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OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO TOCANTE AOS USOS DO

TRANSPORTE PÚBLICO E ESPAÇOS URBANOS NOS ÂMBITOS


CONSTITUCIONAL E INFRACONSTITUCIONAL

FREY, Myreli Soares¹


RAYMUNDI, Laura Campanha Ortiz¹
SILVA, Lucila de Quadros da 1​
BOANOVA , Aline Moura da Silva²
ELIAS, Ronaldo²
DERVANOSKI JUNIOR, Vitório Gheno​2

RESUMO: ​O presente artigo tem como objetivo geral do presente artigo é realizar uma pesquisa teórico-prática
visando à elaboração de uma Cartilha informativa quanto aos direitos fundamentais da pessoa com deficiência.
Além disso, este projeto é também um instrumento na busca pela efetivação dos direitos fundamentais dessas
pessoas​.​Os objetivos específicos teóricos são: discorrer sobre os elementos de formação e desenvolvimento do
Estado Liberal e do Estado Social de Direito; Direitos Humanos; Direito Civil-Constitucional; Estatuto da
Pessoa com Deficiência; Código Civil e Direitos Fundamentais. Já na parte prática, os objetivos são: identificar
na Constituição Federal brasileira de 1988 elementos caracterizadores das configurações Liberal e Social do
Estado de Direito, sob o aspecto aplicável à pessoa com deficiência; contemplar os conceitos-chave do Código
Civil e Estatuto da Pessoa com deficiência; discorrer acerca dos direitos à vida e à igualdade. A metodologia
utilizada foram livros e artigos da CF e através deles foi construído uma cartilha informativa, para promover o
desenvolvimento social e assim as pessoas com deficiência possam reconhecer seus direitos quanto ao transporte
e mobilidade. Sendo assim, o objetivo principal foi atingido com a construção da mesma. Concluindo que, por
meio da cartilha foi possível atingir os objetivos através do conhecimento dos direitos das pessoas com
deficiência, trazendo-os de uma forma simplificada e de fácil compreensão. Também, de que foi possível mostrar
como se efetivar esses direitos para promover o desenvolvimento social e o conhecimento da sociedade​.

Palavras-chave​:capacidade civil - direitos fundamentais - direito da personalidade- direito ao transporte e


mobilidade - pessoas com deficiência

ABSTRACT:​The present article has the general objective of the present article is to carry out a
theoretical-practical research aiming at the elaboration of an informative booklet about the fundamental rights of
the person with disabilities. In addition, this project is also an instrument in the search for the realization of the
fundamental rights of these people. The specific theoretical objectives are: to discuss the elements of formation
and development of the Liberal State and the Social State of Law; Human rights; Civil-Constitutional Law;
Statute of the Person with Disabilities; Civil Code and Fundamental Rights. In the practical part, the objectives
are: to identify in the Brazilian Federal Constitution of 1988 elements that characterize the Liberal and Social
configurations of the Rule of Law, under the aspect applicable to people with disabilities; contemplate the key
concepts of the Civil Code and Statute of Persons with Disabilities; talk about the rights to life and equality. The
methodology used were books and articles of the FC and through them an information booklet was built, to
promote social development and so that people with disabilities can recognize their rights regarding transport
and mobility. Thus, the main objective was achieved with the construction of the same. Concluding that, through
the booklet it was possible to achieve the objectives through the knowledge of the rights of people with
disabilities, bringing them in a simplified and easy to understand way. Also, that it was possible to show how to
enforce these rights to promote social development and the knowledge of society

Keywords​:​civil capacity- fundamental rights - people with disabilities - right to personality - right to transport
and mobility

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Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático – Passo Fundo – RS – Brasil 1
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O número de pessoas com deficiência no Brasil vem crescendo em um grau alarmante,


o que é percebido pelo comparativo entre o censo de 2000 e 2010. O censo demográfico,
realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no ano de 2000 apontou
que cerca de 24.600.256 de brasileiros possuíam algum tipo de deficiência, esse total
corresponde a 14,5 % da população total do país.​1
Já o Censo Demográfico, realizado em 2010, pelo IBGE investigou o tema Pessoas
com Deficiência no questionário da amostra e o resultado obtido foi de que cerca de 24% da
população têm algum tipo de deficiência, o que corresponde a 45,6 milhões de brasileiros.​2
Mas infelizmente, grande parte dessas pessoas estão restritas apenas ao convívio em seu
núcleo familiar; muitas não fazem ou nem fizeram parte de um grupo escolar, não possuem
um emprego e sequer saem nas ruas. O tema exposto por essa pesquisa é, de forma mais
ampla, os direitos das pessoas com deficiência e, em especial, o direito ao transporte e à
mobilidade.
O problema abordado está intimamente ligado ao pouco conhecimento dos direitos
fundamentais da pessoa com deficiência, surgindo a necessidade de uma democratização de
acesso às informações quanto aos deveres e garantias constitucionais e infraconstitucionais do
Estado para com esses indivíduos. Dessa forma, o objetivo geral do presente artigo é realizar
uma pesquisa teórico-prática visando à elaboração de uma Cartilha informativa quanto aos
direitos fundamentais da pessoa com deficiência. Além disso, este projeto é também um
instrumento na busca pela efetivação dos direitos fundamentais dessas pessoas.
Os objetivos específicos teóricos são: discorrer sobre os elementos de formação e
desenvolvimento do Estado Liberal e do Estado Social de Direito; Direitos Humanos; Direito
Civil-Constitucional; Estatuto da Pessoa com Deficiência; Código Civil e Direitos
Fundamentais. Já na parte prática, os objetivos são: identificar na Constituição Federal
brasileira de 1988 elementos caracterizadores das configurações Liberal e Social do Estado de
Direito, sob o aspecto aplicável à pessoa com deficiência; contemplar os conceitos-chave do
1
Censo demográfico IBGE 2000, disponível em: ​https://www.ibge.gov.br/censo/divulgacao.shtm​ acesso em:
21/09/20
2
Censo demográfico IBGE 2010, disponível em: ​https://censo2010.ibge.gov.br/​ acesso em: 21/09/20
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Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático – Passo Fundo – RS – Brasil 2
Código Civil e Estatuto da Pessoa com deficiência; discorrer acerca dos direitos à vida e à
igualdade.
Aborda, além, o progresso até a chegada do Estado liberal e social, os direitos
fundamentais e suas características, das pessoas com deficiência constantes no Código Civil e
no Estatuto próprio, os direitos humanos sob a luz da Convenção de Nova York e a
Constituição brasileira de 1988, além de especificamente abordar os direitos das pessoas com
deficiência no que tange ao direito de transporte e mobilidade urbana.

2 DESENVOLVIMENTO

No referencial teórico serão abordados o Estado Liberal e o Estado Social, juntamente


com os Direitos Humanos, Direito Civil - Constitucional, o Estatuto da Pessoa com
Deficiência, Código Civil e Direitos Fundamentais. Na metodologia, serão desenvolvidos a
identificação na Constituição Federal brasileira de 1988, os elementos caracterizadores das
configurações Liberal e Social do Estado de Direito, conseguindo aplicar esses conceitos para
as pessoas com deficiência, como aplicar os conceitos do Código Civil e Estatuto da Pessoa
com deficiência, discorrer acerca dos direitos à vida e a igualdade.

2.1 Referencial Teórico

O referencial teórico tem como base os estudos da evolução do Estado, sua passagem
de Estado Liberal até o Social e o surgimento dos Direitos fundamentais, com a convenção de
Nova York e a inclusão de seus fundamentos no corpo do texto constitucional, e a seguir, com
base nisso, apresentar o que está presente no Código Civil sobre os direitos das pessoas com
deficiência e o Estatuto de Inclusão, além de elencar os direitos fundamentais presentes na
Constituição Federal de 1988, principalmente o direito à vida, direito à igualdade e direito ao
transporte e mobilidade.

2.1.1 Estado liberal e Estado Social

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Para entender como funciona a sociedade atual, é preciso entender como foi no
passado. Incluindo o Estado Liberal, Estado Social e o Estado Democrático de Direito. Atual
modelo da sociedade brasileira do século XXI.
Antigamente, o poder era concentrado na mão dos governantes, o povo somente
obedecia aos mandos e desmandos. Conforme o tempo passou, a sociedade começou a
perceber que eles possuíam o poder.
É possível definir o Estado Medieval como uma grande divisão, onde cada pedaço é
um reino independente, cada um com o poder político dividido entre os senhores feudais e
comunas medievais. Porém, nos seus anos finais, essas cidades autônomas conseguiram
conquistar autonomia, através de rebeliões ou cartas régias. É nesse período que iniciam-se as
revoltas contra os estados absolutistas, dando azo ao surgimento do Estado Liberal, que
combatia as idéias absolutistas.
A base do pensamento liberal é “liberdade e igualdade”, a sociedade buscava
autonomia para viver, e para isso era necessário o distanciamento do Estado. Assim sendo, o
Estado não deveria interferir mais que o necessário na sociedade. O Estado liberal visa
garantir a liberdade, liberdade negativa pois o Estado infere o mínimo na vida da sociedade,
ou seja, nos seus direitos.
Para entender o surgimento do Estado socialista, é necessário recorrer à história da
crise do liberalismo:

[...] durante a efervescência das ideias filosóficas do século XIX, a crise do Estado
liberal em solucionar questões públicas da época fomentou a inquietação popular por
garantia de direitos sociais e a criação de partidos políticos e de sindicatos, elementos
essenciais para o surgimento do Estado social, pois, a partir do novo modelo de Estado
moderno, caberia ao Estado garantir um bem-estar mínimo ao indivíduo. Ou seja, o
Estado não somente teria a premissa de assegurar a liberdade democrática, mas seria
responsável por constitucionalizar os direitos de segunda dimensão ou direitos sociais,
vinculados à esfera social do bem-estar da pessoa (MELO; SCALABRIN, 2017, p.
128).

No Brasil, foi adotada a expressão Estado Democrático de Direito, definido pelo


espanhol Elias Diaz. A visão do Estado de Direito era garantir a liberdade de direito do
indivíduo, alguns elementos ficaram juntos marcados como bases do Estado de direito, tais
como: controle constitucional, divisão de poderes, legalidade e liberdade individual.
A Constituição Federal brasileira de 1988 expressa, no art. 1º, que a República
Federativa do Brasil constitui um Estado Democrático de Direito, que criou os direitos da
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terceira geração, ligados ao valor, fraternidade e desenvolvimento. O Estado passa a tutelar
sobre esses direitos, sejam eles coletivos ou individuais.
.
Desde o final dos anos 1980 a legislação estimula a inclusão da pessoa com
deficiência. Segundo o art. 1º da ​Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, que institui a Lei
Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência)​, está
assegurado a pessoa com deficiência o direito à igualdade, o exercício dos direitos e das
liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, garantindo assim a inclusão social e
cidadania.
No art. 3º da Lei 13.146​/2015​, é falado sobre a acessibilidade, que é a possibilidade de
utilização de espaços com autonomia e segurança. É tratado também sobre as barreiras, que
são todo e qualquer obstáculo que impeça a pessoa com deficiência de usufruir plenamente de
sua acessibilidade. Outro assunto de extrema importância, é sobre a inclusão das pessoas com
deficiência que está previsto no código civil e será abordado no próximo tópico.

2.1.2 Direitos Fundamentais no Brasil da Pessoa com Deficiência: Estatuto da Inclusão e


Código Civil

As garantias jurídicas que abrangem as pessoas com deficiência, no que se refere à


mobilidade e direitos fundamentais, no Estatuto da Pessoa com Deficiência, presente na Lei n​º
13.146 de 2015, estão dispostos no capítulo I, ao qual se refere aos direitos fundamentais, que
é o direito à vida e o direito ao transporte e à mobilidade, presente no capítulo X.
O conceito de acessibilidade é a possibilidade e condição de utilização com segurança
e autonomia dos espaços. Sejam eles espaços mobiliários, equipamentos urbanos, das
edificações, transportes e meios de comunicação por pessoas portadoras de deficiências ou
mobilidade reduzida. O que é garantido conforme a Lei nº 10.048, de 08/11/2000 a qual dá
prioridade às pessoas com deficiência. Na Lei nº10.098, de 19/12/2000 se estabelece regras e
normas gerais para a garantia de acessibilidade e inclusão das pessoas portadoras de
deficiência ou mobilidade reduzida. Ainda possui o art. 53 do Decreto 3.298/99, onde
determina que os locais que pertencem a Administração Pública Federal, como museus,
bibliotecas, salas de aulas e outros ambientes dessa natureza possuem espaços reservados às
pessoas portadoras de deficiência.
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2.1.2.1 Direitos Humanos: A Convenção de Nova York sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência e o Direito Civil-Constitucional

Os Direitos humanos, conforme Mazzuoli (2019, p.27), “são direitos protegidos pela
ordem internacional (especialmente por meio de tratados multilaterais, globais ou regionais)
contra as violações e arbitrariedades que um Estado possa cometer às pessoas sujeitas à sua
jurisdição”. No que se refere à amplitude,

tem-se que os ‘direitos humanos’ (internacionais) são mais amplos que os chamados
“direitos fundamentais” (internos). Estes últimos, sendo positivados nos
ordenamentos jurídicos internos, não têm um campo de aplicação tão extenso quanto
o dos direitos humanos, ainda mais quando se leva em conta que nem todos os
direitos fundamentais previstos nos textos constitucionais modernos são exercitáveis
por todas as pessoas, indistintamente (MAZZUOLI, 2019, p. 28).

As características dos direitos humanos, responsáveis por distingui-lo dos demais


direitos são a historicidade, universalidade, essencialidade, irrenunciabilidade,
inexauribilidade, e por fim a vedação de retrocesso. Baseado nisso, Mazzuoli elucida que

a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi delineada pela Carta das Nações
Unidas e teve como uma de suas principais preocupações a positivação internacional
dos direitos mínimos dos seres humanos, em complemento aos propósitos das
Nações Unidas de proteção dos direitos humanos e liberdades fundamentais de
todos, sem distinção de sexo, raça, língua ou religião. Trata-se do instrumento
considerado o ‘marco normativo fundamental’ do sistema protetivo das Nações
Unidas, a partir do qual se fomentou a multiplicação dos tratados relativos a direitos
humanos em escala global. [...]Com fundamento na dignidade da pessoa humana, a
Declaração Universal nasceu como um código de conduta mundial para dizer a todo
o planeta que os direitos humanos são universais, bastando a condição de ser pessoa
para que se possa reivindicar e exigir a proteção desses direitos em qualquer ocasião
e em qualquer circunstância (MAZZUOLI, 2019, p. 86).

Para afirmar a igualdade entre as pessoas e seus direitos adquiridos, têm-se disposto
no art. 1​o da Declaração Universal dos Direitos Humanos que, “todas as pessoas nascem livres
e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação
umas às outras com espírito de fraternidade” (Declaração Universal dos Direitos Humanos,
1948)​. ​Frente a isso, conclui-se que,no Século XXI, um tema muito discutido é o​s direitos
humanos das pessoas com deficiência, pois muitas vezes, os direitos que eram pra ser
garantidos e assegurados, são violados e impedem a plena cidadania. Um exemplo que ilustra
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isso é a violação à liberdade de ir e vir, que é prejudicada pela falta de acessibilidade a locais
e transportes públicos. Dessa forma,

foi criada em 2006 a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência,
também chamada de Convenção de Nova York. O Brasil assinou, o Tratado e seu
protocolo definitivo em 30 de março de 2007. Um ponto importante, a ser destacado
é que a Convenção foi a primeira convenção internacional sobre direitos humanos a
ser inserida com ​status d​ e Emenda Constitucional, uma vez que seguiu os termos do
§3o, do art. 5o, do texto constitucional de 1988”(DAMASCENO, 2014, s.p, apud
CORRALO; BOANOVA, 2018. p. 12).

A Convenção da Organização da Nações Unidas (ONU) sobre os Direitos das Pessoas


com Deficiência foi assinado em Nova York, em 30 de março de 2007, porém começou a
vigorar a partir de 3 de maio de 2008. A convenção conceitua que

pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas
barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em
igualdades de condições com as demais pessoas (Convenção da ONU, 2008).

Mazzuoli (2019, p.403) afirma que “a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência veio a ser o marco mais significativo, no âmbito das Nações Unidas, de proteção
dos direitos dessa classe de pessoas”, porque

reconhece que a deficiência é um conceito em evolução e que resulta da interação


dessas pessoas e as barreiras, devido às atitudes e ao ambiente que impedem a sua
plena e efetiva participação na sociedade em igualdade de oportunidades com os
demais cidadãos, bem assim que as difíceis situações por elas enfrentadas se
agravam com formas múltiplas de discriminação por conta de raça, cor, sexo,
idioma, religião, opiniões políticas, origem nacional, étnica, nativa, social, de
propriedade, nascimento ou idade. Para avaliar a implementação da Convenção nos
respectivos Estados-partes foi criado o Comitê para os Direitos das Pessoas com
Deficiência (MAZZUOLI, 2019, p. 403).

O Brasil ratificou a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com


Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007,
por meio do Decreto Legislativo n​o 186, de 9 de julho de 2008. A incorporação da Convenção
de Nova York na Constituição Federal de 1988 reforçou a prevenção, reabilitação e
equiparação de oportunidades referente às pessoas com deficiência que tem na Constituição,
além de tudo deu ênfase à igualdade e equiparou a acessibilidade a um direito fundamental.
Isso estabeleceu alguns critérios e conceitos sobre a própria deficiência, no que contribuiu
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para compreender melhor as barreiras e obstáculos como também as maneiras de garantias
que fazem parte deste documento (CORRALO; BOANOVA, 2018, p.113).
O mais importante, é que “trouxe consigo a importância da acessibilidade aos meios
físico, social, econômico e cultural, à saúde, à educação e à informação e comunicação, para
possibilitar às pessoas com deficiência o pleno gozo de todos os direitos humanos e liberdades
fundamentais” (BRASIL, 2009).
Dessa maneira, “surge uma nova concepção de pessoa com deficiência, ou seja, a
deficiência não está ligada à pessoa e sim aos obstáculos e barreiras que ela enfrenta para uma
vida digna” (CORRALO; BOANOVA, 2018, p.113).
Já “inclusão é uma forma de legitimação da ordem jurídica, uma ordem jurídica é
legítima quando assegura por igual a autonomia de cidadãos” (HABERMAS, 2007, p. 250).
A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência foi um marco
significativo na proteção dos direitos. Com a ratificação da Convenção Internacional sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, por meio do Decreto
Legislativo n​o 186, de 9 de julho de 2008, a incorporação da Convenção de Nova York na
Constituição Federal de 1988, (BRASIL, 2009) assegurou a manutenção de direitos ao
introduzir no texto constitucional.
No tocante ao Direito Civil-Constitucional, Carlos Roberto Gonçalves (2019, p. 43)
afirma que,

a expressão direito civil-constitucional apenas realça a necessária releitura do


Código Civil e das leis especiais à luz da Constituição, redefinindo as categorias
jurídicas civilistas a partir dos fundamentos principio-lógicos constitucionais, da
nova tábua axiológica fundada na dignidade da pessoa humana (art. 1​o​, III), na
solidariedade social (art. 3​o​, III) e na igualdade substancial (arts. 3​o​ e 5​o​ ).

Baseado nessa concepção, surgiu um crescimento da teoria da eficácia horizontal (ou


irradiante) dos direitos fundamentais, que se refere à aplicação direta dos direitos
fundamentais às relações privadas. Na prática, evidencia-se que,

poderá o magistrado, com efeito, deparar-se com inevitável colisão de direitos


fundamentais, quais sejam, por exemplo, o princípio da autonomia da vontade
privada e da livre-iniciativa, de um lado (arts. 1​o​, IV, e 170, caput), e o da dignidade
da pessoa humana e da máxima efetividade dos direitos fundamentais (art. 1​o​, III),
de outro. Diante dessa “colisão”, indispensável será a “ponderação de interesses” à
luz da razoabilidade e da concordância prática ou harmonização. Não sendo possível
a harmonização, o Judiciário terá de avaliar qual dos interesses deverá prevalecer
(GONÇALVES,2019, p. 43).
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Já na perspectiva teórica, tem-se nas palavras de André Ramos Tavares (2003, p.
373-374) que,

o reconhecimento de direitos humanos não deve mais operar apenas ‘verticalmente’,


ou seja, na relação existente entre liberdade-autoridade, entre particular-Estado. Há
uma tendência atual para reconhecer e privilegiar, também, a chamada eficácia
horizontal dos direitos humanos (e fundamentais). Essa ‘nova dimensão’, contudo,
não ignora a anterior, nem pretende sobrepor se a ela. Apenas pretende agregar
valores àqueles já consagrados (TAVARES, 2003, p. 373).

Com essa pretensão, estender os direitos fundamentais para as relações privadas é


indispensável

no contexto de uma sociedade desigual, em que a opressão pode provir não apenas
do Estado, mas de uma multiplicidade de atores privados, presentes em esferas como
o mercado, a família, a sociedade civil e a empresa. Sem embargo, formada esta
premissa, é preciso avançar, para verificar a forma como se dá esta incidência
(SARMENTO,2010, p. 185).

Para que se efetive os direitos fundamentais plenamente, principalmente para as


pessoas com deficiência, é preciso que haja inclusão. O seguinte tópico trata sobre os
conceitos fundamentais sobre os direitos da pessoa com deficiência no Estatuto da Inclusão.

2.1.2.2 Direitos da Pessoa com Deficiência no Estatuto da Inclusão: conceitos fundamentais

O Estatuto da Pessoa com Deficiência é instituído pela Lei n​o 13.146, de 6 julho de
2015, baseado na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo
Facultativo. Conforme seu art. 2​o​, “considera-se pessoa com deficiência aquela que tem
impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em
interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na
sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas” (BRASIL,2015).
Já no artigo 3​o​, há a conceituação de alguns termos para fins legais, relacionados ao
transporte e mobilidade. A Lei n​o​ 13.146​/2015​ define acessibilidade, no inciso I, como a

possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de


espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e
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comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e
instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na
zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida
(BRASIL, 2015).

A acessibilidade é obtida por meio de tecnologia assistiva ou ajuda técnica, presente


no inciso III, que se refere a “produtos, equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias,
estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a funcionalidade, relacionada à
atividade e à participação da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à
sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social” (BRASIL,2015).
Os empecilhos que impedem acessibilidade plena e efetiva são as barreiras, definidas
no inciso IV, como “qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que limite ou
impeça a participação social da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus
direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de expressão, à comunicação, ao acesso
à informação, à compreensão, à circulação com segurança, entre outros,” classificadas em

a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos espaços públicos e privados


abertos ao público ou de uso coletivo; b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos
edifícios públicos e privados; c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas
e meios de transportes; d) barreiras nas comunicações e na informação: qualquer
entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte ou impossibilite a
expressão ou o recebimento de mensagens e de informações por intermédio de
sistemas de comunicação e de tecnologia da informação; e) barreiras atitudinais:
atitudes ou comportamentos que impeçam ou prejudiquem a participação social da
pessoa com deficiência em igualdade de condições e oportunidades com as demais
pessoas; f) barreiras tecnológicas: as que dificultam ou impedem o acesso da pessoa
com deficiência às tecnologias (BRASIL,2015).

A fim de superar as barreiras que eventualmente possam existir, há as adaptações


razoáveis, definidas no inciso VI, como “adaptações, modificações e ajustes necessários e
adequados que não acarretem ônus desproporcional e indevido, quando requeridos em cada
caso, a fim de assegurar que a pessoa com deficiência possam gozar ou exercer, em igualdade
de condições e oportunidades com as demais pessoas, todos os direitos e liberdades
fundamentais” (BRASIL,2015).
Baseando- se nos conceitos fundamentais, presentes na Lei n​o 13.146​/2015​, segue-se
para os Direitos de personalidade, capacidade civil e a representação da pessoa com
deficiência, que estão inseridos no Código Civil brasileiro.

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2.1.2.3 Direitos da Pessoa com deficiência no Código Civil: direitos da personalidade,
capacidade civil e representação

O Código Civil brasileiro, no que se refere às pessoas com deficiência, trata na sua
redação sobre os direitos de personalidade, a capacidade civil cabível e a representação. Os
direitos da personalidade, são situações jurídicas existenciais que tem por objeto os bens e
valores essenciais da pessoa, da natureza física, moral e intelectual (AMARAL, 2018, p.353).
Eles são divididos em duas categorias há os inatos, como o direito à vida e à
integridade física e moral, e os adquiridos que decorrem do ​status i​ ndividual e existem na
extensão da disciplina que lhes foi conferida pelo direito positivo como o direito autoral
(GONÇALVES, 2018, p.166).
Dessa maneira, estão contidas no Código Civil brasileiro, instituído pela Lei n​o 10.406
de 10 de janeiro de 2002, no qual, aborda que os direitos da personalidade são
intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo sofrer limitação voluntária no seu exercício.
No art.12, trata de exigir que se cesse ameaça ou lesão, e podendo reclamar por perdas e
danos, sem prejuízo de outra sanções previstas na lei. Por meio do art. 13 que abrange a
exigência médica, ​é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição
permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes, também é válido que para
meios científicos ou altruísticos, por meio da disposição gratuita do corpo, no todo ou em
parte, para depois da morte. Já no art. 15, trata de que ninguém pode ser constrangido, a
submeter-se tratamento médico ou a cirurgia (BRASIL, 2002).
Os artigos seguintes, abordam o direito ao nome, compreendidos, o nome e o
prenome, como também não pode usar o nome de outrem em publicações ou representações
que exponham ao desprezo público, mesmo que não haja intenção difamatória. É
expressamente proibido usar o nome de alguém sem autorização em propaganda comercial
(BRASIL,2002).
Caso sejam autorizadas,

ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a


divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a
utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e
sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a
respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. A vida privada da pessoa
natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências
necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma (BRASIL, 2002).
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Além dos direitos de personalidade, atribuídos à pessoa humana, temos a capacidade.
Conforme o art. 1​o ​do Código civil, toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. E
prossegue explicando no art. 2​o que, “a personalidade civil da pessoa começa do nascimento
com vida”. Logo, a ​personalidade civil, se garante a qualquer pessoa, bastando apenas ser
humano. A lei permite a qualquer pessoa a titularidade de bens, podendo assim um
recém-nascido ou um alguém mentalmente incapaz, ser proprietário de um apartamento, mas
não podendo administrar o imóvel por si (NADER, 2016, p.238).
Já a capacidade de civil, além de pessoa humana também precisa atingir a maioridade,
conforme o art. 5​o ​do Código Civil, elucidando que “a menoridade cessa aos 18 anos
completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Há duas
espécies de incapacidade de fato, sendo elas,

a absoluta e a relativa. A lei civil discrimina as hipóteses de uma e de outra e


estabelece efeitos jurídicos distintos para ambas. Enquanto na incapacidade absoluta
a pessoa fica impedida de praticar, por si mesma, qualquer ato da vida jurídica e por
isso a lei indica o seu representante na relativa deve participar do ato devidamente
assistida por alguém (NADER, 2016, p.238).

Dessa forma, a pessoa com incapacidade absoluta ocorre a proibição total, pelo
incapaz na do exercício do direito. Fica ele inibido de praticar qualquer ato jurídico ou de
participar de qualquer negócio jurídico. Estes serão praticados ou celebrados pelo
representante legal do absolutamente incapaz, sob pena de nulidade (CC, art. 166, I).
(GONÇALVES, 2018, p.133-134).
A partir da publicação, em 2015, da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência, também nomeada de Estatuto da Pessoa com Deficiência, ocorreu uma mudança
no que se entendia por incapacidade. Em uma retomada histórica, Álvaro Villaça Azevedo
analisa que,

no Direito Romano, a incapacidade relativa abrangia: a) os infantia menores, os


púberes menores de vinte e cinco anos e maiores de quatorze anos; b) as mulheres em
face de tutor; c) os débeis; d) os pródigos. nomeava-se tutor quando a causa da
incapacidade fosse o sexo e nomeava-se curador para os menores de vinte e cinco
anos e maiores de quatorze anos, para os portadores de alienação mental e para os
pródigos (AZEVEDO, 2019, p.185).

Um passo importante para a mudança constante no Código Civil de 2002 foi no


tocante à incapacidade e os deficientes mentais, conforme relata Azevedo,

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A Convenção Internacional sobre os Direitos das pessoas com deficiência, aprovada
nos Estados Unidos em 2007 e confirmada em nosso País pelo decreto legislativo
186​/ ​2018, não considera a deficiência mental uma enfermidade. [...] A Lei n​o 13.146,
de 06.07.2015- Estatuto da Pessoa com Deficiência- confirma tal entendimento
(AZEVEDO, 2019, p. 185).

Houve a necessidade do legislador a partir do Código de 2002, “distinguir na lei as


situações na lei as situações que a própria natureza distingue, daí as diferentes classificações
constantes nos art. 3​o e 4​o ​,[...] enriquecidas com os aportes da supracitada Lei n​o 13.146 de
2015”, segundo Azevedo​ ( 2019, p. 185).
A incapacidade relativa permite que o incapaz pratique atos da vida civil, desde que
assistidos por seu representante legal, sob pena de anulabilidade. Certos atos podem ser feitos
sem o seu representante. Quando necessária a assistência, os dois participam do ato: o
relativamente incapaz e seu representante. Se for necessário a assinatura, os dois deverão
assinar, se não causa a anulabilidade do mesmo (GONÇALVES, 2018, p.134).
A representação está elencada nos artigos 115 a 120 do Código Civil. De acordo com
o art. 115, “​Os poderes de representação conferem-se por lei ou pelo interessado.” e com isso,
“a manifestação de vontade pelo representante, nos limites de seus poderes, produz efeitos em
relação ao representado”, conforme art. 116 do Código citado. O representante necessita ter
limitado os poderes que lhe são atribuídos, da mesma forma apresentado no art. 188, em que
dispõe que “ o representante é obrigado a provar às pessoas, com quem tratar em nome do
representado, a sua qualidade e a extensão de seus poderes, sob pena de, não o fazendo,
responder pelos atos que a estes excederem”.
No entanto, para que as leis que abrangem os direitos a personalidade, juntamente com
a capacidade civil, sejam colocadas em prática, é necessário a união, com os direitos
fundamentais dos seres, que buscam os direitos básicos e primordiais da sociedade.

2.1.3 Direitos constitucionais da pessoa com deficiência

Os direitos fundamentais são definido como “um conjunto de direitos e garantias do


ser humano, que tem como finalidade principal o respeito a sua dignidade, com proteção ao
poder estatal e garantia das condições mínimas de vida e de desenvolvimento do ser humano,

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ou seja, visa garantir ao ser humano, o respeito à vida, à liberdade, à igualdade e a dignidade,
para o pleno desenvolvimento de sua personalidade” (SILVA, 2012, p.2).
Para Padilha (2020, p. 235), “ os direitos fundamentais são os direitos considerados
indispensáveis à manutenção da dignidade da pessoa humana, necessários para assegurar a
todos uma existência digna, livre e igual”. O mesmo autor, ainda a respeito da temática,
aponta que, “ os direitos fundamentais existem para que a dignidade da pessoa humana, possa
ser exercida em sua plenitude. Caso não haja normas que assegurem e tutelem esses direitos, a
ofensa atingirá a própria dignidade” (PADILHA, 2020, p. 236).
Os direitos fundamentais são, “conceituados como direitos subjetivos, assentes no
direito objetivo, positivados no texto constitucional, ou não, com aplicação nas relações das
pessoas com o Estado ou na sociedade” (MORAES, 2019, p. 165).
A Constituição Federal de 1988, assegura, basicamente, no tocante a acessibilidade, o
que consta nos seguintes artigos:

[...] cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas


portadoras de deficiência (art. 23, II), proteção e integração social das pessoas
portadoras de deficiência (art. 24, XIV), [...] a habilitação e reabilitação das pessoas
portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária (art.
203, IV) (MAZZUOLI, 2019, p. 396).

Dessa maneira, os direitos fundamentais têm características extremamente importantes


para o estudo, do direito ao transporte e mobilidade, das pessoas com deficiências, que são a
extrapatrimonialidade, uma vez que não são direitos mensuráveis economicamente; a
universalidade, pois são aplicados a todos sem distinção; a inalienabilidade são direitos
inegociáveis e intransferíveis, não podendo vender, doar ou ceder os referidos direitos a
qualquer título (PADILHA, p.239, 2020).

2.1.3.1. Características dos direitos fundamentais

Os direitos fundamentais são dotados de características incorporadas. São categoria


especial de direitos subjetivos e elementos constitutivos do direito objetivo. Tem-se duas
perspectivas,

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Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático – Passo Fundo – RS – Brasil 14
Na perspectiva subjetiva, os direitos fundamentais conferem aos titulares a pretensão
a que se adote um determinado comportamento, positivo ou negativo, em respeito à
dignidade da pessoa humana. Na perspectiva objetiva, os direitos fundamentais
compõem a base da ordem jurídica, sendo certo que a afirmação e asseguramento dos
direitos fundamentais é condição de legitimação do Estado de Direito (MORAES,
2019, p. 167)

Com base nesses conceitos, os direitos fundamentais são dotados de características


que formam seu alicerce, sendo elas: extrapatrimonialidade, universalidade, inalienabilidade,
imprescritibilidade, irrenunciabilidade e historicidade.

2.1.3.1.1 Extrapatrimonialidade

A extrapatrimonialidade dos direitos fundamentais é abordado de modo a assegurar


que não se pode agregar valor econômico. Diz-se que os direitos da personalidade são
extrapatrimoniais porque

inadmitem avaliação pecuniária, estando fora do patrimônio econômico. As


indenizações que ataques a eles podem motivar, de índole moral, são substitutivos
de um desconforto, mas não se equiparam à remuneração. Apenas no sentido usar as
6 metafórico e poético podemos afirmar que pertencem ao patrimônio moral de uma
pessoa. (VENOSA, 2003, p.151).

Logo, não podemos atribuir valor para comercialização aos direitos individuais. Não
possuem conteúdo econômico-patrimonial, com isso, se atribui o caráter de inalienação,
indisponibilidade e inprescrição.

2.1.3.1.2 Universalidade

Os direitos fundamentais

alcançam a todos que se encontrem no Estado onde vigoram, dentro das suas
especificidades. Não importam aqui considerações quanto a raça, idade, sexo,
religião, ideologia. Claro, há direitos fundamentais que se aplicam às pessoas
naturais, outros às pessoas jurídicas, outros a ambas. O que se quer afirmar é que
eles protegem, dentro das suas peculiaridades, todas as pessoas físicas e/ou jurídicas
que se encontrem no território estatal, sem discriminação de qualquer espécie”
(MOTTA, 2017, p.182).

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2.1.3.1.3 Inalienabilidade

A inalienabilidade não é subordinado a disposição jurídica, ou disposição material


pelos instrumentos do abandono e destruição da coisa, de maneira que eles sejam nulos por
ilicitude do objeto, os negócios jurídicos que importem transmissão, dessa forma, os direitos
que visem resguardar a vida biológica, assim como a integridade moral e física ( MORAES,
2019, p.174).
Não impedindo que seja vedada a titularidade dos direitos fundamentais, como por
exemplo a retirada de gratuita de tecidos, órgãos e partes do corpo, há a possibilidade de o
sujeito ativo deixar de exercê-lo (MORAES, 2019, p. 174).

2.1.3.1.4 Imprescritibilidade

Distintamente de bens patrimoniais, os direitos fundamentais não são passíveis de


sofrer efeitos da prescrição extintiva.

[…] A prescrição é um instituto jurídico que somente atinge, coarctando, a


exigibilidade dos direitos de caráter patrimonial, não a exigibilidade dos direitos
personalíssimos, ainda que não individualistas, como é o caso. Se são sempre
exercíveis e exercidos, não há intercorrência temporal de não exercício que
fundamente a perda da exigibilidade pela prescrição (LENZA,2019, p. 1661).

2.1.3.1.5 Irrenunciabilidade

O que pode vir a acontecer é seu não exercício, porém nunca a sua irrenunciabilidade.
Ou seja, os direitos fundamentais não podem ser eliminados pela vontade de seu titular.

2.1.3.1.6 Historicidade

Para Moraes (2019, p. 167), a historicidade refere-se que “os direitos fundamentais são
objeto de transformações ao longo da história”. Completando essa ideia, Padilha (2020, p.

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238) afirma que, a historicidade “significa que os direitos são históricos, surgiram
emblematicamente com a revolução burguesa e evoluíram com o passar do tempo”.
Conclui-se, então, que os direitos fundamentais passaram por um longo caminho de
afirmação, lutas e consultas progressivas, além disso, estão em constante evolução, por isso,
são mutáveis e ampliáveis.

2.1.3.2 Direito à vida

Todos os seres humanos, têm direito a vida de acordo com a Declaração Universal dos
Direitos Humanos no seu artigo 3, e isso não é diferente com as pessoas deficientes, de acordo
com o art. 10 da Convenção sobre os direitos das Pessoas com Deficiência, que decorre sobre
o direito à vida, no qual aborda que todos os seres humanos têm esse direito, independente
das necessidades de cada um e serão tomadas as medidas necessárias para assegurar esse
direito com igualdade de oportunidades como as demais pessoas (CARNEIRO et al, 2013,
p.170).

Algumas definições sobre o direito à vida refletem essa dimensão, pois esse direito
consistiria no “direito a não interrupção dos processos vitais do titular mediante
intervenção de terceiros e, principalmente, das autoridades estatais” . Há ainda a sua
dimensão horizontal, que engloba a qualidade da vida gozada e suas facetas sociais,
o que nos leva a discussões sobre a vida digna e sobre o mínimo existencial. Esta
dimensão horizontal leva a promoção do direito à vida a abarcar a tutela à saúde,
educação, prestações de seguridade social e até mesmo meio ambiente equilibrado
(PETERKE, 2010, p.223).

A proteção jurídica em relação à vida, possui traços diferentes dos outros direitos, que
direcionam o conteúdo das obrigações do Estado. O início da mais preciosa garantia
individual, deverá ser dado ao biólogo, cabendo ao jurista, tão somente dar -lhe,
enquadramento legal, pois do de vista biológico a vida se inicia com a fecundação do óvulo
pelo espermatozóide, resultando um ovo zigoto (MORAES, 2019, p.34).
Em primeiro lugar, é pressuposto os outros direitos, em segundo lugar, a violação do
direito a vida é irreversível e irreparável, porém a um desconforto em afirmar o início e fim da
vida, devido aos fatos, religiosos, científicos e morais, que influenciam esse debate
(PETERKE, 2010, p.225).

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Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático – Passo Fundo – RS – Brasil 17
2.1.3.3 Direito à igualdade

Primeiramente é necessário a compreensão de que as pessoas com deficiência, antes


de tudo são PESSOAS, e como tal, são pessoas do direito, e através do Direito à igualdade é
possível compreender as formas de garanti-lo por meio da igualdade de condições e
consequentemente, da não discriminação em razão dessa condição (DIAS, et al, 2014, p.53).
O reconhecimento de que todos os seres humanos são “iguais em dignidade” implica o
reconhecimento dos direitos humanos iguais e, assim, do seu gozo sem qualquer
discriminação (PETERKE, 2010, p.276).
Na Constituição Federal de 1988, aborda que são

as diferenciações arbitrárias, as discriminações absurdas, o tratamento desigual dos


casos desiguais, na medida em que se desigualam, é exigência tradicional do próprio
conceito de Justiça, pois o que realmente protege são certas finalidades, somente se
tendo por lesado o princípio constitucional quando o elemento discriminador não se
encontra a serviço de uma finalidade acolhida pelo direito.( MORAES, 2019, p.36).

Outra questão importante implícita no artigo cinco da Convenção,

refere-se à consolidação do modelo social de deficiência que nos traz um conceito


amplo e nos coloca a condição de deficiência como característica humana e, ainda,
nos aponta o caminho da transformação cultural e paradigmática da sociedade,
transformando espaços, práticas sociais e promovendo experiências coletivas em
direção à sociedade inclusiva e, portanto, com igualdade de condições (DIAS, et al,
2014, p.53).

“​No entanto, a igualdade é separada em dois conceitos, a igualdade formal, que


desrespeita ao que diz a lei e o direito sem discriminação alguma, através do princípio da
isonomia. Esse princípio, exige tratar os iguais de forma igualitária. Então a ideia de
igualdade formal, é a forma clássica de igualdade. Já a igualdade substancial, retrata o
conceito de igualdade no dia a dia, onde ela pode assumir duas formas principais, a igualdade
no que tange um resultado, e a igualdade que tange uma determinada oportunidade. A última
reconhece que a existência de grupos sociais que não possuem as mesmas chances de realizar
uma garantia fundamental ou acessar um benefício ou bem” (PETERKE, 2010, p.276).

2.1.3.4 Direito ao transporte e mobilidade

Para Carneiro (2013, p.25), a acessibilidade é


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Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático – Passo Fundo – RS – Brasil 18
a possibilidade e condição de utilização com segurança e autonomia dos espaços.
Sejam eles espaços mobiliários, equipamentos urbanos, das edificações, transportes e
meios de comunicação por pessoas portadoras de deficiências ou mobilidade
reduzida. Através da lei 8.899/94, que foi regulamentada pelo Decreto Federal
nº.3691/2000 que condiz seja em ônibus, carro, avião, trem ou embarcação, está
relacionado ao direito fundamental do indivíduo de ir e vir, ou seja, é considerado um
direito fundamental para as pessoas com deficiência, inclusive para a garantia de
outros direitos, como ir à escola, ao trabalho, aos espaços de lazer (CARNEIRO, et al,
2013, p.25).

Com o direito ao transporte da pessoa com deficiência,

concede às pessoas comprovadamentes carentes o passe livre no sistema de


transporte interestadual. Será separado 2 assentos de cada veículo, para as pessoas
beneficiadas por esse serviço. As empresas públicas de transporte coletivo
reservarão assentos devidamente identificados aos idosos, gestantes, lactantes,
pessoas portadoras de deficiência e pessoas acompanhadas por crianças de colo
(ALVES, NETO, 2011, p.24).

Já o direito à mobilidade,

se refere aos Estados Partes tomarão medidas efetivas para assegurar às pessoas com
deficiência sua mobilidade pessoal com a máxima independência possível: a.
Facilitando a mobilidade pessoal das pessoas com deficiência, na forma e no
momento em que elas quiserem, e a custo acessível; b. Facilitando às pessoas com
deficiência o acesso a tecnologias assistivas, dispositivos e ajudas técnicas de
qualidade, e formas de assistência humana ou animal e de mediadores, inclusive
tornando-os disponíveis a custo acessível; c. Propiciando às pessoas com deficiência e
ao pessoal especializado capacitação em técnicas de mobilidade; d. Incentivando
entidades que produzem ajudas técnicas de mobilidade, dispositivos e tecnologias
assistivas a levarem em conta todos os aspectos relativos à mobilidade de pessoas
com deficiência (MAIOR, 2007, p.26).

A Lei n. 13.146, de 6 de julho de 2015, institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa


com Deficiência. Conforme seu art. 1​o , “destina-se a assegurar e a promover, em condições
de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com
deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania”(BRASIL, 2015).
A lei considera pessoa com deficiência como sendo, aquela que tem impedimento de
longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma
ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de
condições com as demais pessoas (BRASIL, 2015).

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Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático – Passo Fundo – RS – Brasil 19
Para tanto, a avaliação da deficiência é feita considerando, principalmente, o
impedimento nas funções motoras e estruturais do corpo, a limitação no desenvolvimento de
atividades e a restrição na participação da comunidade, baseando-se no art. 2​o da Lei n.
13.146 de 6 de julho de 2015.
Há uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC 19/2014)​3 que pretende alterar o
art. 5.º da Constituição Federal de 1988, inserindo os direitos à acessibilidade e à mobilidade
aos ​direitos individuais e coletivos. O novo artigo seria redigido como: “Art. 5.º Todos são
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
acessibilidade, à mobilidade, à segurança e à propriedade [...] (PEC 19/2014)”.
A justificativa empregada foi que na Carta de 1988, “propriamente, não há menção
explícita à mobilidade e à acessibilidade, tão essenciais ao exercício das atividades sociais
corriqueiras: ir de casa para o trabalho, do trabalho para a faculdade, de lá para os hospitais ou
centros de lazer, com agilidade e utilizando a devida infraestrutura” (PEC 19/2014 ).
Além disso,

o Estado Social de Direito deve garantir as liberdades positivas aos indivíduos. Esses
direitos são referentes à educação, saúde, trabalho, previdência social, lazer,
segurança, proteção à maternidade e à infância e assistência aos desamparados. Sua
finalidade é a melhoria das condições de vida dos menos favorecidos, concretizando
assim, a igualdade social. Estão elencados a partir do artigo 6º; (SILVA, 2012, p.2).

Além de ter o Estatuto da Pessoa com deficiência, que por meio de leis regem e
garantem os direitos para essa parcela da sociedade, também são amparados pela Carta Magna
do país, a Constituição Federal. Deve ser destacado que o direito à acessibilidade no
transporte representa uma ferramenta fundamental à inclusão da pessoa com deficiência na
sociedade (FILHO; LEITE ;RIBEIRO, 2019, p.118).
De acordo com o ​§ 4​o do artigo 5​o , o plano de mobilidade urbana, integrado e
compatível com o plano diretor, é obrigatório para cidades com mais de 20000 habitantes,
mesmo tendo decorrido 3 anos após o cumprimento legal(FILHO; LEITE ;RIBEIRO, p.227,
2019).

3
Proposta de Emenda Constitucional n​o​ 19/2014, disponível no link, visto em ​ 21/09/20:
https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/118042
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Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático – Passo Fundo – RS – Brasil 20
Já no artigo 10 da Lei n. 13.146 de 6 de julho de 2015, reafirma-se que, “Compete ao
poder público garantir a dignidade da pessoa com deficiência ao longo de toda a vida”
(BRASIL, 2015).
Compete à União, ainda, conforme o art. 23, inciso II da Constituição Federal, “cuidar
da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência”
(BRASIL, 1988). Parafraseando a art. 3​o da Lei n. 13.146 de 2015, no que se limita a
mobilidade e transporte, constante no inciso I, tem-se a seguinte definição de acessibilidade:

possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de


espaços, equipamentos urbanos, transportes, bem como de outros serviços e
instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na
zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida
(BRASIL, 2015, art 3, I).

O art. 46​o da Lei n. 13.146 de 2015, tem como tema o direito ao transporte e à
mobilidade. Nele, assegura-se que o direito ao transporte e à mobilidade da pessoa com
deficiência ou com mobilidade reduzida é igual às demais pessoas, facilitado por meio da
eliminação de obstáculos e barreiras de acesso. No art. 47​o ​da Lei n. 13.146 de 2015, tem-se
que

em estacionamentos, sendo eles público ou privados de uso coletivos e em vias


públicas, devem ser reservadas vagas próximas aos acessos de circulação de
pedestres (2% do total), devidamente sinalizadas, para veículos que transportem
pessoa com deficiência com comprometimento de mobilidade, desde que
devidamente identificados com a credencial de beneficiário (BRASIL, 2015).

Além disso, são asseguradas à pessoa com deficiência prioridade e segurança nos
procedimentos de embarque e de desembarque no transporte coletivo, conforme o disposto no
art.48​o , § 2º da Lei n. 13.146 de 2015. Ainda sobre o mesmo artigo, no § 3º discorre sobre a
colocação do símbolo internacional de acesso nos veículos, em que as empresas de transporte
coletivo de passageiros dependem da certificação de acessibilidade emitida pelo gestor
público responsável pela prestação do serviço (BRASIL, 2015).
Com relação ao deslocamento de pessoas com deficiência, por meio de empresas de
táxi, conforme o exposto no art. 51 o da Lei n. 13.146 de 2015, devem reservar 10% de seus
veículos acessíveis à pessoa com deficiência. Por fim, no art. 52​o​, expõe-se que locadoras de
veículos são obrigadas a oferecer um veículo adaptado para uso de pessoa com deficiência, a
cada conjunto de vinte veículos de sua frota (BRASIL, 2015).
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Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático – Passo Fundo – RS – Brasil 21
Assim,
coube à Lei n. 10.098/2000 estabelecer as normas gerais e os critérios básicos para a
promoção da acessibilidade, a qual, no que tange aos transportes e mobilidade
urbana, reservou um capítulo próprio para os elementos de urbanização (Capítulo II)
e outro para o mobiliário urbano (Capítulo III), limitando-se a remeter a
regulamentação dos veículos de transporte coletivo às normas técnicas (art. 16).
(FILHO; LEITE; RIBEIRO, 2019, p.224).

A não identificação do transporte como um meio para a igualdade, restringe o direito à


mobilidade de muitas pessoas. O transporte público deve ser tratado como um bem primário,
ou seja, é um meio de garantir a mobilidade, permitindo a participação de todas as pessoas na
vida social (PIRES, 2009. p. 14).
A mobilidade das pessoas deve ser, portanto, o objetivo principal das políticas de
transporte ou de desenvolvimento urbano para a produção de cidades justas, onde todos sejam
atendidas suas demandas de deslocamento, afirma Pires (2009, apud GOMIDE, 2003, p.14).
O Estado deve reconhecer que há indivíduos que precisam de assistência para
satisfazer suas necessidades e exercer suas funcionalidades. No caso da mobilidade,

a garantia do transporte público é a efetiva atuação estatal na concretização de uma


das funções sociais da cidade. Contudo, assegurar o transporte a todos não é
suficiente para que aqueles com mobilidade reduzida – como as pessoas com
deficiência – façam uso desse bem público (PIRES, 2009, p. 14).

Portanto, conclui- se que se faz necessário uma melhor adaptação da infraestrutura de


locais públicos e de uso comum com a finalidade de ser preparada e pronta para o uso de
todos que necessitem utilizar, e com isso, garantir a segurança da pessoa com deficiência.

2.2 Metodologia

A metodologia do trabalho tem por objetivo promover o desenvolvimento social e que


pessoas com deficiência possam reconhecer seus direitos quanto ao transporte e mobilidade. E
para tanto, a fim de atingir esse propósito foi elaborada uma Cartilha, que é a prática
desenvolvida no projeto. Essa parte do projeto foi desenvolvido a partir da extração das ideias
encontradas por meio do aprofundamento temático no referencial teórico, e com isso
sintetizou-se no corpo do texto da Cartilha. Desenvolvida utilizando o método qualitativo, ou
seja, descritiva.

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Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático – Passo Fundo – RS – Brasil 22
Os dados obtidos serão analisados de forma dedutiva, pois partiu-se da perspectiva
geral dos direitos fundamentais da pessoa com deficiência para atingir e integrar a perspectiva
específica do direito ao transporte e à mobilidade. A dedução é caracterizada por partir das
teorias e leis, e na maioria das vezes prediz a ocorrência dos fenômenos particulares,
conforme Lakatos; Marconi (2003, p. 105).
Com base nisso, foram realizadas pesquisas bibliográficas em doutrinas, sites e
principalmente, na Constituição Federal. O referencial teórico, primeiramente, foi
desenvolvido apresentando a passagem do tempo do Estado Liberal até chegar ao Estado
Democrático de Direito, que é o modelo adotado no Brasil. Após isso, foi pesquisado sobre a
convenção de Nova York, que tinha como tema os Direitos das Pessoas com Deficiência, foi
assinada em 30 de março de 2007, porém só entrou em vigor a partir do dia 03 de maio de
2008. É considerada o marco mais significativo no âmbito das Nações Unidas de proteção de
direitos das pessoas com deficiência.
Para fazer essas abordagens, baseando-se na passagem e transição de tempo,
utilizou-se do método histórico que

consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do passado para


verificar a sua influência na sociedade de hoje, pois as instituições alcançaram sua
forma atual através de alterações de suas partes componentes, ao longo do tempo,
influenciadas pelo contexto cultural particular de cada época. Seu estudo, para uma
melhor compreensão do papel que atualmente desempenham na sociedade, deve
remontar aos períodos de sua formação e de suas modificações (LAKATOS;
MARCONI, 2003, p. 106).

A seguir, foi efetuada um estudo sobre os conceitos fundamentais sobre os direitos da


pessoa com deficiência no estatuto da inclusão, onde foi analisado a noção de acessibilidade e
sobre empecilhos que a impeça de ser alcançadas plenamente. Nessa parte foi necessária uma
análise temática, que se obtém fazendo “emergir a idéia central e as secundárias, as unidades e
subunidades de pensamento, sua correlação e a forma pela qual esta se dá. [...] Pode-se
esquematizar a seqüência [sic!] das várias idéias [sic!], reconstituindo a linha de raciocínio do
autor e fazendo emergir seu processo lógico de pensamento” (LAKATOS; MARCONI, 2003,
p. 31).
Outro assunto de extrema importância que foi estudado, refere-se aos direitos das
pessoas com deficiência no Código Civil. Sendo eles: os direitos de personalidade, a
capacidade civil e representação.

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Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático – Passo Fundo – RS – Brasil 23
Logo após, as características dos direitos fundamentais foram apresentadas, de
maneira a basear e dar a devida importância para os direitos fundamentais que foram
adquiridos no decorrer do tempo. Eles se caracterizam principalmente pelo seu caráter
extrapatrimonial, universal, inalienável, imprescritível, irrenunciável, indivisível e histórico.
Foi realizado um estudo mais aprofundado nos conceitos de direito à vida, à igualdade e o
direito ao transporte e a mobilidade.

2.3 Resultados e Discussão ou Análise dos Resultados

A Cartilha Informativa, parte prática do projeto, tem por finalidade principal informar,
promover o desenvolvimento social e o conhecimento, além de reafirmação dos direitos das
pessoas com deficiência, quanto ao transporte e mobilidade. Isso foi possível a partir do
encontrado com o referencial teórico pesquisado e exposto.

2.3.1 Estado Democrático de Direito

Essa prática, tem por objetivo compreender os conceitos e institutos fundamentais e


pressupostos do estudo da matéria. Possui também, o propósito de entender, através da
passagem do tempo a evolução do Estado, desde a época do Estado Medieval até o Estado
Moderno. Há ainda, a capacidade de entender a diferença entre os regimes políticos e seus
sistemas.

2.3.2

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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao chegar no fim deste trabalho, pode considerar-se que ele apresenta uma tentativa
de trazer ao leitor, uma maior compreensão sobre os direitos das pessoas com deficiência, em
especial o direito ao transporte e à mobilidade, também de buscar uma forma com que esses
mesmos direitos se efetivem.
O primeiro passo para a realização da pesquisa foi apresentar a história da evolução do
Estado, desde a época do Estado Medieval, até o modelo atual da sociedade. Mostrando,
como foi uma grande luta para que os direitos fossem válidos para todos. Há, também a
intenção de entender a diferença entre os regimes políticos e seus sistemas.
Paralelamente, foi pesquisado sobre os direitos humanos e direitos civil-constitucional.
No qual foram apresentados os conceitos básicos do Estatuto da Inclusão no Código Civil e os
direitos das pessoas com deficiência, onde foi exposto sobre os direitos da personalidade, e
capacidade. Assim, com o objetivo de conscientizar a todos sobre quais são seus direitos e a
maneira de efetivá-los.
O último passo, foi apresentar ao leitor as características dos direitos fundamentais,
que são elas: extrapatrimonialidade, universalidade, inalienabilidade, imprescritibilidade,

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Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático – Passo Fundo – RS – Brasil 27
irrenunciabilidade e historicidade. Foi tratado mais a fundo, sobre o direito à vida, à
igualdade e ao transporte e à mobilidade. Onde é comentado sobre o conceito de
acessibilidade e a sua importância para as pessoas com deficiência.
Com a análise dos resultados encontrados com a pesquisa, na busca pelo
aprofundamento do conhecimento dos direitos das pessoas com deficiência e mostrando
como a inclusão e o aprendizado sobre os direitos que essas pessoas possuem é muito
importante para que vivam uma vida mais plena e autônoma, sem medo e com mais
segurança.
Conclui-se que, que por meio desta cartilha, foi possível aprofundar o conhecimento
dos direitos das pessoas com deficiência, trazendo-os de uma forma simplificada e de fácil
compreensão. Também, de que foi possível mostrar como se efetivar esses direitos para
promover o desenvolvimento social e o conhecimento da sociedade. Além de atingir o
objetivo geral do trabalho, que foi por meio de uma pesquisa teórico-prática com o foco em
elaborar uma Cartilha informativa quanto aos direitos fundamentais da pessoa com
deficiência, para elucidar a importância da informação para o público alvo.

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Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático – Passo Fundo – RS – Brasil 28
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