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s í s i f o / r e v i s t a d e c i ê n c i a s d a e d u c a ç ã o · n .

º   5 · j a n / a b r 0 8 issn 1646‑4990

Conferências
Educação do Campo e Pedagogia da Alternância.
A experiência brasileira
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação
da Universidade de Lisboa, 17 de Maio de 2007

Lourdes Helena da Silva

Introdução A realidade da educação


no meio rural brasileiro
Boa tarde! Quero inicialmente agradecer à Unidade de
I&D de Ciências da Educação desta Faculdade, na pes‑ No Brasil, apesar de uma década de considerável me‑
soa do seu coordenador, o Prof. Rui Canário, pelo con‑ lhoria no tocante ao acesso à escolarização, em que 96%
vite para integrar este Ciclo de Conferências. Sinto­‑me das crianças de 7 a 14 anos estão matriculadas, ainda
extremamente honrada pela oportunidade de compar‑ permanecem os problemas da baixa qualidade e eficiên‑
tilhar com vocês algumas de nossas reflexões e análises cia dos sistemas de ensino. Nesta perspectiva, uma das
sobre a realidade educacional brasileira, especifica‑ restrições para o alcance da universalização com quali‑
mente sobre um movimento educativo que, nos últimos dade e o aumento dos índices de conclusão do ensino
anos, tem construído um outro paradigma de educação fundamental encontra­‑se relacionada à efetividade da
e de escola no meio rural em nossa sociedade. É nessa educação presente no meio rural brasileiro (Bof, 2006).
perspectiva que buscarei desenvolver minha exposição É no meio rural que encontramos os mais baixos índices
em torno de três idéias centrais: Primeira, o campo, no de escolaridade de toda sociedade brasileira. Um meio
Brasil, está em movimento. Há tensões, lutas sociais, or‑ rural que, segundo os dados divulgados pela Fundação
ganizações e movimentos de trabalhadores da terra que Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
estão mudando o jeito da sociedade olhar para o campo tem uma população residente de aproximadamente 32
e os seus sujeitos. Segunda, nesta dinâmica social, neste milhões de brasileiros. Ou seja, que apesar da intensa
movimento, que também é um movimento sociocultu‑ urbanização ocorrida nas últimas décadas, cerca de um
ral de humanização das pessoas que dele participa, vem quinto da população do nosso país encontra­‑se vivendo
sendo produzido um projeto educativo original e inova‑ no meio rural.
dor que, em suas diferentes iniciativas, tem gestado no‑ Todavia, o nível de instrução e o acesso à educação
vas práticas de escola. Terceira, os Centros Familiares dessa população são importantes indicadores da reali‑
de Formação por Alternância constituem uma dessas dade educacional presente no meio rural do Brasil. Os
iniciativas que, apesar das contradições e limites, têm dados do IBGE, sistematizados no trabalho intitulado
buscado conferir outros significados à função pedagó‑ Panorama da Educação do Campo (Bof, 2006), mostram
gica, política e social da escola do campo. O percurso que a escolaridade média da população de 15 anos ou
escolhido para o desenvolvimento dessas idéias tem mais que vive no meio rural brasileiro, de 3,4 anos, cor‑
como ponto de partida uma apresentação panorâmica responde à quase metade da estimada para a população
da educação no meio rural brasileiro. Em seguida, re‑ urbana, que é de 7,0 anos. Se os índices de analfabetis‑
alizamos uma breve caracterização do movimento “Por mo do Brasil são bastante elevados, no meio rural esses
uma educação do campo” para, no contexto deste mo‑ indicadores são ainda mais preocupantes. Segundo o
vimento, destacarmos os Centros Familiares de Forma‑ IBGE, 29,8% da população adulta — 15 anos ou mais —,
ção por Alternância, analisando algumas concepções e que vive no meio rural é analfabeta, enquanto no meio
práticas educativas que vêm sendo construídas em seu urbano essa taxa é de 10,3%. É importante ressaltar que
interior, de maneira a identificar os avanços e desafios a taxa de analfabetismo aqui considerada não inclui os
enfrentados na consolidação de uma escola do campo. analfabetos funcionais, ou seja, aquela população com

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menos de quatro séries do ensino fundamental. Outros progresso no sentido de estabelecer políticas e práti‑
dados revelam, ainda, que no meio rural brasileiro, 6% cas efetivas para a educação no meio rural brasileiro.
das crianças, de 7 a 14 anos, encontram­‑se fora dos ban‑ Somente recentemente, em abril de 2002, o Conselho
cos escolares; que apesar de 65,3% dos jovens, de 15 a Nacional de Educação, estabeleceu as Diretrizes Ope‑
18 anos, estarem matriculados, 85% deles apresentam racionais para a Educação Básica nas Escolas do Cam‑
defasagem de idade­‑série, o que indica que eles ainda po. Do mesmo modo, só recentemente o Conselho de
permanecem no ensino fundamental; que somente 2% Secretários Estaduais de Educação incluiu a educação
dos jovens que moram no campo freqüentam o ensino rural em sua agenda, assim como também é recente a
médio. criação, em 2004, pelo Ministério da Educação, de uma
Esses são alguns dos indicadores que demonstram Coordenação Geral de Educação Básica do Campo, no
a histórica negação à população que vive no meio rural âmbito da Secretaria de Educação Continuada, Alfabe‑
brasileiro do direito de acesso e de permanência na es‑ tização e Diversidade.
cola. Eles resultam de um processo econômico, social, Na origem dessas iniciativas governamentais, iné‑
cultural e de políticas educacionais traçados em nosso ditas na sociedade brasileira, é possível identificar di‑
país, que deixou como herança um quadro de precarie‑ versas articulações e mobilizações da população rural
dade no funcionamento da escola rural em relação aos que, através de suas organizações e movimentos sociais,
elementos humanos disponíveis para o trabalho peda‑ têm buscado reagir ao processo de exclusão social, rei‑
gógico, a infra­‑estrutura e os espaços físicos inadequa‑ vindicando novas políticas públicas que garantam não
dos, a má distribuição geográfica das escolas, a falta de apenas o acesso à educação, mas, fundamentalmente, a
condições de trabalho e de formação específica para construção de uma escola e de uma educação do campo.
uma atuação no meio rural, entre outros fatores. Além E aqui, torna­‑se necessário ressaltar que, muito mais
dessas questões de escassez, infra­‑estrutura e pessoal, que uma simples mudança de nomenclatura — rural
favorece extremamente esse quadro sócio­‑educacional para campo —, a expressão educação do campo cons‑
existente o tipo de educação oferecida pelas escolas à tituiu um dos traços marcantes da identidade de um
população rural. Uma educação em que predomina movimento nacional que vem se consolidando na luta
uma concepção unilateral da relação cidade­‑campo, por políticas públicas que garantam o direito da popu‑
com a difusão de valores, conhecimentos e atitudes dis‑ lação rural a uma educação que seja no e do campo. É
tantes do modo de vida e da cultura da população do um movimento que, conforme destaca Caldart (2004),
meio rural e que tem sido muito mais um instrumento mais que o direito da população ser educada no lugar
de estímulo ao êxodo e à evasão de muitos jovens para o onde vive, defende o direito a uma educação pensada
meio urbano. Uma educação e uma escola que, desres‑ desde o seu lugar e com sua participação, vinculada à
peitando a realidade onde está inserida, destrói a auto­ sua cultura e às suas necessidades humanas e sociais. É,
‑estima dos camponeses e não se coloca ao serviço de portanto, um olhar para a educação do campo como di‑
seu crescimento. reito. Direito universal, humano e social. Mas que apre‑
Aliás, essa é uma tendência que tem se agravado nos senta, também, um outro desdobramento importante:
últimos anos com a política educacional vigente, deno‑ pensar uma política de educação que se preocupe, tam‑
minada nucleação, que, sob alegação de que as escolas bém, com o jeito de educar quem é sujeito desse direito,
rurais são mais onerosas, têm estimulado as crianças e de modo a construir uma qualidade de educação que
os jovens a realizarem os estudos no meio urbano. Sur‑ forme as pessoas como sujeitos de direito.
gem daí iniciativas de muitas prefeituras municipais E quem são esses sujeitos da educação do campo?
que, visando reduzir os custos, deslocam os alunos para São aqueles que, não obstante terem sido excluídos e
os centros urbanos, em trajetos de muitas horas de via‑ marginados pelo processo de modernização da agri‑
gem e em condições e estradas precárias. E, para acirrar cultura brasileira, ao contrário da estratégia de êxodo,
ainda mais essa situação, nas escolas do meio urbano se aliaram numa resistência no e do campo. Ou seja:
os alunos são colocados ou em salas distintas, “sala da sujeitos que lutam para continuar sendo agricultores
roça”, reforçando assim a dicotomia rural­‑urbana; e apesar de um modelo de agricultura cada vez mais
quando colocados em uma mesma sala, onde são con‑ excludente; sujeitos da luta pela terra e pela Reforma
siderados atrasados pelos colegas do meio urbano, pas‑ Agrária; sujeitos da luta por melhores condições de
sam a assumir valores diferentes dos seus para serem trabalho no campo; sujeitos da resistência na terra dos
considerados modernos (Silva, 2003). quilombos e pela identidade própria desta herança;
Embora a Lei de Diretrizes e Bases Nacional, de sujeitos da luta pelo direito de continuar a ser indíge‑
1996, estabeleça que na oferta da educação básica para na e brasileiro, em terras demarcadas e em identida‑
a população rural, os sistemas promovam as adapta‑ des e direitos sociais respeitados; e sujeitos de tantas
ções necessárias à sua adequação às peculiaridades da outras resistências culturais, políticas, pedagógicas…
vida rural e de cada região, os governos fizeram pouco A educação do campo, portanto, é um movimento

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que, na afirmação e diálogo dos seus diferentes sujei‑ educativa fundamental e pode ser um espaço efetivo de
tos, busca vincular a luta por educação com o conjunto fazer acontecer o projeto da educação do campo.
de lutas pela transformação das condições sociais de É nesse contexto que, nos últimos anos, têm surgi‑
vida no campo, marcadas por uma realidade de vio‑ do diferentes experiências educacionais no meio rural
lenta desumanização. Vincular a luta por educação às brasileiro. São experiências que, na maioria dos casos,
lutas sociais tem como pressuposto básico de que não surgem por iniciativa da própria população, através de
há como educar verdadeiramente os sujeitos do campo suas organizações e movimentos sociais, a partir de
sem transformar as condições atuais de sua desumani‑ alianças com Partidos Políticos, Igreja, Universidades
zação, assim como a compreensão de que é na própria e Organizações Não­‑Governamentais, na busca de afir‑
luta por estas transformações que o processo de huma‑ mar princípios, concepções e práticas de uma educação
nização é retomado (Caldart, 2004). e de uma escola do campo. Exemplos dessas iniciativas
Nesta perspectiva, cabe destacar que a expressão são, entre outras, a luta do Movimento dos Sem Terra
educação do campo também identifica uma reflexão pelas Escolas de Assentamento, Escolas de Acampa‑
pedagógica que reconhece o meio rural como lugar mento e Escolas Itinerantes; a preocupação do Movi‑
onde não apenas se reproduz, mas também se produz mento dos Atingidos por Barragens com as escolas dos
pedagogia. Uma reflexão que desenha os traços de reassentamentos; as experiências educativas do Serviço
um projeto de educação ou de formação dos sujeitos de Tecnologia Alternativa e do Movimento de Organi‑
do campo que, na definição de Caldart, integrante da zação Comunitária; a luta dos indígenas e dos povos da
articulação nacional do movimento, “É um projeto de floresta por uma escola vinculada à sua cultura, assim
educação que reafirma, como grande finalidade da ação como as experiências dos Centros Familiares de For‑
educativa, ajudar no desenvolvimento mais pleno do mação por Alternância, que passam, então, a ser foco
ser humano, na sua humanização e inserção crítica na de nossa exposição.
dinâmica da sociedade que faz parte; que compreende
que os sujeitos se humanizam ou se desumanizam sob
condições materiais e relações sociais determinadas; Os Centros Familiares de Formação
que nos mesmos processos em que produzimos nossa por Alternância no Brasil
existência nos produzimos como seres humanos; que as
práticas sociais e, entre elas, especialmente as relações As primeiras experiências de formação por alternância
de trabalho conformam (formam ou deformam) os su‑ foram criadas, no Brasil, no final dos anos 60, no estado
jeitos” (Caldart, 2004, pp. 154­‑155). do Espírito Santo, região do sudeste brasileiro, com a
Trata­‑se, assim, de um projeto educativo que reafir‑ denominação de Escolas Família Agrícola (EFAs). Pos‑
ma e dialoga com diferentes pedagogias: com a Pedago‑ teriormente, nos anos 80, no estado de Alagoas, região
gia do Oprimido, no princípio de que são os oprimidos do nordeste brasileiro, sem nenhuma vinculação com
os sujeitos de sua própria educação e libertação, assim o movimento das EFAs, foram criadas as Casas Fami‑
como na defesa da cultura como matriz de formação do liares Rurais (CFRs). Atualmente existe, em nossa so‑
ser humano; com a Pedagogia do Movimento, na com‑ ciedade, a presença de oito diferentes Centros de For‑
preensão da dimensão fortemente educativa de parti‑ mação por Alternância que, no conjunto, somam mais
cipação das pessoas nos movimentos de lutas sociais e de 250 experiências educativas no território nacional.
no movimento da história; e com a Pedagogia da Terra, No conjunto dessas experiências, as Escolas Famí‑
que compreende que há uma dimensão educativa na re‑ lia Agrícola e as Casas Familiares Rurais destacam­‑se
lação do ser humano com a terra: terra do cultivo da como os Centros mais antigos e mais expressivos que,
vida, terra de luta, terra ambiente, planeta. diretamente, influenciaram a implantação dos outros.
Em suas concepções e princípios, é possível identifi‑ Assim, na atualidade, temos a presença das Escolas Co‑
car que a perspectiva de educação que tem sido assumi‑ munitárias Rurais e das Escolas de Assentamentos, no
da pelo movimento de educação do campo não cabe em Estado do Espírito Santo, bem como das Escolas Téc‑
uma escola. É uma perspectiva muito mais ampla, em nicas Estaduais, no Estado de São Paulo, que tiveram
que a educação não se reduz apenas à dimensão escolar. uma forte influencia e assumiram muitas características
Todavia, a luta pela escola tem sido um dos seus traços das Escolas Família; já o Programa de Formação Jovens
marcantes. Isto porque existe o entendimento de que a Empresários Rurais, no Estado de São Paulo, as Casas
negação do direito à escola é um exemplo emblemático das Famílias Rurais, nos Estados da Bahia e Pernam‑
do projeto educacional que foi imposto ao campo e de buco, e o Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural,
que o tipo de escola que está no meio rural tem sido nos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande
um dos componentes da dominação e degradação das do Sul, se espelharam nas Casas Familiares para a sua
condições de vida dos sujeitos do campo. Além disto, implantação. Em 2005, por ocasião do VIII Encontro
existe a compreensão de que a escola tem uma tarefa Internacional da Pedagogia da Alternância, teve início

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uma articulação do conjunto dessas experiências de for‑ (denominação dos profissionais da educação) — envol‑
mação por alternância que culminou com a constituição vidos no processo de formação. A análise dessas repre‑
de uma rede nacional. Surgiu daí a denominação CE‑ sentações sociais nos colocou frente a uma diversidade
FFAs (Centros Familiares de Formação por Alternân‑ de percepções, significados e imagens que refletem as
cia), que iremos aqui utilizar (Silva & Queiróz, 2006). diferenças de contexto sócio­‑econômico, de cultura e de
A despeito das suas especificidades, diferenças e di‑ valores dos participantes da formação. Elas revelaram,
vergências, os CEFFAs têm na pedagogia da alternância também, a heterogeneidade de formas da agricultura fa‑
o princípio fundamental e norteador de seus projetos miliar em nossa sociedade que, engendrando processos
educativos. Tal princípio implica em um processo de de trabalhos, modos de vida e culturas específicas, for‑
formação que combina e articula períodos de vivência jam diferentes representações de escola, de alternância,
no meio escolar e no meio familiar. Alterna­‑se, assim, a dos papéis e das interações dos atores envolvidos, con‑
formação agrícola na propriedade com a formação teóri‑ dicionando assim a presença de modalidades distintas
ca geral na escola que, além das disciplinas básicas, en‑ de relação escola­‑família nas experiências de alternân‑
globa uma preparação para a vida associativa e comuni‑ cia analisadas. Com o propósito de apresentar alguns
tária. Na articulação entre os dois tempos e espaços da traços da dinâmica educativa dos Centros de Formação
formação, são utilizadas diversas estratégias pedagógi‑ por Alternância no Brasil, destacarei, no conjunto das
cas, denominadas Instrumentos Pedagógicos da Alter‑ representações sociais analisadas, a representação de
nância, como: Plano de Estudo; Caderno da Realidade; alternância. Além de ser um elemento central, ela ex‑
Colocação em comum; Visitas de Estudos; Intervenção plicita bem essas diferenças de percepções e significa‑
Externa; Caderno Didático; Visitas às famílias; Projeto dos presentes no universo simbólico das experiências
Profissional do Jovem; Estágios (Silva, 2003). de formação por alternância. Sob lógicas distintas, a
A ênfase na formação integral do jovem, a participa‑ sucessão de seqüências no meio familiar e no meio es‑
ção das famílias na condução do projeto educativo e na colar, base do processo de formação em alternância, é
gestão da escola, assim como a perspectiva de desenvol‑ percebida evidenciando uma dupla finalidade: de alter‑
vimento do meio são os outros princípios que, articula‑ nativa de escolarização no meio rural e de qualificação
dos à alternância, sustentam o projeto pedagógico dos profissional para os jovens agricultores.
CEFFAs, principalmente no âmbito das Escolas Famí‑
lia Agrícola e das Casas Familiares Rurais.
A alternância, enquanto princípio pedagógico, mais As diferentes lógicas e finalidades
que característica de sucessões repetidas de seqüências, de Alternância
visa desenvolver na formação dos jovens situações em
que o mundo escolar se posiciona em interação com o A representação da alternância como estratégia de es‑
mundo que o rodeia. Buscando articular universos con‑ colarização emerge no universo das Escolas Família
siderados opostos ou insuficientemente interpenetra‑ Agrícola, ancorada nas vivências e percepções do pro‑
dos — o mundo da escola e o mundo da vida, a teoria e cesso de exclusão e de desigualdades vivenciadas pelos
a prática, o abstrato e o concreto — a alternância coloca agricultores familiares em nossa sociedade, sobretudo
em relação diferentes parceiros com identidades, pre‑ na sua dimensão sócio­‑educacional. A dinâmica de su‑
ocupações e lógicas também diferentes: de um lado, a cessão do aluno no meio escolar e no meio familiar é
escola e a lógica da transmissão de saberes e, de outro, compreendida, assim, numa lógica de uma adequação
na especificidade dos CEFFAs brasileiros, a família e a da escola e da educação às condições de vida e de traba‑
lógica da agricultura familiar. Assim, ao apresentar uma lho da população rural. A idéia de alternância assume,
nova dinâmica de interação entre os sujeitos do projeto nesse contexto, um sentido de estratégia de escolariza‑
educativo, a formação em alternância traz em seu bojo ção que possibilita aos jovens que vivem no campo con‑
uma problemática complexa em termos de relações jugar a formação escolar com as atividades e as tarefas
construídas entre o meio escolar e o meio familiar. na unidade produtiva familiar, sem desvincular­‑se da
Foi justamente esta perspectiva, das relações cons‑ família e da cultura do campo.
truídas entre meio escolar e meio familiar, no contexto Nas raízes desse significado de alternância, é pos‑
das Escolas Família Agrícola e das Casas Familiares sivel identificar tanto a expressão do abandono da
Rurais do ensino fundamental, que privilegiamos em educação no meio rural brasileiro que, conforme apre‑
um de nossos primeiros estudos sobre a Pedagogia da sentado anteriormente, é marcada pela insuficência de
Alternância no Brasil (Silva, 2000). Realizado no cam‑ escolas, condições precárias de infra­‑estrutura, profes‑
po da psicologia da educação, nossa investigação teve sores sem qualificação, currículos inadequados, etc.,
como objetivo analisar a relação escola e família nessas etc.; quanto a denúncia de uma escola que tem sido um
experiências educativas, a partir das representações so‑ forte instrumento de estímulo ao êxodo e à evasão de
ciais dos diferentes sujeitos — pais, alunos e monitores muitos jovens para o meio urbano. É todo um conjunto

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de preconceitos, dificuldades e exclusões diversas que estratégia de agilizar as potencialidades produtivas da
perpassa a compreensão e, sobretudo, a valorização da agricultura familiar, minimizando sua dependência de
alternância pelos sujeitos das Escolas Família Agríco‑ fatores externos.
la como uma alternativa de escolarização para o meio É justamente nessa perspectiva, de qualificação
rural, que possibilita ao aluno ter acesso à escola e, ao técnica dos jovens agricultores familiares, que emer‑
mesmo tempo, permanecer junto à família, à sua cultu‑ gem as representações de alternância no universo das
ra e às atividades produtivas. Casas Familiares Rurais. Inseridas, na sua maioria,
Articulada a essa lógica explicativa, e sustentada no contexto da agricultura integrada, elas compar‑
nas relações que vêm sendo construídas entre escola e tilham os desafios e os conflitos vivenciados pelos
família, identificamos traços de uma prática de alternân‑ agricultores que, de um lado, são pressionados para a
cia que, na especificidade das Escolas Família Agrícola necessidade de modernização e melhoria na eficiência
analisadas, se caracteriza pela sucessão no tempo e no produtiva para enfrentar a agricultura subsidiada dos
espaço de períodos consagrados a atividades diferentes países desenvolvidos e, de outro, enfrentam as limi‑
e distintas, ou seja, o trabalho na família e o estudo na tações e inadequação dos instrumentos disponíveis,
escola. É uma modalidade de alternância que associa como créditos agrícolas, tecnologias inapropriadas,
muito pouco os aspectos e as vivências das atividades etc., etc. Desse conflito, começa a emergir uma lógica
realizadas pelo aluno no meio familiar ao programa de que concebe a superação dessas dificuldades não mais
formação escolar, caracterizando, assim, muito mais apenas pelo acesso a subsídios financeiros. A utiliza‑
por uma justaposição de diferentes atividades. Mesmo ção de tecnologias apropriadas e a capacitação técnica
existindo por parte da escola uma intenção de organizar dos agricultores começam a ser considerados caminho
e associar no processo de formação os conteúdos e as vi‑ que, em conjunto, contribuem para a superação das
vências realizadas pelo aluno no meio familiar, esse pro‑ dificuldades que têm restringido o desenvolvimento
pósito revela­‑se pouco consistente, na medida em que da agricultura familiar integrada.
as famílias não percebem essa finalidade da alternância, É, portanto, nessa perspectiva de profissionalização
além de estarem despreparadas para uma inserção mais do jovem para uma atuação mais qualificada na agricul‑
qualificada na dinâmica pedagógica. Acrescente­‑se, tura, que a formação ministrada pelas Casas Familiares
ainda, que além das limitações dos instrumentos pe‑ Rurais é percebida e valorizada pelos seus sujeitos. A
dagógicos utilizados, a ausência de uma inserção sis‑ sucessão de seqüências entre o meio familiar e o meio
temática tanto dos monitores no acompanhamento dos escolar é compreendida sob a lógica de uma conjugação
jovens no meio familiar, quanto das famílias na condu‑ da formação teórica com a formação prática. Nessa con‑
ção do projeto pedagógico no meio escolar, constituem, jugação, enquanto o meio escolar proporciona o conhe‑
entre outros, fatores limitantes da interação entre escola cimento técnico­‑científico, o meio familiar viabiliza sua
e família no processo de formação. aplicação prática nas condições reais e específicas de
A despeito dessas fragilidades e limitações presentes cada unidade familiar produtiva. Emergem, nessa re‑
no contexto das Escolas Família, a alternância é extre‑ presentação de alternância, a face de um dos segmentos
mamente valorizada pela possibilidade de permanência da agricultura familiar mais modernizado e que, inte‑
do jovem no meio familiar. Os argumentos construídos grado a empresas agroindustriais, tem sua permanência
destacam a importância da mão­‑de­‑obra dos membros e sobrevivência condicionada ao aumento da produção
da família como motor da organização do processo de e da produtividade da unidade familiar produtiva, o
trabalho na agricultura familiar. E aqui cabe destacar que implica a necessidade de maior emprego da força
que é essa utilização predominantemente de mão­‑de­ de trabalho familiar e de maior tecnificação da proprie‑
‑obra familiar nas atividades produtivas que constitui dade rural.
o elo de união entre os diferentes segmentos que com‑ Articulada a essa lógica explicativa, e sustentada
põem a agricultura familiar no Brasil: trabalhadores ru‑ nas relações que vêm sendo construídas entre escola e
rais, pequenos proprietários, integrados, arrendatários, família, identificamos traços de uma modalidade de al‑
meeiros, posseiros, entre outros, constituem as diferen‑ ternância que, na especificidade das Casas Familiares
tes formas de inserção da agricultura familiar na estru‑ Rurais analisadas, se caracteriza pela associação, na su‑
tura agrária e no processo de produção agropecuário. cessão das sequências de formação, do ensino teórico
São diferentes segmentos que, conforme destacado an‑ ministrado na escola a um complemento prático realiza‑
teriormente, têm resistido no campo e reagido às adver‑ do na família, na propriedade. É um modelo que, ao esta‑
sidades históricas através de inúmeras lutas sociais. No belecer laços de complementaridade entre as atividades
contexto dessas lutas, que revelam também a presença de formação realizadas no meio escolar e no meio fami‑
de uma nova lógica de desenvolvimento do campo, têm liar, condiciona um tipo de alternância em que teoria e
emergido reivindicações por programas e investimen‑ prática, escola e família, apesar de não serem totalmente
tos na qualificação profissional dos agricultores, como integradas, encontram­‑se mais próximas uma da outra.

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A existência de uma percepção comum dos sujeitos Centros de Formação por Alternância, os participantes
sobre a finalidade da alternância, assim como uma mel‑ destacam como valores do internato a possibilidade
hor compreensão das famílias sobre a dinâmica da for‑ do aluno realizar suas atividades escolares de maneira
mação, favorecem o estabelecimento de uma relação de mais intensa — na medida em que se encontra libera‑
colaboração das famílias com a escola no processo de do de suas ocupações na agricultura familiar — além
formação. A presença freqüente dos monitores no meio da oportunidade de convivência e aprendizado da vida
familiar constitui, nesse processo, um dos fatores essen‑ em coletividade realizado pelo jovem no meio escolar.
ciais que viabiliza uma maior aproximação e interação Aliás, a aprendizagem da vida em grupo é um elemen‑
entre os atores, consolidando as bases da cooperação to de valorização das experiências de alternância pelos
entre escola­‑família no processo de formação. Toda‑ seus sujeitos, que consideram a descoberta pelo aluno
via, ainda é uma cooperação predominantemente sob o das regras elementares de convivência e o desempenho
controle do meio escolar, em que ocorre o predomínio das diversas tarefas exigidas na manutenção do inter‑
do papel e do saber do monitor. Acrescente­‑se, ainda, nato (limpeza dos quartos, salas, auxílio nas atividades
a ausência de inserção mais sistemática e efetiva do co‑ do refeitório, etc., etc.) como situações educativas que
letivo das famílias na condução do projeto pedagógico favorecem o desenvolvimento da responsabilidade do
como mais um dos fatores limitantes de uma interação jovem. Além disso, como são atividades e tarefas reali‑
mais efetiva entre escola e família no processo de for‑ zadas em equipes, elas favorecem também o estabeleci‑
mação. mento de um clima de serviço e de solidariedade entre
Todavia, apesar de lógicas, finalidades e práticas de os participantes da dinâmica escolar. Nesse sentido, as
alternância diferentes, as representações do conjunto tarefas executadas, assim como as vivências em sala de
dos sujeitos participantes, tanto das Escolas Família aula, os momentos das refeições, dos jogos, das ativida‑
quanto das Casas Familiares, revelam um aspecto co‑ des de lazer e recreação são consideradas situações que
mum e central: a valorização dessas experiências en‑ contribuem para favorecer momentos e modalidades
quanto uma escola e uma educação diferenciada que, diferentes de encontros e interações dos alunos entre si
enraizada na cultura do campo, tem contemplado, no e dos alunos com os monitores. São situações que, dife‑
processo de formação, os valores, concepções e modos rentes do contexto das escolas tradicionais, estimulam
de vida desses agricultores familiares. Nos argumentos e favorecem o diálogo, um clima de amizade e confian‑
e lógicas que ancoram essa representação, a vivência do ça, ampliando as relações entre os alunos e monitores e
aluno no sistema de internato, a atuação do monitor, o contribuindo para a criação de um ambiente educativo
ambiente educativo e a aproximação do meio escolar favorável no cotidiano escolar das experiências de al‑
com o meio familiar são, entre outros, aspectos avalia‑ ternância.
dos como originais e potencializadores na construção Na organização e condução de toda essa dinâmica
de uma escola diferenciada. educativa, cabe destacar a natureza do papel poliva‑
lente desempenhado pelos monitores. É justamente
esta responsabilidade educativa dos monitores, de
A dinâmica da Formação em orientação e acompanhamento dos alunos — no meio
Alternância: novos papéis, escolar e no meio familiar; que exige uma atuação em
novas práticas diversos planos e em várias funções que, na avaliação
dos sujeitos, constitui um dos traços fundamentais da
A vivência dos alunos em internato constitui um ele‑ identidade dos monitores, diferenciando seu papel em
mento comum e original no interior das experiências relação ao professor tradicional. Nessa compreensão,
analisadas. Enquanto princípio da pedagogia da alter‑ a verdadeira competência do monitor não é percebida
nância, a vivência do aluno no sistema de internato, du‑ como resultante apenas de uma soma de saberes aca‑
rante a semana ou a quinzena em que ele fica no meio dêmicos ou de especializações técnicas, mas, sobretu‑
escolar, tem como pressuposto que a vida tem o valor de do, de uma postura na mediação pedagógica e de uma
educação, de reflexão, de formação. Ou seja, a ruptura, polivalência sobre planos e atividades diversas. Assim,
o distanciamento do meio de vida constitui uma estra‑ sobretudo nas interações decorrentes do cotidiano de
tégia educativa para propiciar aos jovens uma melhor vida no internato, mais que um educador, mais que um
percepção e, conseqüentemente, uma reflexão sobre a professor, a figura do monitor é percebida pelas suas
sua realidade, estimulando uma nova visão do contex‑ aptidões de animação e de disponibilidade de relações
to familiar, da propriedade e das questões cotidianas com os alunos. E aqui cabe destacar que, tanto nas Es‑
presentes no seu meio sócio­‑econômico, que passam colas Família quanto nas Casas Familiares, observa­‑se
assim a se constituir em objetos da formação e de seus a existência de um ambiente educativo extremamente
projetos de intervenção (Rouillier,1980). Além disto, na positivo, em que as interações ocorrem em um clima
percepção dessa estrutura educativa característica dos de amizade, alegria e descontração. As atividades de

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grupo, as experiências extra­‑sala de aula, a convivên‑ predominantemente sob o controle do meio escolar.
cia intensa constituem, inegavelmente, fatores facilita‑ Se considerarmos, conforme ressalta Chartier (1986),
dores de uma maior interação entre monitores e alunos que uma verdadeira alternância se efetiva na estreita
que estimulam a construção de relações educativas articulação entre os meios envolvidos na formação,
mais afetivas e pessoais. numa perspectiva de mão dupla, relacionando seus
Acrescente­‑se, ainda, que além das atividades no conteúdos, complementando­‑os e enriquecendo­‑os
meio escolar, que envolvem o acompanhamento dos reciprocamente, temos aqui um dos desafios comuns
jovens, a atividade docente, o trabalho em equipe, às experiências analisadas: a implementação de uma
entre outros, a atuação sistemática dos monitores no verdadeira alternância, ou seja, de uma alternância in‑
meio familiar contribui para ancorar, sobretudo no tegrativa.
contexto das Casas Familiares Rurais, essa repre‑
sentação sobre uma atuação polivalente do monitor.
A presença dos monitores no cotidiano das famílias Desafios e perspectivas
também é percebida e extremamente valorizada como dos CEFFAs brasileiros
fator de sustentação e apoio aos alunos na execução
de seus projetos técnicos na propriedade, além de ser Se numa formação tradicional a condução do processo
considerada como oportunidade de uma maior apro‑ educativo pertence prioritariamente à escola, essa con‑
ximação e estreitamento dos laços entre as famílias e a cepção não é mais adequada quando se busca uma al‑
escola. Essa interação, por sua vez, favorece um maior ternância integrativa, em que a sucessão família­‑escola
envolvimento das famílias no processo de formação, deve constituir a base de todo o processo educativo.
de maneira a participarem da definição e avaliação Nesta perspectiva, torna­‑se imprescindível a inclusão
dos conteúdos de interesse e necessários ao desen‑ efetiva de todos os envolvidos no processo educativo
volvimento da propriedade e da realidade local. Favo‑ como co­‑produtores da formação, evitando, assim, no
rece, ainda, o reconhecimento e a valorização, pelos melhor estilo da pedagogia tradicional, que as famílias
monitores, do saber­‑fazer e das experiências de vida se tornem meramente espaços de socialização e/ou im‑
dos agricultores, além de ser um fator determinante na plementação de conteúdos escolares. De contrário, a
melhor compreensão e inserção das famílias na dinâ‑ alternância corre o sério risco de se tornar apenas uma
mica da formação por alternância. outra receita pedagógica e uma outra forma de autori‑
Este acompanhamento do aluno e de suas ativida‑ tarismo, que não é capaz de apreender o processo pe‑
des no meio familiar é considerado pelos defensores dagógico na sua totalidade. A inclusão efetiva de todos
da pedagogia da alternância (Bachelard, 1994; Gimo‑ os envolvidos na formação pressupõe, por sua vez, a
net, 1985; Malglaive, 1992) como sendo a etapa mais construção de novas relações entre a escola e a família
importante no processo da formação em alternância. na implementação de uma verdadeira parceria. A noção
Existe um consenso entre eles de que essa inserção de parceria aqui assume o sentido apresentado por Clé‑
dos monitores no meio familiar constitui um meio net e Gérard (1994), cuja idéia central é de partilha do
por excelência de estabelecer uma melhor articulação poder da formação, numa dinâmica de complementari‑
entre os dois momentos da formação, na medida em dade das diferenças, em que cada sujeito — agricultor,
que a exploração das vivências e práticas do aluno no monitor, estudantes — tem o seu lugar nas condições,
meio familiar possibilita uma adequação e planeja‑ funções e poder que lhe são próprios.
mento das atividades e conteúdos a serem desenvol‑ Nessa construção de novas relações, orientadas para
vidos no meio escolar. Nesse sentido, o acompanha‑ a socialização do poder da formação e numa dinâmica
mento aos alunos no meio familiar, o conhecimento de complementaridade das diferenças, cabe destacar
de suas condições de vida e de trabalho, a percepção o potencial da Associação existente em cada CEFFA.
de suas dificuldades e potencialidades são fatores que Associação e participação das famílias são componen‑
favorecem aos monitores a construção de uma didá‑ tes indissociáveis e fundamentais na expressão das re‑
tica que tenha realmente suas raízes na realidade. alidades, necessidades e desafios presentes no contexto
Todavia, essa inserção dos monitores no contexto sócio­‑econômico, cultural e político da escola, e na ar‑
de vida dos alunos tem revelado algumas fragilida‑ ticulação com as organizações, entidades e movimentos
des, ou seja, enquanto nas Escolas Família existem presentes na realidade local, orientados para a constru‑
dificuldades que limitam a presença sistemática dos ção de um projeto não apenas do futuro dos alunos, mas
monitores no meio familiar, comprometendo assim o também da localidade, da região. É por esta razão que
próprio princípio da alternância, nas Casas Familia‑ Gimonet (1985) considera que uma verdadeira alter‑
res essa inserção tem consolidado as bases da coope‑ nância não sobrevive sem uma abertura da escola para
ração entre escola e família no processo de formação. o mundo exterior, orientada pela busca permamente
Todavia, numa dinâmica de cooperação que ainda é de incorporar e reconstruir no processo de formação

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dos alunos os conhecimentos historicamente criados Referências bibliográficas
e recriados nas lutas e vivências das famílias, de suas
organizações e seus movimentos. É nessa articulação Bachelard, P. (1994). Apprentissage et pratiques
entre escola, famílias e contexto sócio­‑político que en‑ d’alternance. Paris: L’Harmattan.
contramos a essência de uma alternância integrativa. Bof, A. M. (org.) (2006). Panorama da Educação do
Além disto, essa combinação do projeto de formação Campo. Brasília: INEP/MEC.
com a realidade das lutas e movimentos sociais é que Caldart, R. S. (2004). Por uma Educação do Campo:
fornece sustentação tanto ao princípio da alternância traços de uma identidade em construção��. In M. G.
como instrumento de desenvolvimento do meio; evitan‑ Arroyo; R. S. Caldart & M. C. Molina (orgs),
do assim a reprodução de velhas falácias que atribuem Por uma educação do campo. Petrópolis: Vozes,
à educação, por si só, a capacidade de realizar transfor‑ pp. 147­‑160.
mações sociais, de impedir o êxodo rural, de promover Chartier, D. (1986). A l’aube des formations par al‑
a melhoria das condições de vida do agricultor, entre ternance: histoire d’une pédagogie associative dans
outras, que acabam por reproduzir o velho discurso li‑ le monde agricole et rural. Paris: Messonance, Édi‑
beral em relação à função social da escola. Assim, um tions UNMFREO.
dos desafios das experiências analisadas é, portanto, o Clénet, J. & Gérard, C. (1994). Partenariat et alter‑
de construir uma verdadeira alternância, que integre nance en éducation: Des pratiques à construire. Pa‑
no processo de formação os conteúdos e vivências dos ris: L’Harmattan.
alunos no meio escolar e no meio familiar, numa dinâ‑ Gimonet, J���� ). Psychosociologie des équipes édu‑
­‑C. ��������
(�������
1985���
mica capaz de reconhecer as diferenças e os paradoxos catives. Paris: Messonance, Éditions UNMFREO.
presentes no universo da escola, da família e dos seus Malglaive, G. (1992). Les savoirs, la pratique et
movimentos, visando a implementação de um projeto l’alternance. Paris : La Documentation Française.
comum em que o todo seja resultante de algo mais do Rouillier, R. (1980). Formation d’Adolescents et Alter‑
que a soma das partes. nance. ������������������������������������
Paris: Messonance, Éditions UNMFREO.
Silva L. H. (2000). A Relação Escola­‑Família no Univer‑
so das Experiências Brasileiras de Formação em Alter‑
Considerações finais nância. Tese de Doutorado. São Paulo/SP: PUC.
Silva, L. H. (2003). As Experiências de Formação de
De maneira a fomentar o debate e a discussão em torno Jovens do Campo: Alternância ou Alternâncias? Vi‑
da educação do campo e da pedagogia da alternância çosa: Editora UFV.
no Brasil, quero concluir reafirmando as três idéias Silva L.H. & Queiróz, J. B. P. (2006). Experiências &
centrais que orientaram nossa exposição: o campo, no Princípios da Pedagogia da Alternância na Forma‑
Brasil, está em movimento! Há tensões, lutas sociais, ção de Jovens Agricultores. In N. P. Amodeo & H.
organizações e movimentos de trabalhadores da terra Alimonda (orgs.), Ruralidades: Capacitação e De‑
que estão mudando o jeito da sociedade olhar para o senvolvimento. Viçosa: Editora UFV, pp. 59­‑72.
campo e os seus sujeitos. Nesta dinâmica social, neste
movimento, que também é um movimento sociocultu‑
ral de humanização das pessoas que dele participam, Conferência proferida na Faculdade de Psicologia e de
vem sendo produzido um projeto educativo, original e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, a 17
inovador, que em suas diferentes iniciativas, tem gesta‑ de Março de 2007.
do novas práticas de escola. Os Centros Familiares de
Formação por Alternância constituem uma dessas ini‑
ciativas que, apesar das contradições e limites, têm bus‑ Lourdes Helena da Silva
cado conferir outros significados à função pedagógica, Universidade Federal de Viçosa — MG (Brasil)
política e social da escola do campo.
Silva, Lourdes Helena (2008). Educação do Campo e Pedagogia da Alter‑
nância. A experiência brasileira. Texto da conferência proferida na Faculda‑
de de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, a 17
de Maio de 2007. Sísifo. Revista de Ciências da Educação, 05, pp. 105-112.
Consultado em [mês, ano] em http://sisifo.fpce.ul.pt

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