermagem
sárias orientações pedagógicas. especializada? Existe amparo legal
para proteger o professor nesses
casos?
Essas situações relacionadas ao cuida-
Gostaria de saber se já existe lei de
do pessoal do aluno com deficiências
cotas para deficientes físicos em
múltiplas graves devem ser planejadas
vestibulares.
de forma a se observar as diferentes di-
Não existe qualquer normativo sobre mensões desse processo. Em relação
reserva de vagas ou política de cotas ao cuidado da higiene, pessoal, da ali-
no vestibular, específicos para pessoas mentação e locomoção do aluno é ne-
com deficiência. Existe, porém, nova cessário se providenciar apoio ao pro-
previsão legal para a concessão de bol- fessor de sala de aula para que não haja
sas nas universidades. constrangimentos nem do aluno e tão

49
pouco do professor em relação ao de- Existe alguma situação em que
senvolvimento das atividades coletivas a inclusão pode ser considerada
propostas ao grupo de alunos. É neces- inadequada para os alunos com
deficiência na rede regular de
sário respeitar a privacidade de todos,
ensino? Quando essa situação
acolhendo as necessidades do grupo e
ocorre, como proceder?
tratando de responder individualmen-
Considerando que a própria Constitui-
te, ou coletivamente quando for possí-
ção Federal de 1988, que em seu artigo
vel, sempre zelando por um ambiente 205 afirma o direito à educação para
saudável e positivo para a autoestima todos, esse “todos” manifestado na
de todos. Em relação à medicação ou Constituição, e que repercute em to-
alimentação por sonda, a equipe gesto- das as legislações que vieram depois,
inclui qualquer pessoa, inclusive a pes-
ra da escola deverá pedir à família que
soa com deficiência. Nesse sentido, a
ofereça à escola as informações e rela-
inclusão nunca seria inadequada, vis-
tórios médicos que indeferem na pres- to que a escola deveria ter recursos e
crição da medicação e os seus riscos. apoios necessários aos alunos que de-
les necessitarem.
Essa informação deverá ser avaliada
pela equipe gestora e lideranças para Porém, é fato que alguns alunos nos
colocam frente a situações novas, em
que se assegure a ausência de exposi-
que o bom senso, a criatividade e a ex-
ção de risco de vida ao aluno. Em caso
periência profissional do educador são
negativo, ainda é necessário prover ao colocadas em xeque, devido à comple-
professor da sala de apoio, um profis- xidade de alguns casos.
sional treinado e informado de como
É preciso então levar em conta o sujei-
proceder com este aluno. No caso afir-
to, suas condições físicas, emocionais
mativo do risco de vida, é necessário e adequar tempos, espaços, objeti-
avaliar com a família e com os parcei- vos pedagógicos, conteúdos e formas
ros que a escola e/ou a rede de ensi- de avaliação. Enfim, é preciso pensar
no possui, a melhor forma de atender em outras maneiras, espaços e tem-
as necessidades do aluno, incluindo o pos em que a escola responda às ne-
cessidades do sujeito como também
planejamento da sua escolaridade. Os
cumpra sua função social. O diálogo
Estados e Municípios poderão regula- permanente com a família, nestes ca-
mentar critérios e processos que ve- sos, é um fator importante para o su-
nham a atender esses casos. cesso deste processo. Muitas vezes é

50
nesse diálogo escola e família que se diversas disposições legais no ordena-
criam situações inovadoras e ao mes- mento jurídico para garantir o direito à
mo tempo adequadas às necessida- inclusão educacional.
des do aluno em questão. Precisamos
sempre nos esforçar para estabelecer A Lei Federal nº 7.853/89 prevê, em
uma leitura sistêmica do contexto e do seu artigo 8º, que “constitui crime pu-
processo de inclusão. nível com reclusão de um a quatro nos,
e multa (…): recusar, suspender, pro-
crastinar, cancelar ou fazer cessar,
sem justa causa, a inscrição de aluno
Existe alguma lei que obrigue em estabelecimento de ensino de qual-
escolas públicas a aceitar pessoas
quer curso ou grau, público ou privado,
com deficiência visual?
por motivos derivados da deficiência
O dever do Estado com a educação será que porta”.
efetivado mediante a garantia de aten-
dimento educacional especializado às Este arcabouço legal, diz respeito a
pessoas com deficiência, preferencial- qualquer criança e adolescente com
mente na rede regular de ensino. É isso deficiência, em geral, e sendo assim,
que está garantido no artigo 208, Ítem não havendo justificativas, pode-se
III da Constituição Federal/88. Em com- acionar judicialmente a escola a ma-
plemento a ele, a Lei de Diretrizes e Ba- tricular o aluno. Muitas vezes as insti-
ses da Educação/96 (LDB) introduziu tuições de ensino não se consideram

Descrição da Imagem: Uma criança com


deficiência física tem a sua cadeira de
rodas empurrada por outra criança. Fim da
51
descrição.
aptas para educar o aluno com defi- Sim, elas estão previstas inclusive
ciência e acabam orientando os pais a na legislação. Segundo o Artigo 5º da
matriculá-lo em uma escola especial. Resolução CNE/CEB nº 04/09, o aten-
Se a sua pergunta se refere a um caso dimento educacional especializado –
como esse e você é professor, procure AEE- poderá ser realizado em centros
conhecer quais são as necessidades de atendimento educacional especia-
básicas de adaptação da escola, re- lizado da rede pública ou de institui-
quisitando as condições necessárias ções comunitárias, confessionais ou
à Secretaria de Educação para que se filantrópicas sem fins lucrativos devi-
acolha o aluno com as condições ne- damente conveniadas. Estas poderão
cessárias, uma vez que negar a matrí- estabelecer parcerias com as Secre-
cula é proibido por lei. tarias de Educação ou órgãos equiva-
lentes do Distrito Federal, Estados ou
Para os pais de crianças com defi-
Municípios.
ciência, qualquer que ela seja, quando
estiverem em situação similar, onde
a escola negue a matrícula de seu fi-
lho, procure a Secretaria de Educação Em relação à acessibilidade e a
e reivindique a matrícula. Caso note organização do espaço escolar,
resistência, se for necessário, procu- quais seriam as recomendações
re novamente a Diretoria da Escola. técnicas para garantir a segurança
Esgotados os argumentos, procure a e a mobilidade dos alunos com
Delegacia Regional de Ensino do Mi- deficiência?
nistério da Educação de sua cidade e
A acessibilidade é um fator essencial
relate o fato; e em última instância, se
no processo de inclusão educacional. O
não obter sucesso nessas tentativas,
espaço e o ambiente escolar têm a ca-
procure o Ministério Público. Caso a
pacidade de proporcionar e aproximar
escola continue a negar a matrícula,
a comunicação e a convivência entre
procure orientação de um advogado
as pessoas. Sempre que se pergunta
para representá-la em relação aos di-
se algum local é acessível, geralmente
reitos à educação de seu filho.
a resposta é positiva, baseada na exis-
tência de uma rampa, independente se
está adequada ou não. A rampa se tor-
Existe alguma iniciativa para as nou um símbolo de acessibilidade físi-
entidades conveniadas que aten- ca, assim como o banheiro adaptado.
dem os alunos encaminhados para No entanto, a adequação dos espaços
o AEE obterem informações sobre não se resume apenas a estes dois ele-
os objetivos deste atendimento? mentos. Pode-se definir acessibilidade

52
como o conjunto de condições e pos- lar para garantir a acessibilidade atitu-
sibilidades de alcance a todas as pes- dinal, como forma de desenvolver uma
soas, para a utilização com segurança cultura de valores inclusivos na escola.
e autonomia de espaços e edificações,
sejam eles públicos ou privados. Outros recursos importantes são as
chamadas ajudas técnicas, identifica-
Portanto, é necessário que se realize das como produtos, instrumentos, ou
um diagnóstico das condições do am- sistemas que podem prevenir, desen-
biente interno e externo da escola, le- volver, compensar, atenuar ou neutrali-
vando-se em conta todas as atividades zar uma incapacidade. As ajudas técni-
realizadas no ambiente escolar, além cas podem ser divididas em:
do seu mobiliário, do pátio externo,
brinquedos etc. ƒ Ajudas técnicas para facilitar a
vida diária das pessoas com defi-
O mobiliário e os equipamentos devem ciência, englobando as áreas de
proporcionar a maior autonomia, con- higiene, vestuário, alimentação.
forto e independência possível a todos (barras de transferência para sa-
e dar à pessoa com deficiência, o direito nitários, adaptadores para utensí-
de ir e vir a todos os locais da escola, de
lios domésticos, por exemplo);
se comunicar livremente e participar de
todas as atividades com o máximo de in- ƒ Ajudas técnicas para facilitar a
dependência possível. Além da acessibi- comunicação e a transmissão de
lidade arquitetônica, é necessário prover informações (sintetizadores de
a acessibilidade na sinalização e comuni- voz para computadores para alu-
cação, e estimular a construção e aqui- nos com deficiência visual – power
sição de material pedagógico acessível. Braille, DOSVOX, pranchas de sím-
Para o processo de escolarização é ne- bolos de linguagem do Bliss).
cessário utilizar facilitadores pedagógi-
cos (brinquedos pedagógicos, pranchas
de apoio, prancha ortostática, stand-tab- Em relação aos alunos com
le, adaptações de mão para uso de lápis, deficiência auditiva, existe alguma
tesoura, borracha), e os demais recursos lei que prevê a obrigatoriedade
e acessórios didáticos adaptados, englo- do intérprete em sala de aula? Em
bando a comunicação, de modo a garan-
quais modalidades de ensino?
tir a compreensão e a resposta do aluno
no seu processo de aprendizagem. Em nível federal, o Decreto Nº 5.626/05
que regulamenta a Lei no 10.436/02,
Além disso, é importante promover a que dispõe sobre a Língua Brasileira de
formação de toda a comunidade esco- Sinais – Libras, em seu capítulo V, ar-

53
tigo 19, parágrafo único indica que “as dades fundamentais das pessoas com
instituições privadas e as públicas dos deficiência em seu artigo 28incumbe
sistemas de ensino Federal, Estadual, ao poder público assegurar, criar, de-
Municipal, buscarão implementar as senvolver, implementar, incentivar,
medidas referidas neste artigo como acompanhar e avaliar o sistema edu-
meio de assegurar aos alunos surdos cacional inclusivo em todos os níveis e
ou com deficiência auditiva o acesso à modalidades, bem como o aprendizado
comunicação, à informação e à educa- ao longo de toda a vida. Refere-se es-
ção” e isso tem referência à função do pecificamente à LIBRAS em seus itens:
tradutor e intérprete de LIBRAS que é
ƒ IV: oferta de educação bilíngue,
objeto deste capítulo.
em Libras como primeira língua
Recentemente, o Ministério da Educa- e na modalidade escrita da língua
ção, por meio do Conselho Nacional de portuguesa como segunda língua,
Educação – Câmara de Educação Bá- em escolas e classes bilíngues e
sica, publicou a Resolução nº 4/09 que em escolas inclusivas;
institui as Diretrizes Operacionais para ƒ XVIII: articulação intersetorial na
o Atendimento Educacional Especiali- implementação de políticas públi-
zado na Educação Básica, modalidade cas. Em seu § 2º especifica que na
Educação Especial. Nessa resolução, disponibilização de tradutores e
o artigo 10 afirma que o projeto pe- intérpretes da Libras deve-se ob-
dagógico da escola de ensino regular servar o seguinte:
deve institucionalizar a oferta do Aten-
ƒ os tradutores e intérpretes da Li-
dimento Educacional Especializado
bras atuantes na educação básica
prevendo na sua organização outros
devem, no mínimo, possuir ensino
profissionais da educação dentre eles
médio completo e certificado de
o tradutor e intérprete de Língua Brasi-
proficiência na Libras; https://www.
leira de Sinais, guia-intérprete e outros
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
que atuem no apoio, principalmente às
2018/2015/lei/l13146.htm, artigo 125
atividades de alimentação, higiene e
locomoção. ƒ Os tradutores e intérpretes da Li-
bras, quando direcionados à tare-
A Lei nº 13.146/2015, que institui a Lei fa de interpretar nas salas de aula
Brasileira de Inclusão da Pessoa com dos cursos de graduação e pós-
Deficiência (Estatuto da Pessoa com -graduação, devem possuir nível
Deficiência), destinada a assegurar e superior, com habilitação, priori-
a promover, em condições de igualda- tariamente, em Tradução e Inter-
de, o exercício dos direitos e das liber- pretação em Libras.

EDUCAÇÃO INCLUSIVA 54
Descrição da Imagem: Criança com deficiência
física em um refeitório de escola, ele sorri e
brinca com outras crianças, com as mãos ele
representa a letra V. Fim da descrição.

Em caso de discriminação no ato No inciso I do artigo 206 a Constituição


da matrícula de um aluno com estabelece a “igualdade de condições de
deficiência ou com necessidade acesso e permanência na escola” como
especial, como os responsáveis um dos princípios para o ensino. Além
devem proceder? disso, no seu artigo 208, a Constituição
Federal estabelece como dever do Es-
Nenhuma escola poderá recusar ma-
tado a oferta do atendimento educacio-
trícula de um aluno com deficiência ou
nal especializado, preferencialmente na
com necessidades educacionais espe-
rede regular de ensino.
ciais. A Constituição Federal traz como
um dos seus objetivos fundamentais, O Estatuto da Criança e do Adolescente
“promover o bem de todos, sem precon- (ECA), Lei 8069/90, no artigo 55 reforça
ceitos de origem raça, sexo, cor, idade e os dispositivos legais acima citados ao
qualquer outra forma de discriminação determinar que “os pais ou responsáveis
(inciso IV, art. T3). Também define, no têm obrigação de matricular seus filhos
artigo nº205 a educação como um direi- na rede regular de ensino”. A Lei de Di-
to de todos, garantindo pleno desenvol- retrizes e Bases da Educação Nacional
vimento da pessoa, o exercício da cida- – Lei 9.394\96 orienta a matrícula de to-
dania e a qualificação para o trabalho. dos os alunos na rede regular de ensino e

55
no artigo 59, preconiza que os sistemas 2010 eram 19.818 os matriculados e em
de ensino devem assegurar aos alunos 2019 chegou a 48.520, entretanto, mes-
currículo, métodos, recursos e organi- mo aumentando, ainda correspondem a
zação específicos para atender às suas
menos de 1% do total de alunos matricu-
necessidades. Portanto, a sociedade ci-
vil pode recorrer às autoridades locais, lados na graduação (levantamento feito
como as Secretarias de Educação, a De- pelo Quero Bolsa, com base nos dados
legacia Regional de Ensino do Ministé- do Censo da Educação Superior de 2019,
rio da Educação, e o Ministério Público, divulgado pelo INEP - Instituto Nacional
caso este direito de ter acesso à educa-
de Estudos e Pesquisas Educacionais).
ção não seja cumprido por alguma Insti-
tuição Educacional.
Portanto, o ensino universitário tem
dois grandes desafios: o de preparar
em seus cursos de graduação e Licen-
Como um curso de graduação deve ciaturas, os estudantes para habilitá-
preparar o professor para receber
-los a trabalhar em ambiente escolar
em sala de aula diferentes alunos
com múltiplas deficiências – inclusivo, com didática e conhecimen-
incluindo altas habilidades? to técnico adequado, e o de receber

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação adequadamente os alunos com defi-


Nacional/96 (LDB), a Política Nacional ciência, habilitando seus quadros de
de Educação Especial na Perspectiva professores para tal desafio.
da Educação Inclusiva (2008) dentre
diversos outros instrumentos legais e Além disso, as oportunidades de es-
conceituais vêm garantindo a inclusão tágios, que fazem parte da formação
educacional de alunos da Educação Es-
dos professores, também deveriam
pecial (alunos com deficiência, trans-
garantir experiências concretas, me-
tornos globais do desenvolvimento e
altas habilidades/superdotação) no en- todologias e práticas de ensino que
sino regular. Dados do Censo Escolar os instrumentalizem para o exercício
do MEC apontam que em 2009 apenas do magistério em classes inclusivas.
61% dos alunos da Educação Especial Esse processo, ainda insuficiente nos
foram matriculados em classes regula-
cursos de graduação, tem sido com-
res. Apesar de ser um processo lento e
de longo prazo, o número de alunos da pensado, em algumas áreas do conhe-
Educação Especial que ingressam no cimento, em cursos de pós-graduação,
Ensino Superior vem aumentando. Em especialização, seminários etc.

56
Como trabalhar o processo Como trabalhar com a ansiedade
de inclusão com os pais dos das mães em relação à
alunos que apresentam alguma aprendizagem dos filhos com
deficiência?
deficiência? E com a comunidade?
Devemos levar em conta que todos os
A família deve sempre buscar orienta-
pais nutrem expectativas em relação
ção especializada com profissionais que ao desempenho escolar e o aprendiza-
atuam na área da deficiência, no entan- do de seus filhos, tendo eles deficiên-
to, não podem transferir toda a respon- cia ou não. Tratando-se de familiares
sabilidade da educação dos seus filhos de pessoa com deficiência, alguns
a esses profissionais. O trabalho dos elementos podem potencializar esta
profissionais só terá sucesso se tiver o ansiedade, em especial a falta de infor-
mação e, em alguns casos a frágil re-
apoio e participação da família em casa.
lação de confiança estabelecida entre
A família deve participar do processo de
eles e a instituição de ensino, muitas
inclusão de seus filhos sendo parceira vezes em função de um ambiente fami-
ativa, mas esta participação não deve liar superprotetor, gerando desconfor-
invadir os limites conscientes da res- to e insegurança ao deixarem os seus
ponsabilidade escolar. filhos aos cuidados de outras pessoas.

A participação ativa não significa “super- Essa situação se agrava muitas vezes
quando os profissionais da instituição
proteção”, e sim, possibilitar a interação
ressaltam muito mais as “faltas” e as
social e o convívio escolar negociando e
dificuldades, do que relatam as expe-
respeitando regras que indiquem clara- riências de sucesso deste filho. Por-
mente os papéis e responsabilidades de tanto, é fundamental construir juntos
todos os atores: equipe escolar, aluno e (escola e família) a real expectativa em
família. A Escola deve propor ações, tais relação ao trabalho da escola, compon-
como, grupos de trocas de experiências do responsabilidades, e reconhecendo
entre familiares, em que possa existir os potenciais do aluno, a fim de gerar
segurança à equipe escolar e à família
acolhimento e ajuda mútua. Além dos
serviços oferecidos pela escola e comu-
nidade, os familiares precisam acreditar
e investir no desenvolvimento e poten- PARA SABER MAIS:
cial dos seus filhos. O processo de inclu-
Conheça a Política Nacional de
Educação Especial na Perspectiva da
são depende de um trabalho conjunto
Educação Inclusiva (2008)
entre família, comunidade e escola.

57
Descrição da Imagem: As mãos de uma menina
manuseiam um Ábaco Soroban. Ela está com
os braços sobre uma mesa e sobre uma folha
com células em braille. Fim da descrição.
58
na execução de suas tarefas. Por con- e pedagógicos para a oferta do aten-
sequência, a família estará mais aber- dimento educacional especializado. O
ta para receber orientações sobre o Decreto nº 7.611/11 dispõe sobre o Aten-
trabalho desenvolvido pela escola, di- dimento Educacional Especializado que
minuindo sua ansiedade. É necessário tem como objetivos:
estabelecer uma relação de confian-
ça acolhendo dúvidas e angústias das 1. Prover condições de acesso, par-
mães com o apoio técnico e profissio- ticipação e aprendizagem no en-
nal necessário. sino regular e garantir serviços de
apoio especializados de acordo
A possibilidade de compartilhar infor- com as necessidades individuais
mações sobre os limites e as possibili- dos estudantes.
dades dos alunos com a família, dar-lhe
2. Garantir a transversalidade das
feedback regularmente auxilia todos os
ações da educação especial no en-
envolvidos a trabalhar com a realidade
sino regular.
do aluno: suas conquistas pedagógicas
e os desafios necessários. 3. Fomentar o desenvolvimento de
recursos didáticos e pedagógicos
Sendo assim, a relação dos profissio- que eliminem as barreiras no pro-
nais com os familiares deve ser sempre cesso de ensino e aprendizagem.
de cooperação, em que os objetivos a
4. Assegurar condições para a con-
serem alcançados e as decisões a se-
tinuidade de estudos nos demais
rem tomadas devem ser discutidas en-
níveis, etapas e modalidades de
tre todos os envolvidos. Os profissionais
ensino.
deverão esclarecer e reportar à família
os passos da rotina escolar e de que for- O conjunto de atividades, recursos de
ma ela ocorrerá em relação às necessi- acessibilidade e pedagógicos que ca-
dades do seu filho. racterizam o Atendimento Educacional
Especializado são organizados institu-
cionalmente e prestados de forma com-
plementar ou suplementar à formação
Como são organizadas as salas
dos alunos no ensino regular.
de recursos multifuncionais e
qual o objetivo do Atendimento A produção e distribuição de recursos
Educacional Especializado (AEE)? educacionais para a acessibilidade in-
As salas de recursos multifuncionais cluem livros didáticos e paradidáticos
são ambientes dotados de equipamen- em Braille, áudio e Língua Brasileira
tos, mobiliários e materiais didáticos de Sinais - LIBRAS, laptops com sin-

59
tetizador de voz, softwares para co- A opinião das crianças é importante, e
municação alternativa e outras ajudas a dos seus responsáveis também, por-
técnicas que possibilitam o acesso ao que são eles que acompanham o desen-
currículo escolar. volvimento de seu processo de apren-
dizagem. Precisam sempre observar e
verificar se elas estão aprendendo, se
têm companheiros na escola, se rece-
Como saber qual a melhor escola
bem atenção da professora, se estão
para crianças com deficiência?
se sentindo desafiadas em sua relação
Para saber qual é a melhor escola para com o conhecimento e sobre seu dese-
crianças com deficiência é preciso ou- jo de aprender.
vir a criança e os familiares que acom-
panham suas aprendizagens e a escola. No caso da criança com deficiência,
outro ponto a ser observado é se a es-
Atualmente, os gestores de escolas cola atende às solicitações dos pais e
públicas empenham esforços para que dos profissionais envolvidos com as de-
todas as crianças estudem na escola mandas específicas da criança, quanto
mais próxima de suas casas para faci- aos recursos ou ajudas técnicas de que
litar a mobilidade e diminuir o tempo necessita nos espaços escolares. Se a
de trânsito, principalmente para que as escola tem salas de recursos ou se está
crianças estudem com outras crianças vinculada a outra escola próxima que te-
que moram na mesma área de vizinhan- nha essa sala, pois o professor especia-
ça, pois assim, poderão criar vínculos lizado poderá auxiliar a criança na busca
que podem se estender em outros es- de recursos ou outras ajudas técnicas
paços da comunidade. que possam facilitar sua aprendizagem
na sala regular de ensino.
Os pais das crianças pequenas tam-
bém se beneficiam com a proximidade O professor da sala comum, por sua
da escola, pois percorrem em menos vez, poderá fazer adaptações curricu-
tempo o trajeto para levar e buscar o(a) lares para que a criança com deficiên-
filho(a) ou deixam de ter a necessidade cia desenvolva suas aprendizagens em
do transporte público ou transporte es- seu próprio ritmo e condições, contan-
colar acessível. do com os recursos de acessibilidade.

Superados os entraves do caminho


casa-escola, é preciso que a criança
goste da escola, que tenha prazer em PARA SABER MAIS
ali estar, que não ofereça resistência, Decreto nº 7.611/11, sobre o Atendimento
diariamente, para ir às aulas. Educacional Especializado

60
Certo dia, em um encontro de forma- A diferença é grande! Para escolher-
ção, uma dirigente de escola pública mos uma escola para criança com de-
contou que uma mãe da comunidade ficiência precisamos conhecer a es-
veio requerer vaga para seu filho para cola, ouvir atentamente seus gestores
o primeiro ano. A mãe explicou que ele sobre o processo de inclusão educa-
se locomovia por meio de cadeira de cional, conhecer seus valores, e as-
rodas. A diretora solicitou que a mãe a segurar que suas normas estejam de
acompanhasse pelas dependências da acordo com os dispositivos legais na-
escola. Subiram e desceram escadas cionais na perspectiva inclusiva, para
para que a mãe conhecesse as salas de que os direitos educacionais dessa
aulas, sala de leitura, de informática, as criança sejam garantidos, sem discri-
quadras, refeitório etc. Como não havia minação.
rampas na escola nem elevador, a mãe
ficou preocupada e a diretora a ques-
tionou: a senhora quer mesmo ma-
tricular seu filho nesta escola? A mãe Como o ensino profissionalizante
respondeu que não, pois o filho não po- na EJA – Educação de Jovens
deria nem chegar à sala de aula! Adultos pode proporcionar a
autonomia profissional de jovens
As atitudes dessa diretora estão emba- e adultos com deficiência?
sadas em uma concepção de educação A Política de Educação Especial na
especial superada, e numa perspectiva perspectiva da Educação Inclusi-
da integração, ou seja, a criança ou seus va/2008- AEE- prevê o atendimento
responsáveis devem se adaptar às con- educacional especializado em todas
dições da escola tal como ela se apre- as etapas e modalidades de ensino.
senta. Se isso não acontecer a criança Portanto, a EJA (Educação de Jovens
não deve estar ali. As atitudes espera- e Adultos) está prevista nesta Política.
das dos gestores públicos, da equipe
escolar e da família, embasadas em uma Os alunos com deficiência que estu-
concepção de educação especial na dam na EJA devem receber atendi-
perspectiva inclusiva, implicam na cor- mento educacional especializado que
responsabilidade de todos, no sentido promova sua inclusão plena. Neste
de garantir autonomia, e a equidade de caso o AEE deve trabalhar os alunos
participação na rotina escolar para to- do EJA com foco na sua autonomia e
dos os alunos. E estes valores devem ser profissionalização.
praticados e concretizados pela equipe
escolar, através da gestão do projeto Atualmente empresas com mais de
político pedagógico da escola. 100 funcionários devem obedecer à

61
legislação específica que prevê cotas com o aluno estudando junto de seus
de contratação de pessoas com de- colegas da sala regular. Se o atendi-
ficiência (Lei Federal 8213/91), e por mento ocorrer no mesmo período de
isso, investir na educação formal des- aula, esse aluno estará privado da
sa população traz retorno concreto no rotina da sala de aula, uma vez que
sentido da sua real inclusão social e será retirado da sala de aula para este
econômica, além de ser uma resposta atendimento, interferindo no pro-
esperada a ser dada pelos municípios cesso de aprendizagem do aluno que
à sociedade brasileira. Afirmamos será excluído das atividades de sala
que a oferta do ensino profissionali- de aula neste período.
zante deverá ser a mesma da escola
regular, contando com acessibilida- A frequência na sala de recursos
de, materiais adaptados e propostas multifuncionais não deverá ocorrer
de flexibilização curricular em função em todos os dias da semana, poden-
das necessidades específicas desses do ser organizada conforme a ne-
alunos. cessidade do aluno, pois sua função
não é de prover reforço escolar e sim
de complementar ou suplementar a
Como garantir que o aluno com formação do aluno por meio de es-
deficiência receba atendimento tratégias que eliminem as barreiras
especializado, em horário de impostas pelas suas limitações de-
aula juntamente com sua grade correntes da deficiência, visando
curricular, sem ter que vir no sua plena participação na vida esco-
contraturno, já que o mesmo lar e comunitária.
por vezes realiza outros tipos
de atendimentos clínicos e de No caso das Redes Públicas de Edu-
reabilitação, havendo assim um cação, cabe aos gestores planejar a
grande esgotamento físico? oferta de serviços do AEE observan-
A Política de Educação Especial na do a legislação vigente, e levando em
perspectiva da Educação Inclusi- conta as suas características locais.
va/2008 e a Resolução nº 04/09 deter- Como qualquer outra criança, cabe à
minam que o atendimento educacio- família e à equipe escolar, de comum
nal especializado (AEE) deva ocorrer acordo, organizar uma agenda produ-
no turno inverso ao da frequência na tiva para o aluno, conciliando as suas
sala regular. Essa prerrogativa se dá necessidades pedagógicas e de rea-
pelo fato de que se deve garantir uma bilitação, para o seu pleno desenvol-
condição inclusiva na rotina escolar, vimento.

62
Como funciona a terminalidade dimento metodológico que podemos
específica para os alunos que lançar mão para que os pais aceitem
não apresentam evolução na as dificuldades e necessidades de
aprendizagem? seus filhos com deficiência. A com-
preensão pressupõe empatia e uma
Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da
apreensão recíproca da realidade em
Educação 9.394/96 (LDBN), Inciso II do
que estamos envolvidos, uma apreen-
Artigo 59, Resolução CNE/CEB 02/01,
são feita com o outro, aquele que é di-
Artigo 16 e Parecer do Conselho Na-
ferente de mim, que pensa diferente.
cional de Educação 17/01, é prevista a
terminalidade específica para aqueles Para essa compreensão, podemos nos
que não puderem atingir o nível exigido valer de estratégias de ação ou recur-
para a conclusão do ensino fundamen- sos contidos, como por exemplo, na
tal, em virtude de sua deficiência. rotina escolar. O diálogo constante e
permanente em relação à escolari-
A terminalidade específica prevê via-
zação da criança, explicitando suas
bilizar ao aluno com grave deficiência
conquistas, dificuldades e desafios,
intelectual ou múltipla, que não apre-
sempre pautada em uma dimensão
sentar resultados de escolarização pre-
concreta do processo pedagógico, po-
vistos no Inciso I do Artigo 32 da LDBN,
derá ajudar os pais a se aproximarem
a terminalidade específica do ensino
mais da escola e melhor compreende-
fundamental, por meio da certificação
rem o processo de desenvolvimento
de conclusão de escolaridade, com his-
do filho.
tórico escolar que apresente, de forma
descritiva, as competências desenvol- Promover encontros com pais de
vidas pelo educando, bem como o en- crianças em situações semelhantes,
caminhamento devido para a educação que já superaram a fase da negação
de jovens e adultos e para a educação ou do luto é uma das estratégias, pois,
profissional. Cabe aos Estados e Muni- ao mesmo tempo em que possibilitam
cípios estabelecerem critérios para o aos pais identificarem pontos comuns
gerenciamento deste dispositivo legal. em sua identidade, revelam também
os estágios diferenciados em que se
encontram.
Como fazer com que pais de A literatura é outra valiosa parceira
crianças com deficiência aceitem nesse desafio, pois possibilita um diá-
que a criança tem dificuldades e logo diferenciado entre autor e leitor,
necessita de ajuda? com mais liberdade de expressão, pen-
O diálogo compreensivo é um proce- samento e reflexão. Cito como exem-

63
Descrição da Imagem: Fotografia em preto
e branco de frente criança com deficiência
física em sala de aula. Ela está em uma
cadeira de rodas e com um dos braços
apoiados na mesa. Ao fundo crianças ocupam
outras mesas e cadeiras. Fim da descrição.

plo o livro “O filho eterno”, de Cristovão vro “Uma menina estranha: autobiogra-
Tezza. fia de uma autista”, Temple Grandin e
Margaret M. Scariano nos levam a ima-
Tezza é um escritor brasileiro que ex- ginar a vida da família com uma menina
põe, de forma corajosa, as inúmeras que desde os seis meses de vida não se
dificuldades de criar um filho com sín- aninhava no colo da mãe; ficava rígida
drome de Down, em uma época em que e rejeitava o abraço. Até os três anos
o assunto não era tão estudado, além e meio só se comunicou por intermé-
de contar com interpretações místicas, dio de gritos, assobios e murmúrios.
religiosas e preconceituosas. Nesse li- Foi diagnosticada como autista, mas
vro-depoimento, o autor descreve so- se transformou em uma bem-sucedida
bre a transformação da sua rotina diá- professora universitária, desenhista de
ria ao destinar grande parte do tempo equipamento de manejo de gado, uma
para ida a clínicas e consultórios médi- das poucas profissionais do gênero no
cos. As vitórias são descritas como no- mundo. A mãe escrevia sobre a filha,
vos sabores para sua vida. descrevia seus comportamentos, rea-
ções e mudanças. Achava a filha linda
Complementando esse enfoque, no li- e, mesmo nos piores dias, percebia que

64
ela era inteligente e interessante, con- sentidos. Instigam-nos a conhecer,
siderando a sua companhia divertida e enxergar, ouvir, falar e ampliar nossos
muito agradável. resquícios de vida na convivência com
o outro, o diferente, o estrangeiro.
Um contraponto dessa situação está
retratado no filme “O milagre de Anne
Sullivan”, que valorizou as atitudes da
Professora Anne Sullivan ao tratar de Como definir o atendimento e o
Helen Keller, uma garota cega e surda, projeto pedagógico para alunos
cujos pais sentiam pena da menina e a com transtornos severos de apren-
mimavam. Uma história verídica, mara- dizagem/comportamento em salas
vilhosa! regulares?

Outra história real, a do escritor irlan- O atendimento e o projeto pedagógi-


dês Christy Brown, foi tema do filme co para alunos com transtornos seve-
“Meu Pé Esquerdo”. Christy é o décimo ros de aprendizagem/desenvolvimento
de um total de 22 filhos de uma família nas salas regulares de ensino podem
pobre irlandesa. Sofre de paralisia ce- ser planejados e realizados na com-
rebral e conseguiu algum controle do plexidade das relações que o aluno e o
pé esquerdo para escrever um apelo professor estabelecem consigo, com
para a única pessoa que podia ajudá-lo o outro, com o conhecimento e com
a conseguir desenvolver seu potencial: o mundo que os cerca. Além disso, é
sua mãe. Com essa companheira reve- necessário que a equipe escolar se or-
lou-se um artista de grande talento. ganize em uma rotina cooperativa de
trabalho, uma vez que o professor que
Também o documentário “Do Luto à
recebe em sala de aula alunos que de-
Luta”, dirigido por Evaldo Mocarzel
mandam estratégias didáticas mais
(Brasil, 2004), trata sobre essa ques-
complexas precisa de apoio constante.
tão: como os pais recebem a notícia
O professor já envolvido nesse contex-
de que os filhos nasceram com síndro-
to relacional pode desenvolver atitu-
me de Down. Mostra também diversos
des de pesquisador ao deparar-se com
adultos com síndrome e suas impres-
sões sobre a vida. uma situação diferenciada, com novos
desafios educacionais que precisam
Essas são algumas das inúmeras pos- ser compartilhados com seus pares,
sibilidades que o meio em que vivemos proporcionando o diálogo na busca de
nos oferece. A Literatura e a Arte po- alternativa que ampliem o processo de
dem nos auxiliar a desenvolver o diálo- aprendizagem deste aluno e dos outros
go compreensivo, pois acionam nossos alunos, em sala de aula.

65
Para cada aspecto relacional é impor- acolher, compreender e conviver com
tante que a equipe escolar e o profes- a vida humana em sua diversidade de
sor formulem novas perguntas que condições, os atores envolvidos am-
possam orientar observações siste- pliarão o potencial da relação ensino-
máticas e contínuas em relação a esse -aprendizagem, com novos significa-
aluno. O professor buscará saber sobre dos e sentidos.
os interesses do aluno; o que o mobi-
liza; para quem olha ou se aproxima;
como interage com os outros alunos.
Mas pode estender seu olhar investiga- Como conscientizar as famílias da
tivo às novas características que o alu- importância de o aluno com defi-
no apresenta: suas condições de auto- ciência participar dos atendimen-
nomia, suas necessidades, limitações, tos especializados? Existe algum
e potencialidades para a realização de amparo legal que nos garanta isso?
tarefas.
Primeiro, é necessário que a escola
O professor deverá organizar registros estabeleça um bom diálogo com as
cronológicos dos dados observados, famílias, de forma a garantir corres-
incluindo os investimentos que faz, as ponsabilidade e compromissos que
respostas que obtém, bem como os deverão ser assumidos por ambas as
movimentos realizados pelos outros e partes para o pleno desenvolvimento
novos atores envolvidos. do aluno e de seu processo de apren-
dizagem.
Concomitantemente, a equipe escolar
(coordenador pedagógico, professores O Estatuto da Criança e do Adolescente
do AEE, professores de educação físi- (ECA – Lei 8.069/90) em se artigo 4º de-
ca, de artes, etc.), deve implementar termina que “É dever da família, da co-
estratégias diferenciadas de ação lan- munidade, da sociedade em geral e do
çando mão de ajudas técnicas, adap- poder público assegurar, com absoluta
tações curriculares, possibilidades de prioridade, a efetivação dos direitos re-
acessibilidade que possam ir além da ferentes à vida, à saúde, alimentação,
acessibilidade arquitetônica, envolven- educação, esporte, lazer, profissiona-
do também as de ordem pedagógica, lização, cultura, dignidade, respeito,
ressignificando, juntos, a relação: defi- liberdade e à convivência familiar e co-
ciência-potencialidade. munitária”.

Esse processo de aprendizagem que No mesmo sentido, a Lei de Diretrizes e


se desenvolve é do aluno, do profes- Bases da Educação Nacional (9.394/96),
sor e dos demais atores envolvidos. Ao em seu Artigo 2º dispõe que: “A educa-

EDUCAÇÃO INCLUSIVA 66
ção, dever da família e do Estado, inspi- Como as instituições de
rada nos princípios de liberdade e nos assistência voltadas para
ideais de solidariedade humana, tem deficiências severas podem ou
por finalidade o pleno desenvolvimento fazem parcerias com as escolas
do educando, seu preparo para o exer-
regulares a fim de que estes alunos
cício da cidadania e sua qualificação
frequentem os dois espaços?
para o trabalho.
Esta possibilidade deverá ser consi-
Portanto, os pais devem oferecer a seus derada, pois poderá beneficiar tanto
filhos plenas condições de acesso à edu- a escola como a instituição no pleno
cação para que haja um bom aprovei-
atendimento da demanda desses alu-
tamento deste processo. No caso das
nos. A legislação já prevê as parcerias
pessoas com deficiência, medidas como
para o atendimento educacional espe-
frequentar programas de reabilitação e o
cializado, inclusive em caráter suple-
Atendimento Educacional Especializado
oferecido no contraturno da escola, faz mentar ou complementar ao ensino

parte dessa responsabilidade. No entan- regular, conforme a complexidade das


to, é importante que a equipe diretiva da necessidades desse aluno.
escola acolha e ouça cuidadosamente a
No entanto, a família é que deverá ma-
família para avaliar se a sua eventual re-
sistência não está relacionada a uma real nifestar-se quanto ao desejo destas

limitação de tempo, ou de condições de formas de atendimento, sempre apoia-


horário de trabalho, que impeçam o cum- da pela equipe escolar, que dispõe de
primento de tal tarefa. conhecimento técnico especializado
para ajudá-la no planejamento da vida
A escola, portanto, deve prever em seu
escolar de seu filho. Portanto é funda-
Projeto Pedagógico uma participação
mental o diálogo com a família, no sen-
efetiva das famílias, construindo es-
tido de disponibilizar o maior número
tratégias facilitadoras do diálogo para
de informações relevantes para que
a troca permanente de informações
e do estabelecimento de uma parce- ela possa refletir com maior clareza e
ria corresponsável para o desenvolvi- segurança acerca das oportunidades
mento e a aprendizagem de todos os que a sociedade dispõe para a plena
seus alunos. inclusão social do seu filho.

67
Como a Política Pública, que responsabilizará pelo atendimento de
viabiliza a implantação do AEE outras escolas de seu entorno.
– Atendimento Educacional
Especializado, orienta o trabalho Nesse último caso, é necessário se es-
entre a equipe pedagógica das tabelecer processos e procedimentos
turmas regulares, seus gestores, rotineiros, de planejamento conjunto
e os professores do AEE quando e de troca de experiências entre o pro-
estes não estiverem alocados em fessor responsável pelo AEE e a equi-
suas unidades de origem? pe escolar de origem do aluno para
que suas necessidades sejam atendi-
A gestão dos procedimentos de acom-
das, considerando sua realidade e os
panhamento e formação da equipe
seus desafios pedagógicos vividos em
responsável pela implementação da
sala de aula.
política de inclusão está sob respon-
sabilidade das Secretarias municipais,
estaduais ou órgãos equivalentes, po-
dendo realizá-la conforme suas possi- Como a equipe escolar pode
bilidades e modelos de gestão. planejar a proposta pedagógica
para incluir os alunos com
A implantação do AEE – Atendimento deficiência?
Educacional Especializado- já está de-
A equipe escolar diante dos alunos com
talhadamente orientada na legislação,
deficiência pode planejar sua propos-
por meio da Resolução nº 4/09 que ins-
ta pedagógica conforme dispõe a Lei
titui as diretrizes operacionais para o
9394/96:
AEE na Educação Básica. No entanto,
por se tratar de um recurso recente, em ƒ Para a educação infantil deve-se
implantação nas redes públicas, com o garantir o desenvolvimento integral
apoio do MEC – Ministério da Educação da criança, em seus aspectos físi-
e Cultura, encontramos municípios em co, psicológico, intelectual e social,
diferentes estágios em relação à reali- complementando a ação da família
zação deste processo. e da comunidade (artigo 29).

Há municípios que, por já contarem com ƒ Para o ensino fundamental (artigo


recursos físicos e humanos de Escolas 32), desenvolver a formação bá-
Especiais, conseguem por meio de uma sica do cidadão, mediante: o de-
distribuição racional desses recursos senvolvimento da capacidade de
proverem uma sala para o AEE em cada aprender, tendo como meios bási-
escola, ou organizam polos de atendi- cos o pleno domínio da leitura, da
mento, agrupando uma escola que se escrita e do cálculo; a compreen-

68
conhecimentos adquiridos no en-
sino fundamental, possibilitando
o prosseguimento de estudos; a
preparação básica para o trabalho
e a cidadania do educando, para
continuar aprendendo, de modo a
ser capaz de se adaptar com fle-
xibilidade a novas condições de
ocupação ou aperfeiçoamento
posteriores; o aprimoramento do
educando como pessoa humana,
incluindo a formação ética e o de-
senvolvimento da autonomia inte-
lectual e do pensamento crítico;
a compreensão dos fundamentos
científico-tecnológicos dos pro-
Descrição da Imagem: Fotografia em plano
fechado criança em uma sala de aula olha cessos produtivos, relacionando a
para uma lousa. Ela usa uma tele lupa no olho teoria com a prática, no ensino de
esquerdo. Com a mão direita segura uma caneta
e escreve em um papel. Fim da descrição. cada disciplina.

Além desses objetivos específicos a


são do ambiente natural e social, cada modalidade de ensino, deve ainda
do sistema político, da tecnologia, ater-se aos dispositivos da Política Na-
das artes e dos valores em que se cional de Educação Especial na Pers-
fundamenta a sociedade; o de- pectiva da Educação Inclusiva/2008,
senvolvimento da capacidade de que orienta as Unidades Escolares a
aprendizagem, tendo em vista a promoverem respostas às necessida-
aquisição de conhecimentos e ha- des educacionais especiais, no sentido
bilidades e a formação de atitudes de garantir a transversalidade da educa-
e valores; o fortalecimento dos ção especial desde a educação infantil
até a educação superior; o atendimento
vínculos de família, dos laços de
educacional especializado; a continui-
solidariedade humana e de tole-
dade da escolarização nos níveis mais
rância recíproca em que se assen-
elevados do ensino; a formação de pro-
ta a vida social.
fessores para o atendimento educacio-
ƒ Para o ensino médio (artigo 35), nal especializado e demais profissionais
serão suas finalidades: a conso- da educação para a inclusão escolar; a
lidação e o aprofundamento dos participação da família e da comunida-

EDUCAÇÃO INCLUSIVA 69
de; a acessibilidade arquitetônica, nos como um recurso e um ponto de par-
mobiliários e equipamentos, nos trans- tida importante para ensinar a todos
portes, na comunicação e informação; (as) os estudantes na classe.
a articulação intersetorial na implemen-
tação das políticas públicas. O processo de aprendizagem deverá
dialogar com atividades lúdicas e for-
Para alcançar tais objetivos o Proje- mais, com o intuitivo, o sensorial, os
to Político Pedagógico da escola deve aspectos sociais e afetivos dos alunos.
contemplar as ações para o atendi- Nas práticas dos professores deverá
mento à diversidade. Nessa perspec- predominar a atitude investigativa, a
tiva, qual a visão sobre o currículo? A criação, a descoberta e a coautoria do
matriz curricular da proposta pedagó- conhecimento com seus pares, e seu
gica da escola deverá refletir alguns grupo de alunos.
aspectos citados abaixo: Respeito
A pedagogia deve ser ativa, dialógica
aos valores culturais e artísticos, na-
e interativa. O professor deve romper
cionais e regionais, para atender ao
com as práticas pedagógicas homo-
artigo 210 da Constituição Federal
gêneas e os rituais padronizados. Deve
de 1988. Para esse desafio, as orien-
organizá-las de modo a criarem opor-
tações técnicas e legais determinam
tunidades de aprendizagens e parti-
que os currículos do ensino funda-
cipação igualitárias na sala de aula. A
mental e médio devem ter uma base organização das atividades de classe
nacional comum, a ser complemen- deve privilegiar grupos de trabalho
tada por uma parte diversificada, exi- colaborativos e o apoio mútuo entre
gida pelas características regionais, os alunos. A dinâmica de aula precisa
culturais, socioeconômicas da equipe apresentar características que pro-
escolar em relação ao processo ensi- porcionem e reforcem experiências de
no-aprendizagem e locais da comuni- sucesso e motivação a todos os alunos
dade onde a escola está inserida. e nas quais todos possam participar,
para isso, é necessário investir no pla-
A formação básica da equipe esco-
nejamento das atividades escolares.
lar em relação ao processo ensino-
-aprendizagem deverá respeitar os A filosofia organizacional da esco-
diferentes estilos, ritmos, necessi- la deve pautar-se nos princípios da
dades, interesses, histórias de vida e equidade, levando em conta as carac-
motivações dos alunos ao desenvolver terísticas e necessidades da comu-
suas rotinas escolares. As diferenças nidade escolar. Investir na caracte-
devem ser reconhecidas, compreen- rização da clientela escolar e do seu
didas e valorizadas pelos docentes entorno possibilita à equipe escolar

70
construir um projeto político pedagó- completos, assim como para a realiza-
gico que promova a paz e o desenvol- ção de exames de conclusão de EJA do
vimento pleno da cidadania de seus Ensino Fundamental.
alunos e familiares.

As avaliações externas
Com relação à idade de consideram a singularidade
permanência no ensino de cada educando e oferecem
fundamental I (1º ao 5º ano), existe condições para que realizem
uma idade limite para que um a prova de acordo com suas
aluno com deficiência conclua necessidades? Os alunos com
essa etapa e dê prosseguimento deficiência podem justificar um
aos estudos no Ensino desempenho insatisfatório da
Fundamental II? escola?
O Artigo 5º da Resolução CNE/CEB Essa questão tem sido muito deba-
03/10, em especial o disposto no arti- tida entre educadores que, pressio-
go 4º (incisos I e VII) da Lei nº 9.394/96 nados pelo compromisso com o bom
(LDB) estabelece como prioridade o desempenho da escola, propõem es-
atendimento da escolarização obriga- tratégias discutíveis até o ponto de
tória, sendo considerada a idade mí- vista ético, quando recomendam o
nima para ingresso nos cursos de EJA não comparecimento desse público
(Educação de Jovens e Adultos) 15 anos na escola nos dias de avaliações.

Descrição da Imagem: Imagem em preto e branco de


dois meninos. Eles têm a pele branca, usam cabelos
curtos, estão de frente um para o outro e se olham com 71
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
as tele-lupas nos olhos. Fim da descrição.
No entanto, é necessário se distinguir A inclusão é um direito garantido
duas modalidades de avaliação pre- pela lei. Sendo assim, quais são os
sentes nas redes escolares públicas: a princípios que uma escola deve ter
avaliação interna e rotineira do apren- para ser considerada “inclusiva”? O
dizado do aluno e a avaliação externa que acontece se um diretor negar
para a mensuração do desempenho a matrícula para uma criança com
escolar, utilizando as métricas oficiais deficiência?
como a Prova Brasil etc., para avaliação
comparativa do desenvolvimento dos Os critérios de inclusão são determi-
alunos em relação aos índices nacio- nados por leis específicas que, como
nais e internacionais. bem sabemos, dependem do investi-
mento humano para se materializarem
Os alunos com deficiência, identifica- em realidades consolidadas. Assim, di-
dos no censo escolar, que participarão retores por vezes se negam a receber
das avaliações externas têm o direito matrículas de alunos com deficiência,
de receber atendimento diferencia- enquanto outros estabelecem condi-
do no momento dessa avaliação. Para ções para receberem esses alunos,
isso, as escolas deverão mobilizar seus assim como mais recursos para obras
recursos disponíveis para esse atendi- e reparos na escola. Essa diferença de-
mento tais como: professores espe- monstra o abismo existente entre cri-
cializados das salas do Atendimento térios e ações, aprofundando nossos
educacional especializado (AEE), in- desafios em relação às mudanças ati-
térprete de LIBRAS, material adaptado
tudinais e culturais necessárias a se-
acessível como, por exemplo, a trans-
rem realizadas no contexto educacio-
crição em Braille das provas quando
nal. A recusa de um diretor deverá ser
necessário, lupas, e outras ajudas téc-
investigada pela sua liderança imediata
nicas requisitadas pelos alunos.
e estar absolutamente respaldada por
As provas poderão ser aplicadas jun- uma criteriosa avaliação administrati-
tando-se pequenos grupos de alunos va e pedagógica acerca das questões
com deficiência, ou individualmente, que resultaram nessa atitude. O sim-
garantindo a assistência necessária ples gesto de recusar pode resultar em
para o bom desempenho do aluno. enquadramento legal, configurando
discriminação. O Conselho Tutelar, e o
Ministério Público, nesses casos, tam-
PARA SABER MAIS: bém poderão ser sempre procurados,
A inclusão é um direito
Consulte garantido
a íntegra da uma vez que se trata de guardiões dos
pela lei. SendoCNE/CEB
Resolução assim, quais
nº 4, são
de 2os direitos constitucionais da criança, da
princípiosdeque uma de
outubro escola
2009deve ter sociedade e de cada cidadão. A ques-

72
tão jurídica, no entanto, é, por vezes, forma, a estrutura física onde serão im-
um processo desgastante e moroso, o plementadas as salas de recursos mul-
que prejudica sobremaneira a criança, tifuncionais deve ser cuidadosamente
gera insegurança e um impacto emo- analisada, tendo em vista o efetivo uso,
cional preocupante à família. Por isso, e a melhor alternativa para o aluno que
nesses casos, o Ministério Público tem necessita desse atendimento.
agido de forma proativa, justamente
considerando essas consequências. A
despeito de toda essa polêmica, as di-
Não seria fundamental que
retrizes do MEC indicam a inclusão dos
todos os alunos com deficiência
alunos em escolas regulares.
estivessem acompanhados ou
fazendo acompanhamento com
especialistas da saúde?
Por que ainda presenciamos
O acompanhamento dos alunos com de-
nas escolas profissionais que
ficiência por uma equipe de saúde não
se recusam a compreender que
deve ser direcionado a todos, pois não
o espaço da Unidade Escolar é
há, em muitos casos, necessidade des-
público e não “seu”, recusando-
se acompanhamento de modo perma-
se, por exemplo, a cedê-lo para
nente. O fato de ter uma deficiência nem
viabilizar e auxiliar a constituição
sempre implica necessariamente em
das salas de recursos?
uma necessidade clínica, uma vez que
Segundo o Artigo 5º. da Resolução ela deve ser entendida como uma con-
CNE/CEB Nº. 04/09 o Atendimento dição do indivíduo, o que não significa
Educacional Especializado (AEE) deve que ele não seja saudável. No entanto,
ser realizado nas Salas de Recursos é relevante que a pessoa com deficiên-
Multifuncionais, prioritariamente na cia tenha acesso aos serviços de saúde
escola onde o aluno com deficiência para acompanhamento rotineiro, como
estuda, ou em outra escola regular da se recomenda a qualquer pessoa.
rede próxima, atendendo esse aluno
nas diferentes modalidades de ensino. Além disso, em relação ao processo
O AEE pode também ser realizado em de inclusão educacional, as parcerias
centros de atendimento educacional entre as secretarias de educação, no
especializado da rede pública ou de caso das escolas públicas, com as
instituições comunitárias, confessio- demais instâncias governamentais e
nais ou filantrópicas sem fins lucrati- parceiros locais poderão viabilizar e
vos, conveniadas com a Secretaria de organizar os encaminhamentos, quan-
Educação ou órgão equivalente. Dessa do necessário, e facilitar o monitora-

73
mento da saúde dos alunos que efe- envolvidos com a Educação estejam
tivamente precisam desta atenção, conscientes de seu papel de mudança
pensando no impacto que este aten- no contexto educacional atual. Essa
dimento poderá ter na ampliação do consciência não se refere somente à
desenvolvimento e da aprendizagem legislação, mas sobre aspectos rela-
desse aluno. cionados aos direitos humanos, à so-
lidariedade, à ética e à constituição de
uma sociedade mais justa e equânime,
Como garantir que a escola seja partindo da escola como um espaço
de fato inclusiva, em meio a possível de experiências transforma-
tanta diversidade de opiniões e doras. Os gestores da educação de-
resistências que ainda existem vem facilitar e mediar esse processo,
nesse processo? envolvendo todos os entes escolares:
da merendeira ao diretor, passando
O processo de inclusão social da pes-
pelo supervisor, coordenador, famílias
soa com deficiência tem ocorrido de
e alunos, assim como os alunos com
forma bastante intensa a partir de
deficiência.
meados do século passado (Declara-
ção dos Direitos Humanos, ONU 1948).
Muitas mudanças têm sido efetivadas,
mas milênios de exclusão e segrega- A lei que garante a inclusão de
ção não são vencidos de forma sim- alunos com deficiência tem sido
ples. Apesar dos avanços já conquis- cumprida em todas as escolas
tados, ainda se está construindo, na públicas e particulares? Como esta
sociedade atual, um entendimento so- lei está sendo fiscalizada?
bre as características e os conceitos
Nenhuma escola pode recusar a ma-
que constituem uma cultura inclusiva,
trícula de um aluno com deficiência,
onde todos terão seus direitos civis
que tem direito de frequentar a esco-
garantidos. Para que esse movimen-
la, preferencialmente na rede regular
to se estabeleça de forma adequada e
de ensino. (Lei de Diretrizes e Bases da
dentro dos parâmetros democráticos
Educação Nacional nº 9.394\96). Por-
e legais, há uma grande gama de docu-
mentos acadêmicos, jurídicos e legais tanto, a sociedade civil pode recorrer
que auxiliam neste debate, servindo às autoridades (Secretarias de Educa-
de parâmetros na defesa de direitos. ção, Ministério Público) caso o direito
de ter acesso à educação não esteja
Nas escolas esse processo não é di- sendo cumprido por alguma instituição
ferente. É preciso que todos os entes educacional.

74
Serão garantidos ao aluno que cional da pessoa com deficiência é fruto
ingressa na Educação de Jovens e da falta de informação e, por consequên-
Adultos, EJA, em âmbito Estadual, cia, de preconceitos. Os gestores de en-
os mesmos apoios e recursos que
sino devem promover um canal amplo de
teve no curso anterior?
comunicação com os pais com o objetivo
Conforme o Artigo 6º e o inciso V do
Artigo 23 da Constituição Federal e de sanar dúvidas referentes à convivên-
os Artigos 2º e 4º da Lei de Diretrizes cia com pessoas com deficiência no con-
e Bases da Educação Nacional, (Lei texto escolar, sobre as vantagens para a
9394/96) a Educação é um direito do aprendizagem de todos os alunos quan-
cidadão e é de responsabilidade da
do há essa diversidade escolar.
união, dos estados, municípios, do
distrito federal e da família.
É importante planejar atividades com
Tendo em vista que a Educação de Jo- os pais no sentido de se aproximarem
vens e Adultos (EJA) faz parte da Edu- das famílias dos alunos com deficiên-
cação (inciso VII do Artigo 4º da Lei cia, para se conhecerem e trocarem
9394/96) cabe às instituições educa-
experiências de vida, humanizando as
cionais a oferta da EJA para qualquer
aluno. Dessa forma, o atendimento relações escolares. Além disso, é im-
educacional especializado (AEE), as- portante comunicar objetivamente à
sim como todos os recursos pedagó- comunidade escolar todas as ações
gicos e de acessibilidade, ou as media-
que estão sendo implementadas no
ções pedagógicas necessárias, devem
sistema de ensino brasileiro e na es-
ser oferecidos a todos os alunos regu-
larmente matriculados. cola quanto: aos atuais objetivos e a
legislação escolar, a formação de pro-
fessores, e o planejamento das ativi-
A inclusão escolar ainda enfrenta dades pedagógicas que contemplem
muitos desafios, um deles é a a heterogeneidade de características
resistência dos pais dos alunos e interesses dos alunos. É necessário
que não têm deficiência. Quais
investir na acessibilidade da escola e
as ações que a equipe escolar
deve realizar para enfrentar essa organizar ações que apoiem as equipes
atitude? escolares, os pais e os alunos para a
A resistência dos pais dos alunos que não construção de um ambiente inclusivo,
têm deficiência com a inclusão educa- em toda a rotina escolar.

75
Descrição da imagem: Plano fechado de uma
criança, de costas, em uma sala de aula. Ela
usa um aparelho auditivo na orelha esquerda,
está sentada, com os braços apoiados sobre
a carteira escolar onde há um caderno aberto.
Fim da descrição.
76
A Educação Inclusiva modificou advindos dos currículos nas séries/ eta-
a práxis pedagógica? Em que pas/ ciclos e o contexto social e cultural
aspecto? da comunidade escolar passam a ser os
Segundo dados divulgados pelos cen- eixos norteadores da práxis pedagógica
sos escolares, o processo de inclusão
de uma escola inclusiva.
educacional, provocado pela aplicação
da legislação vigente, tem proporcio-
Portanto, o movimento mundial pela
nado um aumento na matrícula e na
frequência de alunos com deficiência Educação Inclusiva é uma ação políti-
nas escolas regulares de ensino. ca, cultural, social e pedagógica, de-
sencadeada em defesa do exercício do
A convivência com a diversidade hu-
direito de todos os alunos de estarem
mana nas escolas tem contribuído para
uma maior atenção a este tema, assim juntos, aprendendo e participando,
como tem proporcionado mudanças sem nenhum tipo de discriminação.
coletivas e a construção de uma cul- Constitui um paradigma pedagógico,
tura escolar mais preocupada com a
fundamentado na concepção de direi-
equidade de participação de todos os
alunos, considerando a sua heteroge- tos humanos, que conjuga igualdade e
neidade e valorizando a inclusão social diferença como valores indissociáveis,
como um valor comum importante, o objetivando a equidade educacional e
que tem influenciado, direta e indire-
social como um todo.
tamente, a prática pedagógica em as-
pectos relacionados à socialização e à
É importante observarmos que este con-
aprendizagem dos alunos e de toda co-
ceito de educação inclusiva traz benefí-
munidade escolar.
cios a todos, uma vez que a escola con-
Assim, o planejamento pedagógico da temporânea tem sido constantemente
rotina da escola e dos conteúdos do
desafiada pelas demandas de grupos de
currículo escolar deve considerar os
diferentes estilos de aprendizagem e a diferentes culturas, pelas lutas relacio-
necessidade da equiparação de oportu- nadas aos direitos humanos das minorias
nidades de participação nas atividades e das populações mais vulneráveis, que
escolares para todos os alunos, por meio acessam a escola pública. A questão da
dos recursos de acessibilidade, tanto no
deficiência deve ser considerada como
âmbito curricular quanto na utilização
dos espaços internos e externos da es- uma demanda que perpassa transversal-
cola. Assim, os desafios pedagógicos mente todas essas discussões.

77
Quando na deficiência física fletir, de modo positivo ou negativo, a
há ausência de um membro respeito dessas diferenças.
há uma compensação dessa
ausência pelos demais órgãos Alfred Adler (1870 - 1937), pesquisador
das pessoas com deficiência. desta abordagem, costumava citar
Pode haver também uma forma de uma frase de seu parceiro Stern, para
compensação psicológica? resumir esta abordagem: “Tudo que
não me destrói me faz mais forte, pois
Realmente, há estudos no campo da psi-
na compensação da debilidade surge a
cologia sobre a questão dos processos
força; e das deficiências, as capacida-
adaptativos e compensatórios na defi-
des” (Adler, 1992).
ciência. Os estudos e publicações de Vy-
gotsky e de Luria (1996), por exemplo, tra-
zem a ideia da plasticidade das funções
cerebrais, assim como sobre a capaci- Não deveria haver uma parceria
dade do ser humano em criar processos entre o professor e o médico da
adaptativos, com o intuito de superar im- criança com deficiência para que
pedimentos ou possíveis desafios. Esses a ação pedagógica do professor
processos, porém, não aparecem de for- fosse mais eficiente? Isso não
ma espontânea, pois só se concretizam a ajudaria na aprendizagem do aluno,
partir da interação do indivíduo com fato- pois estaria baseada nas suas
res pessoais, sociais e ambientais, além
possibilidades?
da mediação realizada entre os seus pa-
res, em relação à superação de seus de- A parceria entre os profissionais da
safios ou impedimentos. saúde e da escola é sempre bem-vin-
da, porque, apesar de apresentarem
Então, essas experiências geradas nes- objetivos e propósitos diferentes, exis-
sas interações funcionam como forças te como ponto em comum entre eles o
propulsoras para o desenvolvimento e bem-estar da criança.
o aprimoramento de novas habilidades,
trazendo como consequência, para o No entanto, é importante lembrar que o
indivíduo, uma tomada de consciên- processo educativo de qualquer crian-
cia, de sua insuficiência ou não, para a ça, com deficiência ou não, tem a escola
resolução de um desafio, levando-o a como o principal vetor. Não cabe pen-
perceber suas diferenças em relação a sar na educação dos alunos com defi-
um padrão social predominante de seu ciência em função de uma pedagogia
grupo. Essa percepção poderá colocá- prescritiva, vinculada aos seus fatores
-lo em uma situação de desvantagem biológicos como indicadores do poten-
em relação aos outros, fazendo-o re- cial de aprendizagem da criança. Nesse

78
sentido, é necessário fazer três consi- crianças com deficiência frequentarem
derações, a saber: Em primeiro lugar, a unidade escolar regular de ensino du-
o desenvolvimento de uma pessoa se rante o ano letivo, estando em contato
processa relacionando seus aspectos com professores e demais alunos en-
biológicos, suas funções psicológicas, volvidos em trabalho conjunto; alguns
e suas interações sociais. Nas crianças com interesses comuns aos seus, ou-
com deficiência essa relação se diferen- tros com grau mais elevado de conhe-
cia das demais crianças, na maioria das cimento, sendo esse contexto o mais
vezes, devido à qualidade das intera- adequado para o seu desenvolvimento
ções que ela estabelece com familiares, e aprendizagem. O terceiro ponto a se
com demais parceiros e com o seu meio. observar é o avanço, tanto do conheci-
Elas são geralmente marcadas por limi- mento científico como das tecnologias
tações, procedimentos protecionistas assistivas, trazendo aos professores, na
da família e de seus pares, assim como prática, a percepção de que o processo
pela qualidade com que constrói suas educativo é dialético e está em constan-
relações com o meio, ou como resultado te mudança, desconstruindo a ideia do
do seu isolamento social. “aluno modelo” e da previsão prescritiva
do desenvolvimento e da aprendizagem
De acordo com os estudos de L.S. Vy- para qualquer aluno, em especial para
gotsky (1896 - 1934), trabalhar com as os alunos com deficiência (Vygotsky e
capacidades mentais da criança com Petrovsky, 1982 apud RUSSO, 1994).
deficiência através das atividades prá-
ticas e coletivas, proporciona uma
oportunidade importante para elas res-
gatarem conceitos da vida cotidiana e É comum a criança com deficiência
assimilarem formas conceituais mais intelectual não se sentir motivada
complexas. Assim pensando, a frequên- para os trabalhos escolares junto
cia periódica nas consultas médicas e com as demais crianças. Por quê?
por serem realizadas em consultórios, Qual a abordagem pedagógica mais
com atendimento individual da criança adequada para essa situação?
são dois fatores que não possibilitam Segundo Russo e Pereira (2021), os es-
ao médico fazer uma análise e um prog- tudos de Vygotsky e seus seguidores em
nóstico amplo quanto ao desenvolvi- relação a como explicar o desenvolvi-
mento e aprendizagem dessa criança. mento das crianças com deficiência, em
Em segundo lugar, a escola e a sala de especial com a deficiência intelectual,
aula são efetivamente os espaços mais apontaram para duas dimensões dialé-
indicados para esse trabalho coletivo e ticas deste processo: a dimensão pri-
colaborativo, considerando o fato de as mária e a secundária da deficiência da

79
criança: a primeira representada pelas as competências e as possibilidades
características biológicas, caracterís- que o aluno apresenta nesta interação,
ticas orgânicas específicas, como por ao invés “do que falta”, abrindo mão do
exemplo: aspectos neurológicos e/ou fi- treino de habilidades como recurso pe-
siológicos; e a dimensão secundária que dagógico, e valorizando suas experiên-
diz respeito à sua história, suas intera- cias reais e significativas.
ções e experiências com o meio físico
e social a que tem sido exposto duran- No planejamento das atividades e das
te a vida. Essa apreensão objetiva das mediações pedagógicas contar com
duas dimensões da deficiência propicia os recursos que a escola dispõe, privi-
conhecer a criança real: sua história, o legiando mudanças metodológicas em
contexto social e cultural de sua vida, sala de aula, que considerem as diver-
suas experiências exitosas de aprendi- sas formas e estilos de aprendizagem e
zagem e habilidades adquiridas, suas que favoreçam espaços para o exercí-
potencialidades cognitivas e adaptati- cio de sistemas simbólicos alternativos
vas, além de resgatar os caminhos que (diferentes formas de se trabalhar ima-
possam fortalecer sua autoestima e a gens, linguagens e registros), além dos
motivação para interagir e aprender. Do conteúdos formais. Mas os objetivos
ponto de vista da aprendizagem, obser- educacionais de todos os alunos (com
var a dialética dessas duas dimensões, deficiência ou não) devem ser os mes-
sem se fazer uma leitura reducionista de mos, tendo, como ponto de afinidade o
“causa e efeito” entre uma e outra, traz significado social desses conteúdos.
para o processo pedagógico inúmeras
possibilidades, como por exemplo, atra- Por fim, é necessário organizar um re-
vés da dimensão secundária, apoiar o gistro das ações desenvolvidas, como
aluno no desenvolvimento de novas ha- forma de avaliação do processo, que
bilidades, ou de reorganização de habili- possibilite apreender o nível de com-
dades já adquiridas, quer na esfera cog- preensão, de tomada de consciência e
nitiva quanto na psicomotora. de atribuição de sentido que essa crian-
ça dá às suas vivências, o que vale ser
Portanto, para o processo de inclusão observado para planejar e replanejar o
educacional dos alunos com deficiên- cotidiano escolar e as mediações ne-
cia, é mais importante focar nas rotinas cessárias, que resultarão em motivação
escolares e nas suas possibilidades de para a realização de tarefas e experiên-
interação com o meio social (dimensão cias, que estimulem os alunos, em espe-
secundária), do que nas manifestações cial aqueles com deficiência intelectual,
orgânicas da sua deficiência (dimensão a resgatar o prazer e contribuir para o
primária),tendo como ponto de partida fortalecimento da sua autoestima.

80
Descrição da Imagem: Uma jovem com
síndrome de down trabalha em uma farmácia.
Ela segura uma caneta e escreve em papel no
balcão da loja. Fim da descrição.

INCLUSÃO
ECONÔMICA
81
Se eu desligar um profissional com
INCLUSÃO deficiência tenho que contratar
ECONÔMICA outro com deficiência?
Sim, porém, a Legislação não prevê
uma estabilidade especial para o fun-
cionário com deficiência. No caso de
Sou funcionária pública e mãe
demissão, a Empresa deverá contra-
de uma criança portadora de
tar outra pessoa com deficiência para
mielomeningoncele e hidrocefalia.
o mesmo cargo ou função. Essa regra
Existe lei assegurando que eu
deve ser observada enquanto a Em-
trabalhe no mesmo horário em que
presa não tiver atingido o percentual
minha filha estuda? Além disso,
previsto em lei. Fora desse requisito,
ganho acima do limite que concede
valem as regras gerais que disciplinam
o salário-família. Ainda assim
a rescisão do contrato de trabalho (Lei
tenho direito a ele por ter uma filha
8.213/91).
deficiente?
O período de trabalho do funcionário
público, nos casos de comprovada ne-
cessidade, poderá ser antecipado ou Sabe-se que é necessário um
prorrogado. Assim dispõe o artigo 118 da acompanhamento mais próximo
Lei Estadual nº 10.261/68 (Estatuto dos dos colaboradores com deficiência
Funcionários Públicos do Estado de São para que estes se desenvolvam.
Paulo). A autorização para a adequação Qual seria a melhor forma/
de horários, porém, deve ser concedi- metodologia para que isto seja
da por seu superior hierárquico. Caso feito, sem que possa parecer
você trabalhe em outra unidade da fe- “protecionismo” por parte dos seus
deração, a regra pode ser distinta, pois respectivos gestores?
há legislações similares em vigor em Nem todos os profissionais com de-
outros estados e municípios. Quanto à ficiência necessitam de acompa-
concessão do salário família, se os seus nhamento específico permanente.
vencimentos ultrapassam o limite legal, Portanto, o período e a forma de acom-
não há obrigatoriedade de que lhe con- panhamento na integração do novo
cedam o benefício. Porém, nada impede funcionário com deficiência deverão
que você estude, com ajuda de assesso- ser avaliados já nas entrevistas de ad-
ria jurídica, a possibilidade de ingressar missão, juntando-se às recomenda-
com ação judicial para requerê-lo, ainda ções que o médico do trabalho even-
que seu salário seja um pouco mais ele- tualmente aponte. O acompanhamento
vado que o teto estabelecido. para a familiarização e execução das

82
tarefas propostas pela função ocupada ção de tarefas vinculadas às atividades
deverá levar em conta as habilidades que estão sob sua responsabilidade, e
necessárias e o repertório de experiên- as expectativas futuras em relação às
cias do novo funcionário, como ocorre suas entregas.
em qualquer contratação.
Do ponto de vista do funcionário com
Outro importante fator a ser observado deficiência, pesquisar suas dificulda-
é o processo de inclusão da pessoa com des diante das tarefas e do trabalho em
deficiência no ambiente corporativo, equipe, sua relação com a chefia e seus
que demanda preparo das lideranças, pares, além de suas expectativas em
dos gestores e das equipes inclusivas. relação à empresa e seu futuro. Dian-
Para isso é necessário se planejar um te de todas essas informações é possí-
processo de coaching a ser oferecido vel se montar um programa prático de
aos gestores envolvidos diretamente desenvolvimento e identificar metas
com as rotinas dos funcionários com e formas de medir o desempenho do
deficiência que, por sua vez, poderá funcionário. Com o plano pronto vale
garantir um acompanhamento mais o diálogo com as duas partes, chefia e
próximo a esses funcionários. Os pro- funcionário, para esclarecimentos, de-
fissionais de recursos humanos têm talhamento ao programa e a contrata-
papel relevante nesse processo, já que ção de um pacto de compromisso com
poderão oferecer apoio aos gestores. as metas propostas. Essas deverão ser
muito objetivas de forma a possibilitar
Para organizar esse acompanhamento o feedback e levantar pontos de melho-
de forma eficaz é necessário se fazer ria durante o processo.
um levantamento prévio das necessi-
dades da empresa e dos funcionários
com deficiência para se garantir aces- Que tipo de preparo é necessário
sibilidade e uma interação qualificada que a empresa execute
entre todos. E, para isso, é necessário para contratar pessoas com
que o gestor responsável pelo proces- deficiência?
so de inclusão na empresa, consiga A empresa deverá trabalhar, ao mes-
estabelecer um diálogo permanente mo tempo, nas seguintes situações:
com os gestores para apoiá-los com Organizar com a área de recursos hu-
informações e em relação ao mapea- manos da empresa o processo de se-
mento do perfil de competência do leção para pessoas com deficiência.
funcionário com deficiência, suas ex- Dentre outros aspectos, é importante
pectativas em relação ao desenvolvi- que assegure plena equiparação de
mento de seu potencial para a execu- oportunidades dos candidatos com de-

83
ficiência, em entrevistas, dinâmicas de soluções são simples e de baixo cus-
grupo, testes, utilizando, por exemplo: to. É importante que se leve em conta
acessibilidade do espaço; abordagens todos os instrumentos e técnicas com
acessíveis na interação com o candi- relação à acessibilidade para que esse
dato, como a presença do intérprete de profissional possa produzir e interagir
LIBRAS, ampliação ou transcrição de com seus pares de maneira plena.
textos em Braille etc.
É relevante que a empresa organize um
Ao mesmo tempo, é necessário veri- processo de formação para as lideran-
ficar as condições e os recursos de ças, gestores e equipes inclusivas, com
acessibilidade existentes no ambiente ações planejadas, com foco nas ques-
da empresa, assim como verificar, com tões voltadas à inclusão e à diversidade
especial cuidado, as adaptações ne- e às especificidades das deficiências.
cessárias nos postos de trabalho, a se-
Deve haver adequação das políticas de
rem ocupados pelos funcionários com
RH para a garantia de equidade para to-
deficiência. É importante frisar que os
dos os seus funcionários em relação ao
funcionários com deficiência devem
desenvolvimento profissional e de car-
circular por todo o ambiente da empre-
reira, remuneração e benefícios. É fun-
sa, sem restrição, uma vez que este é
damental para que se tenha uma efetiva
um dos pontos cruciais para a sua in-
política de inclusão na empresa, que os
teração com todas as pessoas, e para profissionais com deficiência tenham
promover um ambiente e uma cultura as mesmas oportunidades, direitos e
inclusiva na empresa. deveres que permitam o seu desenvol-
vimento profissional na empresa, con-
Também é necessário que se faça um
tribuindo efetivamente com resultados.
estudo relacionado à deficiência do
profissional contratado com as ativida- Por fim, deve haver investimento na
des que irá exercer, dando-lhe condi- prática de valores corporativos onde o
ções e conforto, de forma ergonômica convívio com a diversidade e o respeito
e segura. Por exemplo, é importante aos direitos humanos universais sejam
que um profissional com deficiência fí- efetivamente apreciados e praticados.
sica (paraplegia), que se locomove em Essa valorização deve abranger todos os
cadeira de rodas, tenha sua mesa de funcionários com diferentes estratégias
trabalho com altura adequada para que de abordagem e linguagens, conforme o
consiga fazer a aproximação frontal. público a ser atingido. O importante é
As adequações são diversas, mas não, que tais ações sejam perenes e que pas-
necessariamente, complexas e com sem a fazer parte de todas as políticas e
custo elevado. Em muitas situações as atividades da empresa.

84
Pensando na PCD contratada, quais realizada para todos os níveis hierárqui-
as atitudes básicas recomendadas cos da empresa. Essa atitude favorece
para que sua inclusão seja efetiva? a compreensão dos valores, objetivos e
metas adotados nesse processo, e as
Para as pessoas com deficiência con-
expectativas quanto aos resultados de
tratadas, é importante que elas tenham
seu desenvolvimento.
clareza da tarefa que vão desempenhar
e de que forma suas atividades estão Outra estratégia importante é disse-
relacionadas com a rotina da empresa minar entre os colaboradores as boas
e dos seus pares. Também é necessá- práticas já implantadas na empresa,
rio que ela entenda, de modo geral, o ressaltando seus pontos positivos e os
negócio da empresa, a sua atividade que precisam ser reavaliados e quali-
principal e os valores praticados no am- ficados, onde a transparência apare-
biente corporativo. Isso fará com que o ce como um recurso importante para
funcionário com deficiência desenvol- reafirmar valores envolvidos nesta ini-
va um sentimento positivo de pertenci- ciativa, assim como para estimular a
mento ao grupo e uma motivação para corresponsabilidade de todos com o
o trabalho, além de se comprometer resultado. Definir ou socializar com to-
com a geração de resultados. dos os colaboradores, os recursos in-
ternos de comunicação mais eficazes
Além disso, é importante que a equipe
a serem utilizados, ajustando-os no en-
responsável pela contratação e trei-
tendimento e atendimento das neces-
namento do novo funcionário com de-
sidades de acessibilidade das pessoas
ficiência tenha clareza sobre as habili-
com deficiência.
dades necessárias para o desempenho
das tarefas, e verificar a necessidade Além das informações coletivas é im-
de realizar um plano de desenvolvi- portante investir em orientações in-
mento individual para qualificá-lo para dividuais e grupais que possam gerar
o trabalho, e discutindo, com transpa- novos aprendizados, e maior seguran-
rência, as expectativas esperadas tan- ça aos profissionais envolvidos com
to pelo funcionário quanto pelo empre- as novas equipes inclusivas, como por
gador em relação à contratação. exemplos:

No que se refere ao processo de inclu- ƒ Para os recrutadores e seleciona-


são na empresa, é necessário se inves- dores, é fundamental que esses
tir em uma formação básica para todos profissionais de RH tenham no-
os funcionários, ao mesmo tempo em ções básicas sobre a legislação
que ocorrem as contratações de PCDs. específica do processo de inclu-
É fundamental que esta formação seja são social das pessoas com de-

85
ficiência, regras de convivência, Quando um funcionário com
postura flexível e predisposição deficiência sai em licença
para lidar com situações que en- (maternidade, doença, acidente
volvam contato com a diversida- etc.) por tempo determinado, devo
de. É relevante notar, no entanto, substituir por outra pessoa com
que a inclusão de pessoas com deficiência durante o período de
deficiência deve fazer parte de ausência?
um contexto amplo na empresa, Cumprida a cota, a empresa não é
prevendo ações que garantam obrigada a contratar empregado com
a sustentabilidade do processo, deficiência para o mesmo posto de
tornando-o perene e efetivo. trabalho ocupado anteriormente por
ƒ No caso das profissionais com de- pessoa com deficiência dispensada,
ficiência, após sua contratação, é nem a reintegrá-la, conforme
importante organizar um bom pro- entendimento da Subseção I de
cesso de integração desse novo Dissídios Individuais (SBDI-1) do
funcionário, que deverá ir além da TST no processo TST-E-RR 779-
sensibilização da sua equipe de 16.2012.5.03.0069, desde que a
trabalho. empresa tenha atingido o percentual
mínimo legal, conforme prevê o artigo
ƒ O funcionário com deficiência 93, §1oa Lei nº 8.213/91.
deverá contar com uma figura de
referência, que o acompanhe nas Mais informações:
suas atividades rotineiras, apoian- http://www.mte.gov.br
do-o em desafios eventuais na https://www.tst.jus.br
sua função, assim como apontar
ou discutir sobre oportunidades Quando contrato uma pessoa
que ampliem o seu potencial pro- surda, cega ou com deficiência
dutivo e de aprendizagem. intelectual preciso chamar os
ƒ A oferta de cursos generalistas, pais ou esposo (a) para participar
como informática ou atividades do momento da contratação
operacionais administrativas, são (assinatura do contrato de trabalho
bem-vindas como ferramentas e dos benefícios)?
complementares para o desen- O processo de recrutamento e seleção,
volvimento das atividades no tra- em alguns casos, pode sofrer altera-
balho, porém, estes sozinhos não ções para promover a equiparação de
garantem o sucesso do processo oportunidades de participação entre
de inclusão. os candidatos com e sem deficiência.

86
É importante observar dois aspectos compreensão do contrato, se o candi-
fundamentais: a avaliação do candi- dato conhecer e utilizar LIBRAS. Para
dato e a formalização do contrato. E, pessoas com deficiência intelectual, é
para isso, é possível que seja necessá- natural que o profissional tenha dificul-
rio modificar estratégias de avaliação, dade de compreender conteúdos mais
assim como as rotinas na contratação. complexos (característica já identifi-
Vale ressaltar que tais modificações cada no processo seletivo), e por isso
não implicam, de forma alguma, em pri- é necessária uma conversa cuidadosa,
vilégio ou proteção aos candidatos com esclarecendo todas as possíveis dúvi-
deficiência, mas permitir a eles uma das, além da presença do responsável
avaliação justa e precisa. Na avaliação legal pelo candidato, que possa pre-
do candidato, para conhecer e explorar senciar essa leitura e, se necessário,
o seu perfil de competências, o ideal é efetuar a assinatura do contrato
que ele participe do processo seletivo
da forma mais autônoma possível, sem
a presença de familiares. Deve-se levar
Qual o papel da instituição que
em conta que no ambiente de trabalho
ele precisará corresponder à expec-
prepara jovens para o mercado de
tativa de um comportamento adulto,
trabalho, quando se depara com
responsável e de resultados para a em-
um jovem capaz e a família nega
presa. Na formalização do contrato é
seu encaminhamento em virtude
importante que ele tenha amplo acesso
de receber BPC-LOAS?
ao conteúdo, tendo condições de co- O papel da instituição que prepara jo-
nhecer e compreender todos os seus vens para o mercado de trabalho é a de
aspectos, incluindo direitos e deveres. realizar a formação das pessoas com
Se for pessoa com deficiência visual ou deficiência, melhorando sua qualifi-
com visão subnormal, pode-se apre- cação profissional e estimulando seu
sentar o contrato utilizando recursos retorno à escola. Orientar as famílias é
tecnológicos, como leitor eletrônico, fundamental para garantir o pleno di-
ou imprimir o documento em braille ou reito de inclusão social para estes jo-
com os caracteres aumentados con- vens, trabalhando com a ansiedade e a
forme orientação do candidato. Além baixa expectativa dos pais em relação
disso, é importante que esteja presen- à independência e à inserção de seus
te uma pessoa de sua confiança para filhos no mercado de trabalho. Deve-
acompanhá-lo na leitura do contrato e mos reconhecer que é a família, junto
servir de testemunha. No caso de defi- com estes jovens, que deverão avaliar
ciência auditiva não deixar de contratar e estabelecer a escolha de competir no
um intérprete de Libras para auxílio e mercado de trabalho, ou não, mesmo

87
que nossa avaliação técnica demons- solidária, mas sim como o cumprimen-
tre todo o seu potencial. Portanto, cabe to de uma responsabilidade cidadã
aos profissionais das instituições de de garantir a equiparação de direitos
qualificação profissional disponibilizar fundamentais a essas pessoas, assim
informações que auxiliem neste pro- como a todos os brasileiros, conforme
cesso, tornando a família aliada nesta descritos na Constituição brasileira, na
conscientização de que com a Lei Fe- Convenção Internacional dos Direitos
deral 8213/91 – a Lei de Cotas, a pessoa das Pessoas com Deficiência, e na Lei
com deficiência pode ter uma carreira da Inclusão, n.º 13.146/2015, também
profissional plena, com realização e conhecida como o Estatuto da Pessoa
remuneração compatível com a qualifi- com Deficiência.
cação e a função exercida, e informá-la
de que o BPC- LOAS hoje é um benefí- As empresas com 100 ou mais funcio-
cio reversível, que poderá ser acessado nários têm a obrigatoriedade de contra-
como um seguro-desemprego. tar um percentual de profissionais com
deficiência. Essa normatização que foi
adotada no Brasil, também conhecida
Qual o papel da empresa ao como Lei de Cotas (Lei n.º 8213/91), é
contratar uma pessoa com uma ação afirmativa que oportuniza, à
deficiência? população com deficiência, o acesso
A razão de incluir pessoas com defi- ao trabalho e, com isso, a sua efetiva
ciência na empresa não deve ser com- inclusão na sociedade. Assim, por meio
preendida como uma suposta ação da prática da observância dessa lei, as

Descrição da Imagem: Dois adolescentes com


síndrome de down, um deles olha para o outro que
aponta os dedos para cima. Fim da descrição.

88
empresas exercem o seu papel social, Qual o efetivo papel das empresas
que deve ir além do cumprimento da lei. na questão educacional/
qualificação profissional de uma
Ao promover a inclusão de pessoas pessoa com deficiência?
com deficiência em seu quadro de fun- Na convenção sobre os Direitos das
cionários, a empresa está auxiliando Pessoas com Deficiência da ONU, que
na construção de uma sociedade que o Brasil foi signatário em 2007, o Presi-
dente Lula atribuiu força constitucional
deve ajustar-se à equidade de direitos
a este documento, por meio do Decreto
e deveres em relação a todos os seus nº 6949/09, em um gesto de total com-
cidadãos, promovendo a superação de promisso do governo brasileiro com as
barreiras sociais. A empresa funciona orientações contidas na Convenção,
como um núcleo social que promove e como por exemplo no artigo 27, que
trata da questão do trabalho e empre-
proporciona a convivência com as dife-
go, destacando-se:
renças, e a oportunidade de entrar em
contato e compreender suas contradi- 1. “Os Estados Partes reconhecem
ções, estigmas e preconceitos. o direito das pessoas com defi-
ciência ao trabalho, em igualdade
Contratando e estimulando pessoas de oportunidades com as demais
pessoas... Possibilitar às pessoas
com deficiência a desenvolver suas po-
com deficiência o acesso efetivo a
tencialidades no mercado de trabalho, a
programas de orientação técnica
empresa contribuirá para a garantia de e profissional e serviços de colo-
sua autonomia, independência finan- cação no mercado e de treina-
ceira, melhorando a sua autoestima, e mento profissional e continuado”.
viabilizando a construção de vínculos 2. “Promover o emprego de pessoas
de amizade, de companheirismo no com deficiência no setor priva-
ambiente de trabalho; e muitas vezes, do, mediante políticas e medidas
apropriadas, que poderão incluir
vínculos afetivos importantes. Assim,
programas de ação afirmativa, in-
as atitudes de superproteção familiar
centivo e outras medidas”.
tendem a diminuir, uma vez que pas-
Isto significa que, está implícito nesse
sam a observar mudanças positivas,
Decreto que cabe ao Estado promo-
bem como a superação de barreiras
ver ações no âmbito educacional para
sociais, dando espaço ao exercício da a efetiva inclusão da pessoa com de-
cidadania às pessoas com deficiência. ficiência no mercado de trabalho e na

89
vida comunitária, com pleno exercício Qual é a melhor forma de se
de sua cidadania. relacionar com pessoas com
deficiência?
Sabemos, porém, que este processo
Duas questões devem ser observadas
tem sido semeado, mas a boa safra de
para se relacionar respeitosamente
frutos ainda depende de investimento
com pessoas com deficiência, pois au-
contínuo do poder público para o ple- xiliam em todas as situações: primei-
no cumprimento de suas obrigações, ro, pergunte sempre antes de tomar
e para a reparação da exclusão social uma iniciativa se ela precisa de ajuda e
que boa parte desses brasileiros ainda se você pode ajudá-la em alguma coi-
padece. Com isso, o ciclo da pobreza e sa. Caso a pessoa responda que sim,
da exclusão não se rompe. pergunte como você pode ajudá-la. É
relevante notar que pessoas com de-
No entanto, é inegável que o movi- ficiência são, antes de tudo, pessoas
mento gerado pelo setor empresarial, e, portanto, como todos nós, poderão
para o cumprimento da lei de cotas, ser mais tímidas ou expansivas. Pro-
tem contribuído e muito para aumen- cure agir naturalmente, dialogando de
tar o índice de emprego dessa popu- forma amistosa como você faria com
lação, trazendo com isso movimentos qualquer outra pessoa.
de parceria pública – privada e do 3º
setor, para a qualificação rápida dessa
mão de obra despreparada. O retorno Quais são as principais formas
à escola e a educação formal dos jo- de abordagem para sensibilizar
vens e adultos com deficiência tem se gestores e quebrar eventuais
dado muito em função da motivação preconceitos e resistências para
pelo melhor emprego. a contratação de uma pessoa com
deficiência?
Assim, mesmo a empresa não sendo
Não há um padrão a ser seguido para
responsável pela oferta de cursos para
esta abordagem, pois ela deverá ser
a qualificação profissional dessa po- pensada em função das características
pulação, ela tem se destacado sobre- internas da empresa e do contexto so-
maneira na geração de soluções que
atendam a sua obrigação legal, e, por PARA SABER MAIS:
consequência, promovido a inclusão Consulte a íntegra da Convenção
social e efetiva das pessoas com defi- sobre os Direitos das Pessoas com
ciência no Brasil. Deficiência da ONU

90
cial em que ela está inserida. Em geral, de aprendizagem dos profissio-
as empresas organizam este processo nais com deficiência; a sociali-
de sensibilização com os gestores utili- zação de informações técnicas
zando as seguintes estratégias: relevantes ao tema. Com isso,
as boas práticas são refletidas
1. Palestras com depoimentos de e compartilhadas por todos, au-
pessoas com deficiência sobre xiliando na construção de novas
sua história de superação e re- soluções.
latos de situações cotidianas,
levando o grupo a refletir sobre Nessa formação é importante
as barreiras sociais que se es- também se fazer uma reflexão
tabelecem em relação à pessoa sobre a abordagem histórico-so-
com deficiência. Nessa aborda- cial do processo de exclusão-in-
gem, verifica-se a construção de clusão vivenciado pelas pessoas
uma percepção mais abrangente com deficiência, para que os
sobre o mundo dessas pessoas, gestores encontrem nesses per-
e a forma como a sociedade tem cursos as matrizes dos valores
lidado com esta situação. No en- a serem adotados em relação a
tanto, mesmo sendo largamente esta questão, e que dialoguem
adotada, essa estratégia mobili- com valores já praticados pela
za muito mais a dimensão com- empresa. É através da formação
portamental e emocional, sendo objetiva que será possível res-
insuficiente, e trazendo poucos significar e reformular valores,
instrumentos para o gestor em princípios éticos e institucionais,
relação ao monitoramento coti- que poderão posteriormente
diano do trabalho do funcionário contribuir para redirecionar suas
com deficiência. ações e seguir, de forma susten-
tável, com o processo corporati-
2. Processo formativo de coaching, vo de valorização da diversidade
a ser realizado individual e em no ambiente corporativo.
grupo de gestores, para viabili-
zar a troca de experiências e a 3. O programa interno de Trainee
busca de soluções compatíveis de funcionários com deficiên-
com o negócio da empresa. Esse cia, gerenciado pela área de
processo tem como focos: o re- Recursos Humanos, e que se
sultado das suas equipes na efe- responsabiliza pela primeira
tivação do processo de inclusão; formação generalista, de auxi-
o desenvolvimento do potencial liar administrativo, para aqueles

91
que estão iniciando no mercado
de trabalho.

A equipe de RH discute com o gestor o


perfil de sua área, e busca entre seus
Trainees para o processo de inclusão,
aquele que tem perfil e motivação com-
patível, incluindo o gestor em um pro-
grama de acompanhamento, com en-
contros individuais, e com a sua equipe,
para discutir os desafios do processo
de inclusão, receber formação e ce-
lebrar as conquistas. Desse processo Descrição da Imagem: Um homem
branco, sentado em uma cadeira de
desdobram-se as rotinas de avaliação rodas, trabalha em um escritório. Ele
de desempenho que definiriam a per- usa óculos, veste uma camisa branca
listrada e tem headfones que cobrem
manência ou não do funcionário na suas orelhas. Fim da descrição.
área. As boas práticas extraídas deste
processo devem ser largamente divul-
gadas na empresa servindo de endo- no Decreto nº 5.296/04, descritas nos
marketing para o processo de inclusão. limites e graus de comprometimento.
Para que se inclua um profissional na
Obs.: O livro citado a seguir traz suges- cota da empresa é necessário que ele
tões de encontros de formação para seja avaliado por um médico do traba-
sensibilização e aprofundamento dessa lho, que determinará sua inclusão ou
temática, em seus capítulos 6 e 7. “In- não nos critérios estabelecidos pela
clusão educacional, econômica e social Lei, que define:
das pessoas com deficiência: contribui-
ções do Instituto Paradigma”. Autoras: ƒ Para Deficiência Visual: ceguei-
Luiza Russo e Luiza Percevallis Pereira ra, na qual a acuidade visual é
– Canoas-RS; Editora Palavra Bordada, igual ou menor que 0,05 no me-
2021. lhor olho, com a melhor correção
óptica; a baixa visão, que significa
acuidade visual entre 0, 3 e 0, 05
Quais as deficiências que se no melhor olho, com a melhor cor-
enquadram na legislação que reção óptica; os casos nos quais
define as cotas? a somatória da medida do campo
Para o enquadramento na Lei de Cotas, visual em ambos os olhos for igual
as deficiências estão estabelecidas ou menor que 60º; ou a ocorrência

92
simultânea de quaisquer das con- ƒ Para a Deficiência Múltipla: asso-
dições anteriores. ciação de duas ou mais deficiências.

ƒ Para a Deficiência Auditiva: per-


da bilateral, parcial ou total, de Profissional com deficiência
quarenta e um decibéis (dB) ou pergunta: “Posso participar
mais, aferida por audiograma nas de recrutamento interno na
frequências de 500Hz, 1.000Hz, empresa?”
2.000Hz e 3.000Hz.
Trata-se de uma iniciativa saudável no
ƒ Para a Deficiência Física: altera- ambiente corporativo promover a opor-
ção completa ou parcial de um ou tunidade de todos, sem exceção, parti-
mais segmentos do corpo humano, ciparem nos processos seletivos inter-
acarretando o comprometimento nos. Os profissionais com deficiência
da função física, apresentando-se podem perfeitamente concorrer a va-
sob a forma de paraplegia, parapa- gas internas na empresa, caso preen-
resia, monoplegia, monoparesia, cham todos os requisitos técnicos e de
tetraplegia, tetraparesia, triplegia, segurança para tal cargo. Isso demons-
triparesia, hemiplegia, hemipare- tra amadurecimento da empresa, em
sia, ostomia, amputação ou ausên- relação ao processo de inclusão, uma
cia de membro, paralisia cerebral, vez que não há barreiras internas. Vale
nanismo, membros com deformi- lembrar que a vaga do profissional que
dade congênita ou adquirida, ex- será substituído por conta da mudança
ceto as deformidades estéticas e deverá ser também preenchida por ou-
as que não produzam dificuldades tra pessoa com deficiência, conforme
para o desempenho de funções. orientação prevista em lei.

ƒ Para a Deficiência Intelectual: Essa regra deve ser observada en-


funcionamento intelectual signifi- quanto a empresa não tenha atingido
cativamente inferior à média, com o percentual mínimo legal de sua cota.
manifestação antes dos dezoito Fora desse requisito, valem as regras
anos e limitações associadas a gerais que disciplinam este processo
duas ou mais áreas de habilida- na empresa. Neste aspecto é impor-
des adaptativas, tais como: Co- tante lembrar que os responsáveis
municação; Cuidado pessoal; Ha- pelo processo de seleção garantam
bilidades sociais; Utilização dos a acessibilidade necessária para que
recursos da comunidade; Saúde o candidato com deficiência desfru-
e segurança; Habilidades acadê- te, com equidade, de todas as etapas
micas; Lazer; Trabalho. deste processo.

93
Descrição da Imagem: Fotografia em plano fechado de
jovem com síndrome de down organizando produtos na
prateleira de uma farmácia. Fim da descrição.

Posso perguntar para o candidato ajuda, desde que tais levantamentos


com deficiência qual é a sejam relevantes para o processo de
deficiência quando ela não é tão inclusão desse profissional na empresa
visível? e na atividade que virá exercer.
Caso a deficiência não seja “visível”, não
A forma de se abordar a questão deve-
há nenhuma restrição em se perguntar
rá ser respeitosa, ética e clara na jus-
sobre sua deficiência, inclusive pelo
tificativa da pergunta. Portanto, neste
fato de que a pessoa terá de assinar um
caso, centre suas perguntas na aces-
termo de ciência que fará parte da cota
sibilidade, e como consequência nas
da empresa. Portanto, essa deficiência
suas necessidades pessoais de ajuda,
deverá ficar clara e documentada, com
e na maneira de estruturar a rotina de
base na legislação vigente, durante o
trabalho e facilitar a convivência entre
processo seletivo e de seu ingresso na todos, sem exposição e respeitando a
empresa, de uma forma ou de outra. privacidade, a autonomia e a autoesti-
ma do candidato com deficiência.

Posso perguntar como o candidato Posso convidar o profissional com


com deficiência vai à toalete? Não deficiência para participar de
é muita invasão de privacidade? treinamentos na empresa? O que
Não há problema algum em se pergun- preciso fazer para que dê certo?
tar a um candidato questões acerca É fundamental que os profissionais
de suas limitações e necessidades de com deficiência participem de todas

94
as atividades, reuniões, cursos, festas empresas encontrar profissionais
e eventos que são oferecidos aos de- com deficiência que possuam esco-
mais profissionais da empresa. Essa laridade, e a qualificação profissional
iniciativa deverá fazer parte das práti- adequada às exigências do merca-
cas de Recursos Humanos, garantindo do de trabalho. A tendência é de que
a equiparação de oportunidades para o nível educacional e de qualificação
todos. No entanto, é relevante que das pessoas com deficiência melhore
sejam previstos todos os recursos de no decorrer dos anos, uma vez que o
acessibilidade para que esses profis- acesso à educação formal e o número
sionais participem de todas as ações. de matrículas no ensino regular, em
Somente dessa forma, será possível todas as modalidades de ensino (fun-
compreender sua efetiva inclusão na damental, médio e superior), continue
equipe e na empresa. Sem que haja a aumentando conforme o censo es-
participação efetiva desses profissio- colar do MEC aponta. As instituições
nais, em todo contexto produtivo e de educacionais privadas ainda se movi-
desenvolvimento de pessoas da em- mentam timidamente neste desafio.
presa, ficará muito difícil avaliar o seu
real desempenho. Muitas empresas que contratam pes-
soas com deficiência promovem incen-
tivos para que continuem sua formação
acadêmica, ou mesmo organizam cur-
Onde estão os candidatos com sos, com orientação técnica e de car-
deficiência de boa escolaridade? reira, para alterar essa realidade.
Na área educacional, as dificuldades de
acesso à escola regular, à equiparação
de oportunidades, assim como o aces-
O transporte fretado deve possuir
so aos recursos pedagógicos aces-
características específicas para
síveis, têm contribuído para os altos
deficientes físicos, como apoios
índices de evasão escolar, e por con-
especiais, espaços reservados
sequência, a baixa escolaridade da po-
para pessoa em cadeira de rodas
pulação com deficiência. Dessa forma,
e plataformas mecânicas que
o ciclo da exclusão social e da pobreza
ajudam na entrada e saída do
ainda se repete recorrentemente, ape-
profissional?
sar da afirmação de que a educação é
um dos poderosos instrumentos para o A norma brasileira ABNT NBR 15320
rompimento deste ciclo. (30.01.2006) já estabelece os padrões
e critérios que visam proporcionar à
Portanto, ainda é um desafio para as pessoa com deficiência a acessibilida-

95
de ao transporte rodoviário, definindo A área de RH da empresa precisa
a possibilidade e condição de alcance estar alinhada com o médico
para a utilização do transporte, com do trabalho para determinar a
segurança e autonomia, e recomenda a aptidão do candidato para exercer
sua aplicação também nos veículos em suas funções com equiparação
circulação. de oportunidade, segurança e
ergonomia em seu posto de trabalho.
O transporte fretado deve possibilitar
as mesmas condições de acessibilida- No caso de o funcionário necessitar de
de que os transportes públicos: deverá atendimento médico ou tratamento,
dispor de Plataforma elevatória (plata- esta situação deverá ser gerenciada de
forma móvel) para o transporte vertical, acordo com a política que a empresa
cadeira de transbordo que visa permitir adota para qualquer funcionário, fun-
o deslocamento da pessoa com defi- damentada na legislação trabalhista.
ciência até o assento a ela destinado,
também deve ser previsto em caso de
inoperância dos dispositivos mencio-
nados acima, uma forma alternativa de
O que eu preciso fazer com os ter-
acessibilidade (a empresa de transporte
ceiros que prestam serviço na mi-
deve dispor de procedimentos e de pes-
nha empresa quando contrato uma
soal treinado para prestar auxílio de em-
pessoa com deficiência?
barque e desembarque com segurança).
Todas as empresas com mais de 100
No caso de falhas, os equipamentos de
funcionários devem cumprir a lei de
embarque e desembarque devem poder
cotas, independente do segmento em
ser acionados manualmente.
que atuem. Neste caso específico é
importante o diálogo com as empresas
terceirizadas, prestadoras de serviço,
O RH da empresa contratante tem incluindo a cooperação na formação
a responsabilidade de acompanhar dos funcionários para o planejamento
a evolução da pessoa com da prestação de serviços, abordando o
deficiência em seu tratamento/ trabalho do profissional com deficiên-
recuperação? cia e sua inclusão na empresa. Esta
Questões particulares do profissional estratégia também implica na garan-
com deficiência, inclusive tratamen- tia da acessibilidade, das adaptações
tos, deverão ser resolvidos de forma necessárias ao posto de trabalho e no
particular, sem envolvimento da em- monitoramento adequado por parte da
presa, como rotineiramente ocorre prestadora de serviços em relação às
com os outros funcionários. rotinas de trabalho do terceirizado com

96
a pessoa com deficiência, para que ela pessoa surda e sua equipe, e com seu
possa efetivamente realizar as tarefas gestor.
esperadas. O diálogo entre as empre-
sas deve promover o desenvolvimento O primeiro passo é fazer um diagnós-
de ações qualitativas inclusivas que tico de como e em quais condições
impactem no gerenciamento de pes- se estabelecem a comunicação deste
soas no ambiente corporativo. funcionário com seus pares e com as
lideranças. Também é importante ma-
pear o quanto a comunicação é fator
crítico de sucesso para a execução de
O que precisa ser observado suas tarefas, e para a sua socialização
na dispensa do profissional com seus pares.
empregado com deficiência?
Tendo todas as informações coletadas
Enquanto a empresa não atingir o per-
é necessário se desenhar um plano
centual mínimo legal de contratação de
de ação, que poderá inclusive contar
pessoas com deficiência, só poderá dis-
com a assessoria de um especialista
pensar um profissional com deficiência
da área para incluí-lo de forma efetiva
substituindo-o por outro profissional
na rotina de trabalho, com propostas
em condições semelhantes. Fora des-
e estratégias de comunicação acor-
se requisito, valem as regras gerais que
dadas e compartilhadas por todos da
disciplinam a rescisão do contrato de equipe e do profissional com deficiên-
trabalho, conforme art. 93 § 1º da Lei nº cia auditiva.
8.213/91. Além disso, é importante que
o desligamento ocorra fundamentado Essas estratégias, ou iniciativas cria-
em critérios de avaliação objetivos e de das para mediar e/ou facilitar a comuni-
conhecimento do funcionário cação de todos, não poderá, no entan-
to, ignorar o direito que a pessoa surda
tem de se expressar na sua própria lín-
gua – LIBRAS (Linguagem Brasileira de
O que devo fazer quando o
Sinais).
empregado com deficiência
auditiva se mostra alheio ao grupo/
equipe?
É necessário que se analise os motivos
O que devo fazer quando a pessoa
com deficiência chega sempre
pelos quais está ocorrendo essa alie-
atrasada?
nação. No entanto, é possível que tal
situação esteja se dando por conta de Os profissionais com deficiência de-
dificuldades de comunicação entre a vem seguir todas as regras e normas da

97
Descrição da imagem: Uma mulher branca,
com síndrome de down, está em uma mesa
de atendimento. Ela recebe das mãos de uma
atendente uma carteira de trabalho e um
documento de registro de identificação. Ao
fundo, jovens sentados em um banco aguardam
o atendimento. Fim da descrição.
98
empresa. Caso uma pessoa contratada as orientações, assim como as conse-
não esteja cumprindo tais determina- quências, no caso de se repetir o atraso.
ções, é essencial que o seu gestor con-
verse com ela, avalie os motivos pelos
quais tal situação esteja ocorrendo e
O enquadramento do profissional
oriente-a a seguir as regras da empre-
com deficiência deve ser feito
sa. É importante lembrar que algumas
pelo RH?
pessoas com deficiência não possuem
experiência ou um repertório prévio Não. O enquadramento nos requisitos
para os desafios no trabalho e na con- da Lei de Cotas, para efeito da contra-
vivência empresarial e agem segundo o tação de funcionários com deficiên-
que acreditam ser adequado. cia, deve ser realizado pelo médico do
trabalho, que desempenha um impor-
Questões relacionadas à hierarquia e tante papel nessa avaliação, poden-
cumprimento de alguns “protocolos so- do, inclusive, ajudar na adequação das
ciais” são alguns exemplos que ilustram suas características à função a ser de-
essa possibilidade. Isso ocorre por sim- sempenhada.
ples falta de experiência e de orienta-
ção. Garanta que o profissional esteja Ao reprovar um candidato para deter-
compreendendo a situação, e as even- minada função que não se coaduna
tuais consequências. com a sua deficiência, pode em con-
junto com o RH, orientar para outra
No caso do profissional possuir defi- colocação mais adequada, quando
ciência auditiva, por exemplo, tome possível. Caso ainda persistam dú-
medidas que assegurem a comunica- vidas quanto à contratação, a Supe-
ção, como por exemplo, intermedia- rintendência Regional do Trabalho e
da por um intérprete de LIBRAS, para Emprego é o órgão que, em última ins-
que sua mensagem esteja sendo com- tância, poderá orientar a empresa em
preendida. Ajude-o a organizar seus relação aos procedimentos adotados.
horários para garantir sua pontualida-
de, e avalie as opções e as condições
de seu acesso ao transporte público,
por exemplo. Muitas empresas justificam a não
contratação de pessoas com defi-
Com uma pessoa com deficiência inte- ciência pela ausência de profissio-
lectual, essa comunicação deverá ser nais capacitados ou qualificados.
feita, de forma simples e clara, com o Isso faz com que, em geral (e é a
funcionário e seu responsável, para percepção que se tem), vejamos
que se certifique que compreenderam muitos deficientes em posições

99
operacionais, como de atendimen- dos profissionais do RH para se-
to. Como vencer essa barreira da lecionar, contratar e desenvolver
qualificação? Como empresas, go- este público.
vernos e entidades podem abando-
ƒ Quanto aos gestores: dificulda-
nar esse cenário de desculpas? des para garantir a infraestrutura
e os recursos acessíveis neces-
Não se pode atribuir a responsabilida-
sários para incluir no ambiente de
de da inclusão econômica dos jovens e
trabalho a pessoa com deficiên-
adultos com deficiência apenas à edu-
cia.
cação formal, e nem tão pouco consi-
derá-la primordial para que a sociedade ƒ Quanto ao ambiente corporati-
também se torne inclusiva e igualitária. vo, há ausência ou inadequação
São muitos os atores envolvidos que de condições de acessibilidade e
interferem neste processo. Algumas de participação social. Há poucas
pesquisas selecionadas a esse respei- oportunidades para o desenvolvi-
to destacam alguns principais desafios mento profissional e de um plano de
a serem trabalhados e superados: carreira. A equiparação de salários
e, em alguns casos, a discriminação
ƒ Para as pessoas com deficiên- no ambiente de trabalho, por meio
cia: o isolamento, o preconceito de bullying, isolamento e rejeição
e a exclusão social; a ausência ou também são desafios atuais.
baixa escolaridade por dificulda-
ƒ Para as instituições especiais ou
des de acesso à educação formal;
especializadas: a inadequação
o despreparo profissional como
dos programas educacionais, de
consequência da baixa escolari-
treinamento profissional e social
dade e/ou ausência de experiên-
destinado ao público de jovens e
cias no trabalho formal e informal;
adultos; e a falta de diálogo com
a acessibilidade na mobilidade ur-
as empresas para o conhecimen-
bana e no transporte coletivo.
to das suas necessidades.
ƒ Para as empresas: quando a ini-
ƒ Para o governo: dificuldades para
ciativa pela contratação diz res-
promover o acesso ao ensino pú-
peito somente ao atendimento da
blico regular, em todas as moda-
Lei de Cotas e não a um projeto
lidades; a ausência de programas
inclusivo sustentável, contrata-
de qualificação profissional ade-
-se a deficiência e não a pessoa.
quados e acessíveis a estudantes
Neste caso, há falta de conheci-
com deficiência; a falta de trans-
mento sobre a realidade e o con-
porte público acessível; descom-
texto das deficiências por parte

100
passos entre a legislação vigen- Muitas empresas disponibilizam
te, direitos já conquistados, e a recursos financeiros específicos
implantação de políticas públicas e exclusivos para a contratação
efetivas que garantam a inclusão de pessoas com deficiência em
social e econômica de jovens e seu quadro de colaboradores
adultos com deficiência. (extraquadro-padrão). Quais os
impactos (positivos e negativos)
As empresas oferecendo cursos de ca- para a empresa que adotarem este
pacitação, focados nas suas demandas recurso?
operacionais, por conta da ausência de Este recurso exclusivo fica sob a res-
habilidades para o trabalho da popula- ponsabilidade do RH para administrá-lo
ção com deficiência, poderá contribuir em função do desenvolvimento do pro-
para a inclusão econômica desse públi- grama de inclusão da empresa. É pos-
co. No entanto, é necessária a retoma- sível se enumerar alguns dos aspectos
da da sua escolaridade e da educação positivos desse processo, como:
formal. A mudança deste quadro deve-
ƒ O RH poderá planejar suas ações
rá ocorrer a longo prazo, pois os dados
de seleção e contratação com ex-
do censo escolar do MEC têm apontado
pectativas mais claras e duradou-
para um número significativo de alunos ras, podendo planejar suas tarefas
com deficiência na educação básica. em relação a este processo a cur-
to, médio e longo prazo, contando
Mas é preciso que todos os setores en-
com um prazo mais estendido e
volvidos avaliem e adaptem sua atua- planejado para o processo de con-
ção, alinhando os seus objetivos, de tratação e de formação do novo
forma efetiva e responsável, à concre- funcionário, para o preenchimen-
tização de um ambiente mais inclusivo to de vagas existentes e de outras
e promissor para as pessoas com defi- futuras.
ciência. ƒ Para o profissional com deficiên-
cia contratado, sua ansiedade
Obs.: Outras informações a respeito des-
diminui, pois terá oportunidade
se tema podem ser encontradas no livro:
de conhecer a empresa de forma
“Inclusão educacional, econômica e so- planejada e orientada pelo RH, e
cial das pessoas com deficiência: contri- permitindo se levar em conta as
buições do Instituto Paradigma”. Autoras: expectativas e necessidades dos
Luiza Russo e Luiza Percevallis Pereira – candidatos e da empresa, em re-
Canoas-RS: Palavra Bordada, 2021 lação à organização de cursos de

101
capacitação, e outras estraté- é o descompromisso com a em-
gias, favorecendo uma integração presa, uma vez que esta assume
adequada nas diferentes áreas da mais um papel de patrocinadora
empresa. do curso do que de empregadora.

Há, também, alguns aspectos que po- ƒ Organizar o grupo extraquadro em


derão repercutir negativamente no atividades restritas a área de RH
ambiente das empresas, comprome- e apoio administrativo, manten-
tendo o processo de inclusão, como do-os em áreas diferenciadas da
exemplos: empresa, apartadas das rotinas
de todos os outros funcionários e
ƒ Trabalhar com a contratação com das metas de produtividade, ge-
vista apenas ao cumprimento da rando um sentimento de não per-
cota, onde se coloca o grupo de tencimento à comunidade corpo-
funcionários com deficiência em rativa, e sim de “um prestador de
permanente treinamento, sem serviço terceirizado”.
conclusão de um processo na
Todas essas situações descritas aci-
ocupação de um posto de traba-
ma poderão trazer consequências sé-
lho nas áreas da empresa à médio
rias para a empresa do ponto de vis-
prazo. Isto é, o funcionário com
ta de reclamações trabalhistas, pois
deficiência é colocado em um
poderão configurar assédio moral e
processo de treinamento sem um
discriminação, mesmo a empresa afir-
prazo de conclusão, mas, ao mes-
mando que estas estratégias fazem
mo tempo, a empresa poderá con-
parte do processo de treinamento do
tabilizá-lo para o cumprimento da
funcionário contratado. Assim como,
lei de cotas. Essa medida pode-
em circunstâncias normais, as pes-
rá gerar desmotivação por parte
soas com deficiência trocam infor-
desses profissionais.
mações e o mercado avalia as empre-
ƒ Contratar o grupo de funcionários sas que se comportam dessa forma.
com deficiência (extraquadro) e Entretanto, muitas têm dificuldades
terceirizar sua formação, deixan- reais de continuar contratando novos
do-os por longos períodos em profissionais com deficiência, colo-
formação fora da empresa, mas cando em risco a sustentabilidade do
poder contabilizá-lo para o cum- seu processo, ou ainda tornarem-se,
primento da Lei de Cotas, deixan- apenas, um “centro de treinamento”
do-os alienados da rotina da em- para outras empresas, gerando um
presa e de sua futura posição. O turnover inconveniente para a empre-
sentimento que gera neste grupo sa que adote esta estratégia.

102
Existe cota prevista também para
Programas de Estágio?
Sim. Há uma Legislação específica so-
bre Estágio (Lei nº 11.788/08) que as-
segura às pessoas com deficiência o
percentual de 10% das vagas ofereci-
das pela empresa. O número máximo
de estagiários em relação ao quadro de
pessoal das organizações concedentes
de estágio deverá atender às seguintes
proporções: De 1 (um) a 5 (cinco) fun-
cionários: 1 (um) estagiário. De 6 (seis) a
10 (dez) funcionários: até 2 estagiários.
De 11 (onze) a 25 (vinte e cinco) funcio-
nários: até 5 (cinco) estagiários. Acima
Descrição da Imagem: Jovem com síndrome de
de 25 (vinte e cinco) funcionários, até down está em um escritório. Ele usa camiseta
20% de estagiários. (Fonte- CIEE: Cen- preta e apoia um dos braços em uma mesa de
trabalho. Fim da descrição.
tro de Integração Empresa- Escola).

quer outro funcionário, o profissional


com deficiência busca na sua ativida-
Como reter os profissionais com de profissional o reconhecimento e as
deficiência, considerando nosso
oportunidades de crescimento pes-
contexto de varejo (salários mais
soal e profissional. Quando encontram
baixos do que as áreas de serviço e
um bom clima de trabalho e motivação
da indústria, trabalho nos finais de
para prosseguir em seus objetivos fu-
semana e feriado etc.)?
turos a regra geral é pela permanência
De fato, o aquecimento da oferta de no emprego. É certo também, que há
emprego para as pessoas com defi- pessoas com deficiência que colocam à
ciência qualificadas, em função do disposição do mercado a sua deficiên-
cumprimento da Lei de Cotas, trouxe cia como moeda de troca e com isso,
para as empresas o desafio de cuidar repetem um comportamento que, com
do turnover interno e buscar, por meio certeza em médio prazo, deverá gerar
de pacotes de benefícios, manterem- o desemprego. As empresas, assim
-se atrativas para essa população. No como as pessoas, trocam informações
mercado do varejo não é diferente. No e conseguem identificar e reconhecer
entanto, vale ressaltar que, como qual- causas e efeitos deste atual contexto.

103
Como preparar uma equipe de de trabalho, é importante descrever,
trabalho para receber uma pessoa em detalhes, para o novo funcionário,
com deficiência? as suas tarefas; além de proporcio-
nar vivências em situações concretas,
É fundamental que a equipe que irá
para a garantia da compreensão de
receber um colega com deficiência
todo o processo e de suas responsabili-
disponha de informações que auxiliem
dades. Pode ser necessário, solicitar às
na compreensão da estratégia da
chefias imediatas destes funcionários
empresa em relação à contratação
o detalhamento dessas tarefas por es-
das pessoas com deficiência, tomando
crito, no formato de “manuais”, ou “che-
contato com o contexto mais amplo
cklists” acessíveis, para auxiliar na or-
deste processo. O gestor deve reunir
ganização de suas rotinas de trabalho.
sua equipe e explicar todas as etapas e
características do processo de inclusão
Algumas diretrizes específicas, em re-
da empresa, suas justificativas e
lação às deficiências:
objetivos, informando a todos sobre os
detalhes específicos básicos relativos ƒ Pessoa com Deficiência Física:
às deficiências e ao processo de Detalhar e planejar as necessi-
inclusão no ambiente de trabalho, além dades de suporte e acessibilida-
de planejar com a equipe, as rotinas de para seu deslocamento com
desses novos funcionários. autonomia na empresa; assim
como a adequação ergométrica
É importante que todos compreendam do local de trabalho. Caso a pes-
que este novo funcionário é parte inte- soa com deficiência física tenha
grante da equipe, precisando ter asse- sua dicção, ou fala afetada, como
gurado as condições de acessibilidade ocorre em alguns casos de para-
no ambiente de trabalho, estímulo para lisia cerebral, verificar formas de
seu desenvolvimento interno e profis- comunicação que a pessoa cos-
sional, e a valorização de suas compe- tuma utilizar, como a escrita, ou a
tências e habilidades, sem ser preteri- comunicação alternativa (progra-
do ou privilegiado. mas específicos em computado-
res, tábuas de comunicação etc.).
No caso de o funcionário com deficiên-
cia estar em tratamento, médico ou de ƒ Pessoa com Deficiência Auditi-
reabilitação, verificar as possibilidades va: Mesmo que se utilize da leitura
de organizar sua agenda sem que esta labial (leitura oro facial) também
interfira nos horários e nas suas obri- poderá recorrer à escrita, ou à LI-
gações na empresa. Na fase de integra- BRAS como complemento na sua
ção e treinamento para as atividades comunicação. Há ainda aquelas

104
pessoas surdas que se comuni- poder orientá-lo na localização dos
cam somente em LIBRAS. espaços em que irá circular inter-
namente, na posição do mobiliário,
ƒ Para facilitar a comunicação é ne-
e na disposição das pessoas com
cessário um diálogo franco entre
quem irá interagir.
o gestor responsável pela con-
tratação e seu novo funcionário, ƒ Nas primeiras semanas de traba-
buscando superar qualquer bar- lho deve contar com um parceiro
reira nesta interação. Outra reco- que o auxilie no deslocamento da
mendação importante é a contra- entrada da empresa até seu posto
tação de um intérprete, que possa de trabalho, e outras áreas (refei-
ensinar LIBRAS aos interessados tório, banheiros etc.), descreven-
e aos parceiros diretos de traba- do os ambientes e o apresentan-
lho, ampliando a interação social do-o aos outros funcionários, até
do funcionário com deficiência que se habitue e reconheça os
auditiva, tanto nos momentos de trajetos, e passe a circular com
treinamento, nas parcerias de tra- autonomia.
balho, quanto em certas ocasiões
especiais, como grandes reuniões ƒ O mesmo procedimento deve ser
ou comemorações. feito quando estiver acompanha-
do de cão-guia, que não deve ser
ƒ Pessoa com Deficiência Visual: É distraído com afagos ou brinca-
importante conhecer o histórico deiras, mas deve ter um espaço
da deficiência: sea pessoa nasceu físico próximo ao seu dono. Em
cega ou se perdeu a visão poste- relação às informações que o
riormente. Pessoas que perderam novo funcionário deva conhecer é
a visão, mas que já tiveram a expe-
interessante que se deixe disponí-
riência de enxergar anteriormente
vel na intranet, ou através do seu
possuem memória visual, o que
e-mail, além de se garantir um ca-
facilita a compreensão de aspec-
nal direto com seus parceiros ou
tos visuais do cotidiano (conceito
chefia para tirar dúvidas.
de cores, memória espacial e de
imagens etc.).Verificar a habilida- ƒ Pessoa com Deficiência Intelec-
de do candidato na orientação es- tual: Dependendo do seu grau de
pacial em novos ambientes, de que autonomia poderá ser necessário
tipo de recursos necessita, e com ter um responsável pela sua in-
quem poderá contar para a descri- tegração no trabalho e na equipe
ção do novo ambiente (preocupan- ou em situações fora da sua roti-
do-se com a segurança); e assim na, caso necessite. Atentar para a

105
observação de seu nível de com- questão do transporte de forma indivi-
preensão das regras estabeleci- dual. Existem programas de isenção de
das, suas iniciativas, autonomia e impostos na compra de carros novos
maturidade diante do grupo, sua para pessoas com deficiência: pes-
resiliência diante de dificuldades soas com deficiência física habilitados
e capacidade de lidar com frus- a dirigir tem direito as isenções do IPI,
trações. Utilização de linguagem ICMS, IOF E IPVA. Em São Paulo estão
clara, mas não infantilizada. desobrigados do rodízio municipal de
veículos. Portanto, a empresa não tem
obrigação de fornecer um transporte
Como lidar com pessoas com particular para o deslocamento de casa
deficiência que, embora se ao trabalho.
candidatem a uma vaga requerem
da empresa um transporte
particular na porta de sua casa?
Como lidar com pessoas com
A responsabilidade pela acessibilida-
deficiência que têm uma
de do transporte público é do poder
fragilidade emocional, seja
público, as empresas devem sempre
por abandono social ou por
solicitar que a linha de ônibus, trem ou
superproteção da família, e fazê-la
metrô próximos de sua localização se-
superar as pressões cotidianas no
jam assistidas quanto a acessibilidade,
ambiente de trabalho e, além de
na medida em que o projeto corporati-
ajudá-las a serem mais produtivas,
vo para a inclusão de funcionários com
serem também felizes no trabalho?
deficiência se estabeleça. Denúncias
ao Ministério Público podem acelerar o Uma maneira de lidar com questões
processo de resposta dos órgãos públi- emocionais que comprometem o de-
cos. Quando as empresas já oferecem sempenho profissional é o processo de
transporte fretado para seus funcio- coaching individual ou em grupo. Nes-
nários devem prever a acessibilidade se processo, a pessoa pode construir
para os colaboradores com deficiência, um papel profissional adequado con-
como equidade de direitos nas suas tando com o apoio do gestor respon-
políticas internas. Neste caso a empre- sável que poderá acompanhar de perto
sa fornecedora do transporte para os este processo, estabelecendo metas e
funcionários deverá garantir que este alguns combinados com o funcionário,
transporte seja adaptado. Este é um de forma a poder avaliar as caracterís-
importante critério nos contratos de ticas de mudança que se apresentam
prestação de serviço. O candidato com ao longo de um determinado período,
deficiência também pode resolver a verificando assim, as reais condições e

106
Descrição da Imagem: Dois jovens com
deficiência intelectual, sentados em um banco,
olham atentos para as carteiras de trabalho e
documentos de identificação. Fim da descrição.

potencialidades deste funcionário para saúde, principalmente nos dois primei-


o exercício de sua função. ros anos após a aquisição da deficiên-
cia. Passado esse período, é necessário
que haja uma adequação com relação
Como lidar com as limitações
às limitações impostas pela deficiência
físicas ou de saúde do profissional
com deficiência, já que existem (incapacidades), visando o não agrava-
tipos de deficiência que geram mento do seu quadro de saúde. O mé-
necessidade de cirurgias, dico do trabalho, nesta fase, está per-
afastamentos longos, que feitamente habilitado para recomendar
interferem diretamente no
sobre cuidados quanto a doenças ocu-
desenvolvimento destas pessoas?
pacionais etc. É necessário sempre ob-
A CLT rege as condições de trabalho
para qualquer profissional, incluindo servar as condições de acessibilidade
os que possuem alguma deficiência. e adaptações necessárias ao posto e
É importante que não se generalize às atividades de trabalho, para que se
as situações, pois um jovem ou adulto
estabeleçam condições de qualidade
que adquiriu uma deficiência, seja por
doença ou acidente, necessita de uma de vida e o pleno desenvolvimento do
intensidade maior de intervenções de potencial produtivo deste funcionário

107
Como dou feedback para uma com relação a esse profissional. Outro
pessoa com deficiência da aspecto fundamental é a garantia da
minha equipe que está com o acessibilidade da comunicação, de for-
desempenho abaixo do esperado? ma a garantir o sucesso do processo.
O feedback deve ser realizado da mes- Nos casos de deficiência intelectual
ma forma que é feito com os demais deve-se exemplificar as críticas e pro-
funcionários, porém o gestor do pro- por alternativas claras e viáveis para o
fissional com deficiência deve ter pas- profissional em questão. Nas demais
sado por um processo de formação e deficiências (física, visual e auditiva)
orientação onde aprendeu a lidar de não há adequações na abordagem do
forma natural, e sem estigmas ou pre- feedback. Em linhas gerais, é impor-
conceitos, com as necessidades des- tante verificar a equiparação de opor-
te funcionário. Esse processo garan- tunidades no desempenho da função
tirá que o gestor se sinta mais seguro de forma a eliminar barreiras que pos-
na abordagem, orientação e cobrança sam interferir nos resultados do traba-

Descrição da Imagem: Dois homens trabalham em


um escritório. Em primeiro plano, uma pessoa com
deficiência visual usa fone de ouvido em frente ao seu
computador. O outro, ao fundo, está de costas, sentado
em uma cadeira de rodas. Fim da descrição.

INCLUSÃO ECONÔMICA 108


lho. Além disso, é importante lembrar sim direto nas explicações, sem criar
que, para se implantar um processo de dúvidas ou falsas expectativas. Apenas
feedback produtivo, respeitoso e com- dizer que algo não deu certo, ou não
prometido com o desenvolvimento das está funcionando, de modo genérico e
pessoas, é necessário estabelecer me- sem comentários consistentes, deixa
tas e objetivos claros de trabalho, ese o feedback sem sentido. É necessário
valer de um instrumento de avaliação argumentar e exemplificar com fatos
que acompanhe objetivamente cada objetivos, e apresentar sugestões de
etapa da rotina funcional da pessoa a como o processo de trabalho realizado,
ser avaliada. por exemplo, pelo profissional com de-
ficiência poderia ter tido um resultado
Desta forma, no processo de feedba-
melhor. Também é necessário lembrar
ck é importante que o funcionário com
de realizar uma análise sistêmica de to-
deficiência receba de forma respeitosa
das as variáveis para que não se perso-
e clara o detalhamento de suas habili-
nalize as inadequações, e se estabele-
dades, dificuldades e os novos desafios
ça um diagnóstico simplista, de causa
a serem vencidos, tomando consciên-
e efeito, nestes casos.
cia de suas responsabilidades e das
expectativas que a chefia e seus pares
depositam nele.
Como devo proceder quando
É importante, por meio de um diálogo há choque entre a Política da
claro, objetivo e ético, tratar-se de to- Companhia e a legislação?
dos esses aspectos para que, quando Exemplo: aqui na empresa há
for preciso organizar um feedback em uma regra na política em que
conjunto com os outros funcionários não podemos criar guetos, fazer
da equipe, que todos reconheçam suas distinção entre um e outro etc.,
dificuldades e seus pontos fortes, com No entanto, quando marcamos
base nos acordos tratados com o seu uma vaga para incluir pessoas
gestor e a equipe responsável pelas com deficiência, caímos no
equipes inclusivas na empresa.
preconceito ao contrário. Como
lidar com esta situação?
Dadas as condições de acessibilida-
de mencionadas acima e de acompa- As empresas devem considerar como
nhamento constante do funcionário, fatores críticos de sucesso para a sus-
o processo de feedback deverá trans- tentabilidade de seus produtos e ser-
correr nas mesmas bases e na mesma viços o respeito e a convivência com a
periodicidade dos outros funcionários. diversidade e diferentes culturas. In-
O feedback não pode ser genérico e corporar o cumprimento da Lei de Co-

109
tas é um desafio que exige um esforço potencializem uma sinergia, que valori-
e ampliação da leitura do ambiente ex- ze a interação entre os grupos, consi-
terno, sem buscar somente alternati- derando as suas diferenças.
vas internas da própria experiência da
empresa nos desafios que está acos- Outra possibilidade interessante é con-
tumada a gerenciar. tar com a colaboração permanente dos
funcionários com deficiência nas ativi-
Do ponto de vista prático a empresa dades de avaliação e de gestão do pro-
não pode se omitir ao cumprimento e cesso inclusivo no ambiente corporati-
diretrizes legais sem, porém, revisitar vo, trazendo uma visão mais concreta
suas bases de valores e princípios de dos desafios a serem superados e for-
governança. Neste caso, na prática, talecendo os acertos conquistados.
seguindo seus valores e princípios ali-
nhados ao desafio da inclusão social
das pessoas com deficiência, é neces-
sário que se faça um estudo detalha- Como a empresa e seus
do, que identifique as suas potenciali- respectivos gestores podem
dades, e ao mesmo tempo, promova a intermediar a transformação e
acessibilidade de seu ambiente inter- desenvolvimento do profissional
no, chegando até aos postos de tra- com deficiência, frente a uma
balho, para se garantir a eficiência e possível realidade familiar
os resultados esperados no processo assistencialistas/paternalista?
corporativo para a inclusão dos profis-
No percurso histórico das pessoas
sionais com deficiência.
com deficiência no Brasil, existe um
Essa avaliação do ambiente interno ciclo ainda difícil de romper que é o da
da empresa e dos postos de trabalho, pobreza, do assistencialismo, e da ex-
entretanto, deverá ser feita para todas clusão social. Muitas medidas afirma-
as oportunidades de vagas, evitando a tivas por parte do governo promove-
identificação daquelas determinadas ram mudanças neste cenário; mas em
para as pessoas com deficiência, uma via-de-regra, ainda encontramos no
vez que poderá ser considerado um senso comum da sociedade a visão da
ato de discriminação. fragilidade, do desamparo e da incom-
petência como formas de se adjetivar e
Além disso, é necessário, portanto, explicar as pessoas com deficiência.
que os colaboradores com deficiência
sejam tratados como parte integrante Neste contexto, é natural que as famí-
da comunidade corporativa, onde as di- lias, por um mecanismo de proteção
ferenças não sejam acentuadas, e sim desse indivíduo, passem a isolá-lo, refe-

110
rendando sua dependência para intera- siões apropriadas, a oportunidade de
gir com o mundo. Com base nesse histó- conhecer o ambiente de trabalho de
rico e somado o ciclo de pobreza que, na seus filhos e, se possível, contar com
maioria dos casos se repete, o Estado outras famílias de funcionários com
vem cuidando dessa população em risco deficiência para trocarem experiências
social promovendo, por exemplo, o be- e expectativas em relação à nova fase
nefício da aposentadoria por invalidez, da vida de seus filhos.
onde tal recurso passa a complementar
a renda da família, representando uma
ajuda significativa para essa família em
face de sua atual condição. Qual legislação faz referência
às pessoas com deficiência
Assim, é compreensível muitas vezes em concursos públicos? Que
a dúvida da pessoa com deficiência e providências podem ser tomadas
de seus familiares se devem abrir mão para que esses direitos não sejam
deste benefício, mesmo agora que já burlados? Cito o exemplo do
se conta com dispositivos legais que concurso público que não prevê
garantam que a pessoa com deficiên- vagas no edital, é para o cadastro
cia poderá renunciar a ele quando es- de reservas e quando surge a vaga,
tiver empregado e resgatá-lo como um o edital ainda prevê que 5% ou 10%
seguro-desemprego. No entanto, ainda das vagas que “existirem” ou “vierem
assim há aqueles indivíduos que prefe- a existir” serão destinadas à pessoa
rem concorrer ao mercado de trabalho com deficiência. O que fazer?
e empregar-se, e a relação de depen-
A Lei Federal nº 8.112/90, no parágrafo
dência com a família não se rompe por
2º de seu artigo 5º dispõe que às pes-
este motivo.
soas com deficiência é assegurado o
direito de se inscrever em concurso
De fato, é necessário fortalecer a au-
toestima deste profissional, princi- público para o provimento de cargo
palmente expondo-o a experiências cujas atribuições sejam compatíveis
positivas de trabalho, contando com com a deficiência de que são porta-
o apoio do gestor e equipe. Trabalhar doras, sendo certo que a reserva de
a ansiedade e a insegurança, do pro- vagas poderá alcançar o percentual de
fissional em relação a viver situações até 20% das vagas oferecidas no con-
novas, mostrando que a situação está curso. O Decreto Federal nº 9.508/18
planejada e ele poderá contar com seus regulamenta a forma como a reserva
parceiros de trabalho como apoio. deve ser feita, estabelecendo percen-
tual mínimo da reserva em 5% do total
Proporcionar aos familiares, nas oca- de vagas disponíveis. Caso a divisão

111
das vagas resulte em um número fra- A Inclusão econômica da pessoa com
cionado - não importando que a fração deficiência nas empresas é uma rea-
seja inferior a meio –, impõe-se o arre- lidade, conquistada pela Lei 8.213/91,
dondamento para cima. também conhecida por Lei de Cotas,
onde empresas que têm de 100 a 200
Pela leitura do trecho do edital que empregados ou mais, devem reservar
você destaca parece que os requisitos um percentual, de 2% ou mais, de suas
mínimos estão cumpridos, uma vez que vagas para as pessoas com deficiência.
o edital prevê a reserva de 5% a 10%
de todas as vagas que existirem (isto Do lado das empresas, e dos potenciais
é, as disponibilizadas pelo Edital) e as empregadores, há uma grande oportu-
que vierem a existir (entendidas como nidade de se experimentar significati-
aquelas que vierem a ser disponibiliza- vas mudanças de valores e da cultura
corporativa, que deverá absorver a di-
das no prazo de validade do concurso).
versidade como um foco comum. Não é
Caso não concorde com os termos do
possível realizar uma comparação dire-
edital você pode procurar o Ministério
ta entre as contratações no Brasil com
Público do Trabalho ou ajuda de advo-
outros países, pois o sistema de cotas
gado para contestá-la.
tal como está estruturado no Brasil não
é um único modelo-padrão utilizado,
uma vez que cada país escolhe o padrão
Quanto representa na economia que mais se adéqua às suas condições.
a inclusão de pessoas com
deficiência nas empresas?
É possível comparar a série Quais dicas o Instituto Paradigma
brasileira com a de outros países? daria para a dificuldade em
Segundo o censo do IBGE/2010, 23% da encontrar parceiros e consultores
população brasileira apresenta algum em inclusão econômica em
tipo de deficiência. Portanto, sua repre- outras cidades brasileiras?
sentatividade para a economia brasilei- Diferentemente de São Paulo,
ra não pode ser ignorada, uma vez que, em outras cidades é muito difícil
potencialmente, também são consumi- encontrar pessoas que deem
dores e pagadores de impostos. Ao con- suporte na contratação e retenção
trário, quanto maior for sua exclusão so- de profissionais com deficiência
cial e a dos processos produtivos, maior Uma alternativa é que a empresa procu-
será o passivo social significativo para a re a Superintendência Regional do Tra-
sociedade brasileira. balho e Emprego (SRTE) de cada Estado

112
pedindo referências acerca do processo auditiva que tenha vontade de ser
de inclusão econômica na região. Outra repórter?
opção é procurar as associações e con-
selhos municipais e estaduais de apoio É fundamental que a empresa de jor-
às pessoas com deficiência de cada re- nalismo ofereça a seus profissionais
gião. As Regiões Sul e Sudeste do Bra- condições de equiparação de oportuni-
sil oferecem maiores serviços de apoio dades por meio da acessibilidade, além
à inclusão de pessoas com deficiência, das ajudas técnicas necessárias no
e contando hoje com a internet, é pos- ambiente de trabalho para o exercício
sível se estruturar uma supervisão on- da profissão de jornalista. É importante
line para a implantação do processo de que o profissional com deficiência seja
inclusão, além de articular outros recur- ouvido para que a empresa saiba como
sos locais. Além disso, nessas regiões, auxiliá-lo a exercer suas atividades de
OSCIPs e ONGs que já dispõem de ser- forma plena. A acessibilidade deve ser
viços de consultoria em outros Estados, compreendida não apenas como a eli-
apoiando a empresa na organização de minação das barreiras arquitetônicas,
seu projeto local. Assim como a empre- mas também as de comunicação, pre-
sa faz um planejamento detalhado an- vendo a apresentação da informação
tes de iniciar qualquer atividade nova, em formatos alternativos, quando ne-
o mesmo princípio deverá ser adotado cessário. A tecnologia oferece várias
nestes casos. Fazer um bom mapea- soluções para inúmeros tipos de limita-
mento dos recursos e serviços disponí- ções. Existem mouses especiais para
veis no local onde a empresa está ope- pessoas com mobilidade reduzida nas
rando, e dos outros recursos externos, mãos, softwares e recursos de aderên-
cia às teclas para facilitar a digitação
é um ótimo começo para a identificação
de pessoas com dificuldade na coor-
de parceiros para o projeto.
denação motora e até editores de tex-
to comandados por voz. A pessoa com
deficiência física, geralmente, conse-
A profissão de jornalista exige gue realizar todas as atividades do dia a
certa agilidade para se movimen- dia do jornalismo com autonomia, des-
tar e se locomover e facilidade de de que os ambientes sejam acessíveis.
expressão e comunicação. Que Nestes casos, também é importante
providências devem ser tomadas considerar o ambiente interno de tra-
em uma empresa de comunicação balho, como a distância mínima neces-
para incluir em seu quadro de fun- sária entre os mobiliários para garantir
cionários um jornalista com defi- a livre circulação à pessoa em cadeira
ciência motora ou com deficiência de rodas na empresa, e avaliar as es-

113
tratégias necessárias para se garantir Fantástico da Rede Globo, Cid Torqua-
atividades externas. tto, da CBN, Geraldo Nunes, da Rádio
Eldorado; dentre outros).
A tecnologia tem facilitado muito a vida
das pessoas com deficiência auditiva no Pensar nas pessoas com deficiência
mundo dos sons. Relógios, despertado- participando das nossas rotinas de tra-
res vibratórios, o uso de mensagens de balho é muito novo para nós. O convívio
texto via celular, os recursos do e-mail e entre pessoas com e sem deficiência
dos softwares de comunicação instan- propõe o exercício da cooperação e da
tânea têm facilitado a interação entre troca de ideias, na busca de soluções
pessoas com deficiência auditiva e ou- para resolver ou minimizar as dificulda-
vintes. Utilizando também, em algumas
des e os novos desafios.
situações, o auxílio de um intérprete de
LIBRAS a função de repórter pode ser
exercida por uma pessoa com deficiên-
cia auditiva com equiparação de opor- Posso contratar, para a vaga
tunidades. A informática entrou na vida disponível, uma pessoa com
das pessoas cegas e com baixa visão qualquer tipo de deficiência?
como um poderoso meio de comunica-
De um modo geral toda vaga de traba-
ção, abrindo um horizonte infinito de in-
lho pode ser ocupada por pessoas com
formação, educação, cultura e mercado
deficiência, com graus variados de
de trabalho.
adaptação e a utilização de ajudas téc-
Com os editores de texto, leitores de nicas necessárias.
tela e sintetizadores de voz conjuga-
Deve-se fazer uma análise das ativida-
dos, as pessoas cegas e com baixa vi-
des e responsabilidades detalhando-se
são ganharam a possibilidade de ler,
claramente as habilidades necessárias
escrever e trocar e-mails, ler com total
independência qualquer jornal, revis- e as expectativas de resultados. Para-
tas, livros scaneados, e navegar pela in- lelamente deve-se construir um plano,
ternet. Com a inclusão digital a pessoa em conjunto com a chefia direta, para
com deficiência visual não tem barrei- o desenvolvimento e a efetiva inclusão
ras para exercer as funções jornalísti- do funcionário com deficiência no novo
cas. Hoje já existem diversos exemplos posto de trabalho. É muito relevante que
de jornalistas com deficiências que se observe as condições de acessibilida-
conseguem exercer suas funções de de, conforto, segurança e ergonomia ao
maneira plena (Jairo Marques, da Folha se colocar um profissional com deficiên-
de S. Paulo, Flávia Cintra do Programa cia para exercer determinada função.

114
Como devo comunicar informações do início do trabalho para identificarem
para empregados surdos? conjuntamente quais são as verdadeiras
É necessário perguntar ao profissional necessidades de adaptação no ambien-
com deficiência auditiva sobre qual se- te e na rotina de trabalho.
ria a melhor maneira para que ele tenha
É importante lembrar que os cães guias
acesso às informações. Para isso, é im-
passam por treinamento especializado
portante que se convoque uma reunião
e, na parceria com a pessoa com de-
com a presença de um intérprete de
ficiência visual funcionam como uma
LIBRAS para se reconhecer as neces-
ajuda técnica para a sua locomoção e
sidades deste novo profissional, e com
autonomia, sendo este o seu trabalho.
isso, junto com a chefia direta respon-
Para isso, podemos exemplificar alguns
sável pelo novo funcionário, poder se
cuidados básicos necessários, como:
montar uma estratégia de adaptação e
dimensionar o espaço de trabalho do
treinamento para as atividades compa-
tíveis com o seu novo cargo. novo funcionário contando com o es-
paço adicional do cão guia; instruir os
outros funcionários que a brincadeira
com o cão guia só será permitida com a
O que faço com o cão guia? autorização do seu dono; permitir a cir-
Ele vem para a empresa com o culação do novo funcionário em todas
empregado? Preciso de algum as instalações da empresa sem restri-
esquema especial? ção à entrada do cão guia etc.
O profissional com deficiência visual que
possui um cão guia tem direito de per-
manecer e circular na empresa com ele,
Como o período que antecede a
segundo os critérios determinados pela
inserção do jovem com deficiência
Lei Federal 11.126\05 e Decreto Federal
no mundo do trabalho repercute no
5.904\06. Para que a empresa receba
ambiente familiar?
um profissional cego ou com baixa-vi-
são, acompanhado de seu cão-guia, é As atitudes positivas em relação à inser-
importante preparar a equipe que irá ção do jovem com deficiência no mun-
se relacionar diretamente com a dupla. do do trabalho são mais difíceis quando
A equipe deverá ser informada sobre as seus familiares assumem o papel de pro-
principais características do cão guia e tetores e de seus cuidadores de forma vi-
de seu dono. É fundamental que a equi- talícia, considerando seus filhos inaptos
pe responsável pela contratação, bem para tomarem decisões. A adolescência
como o gestor desse profissional se e a fase adulta são períodos marcados
reúnam com o novo funcionário, antes por pressões internas no ambiente fa-

115
miliar, devido às responsabilidades que que haja uma articulação entre perten-
a nova realidade poderá impor, devido às cer à família e não ser “engolido” por ela,
pressões externas, causadas pelo temor e que os vínculos de dependência de
da rejeição e do preconceito, ainda exis- dentro da família devem ser substituí-
tentes na sociedade. dos gradativamente pela participação
do jovem em outros grupos ou outras
Ao mesmo tempo, alguns jovens com instâncias do espaço público, para que
deficiência permanecem limitados à ele vá reduzindo sua dependência à
sua condição de incapacitados até a medida que vai se configurando sua in-
idade adulta, apegando-se às suas li- dependência, inclusive a financeira, em
mitações, sem pretensão de sair dessa relação ao grupo de parentesco.
condição. A pesquisa de Borges e Ma-
galhães (2009) tem como foco principal
o início da trajetória dos jovens, com ou
sem deficiência, no mundo do trabalho. Quais são as principais
Elas constataram que eles geralmente fragilidades das empresas para a
passam por períodos de desemprego,
empregabilidade da pessoa com
emprego precário e necessidade de
deficiência e o cumprimento da Lei
maior investimento na formação pro-
de Cotas?
fissional. A família se torna um refú- As principais fragilidades das empre-
gio, nesse contexto de instabilidades sas em relação à empregabilidade da
e incertezas. As autoras afirmam que pessoa com deficiência são: dar pre-
a transição da juventude para a idade ferência em contratar pessoas com
adulta hoje, é muito complexa, e não se deficiência leve, com menores im-
fundamenta apenas em critérios como pedimentos, tanto do ponto de vista
idade ou necessidade de deixar a famí- da adaptação para o trabalho quanto
lia para alcançar a independência. Elas para a convivência; buscar subterfú-
concluem seu estudo valorizando a gios na tentativa de não cumprir a Lei
negociação dos papéis de pais e filhos de Cotas; contratar pessoas com de-
dentro da família, combinando auto- ficiência e não acolhê-las nos grupos
nomia, dependência e independência de trabalho, desconsiderando seu po-
financeira, e considerando os valores tencial humano; ou contratá-las com
individuais e as práticas dirigidas à au- rendimentos inferiores, comparados
tonomia dos sujeitos. aos profissionais em ocupação seme-
lhante; ou ainda dificultando os seus
As pesquisadoras ressaltam que as acessos a processos internos de pro-
práticas presentes na hierarquia fami- gressão funcional ou a direitos legais já
liar devem ser conciliadas, de tal forma conquistados.

116
As atitudes discriminatórias dos de- 1) A segregação dos jovens e adul-
mais colaboradores, quando a empre- tos nas instituições especiais ten-
sa não se prepara para este processo, de a reduzir sua participação na
também são comuns e aparecem atra- vida comunitária, trazendo pouca
vés do isolamento ou rejeição da pes- oportunidade de interação com
soa com deficiência, pelas atitudes de pessoas. Quando chegam ao mer-
violência ou pelo trato assistencialista. cado de trabalho, mesmo estando
minimamente habilitados, social-
mente comportam-se como o “es-
trangeiro” ou “imaturo”.
O trabalho de jovens e adultos
com deficiência condiz com sua 2) A expressão “profissionalização”
vocação, ou eles costumam aceitar se refere muito mais a um proces-
qualquer oportunidade de trabalho so de desenvolvimento pessoal e
que surge? ocupacional do indivíduo do que
Há muito ainda a se fazer em relação às ao ensino de uma determinada
alternativas para a profissionalização de profissão. Dedicam-se ao desen-
jovens e adultos com deficiência aten- volvimento de habilidades, atitu-
dendo sua vocação ou interesse. Os estu- des e hábitos para o trabalho.
dos de Mendes, Nunes, Ferreira e Silveira,
Outros estudos demonstram que al-
que embora tenham sido publicados em
gumas instituições especializadas que
2004, apontam para a precariedade dos
atendem a esta população flertam com
programas vocacionais realizados por
o assistencialismo e estimulam, como
algumas instituições especializadas que
formação profissionalizante, atividades
atendiam a população de jovens e adul-
de sobrevivência (tanto para seus alu-
tos com deficiência, acrescida da aliena-
nos quanto para a instituição), usando
ção destas às necessidades do mercado
como justificativas as suas condições
de trabalho, incluindo as oportunidades
de pobreza, a dificuldade de empregá-
geradas pela determinação legal.
-los por conta do percurso escolar em-
Os autores apontam algumas caracte- pobrecido e até por fatores ligados às
rísticas comuns nos trabalhos pesqui- suas deficiências. São as instituições
sados, dentre as quais destacamos: que promovem bazares de venda de
produtos e/ou firmam contratos tercei-
rizados com alguns segmentos do mer-
PARA SABER MAISA Lei de Cotas cado, trazendo a ocupação para dentro
(art. 93 da Lei nº 8.213/91), foi
dos muros da instituição.
promulgada em 1991.
Por outro lado, existem instituições

117
tentando se reinventar e buscam, na além de evidenciar sinais de pre-
educação, o respaldo para suas pro- conceitos e desinformação;
postas, por meio de modelos mais
2. Negativa e passiva: quando se
dialéticos e flexíveis, investindo no
evidencia níveis de respostas ne-
resgate da escolaridade dos seus alu-
gativas e passivas em relação à
nos e, ao mesmo tempo, buscando
inclusão de pessoa com deficiên-
apresentar o universo social adulto e
cia nesse ambiente, colocando-se
situá-los em suas expectativas de fu-
numa posição de comodismo que
turo, proporcionando uma calibragem
dessas expectativas com as habilida- só será quebrada por motivações
des e limitações pessoais. Além disso, impostas, como a punição pelo
oferecem a formação e qualificação não cumprimento da lei; e por
profissional através do modelo de “em- pressões externas (mercado, re-
prego apoiado”, onde o aprendiz conta percussão negativa na mídia etc.);
com o monitoramento do profissional 3. Positiva e passiva: quando o dis-
especializado no seu ambiente de tra- curso é positivo em relação à in-
balho, em uma parceria estreita com a clusão da pessoa com deficiência,
sua chefia imediata. mas ainda não é exercitado em
ações positivas. É o discurso da
justificativa onde se exaltam elo-
Existem etapas para avaliar se uma gios aos que fazem, e manifestam
equipe é inclusiva no ambiente um desejo de que gostariam de
corporativo? fazer, mas que as condições ain-
Sim, de acordo com o trabalho de asses- da se apresentam difíceis e não se
soria do Instituto Paradigma em diferen- encorajam para iniciar a mudança
tes ambientes como instituições de en- no processo;
sino, empresas e entidades do terceiro
4. Positiva e Ativa: Quando aconte-
setor, foi possível verificar quatro etapas
cem movimentos saudáveis da
características do processo de inclusão
equipe, caminhando para níveis de
de pessoa com deficiência, a saber:
interação e respostas positivas em
1. Negativa e ativa: quando a equipe relação à inclusão da pessoa com
dá respostas negativas em rela- deficiência na empresa. Geralmen-
ção à inclusão de pessoa com de- te, neste caso, a empresa tem um
ficiência no ambiente de trabalho, sólido patrimônio na governança e
construindo justificativas, muitas de valores corporativos, intensa-
vezes frágeis, reafirmando a sua mente conectados com a socieda-
posição, resistindo a mudanças, de e suas demandas.

118
Descrição da imagem: Fotografia em plano aberto de
uma criança sentada em triciclo de brinquedo atrás
de um homem em sua cadeira de rodas. Eles estão
em um parque público. Fim da descrição.

PARTICIPAÇÃO
SOCIAL
119
sem deficiência de defender tais ques-
PARTICIPAÇÃO tões. No entanto, esses políticos com
SOCIAL deficiência tendem a ser sensíveis às
questões relacionadas à diversidade e
inclusão social das pessoas com defi-
ciência.
A pessoa com deficiência pode
participar da política como Segundo o Tribunal Superior Eleitoral
representante? (TSE) as eleições brasileiras no ano de
Sim, esse direito está garantido na Lei 2022 pela primeira vez incluíram a au-
Brasileira de Inclusão da Pessoa com todeclaração de deficiência no registro
Deficiência conhecida como Estatu- de pedidos de candidaturas, embora o
to da Pessoa com Deficiência (Lei nº preenchimento seja opcional.
13.146/15). Essa lei, que trata sobre o
Direito à Participação na Vida Pública e
Política, determina em seu Capítulo IV,
Como devem proceder as pessoas
que o poder público deve garantir à pes-
com deficiência que moram
soa com deficiência todos os direitos
no interior e que necessitam
políticos e a oportunidade de exercê-los
de um atendimento de saúde e
em igualdade de condições com as de-
reabilitação fora de seu Município?
mais pessoas, assegurando o direito de
votar e de ser votada (artigo 76). A Política Nacional de Saúde da Pessoa
com Deficiência, instituída pela Porta-
Já existem pessoas com deficiência ria MS/GM nº 1.060/ 02, define, como
eleitas e participando da vida pública propósitos gerais: proteger a saúde
no nosso País. Em pesquisa realizada da pessoa com deficiência; reabilitar a
recentemente pelo Instituto Mara Ga- pessoa com deficiência na sua capaci-
brilli, foi constatado por exemplo, que dade funcional e desempenho humano,
em todos os 645 municípios paulistas contribuindo para a sua inclusão em
existem apenas 80 vereadores com todas as esferas da vida social e preve-
deficiência. Esse número equivale a nir agravos que determinem o apare-
menos de 1,5% do total de vereadores cimento de deficiências. Seu principal
do Estado de São Paulo. Ademais, é objetivo é propiciar atenção integral à
importante lembrar que nem sempre a saúde da pessoa com deficiência, des-
pauta política desses vereadores está de a atenção básica até sua reabilita-
relacionada somente às reivindicações ção, incluindo a concessão de próteses,
da população com deficiência; o que órteses e meios auxiliares de locomo-
também em nada impede um cidadão ção, quando se fizerem necessários. As

120
pessoas com deficiência que necessi- losante, nefropatia grave, hepatopatia
tem de atendimento devem procurar a grave, estados avançados de doença
Secretaria Municipal de Saúde de sua de Paget (osteíte deformante), con-
cidade para acessarem os serviços dis- taminação por radiação, síndrome de
poníveis oferecidos pelo Sistema Único imunodeficiência adquirida e fibrose
de Saúde (SUS). cística (mucoviscidose), com base em
conclusão da medicina especializada,
Mais informações Portal da Saúde:ht- mesmo que a doença tenha sido con-
tps://www.gov.br/saude/pt-br/assun- traída depois da aposentadoria ou da
tos/saude-de-a-a-z/s/saude-da-pes- reforma” e (ii) os valores recebidos a
soa-com-deficiencia título de pensão, quando o beneficiá-
rio desse rendimento for portador de
doença relacionada na alínea “b”, exce-
Tenho uma filha de 1 ano portadora to aquela decorrente de moléstia pro-
de fibrose cística (mucoviscidose) fissional, com base em conclusão da
e, por isso, gasto muito com medicina especializada, mesmo que
medicamentos. Tenho direito a doença tenha sido contraída após a
à dedução dessas despesas no concessão da pensão”.
Imposto de Renda? Pelo art. 39,
Infelizmente, o seu caso não preenche
incisos XXXI e XXXIII e parágrafos
os requisitos para usufruir desta isen-
4º a 6º, do Regulamento do
ção. Quanto às despesas com medi-
Imposto de Renda – RIR (Decreto nº
camentos, só podem ser deduzidas se
3.000/99), apenas os portadores
estiverem incluídas na conta de inter-
dessa doença gozam de isenção?
nação hospitalar.
O Decreto Federal nº 9.580/2018, atual
Regulamento do Imposto de Renda, Entretanto, nada impede que você so-
dispõe no art. 35, inciso II, alíneas “b” e licite que o próprio Estado forneça,
“c” como isentos ou não tributáveis “os gratuitamente, os medicamentos de
proventos de aposentadoria ou refor- que sua filha necessita. A aquisição e
ma motivadas por acidente em serviço a distribuição gratuita de medicamen-
e aqueles percebidos pelos portadores tos por parte do Governo têm base na
de moléstia profissional, tuberculo- Constituição Federal, que apregoa que
se ativa, alienação mental, esclerose a Saúde é um dever do Estado. Seguin-
múltipla, neoplasia maligna, cegueira, do esse raciocínio, muitos tribunais
hanseníase, paralisia irreversível e in- têm decidido, em causas parecidas
capacitante, cardiopatia grave, doença com a sua – o que chamamos de juris-
de Parkinson, espondiloartrose anqui- prudência – que o Estado deve forne-

PARTICIPAÇÃO SOCIAL 121


cer os medicamentos necessários para diretamente ou por intermédio de seu
tratar e restabelecer a saúde do cida- representante legal. A deficiência de-
dão, especialmente no que se refere às verá ser comprovada por laudo médico
moléstias graves. Para conseguir o me- e em função dela decorrerá o incentivo
dicamento por vias administrativas é fiscal. Sobre a forma de pagamento do
necessário que sua filha possua receita veículo, consórcio ou crédito, a Lei não
de médico integrante do Sistema Único faz restrição. Como seu filho tem 20
de Saúde (SUS). Se não houver medi- anos, no entanto, se ele tem capacida-
camento disponível e, comprovada sua de civil plena, o carro deverá ser com-
carência e necessidade, procure um prado no nome dele. Caso ele não tenha
advogado para requerer o atendimento capacidade civil e você seja o seu tutor,
desse direito pela via jurídica. não existe impedimento para a conces-
são da isenção, mesmo que a compra
seja feita em seu nome. Antes da com-
Tenho um filho de 20 anos com pra, verifique junto o entendimento da
deficiência física em virtude de concessionária, vendedora do carro, e
paralisia cerebral. Posso comprar do Departamento Estadual de Trânsito
um veículo apresentando a minha (DETRAN) do seu Estado como conse-
renda e, ainda, utilizar carta de guir a isenção.
crédito ou consórcio? Já foi
Não há lei que conceda a redução de
aprovado o projeto de lei que trata
jornada de trabalho para pais de filhos
da redução de jornada para pais de
com deficiência, porém tramita no Se-
filhos com deficiência?
nado Federal o PL n. 110/2016 para redu-
Quanto à compra do veículo, em rela- zir em 10% (dez por cento) a jornada de
ção especificamente à isenção de IPI, trabalho dos trabalhadores que tenham
não há qualquer restrição para que o sob sua guarda filhos com deficiência,
carro seja comprado pelo represen- atualmente na relatoria da Comissão
tante legal da pessoa com deficiência, de Assuntos Sociais do Senado Fede-
procedimento diferente do ICMS, que ral. A questão tem tido sucesso quando
exige que o titular do carro seja a pró- levada ao judiciário. Os Tribunais Re-
pria pessoa com deficiência. Segundo gionais do Trabalho (TRTs) e o Tribunal
o artigo 1º da Lei Federal nº 8.989/95, Superior do Trabalho (TST) têm deci-
ficam isentos do Imposto sobre Pro- dido de forma favorável ao apelo dos
dutos Industrializados – IPI – os auto- genitores, determinando a redução da
móveis quando adquiridos por pessoas jornada sem prejuízo do salário, tam-
portadoras de deficiência física, visual, pouco necessidade de compensação,
mental severa ou profunda, ou autistas, sob o entendimento de que a conces-

122
são da redução da jornada de trabalho ingressar com uma medida judicial, o
configuraria uma adaptação razoável à Mandado de Segurança, para agilizar
vida da pessoa com deficiência, insti- o processo. É recomendável procurar
tuto disposto no artigo 2º do Decreto nº orientação de um advogado para análi-
6.949/09, que ratificou a Convenção In- se detalhada de seu caso. Leve o laudo
ternacional da Pessoa com Deficiência. que comprova a deficiência da criança,
bem como documento que lhe confere o
poder de ser representante legal de seu
filho – se você é pai e detém a guarda de
Tenho um filho com deficiência. seu filho, a certidão de nascimento dele
Posso ser beneficiado com já é suficiente.
redução de impostos para compra
de veículos?
Nos termos do artigo 1º da Lei Fede- Tenho o membro inferior esquerdo
ral nº 8.989/95, alterada pela Lei nº mais curto em 3 centímetros,
14.287/21 para prorrogar a isenção do por conta da báscula da bacia e
Imposto sobre Produtos Industrializa- ressecção ampla da asa ilíaca
dos (IPI) na aquisição de automóveis de esquerda para enxerto ósseo. Uso
passageiros e para estender o benefí- órtese metálica interna. Gostaria
cio para as pessoas com deficiência de saber o CID de minha patologia
auditiva, ficam isentos do IPI na aqui- e se tenho direito ao passe livre
sição de automóveis de passageiros e interestadual.
pessoas com deficiência física, visual, Não é possível especificar a categoria de
auditiva e mental severa ou profunda Classificação Estatística Internacional
e pessoas com transtorno do espectro de Doenças e Problemas Relacionados
autista, diretamente ou por intermédio à Saúde (CID) com base em seu relato. O
de seu representante legal. enquadramento da doença na categori-
zação internacional só pode ser feito por
Sendo assim, desde que comprovada profissional da área de saúde. O ideal é
a deficiência em laudo médico e a legi- você fazer exame médico que especifi-
timidade de representação da pessoa que o tipo, o grau e/ou nível da deficiên-
com deficiência, não existe impedimen- cia que deve ser reconhecido pelo Sis-
to para a concessão da isenção do IPI. tema Único de Saúde (SUS) para fins de
Procure a Delegacia Regional da Recei- obtenção do passe livre interestadual.
ta Federal de sua cidade. Como em seu
caso há direito certo sobre a isenção, O benefício do passe livre interestadual
se as vias administrativas levarem mais é concedido apenas a pessoas com defi-
tempo do que o necessário é possível ciência física, mental, auditiva ou visual,

123
desde que comprovadamente carentes. Beneficiário” (https://www.gov.br/
Sendo assim, depois de realizado o exa- antt/pt-br/assuntos/passageiros/
me, constatada sua deficiência e com- passageiros-rodoviarios/passe-livre/
provada sua carência – entendida como passageiro/copy_of_Formulriopara-
renda familiar mensal per capita inferior RequerimentodeBeneficirio.pdf);
a um salário-mínimo – você poderá so-
2. “Declaração da Composição e
licitar administrativamente o direito ao
Renda Familiar” (que consta no
passe. Com a carteirinha em mãos, po-
verso do requerimento) preenchi-
derá usufruir do benefício.
dos e assinados;
Cumpridos os requisitos acima, o re- 3. “Atestado/Relatório Médico Pa-
querimento do passe livre interestadual drão do PASSE LIVRE” (disponível
poderá ser feito pela Internet (https:// em https://www.gov.br/antt/pt-br/
passelivre.infraestrutura.gov.br/spl/lo- assuntos/passageiros/passagei-
gin.html) ou por carta ao Ministério da ros-rodoviarios/passe-livre/passa-
Infraestrutura para “PASSE LIVRE, Cai- geiro/atestadomedicov3pdf.pdf),
xa Postal 9.600, CEP 70040-976, SAN emitido no máximo há 1 ano. É ne-
QUADRA 3 BLOCO N/O, Brasília (DF)”. cessário que no atestado/relatório
a declaração do médico conste que
Para o requerimento manual, são exigi- você necessita de acompanhante
dos os seguintes documentos: para a sua locomoção, se for o caso;

1. “Formulário para Requerimento de 4. 1 foto 3x4 colorida com fundo bran-

Descrição da imagem: Dois homens com


deficiência caminham pela praia segurando
pranchas de surf. Eles usam próteses nas
124da descrição.
pernas abaixo do joelho. Fim
co; cedimento manual.

5. cópia de um Documento de Iden- Caso tenha qualquer dúvida sobre este


tificação (que pode ser certidão procedimento, consulte o site http://
de nascimento, certidão de ca- portal.infraestrutura.gov.br/ e/ou en-
samento, certidão de reservista, vie e-mail para ouvidoria@antt.gov.br.
carteira de identidade, carteira de Vale lembrar que o passe livre poderá
trabalho e previdência social ou tí- ser utilizado apenas em vias terrestres,
tulo de eleitor); tais como a rodoviária e a ferroviária.
6. Caso você necessite de acom-
panhante, é preciso preencher o
“Formulário para Requerimento Tenho ataxia cerebelar, que
de Acompanhante” (https://www. compromete o meu equilíbrio,
gov.br/antt/pt-br/assuntos/passa- porém não necessito de adaptação
geiros/passageiros-rodoviarios/ para dirigir – apenas utilizo
passe-livre/passageiro/REQUERI- um sensor de estacionamento
MENTO_Acompanhante_Modelo_ por conta própria. No Ceará é
V7.pdf) acompanhado do CPF, Do- necessário ter restrições ou
cumento de Identificação e Renda observações na carteira de
do acompanhante e de todos os motorista para obter isenção de
familiares, além do grau de paren- ICMS e de IPVA?
tesco dos seus familiares. As leis estaduais referentes ao Imposto
Se o requerente for menor de idade ou sobre Operações relativas à Circulação
de Mercadorias e sobre Prestações de
incapaz e o pai ou mãe não forem os
Serviços de Transporte Interestadual
responsáveis legais, é necessário que
e Intermunicipal e de Comunicação
seja encaminhado o Termo de Guarda,
(ICMS) e ao Imposto Sobre Propriedade
Termo de Tutela ou Curatela.
de Veículo Automotor (IPVA) no Estado
Pela Internet, o requerimento online é do Ceará não tratam especificamente
feito pelo Sistema de Concessão de Pas- da necessidade da menção à restrição
se Livre Interestadual do Ministério da na carteira de motorista. No entanto,
Infraestrutura no link: https://passelivre. para usufruir da isenção é necessário
infraestrutura.gov.br/spl/login.html. que o exame de aptidão física e mental
fornecido pelas Juntas Médicas do De-
É preciso preencher os seus dados, os partamento de Trânsito (DETRAN) seja
dos seus familiares e, se houver, o do anexado ao requerimento. Ao emitir o
acompanhante e apresentar os mes- laudo o perito avaliará a existência de
mos documentos exigidos para o pro- deficiência e determinará, com base no

125
disposto na Resolução nº 927/22 do Con- ter filhos. O problema recai sobre a
selho Nacional de Trânsito (CONTRAN) filiação. O Código Civil trata do assun-
que conste restrição de uso e/ou equi- to no artigo 1.597. Além da concepção
pamento obrigatório em sua carteira de natural, há duas hipóteses legais apli-
habilitação. Cabe lembrar que, embora cáveis ao seu caso. A primeira seria a
não exista restrição na legislação cea- presunção de filiação, no caso de fi-
rense, a legislação paulista prevê que lhos gerados por inseminação artifi-
para a concessão de isenção de ICMS é cial com o sêmen do próprio marido,
necessário apresentar cópia autentica- sejam eles decorrentes de embriões
da da Carteira Nacional de Habilitação existentes ou de fecundação futura.
(CNH), especificando as restrições re- Neste caso, não há necessidade de
ferentes ao condutor e a adaptação ou autorização ou cumprimento de qual-
característica especial à qual está sujei- quer outro requisito. Em resumo, se
to o veículo. Tal exigência se repete no seu marido já havia estocado o esper-
requerimento de isenção do IPVA. Para ma ou embriões, os filhos nascidos
mais informações acesse www.pfe.fa- em consequência desta inseminação
zenda.sp.gov.br (São Paulo) e/ou www. artificial serão considerados dele – in-
sefaz.ce.gov.br (Ceará). dependentemente da época da fecun-
dação ou de consentimento posterior.
Mesmo que uma eventual morte do pai
Tenho 34 anos e gostaria de ter um seja anterior à concepção do bebê, ad-
filho. Acontece que, em consequên- mite-se a filiação. Há divergência, no
cia de um acidente de automóvel, entanto, sobre a obtenção do sêmen
meu marido não anda, não fala, tem no presente. Isso porque seu marido
hemiplegia do lado direito e se ali- parece não ter discernimento para
menta por meio de sonda gástrica. decidir se quer ou não um filho. Você
O custo de inseminação com sêmen poderia, neste caso, estudar a possi-
de meu marido é de 10 mil reais por bilidade de requerer uma autorização
tentativa. Embora eu tenha muita judicial para coleta de esperma, mas
vontade de ser mãe, não tenho con- deve saber que a tutela do bebê pode
dições financeiras para pagar o tra- não ser concedida pelos mesmos mo-
tamento. Sou curadora provisória tivos da interdição.
de meu marido e o processo de in-
terdição encontra-se em fase final A segunda hipótese diz respeito à filia-
na Justiça. Quais são meus direitos ção resultante de inseminação artifi-
para ter um filho? cial com sêmen de outro homem. Nes-
te caso, seu marido seria considerado
Não há impedimento legal para você o pai apenas se ele próprio autorizasse

126
a inseminação. Contudo, em função da Sou surdo do ouvido esquerdo e
interdição e ausência de tal autoriza- recentemente descobri que meu
ouvido direito também apresenta
ção, não é possível optar por esta hipó-
um grau de surdez. Ocupo cargo
tese. Isso porque a filiação só se daria
de confiança no funcionalismo
com o consentimento de seu marido e público e minha condição não me
este, por estar sendo interditado, não impede de trabalhar normalmente,
poderia fornecê-lo de maneira válida porém receio perder o emprego
caso a surdez comece a aumentar,
legalmente.
pois não pertenço ao quadro
funcional. A lei para portadores
Quanto aos altos custos do tratamento,
de deficiência física beneficia
infelizmente não encontramos qual- pessoas como eu? Também
quer programa gratuito – ou mesmo a gostaria de saber mais sobre
preços acessíveis – de reprodução as- aposentadoria e cota de 5%
reservada para deficientes em
sistida (inseminação), o que não impe-
concursos públicos.
de sua visita para melhor informar-se
É importante entender bem o concei-
junto a defensoria pública ou ao minis-
to de deficiência auditiva disposto no
tério público. Decreto Federal nº 3.298/99 e alterado
pelo Decreto Federal nº 5.296/04. Nos
termos da nova legislação, considera-
-se deficiência auditiva a perda bilate-
ral, parcial ou total, de quarenta e um
decibéis (dB) ou mais, comprovada por
audiograma nas frequências de 500HZ,
1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz. Se você
se enquadra nesses padrões, tem direi-
to às vagas reservadas nos concursos
públicos, nos termos do Decreto Fede-
ral nº 9.508/18, que reserva às pessoas
com deficiência percentual de cargos e
empregos públicos ofertados em con-
cursos públicos e em processos seleti-
vos no âmbito da administração pública
federal direta e indireta. Para inscrição
nos concursos você precisará apre-
Descrição da imagem: Fotografia frontal sentar laudo médico original atestando
mostram as rodas dianteiras de uma cadeira
de rodas, os pneus estão afundados na areia,
os apoios mostram os pés de um homem com
127
vitiligo. Fim da descrição.
a espécie, o grau ou nível da deficiên- O Decreto 5.296/04, que regulamenta
cia, com expressa referência ao código a lei de acessibilidade determina que
correspondente da Classificação Esta- desde outubro de 2008 somente pode-
tística Internacional de Doenças e Pro- rão ser fabricados ônibus novos com
blemas Relacionados à Saúde (CID) e acessibilidade e que até julho de 2009,
com a provável causa da deficiência. É todos os veículos coletivos usados de-
importante alertar, porém, que cargos verão ser adaptados.
de confiança não obedecem à mesma
regra de reserva obrigatória de vagas, A legislação Federal determina que até
e por isso, é necessário se ter uma boa 2014, todo o sistema de transporte coleti-
conversa com a sua liderança para se vo (veículos, terminais e o sistema viário)
estabelecer os limites, ou não, da sua seja acessível a pessoas com deficiência
atuação profissional, desmistificando ou com dificuldades de locomoção.
preconceitos.
A Lei Brasileira de Inclusão da
Pessoa com Deficiência conhecida
como Estatuto da Pessoa com
São notórias as melhorias no
Deficiência (Lei nº 13.146/15),
transporte público para pessoas
destinada a assegurar e a promover,
com deficiência em cadeira de
em condições de igualdade,
rodas, nas grandes cidades. O que
o exercício dos direitos e das
está sendo feito nas cidades do
liberdades fundamentais para as
interior? Algum trabalho nesse pessoas com deficiência, em seu
sentido pode ser destacado? capítulo X dispõe sobre o Direito
O cumprimento da legislação de acessi- ao Transporte e à Mobilidade
bilidade não é prerrogativa das grandes que será assegurado às pessoas
cidades. A Lei n° 10.098/00 no capítulo com deficiência em igualdade de
VI determina que os veículos de trans- oportunidades com as demais
porte coletivo de todos os municípios pessoas, por meio da identificação
brasileiros devem cumprir os requisi- e de eliminação de todos os
tos de acessibilidade definidos pelas obstáculos e barreiras ao seu
normas técnicas específicas. acesso.

O Decreto n° 3.691/00 acrescenta que Apesar das exigências legais, o trans-


as empresas permissionárias de trans- porte público coletivo da maioria das
porte interestadual de passageiros cidades brasileiras não é adaptado, o
devem reservar dois assentos de cada que obriga as pessoas com deficiên-
veículo público às pessoas com defi- cia mobilizarem-se para fazer valer o
ciência. direito ao transporte público acessível.

128
As pessoas com deficiência, com ren- e outras vantagens de ordem tributá-
da familiar mensal per capita de até um ria aos mais diversos públicos. No que
salário-mínimo, têm direito ao passe li- se refere às pessoas com deficiência,
vre do Governo Federal, Lei n° 8.899/94, existem algumas hipóteses de isenção.
que garante a gratuidade nos transpor- Seguem algumas informações sobre
tes coletivos interestaduais conven- as que você citou, porém vale ressal-
cionais por ônibus, trem ou barco, e o tar que há outros benefícios tributários
transporte interestadual semiurbano. dos quais a pessoas com deficiência
As pessoas com deficiência de qual- pode usufruir:
quer município brasileiro, também po-
dem adquirir um veículo adaptado às 1. Imposto de Renda – IR 1.1. Isen-
suas necessidades, tendo como direi- ção Noções Gerais: Dispõe o art.
tos a isenção de IPI (Imposto de Produ- 35, inciso II, alíneas “b”, “c” e “e” do
tos Industrializados), de ICMS (Imposto Decreto no 9.580/18 serem isen-
sobre Circulação de Mercadorias e Ser- tos ou não tributáveis os rendi-
viços) e do IPVA (Imposto sobre a Pro- mentos pagos pelas previdências
priedade de Veículos Automotores). públicas e privadas consistentes
em (i) “proventos de aposentadoria
Assim, também é de grande relevân- ou reforma motivadas por aciden-
cia estimular os governos locais a to- te em serviço e aqueles percebi-
marem consciência das dificuldades dos pelos portadores de moléstia
vivenciadas por todas as pessoas com profissional, tuberculose ativa,
sua mobilidade reduzida, de forma per- alienação mental, esclerose múl-
manente ou temporária, reivindicando tipla, neoplasia maligna, cegueira,
o cumprimento das leis federais, e dos hanseníase, paralisia irreversível e
direitos constitucionais de todos os ci- incapacitante, cardiopatia grave,
dadãos que se sentem prejudicados. doença de Parkinson , espondi-
loartrose anquilosante, nefropatia
grave, hepatopatia grave, esta-
Recebi um e-mail afirmando que dos avançados de doença de Pa-
os portadores de necessidades get (osteíte deformante), conta-
especiais têm direito a isenções minação por radiação, síndrome
como IR, IOF e CPMF. Isso é de imunodeficiência adquirida e
verdade? fibrose cística (mucoviscidose),
As leis brasileiras consideram diversas com base em conclusão da medi-
hipóteses de isenção do que chama- cina especializada, mesmo que a
mos exoneração tributária subjetiva. doença tenha sido contraída de-
Tais benefícios concedem isenções pois da aposentadoria ou da refor-

129
ma”; (ii) os valores recebidos a títu- xará de proceder aos descontos do
lo de pensão, quando o beneficiário imposto de renda. O contribuinte
desse rendimento for portador de com deficiência ou contribuinte
uma das doenças retromenciona- que tenha dependente nessa con-
das, “exceto aquela decorrente de dição tem prioridade no recebi-
moléstia enfermidade profissional, mento da restituição, nos termos
com base em conclusão da medi- do art. 82, parágrafo único, inciso
cina especializada, mesmo que a II do Decreto no 9.580/18.
doença tenha sido contraída após
1.2. Dedução de Imposto de Ren-
a concessão da pensão”; (iii) “as im-
da Despesas Médicas: Além das
portâncias recebidas por pessoa
hipóteses de isenção previstas
com deficiência mental a título de
acima, que são restritas às dis-
pensão, pecúlio, subsidio monte-
posições do RIR, há ainda outro
pio e auxílio, quando decorrentes
benefício tributário em favor da
de prestações do regime de pre-
pessoa com deficiência. Ele pre-
vidência social ou de entidades de
vê, nos termos do artigo 94 do De-
previdência privada; a pensão es-
creto no 9.580/18, a dedução – na
pecial recebida em decorrência da
base de cálculo do imposto devido
deficiência física conhecida como
na declaração anual – dos gastos
Síndrome da Talidomida, quando
efetuados com o próprio contri-
paga a seu portador “.Sendo assim,
buinte e seus dependentes com
a isenção do Imposto de Renda (IR)
aquisição de aparelhos e próteses
depende do preenchimento cumu-
ortopédicas, dentre eles, pernas
lativo de dois pressupostos (i) ser
e braços mecânicos, cadeiras de
o contribuinte portador de mo-
rodas; andadores ortopédicos,
léstia nos termos acima e (ii) tra-
palmilhas ou calçados ortopédi-
tar-se de rendimento em razão de
cos e/ou qualquer outro aparelho
pensão e/ou aposentadoria. Pro-
ortopédico destinado à correção
cedimentos para usar o benefício
de desvio de coluna ou defeitos
de IR: Inicialmente o contribuinte
dos membros ou das articula-
deve comprovar ser portador de
ções. Ressaltamos que a dedução
uma das moléstias enfermida-
é condicionada à comprovação.
des citadas acima, apresentando
Assim, é necessário que o con-
laudo pericial emitido por serviço
tribuinte guarde a receita médica
médico oficial da União, Estados,
com a indicação do equipamento,
DF ou Municípios junto à sua fonte
bem como sua nota fiscal.
pagadora. Após o reconhecimento
da isenção, a fonte pagadora dei- 2. Imposto Sobre Operações Finan-

130
ceiras – (IOF) posto nos incisos I, II e III do art.
12 da Lei nº 8429, de 2 de junho de
2.1. Isenção Noções Gerais: Nos
1992, no inciso II do art. 6º da Lei
termos do artigo 72 da Lei Federal
nº 10522, de 19 de julho de 2002,
nº 8.383/91, ficam isentas de IOF
e no art. 10 da Lei nº 9605, de 12
as operações de financiamento
de fevereiro de 1998. O requeri-
para a aquisição de automóveis de
mento deverá ser instruído com
passageiros de fabricação nacio-
cópias digitalizadas (i) do laudo de
nal de até 127 HP de potência bru-
avaliação emitido por prestador
ta (SAE) o que é a sigla? e os veí-
de serviço público de saúde, por
culos híbridos e elétricos, quando
serviço privado de saúde, contra-
adquiridos por pessoas com defi-
tado ou conveniado, que integre
ciência física. Nos termos da Ins-
o Sistema Único de Saúde (SUS),
trução Normativa (IN) 1769/17, a
pelo Detran ou por suas clínicas
Isenção do IOF somente poderá
credenciadas, ou por intermédio
ser usufruída por uma única vez,
de serviço social autônomo, sem
isto é, apenas em uma aquisição.
fins lucrativos, criado por lei, caso
O benefício de Isenção de IOF deve
não tenha sido emitido laudo de
ser requerido eletronicamente
avaliação eletrônico; e (ii) da cer-
por meio do Sistema de Conces-
tidão de nascimento atualizada do
são Eletrônica de Isenção de IPI/
beneficiário, na qual esteja identi-
IOF (Sisen), disponível no site sítio
ficado o seu responsável legal, no
da Secretaria da Receita Federal
caso de requerimento transmitido
do Brasil (RFB), na Internet: (ht-
por tutor ou curador.
tps://www.sisen.receita.fazenda.
gov.br/sisen/inicio.jsf). 3. Contribuição Provisória Sobre
Movimentação (CPMF) ou Trans-
O contribuinte deverá declarar,
missão de Valores e de Créditos
sob as penas da lei: (i) que pos-
e Direitos de Natureza Financeira
sui disponibilidade financeira ou
– CPMF.
patrimonial compatível com o va-
lor do veículo a ser adquirido, nos 3.1. Acréscimo Noções Gerais:
termos do art. 5º da Lei nº 10.690, Não existe isenção deste tributo
de 16 de junho de 2003, salvo se em razão da deficiência. Porém,
a aquisição for feita mediante fi- em condições especiais existe
nanciamento bancário; e (ii)que a possibilidade de concessão do
não há contra si impedimentos le- favor fiscal. O artigo 17, III da Lei
gais à obtenção de benefícios fis- nº 9.311/96, dispõe que os valores
cais, em conformidade com o dis- dos benefícios de prestação con-

131
tinuada e os de prestação única ção profissional. A família e o aluno é
– constantes dos Planos de Bene- quem deve avaliar suas necessidades
fício da Previdência Social, de que e definir se poderão ou não renunciar
trata a Lei n° 8.213/91 – e os valores ao Benefício de Prestação Continuada
dos proventos dos inativos, dos da Assistência Social (BPC – Benefí-
pensionistas e demais benefícios, cio de Prestação Continuada LOAS), e
constantes da Lei n° 8.112/90, não aceitar o desafio de competir no mer-
excedentes de dez salários-mí- cado de trabalho.
nimos, serão acrescidos de per-
centual proporcional ao valor da Os profissionais das instituições de
contribuição devida até o limite de qualificação profissional de pessoas
sua compensação. Assim, embora com deficiência devem ajudar neste
não deixe de haver incidência no processo, tornando a família aliada
caso de recebimento dos bene- nesta conscientização de que com a
fícios acima, a pessoa com defi- Lei Federal 8213/91 – a Lei de Cotas, a
ciência que os recebe acaba por pessoa com deficiência pode ter uma
receber o valor integral do benefí- carreira profissional plena com reali-
cio. Portanto, não é necessário re- zação e remuneração compatível com
querer tal benefício. O favor legal, a qualificação e a função exercida e in-
neste caso, acaba sendo prestado formá-la que o BPC- LOAS hoje já é um
pela própria Previdência Social benefício reversível, que poderá ser
por meio do controle dos valores acessado como um seguro desempre-
a serem recebidos. Mais informa- go, no caso de demissão deste desse
ções podem ser obtidas no site da trabalho.
Receita Federal: www.receita.fa-
zenda.gov.br. Nesse processo de conscientização é
importante se levar em conta a reali-
dade familiar, frente ao contexto eco-
Qual é o papel da instituição que nômico social. Mas, por outro lado,
prepara jovens para o mercado de é importante refletir com as famílias
trabalho, quando se depara com sobre as políticas públicas disponíveis
um jovem capaz e a família nega de assistência social, levando em con-
seu encaminhamento em virtude ta que possuem características dife-
de receber BPC-LOAS? rentes: algumas são mais imediatas e
O papel da instituição que prepara jo- urgentes, relacionadas à subsistência
vens para o mercado de trabalho é o de básica da população. Desenvolvem-
realizar a formação das pessoas com -se por meio de programas voltados
deficiência melhorando sua qualifica- para a população na linha de pobreza

132
e de baixa renda, como o Benefício de grande relevância para a inclusão social
Prestação Continuada da Assistência das pessoas com deficiência. Existem
Social (BPC-LOAS). Os auxílios rece- inúmeras ONGs, Associações, Entida-
bidos por essas políticas precisam ser des Filantrópicas, Organização da So-
acessados como recursos transitórios ciedade Civil de Interesse Público (OS-
e de emergência, mas muitas vezes, CIP) e Fundações do Terceiro Setor onde
acabam por promover uma dependên- o foco de atuação é a oferta de serviços
cia econômica e social irreversível, de reabilitação para as pessoas com de-
pois as pessoas contempladas abdi- ficiência, pois faz parte da sua missão, e
cam da própria autonomia e criam a que, em muitos casos, complementa ou
falsa imagem do Estado provedor; fal- substitui os serviços de saúde, através
sa imagem porque esses auxílios não de convênios com o poder público, ou
garantem efetivamente a sobrevivên- de doações de terceiros. Podemos citar
cia básica dos seus beneficiários. algumas delas: Deficiência Física Asso-
ciação para Valorização para Pessoas
As políticas públicas de caráter pro- com Deficiência (AVAPE); Associação de
visório são aquelas que agregam ob- Assistência à Criança Deficiente (AACD);
jetivos emancipatórios e a busca da Lar Escola São Francisco (LESF); Fun-
autonomia dos assistidos no apoio às dação Selma; Associação Brasileira de
situações de vulnerabilidade temporá- Distrofia Muscular (ABDIM); Associação
ria e que possam ser superadas. Brasileira de Assistência à Pessoa com
Deficiência Visual (Laramara); Funda-
ção Dorina Nowill; Centro de Recursos
Qual a função que uma ONG em Deficiência Múltipla, Surdocegueira
pode exercer num processo de e Deficiência Visual (ADEFAV); e Asso-
tratamento e reabilitação? ciação de Pais e Amigos dos Excepcio-
A Reabilitação é um processo de atendi- nais (APAE), por exemplo.
mento global realizado por equipe mul-
tiprofissional (Fisioterapia, Terapia Ocu-
pacional, Fonoaudiologia, Pedagogia, Qual a diferença entre doença
Enfermagem etc.) com o objetivo de ha- mental e deficiência intelectual?
bilitar e/ou reabilitar a pessoa com defi- Para entender a diferença entre doen-
ciência dentro dos limites e de suas pos- ça mental e deficiência intelectual é
sibilidades. No Brasil, tradicionalmente, necessário que se compreenda os se-
as Organizações Não Governamentais guintes aspectos:
(ONGs) têm contribuído com essa res-
ponsabilidade junto aos serviços de saú- A doença mental pode ser entendida
de pública, prestando atendimentos de como um conjunto de comportamen-

133
tos e atitudes capazes de produzir da- Os serviços socioassistenciais, pro-
nos na performance global do indivíduo, gramas e projetos oferecidos às pes-
causando impactos na sua vida social, soas com deficiência são organizados
ocupacional, familiar e pessoal. Segun- pelo Sistema Único de Assistência So-
do a Organização Mundial de Saúde, cial (SUAS) com orientações da Nacio-
não é possível se construir uma única nal de Assistência Social (PNAS), que
definição deste conceito, uma vez que oferece assistência social em todo o
o entendimento de saúde mental tam- Brasil, promovendo o bem-estar e a
bém está associado à construção de proteção e proteção social especial às
critérios subjetivos, pautados em valo- pessoas com deficiência.
res e diferenças culturais.
As ações são desenvolvidas no âmbito
Em 1995 a Organização das Nações dos Centros de Referências da Assis-
Unidas (ONU), alterou o termo defi- tência Social (CRAS) ou de forma indi-
ciência mental para deficiência inte- reta nas Entidades Sociais e Organiza-
lectual, com o objetivo de diferenciá-la ções Não Governamentais, que estão
da doença mental (transtornos mentais localizadas próximas aos bairros com
que não necessariamente estão asso- maior índice de vulnerabilidades, faci-
ciados ao déficit intelectual). litando o acesso de quem necessita da
assistência social.
Para a American Association on Deve-
lopmental Desabilities (AAIDD), a defi- Os serviços ofertados são financiados
ciência intelectual é definida a partir “da por meio de recursos públicos muni-
existência, em um mesmo organismo, cipais e federais, e são desenvolvidos
de limitações importantes no funciona- por meio de uma equipe técnica míni-
mento intelectual do indivíduo, e com ma, composta por assistentes sociais,
prejuízos em três áreas adaptativas: as
pedagogos e psicólogos, além de equi-
habilidades conceituais, sociais e práti-
pe de apoio. Os serviços, programas e
cas relativas à vida diária e a adaptação
projetos voltados para a pessoa com
da pessoa às demandas sociais, consi-
deficiência têm como principal objeti-
derando o seu ambiente social”.
vo a habilitação e reabilitação, ações de
geração de renda (capacitação e quali-
ficação profissional) e grupos de convi-
Quais são os serviços socioas- vência. Há diversas iniciativas públicas
sistenciais, programas e projetos e particulares, de caráter filantrópico
oferecidos às pessoas com defi- ou não, que visam a assistência social
ciência? às pessoas com deficiência.

134
Descrição da imagem: Um homem branco, de
sunga e touca de natação, está de costas e corre
sobre areia em uma competição. Ele usa duas
próteses de corrida na altura do joelho, uma
prótese está pintada com a bandeira do Brasil
e a outra prótese com a bandeira dos Estados
Unidos. Ao fundo duas pessoas olham para o
atleta com deficiência. Fim da descrição.
135
Quais são os principais benefícios documento complementar, necessário
oferecidos à pessoa com para exercer direitos civis (como por
deficiência? exemplo, inclusão na lei de cotas, isen-
ções de tributos) é a CID – Classificação
As pessoas com deficiência podem
Estatística Internacional de Doenças e
receber, preenchendo os critérios
Problemas Relacionados com a Saúde.
especificados por lei, o Benefício de
O laudo com o número da CID é forneci-
Prestação Continuada da Assistência
do por um médico e serve como docu-
Social (BPC-LOAS) ou a Aposentadoria
mento que comprova a deficiência.
por Invalidez. Esses dois benefícios são
concedidos por motivos distintos e em
Além do exercício de todos os direitos
situações completamente diferentes.
atribuídos a qualquer cidadão, a pessoa
com deficiência possui outros direitos
A aposentadoria por invalidez é forneci-
dispostos na Lei Brasileira de Inclusão
da aos profissionais que são incapazes
da Pessoa com Deficiência, também co-
para exercer seu trabalho por motivos
nhecida como Estatuto da Pessoa com
de doença ou acidente. O BPC-LOAS
Deficiência (Lei nº 13.146/2015), como
é um benefício da Assistência Social,
o trabalho através da Lei de Cotas e a
operacionalizado pelo Instituto Nacio-
aposentadoria, por exemplo. Para se-
nal do Seguro Social (INSS), oferecido
rem exercidos são necessárias provi-
a pessoas com deficiência que com-
dências, documentos e procedimentos
provem possuir renda familiar inferior
que variam conforme a necessidade e
a 1/4 de salário-mínimo per capta e que
o objetivo da pessoa com deficiência
tenham deficiência que o incapacitam
e sua família. Portanto, é importante
para uma vida independente.
buscar as orientações nos órgãos ofi-
ciais em cada área (Educação, Saúde,
Trabalho, Cultura etc.), conforme suas
Quais são as documentações e
necessidades, para o pleno exercício
instrumentos necessários para o
da cidadania.
pleno exercício da cidadania pela
pessoa com deficiência?
Para o exercício da cidadania a pes-
soa com deficiência tem necessida- Quais os direitos e benefícios
de de obter os mesmos documentos para que uma pessoa que perdeu
que devem possuir qualquer cidadão os dedos da mão esquerda possa
brasileiro: Certidão de Nascimento, tirar a Carteira Nacional de
RG (Registro Geral), CPF (Cadastro de Habilitação (CNH)?
Pessoa Física) e o Título de Eleitor. O Não existem procedimentos especiais

136
para que uma pessoa com deficiência litação Lucy Montoro e a Secretaria
possa tirar sua Carteira Nacional de Estadual dos Direitos das Pessoas
Habilitação (CNH). Como os demais com Deficiência para organizar es-
motoristas, essa pessoa será avaliada sas demandas nos municípios atra-
em exames: médico, teórico e prático. vés das Unidades Básicas de Saúde e
O que será avaliado por esses exames, entidades conveniadas. Segue abai-
principalmente, é se o motorista, ape- xo referência de algumas delas:
sar da limitação apresentada, poderá
dirigir com segurança. Caso as ava- ƒ Para Deficiência Física sugeri-
liações atestem que uma pessoa com mos algumas organizações como:
deficiência tem restrições que a impe- Associação de Assistência à
çam de conduzir o veículo de maneira Criança Deficiente (AACD) www.
segura, o pedido de concessão da CNH aacd.com.br; Fundação Selma;
será negado. E caso o motorista seja Associação Brasileira de Distrofia
aprovado com a condição de que seja Muscular (ABDIM) www.abdimvi-
providenciada alguma correção ou verbem-semlimite.org.br.
adaptação indicada no exame médico, ƒ Para Deficiência Visual sugeri-
a CNH conterá anotação de restrições mos as organizações: Associação
não impeditivas de condução do veí- Brasileira de Assistência à Pessoa
culo, como por exemplo, “uso obriga- com Deficiência Visual (Laramara)
tório de lentes corretivas”. ww.laramara.org.br; a Fundação
Dorina Nowill www.fundacaodori-
na.org.br;

Quais Equipamentos Públicos ƒ Para Deficiência Auditiva sugeri-


de Saúde, Instituições e mos Divisão de Educação e Reabi-
Organizações Sem Fins Lucrativos litação dos Distúrbios da Comuni-
prestam atualmente assistência cação (DERDIC/PUC-SP) https://
em reabilitação no Estado de São www5.pucsp.br/derdic/; Instituto
Paulo? CEMA de Oftalmologia e Otorrino-
laringologia (CEMA)
Os equipamentos públicos de saúde
que estão vinculados ao Ministério ƒ Para Deficiência Múltipla sugeri-
da Saúde, dentre eles o Sistema Úni- mos o Centro de Recursos em De-
co de Saúde (SUS), prestam essa as- ficiência Múltipla, Surdocegueira e
sistência. Para o diagnóstico, atendi- Deficiência Visual (ADEFAV) www.
mento e oferta de órteses e próteses adefav.org.br/ e a Associação Edu-
a Secretaria de Saúde do Estado de cacional para Múltipla Deficiência
São Paulo conta com a rede de reabi- (AHIMSA) www.ahimsa.org.br

137
ƒ Para Deficiência Intelectual su- lidando todo um contexto legal e das
gerimos o Instituto Jô Clemente relações sociais, na perspectiva inclu-
https://ijc.org.br/pt-br/Paginas/ siva no país.
default.aspx; Associação para
o Desenvolvimento Integral do Dessa forma, pode-se explicar, em
Down https://adid.org.br/ parte, a grande repercussão de temas
acerca da inclusão de pessoas com
deficiência na sociedade, tendo con-
quistado espaço na mídia (televisiva,
Por que os meios de comunicação
imprensa etc.). Essa exposição gera,
não segmentados têm inserido o
por sua vez, mais interesse da socie-
tema acessibilidade nas pautas de
dade pelo tema, o que amplifica, de
forma tão intensa?
forma muito positiva o espaço reser-
O Brasil, assim como a maior parte dos vado na imprensa a essas discussões,
outros países, tem vivido um proces- gerando um ciclo virtuoso de exposi-
so de valorização da diversidade e da ção, e contribuindo para a mudança
inclusão de pessoas com deficiência. de valores culturais com relação à in-
A inclusão educacional de alunos com clusão de pessoas com deficiência na
necessidades especiais (Lei Federal sociedade. Além disso, o marco regu-
9.394\96); o Plano Nacional de Educa- latório adotado pelo país no que se re-
ção 2014-2024, que na sua meta 4 traz fere ao processo de inclusão social das
como objetivos a universalização do pessoas com deficiência tem trazido,
acesso à educação básica e ao atendi- por meio da fiscalização, a concretiza-
mento educacional especializado para ção de mudanças visíveis nos espaços
a população com deficiência, de 4 a públicos e urbanos, assim como nas
17 anos; a obrigatoriedade de se con- mudanças de comportamento da so-
tratar pessoas com deficiência nas ciedade brasileira.
empresas com mais de 100 funcioná-
rios (Lei Federal 8.213\91); as normas Há, portanto, uma tendência mundial,
técnicas de acessibilidade (NBR 9050) pautada numa visão mais ecológica e
e a Lei Brasileira de Inclusão da Pes- sustentável, onde a perenidade dos va-
soa com Deficiência conhecida como lores democráticos está centrada na
Estatuto da Pessoa com Deficiência construção de sociedades mais igua-
(Lei nº 13.146/2015), destinada a asse- litárias e sem barreiras, onde todas as
gurar e a promover, em condições de pessoas possam ter seus direitos civis
igualdade, o exercício dos direitos e respeitados e uma participação social
das liberdades fundamentais para as efetiva, com a valorização de seu po-
pessoas com deficiência, vêm conso- tencial criativo e de suas habilidades.

138
Por que as pessoas com Os conselhos se organizam apenas
deficiência que necessitam de no âmbito municipal?
uma cirurgia plástica corretiva Também existem Conselhos Estaduais
para melhorar sua qualidade de e Federais, uma vez que um dos obje-
vida têm que ficar esperando pela tivos principais deles é ouvir e encami-
cirurgia o mesmo tempo ou mais nhar as aspirações de um grupo repre-
que uma cirurgia estética, como sentativo, em relação à construção de
é verificado nos atendimentos políticas públicas que os represente.
públicos, municipal e estadual, Infelizmente, no atual governo fede-
em São Paulo? Existe legislação ral, estes Conselhos têm sido extintos,
regulatória específica para essa como foi o caso do Conselho Nacional
questão? dos Direitos das Pessoas com Deficiên-
No Brasil, o Decreto 5.296/04 no capí- cia (CONADE).
tulo II, artigo 5º define o atendimento
A história nos aponta para a relevância
prioritário às pessoas com deficiên-
do trabalho desses Conselhos, que pro-
cia, exceto as deformidades estéticas
moviam uma grande reunião de aproxi-
e as que não produzem dificuldades
mação de todas as organizações repre-
para o desempenho de funções moto-
sentativas, a nível municipal e estadual,
ras. Portanto, pessoas com deficiên-
que era a Conferência Nacional; nesse
cia que necessitam de cirurgia plás-
caso dos Direitos da Pessoa com Defi-
tica para corrigir deformações que
ciência. A primeira Conferência foi rea-
prejudiquem sua funcionalidade têm
lizada em 2006, e a segunda em 2008.
direito ao atendimento preferencial,
Os encontros serviam para ofertar di-
como por exemplo, os casos de lábio
retrizes nacionais para uma temática
leporino, que é uma abertura na região
específica. Em 2006, houve destaque
do lábio ou palato, ocasionada pelo
para o tema: “Acessibilidade – você
não fechamento dessas estruturas,
também tem compromisso”. Os even-
que ocorre entre a quarta e a décima
tos foram coordenados pelo Conselho
semana de gestação.
Nacional dos Direitos da Pessoa com
Portadora de Deficiência (CONADE). A
I Conferência teve como grande obje-
tivo. “Possibilitar o amplo debate, em
âmbito Nacional, Estadual e Municipal,
PARA SABER MAIS sobre as questões significativas para a
Confira a íntegra da Lei Brasileira de inclusão da pessoa com deficiência no
Inclusão da Pessoa com Deficiência processo de desenvolvimento do país,
conhecida como LBI. balizando a atuação das diferentes po-

139
líticas públicas e as mudanças neces- era a Agenda Social do Governo Fe-
sárias para seu efetivo avanço”. deral, lançada em 2007 com o intuito
de fomentar uma série de políticas de
A temática debatida foi estimulada por acessibilidade. Além de tais desafios,
sugestões colhidas em encontros na- compreendeu-se a necessidade de
cionais realizados entre 2003 e 2004, manter uma série de reivindicações,
e precedidas pelas Conferências Es- sobretudo nas áreas da saúde, educa-
taduais e Municipais. O evento reuniu ção, trabalho, acessibilidade e reabili-
cerca de 1.100 pessoas. Os objetivos tação profissional.
específicos destacados foram: a sen-
sibilização de governos, a avaliação O grande questionamento que ain-
de políticas públicas no setor, as pro- da prevalece, apesar da mobilização
postas de inclusão, o estabelecimento nestes tipos de encontros, segundo
de estratégias para garantir o cumpri- pesquisas recentes, é que muitas de
mento das leis vigentes e o estímulo ao suas demandas ainda não encontram
fortalecimento do controle social, so- repercussão efetiva nas ações do po-
bretudo por meio dos conselhos. der público, a despeito das esferas de
governo envolvidas. Muitas vezes, esse
A II Conferência teve como tema cen- comportamento do Estado é atribuído
tral: “Inclusão, participação e desen- ao gigantismo da burocracia que se es-
volvimento – um jeito novo de avan- palha como forma de controle das ins-
çar”. Um dos principais desafios do tâncias decisórias.
encontro foi promover a discussão de
três importantes documentos para a
realidade da pessoa com deficiência.
O primeiro, lançado pelo Organizações O que está sendo feito
das Nações Unidas (ONU) em 2006, para atender a Convenção
passaria a vigorar em 2008 sob o título Interamericana celebrada
Convenção sobre os Direitos das Pes- na Guatemala, visando à
soas com Deficiência. O Congresso eliminação de todas as formas de
Nacional, em 2008, estava ratificando discriminação contra a pessoa
o documento. O segundo era o Progra- com deficiência no âmbito
ma de Ação para a Década das Amé- educacional?
ricas, pelos Direitos e pela Dignidade A Constituição Federal Brasileira busca
das Pessoas com Deficiência, lançado assegurar princípios que devemos per-
pela Organização dos Estados Ame- seguir na concretização de direitos e
ricanos (OEA) em 2007, com diversas efetivação de políticas públicas. Assim,
contribuições brasileiras. O terceiro ainda é possível constatar a existência de

140
descompasso entre a realidade e a letra ção do acesso à educação básica e ao
da lei. No caso da pessoa com deficiên- atendimento educacional especializa-
cia isso é claro. Acordos internacionais do para a população com deficiência de
posteriores à Convenção Interamerica- 4 a 17 anos.
na, como a Convenção Internacional dos
Direitos das Pessoas com Deficiência As obrigações, geradas pelo ajusta-
promulgada pela Organização das Na- mento às recomendações geradas pe-
ções Unidas (ONU) em 2006, onde o Brasil los documentos internacionais, ressal-
passou a ser signatário, proporcionou o tam a qualidade do conjunto de normas
debate e a construção de novos paradig- e leis vigentes no Brasil, nos colocando
mas sociais, visões mais apuradas dos dentro de 1/3 dos países membros da
fenômenos sociais e culturais, exigindo Organização das Nações Unidas (ONU)
ajustes às nossas políticas internas, evi- ONU que possuem legislação específi-
denciando a necessidade de novas pers- ca para as pessoas com deficiência.
pectivas de participação social e de direi-
tos para todas as pessoas, valorizando a
diversidade como um patrimônio social,
O que esses conselhos discutem?
cultural e emocional da humanidade. A
Quais as principais demandas?
Convenção Interamericana para a Elimi-
nação de Todas as Formas de Discrimi- As pautas dos 490 Conselhos Munici-
nação Contra as Pessoas Portadoras de pais de Direitos das Pessoas com De-
Deficiência (Convenção da Guatemala) ficiência espalhados pelo Brasil repre-
foi um bom exemplo desse esforço, e a sentam as demandas e expectativas
participação do Brasil aponta como um locais em relação à população com de-
sinal relevante. ficiência que vive nesses municípios.
Na maioria dos casos trazem reivindi-
Como um dos resultados do trabalho cações relacionadas à observância dos
sistemático pelos direitos fundamen- direitos das pessoas com deficiência
tais das pessoas com deficiência con- já inscritos em leis, além de sugestões
tidos nas diversas leis brasileiras, foi a para a melhoria de atendimentos locais
promulgação da Lei Brasileira de Inclu- (saúde, educação, acessibilidade urba-
são da Pessoa com Deficiência, tam- na etc.), visando a promoção da quali-
bém conhecida como Estatuto da Pes- dade de vida e do exercício da cidada-
soa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015). nia dessa população.

Na área educacional o Plano Nacional Trazemos como exemplo, uma pes-


de Educação 2014-2024, na sua meta quisa realizada no ano de 2012 pelo
4 traz como objetivos: a universaliza- Instituto de Pesquisa Econômica Apli-

141
Pontos positivos e boas práticas iden-
tificados no período da pesquisa, em
relação a atuação do CONADE:

1. O número e a divisão por setor de


conselheiros que compunham o
CONADE e a diversidade deles;

2. A articulação mista e dialética do


Conselho com membros do poder
público e da sociedade civil;

3. A atuação de atores destes dois


segmentos dentro do próprio con-
selho.

4. O funcionamento das estruturas


Descrição da Imagem: Homem com deficiência internas do CONADE: a Secretaria
física, em uma cadeira de rodas, é empurrado Executiva, a Presidência e as ple-
por uma criança. Fim da descrição.
nárias;

5. A capacidade de atuação e enga-


cada (IPEA), em parceria com a Secre- jamento de seus membros, em
taria Geral da Presidência da República especial, os representantes da
como um bom exemplo da relevância sociedade civil;
da atuação desses Conselhos. Ela tinha
6. A capacidade do Conselho pro-
por finalidade obter informações bási-
duzir demandas e diretrizes con-
cas que contribuíssem para o aperfei-
sistentes para a produção de
çoamento do processo democrático e
políticas públicas de inclusão de
decisório nesses colegiados. A pesqui-
pessoas com deficiência;
sa foi direcionada ao Conselho Nacional
dos Direitos da Pessoa com Deficiência 7. A capacidade do CONADE influen-
(CONADE), operante na época, e apre- ciar a sociedade civil e o governo
sentada, na forma de um relatório final por meio da Secretaria dos Direi-
intitulado: “Projeto Conselhos Nacio- tos Humanos da Presidência da
nais: perfil e atuação dos conselhei- República. Entretanto, o poder de
ros”. Nas suas “Considerações Finais influência foi considerado baixo
em relação ao poder privado e à
“algumas boas práticas e tópicos para
opinião pública.
debate e reflexão foram enumerados,
dentre os quais destacamos: Ao observarmos, também como exem-

142
plo, a agenda desses Conselhos Muni- associado à demanda por fortaleci-
cipais no Estado de São Paulo podere- mento institucional e atuação mais
mos ter uma dimensão acerca dos seus republicana de seus integrantes. Des-
principais desafios, pois ainda muito sa forma, os conselheiros, em muitos
precisa ser feito para o encaminha- casos, acabam por representar inte-
mento de pautas estruturadas de rei- resses políticos, privados ou corpo-
vindicações. rativistas, o que distancia o órgão de
questões mais amplas que possam ser
Algumas questões, contudo, apare- de interesse do recorte populacional
cem com força, dentre as quais: capa- que representam. É necessário se in-
citação de multiplicadores em relação vestir na captação contínua daqueles
aos direitos e deveres das pessoas que exercem tais atividades e qualifi-
com deficiência; cumprimento das car localmente a divulgação dos deve-
leis existentes; capacitação dos pro- res e responsabilidades atribuídas a
fessores para lidar com a pessoa com esses conselhos.
deficiência; facilitação do acesso ao
conteúdo das leis; unificação das car-
teirinhas que dão acesso aos princi-
pais modais de transporte coletivo;
O que devo fazer se um médico
se negar a fornecer um laudo
instrumentos que possibilitem que as
sobre minha deficiência auditiva
Secretarias especialmente criadas
(moderada e leve) para que eu
para os assuntos da pessoa com de-
possa usufruir dos meus direitos
ficiência registrem e incluam na sua
para inscrição em concurso
agenda integralmente as percepções
público?
desses Conselhos com relação às de-
mandas das pessoas com deficiência; Em primeiro lugar é importante que
a humanização nos atendimentos de você compreenda o conceito de defi-
forma geral oferecidos a qualquer ci- ciência auditiva, disposto no Decreto
dadão nos municípios; e a construção Federal nº 3.298/99, alterado em 03 de
de residências inclusivas. Nesse caso, dezembro de 2004 com a edição do De-
a metragem das moradias populares creto Federal nº 5.296/04. Nos termos
oferecidas pelo Estado de São Paulo da nova legislação considera-se defi-
aumentou em virtude das demandas ciência auditiva a perda bilateral, par-
de acessibilidade nas moradias a par- cial ou total, de quarenta e um decibéis
tir de 2010. (dB) ou mais, comprovada por audiogra-
ma nas frequências de 500HZ, 1.000HZ,
Assim, a despeito das pautas, o prin- 2.000Hz e 3.000Hz. Se esse é seu caso,
cipal desafio destes Conselhos, está você faz jus ao laudo que comprova sua

143
condição de pessoa com deficiência O que determina a Política Nacional
para fins de reserva de vagas. para a Integração da Pessoa
Portadora de Deficiência – Decreto
O médico que lhe atendeu não poderia 3.298, de 20/12/1999?
se recusar a fornecer o laudo. Sugeri-
O Decreto Federal 3.298/99 institui
mos que você procure uma segunda
a política nacional de Integração da
opinião médica e o Conselho Regional
Pessoa Portadora de Deficiência, que
de Medicina, caso não obtenha o seu
laudo, pois o médico poderá ser denun- objetiva, em seu Artigo 1º., assegurar o
ciado por insuficiência profissional. pleno exercício dos direitos individuais
e sociais das pessoas com deficiência,
Você também pode procurar ajuda de e em seu artigo 2º dispõe que cabe aos
um advogado para que avalie melhor o órgãos e às entidades do Poder Públi-
encaminhamento do seu caso. Há uma co assegurar o pleno exercício de seus
medida judicial chamada mandado de direitos básicos: à educação, à saúde,
segurança que pode ser adequada para ao trabalho, ao desporto, ao turismo,
garantir a sua inscrição imediata e com ao lazer, à previdência social, à assis-
regularidade no concurso em questão, tência social, ao transporte, à edifica-
na hipótese de você de fato cumprir as ção pública, à habitação, à cultura, ao
exigências nos termos da legislação vi- amparo à infância e à maternidade, e
gente, para fins de reserva de vagas. de outros que, decorrentes da Consti-

Descrição da imagem: Fotografia em plano aberto


da cintura para baixo de dois homens. A direita
um homem pardo está sentado em uma mureta. A
esquerda um homem apoiado na mureta, pernas
cruzadas, usa próteses abaixo do joelho com o pôr do
sol e a praia ao fundo. Fim da descrição.
PARTICIPAÇÃO SOCIAL 144
tuição e das leis, propiciem seu bem- contributiva que prevê, por meio de
-estar pessoal, social e econômico. um conjunto integrado de ações pú-
blicas e da sociedade, garantir o aten-
Os demais artigos, além de discorrer dimento às necessidades básicas do
sobre cada um desses direitos, enume- cidadão.
ram os princípios, diretrizes, objetivos
e instrumentos dessa política. Também O art. 2º explicita os objetivos da as-
trazem a definição de cada deficiência. sistência social: a proteção à família, à
maternidade, à infância, à adolescên-
Esse Decreto tem fundamental impor-
cia e ao idoso; a habilitação e reabili-
tância na consolidação dos direitos
tação das pessoas com deficiência e a
das pessoas com deficiência. Em no-
promoção de sua integração à vida co-
vembro de 2011, por meio do Decreto n.
munitária; e ainda a garantia de 1 (um)
7.612, foi estabelecido o Plano Nacional
salário-mínimo de benefício mensal à
dos Direitos da Pessoa com Deficiência
pessoa com deficiência e ao idoso que
que estabelece metas a curto e médio
comprovem não possuir meios de pro-
prazo, em todas as áreas, com ações
ver a própria manutenção, ou de tê-la
articuladas favorecendo a plena inclu-
provida por sua família.
são social da pessoa com deficiência.
A assistência social é implementada de
E em 2015 foi promulgada a Lei Brasi-
leira de Inclusão da Pessoa com Defi- forma integrada às políticas setoriais,
ciência conhecida como Estatuto da visando o enfrentamento da pobreza,
Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146), a garantia dos mínimos sociais, o pro-
que aglutinou informações dos docu- vimento de condições para atender
mentos legais anteriores e acrescen- contingências sociais da população e a
tou outras, ampliando os direitos fun- universalização dos direitos sociais.
damentais da pessoa com deficiência.

O deficiente físico tem prioridade


O que determina a Lei Orgânica da no julgamento de processos
Assistência Social – Lei 8.742, de na justiça quando ele é parte
07/12/1993? interessada? Qual a lei e os
caminhos para obter o Direito?
A Lei Orgânica da Assistência Social
determina e define em seu art. 1º, ca- Nos termos das Leis Federais nº
pítulo I, que a Assistência Social é um 7.853/89 e nº 10.048/00, a Adminis-
direito do cidadão e dever do Estado. É tração Pública Federal – incluindo os
uma política de seguridade social não tribunais – deverá conferir tratamen-

145
to prioritário aos assuntos relativos Há vários direitos específicos de pes-
às pessoas com deficiência, além de soas com deficiência. Porém, é neces-
atendimento preferencial e apropria- sário que seu marido se submeta a uma
do para que lhes seja garantido o pleno perícia médica para determinar se ele
exercício de seus direitos individuais e pode ser incluído no conceito de defi-
sociais. Há, no entanto, discussão dou- ciência da legislação brasileira, enqua-
trinária acerca do alcance desta nor- drando-o na categoria de Classificação
ma. Enquanto alguns acreditam que há Estatística Internacional de Doenças e
prioridade irrestrita, bastando que o Problemas Relacionados à Saúde (CID)
requerente seja pessoa com deficiên- mais adequada. Uma vez caracterizado
cia, outros acreditam que a prioridade como pessoa com deficiência – nos ter-
se restringe apenas àquelas matérias mos do Decreto nº 3.298/99, e atendidos
relacionadas à própria deficiência. os requisitos explicitados abaixo –, ele
poderá requerer a isenção de IPI e ICMS
Recentemente o Supremo Tribunal de incidente na aquisição de veículos.
Justiça (STJ) baixou a Resolução nº
Quanto à compra de imóvel, não existe
2/2005, estabelecendo que a priorida-
ainda qualquer benefício concedido às
de de julgamento seria dada apenas aos
pessoas com deficiência.
processos em que, além de uma parte
interessada ter de possuir uma defi- Sobre o Imposto Sobre Produtos Indus-
ciência, a matéria discutida tivesse re- trializados (IPI) (em território nacional)
lação com a deficiência havida. No en- – Nos termos do artigo 1º da Lei Federal
tanto, mesmo que a resolução do (STJ) nº 8.989/95, prorrogada pela Lei 14.287,
não o satisfaça, você pode solicitar prio- de 31 de dezembro de 2021, fica isenta
ridade de averiguação do seu processo, do (IPI) – a compra de automóvel, quan-
por força da aplicação direta da própria do adquirido por pessoa com portado-
lei em conjunto com a Constituição Fe- ra de deficiência física, visual, mental
deral, que considera o poder judiciário severa ou profunda, e pessoas com
como parte da Administração Pública. transtorno do espectro autista, direta-
mente ou por intermédio de seu repre-
sentante legal, limitado ao valor de R$
200.000,00 (duzentos mil Reais).
Meu marido sofreu um acidente de
trabalho e perdeu o olfato, o pala- A concessão da isenção do Imposto
dar e a parte superior do sistema sobre Operações relativas à Circulação
nervoso – conforme laudo do IML. de Mercadorias e sobre Prestações de
Ele tem direito a desconto na com- Serviços de Transporte Interestadual
pra de veículo e casa própria? (ICMS) em São Paulo, por exemplo, é

146
Descrição da imagem: Um homem com deficiência pedala
com suas mãos uma bicicleta adaptada a cadeira de rodas.
Um efeito na fotografia mostra o fundo com árvores e dois
corredores na imagem com a sensação de que todos estão
em movimento. Fim da descrição.

regulamentada pela Portaria CAT 18, Existem políticas públicas


que estabelece procedimentos para específicas para pessoas com
o reconhecimento da isenção do im- deficiência?
posto ICMS na aquisição de veículo Sim existem, e estão associadas ao
automotor novo por pessoa com de- cumprimento da legislação específica
ficiência física, visual, mental severa vigente, como por exemplo a Lei Brasi-
ou profunda, ou autista e na operação leira de Inclusão (Lei 13.146/15). Um as-
interna com acessórios e adaptações pecto muito debatido e aplicável às po-
especiais para serem instalados em líticas públicas municipais, diz respeito
veículo automotor – Para o direito a à acessibilidade. Nesse caso, não esta-
gozo da isenção em São Paulo é ne- mos tratando apenas da questão sob
cessário que o veículo seja adaptado o ponto de vista das barreiras físicas,
e o adquirente seja pessoa com defi- mas também de aspectos educacio-
nais e culturais. Assim, existem órgãos
ciência física, nos termos da Lei Es-
públicos que tratam especificamente
tadual n° 6.374/89 atualizada pela Lei
dessa pauta nos planos municipais, es-
Estadual nº 17.473/21. Para mais infor-
taduais e federal.
mações consulte o site do Governo do
Estado de São Paulo: https://www2. Em 2005, por exemplo, São Paulo criou
camara.leg.br/legin/fed/lei/1991/lei- sua Secretaria Municipal da Pessoa
-8213-24-julho-1991-363650-publica- com Deficiência e Mobilidade Reduzida,
caooriginal-1-pl.html o que aconteceu no Rio de Janeiro em

147
2007 e em algumas outras cidades do Deficiência, a Promotoria de Justiça
Brasil. No Estado de São Paulo a Secre- do Ministério Público Federal e outros.
taria dos Direitos da Pessoa com Defi- Mas, ainda se verifica uma desarticu-
ciência também foi criada em 2008. lação para iniciativas nacionais e esta-
duais, em função da falta de um projeto
No plano Federal existe a Subsecreta- maior, e com representatividade abran-
ria Nacional de Promoção dos Direitos gente, que consolide as conquistas ex-
da Pessoa com Deficiência, criada em
pressadas na legislação brasileira e nos
2009 e ligada à Secretaria Especial dos
acordos internacionais vigentes.
Direitos Humanos, que fica diretamen-
te subordinada à Presidência da Repú- A Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146/15)
blica. Além de existirem órgãos da ad- tem potencial para atender e efetivar os
ministração pública direta que tratam direitos básicos da população com defi-
desse tema em uma série de governos ciência. No entanto, sua regulamenta-
municipais, estaduais e até mesmo no ção ainda está pendente, apesar de sua
plano federal. redação demonstrar total alinhamento à
Convenção Internacional sobre o Direito
É importante destacar o caráter trans-
das Pessoas com Deficiência da Organi-
versal das políticas associadas às pes-
zação das Nações Unidas (ONU), de que
soas com deficiência, no campo da
o Brasil é signatário, sendo necessário
assistência social, da saúde, da edu-
cação, do transporte, da habitação, colocar esta pauta em debate no Parla-
do trabalho e em tantas outras áreas mento, para que sejam concluídas todas
existem direitos específicos associa- as suas formalidades.
dos ao bem-estar da pessoa com de-
As preocupações em relação à conclu-
ficiência.
são da formalização deste processo,
Entretanto, no governo de Jair Bolso- persistem, tendo em vista que essa
naro, algumas dessas instâncias de demanda, em 2019, foi entregue ao
defesa de direitos das pessoas com Ministério da Mulher, Família e Direito
deficiência, a nível federal, encontram- Humanos, mas ainda sem novos en-
-se inoperantes, ainda restando muitos caminhamentos, para que se efetive
núcleos de resiliência, como os Con- enquanto um parâmetro legal na for-
selhos Estaduais e Municipais de di- malização de políticas públicas com
reito das pessoas com deficiência, as transversalidade em todos os segmen-
Secretarias Estaduais e Municipais da tos governamentais. São necessárias
Pessoa com Deficiência, a Ordem dos transformações mais profundas, inclu-
Advogados do Brasil (OAB) através da sive dando voz a esta população, pro-
Comissão de Direitos das Pessoas com curando atender suas aspirações no

148
mais amplo espectro: do acesso à saú- social. No entanto, no mandato 2018 /
de, educação, trabalho, cultura, lazer, e 2022 do atual governo do Presidente e
a efetivação de direitos já conquistados Jair Bolsonaro, de acordo com o Arti-
go 24 da Lei 10.683/03 passou a fazer
Assim, trabalhar com as políticas desti- parte da estrutura da Secretaria dos
nadas às pessoas com deficiência é ter Direitos Humanos da Presidência da
a capacidade de se pensar e trabalhar República.
numa perspectiva de transversalidade,
articulando uma série de áreas em tor- Pesquisa acerca do perfil dos municí-
no de um tema absolutamente essen- pios brasileiros realizada anualmente
cial. A realidade, no entanto, por vezes pelo Instituto Brasileiro de Geografia
mostra-se mais difícil. Bem como em e Estatística (IBGE) mostrava que em
outros setores da sociedade, parece 2009 apenas 490 cidades brasileiras
haver ainda uma grande lacuna entre possuíam Conselhos dessa nature-
as garantias legais, as políticas de go- za. Isso representa menos de 9% dos
verno e os desafios cotidianos deste municípios do país. O percentual mais
público que se pretende atender. elevado de presença desse tipo de or-
ganismo encontrava-se nas cidades
com mais de 500 mil habitantes, onde
72,5% delas possuíam Conselhos de
Existem conselhos gestores
Direitos da Pessoa com Deficiência.
dos direitos da pessoa com
Esse índice cai para menos de 2% nas
deficiência?
cidades com até cinco mil habitantes,
Sim, o Conselho Nacional dos Direitos mostrando que a temática ainda pre-
da Pessoa com Deficiência (CONADE), cisa se consolidar na cultura nacional
foi criado vinculado ao Ministério da e atingir todas as realidades.
Justiça, como um órgão superior de
deliberação colegiada e de natureza Em termos regionais, cerca de 5% das
permanente, composto por represen- cidades do Norte e Nordeste possuem
tantes do governo e da sociedade ci- Conselhos dessa natureza, enquanto
vil. Foi criado em 1999 como um órgão no Sudeste esse percentual sobe para
para monitorar, acompanhar e avaliar 14,5%. Estados como Acre, Roraima e
a política nacional no que diz respei- Amapá não tinham sequer uma cida-
to à pessoa com deficiência e às po- de com Conselhos dessa natureza em
líticas setoriais de educação, saúde, 2009. Desses 490 Conselhos, 463 são
trabalho, assistência social, transpor- paritários, ou seja, formados por mem-
te, cultura, turismo, desporto, lazer e bros da sociedade civil e do governo
política urbana dirigidas a esse grupo local. Dentre eles: 354 são consultivos,

149
384 deliberativos, 204 normativos e e à continuidade da defesa dos direi-
320 fiscalizadores, lembrando que um tos da pessoa com deficiência, uma
mesmo Conselho pode assumir dife- vez que suas demandas passaram a
rentes funções. Em termos administra- ser tratadas muito mais no âmbito as-
tivos, 81% desses 490 Conselhos estão sistencial do que na promoção de seus
associados a órgãos gestores de assis- direitos.
tência social, reforçando uma política,
por vezes, associada ao caráter bene-
volente de políticas públicas.
Existe lei que permita aos
Por fim, segundo a pesquisa do IBGE, portadores de deficiência física ter
todos os 490 Conselhos realizaram acesso gratuito a cinemas, clubes
pelo menos uma reunião nos últimos e casas de espetáculos?
doze meses. O acesso gratuito não é obrigação le-
gal. No entanto, a Lei nº 12.933 de 26 de
Por meio do Decreto nº 10.177/19, a dezembro de 2013 confere o benefício
composição do Conselho Nacional da do pagamento da meia-entrada para
Pessoa com Deficiência (CONADE) foi pessoas com deficiência em espetá-
alterada e sua vinculação, passando a culos artísticos culturais, conferindo
fazer parte do Ministério da Mulher, da igual direito a sua acompanhante quan-
Família e dos Direitos Humanos. Essa do necessário. A concessão do benefí-
mudança teve como consequência a cio limita-se a 40% (quarenta por cen-
redução da ampla representatividade to) dos ingressos disponíveis para cada
que existia, reduzindo-a para um sim- evento, que incluem estudantes, ido-
ples processo seletivo, trazendo prejuí- sos e jovens de 15 a 29 anos comprova-
zo à diversidade de colaborações e ao damente carentes.
espaço de debate; assim como a alte-
ração de dois para três anos de man-
dato dos conselheiros e a exclusão da
Existe alguma legislação que torna
Associação Nacional dos Membros do
obrigatório que estabelecimentos
Ministério Público de Defesa dos Direi-
que comercializam roupas e
tos da Pessoa com Deficiência e Idoso
acessórios tenham provadores
(AMPID) dentre as entidades da socie-
com acesso para cadeirantes?
dade civil que poderiam participar des-
se processo eleitoral. A acessibilidade para pessoas com de-
ficiência é garantida pela legislação
Devido a essas mudanças há muitas federal como a Constituição Federal
discussões e dúvidas no cenário nacio- de 1988, as Leis Federais de Acessibi-
nal brasileiro em relação à legitimidade lidade 10.048/00 e 10.098/00 e o De-

150
creto-Lei 5296/04. Estas garantem mento àqueles estabelecimentos que
a acessibilidade e a livre locomoção forem realmente acessíveis, no caso de
à pessoa com deficiência dentro do lojas, com acessibilidade nos provado-
território nacional. No entanto, cada res oferecidos ao público.
município, através de decretos locais,
poderá fazer um detalhamento dessas
leis definindo sanções legais pelo seu
descumprimento. Em relação à dimen- Existe a possibilidade de
são mínima de provadores de roupa, programas como o ATENDE
para permitir acesso com conforto às serem expandidos para outros
pessoas com deficiência, os estabele- municípios? Existem programas
cimentos comerciais poderão basear- similares comandados pelo
-se nas normas da ABNT 9050/04. Por governo estadual ou federal?
exemplo, desde dezembro de 2009 a
O Serviço de Atendimento Especial
Prefeitura do Rio de Janeiro, por meio
(ATENDE+) é um transporte porta a por-
de uma liminar em ação civil pública,
ta, gratuito, destinado a pessoas que
somente concede alvará de funciona-
não apresentem condições de mobili-
dade e acessibilidade autônoma, para
acessar os meios de transportes con-
vencionais ou que manifestem grandes
restrições ao acesso e uso de equipa-
mentos urbanos.

É destinado a pessoas com deficiên-


cia física, temporária ou permanen-
te, transtorno do espectro autista ou
surdo-cegueira. As três modalidades
do atendimento são: Atendimento re-
gular (com programação de viagens
fixas aos cadastrados, na frequência
semanal); Atendimento Eventual (para
transporte em viagens esporádicas
aos cadastrados para consultas e pro-
cedimentos médicos); e Atendimento
a eventos nos finais de semana e feria-
Descrição da imagem: Fotografia em plano dos para grupos de pessoas ligadas à
fechado de duas mulheres sorrindo. Uma delas é
uma mulher com síndrome de down. Elas estão em
instituição cadastrada.
uma sala de aula. Fim da descrição.

151
Programas semelhantes ao ATENDE Estado de São Paulo não existem pro-
paulista estão em pleno funcionamen- jetos similares.
to em diferentes Municípios e Estados
do Brasil. O transporte especial porta a Quanto ao cartão para liberação de es-
porta é uma alternativa ao transporte tacionamento, cada cidade tem a sua
coletivo acessível sendo considerado própria legislação – que normatiza as
necessário enquanto não houver acessi- vagas especiais para as pessoas com
bilidade em todo o transporte existente, deficiência nos estacionamentos pú-
respeitando as características e neces- blicos e/ou privados e os prazos para
sidades da população com deficiência. renovação, assim como os procedi-
É necessário buscar informações na mentos e os órgãos específicos onde
Secretaria de Transportes de cada mu- requerer os cadastros.
nicípio. Maiores informações consulte
Na cidade de São Paulo, o cartão para
a lei nº 566/93 que concede transporte
pessoas com deficiência é denomina-
gratuito às pessoas com deficiência.
do cartão DeFis. Esse cartão concede
autorização especial e gratuita para
estacionamento de veículos em vagas
Deficientes têm direito à isenção reservadas a pessoas com deficiência
de pedágios? Como posso física, sinalizadas com o símbolo inter-
conseguir o cartão para liberação nacional de acesso, nas vias e logra-
de estacionamentos? douros públicos.

Não existe lei federal que preveja a A Companhia de Engenharia de Tráfe-


isenção de tarifas de pedágio para pes- go emite o cartão DeFis para: (i) pes-
soas com deficiência. Porém, tramitam soas com deficiência ambulatória no(s)
na Câmara de Deputados os Projetos de membro(s) inferior(es) ou no(s) mem-
Lei (PL) nº 4.251/01, e nº 328/03, dentre bro(s) inferior(es); (ii) portadores de de-
outros anexos apensos, que propõem, ficiência física ambulatória autônoma
com pequenas diferenças, isenção nos decorrente de incapacidade mental
pedágios de rodovias federais. Esses moderada, grave ou severa (quando a
projetos estão sob análise da Comissão pessoa com deficiência está impedida
de Seguridade Social e Família, mas de assinar a documentação devida, há
nenhum deles foi convertido em lei. a necessidade de apresentação de do-
Qualquer cidadão pode acompanhar o cumento de representação legal como
andamento dessas propostas pelo site Tutela ou Curatela para que o respon-
do Senado Federal www.senado.gov.br sável formalize o processo); (ii) mobi-
e, ainda, enviar um e-mail ou telefonar lidade reduzida temporária, com alto
para parlamentares da comissão. No grau de comprometimento ambulató-

152
rio, inclusive deficiência de deambu- periências de vida, para que se busque
lação temporária mediante solicitação construir estratégias que possam ser
médica ou; deficiência visual conforme significativas e promovam seu desen-
o Decreto 5296/04. volvimento e interação junto a grupos
da mesma idade coetâneos ou à pró-
pria família. A inclusão social não se dá
sozinha, mas em interação com outros
De acordo com o Conselho recursos, atendimentos, em rede, para
Nacional dos Direitos da Pessoa proporcionar o desenvolvimento inte-
com Deficiência (CONADE) quem é gral da pessoa.
considerado deficiente?
A Convenção sobre os Direitos das Pes- Dentre as questões que cercam o enve-
soas com Deficiência ratificada pelo lhecimento, a saúde e a manutenção da
autonomia são elementos primordiais
Congresso Nacional em 09/07/2008
na sua qualidade de vida.
pelo decreto legislativo nº 186/2008
define o conceito de deficiência que
O Estatuto do Idoso (lei nº 10.741/03)
inclusive é adotado pelo Conselho Na- dispõe sobre alguns meios e obriga-
cional da Pessoa com Deficiência (CO- ções legais para o melhor cumprimento
NADE) como: das ações de atenção à saúde dos ido-
sos. Os programas já implementados
“Pessoas com deficiência são
devem ser conhecidos e divulgados: a
aquelas que têm impedimentos
vacinação; o programa de valorização
de natureza física, intelectual ou
e saúde; o mutirão de cirurgia de cata-
sensorial, os quais, em interação
ratas; a distribuição de medicamentos
com diversas barreiras, podem
para doenças prevalentes.
obstruir sua participação plena e
efetiva na sociedade com as demais A alimentação balanceada, a prática re-
pessoas”. (Artigo 1 –Propósito – gular de exercícios físicos, a convivên-
Convenção ONU 2006). cia social e o desenvolvimento de uma
atividade ocupacional prazerosa, são
hábitos que devem ser valorizados, de-
senvolvidos ou fortalecidos. Também
Como trabalhar pela inclusão
deve ser estimulada a participação nos
das pessoas com deficiência em
espaços culturais e de lazer que apre-
processo de envelhecimento?
sentem condições de acessibilidade.
Inicialmente, é necessária uma aproxi- Da mesma forma os efeitos do alcoolis-
mação com a realidade desses indiví- mo, tabagismo e da automedicação de-
duos em termos de expectativas e ex- vem ser estudados, e desestimulados.

153
Outro tema de alta relevância é o co- É importante avaliar as realidades
nhecimento dos direitos das pessoas de cada caso individualmente, quan-
com deficiência, contidos na Lei Brasi- do um profissional habilitado poderá
leira de Inclusão, conhecida como Es- identificar a necessidade de encami-
tatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nhamento terapêutico à família, se for
nº 13.146/2015). necessário, assim como orientá-los
em relação aos direitos das pessoas
No Brasil pouco se investiu na organi- com deficiência e aos recursos e ser-
zação de alternativas para os idosos viços que já estão disponíveis em sua
com deficiência, até porque o proces- comunidade.
so de envelhecimento desta população
Alguns desses trabalhos complemen-
é fruto recente do avanço da medicina.
tares de apoio e suporte podem ser
Atualmente o idoso com uma deficiên-
oferecidos às famílias das pessoas com
cia, quando não conta com o apoio da
deficiência nas unidades que prestam
família, tem encontrado como alterna-
serviço escolar ou de saúde, tais como,
tiva, o encaminhamento a abrigos psi-
oferecer orientação e acolhimento,
quiátricos ou instituições de idosos.
troca de experiências, indicação de
Muitas vezes até antes de atingir sua
atendimento, grupos terapêuticos etc.
fase mais madura; e esta alternativa
também ocorre quando não há a figura Os pais devem ser orientados a favore-
de um responsável que gerencie suas cer, no ambiente familiar, um espaço de
necessidades cotidianas. escuta para os seus filhos, onde suas
opiniões sejam consideradas, e que as
dúvidas possam ser esclarecidas. Isto
poderá contribuir para o estreitamento
Como lidar com os parentes de dos vínculos familiares e a autonomia
pessoas com deficiência que de seus filhos.
são superprotetores? Há algum
programa de preparo para eles
incentivarem a independência de Como funciona o Conselho
seus filhos, irmãos etc.? Municipal da Pessoa com
A superproteção é um comportamento Deficiência?
motivado pela desinformação e por Os Conselhos Municipais da Pessoa
sentimentos de preservação x culpa, com Deficiência (CMPD) são órgãos de
chegando a interferir no processo de representação das pessoas com defi-
desenvolvimento destas pessoas, a ciência perante o Município. Sua função
ponto de a ponto de cerceá-los. é elaborar, encaminhar e acompanhar

154
a implementação de políticas públicas to para a dotação orçamentária do ano
de interesse da população com defi- seguinte de todas as Secretarias de
ciência nas áreas de: saúde, educação, Governo, no que se refere à implemen-
trabalho, habitação, transporte, cultura, tação de políticas públicas relativas à
lazer, esportes e toda matéria relativa garantia dos direitos das pessoas com
à acessibilidade e ao espaço público. O deficiência.
CMPD ainda promove atividades de inte-
gração entre pessoas com deficiência.
Como é possível a obtenção de
Segundo a Cartilha Orientadora para próteses e órteses por meio do
Criação e Funcionamento dos Conse- serviço público?
lhos de Direitos da Pessoa com Defi-
ciência (2012) na cidade de São Paulo O Sistema Único de Saúde (SUS) ofere-
ele deverá ser constituído por repre- ce próteses e órteses e demais equi-
sentantes do governo e da Socieda- pamentos a pessoas com deficiências.
de Civil, garantindo à sociedade civil Essa concessão é descentralizada, rea-
o percentual de 50% (cinquenta por lizada por meio das Unidades Básicas
cento). Na sua composição não existe de Saúde (UBS). A Lei Orgânica da Saú-
um número definido de representação, de (Lei nº 8080 de 16/09/90) e as porta-
embora seja recomendável o número rias 116 e 146 do Ministério da Saúde (se-
mínimo de dez pessoas, e de preferên- tembro e outubro de 1993) normatizam
cia em número ímpar por conta dos de- a concessão de tais equipamentos por
sempates nas votações. unidades públicas de saúde, estaduais
ou municipais, de forma descentraliza-
O Regimento Interno regulará o funcio- da, de modo a garantir o atendimento do
namento do Conselho, estabelecendo usuário o mais próximo possível de seu
regras para a participação dos Con- local de moradia. Portanto, é necessá-
selheiros na formação de Comissões rio que os interessados se informem
Permanentes ou não; no Plenário e nas nas Secretarias de Saúde Estaduais ou
representações do Conselho. O Regi- Municipais acerca dos locais mais pró-
mento Interno também tem como fina- ximos para iniciar os procedimentos de
lidade estabelecer a estrutura e com- aquisição dos equipamentos. Também
petência de seu corpo diretivo e definir é possível consultar o manual SUS de A
o período de alternância na Presidên- a Z para que se obtenha maiores infor-
cia, entre a Sociedade Civil e o Governo. mações sobre os serviços do Sistema
Único de Saúde.
O Conselho deverá acompanhar e par-
ticipar da elaboração de políticas do Mais informações no portal da Saúde da
governo local, atuando no planejamen- Pessoa com Deficiência do Ministério

155
da Saúde: https://www.gov.br/saude/ ciência mediante a eliminação de bar-
pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z reiras arquitetônicas e obstáculos, bem
como evitando a construção de novas
barreiras e incluindo as sinalizações
necessárias (vide art. 50 do Decreto nº
Sou portador de deficiência física
3.298/99 e Lei nº 10.098/00).
e no período eleitoral me desloquei
para a escola onde voto. Ao chegar, Em resumo, é dever do Estado garantir
fui impedido de entrar pelo portão a acessibilidade dos prédios e logra-
da garagem, pois o diretor da es- douros públicos, assim como escolas,
cola alegou que a Justiça Eleitoral independentemente do período eleito-
havia proibido a abertura do por- ral. No caso da ausência de adaptação,
tão. Tive que pedir ajuda a outras a pessoa com deficiência deve procu-
pessoas para subir as escadas da rar o Ministério Público. Nas grandes
escola, pois os funcionários, juízes
cidades existem promotorias especia-
eleitorais e a própria PM não me
lizadas nos direitos das pessoas com
prestaram auxílio. Chegaram a su-
deficiência. Sobre a questão levantada,
gerir que eu mudasse de seção e
a voz do Estado em época das eleições
para uma escola que tivesse adap-
é manifestada pelos juízes eleitorais.
tações. A quem devo reclamar?
Desta forma, sua reclamação ao juiz
O voto é um direito e um dever do cida- eleitoral já o obrigaria a tomar provi-
dão. Assim, cabe ao Estado zelar pelo dências para a efetivação do seu voto.
efetivo exercício deste direito-dever. Porém, se você não for atendido for-
Em seu relato há duas questões a se- malmente pelo juiz, pode comunicar a
rem discutidas. A primeira refere-se à questão diretamente à Corregedoria da
questão da acessibilidade, que é obri- Justiça do seu Estado.
gatória em todos os prédios públicos. A
segunda decorre da responsabilidade
do Estado frente ao seu problema. So-
Como conseguir o passe livre do
bre a acessibilidade, dispõe a Lei Fede-
transporte coletivo interestadual
ral nº 7.853/89 que é responsabilidade
previsto na Lei nº 8.899/94?
do Poder Público e de seus órgãos as-
segurar às pessoas com deficiência o O passe livre previsto na Lei Federal nº
pleno exercício de seus direitos. 8.899/94 é um benefício concedido a
pessoas com deficiência física, mental,
Assim, os órgãos e as entidades da Ad- auditiva ou visual, desde que comprova-
ministração Pública devem garantir a damente carentes. São consideradas ca-
acessibilidade das pessoas com defi- rentes as pessoas com deficiência cuja

156
renda familiar mensal per capita seja de seja encaminhado o Termo de Guarda,
até um salário-mínimo. Cumpridos os re- Termo de Tutela ou Curatela.
quisitos acima, é necessário que o inte-
ressado envie uma carta ao Ministério da Pela Internet, o requerimento online
Infraestrutura ou formule o requerimen- é feito pelo Sistema de Concessão de
to do benefício pela Internet instruído Passe Livre Interestadual do Ministério
com os seguintes documentos: da Infraestrutura no link: https://pas-
selivre.infraestrutura.gov.br/spl/login.
1. “Declaração da Composição e html
Renda Familiar”
É preciso preencher os seus dados, os
2. “Atestado/Relatório Médico Pa-
dos seus familiares e, se houver, o do
drão do PASSE LIVRE”
acompanhante e apresentar os mes-
3. 1 foto 3x4 colorida com fundo mos documentos exigidos para o pro-
branco; cedimento manual.
4. cópia de um Documento de Iden-
Caso tenha qualquer dúvida sobre este
tificação (que pode ser certidão
procedimento, envie e-mail para ouvi-
de nascimento, certidão de ca-
doria@antt.gov.br. Vale lembrar que o
samento, certidão de reservista,
passe livre poderá ser utilizado apenas
carteira de identidade, carteira de
em vias terrestres, tais como a rodo-
trabalho e previdência social ou tí-
viária e a ferroviária.
tulo de eleitor);

5. Caso você necessite de acom- Como a sociedade participou do


panhante, é preciso preencher processo constituinte brasileiro e
o “Formulário para Requerimen- quais a principais reivindicações
to de Acompanhante” (disponível da causa da pessoa com
em: http://portal.infraestrutura. deficiência?
gov.br/passelivre/arquivos/REQUE- Foram três as principais formas de a so-
RIMENTO_Acompanhante_Mode- ciedade participar do processo consti-
lo_V7.pdf) acompanhado do CPF, tuinte brasileiro. Na primeira delas um
Documento de Identificação e banco com mais de 72 mil sugestões
Renda do acompanhante e de to-
populares foi organizado pelo Senado,
dos os familiares, além do grau de
Correios e Organizações Globo, para
parentesco dos seus familiares.
que a população pudesse manifestar
Se o requerente for menor de idade ou suas expectativas e demandas, em re-
incapaz e o pai ou mãe não forem os lação ao exercício de seus direitos. As
responsáveis legais, é necessário que tabulações publicadas no meio acadê-

157
mico, não deram conta de questões es- -RS) e apoiada por mais oito entidades.
pecíficas das pessoas com deficiência. Tinha como principal objetivo garan-
tir um salário-mínimo para as pessoas
No entanto, o tema pode ser classifi- com deficiência, sobretudo para auxiliar
cado de várias formas, dentre as quais: aqueles indivíduos mais pobres que cer-
direitos e garantias individuais e orga- tamente precisam de um recurso extra
nização social. A segunda forma foi por para a educação, a saúde e principal-
meio das comissões e subcomissões mente os cuidados pessoais. A Emenda
temáticas que se reuniram em Brasília 86 recebeu 32.899 assinaturas encami-
e levantaram mais de 11 mil sugestões nhadas pelo: Organização Nacional de
advindas da sociedade. Entidades de Deficientes Físicos (ONE-
DEF – São Paulo-SP), Movimento pelos
A Comissão VII foi denominada Co-
Direitos das Pessoas Deficientes (MDPD
missão da Ordem Social, e nela foram
– São Paulo-SP) e Associação Nacional
estruturadas subcomissões: dos Ne-
dos Ostomizados (São Paulo-SP). De-
gros, Populações Indígenas, Pessoas
fendia a inserção social e econômica
com deficiência e Minorias. Tal grupo
das minorias, sobretudo nesse caso
recebeu, ao todo, 170 sugestões dire-
das pessoas com deficiência. O objetivo
cionadas à população com deficiência.
maior era desconstruir a visão assisten-
O equivalente a menos de 10% das su-
cialista de abordar o problema.
gestões dessa comissão (2.257, com
destaque para os direitos trabalhistas). Como a pessoa com deficiência
pode garantir a renda de 01 salário-
A terceira e última forma de partici-
mínimo mensal de benefício?
pação foi por meio das emendas po-
pulares ao anteprojeto constitucional, Para que as pessoas com deficiência
ou seja, as sugestões ao embrião da recebam o Benefício de Prestação Con-
Constituição Federal. Das 122 emendas tinuada (BPC), é necessário que preen-
apresentadas, 83 seguiam os padrões cha alguns critérios: deverá comprovar
protocolares: ter mais de 30 mil assi- que a renda mensal da família, per capi-
naturas e ser defendida por pelo menos ta, seja inferior a ¼ do salário-mínimo.
três entidades da sociedade civil. Nes- Para o cálculo da renda familiar é ne-
se caso, duas tratavam dos direitos das cessário considerar o número de pes-
pessoas com deficiência. A Emenda 77 soas que vivem na mesma casa; obter
recebeu 48.877 assinaturas e foi enca- através de perícia médica do INSS o
minhada pela: Associação Canoense de laudo que comprove que a deficiência
Deficientes Físicos (Canoas-RS), Escola a incapacita para a vida independente e
Especial de Canoas (RS), Liga Feminina para o trabalho. O benefício deixará de
de Combate ao Câncer (Sapucaia do Sul- ser pago quando houver superação das

158
Descrição da imagem: Fotografia em preto e branco mostra a janela de um ônibus
e o adesivo de assento preferencial encobrindo um passageiro que olha pela
janela com o Símbolo Internacional de Acesso. Fim da descrição.

condições que deram origem à conces- lor mínimo indicativo de inacessibilidade


são do benefício ou pelo falecimento e o valor máximo condições ideais, foram
do beneficiário. registradas mé,dias próximas de 5,5 pon-
tos nos dois anos da pesquisa.

O resultado mostrou que não havia


As seções eleitorais especiais para
preocupação com os critérios de es-
as pessoas com deficiência são
colha das salas de votação, em relação
acessíveis?
à acessibilidade, evidenciando uma
Na imensa maioria das vezes, as con- grande distância entre os direitos e a
dições das seções eleitorais refletem realidade, uma vez que parte expres-
o cotidiano da pessoa com deficiência, siva dos locais de votação são escolas,
ou seja, trata-se de ambientes adapta- que ainda apresentam problemas de
dos, ou ainda com barreiras de acesso acessibilidade, mesmo recebendo alu-
aos locais de votação. Em 2006 e 2008 nos com deficiência.
uma rede de organizações, dentre elas
o Instituto Paradigma, sob orientação Além disso, em levantamento realiza-
do movimento “Voto Consciente”, coor- do em 2007 o mesmo grupo de pes-
denado pelo cientista político Humberto quisadores verificou que os cartórios
Dantas, realizou uma pesquisa sobre as eleitorais, ponto de parada obrigatório
condições de acessibilidade das seções para que todos os cidadãos obtenham
eleitorais da cidade de São Paulo. Por o título eleitoral, também eram inaces-
sorteio foram visitados 100 desses locais síveis na cidade de São Paulo. Alguns
nos dias das eleições. Em um indicador deles, por exemplo, apresentavam
que variava de 0 a 15 pontos, sendo o va- acesso com escadas. A partir de 2009

159
após tomar conhecimento da pesquisa, tantes da Justiça Eleitoral provi-
o Tribunal Regional Eleitoral do Estado denciem as soluções adequadas
de São Paulo comprometeu-se em se para o exercício do voto, naquele
atentar às necessidades dos eleito- momento;
res com deficiência no que se refere a
ƒ O eleitor pode contar com a ajuda
acessibilidade.
de uma pessoa de sua confiança,
Para a eleição do ano de 2022, por exem- que, autorizada pelo presidente
plo, segundo o site do Tribunal Superior da mesa, poderá acompanhá-la à
Eleitoral, a Justiça Eleitoral está dispo- cabine de votação, ingressando
nibilizando diversos mecanismos para na cabina de votação e até mesmo
garantir ao cidadão com deficiência o digitar os números na urna. A con-
acesso ao local de votação, entre eles: dição é que o acompanhante seja
imprescindível para a votação e
ƒ O atendimento prioritário; que o escolhido não esteja a servi-
ço da Justiça Eleitoral, de partido
ƒ A possibilidade de requerer a
político ou de nenhuma coligação;
transferência do local de votação,
por meio de cartório eleitoral, e ƒ Preparação de todas as urnas
em até 151 dias antes das eleições, eletrônicas para atender pes-
para uma seção mais acessível, em soas com deficiência visual, com
condições de atender as necessi- sistema braile, fones de ouvido e
dades do eleitor com deficiência; sinais sonoros com indicação do
número escolhido e retorno do
ƒ Até 90 dias antes do pleito, os
nome do candidato em voz sinte-
eleitores com deficiência, que já
tizada. Também é possível utilizar
votam em seções com acessibili-
o alfabeto comum ou o braile para
dade, poderão comunicar ao juiz
assinar o caderno de votação, ou
eleitoral, por escrito, suas restri-
assinalar as cédulas.
ções e/ou necessidades especí-
ficas, para que a Justiça Eleitoral
providencie, se possível, os meios As estruturas de lazer estão
e recursos destinados a facilitar- preparadas para receber as
-lhes o exercício do voto; pessoas com deficiência?
ƒ No momento da votação, se não O lazer compreende tudo o que pro-
tiver sido feito nenhum requeri- picia o sentimento de bem-estar da
mento, o eleitor poderá informar pessoa, e que se distingue do que ela
ao mesário suas limitações, a fim faz para a sua própria sobrevivência.
de que os mesários e os represen- Nesse sentido, o lazer é interpretado

160
como o tempo para atividades praze- rágrafo único ao art. 4º da Lei
rosas, que promovem o descanso das nº 10.098/00, para determinar a
atividades de trabalho ou obrigações. adaptação de parte dos brinque-
Abrange formas amplas de expressão dos e equipamentos dos parques
e de atividades, cujos elementos são de diversões às necessidades das
de natureza física, intelectual, social, pessoas com deficiência ou com
artística e/ou espiritual, promovendo a mobilidade reduzida.1. O parágrafo
saúde e o bem-estar geral e trazendo adicionado tem a seguinte reda-
como benefícios: criatividade, satisfa- ção: “Parágrafo único. Os parques
ção, diversão e aumento da capacidade de diversões, públicos e privados,
de sentir prazer e felicidade. devem adaptar, no mínimo, 5%
(cinco por cento) de cada brinque-
A acessibilidade nas estruturas de lazer do e equipamento e identificá-lo
deve estar garantida em todos os locais para possibilitar sua utilização por
de uso público através de orientações pessoas com deficiência ou com
específicas. Seguem abaixo alguns mobilidade reduzida, tanto quanto
exemplos: tecnicamente possível”;

ƒ Acessibilidade a parques de di- ƒ Acessibilidade no cinema: A


versão: A Lei nº 11.982, de 16 de Agência Nacional do Cinema (Anci-
julho de 2009, acrescenta o pa- ne) divulgou normas e critérios na

Descrição da imagem: Imagem em plano fechado


mostra as pernas de uma mulher com deficiência
visual, ela usa sapatos de salto alto. A bengala dobrável
de direcionamento está à sua frente. A sua sombra é
projetada na calçada além de duas pessoas ao fundo
caminhando pela calçada . Fim da descrição.

161
Instrução Normativa n. º 128/2016, As empresas de transporte
que dispõe sobre a acessibilidade intermunicipal e estadual são
visual e auditiva para pessoas com obrigadas a ter ônibus com piso
deficiência em salas de cinema. rebaixado ou elevadores para
De acordo com essa regulamen- possibilitar um acesso digno?
tação, os exibidores são obriga-
A Lei n° 10.098/00 no capítulo VI de-
dos a fornecer equipamentos que
termina que os veículos de transporte
permitam a esse público assistir a
coletivo de todos os municípios brasi-
filmes, o que engloba recursos de
leiros devem cumprir os requisitos de
legendagem, legendagem descri-
acessibilidade definidos pelas normas
tiva, audiodescrição e língua bra-
técnicas específicas. O Decreto n°
sileira de sinais (Libras);
3.691/00 acrescenta que as empresas
ƒ Acessibilidade nos espaços cul- permissionárias de transporte interes-
turais: Os projetos culturais com tadual de passageiros devem reservar
curadorias acessíveis promovem dois assentos de cada veículo público
a participação efetiva de repre- às pessoas com deficiência. As nor-
sentantes do público com defi- mas da Associação Brasileira de Nor-
ciência, com linguagens e estra- mas Técnicas (ABNT) definem a forma
tégias de acesso irrestrito, sob o como cada coletivo deve ser adaptado,
ponto de vista do usuário. Essa seja com elevadores, piso rebaixado,
prática vem se desenvolvendo no ou rampas de acesso.
Brasil em museus e em centros
culturais; A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiência conhecida como Es-
ƒ Acessibilidade no turismo: O tu-
tatuto da Pessoa com Deficiência (Lei
rismo tem promovido a acessi-
nº 13.146/15), determina em seu artigo
bilidade em toda sua cadeia de
48, que os veículos de transporte co-
atendimento: viagens, hotéis,
letivo terrestre, aquaviário e aéreo, as
restaurantes, parques, museus e
instalações, as estações, os portos e
no transporte público.
os terminais em operação no País de-
Maiores informações, na cidade de São vem ser acessíveis, de forma a garantir
Paulo, por exemplo, consulte o Guia de o seu uso por todas as pessoas. Em seu
encaminhamentos para pessoas com parágrafo 2º assegura prioridade e se-
deficiência e mobilidade reduzida dis- gurança nos procedimentos de embar-
ponível na Secretaria Municipal da Pes- que e de desembarque nos veículos de
soa com deficiência e Mobilidade Re- transporte coletivo, de acordo com as
duzida – SMPED. normas técnicas.

162
A pessoa com deficiência pode a pessoa com deficiência tem direito de
votar? Quais suas principais solicitar ao cartório eleitoral, onde está
garantias? inscrito seu título de eleitor, uma seção
Sim, esse direito está garantido na especial de votação que seja acessível.
Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa Além disso, a urna eletrônica é equipa-
com Deficiência conhecida como Es- da com teclas em Braille para pessoas
tatuto da Pessoa com Deficiência (Lei com deficiência visual, e muitas delas
nº 13.146/15). Essa lei determina em poderão usar seu adaptador de fones
seu Capítulo IV, que trata sobre o Di- de ouvido.
reito à Participação na Vida Pública e
Política, que o poder público deve ga-
rantir à pessoa com deficiência todos
A empresa que contrata PCD tem
os direitos políticos e a oportunidade
isenção de impostos?
de exercê-los em igualdade de con-
dições com as demais pessoas, as- A empresa que contrata pessoas com
segurando o direito de votar e de ser deficiência não tem isenção fiscal. O
votada (artigo 76). que ocorre é que, muitas delas, espe-
cialmente as grandes, têm obrigação
A pessoa com deficiência é um cidadão legal de contratar um determinado per-
que tem plenos direitos políticos e, assim centual de pessoas com deficiência, de
como qualquer outro eleitor, deve votar.
Existem discussões para fazer com que
o voto desse eleitor deixe de ser compul-
sório e se torne facultativo, mas diferen-
ciar a pessoa com deficiência nesse caso
é atentar contra o princípio essencial da
igualdade de condições.

Dependendo do comprometimento
causado pela deficiência física ou in-
telectual o cartório eleitoral emite um
parecer dispensando o cidadão de suas
obrigações eleitorais. Cabe ao juiz de-
finir essa situação, lembrando que o tí- Descrição da imagem: Uma pessoa com
tulo de eleitor ou a quitação da Justiça deficiência física em uma cadeira de rodas
passa em velocidade por um portão aberto ao
eleitoral é essencial para a conquista lado de catracas de um prédio de escritórios.
de uma série de direitos. A despeito de Fim da descrição.
tal condição é importante salientar que

163
acordo com o número de funcionários valo de cada seis meses”. Por enquanto,
contratados. São as quotas reservadas as penalidades aplicadas pelo Ministério
para as pessoas com deficiência para do Trabalho, mediante “Termo de Ajuste
sua inclusão no mercado de trabalho. de Conduta”, tem o intuito maior de fazer
Sobre este particular, a Lei Federal nº a empresa cumprir a lei e não de multá-
8.213/91, também conhecida como Lei -la pelo seu descumprimento.
de Cotas e regulamentada pelo Decre-
to Federal nº 3.298/99, dispõe em seu
artigo 93 que empresas com mais de
A dificuldade de transitar pelas
100 (cem) funcionários são obrigadas
calçadas é grande. Buracos, su-
a contratar pessoas com deficiência.
jeira, ambulantes, construções
O percentual mínimo é de 2% para em-
irregulares que avançam sobre
presas menores e de 5% para empre-
a calçada, portões “barrigudos”,
sas de maior porte, nos termos da ta-
bares e restaurantes com mesas
bela abaixo: Número de Funcionários
e cadeiras. A fiscalização é insu-
– Percentual de Quotas Reservadas.
ficiente? Como a mídia trata em
geral a questão desse precioso e
Até 200 2%
inalienável direito de ir e vir?
201 - 500 3%
501 - 1000 4% Os veículos de comunicação de mas-
a partir de 1001 5% sa são um ótimo canal de informação
sobre os problemas de acessibilidade
Há um projeto de lei que prevê penalida- e têm contribuído, com isso, na ma-
des concretas para o descumprimento nutenção das vias públicas. Na cida-
deste dispositivo: “I. suspensão de em- de de São Paulo, por exemplo, dos 30
préstimos e financiamentos por insti- mil km de calçadas aproximadamente
tuições financeiras oficiais; II. vedação 500 km são acessíveis. O que demons-
de gozo de incentivos fiscais; III. inabili- tra a proporção deste desafio. A lei
tação para licitar e contratar com qual- 14.675/08 define um plano de metas a
quer órgão ou entidade de administra- ser cumprido na cidade de SP. Porém,
ção pública direta ou indireta, federal, qualquer cidadão pode denunciar para
estadual ou municipal; IV. multa de mil a Comissão Permanente de Acessibi-
a dez mil Unidades Fiscais de referência lidade (CPA) o descumprimento da le-
(UFIR), no âmbito do Ministério do Traba- gislação existente.
lho, fixadas de acordo com a gravidade
da infração e a capacidade econômica Mais informações https://www.prefei-
do infrator, sendo o valor duplicado, em tura.sp.gov.br/cidade/secretarias/pes-
caso de reincidência praticada no inter- soa_com_deficiencia/cpa/.

164
Em minha cidade, existem apenas O Departamento de Operação do Sis-
duas vagas para PNE- Pessoa com tema Viário (DSV) emite o Cartão DeFis
Necessidade Especial-, sendo que – DSV para: (Ii) pessoas com deficiên-
uma delas fica num declive acen- cia ambulatória no(s) membro(s) infe-
tuado. O meu carro é adesivado, rior(es) ou no(s) membro(s) superior(es)
mas muitas vezes fico sem ter e inferior(es), que as obrigue ou não a
onde estacionar. É que as vagas utilizar, temporária ou permanente-
estão sendo ocupadas por carros mente, cadeiras de rodas, aparelhagem
ortopédica ou prótese; (IIii) portadores
sem adesivo e por pessoas sem
de deficiência ambulatorial autônoma,
deficiência. Falei com a Polícia Mi-
decorrente de incapacidade mental;
litar e com os agentes de trânsito
(IIIiii) pessoas com alto grau de compro-
e ouvi que eles não têm condições
metimento ambulatorial, obrigadas ou
de vigiar os locais. O que eles de-
não a utilizar temporariamente cadeira
vem fazer se encontrarem um car-
de rodas, aparelhagem ortopédica ou
ro em desacordo com o uso correto prótese. O benefício deve ser solicita-
das vagas? do no setor de autorizações especiais
do DSV, na rua Sumidouro 740. Para
Antes de qualquer coisa, é necessário
requerer o benefício é preciso que o
lembrar que cada cidade tem sua pró-
interessado: (Ii) preencha o formulário
pria legislação municipal. É ela que nor-
de requerimento do Cartão DeFis-DSV;
matiza as vagas especiais em estacio-
(IIii) preencha o formulário de atestado
namentos públicos e/ou privados para médico comprobatório da deficiência
pessoas com deficiência. Também física ou da mobilidade reduzida, esta
cabe ao Município estabelecer prazos última por período de no máximo dois
para renovação e procedimentos, bem meses, com carimbo e assinatura do
como indicar órgãos específicos onde profissional. O atestado deve ter sido
requerer os cadastros. emitido há, no máximo, três meses e
pode ser original ou cópia autenticada.
Em São Paulo, por exemplo, o cartão Cópias simples serão aceitas apenas
para o uso de pessoas com deficiên- mediante apresentação do original,
cia é denominado cartão DeFis-DSV e para conferência. É necessário, ainda,
consiste em uma autorização especial, que seja (IIIiii) apresentada cópia sim-
gratuita, para estacionamento de veí- ples da Carteira de Identidade (ou do-
culos em vagas para portadores de de- cumento equivalente) da pessoa com
ficiência física, sinalizadas com o sím- deficiência ou com mobilidade reduzida
bolo internacional de acesso, nas vias e e, se for o caso, de seu representante.
logradouros públicos. A representação deve ser comprovada

165
Devo empurrar a cadeira de rodas
do meu colega? Como devo me
comportar?
Há algumas orientações acerca da me-
lhor forma de se relacionar com as pes-
soas com deficiência física. No entan-
to, duas questões são muito simples e
auxiliam em todas as situações: per-
gunte sempre antes de tomar uma ini-
ciativa se você pode ajudar em alguma
coisa. Caso a pessoa responda que sim,
pergunte como você pode ajudá-la.

Não generalize uma atitude que você


presenciou ou tomou para auxiliar uma
determinada pessoa com todas as pes-
Descrição da imagem: Sobre uma imagem
recortada de um projeto arquitetônico um soas com deficiência. Elas também,
boneco azul representa uma pessoa com como todos nós, têm suas preferên-
deficiência física em uma cadeira de rodas. Fim
da descrição.
cias, estilos de vida e personalidades
diferentes.
documentalmente. Os policiais têm po-
Há algumas dicas de etiqueta no rela-
der e o dever de multar os carros que cionamento com pessoas em cadeira
ocupam indevidamente as vagas reser- de rodas, a saber:
vadas, nos termos da Lei 9.503/97, que
institui o Código de Trânsito Brasileiro. ƒ Esteja atento para a existência de
Em seu “Art. 181 determina: Estacionar barreiras arquitetônicas quando
o veículo: (…) XVII – em desacordo com for escolher um local que queira
as condições regulamentadas especifi- visitar com uma pessoa que se
camente pela sinalização (placa – Esta- utiliza da cadeira de rodas;
cionamento Regulamentado) Infração
ƒ Quando for movimentar a cadeira
– grave; Penalidade – multa; Medida ad-
de rodas, peça permissão para a
ministrativa – remoção do veículo; (…).
pessoa que a utiliza;
Para requerer a regularização das va- ƒ Quando estiver empurrando uma
gas mal posicionadas sugerimos que pessoa sentada em uma cadeira
você encaminhe reclamação ao órgão de rodas e quiser parar para con-
competente, solicitando providências. versar com alguém, lembre-se de

166
virar a cadeira de frente, para que Embora garantidos os seus direitos
a pessoa também possa partici- na Constituição Federal, de quem é
par da conversa; a responsabilidade pelas Políticas
Públicas para pessoas com
ƒ Para uma pessoa sentada em
deficiência?
cadeira de rodas, é incômodo fi-
car olhando para cima por muito As políticas públicas são de respon-
tempo. Portanto, se a conversa sabilidade dos órgãos e instituições
for demorar mais do que alguns públicas: (governo federal, governos
minutos, sente-se para que você estaduais e governos, municipais). No
e ela fiquem com os olhos no entanto, dependendo do tipo de inter-
mesmo nível; venção e objetivo, a sociedade deve
cobrar o poder público específico, tal
ƒ A cadeira de rodas (assim como como: em questões relacionadas à
bengalas e muletas) é parte Educação, o Ministério da Educação
do espaço corporal da pessoa. (MEC) responde pelas questões fede-
Apoiar-se nesses equipamentos rais, a Secretaria de Estado da Educa-
não é como se encostar a uma ção responde por questões voltadas
cadeira comum; ao Estado da federação onde está o
ƒ Para subir degraus, incline a ca- foco da ação e a Secretaria Municipal
deira para trás, levante as rodi- de Educação ou órgão equivalente será
nhas da frente e as apoie sobre o responsável pela questão educacio-
degrau. Para descer um degrau, nal do munícipe. Em todas as áreas de
é mais seguro fazê-lo de marcha atuação: (educação, trabalho, cultura,
à ré, sempre apoiando a cadeira, saúde, assistência social por exemplo
para que a descida seja sem so- etc.) haverá instituições governamen-
lavancos. Para subir ou descer tais responsáveis nos três níveis da fe-
mais de um degrau em sequên- deração.
cia, será melhor pedir a ajuda de
Além disso, pautar as necessidades e
outra pessoa;
anseios da população com deficiência,
ƒ Quando apontar algo para uma construindo a legislação necessária
pessoa em cadeira de rodas, lem- para orientar todos os atores federati-
bre-se que uma pessoa sentada vos é responsabilidade do Congresso
tem um ângulo de visão diferente. Nacional, através da atuação dos se-
Se quiser mostrar-lhe qualquer nadores e deputados federais eleitos
coisa, abaixe-se para que ela efe- pelos brasileiros. O mesmo ocorre na
tivamente a veja. esfera Estadual e Municipal.

167
Grande parte dos projetos sociais de e hoje em visível mudança, fez com
apenas inclui pessoas com que crianças, jovens e adultos com
deficiência quando elas são o foco deficiência perdessem oportunidades
da ação. O que pode ser feito para preciosas na convivência com seus pa-
contemplar a diversidade de jovens res, traduzindo–se também em prejuízo
em programas sociais para não para uma sociedade que não convive e
tratar e considerar a pobreza e a não aprende com as diferenças. Incluir
deficiência de forma separada? a população com deficiência nos pro-
Uma questão que precisa ser debatida gramas sociais não exige um esforço
com as organizações sociais, com foco diferente que as instituições de en-
no atendimento da população jovem, é sino, ou as empresas hoje têm feito.
o fato de pensarem que os jovens com Basta garantir equiparação de opor-
deficiência não fazem parte da mesma tunidades de participação nas rotinas
população jovem a quem dirigem seus propostas buscando, por meio de um
programas e projetos. A população de diálogo aberto com esses jovens com
jovens com deficiência no nosso país deficiência, reconhecendo suas carac-
apresenta demandas e necessidades terísticas, possibilidades e limitações
muito parecidas com as de qualquer decorrentes de suas deficiências e
outro jovem exposto a situação de po- procurando formas de mover barreiras,
breza e exclusão social, como: baixa ou
físicas e atitudinais; experimentando
nenhuma escolaridade por evasão ou
junto com todo o grupo, novas possi-
dificuldade de acesso ao ensino regu-
bilidades de convivência e desenvol-
lar formal; situação de vulnerabilidade
vimento do grupo, e trazendo ganhos
e risco social por exposição à violên-
reais nesta aprendizagem.
cia, uso de drogas; etc.; baixa estima
e situações de conflitos familiares; É muito importante que as instituições
dificuldades para inclusão no merca-
comprometidas com a promoção da
do de trabalho. etc. Mas, além disso,
equidade de direitos para todos os ci-
ainda contamos, para alargar este dis-
dadãos e o desenvolvimento social sus-
tanciamento, comum histórico de du-
tentável acolham a população com de-
pla exclusão dessa população, pois por
ficiência em suas iniciativas e projetos.
longos anos essas pessoas foram aten-
É importante ressaltar que o conceito
didas, de forma segregada, em insti-
contemporâneo de inclusão das pessoas
tuições especializadas, reforçando-se
para a sociedade que apenas especia- com deficiência é pensado na sua com-
listas podem e devem cuidar delas. plexa transversalidade, levando em conta
todos os desafios e impasses que a so-
Essa percepção construída na socieda- ciedade pós-moderna nos impõem.

168
Eliminar as barreiras talhes, em frases curtas e expressões
arquitetônicas é suficiente para simples, mas sem reduzir a qualidade
promover a inclusão da pessoa da comunicação. Comece por pensar
com deficiência? que irá ser compreendido e prepare-se
A Inclusão é um conceito que envolve a para explicar a mesma coisa mais do
equiparação de oportunidades de par- que uma vez, pois ela pode não enten-
ticipação da pessoa com deficiência na der na primeira tentativa.
sociedade. A acessibilidade arquitetô-
Se for necessário, em situações mais
nica, a acessibilidade na comunicação
complexas, escrever a mensagem em
e, principalmente, a acessibilidade ati-
um papel e sugerir à pessoa que a mos-
tudinal vão ser os elementos necessá-
tre aos familiares para que eles reforcem
rios para a inclusão plena.
a informação já disponível e lhe expli-
quem com melhores detalhes. O traba-
lho colaborativo entre a instituição e a
Como a família, ou uma
família é fundamental, pois também au-
organização do terceiro setor,
xilia na formação e orientação dos res-
devem se relacionar com
ponsáveis, no sentido de construírem
uma pessoa com deficiência
uma imagem mais positiva em relação
intelectual?
à pessoa com deficiência intelectual. É
Não se pode subestimar a inteligência imprescindível facilitar as relações das
da pessoa com deficiência intelectual pessoas com deficiência intelectual
porque ela pode levar mais tempo para com as outras pessoas do grupo e com o
aprender, mas isso não significa que meio, orientando a todos os envolvidos
ela não possa adquirir muitas habilida- para que tenham naturalidade nesse re-
des intelectuais e sociais. É importante lacionamento e, principalmente, que ela
não ficar testando-a o tempo todo por- faça ou tente fazer sozinha tudo o que
que essa atitude causa muita insegu- puder, ajudando-a apenas quando for
rança e afeta a sua autoestima. realmente necessário.

Trate-a com respeito e de acordo com


sua idade, sem infantilizar a relação.
Não utilize o termo “deficiente mental” Como a família ou uma organização
que é estigmatizante e impreciso, e sim do terceiro setor pode agir com
o termo pessoa com deficiência inte- pessoas com altas habilidades/ su-
lectual. Nas situações de convivência perdotação já que o poder público
e interlocução é necessário disponibi- tem demonstrado pouco interesse
lizar informações, com riqueza de de- por essas pessoas?

169
Para promover o desenvolvimento da Como identificar se uma pessoa
pessoa com altas habilidades é neces- com deficiência está realmente
sário ter uma postura de aprendizagem incluída em um grupo social?
constante, e não se sentir ameaçado ou O processo de inclusão da pessoa com
intimidado por seus talentos. Ser media- deficiência em um grupo social se evi-
dor de sua curiosidade, quando solicita- dencia de acordo com as possibilida-
do, indicando alternativas para que ela des que ela tem de participação nesse
possa buscar e realizar suas pesquisas. O grupo, e da forma como reage quando
importante é que ela seja desafiada para interage com seus parceiros e com o
não perder o interesse por seus projetos grupo a que faz parte. Os níveis mais
pessoais, profissionais ou acadêmicos, elementares de participação se evi-
sendo necessário assessorá-la na defi- denciam quando a pessoa faz parte do
grupo por alguma imposição legal; ou
nição e organização de seus objetivos,
seja, ela é aceita, mas está presente
metas e propósitos na área de seu inte-
no grupo como apenas mera expec-
resse, para que continue demonstrando
tadora da rotina, sendo ignorada por
entusiasmo e prazer pelas descobertas e
seus pares.
estímulo para compartilhar seus conhe-
cimentos, sem construir um ambiente de O primeiro nível de participação real se
competição com seus parceiros. inicia quando a pessoa com deficiência
recebe informações básicas que lhe
Também é necessário ter cuidado com possibilitam compreender a dinâmica
estereótipos para que ela não se isole do grupo, e tentar compor suas expec-
das demais pessoas, mas interaja na- tativas individuais com o coletivo; esse
turalmente com elas. O trabalho pode nível evolui quando ela também é con-
ser individual e/ou envolver pequenos sultada sobre decisões que esse grupo
grupos, mas ela deve ser atendida à precisa tomar.
medida que o seu processo de aprendi-
Os mais altos níveis de participação,
zagem requisite um ritmo diferenciado
que identificam a inclusão efetiva da
em relação aos outros participantes. É
pessoa com deficiência acontecem
possível prepará-la para ser uma auxi-
quando os participantes do grupo, em
liar ou tutora de turmas, por exemplo, consenso, propõem e compartilham
em especial, em relação a sua habilida- iniciativas novas, atribuindo também à
de ou área de interesse, e assim poder pessoa com deficiência, o protagonis-
compartilhar suas descobertas e o re- mo, a autonomia e responsabilidades,
sultado de seu trabalho, interagindo de que poderão afetar o resultado espera-
forma positiva com seus pares. do ou a convivência do grupo.

170
E, finalmente, a pessoa com deficiên- É importante que a família, ou o pro-
cia, através das experiências vividas fessor em sala de aula, ao observar tais
em seu grupo social, desenvolve suas comportamentos, encaminhe a crian-
plenas habilidades para tomar suas ça para um exame oftalmológico. Re-
próprias decisões e escolhas, geren- conhecendo-se as limitações de visão,
ciando suas necessidades individuais é necessário que o professor estude o
com autonomia. ambiente da classe e a posição que o
aluno ocupa neste espaço para mitigar
as possíveis barreiras que poderão afe-
tar o seu processo de aprendizagem.
Quais são os sinais que indicam a
necessidade de uma investigação
oftalmológica na criança?
Como funciona a parceria entre
Os principais indícios que a criança tem
o Sistema Único de Saúde (SUS)
alguma deficiência visual são: irritações
e as empresas privadas da área
crônicas nos olhos, indicadas por olhos
da saúde, para o atendimento
lacrimejantes, pálpebras avermelhadas
dos Transtornos Globais do
ou inchadas; náuseas, dupla visão ou né- Desenvolvimento (dentre eles o
voa durante ou após um trabalho visual; Transtorno do Espectro Autista)?
quando esfrega os olhos, franze ou con-
A Agência Nacional de Saúde Suple-
trai o rosto ao olhar objetos distantes;
mentar, ANS, que é uma autarquia sob
quando apresenta excessiva cautela ao
regime especial, vinculada ao Ministé-
andar, ou corre raramente e tropeça sem
rio da Saúde, é a responsável pela re-
razão aparente; quando apresenta desa-
gulamentação, fiscalização e controle
tenção anormal durante a realização de
dessa assistência paralela ao Sistema
trabalhos escolares; inquietação, irrita-
Único de Saúde (SUS), e que deverá ser
bilidade ou nervosismo excessivo depois
gerenciada pelas Secretarias de Saúde
de um prolongado e atento trabalho vi-
dos municípios.
sual; quando pestaneja excessivamen-
te, sobretudo durante uma leitura, ou A solicitação de credenciamento de
segura habitualmente o livro muito perto empresas privadas de saúde para esse
ou muito distante enquanto lê; ou ainda fim é feita no Município de origem da
quando inclina a cabeça para um lado du- empresa. O convênio é aprovado nas
rante a leitura; apresenta capacidade de seguintes bases: nas demandas de
leitura por apenas um período curto de saúde locais; na disponibilidade de
cada vez ou quando fecha ou tampa um orçamento; e no preenchimento de
olho durante a leitura. requisitos técnicos necessários ao

171
atendimento. É importante, também Quais são os critérios de
relacionar neste credenciamento, os atendimento dos planos de saúde,
códigos utilizados na tabela específica para o atendimento das pessoas
do SUS, contendo com o detalhamento com Transtornos Globais de
dos procedimentos que serão ofereci- Desenvolvimento?
dos pela empresa. Em reunião realizada em 23/6/22, a Dire-
toria Colegiada da Agência Nacional de
Esse rol de procedimentos da ANS lis-
Saúde Suplementar (ANS) (Agência Na-
ta aproximadamente 3368 eventos em
cional de Saúde Suplementar) aprovou
saúde, incluindo consultas, exames,
uma normativa que ampliou as regras
terapias e cirurgias, além de medica-
de cobertura assistencial para usuários
mentos, órteses e próteses. Ele tam-
de planos de saúde, com transtornos
bém deverá valer para os usuários de
globais de desenvolvimento, entre eles
planos de saúde, em relação a qualquer
o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
doença ou condição de saúde, listada
A partir de 1º de julho de 2022, passou a
pela Organização Mundial de Saúde. ser obrigatória a cobertura de qualquer
método ou técnica, indicados pelo mé-
As pessoas com deficiência, em espe-
dico, para os pacientes conveniados, e
cial as com Transtorno Global do De-
enquadrados no Código de Classifica-
senvolvimento também estão contem-
ção Internacional de Doenças (CID) F84.,
pladas, e amparadas pela legislação
conforme o Código de Classificação In-
federal, com especial destaque para a
ternacional de Doenças.
Convenção de Direitos da Pessoa com
Deficiência, a Organização das Nações Com essa normativa, ficou estabeleci-
Unidas para a Educação, a Ciência e a do o número ilimitado de sessões com
Cultura (UNESCO) em, 2006), que de- fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas
talha um novo parâmetro para definir a ocupacionais, fisioterapeutas e grupos
deficiência, pautado no modelo biopsi- multidisciplinares, para esse grupo de
cossocial. pessoas. O importante a ressaltar é que
as operadoras de planos de saúde tam-
Com isso, adotou-se uma visão mais bém não poderão negar atendimento aos
abrangente da deficiência, baseada pacientes com Paralisia Cerebral e Sín-
não só nos fatores biológicos, mas, drome de Down que apresentem trans-
também, nos fatores psicológicos e tornos globais do desenvolvimento.
sociais; e que deverão ser igualmen-
te considerados no monitoramento da Entretanto, por vezes, a interpretação di-
qualidade e da manutenção da saúde ferenciada das Leis que baseiam o aten-
dessa população. dimento à saúde da população, feita pe-

172
los diferentes atores envolvidos, causa Autista a ser considerada, a CID 11 . En-
dificuldades em sua execução, trazendo tretanto, há um período de transição
prejuízos aos cidadãos em relação ao tra- até a adaptação das normas nacionais
tamento prescrito pelo médico, quando vigentes. A grande mudança dessa
esse não pode ser realizado em sua inte- nova versão, é que todos os tipos de
gralidade ou quando não faz parte do rol são identificados como Transtorno do
de procedimentos da ANS. Espectro do Autismo, por meio da si-
gla “TEA” e as classificações têm como
Para melhor compreensão dos que se foco perceber a existência da deficiên-
enquadram neste benefício, são consi- cia intelectual e/ou o prejuízo na lingua-
derados transtornos globais do desen- gem. Segue abaixo a listagem da CID 11:
volvimento, segundo a Classificação
Internacional de Doenças (CID – 10): ƒ 6A02 – Transtorno do Espectro do
Autismo (TEA):
ƒ F84 – Transtornos globais do de-
ƒ 6A02.0 – Transtorno do Espectro
senvolvimento (TGD)
do Autismo sem Deficiência inte-
ƒ F84.0 – Transtorno do Espectro lectual; (DI) e com comprometi-
Autista infantil; mento leve ou ausente da lingua-
gem funcional;
ƒ F84.1 – Transtorno do Espectro
Autista atípico; ƒ 6A02.1 – Transtorno do Espectro
do Autismo com Deficiência In-
ƒ F84.2 – Síndrome de Rett;
telectual (DI) e com comprometi-
ƒ F84.3 – Outro transtorno desinte- mento leve ou ausente da lingua-
grativo da infância; gem funcional;
ƒ F84.4 – Transtorno com hiperci- ƒ 6A02.2 – Transtorno do Espectro
nesia associado a retardo mental do Autismo sem Deficiência Inte-
e a movimentos estereotipados; lectual (DI) e com linguagem fun-
cional prejudicada;
ƒ F84.5 – Síndrome de Asperger;
ƒ 6A02.3 – Transtorno do Espectro
ƒ F84.8 – Outros transtornos globais
do Autismo com Deficiência Inte-
do desenvolvimento;
lectual (DI) e com linguagem fun-
ƒ F84.9 – Transtornos globais não es- cional prejudicada;
pecificados do desenvolvimento.
ƒ 6A02.5 – Transtorno do Espectro
É importante observar que, a partir de do Autismo com Deficiência Inte-
janeiro de 2022, há uma nova versão lectual (DI) e com ausência de lin-
da CID para o Transtorno do Espectro guagem funcional;

173
ƒ 6A02.Y – Outro Transtorno do Es- Quais as principais leis que
pectro do Autismo especificado; garantem os direitos das pessoas
ƒ 6A02.Z – Transtorno do Espectro com Transtorno do Espectro
do Autismo, não especificado. Autista?

Devido a esse contexto turbulento, e A Lei 12.764/12, também conhecida por


atendendo aos apelos de muitos usuá- Lei Berenice Piana, criou a Política Na-
rios lesados, o Plenário do Senado cional dos Direitos das Pessoas com
aprovou, em 29/08/22, o Projeto de Lei Transtorno do Espectro Autista, deter-
n. 2033/22, proveniente da Câmara dos minando o direito dessa população a um
Deputados, que derrubou o chamado diagnóstico precoce, tratamento, tera-
“rol taxativo” da ANS”, considerando-o pias e acesso a medicamentos através
apenas uma referência básica para a do Sistema Único de Saúde (SUS).
cobertura dos Planos de Saúde. Firmou
também as seguintes condições para Além disso, esta Lei referenda o trans-
que o tratamento que esteja fora da lis- torno do espectro autista como parte
tagem da ANS seja atendido: do grupo das pessoas com deficiência,
e por consequência, estende os seus di-
ƒ Deve ter eficácia comprovada
reitos a todas as conquistas, legislação
cientificamente;
e políticas públicas dessa população.
ƒ Ser recomendado pela Comis-
são Nacional de Incorporação de Outra lei específica sobre as pes-
Tecnologias no Sistema de Saúde soas com Autismo é a Lei 13.977/20,
(Conitec); também conhecida como “Lei Romeo
ƒ Ser recomendado por pelo menos Mion”. Ela cria a Carteira de Identifi-
um órgão de avaliação de tecnolo- cação da Pessoa com Transtorno do
gias em saúde, com renome inter- Espectro Autista (Ciptea), justifica-
nacional. da pela dificuldade em se identificar
visualmente o autismo, o que gera
Pelo texto desse Projeto, os Planos de
saúde poderão ser obrigados a finan- obstáculos frequentes nas suas re-
ciar tratamentos de saúde na quantida- lações pessoais, no acesso a aten-
de prescrita pelo médico e outros, que dimentos prioritários, aos serviços
não constam da lista da ANS. O projeto específicos, além do acesso à vaga
seguiu para a aprovação presidencial. de estacionamento.

174
Sou funcionária pública federal e
tenho um filho com suspeita de
Autismo. Tenho direito a ter uma
jornada de trabalho diferenciada?
A Lei 13.370/16 dispõe sobre o direito
ao horário especial ao servidor público
federal que tenha cônjuge, filho ou de-
pendente com deficiência de qualquer
natureza e revoga a exigência de com-
pensação de horário de trabalho.

175
Descrição da imagem: Casal de bailarinos se apresenta em pátio
de escola. O homem veste um terno preto, está em uma cadeira
de rodas. A mulher usa vestido longo de cor laranja e apoia-se
no corpo do bailarino para realizar um movimento comum dos
braços esticados para cima. Ao fundo muitas pessoas assistem à
apresentação. Fim da descrição.
176
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projetos de
REFERÊNCIAS Lei: PL nº 4251/21 e nº 328/03. Tratam sobre a
isenção de pagamento de pedágio para os veí-
BIBLIOGRÁFICAS culos automotores de propriedade de pessoas
com deficiência física.

BRASIL. Câmara Municipal de São Paulo. Lei nº


14.675/08. Institui o Plano Emergencial de Cal-
ADLER, Alfred. Understanding human nature. çadas (PEC).
Oxford: Oneworld Publications, 1992.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION- APA- (CNE); Câmara da Educação Básica (CEB). Pa-
Manual diagnóstico e estatístico de transtornos recer nº. 17/01. Dispõe sobre as Diretrizes Na-
mentais: DSM-5. Porto alegre: Artmed, 2014. cionais para a Educação Especial na Educação
Básica.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉC-
NICAS. Accessibility in highway transportation. BRASIL.CNE/ CEB. Resolução nº 02/01. Institui
(ABNT NBR 15320/06). Diretrizes Operacionais para a Educação de Jo-
vens e Adultos.
BORGES, Carolina de C.; MAGALHÃES, Andrea
S. Transição para a vida adulta: autonomia e BRASIL. CNE/ CEB. Resolução nº 03/10. Institui
dependência da família. Revista eletrônica PU- Diretrizes Nacionais para a Educação Especial
CRS, 2009. na Educação Básica.
BRASIL. ABNT NBR-9050/2004. Acessibilidade BRASIL. CNE/CEB. Resolução nº 4/09. Institui
a edificações, mobiliário, espaços e equipa- Diretrizes Operacionais para o atendimento
mentos urbanos. ABNT, 2004. Educacional Especializado na Educação Bási-
ca. Modalidade Educação Especial.
BRASIL. Agência Nacional do Cinema (ANCINE).
Instrução Normativa n nº 128/16. Dispõe sobre BRASIL. Conselho Nacional de Trânsito (CON-
as normas gerais e critérios básicos de aces- TRAM). Resolução nº 927/22, que dispõe sobre
sibilidade visual e auditiva a serem observados a aptidão física e mental, a avaliação psicológi-
nos segmentos de distribuição e exibição cine- ca e o credenciamento das entidades públicas
matográfica. e privadas sobre a Lei nº 9.503/97, que institui o
Código de Trânsito Brasileiro.
BRASIL. Assembléia Legislativa do Estado de
São Paulo. Lei nº 10.261/68. Dispõe sobre o Esta- BRASIL. Coordenador da Administração Tribu-
tuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado. tária. Portaria CAT-18, de 23-3- 2021. Dispõe so-
bre os pedidos de regimes especiais previstos
BRASIL. Câmara dos Deputados. Lei nº
nos artigos 479-A e 489 do Regimento do ICMS.
11.096/05. Institui o Programa PROUNI, regula
a atuação de entidades beneficentes de assis- BRASIL, Governo do Distrito Federal. Lei nº
tência social no ensino superior; altera a Lei nº 566/93. Concede transporte gratuito às pessoas
10.891/04 dá outras providências. com deficiência física, sensorial ou mental.

BRASIL. Câmara dos Deputados. Lei nº BRASIL, Governo do Estado da Bahia. Decreto
13.977/20. Altera leis anteriores e institui a Car- nº 6284/97. Aprova o Regulamento do ICMS.
teira de Identificação da Pessoa com Transtor-
no do Espectro Autista (Ciptea). BRASIL. Governo do Estado de São Paulo. Leis
n° 6.374/89 (atualizada pela Lei nº 17.473/21) e
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei nº 8.991/94. Dispõem sobre a instituição do Im-
nº 2033/22. Altera a Lei nº.9.656/98 que dispõe posto sobre Operações Relativas a Circulação
sobre os planos privados de assistência à saúde. de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços

177
de Transporte Interestadual e Intermunicipal e manos da Presidência da República (SEDH/
de Comunicação(ICMS). PR). Portaria nº 142. Instituiu o Comitê de Aju-
das Técnicas (CAT). Conceito brasileiro de Tec-
BRASIL. Governo do Estado de São Paulo. Lei
nologia Assistiva (TA).
nº 10.261/68. Dispõe sobre o Estatuto dos Fun-
cionários Públicos do Estado de São Paulo. BRASIL. Secretário da Receita Federal. Instru-
ção Normativa RFB 1769/17. Disciplina a aplica-
BRASIL. Ministério da Educação (MEC); Con-
ção da isenção do (IPI) e do Imposto sobre Ope-
selho Nacional de Educação (CNE). Parecer nº
rações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas
17/01. Dispõe sobre Diretrizes Nacionais para a
Educação Especial na Educação Básica. a Títulos e Valores Mobiliários (IOF), na aquisição
de veículos por pessoas com deficiência física,
BRASIL. MEC; Secretaria de Educação Espe- visual, auditiva, mental severa ou profunda ou
cial. Política de Educação Especial na Perspec- com transtorno do espectro autista.
tiva Inclusiva/ 2008.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Resolu-
BRASIL. MEC; Secretaria Estadual de Edu- ção nº 2/2005. Confere prioridade no julgamen-
cação Especial (SEESP). Educação inclusiva to dos processos cuja parte seja pessoa com
mental: atendimento educacional especializa- deficiência.
do para a deficiência [2. ed.] / Cristina Abran-
ches Mota Batista, Maria Teresa Egler Man- BRASIL. Presidência da República; Secretaria
toan, 2006. de Direitos Humanos; Secretaria Nacional de
Promoção dos Direitos das Pessoas com De-
BRASIL: Ministério de Saúde (MS); Conselho ficiência; Conselho Nacional dos Direitos da
Nacional de Secretarias Municipais de Saúde. Pessoa com Deficiência. Cartilha Orientadora
O SUS de A a Z: Garantindo Saúde nos Municí-
para criação e funcionamento dos Conselhos
pios. Série F. Comunicação e Educação em
de Direitos da Pessoa com Deficiência. Revista
Saúde. 3ª edição. Brasília, DF, 2009.
Atualizada, 2ª edição, 2012.
BRASIL. Ministério (de Saúde MS), Gabinete do
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil.
Ministro (GM). Portaria nº 1060/02. Aprova a Po-
Subchefia para Assuntos Jurídicos. Constitui-
lítica Nacional de Saúde da Pessoa Portadora de
ção da República Federativa do Brasil. Brasília:
Deficiência.
Imprensa Oficial, 1988.
BRASIL: Ministério da Saúde (MS); Secretaria
BRASIL. Decreto nº 186/08. Aprova o texto da
de Atenção à Saúde. Portaria nº 116/93. Inclui no
Sistema Único de Saúde (SUS) a concessão dos Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
equipamentos de órteses e próteses e bolsas de Deficiência e de seu Protocolo Facultativo, as-
colostomia. sinados em Nova Iorque, em 30/03/2007.

BRASIL: Ministério da Saúde (MS); Secretaria BRASIL. Decreto nº 3.298/99. Regulamenta a


de Atenção à Saúde. Portaria nº 146/93. Esta- Lei nº 7.853/89. Dispõe sobre a Política Nacional
belece diretrizes gerais para a concessão de para a Integração da Pessoa Portadora de Defi-
Órteses e ,s através da Assistência Ambulato- ciência, consolida as normas de proteção e dá
rial e dá outras providências. outras providências.

BRASIL. Secretaria de Assuntos Estratégicos BRASIL. Decreto nº 3.691/00. Regulamenta a


da Presidência da República; IPEA (Instituto Lei nº 8.899/94 que dispõe sobre o transpor-
de Pesquisa Econômica Aplicada. Relatório de te de pessoas com deficiência no sistema de
Pesquisa: Conselhos Nacionais Perfil e atuação transporte coletivo interestadual.
dos conselheiros. Brasília, 2013.
BRASIL. Decreto nº 5.296/04. Regulamenta as
BRASIL. Secretaria Especial dos Direitos Hu- Leis nº 10.048/00 e 10.098/00.

178
BRASIL. Decreto nº 5.626/05. Regulamenta a BRASIL. Lei nº 8.069/90. Dispõe sobre o Estatu-
Lei nº 10.436/02 que dispõe sobre a Libras e o to da Criança e do Adolescente.
art. 18 da Lei nº 10.098 /00.
BRASIL. Lei nº 8.080/90. Dispõe sobre as condi-
BRASIL. Decreto nº 5.904/06. Regulamenta ções para a promoção, proteção e recuperação
a Lei nº 11.126/05, que dispõe sobre o direito da saúde, a organização e o funcionamento dos
de pessoa com deficiência visual de ingressar serviços correspondente.
e permanecer em ambientes de uso coletivo
BRASIL. Lei nº. 8.112/90. Dispõe sobre o Regime
acompanhado de cão-guia. Jurídico dos servidores públicos civis da União,
BRASIL. Decreto nº 6.571/08. Dispõe sobre das autarquias e das fundações públicas fede-
o apoio técnico e financeiro aos sistemas de rais.
ensino para ampliar a oferta do Atendimento BRASIL. Lei nº 8.213/91. Dispõe sobre os Planos
Educacional Especializado. de Benefícios da Previdência Social e dá outras
BRASIL. Decreto nº 6.949/09. Promulga a Con- providências.
venção Internacional sobre os Direitos da Pes- BRASIL. Lei nº 8.383/91. Institui a Unidade Fis-
soa com Deficiência e seu Protocolo Facultati- cal de Referência, altera a legislação do impos-
vo. Nova York, 2007. to de renda e dá outras providências.
BRASIL. Decreto nº 7.611/11. Dispõe sobre a edu- BRASIL. Lei nº 8.429/92. Dispõe sobre as san-
cação especial e o atendimento educacional ções aplicáveis em virtude da prática de atos
especializado. de improbidade administrativa, de que trata o
parágrafo 4º do art. 37 da Constituição Federal.
BRASIL. Decreto nº. 7.612/11. Institui o Plano Na-
cional dos Direitos da Pessoa com Deficiência. BBRASIL. Lei nº 8.742/93. Dispõe sobre a orga-
Plano Viver sem Limite. nização da Assistência Social.

BRASIL. Decreto nº 9.508/18. Reserva às pes- BRASIL. Lei nº 8.899/94. Concede passe livre às
soas com deficiência percentual de cargos e pessoas com deficiência no sistema de trans-
de empregos públicos ofertados em concursos porte coletivo interestadual.
públicos e em processos seletivos.
BRASIL. Lei nº 8.989/95. Dispõe sobre a isenção
BRASIL. Decreto nº 9.580/18. Regulamenta a sobre Imposto sobre Produtos Industrializados
tributação, a fiscalização, a arrecadação do (IPI).
Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer BRASIL. Lei nº. 9.311/96. Institui a Contribuição
Natureza. Provisória sobre Movimentação ou Transmissão
BRASIL. Decreto nº 10.177/19. Dispõe sobre o de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza
Conselho Nacional da Pessoa com Deficiência. Financeira (CPMF).

BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848/40. Aplicação da BRASIL . Lei nº 9.503/97. Institui o Código de


Lei Penal. Trânsito Brasileiro.

BRASIL. Lei nº 9.605/98. Dispõe sobre as san-


BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação
ções penais e administrativas derivadas de con-
Nacional, LDBEN nº 9.394/96.
dutas e atividades lesivas ao meio ambiente.
BRASIL. Lei nº 7.853/89. Institui a tutela juris-
BRASIL. Lei nº 10. 048/00. Dá prioridade às pes-
dicional de interesses coletivos ou difusos das
soas que especifica.
pessoas com deficiência, disciplina a atuação
do Ministério Público, define crimes e dá outras BRASIL. Lei nº 10.098/00. Estabelece normas
providências. gerais e critérios básicos para a promoção da

179
acessibilidade das pessoas com deficiência ou BRASIL. Lei nº 13.146/15. Lei Brasileira da Pes-
com mobilidade reduzida. soa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com
Deficiência).
BRASIL. Lei nº 10.436/02. Dispõe sobre a Língua
Brasileira de Sinais- Libras e dá outras provi- BRASIL. Lei nº 13.370/16. Altera lei nº 8.112/90 e
dências. estende o direito a horário especial ao servidor
público federal que tenha cônjuge, filho ou de-
BRASIL. Lei nº 10.522/02. Dispõe sobre o Ca-
pendente com deficiência de qualquer natureza
dastro Informativo dos Créditos não quitados
e para revogar a exigência de compensação de
de órgãos e entidades federais.
horário.
BRASIL. Lei nº 10.683/03. Dispõe sobre a orga-
BRASIL. Lei nº 14.287/21. Altera a do Lei nº
nização da Presidência da República e dos Mi-
8989/95. Prorroga a isenção do Imposto sobre
nistérios.
Produtos Industrializados (IPI).
BRASIL. Lei nº 10.690/03. Reabre o prazo para
BRASIL. Senado Federal. Código Civil Brasilei-
que os municípios que refinanciaram suas dívi-
ro. Subsecretaria de Edições Técnicas, 2008.
das junto à União possam contratar emprésti-
mos ou financiamento, dá nova redação à Lei nº BRASIL. Senado Federal. Projeto de Lei (PL) n.
8989/95 e dá outras providências. 110/16. Altera a Consolidação das Leis do Traba-
BRASIL. Lei nº 10.741/03. Dispõe sobre o Estatu- lho (CLT) para reduzir a jornada dos trabalha-
to da Pessoa Idosa. dores que tenham sob sua guarda filhos com
deficiência.
BRASIL. Lei nº. 11.126/05. Dispõe sobre o direito
de pessoa com deficiência visual de ingressar GRANDIN, Temple; SCARIANO, Margaret M.
e permanecer em ambientes de uso coletivo Uma menina estranha: Autobiografia de uma
acompanhado de cão-guia. autista. São Paulo: Cia das Letras, 1999.

BRASIL. Lei nº 11.788/08. Dispõe sobre o estágio IBGE. Censo Demográfico 2010. Características
de estudantes. Gerais da População. Religião e Pessoas com
Deficiência. Rio de Janeiro, 2012.
BRASIL. Lei nº 11.982/09. Acrescenta parágrafo
único ao artigo 4º da Lei nº 10.098/00 para de- INSTITUTO PARADIGMA. É Perguntando que se
terminar a adaptação de parte dos brinquedos aprende. 2ª edição. São Paulo, Aurea Editora,
e equipamentos dos parques de diversões às 2012.
necessidades das pessoas com deficiência ou
LURIA, A. R.; VYGOTSKY, L. S. Estudos sobre
com mobilidade reduzida.
a História do Comportamento: símios, homem
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cional de Proteção dos Direitos da Pessoa com dicas, 1996
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181
-lhe uma ocupação, depois que alguns jovens
DICAS DE FILMES da equipe fazem uma “brincadeira” de péssimo
gosto com ele. Como ele não falava e o treina-
E SÉRIES dor não sabia o nome dele, passou a chamá-lo
de Rádio, por que ele gostava de rádios.
Para você saber, ainda mais,
sobre a inclusão da pessoa com
Colegas (2012)
deficiência
Conta a história de três amigos com Síndro-
me de Down que fogem da instituição em que
Intocáveis (2012) vivem para ir em busca de seus sonhos: ver o
mar, voar e se casar.
Conta a história de um homem rico, tetra-
plégico e seu cuidador, um homem negro
que nunca trabalhou como cuidador e nem
Hoje eu quero voltar sozinho (2014)
conviveu com pessoas com deficiência. Esse
cuidador foi escolhido pela pessoa com defi- Relata a história de Leonardo, adolescente
ciência, que ao entrevistar vários candidatos cego em busca de sua independência. Com a
o escolheu. chegada de um novo colega de classe, novos
sentimentos começam a surgir, fazendo com
que Leo descubra mais sobre sua sexualidade
Meu nome é Rádio (2003)

Baseado na história real de James Robert Ken-


Uma lição de amor (2001)
nedy, um jovem com deficiência intelectual e
um treinador de futebol americano, que tenta História de um homem com deficiência inte-
ajudar James, passando a protegê-lo e dando- lectual que contrata uma advogada para lutar

Descrição da imagem: A imagem mostra uma cena do filme


“Colegas”. Um casal vestido de noivo e noiva, ambos com
Síndrome de Down, trocam um abraço afetuoso em frente ao
que aparenta ser um navio enferrujado. Fim da descrição.

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na justiça pela guarda de sua filha de 7 anos.

Como eu era antes de você (2016)

Conta a história de um jovem rico e bem suce-


dido, que após um acidente de moto, fica te-
traplégico. Essa situação o deixa depressivo
e extremamente arrogante. Para tentar aju-
dá-lo, os pais contratam uma cuidadora: uma
jovem sem muitas perspectivas na vida, com
dificuldades financeiras e que precisa traba-
lhar para ajudar os pais. Aos poucos, eles se
envolvem.

Descrição da imagem: Cena em preto e branco do


filme Crip Camp. No primeiro plano, um homem negro
Como estrelas na terra (2007) carrega outro homem nos braços, enquanto no plano
de fundo aparece um terceiro rapaz em uma cadeira
História de uma criança com dislexia que não de rodas. Fim da descrição.
é compreendida pelos pais e professores. Os
pais, na tentativa de ajudá-lo, resolvem colo-
orcas, para tentar ajudá-lo a desenvolver suas
cá-lo num colégio interno e lá ele conhece um
emoções e socialização.
professor de artes, que também tem dislexia
e ajuda o menino a entender sua condição e A Teoria de tudo (2014)
encontrar maneiras alternativas para seu pro-
cesso se aprendizagem. Baseado na história de Stephen Hawking, um
cientista que fez importantes descobertas
para o mundo da ciência. Aos 21 anos des-
cobriu que sofria de ELA (Esclerose lateral
Milagre na Cela 7 (2019)
amiotrófica).
História de um pastor de ovelhas com defi-
ciência intelectual, que vive com a filha e avó
em uma vila. Sua rotina muda drasticamente Perfume de Mulher (1992)
quando ele é acusado de matar a filha de um
comandante. Preso numa cela com outros Conta a história de um ex-militar aposentado,
prisioneiros, aos poucos ele vai mostrando a cego e com grande dificuldade de relacionamen-
todos sua condição. Sua filha de 6 anos, tam- to interpessoal. A sobrinha contrata um cuidador
bém luta para tirar o pai da prisão. para ficar com ele no dia de Ação de Graças.

Extraordinário (2017) Crip Camp: Revolução pela Inclusão (2020

História de um menino com deformidade facial, Documentário que conta a história de um


que após passar anos tendo aulas em casa acampamento de verão com grupo de pes-
com a mãe, vai pela primeira vez à escola. soas com deficiência.

O farol das orcas (2016) Soul Surfer (2011)

História de uma mãe que viaja com seu filho Conta a história da adolescente Bethany
autista atrás de um biólogo que interagia com Hamilton que tem um talento natural para o

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surf, mas sua vida é transformada após ser Meu Pé Esquerdo (1990)
atacada por um tubarão, que arranca um de
seus braços. Encorajada pelo amor de seus Ninguém esperava muito de Christy Brown, o
pais e se recusando a desistir, Bethany de- menino de uma família humilde de operários
cide retornar ao mundo das competições irlandeses, que nasceu com paralisia cerebral.
depois de se recuperar do acidente, mas dú- Apesar de tetraplégico, um evento milagroso
vidas sobre seu futuro a perturbam. ocorre quando, aos cinco anos, ele demonstra
o controle de seu pé esquerdo e usa giz para
rabiscar uma palavra no chão. Baseado na au-
Cuerdas (2014) tobiografia de Christy Brown.
Curta metragem que conta a história de uma
menina que se tornou amiga de um menino
chamado Nicolas que tem paralisia cerebral. Do Luto à Luta (2005)

Documentário de Evaldo Mocarzel apresenta


Forrest Gump (1994) uma análise das deficiências e potencialida-
des da síndrome de Down.
Conta a história de Forrest Gump, que tem
deficiência múltipla (física e intelectual), tor-
na-se astro do futebol americano, sargento e
Atypical
vai lutar no Vietnã.
História de um adolescente com autismo em
busca de uma namorada e entrando na facul-
O Milagre de Anne Sullivan (1962) dade (disponível no Netflix).
A incansável professora Anne Sullivan tenta
fazer com que Helen Keller, uma garota cega,
surda e muda, se adapte e entenda o mundo Special
que a cerca. Para isso, entra em confronto
com os pais da menina que, por piedade, a História de um jovem gay com paralisia cere-
tratam de forma mimada. Conceito: Drama bral em busca de sua identidade e desenvolvi-
biográfico mento pessoal (disponível no Netflix).

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