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O direito e a educação para a diversidade

A diversidade é um termo abrangente. Refere-se às diversas formas e


modelos culturais, étnicos e sociais. A existência de uma sociedade
multifacetada, como tem se tornado o mundo globalizado, revela a
necessidade de preparar esta e as futuras gerações para o respeito mútuo e a
compreensão de que a tolerância com as diferenças deve ser o caminho.
A melhor forma de preparar as gerações futuras é por meio da
educação. Nesse sentido, é preciso educar para a diversidade e isso é possível
a partir de um modelo educacional inclusivo, crítico e propositivo.
E o que o Direito tem a ver com isso? O Direito regulamenta as políticas
educacionais adotadas com a finalidade de alcançar os objetivos da educação
para a diversidade. Uma série de normas, tais como elas, leis, decretos,
portarias, resoluções e pareceres, regulamenta como as instituições públicas
e privadas devem alcançar os objetivos propostos.
De igual modo, tais regras sinalizam como devem ser as ações dos
órgãos públicos no que diz respeito à educação para a diversidade.
O Manual Operacional da Rede de educação para a diversidade do
Ministério da Educação define quais temáticas da diversidade devem ser
objeto de estímulo.
As temáticas da diversidade contemplam a educação de jovens e
adultos, a educação do campo, a educação integral, a educação escolar
indígena, a educação ambiental, a educação patrimonial, a educação para os
direitos humanos, a educação das relações étnico-raciais, de gênero e
diversidade sexual, entre outros.
Essas temáticas não excluem outras que se fizerem necessárias, de
acordo com a localidade, com as circunstâncias sociais, culturais e
econômicas de cada região.
O Direito, portanto, contribui para a regulamentação das atividades e
ações que devem ser desenvolvidas pelo Governo, pelas instituições de ensino
e pela sociedade. No que diz respeito aos aspectos pedagógicos, pode-se citar
algumas previsões normativas que orientam as instituições de ensino.
Vejamos:
- Previsão de ensino relativo à educação das relações étnico-raciais e
para o ensino de História e cultura afro-brasileira, africana e Indígena,
nos termos da Lei nº 9.394/96, com a redação dada pelas Leis nº
10.639/2003 e nº 11.645/2008, e na Resolução CNE/CP nº 1/2004,
fundamentada no Parecer CNE/CP nº 3/2004.
- Previsão de ensino relativo a políticas de educação ambiental,
conforme o disposto na Lei nº 9.795/1999, no Decreto nº 4.281/2002
e na Resolução CNE/CP nº 2/2012.
- Previsão de ensino relativo ao desenvolvimento nacional sustentável,
conforme o disposto no Decreto nº 7.746, de 05/06/2012, e na
Instrução Normativa nº 10, de 12/11/2012.
- Previsão de ensino relativo à educação em direitos humanos,
conforme o disposto no Parecer CNE/CP nº 8/2012, de 06/03/2012,
que originou a Resolução CNE/CP nº 1, de 30/05/2012.

Educação de jovens e adultos na diversidade


A primeira necessidade, antes mesmo de educar para a diversidade,
consiste em simplesmente educar. Há, no Brasil, um alto número de pessoas
que não tem acesso ao ensino formal. Isso significa dizer que é preciso incluir
os excluídos educacionais.
Nesse sentido, existem ações governamentais que inserem ou
reinserem os excluídos educacionais como forma de permitir o
desenvolvimento dessas pessoas. Entre as ações governamentais existe o
EJA – Educação de Jovens e Adultos.
Deve-se lembrar que a educação é um direito previsto na Constituição
da República de 1988. Vejamos o que o MEC pondera nesse sentido.

A inscrição desse direito na Constituição foi produto dos


movimentos políticos e sociais que lutaram por essa garantia
constitucional e dos que entendem sua importância e
necessidade no mundo contemporâneo, ao considerar os
impactos negativos subjetivos da educação sobre os
indivíduos, quando esse direito não é garantido ou o é de
modo incompleto ou irregular. Os números da exclusão
educacional de jovens e adultos demonstram que 67 milhões
de brasileiros acima de 15 anos têm menos de oito anos de
estudo e, deste montante, cerca de 14 milhões sequer sabem
ler e escrever (IBGE, 2000). Entre os que se incluem na faixa
etária de 15 a 24 anos de idade, há 11 milhões que possuem
menos de oito anos de estudos e 839 mil não são
alfabetizados. (MEC, 2015)

A reversão desse quadro de exclusão é indispensável para que cessem


os impactos negativos subjetivos da educação sobre os indivíduos,
assegurando-lhes a educação como um pressuposto para o exercício da
cidadania.

Educação do campo
Um dos desafios da educação brasileira consiste em elevar o tempo de
permanência na escola, assim como o número de pessoas alfabetizadas no
interior do país, em regiões camponesas.
Além da discrepância entre o campo e os centros urbanos no que diz
respeito ao acesso à educação, é preciso equilibrar o tempo de permanência
dos alunos camponeses na escola. Por certo, um dos enfrentamentos
necessários reside nos aspectos econômicos e sociais que dificultam ou
impedem os alunos do campo de se inserirem ou permanecerem na escola.
Outro aspecto relevante consiste na melhoria do ensino do campo, de
modo tal que contemple a realidade camponesa ao mesmo tempo que insira,
no processo educacional, novas técnicas e tecnologias, além da capacitação
de profissionais para essa atuação.
Sobre esse tema, o MEC assim pondera:

Faz-se necessário formar profissionais para responder às


especificidades do campo e atender à demanda de educação
básica. Segundo dados do IBGE, em 2006, existiam 31.294
milhões de pessoas vivendo no campo. No que se refere à
escolaridade, enquanto na zona urbana a população de 15
anos ou mais apresenta uma escolaridade média de 7,3 anos,
na zona rural esta média corresponde a 4 anos. Esta situação
requer, além de política de expansão da rede de escolas
públicas que ofertem todas as etapas da educação básica no
campo, a correspondente oferta de trabalho docente com
formação adequada. Desta forma, o Ministério da Educação,
por intermédio da Secretaria de Educação Continuada
Alfabetização e Diversidade, ao considerar as questões
relativas à educação do campo e a situação desigual a que a
população do campo historicamente tem sido submetida,
propõe o desenvolvimento de um curso de formação
continuada para os profissionais com atuação em educação
do campo. (MEC, 2015)

Essas são apenas algumas ações governamentais disciplinadas pela


política nacional de educação.

Educação para as relações étnico-raciais


A estrutura curricular do ensino no Brasil sempre prestigiou a história e
a cultura de matriz europeia por meio do estudo da história e da cultura
ocidental denominada clássica. Essa opção menospreza ou relega a um
segundo plano a história e a cultura de outras sociedades e, no que toca à
cultura africana e indígena, estabelece uma posição de menosprezo.
A contribuição da África e dos indígenas para a formação do povo
brasileiro é inegável e justifica a atual miscigenação da população. Não
obstante, o culto às tradições, história e cultura desses povos não possui o
devido espaço e importância, e isso tem sérias implicações.
A ausência da cultura afro-brasileira, africana e indígena nos
currículos escolares marca seu comprometimento com uma
cultura e ideologia homogeneizadora, que tem historicamente
negado e/ou reprimido os valores e as tradições dos afro-
brasileiros e dos demais grupos discriminados da sociedade
brasileira. É uma engrenagem a serviço da manutenção das
estruturas vigentes, constituindo-se, desse modo, em um
terreno fértil para que os(as) estudantes brancos(as),
negros(as) e indígenas, homens e mulheres, adultos e crianças
reforcem preconceitos e ideologias racistas adquiridos na
escola e em outras instituições socializadoras, como a família.
(MEC, 2015)

Não apenas na esfera educacional, mas também em outras áreas,


verificou-se uma ascensão dos debates voltados para os direitos das minorias
e o seu papel na sociedade. Isso propiciou a adoção de uma série de ações
afirmativas e medidas voltadas para a tutela das minorias em nosso país.
No que toca à educação o MEC assim compreende:

Na última década, o debate sobre a dinâmica das relações


raciais na sociedade brasileira e as ações afirmativas têm se
ampliado na esfera pública. Nesse sentido, o momento atual
mostra-se promissor para redimensionar as ações voltadas à
superação das desigualdades entre negros(as) e brancos(as) e
potencializar um comprometimento manifesto do Estado
brasileiro, que é signatário, desde 1968, de vários tratados e
convenções internacionais voltados para o enfrentamento e a
eliminação da discriminação racial. Os indicadores
educacionais, em particular, expõem com nitidez a intensidade
e o caráter estrutural do padrão de discriminação racial no
Brasil. Ao longo do século XX, observa-se um contínuo
aumento dos níveis de escolaridade média dos brasileiros(as),
no entanto a diferença de escolaridade média entre
brancos(as) e negros(as) se mantem perversamente estável
entre as gerações. (MEC, 2015)

As ações afirmativas justificam-se pela dívida histórica contraída pela


sociedade em razão de diversas práticas que violaram direitos do povo
indígena e africano, assim como de seus descendentes.
Como consequência dos direitos violados e da segregação desse povo,
impediu-se aos seus membros uma ascensão social, verificando-se na
atualidade uma brutal discrepância entre o desenvolvimento social dos negros
e dos não negros.

De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de


Domicílios (IBGE, 2000), a escolaridade média de um jovem
negro com 25 anos de idade gira em torno de 6,1 anos de
estudo; um jovem branco da mesma idade tem cerca de 8,4
anos de estudo. O diferencial é de 2,3 anos. Apesar da
escolaridade de brancos e negros crescer de forma contínua
ao longo do século, a diferença de 2,3 anos de estudo entre
jovens brancos e negros de 25 anos de idade é a mesma
observada entre os pais desses jovens. E, de forma
assustadoramente natural, 2,3 anos de estudo é a diferença
entre os avós desses jovens. No intuito de trabalhar para a
concretização de ações voltadas à superação das
desigualdades entre negros e brancos, a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação (LDB – Lei nº 9.394/96) foi alterada pela
Lei nº 10.639/2003 e Lei nº 9.394/1996 que instituiu como
obrigatórios o ensino da história e cultura da África, dos afro-
brasileiros e dos indígenas, reforçando a função da escola de
promover o respeito e a valorização da diversidade brasileira.
(MEC, 2015)

Todas essas normas exigem do Estado e das instituições de ensino a


previsão de ensino relativo à educação das relações étnico-raciais e para o
ensino de história e cultura afro-brasileira, africana e indígena, como forma de
corrigir as distorções promovidas durante séculos.

Educação ambiental
O art. 225 da Constituição da República prevê que todos têm direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.
Ainda o artigo 225, §1º, inciso VI, determina que uma das formas de
assegurar a efetividade desse direito reside na obrigação do Poder Público de
promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente.
Como consequência, as instâncias governamentais de ensino,
especialmente o Conselho Nacional de Educação, adotaram medidas para
assegurar o cumprimento das determinações constitucionais.
Foi editada pelo CNE a Resolução nº 2, de 15 de junho de 2012, que
estabelece as diretrizes curriculares nacionais para a educação ambiental e
assim dispõe:

Art. 1º A presente Resolução estabelece as Diretrizes


Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental a serem
observadas pelos sistemas de ensino e suas instituições de
Educação Básica e de Educação Superior, orientando a
implementação do determinado pela Constituição Federal e
pela Lei nº 9.795, de 1999, a qual dispõe sobre a Educação
Ambiental (EA) e institui a Política Nacional de Educação
Ambiental (PNEA), com os seguintes objetivos:
I - sistematizar os preceitos definidos na citada Lei, bem como
os avanços que ocorreram na área para que contribuam com a
formação humana de sujeitos concretos que vivem em
determinado meio ambiente, contexto histórico e sociocultural,
com suas condições físicas, emocionais, intelectuais,
culturais;
II - estimular a reflexão crítica e propositiva da inserção da
Educação Ambiental na formulação, execução e avaliação dos
projetos institucionais e pedagógicos das instituições de
ensino, para que a concepção de Educação Ambiental como
integrante do currículo supere a mera distribuição do tema
pelos demais componentes;
III - orientar os cursos de formação de docentes para a
Educação Básica;
IV - orientar os sistemas educativos dos diferentes entes
federados (MEC, 2012).
Os objetivos dessa norma consistem em formar um cidadão crítico,
reflexivo e atuante local, mas com visão global em matéria ambiental. Esse é o
papel fundamental da educação em todos os níveis.
Essas são, portanto, as principais práticas no que toca à educação para
a diversidade e o papel do direito nesse aspecto.

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