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08/01/2022 18:21 Educação de Jovens e Adultos em contexto de retirada de direitos: algumas reflexões e proposições 

- Revista Catedra Digital

Educação de Jovens e Adultos em contexto de retirada de direitos:


algumas reflexões e proposições 

Analise da Silva[1]

Atender ao chamado da revista eletrônica da Cátedra UNESCO de Leitura PUC-Rio para apresentar artigo com
temática Educação de Jovens e Adultos (EJA), é algo que faço com enorme satisfação por poder, mais uma ve
divulgar e buscar adesão às pautas nacionais da EJA. Com este objetivo, trago uma breve reflexão sobre o
desafios colocados neste momento da história de nosso país e, consequentemente, para a efetivação da
pautas por direitos dos sujeitos da EJA.
Começo situando quem e quantos são os sujeitos educandos com direito a esta modalidade de ensino, segund
dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), 2014. O Brasil possui 14,1 milhões de pessoa
não alfabetizadas com 15 anos ou mais de idade, 52 milhões de pessoas com 15 anos ou mais sem Ensin
Fundamental e 22 milhões de pessoas com 18 anos ou mais sem Ensino Médio. Concordando que “se
educação sozinha, não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda” (FREIRE, 2000, p. 67),
sabendo que a Constituição Cidadã (BRASIL, 1988), incorporou como princípio que toda e qualquer educaçã
visa o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para
trabalho (CF. Art. 205), compreendo que a Educação de Jovens, Adultos e Idosos, modalidade estratégica para
garantia de uma igualdade de acesso à educação como direito, deve ser considerada à luz de tal princíp
constitucional. Na EJA, o conjunto destes sujeitos refere-se a pessoas moradoras de ocupações urbanas o
rurais, jovens, adultos e idosos, negros, indígenas, mulheres, ribeirinhos, extrativistas, trabalhadore
empregados e desempregados, pessoas em privação de liberdade, pessoas e com deficiência, pantaneiro
faxinalenses, agricultores, pessoas LGBT, pessoas e em situação de rua, estrangeiros, doméstica
caminhoneiros, profissionais do sexo, dentre tantos outros sujeitos historicamente, sistematicament
orquestradamente excluídos do direito à escolarização. São sujeitos vítimas de violência social e de violência d
Estado, enfim, 88 milhões de pessoas lesadas em seus direitos constitucionais, totalizando 43% da populaçã
brasileira, ou seja, 88 milhões de brasileiros com direitos não reconhecidos ou negados.
Neste ponto, cabe salientar algumas questões que precisam ser feitas e respondidas a todo tempo para qu
consiga demarcar o lugar de onde falo, a concepção a que adiro, a prática pedagógica que defendo. A qu
classe social eles pertencem? De que raça eles são, em sua maioria? Quais são as condições de trabalho dele?
as de moradia? Quais são os recursos para cuidar da saúde? As condições de transporte? Quantas sofre
violência doméstica? Quantos sofrem violência social, violência policial, violência de Estado? Como são tratado
em relação a suas orientações sexuais e suas identidades de gênero? Como são tratados em relação a sua
religiosidades? Como são tratados em relação a suas regionalidades?
Dito isso, ocupar-me-ei de refletir sobre os efeitos nefastos que o PL 193, projeto de lei que propõe incluir
Programa Escola sem Partido entre as diretrizes e bases da educação nacional, de que trata a Lei nº 9.394, de 2
de dezembro de 1996 (LDB), uma vez aprovado exercerá sobre os sujeitos da EJA.
Reforçando a 41ª Nota Pública do Fórum Nacional de Educação, que diz respeito especificamente ao referid
PL, apoiada tanto na Constituição Federal quanto na LDB, evidencio a contribuição que estas leis trazem para
relevância de termos uma educação escolar inspirada em princípios como a liberdade de aprender,
 de
ensina
de pesquisar e de divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber, o pluralismo de ideias e de concepçõe
pedagógicas, o reconhecimento da liberdade do diferente, a gestão democrática da educação pública e
garantia de padrão de qualidade, dentre outros. Busco também, nestes mesmos instrumentos legais qu

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tratam da educação brasileira, trechos em que se colocam as finalidades e os princípios da educação escola
com qualidade social porque isso é muito caro aos movimentos sociais, na presente discussão, em especial, ao
Fóruns de EJA do Brasil.
Qualidade social é um conceito cunhado pelos movimentos sociais na década de 80 e que, no início da décad
de 90, no II Congresso Nacional de Educação (CONED), realizado pelos movimentos sociais sem a participaçã
dos governos, adquiriu corpo conceitual, passando a ser definido como aquele que aponta para a recuperaçã
e o resgate dos direitos sociais, por considerar que o mesmo havia sido sequestrado do conjunto dos direito
dos trabalhadores. Isso é educação de qualidade social. Assim, uma educação voltada à garantia de acesso, d
condições de permanência e de fomento à construção do conhecimento com qualidade social visando, repito,
pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalh
Desta forma, cabe à educação contribuir para a promoção de uma atualização histórico-cultural articulada co
políticas públicas de Estado de inclusão e de resgate social. Falo, portanto, de uma educação que contribu
para a restituição dos direitos dos trabalhadores e dos filhos dos trabalhadores, de acordo com a proposta do
movimentos sociais pautada na perspectiva da educação popular.
E por que avalio que o PL 193 trará efeitos nefastos para os sujeitos da EJA, em especial? Se pensarmos quanta
vezes ouvimos mulheres educandas dizendo que não estudaram quando crianças e adolescentes porque o p
não permitia, e que depois esse empecilho se manteve por parte de seu marido, e que somente depois do
filhos criados puderam retornar ou iniciar suas trajetórias escolares, entenderemos a importância de aponta
legalmente a possibilidade de discutir a questão de Gênero e sua relação com o machismo presente em noss
sociedade. Ainda se pensarmos quantas vezes ouvimos de educandos que eles abandonaram seus percurso
escolares por serem chamados por nomes que os desumanizavam, por terem seus cabelos e seus corpo
ridicularizados e por não encontrarem representatividade junto aos educadores, entenderemos a necessidad
de discutir a questão das Relações Étnico Raciais em todas e em cada uma das salas de aula deste paí
Também se pensarmos em quantas vezes educandos se revelam pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travesti
transexuais e transgêneros (LGBT) enquanto nos contam que quando eram crianças e adolescentes fora
achincalhados, espancados, violentados e se viram tratados como anomalia na escola, entenderemos
urgência de discutir a questão de Orientação Sexual e Identidade de Gênero e sua relação com a lgbtfob
disfarçada de bullying presente em nossa sociedade.
A concepção de bullying comporta situações em que, por exemplo, a pessoa é ridicularizada pela estética d
sua letra. Porém considero que se acontecer o mesmo por causa da textura do cabelo, ou por ser do sex
feminino, ou pelos supostos quilos a mais, pela sua orientação sexual e identidade de gênero nã
heterossexual, tratar-se-á, respectivamente, de racismo, de machismo, de gordofobia e de lgbtfobia. Tratar ta
situações como bullying é legitimar o preconceito, a discriminação e a exclusão desta pessoa do seu direito
escolarização, dentre outros direitos.
Ocorre que, no inciso IV de seu artigo 5º, o referido PL diz que, no exercício de suas funções, o professor, a
tratar de questões políticas, socioculturais e econômicas, apresentará aos alunos, de forma justa, as principa
versões, teorias, opiniões e perspectivas concorrentes a respeito. Assim deveríamos, em turmas de crianças
adolescentes, apresentar a perspectiva concorrente quanto ao combate à exclusão escolar de mulheres, d
pessoas LGBT, de negros, de indígenas. Deveríamos apresentar teorias concorrentes quanto a
reconhecimento e à garantia dos direitos de mulheres, de pessoas LGBT, de negros, de indígenas. E, e
cumprimento ao referido PL, uma vez aprovado, no seu inciso V, do mesmo artigo 5º, deveríamos nos omitir d
nos posicionar sobre tratamento machista dispensado a mulheres, tratamento lgbtfóbico dispensado a pessoa
LGBT ou tratamento racista dispensado a negros ou a indígenas, em respeito ao “direito dos pais dos alunos
que seus filhos recebam a educação religiosa e moral que esteja de acordo com as suas próprias convicções
contribuindo, assim, para aumentar o número de educandos que interrompem  suas trajetórias
 d
escolarização por terem seus direitos lesados.

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Em Nota Técnica da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), do Ministério Público Federal (MPF
encaminhada ao governo federal em junho de 2016, a procuradora Deborah Duprat classifica o referido P
como inconstitucional e explicita os motivos para tal: “[…] o PL subverte a atual ordem constitucional po
inúmeras razões. Confunde educação escolar com aquela que é fornecida pelos pais e com isso, os espaço
público e privado. Impede o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas. Nega a liberdade de cátedra e
possibilidade ampla de aprendizagem, contraria o princípio de laicidade do Estado, porque permite no âmbit
da escola, um espaço público na concepção constitucional, a prevalência de questões morais, religiosas
particulares.”
Entretanto, a avaliação técnica trazida pela referida procuradora não nos dá garantias da não efetivação d
projeto, uma vez que estamos em um momento de desconstrução da democracia, o que significa
fortalecimento da possibilidade da aprovação do que é inconstitucional em detrimento daquilo que não sej
Neste momento, nossa organização para barrar os retrocessos postos no horizonte é imprescindível e, para ta
precisamos nos colocar como sujeitos de nossa história pessoal e coletiva, o que contrasta em muito com
proposta Escola Sem Partido.
Se consideramos que é função do educador contribuir para a melhoria das condições de vida sua e do
educandos, trabalharemos com a lógica de processos educativos que contribuam para formar cidadãos co
capacidade crítica e com compromisso social, com autonomia responsável, que perceba que ele est
dialogando com o coletivo e não com posturas individuais, com respeito pela diversidade, que permita su
problematização mas nunca a desigualdade. Isso é fundamental, porque denota contrassenso trabalhar num
lógica de qualidade social, numa lógica de perspectiva popular e ser homofóbico, por exemplo. Denot
incoerência trabalhar numa lógica de inclusão social, desde que os negros estejam fora desta inclusão. E ser
igualmente incoerente defender o direito de voz das mulheres, desde que não sejam nossas companheira
nossas filhas, nossas mães ou as educandas com as quais trabalhamos na construção de conhecimentos.
Mostra-se imprescindível que estejamos dispostos a construir disponibilidades em nosso dia a dia tã
atarefado para disputarmos nos municípios e nos estados, a permanência ou a inclusão nos planos municipa
e estaduais de educação das questões de gênero, e que as mesmas sejam trabalhadas desde a infânci
inclusive nas turmas de EJA.     Também a luta pela Gestão Democrática está ameaçada. Precisamos, aind
fortalecer os Fóruns Permanentes de Educação, incentivados nos Estados, no DF e nos Municípios pe
estratégia 19.3, da Meta 19, da Lei 13.005/2014, para que os mesmos possam não somente coordenar a
conferências locais, como também acompanhar a execução dos Planos Municipais, dos Planos Estaduais e d
Plano Nacional de Educação. Neste sentido é fundamental materializar o objetivo genérico de erradicação d
todas as formas de discriminação, dando-lhe a configuração de combate ao preconceito de gênero, de raça, d
orientação sexual, de identidade de gênero e de classe social, que continua a expulsar sujeitos de direitos da
escolas e a empurrá-los para a EJA, onde, por vezes, são novamente lesados em seu direito à escolarização. Ist
quando antes não lhes roubam o direito à dignidade e mesmo, em números cada vez mais alarmantes, o direit
à vida.
Acompanhar os planos locais é criar mecanismos para assegurar o seu cumprimento, seu aprofundamento
sua qualificação. O governo do golpe nos 54 milhões de votantes não fará isso, assim como o governo anterio
não fez em relação à EJA. Afirmo isto por havermos tentado, por inúmeras vezes em 13 anos, pautar a discussã
da EJA junto a um dos vários ministros da educação que tivemos e somente em 2015 isso se viabilizou. Mesm
assim a proposta que o Grupo de Trabalho, criado pelo ministro para elaborar Proposta d
Redimensionamento da Política Nacional de Educação de Jovens e Adultos ao longo da vida, na perspectiva d
Educação Popular, em função das diretrizes, metas e estratégias do Plano Nacional de Educação (2014-202
não foi considerada. Outra proposta, que não dialogava com as pautas construídas historicamente nos último
20 anos pelos Fóruns de EJA do Brasil, em diálogo com outros movimentos sociais e sindicais
 específicos
 do
sujeitos da modalidade e com a Educação Superior, foi efetivada.

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Avalio que a agenda eleita não estava sendo cumprida. Entretanto, faziam parte dela o reconhecimento do
sujeitos trabalhadores histórica e intencionalmente alijados dos processos de inclusão, sujeitos estes que e
43% da população brasileira pertencem à  EJA,  estejam ou não na escola.  Houve retrocesso. Agora o projeto d
nação é outro. E, se naquele, os sujeitos da EJA estavam incluídos precariamente, neste estão excluídos, ante
de qualquer outra modalidade. Caso haja dúvida, sugiro a releitura de minha definição dos sujeitos da EJA nest
artigo. O que busco evidenciar é a relevância da luta por uma política pública de Estado que efetivament
garanta direitos básicos desde a formação dos educadores e que possam ser discutidos e valorizados em cad
turma de EJA, sob pena de estarmos contribuindo para excluir, mais uma vez, esses sujeitos da escola.
Outra medida que traz efeitos nefastos aos educandos da EJA é a aprovação da Lei 13.415, de 16 de fevereiro d
2017, que reafirmou a Medida Provisória nº 746, de 2016, e alterou a LDB, a Lei do Fundo de Manutenção
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) e
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) 1943, instituindo a Política de Fomento à Implementação de Escolas d
Ensino Médio em Tempo Integral. Entendo que esta lei não está pautada no princípio da emancipação human
mas na defesa da produção de mão de obra adequada às demandas do mercado.
Localizando as enormes diferenças, situo a finalidade de cada uma destas lógicas, destas abordagen
educacionais, das teorias pedagógicas que as pautam e das concepções de educação distintas que ela
favorecem. Inicio enfatizando que a   desqualificação de disciplinas como Educação Física, Arte, Sociologia
Filosofia fica evidenciada no parágrafo 2º de seu artigo 3º, quando legisla pela obrigatoriedade de seu estudo
não de seu ensino.
Já a formação de mão de obra para o mercado como prioridade fica evidente ao vermos a substituição d
diretriz, orientação para o trabalho, presente no inciso III do artigo 27 da LDB, pela formação técnica
profissional, prevista no inciso V do artigo 36, quando determina que  o currículo do Ensino Médio sej
composto por “itinerários formativos”, conforme a relevância “para o contexto local e a possibilidade do
sistemas de ensino” e não como direito constitucional. É evidente que os gestores estaduais organizarão
ofertarão tais disciplinas apenas de acordo com a possibilidade de cada sistema. Esta determinação afront
diretamente a previsão  do artigo 4º da LDB quanto ao dever do Estado em relação à EJA, uma vez que esta l
prevê a garantia de “oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características
modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadore
as condições de acesso e permanência na escola” conforme o inciso VII do artigo?
Mais uma vez, aos sujeitos da EJA nega-se o direito à escolarização que contribua com a sua formação human
Entendo formação humana como aquela que decorre da humanização da humanidade, uma vez que nã
nascemos humanizados mas nos tornamos humanos na medida em que vamos nos apropriando do patrimôn
da humanidade. Como será possível aos jovens, aos adultos e aos idosos apropriarem-se do patrimôn
cultural, material e imaterial da humanidade se não terão ensino de História e Geografia obrigatórios, mas si
diluídos nos percursos formativos? Avalio que não será. Além disso, avalio que a Reforma do Ensino Méd
acarretará efeitos não apenas na formação escolar dos educandos, mas também na formação inicial do
educadores. É fundamental questionar, portanto, o sentido político da reforma, uma vez que ela tem um
intencionalidade quando coloca, mais uma vez, em segundo plano, o direito à escolarização dos trabalhadore
educandos da EJA.
Outra medida que trará efeitos nefastos aos sujeitos da EJA será a imposição de uma Base Nacional Comu
Curricular (BNCC), não dialogada com os gestores, os formadores, os educadores e os educandos d
modalidade. Os Fóruns de EJA pleiteiam, desde a instituição da BNCC, que a construção da proposta em relaçã
à modalidade seja discutida amplamente. Por isso, foi construída uma metodologia em que a EJA pudesse se
edificada a partir de cada escola, continuando com os municípios, estados, regiões e por fim, chegando a
âmbito nacional. Da mesma forma como outras medidas tem sido implantadas sem diálogo,  avalio  que
governo do golpe nos 54 milhões de votantes implantará uma BNCC para a EJA voltada para suprir mão de obr
a partir da demanda do mercado.

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Dessa forma, nossa perspectiva é resistir a um currículo único pois, historicamente, medidas que chegam à
escolas designadas como de base, diretriz, parâmetro ou proposta nacional, tomam caráter de obrigatoriedad
Temos que resistir, porque esta proposta transformar-se-á num currículo único, na perspectiva do mercad
porque isso não está sendo com base numa proposta pedagógica, a lógica não é a do ‘aprender e ensinar’ que
o que caracteriza uma teoria pedagógica.  E o que significa resistir? Significa defender que tenhamos currículo
diferenciados, currículos pensados por cada sujeito não na perspectiva individualista mas para contribuir com
demanda local de onde esse sujeito vive. Além disto, que tenhamos uma ampla gama de opções para que o
filhos dos trabalhadores não sejam obrigados a se formar para dar continuidade à profissão dos pais, se assi
não desejarem.
Com o congelamento dos gastos com a educação aprovado pela Emenda Constitucional n. 95/2016, que altero
o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para instituir o Novo Regime Fiscal, conforme inciso II d
parágrafo 1º do artigo 1º, a possibilidade de diminuição da demanda por vagas na EJA é quase certa. Assi
avalio, pois, os sujeitos da EJA estarão lutando para conseguir vagas para seus filhos e netos não tend
portanto, como se ocupar da mobilização pela garantia da sua vaga.
As propostas afetam direta e perversamente os pobres, pois foram concebidos para retirar direitos. Ajust
fiscal, PECs, Reforma do Ensino Médio, alusão a cobrança de mensalidade em universidades públicas po
representante do MEC em reunião com sindicalistas. Além disto, defesa da proposta, por representante d
MEC, em reunião do Fórum Nacional de Educação, da exclusão de trecho do Documento Referência d
Conae2018 que dizia “o efetivo cumprimento das metas instituídas pelo Plano Nacional de Educação (PNE), co
a efetiva destinação dos 10% do PIB para a educação, com aporte de recursos do fundo social do pré-sal e do
royalties do petróleo e, ainda, ampliação dos percentuais constitucionais mínimos obrigatórios para
educação, todas conquistas dos movimentos sociais e das entidades educacionais, bem como a previsão d
novas fontes e recursos (Lei 12.858/13 que dispõe sobre a destinação para as áreas de educação e saúde d
parcela da participação no resultado ou da compensação financeira pela exploração de petróleo e gás natural)
Também a defesa de exclusão de outro trecho que dizia “posição política e educacional radicalmente contrár
às diferentes formas de violência, ao racismo religioso, ao racismo institucional, ao feminicídio, ao massacr
dos povos indígenas, ao genocídio da juventude negra, à negação dos direitos aos idosos, das pessoas jovens
adultas, das pessoas com deficiência, dos povos do campo e das florestas,” dentre outros trechos que remete
a direitos. Enfim, todos os movimentos evidenciados pelo Executivo Federal abrem caminho para a reform
trabalhista, com reforma da previdência, com privatização com vistas ao atendimento do mercado e co
congelamento, por duas décadas, da garantia dos investimentos conquistados até aqui.
É interpretação de texto e matemática o que me leva a concluir que, daqui a 20 anos não teremos
investimento que tivemos em 2014 e do qual, acertadamente, já nos queixávamos. O investimento será be
menor. Pensem nas escolas públicas de Ensino Fundamental. Pensem as condições físicas, de formação
valorização desses educadores, pensem as condições de construção do conhecimento desses estudante
Pensem nos jovens pobres nas escolas de Ensino Médio induzidos à Formação Técnica Profissional e destituído
de oportunidades de chegar à Educação Superior, se assim o desejarem.
Todos os direitos que estão pretendendo retirar agora foram conquistados. E com muita luta. Portanto, qual é
perspectiva, na minha compreensão? Resistir, ficar, mobilizar, lutar, exigir, dizer não a essa política autoritár
que prega ajustes nos direitos sociais à luz das demandas de mercado, porque é para atender o mercad
Pensar que se estamos nos propondo defender, com os educandos da EJA, que eles têm o direito ao
conhecimentos construídos por cada um desses campos de conhecimentos, será princípio considerar
centralidade da dialogicidade, da organicidade do poder popular, da soberania e da educação popular. Com
definimos no último Encontro Nacional de Educação de Jovens e Adultos, nós temos que seguir por nenhu
direito a menos.  

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Em conclusão a esta breve proposta de reflexão, quero retomar a importância de entendermos efetivament
que não existe neutralidade na educação porque ela é, em si, um ato político. Desde seu processo inicial, co
os nossos ancestrais, as ações educativas não acontecem por acaso. Elas aconteciam para garantir
sobrevivência dos grupos, portanto sendo um ato político, tendo uma intencionalidade e acontecem
atualmente, para garantir a melhoria das condições de vida. Não se educa por educar, se educa com um
intencionalidade. Repito com frequência que a educação deveria sair do escopo dos direitos sociais e ingressa
no dos direitos humanos. Avalio que a educação é um direito que nos permite acessar outros direitos
portanto, um direito que não tem um fim em si mesmo. Quando luto pela moradia é porque eu quero um
casa; quando luto pela saúde é porque eu quero o tratamento e quando luto pelo trabalho é porque eu precis
do salário que decorre dele. Quando eu luto pela educação não é porque eu quero ser educada, é porque e
quero acessar todos esses outros direitos. É porque eu quero entender o que estou assinando quando, po
exemplo, assino um contrato.
Esta concepção de Educação torna-se fundamental ao atribuirmos centralidade à necessária intencionalidad
de cada ação educativa, pois cada uma e o conjunto delas tem ‘para que”. E este para que, est
intencionalidade pode ser para alienar ou pode ser para colaborar na emancipação humana – portanto, não h
como ser neutro na educação. É fundamental, na minha concepção, que essa intencionalidade marque
reconhecimento das diferenças e o combate das desigualdades, em especial, no caso da EJA, em defesa de u
projeto que efetive a educação libertadora daqueles trabalhadores e daquelas trabalhadoras que não pudera
estudar enquanto eram crianças e adolescentes.
Finalmente, reitero o posicionamento dos Fóruns de EJA do Brasil no sentido da nossa discordância contr
qualquer ação que possa significar retrocesso nas conquistas do povo brasileiro, arduamente assegurada
uma vez que não existe nenhuma conquista na educação brasileira que tenha sido benesse de qualque
governo – demandou muita luta, muita ida à rua, muita paralisação, muito estudo, muita inserção, muit
incidência e, durante um período na nossa história, muitas mortes e muitos desaparecimentos.
Sei que disse antes, neste artigo, que passaram o trator… Entretanto, estamos juntos e isso fortalece noss
indignação e a transforma em solidariedade de classe, que é atitude. É resistir, é pautar, é ficar, é defender
Constituição Cidadã, defender a LDB, defender o PNE… É mobilizar, mobilizar e mobilizar junto com o
educandos da EJA – esse educando que é o sujeito que trabalha em serviço manual desde a adolescência e qu
agora querem que se aposente somente aos 65 anos de idade, tendo 49 de contribuição sem interrompe
Juntos!
Sigamos, pois é necessário que a democracia prevaleça sobre a insensatez!

Bibliografia

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Disponível em: www.planalto.gov.br (http://www.planalto.gov.br) Acesso em Mar. 2017.
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc95.htm
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc95.htm)         Acesso em Dez. 2016.
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http://www.anped.org.br/news/carta-aberta-do-forum-nacional-de-educacao-fne-sobre-processo-de-
impedimento-da-gestao-da (http://www.anped.org.br/news/carta-aberta-do-forum-nacional-de-educacao-fne-
sobre-processo-de-impedimento-da-gestao-da)  Acesso em Mar. 2017.  

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Acesso em Mar. 2017
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BRASIL. Senado Federal. PROJETO DE LEI DO SENADO nº 193, de 2016. Disponível em
https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/125666 Acesso em 05 mai.2016
(https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/125666%20Acesso%20em%2005%20mai.2016
FÓRUM NACIONAL EM DEFESA DA ESCOLA PÚBLICA. Plano Nacional de Educação: proposta da sociedade
brasileira. In: CONGRESSO Nacional de Educação, 2, 1997, Belo Horizonte. (Projeto de Lei n. 4.155, de 10 de
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(http://www.adusp.org.br/files/PNE/pnebra.pdf)   Acesso em Mar. 2017
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 6a ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1996.

 Palavras Chave: Educação de Jovens e Adultos; Retirada de Direitos; Defesa da Escola Pública, Laica, Democrática,
de Qualidade Social.

[1] Representante dos Fóruns de EJA do Brasil no Fórum Nacional de Educação (FNE); Coordenadora do Comit
Mineiro da Campanha Nacional Pelo Direito à Educação; Professora Associada da Educação Superior n
Faculdade de Educação da UFMG.

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08/01/2022 18:21 Educação de Jovens e Adultos em contexto de retirada de direitos: algumas reflexões e proposições  - Revista Catedra Digital

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