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O capitulo quatro do livro O Índio Brasileiro: o que você precisa saber sobre os

povos indígenas no Brasil de hoje, foca na questão da educação indígena. O autor


entende a educação indígena com um processo de transmissão e produção de
conhecimentos dos povos indígenas, a escola é uma instituição apropriada pelos povos
indígenas, a fim de fortalecer seus projetos socioculturais e apresentar novos caminhos
para outras formas de conhecimento, que possa contribuir para as novas demandas dos
povos indígenas. Podemos perceber que a educação indígena surgir para que os índios
possam passar seus conhecimentos para as próximas gerações, não significa dizer que
sem a escola isso já não aconteça, a escola vem para ajudar os indígenas a encarar
situações novas. O objetivo do texto é:

Trabalhar os processos próprios de educação tradicional dos povos


indígenas na relação estabelecida com o processo histórico da
educação escolar incorporada por eles; o surgimento do movimento
dos professores indígenas na luta pela educação escolar indígena
diferenciada; e a situação atual que impera nas aldeias da educação
escolar e da educação indígena (LUCIANO, 2006, p. 129).

A prática pedagógica dos povos indígenas visa o que é melhor para o individuo
indígena e para o seu povo, sendo assim cada povo tem sua própria prática pedagógica,
que busca integra quatro elementos básicos, o território, a língua, a economia e o
parentesco. O território e a língua são os mais complexos. O território é à base da
existência de cada povo e a língua é a expressão dessa relação. O sistema de relações
que estabelecem vai caracterizar cada um dos povos indígenas. A forma como passam
os conhecimentos acumulados sobre a vida e sobre o mundo, é a vida pedagógica.

O autor do capitulo trás o ciclo de vida de um indígena, para compreendemos


melhor como se dá esse processo educativo, primeiro é a vida antes do nascimento onde
a comunidade e os pais da criança se comprometem em garantir sua proteção e seu
desenvolvimento integral, pois a criança é vista com uma benção da vida. Segundo é o
nascimento, que é cheios de rituais e mistérios, é nessa fase que a criança vai aprender
tudo que envolve as atividades da comunidade, a aprendizagem se dá prioritariamente
por meio da observação e da experimentação, os conhecimentos são transmitidos por
meio dos mitos que os pais e os demais adultos passam oralmente e, muitas vezes,
ritualisticamente para as crianças.

O terceiro é a passagem da vida de criança para a vida adulta, e sses ritos de


iniciação é o momento em que o jovem indígena demonstra que está preparado para assumir
suas responsabilidades pessoais e como membro de uma coletividade. E o quarto é a vida
madura onde os mais velhos têm responsabilidade de repassar todos os conhecimentos
adquiridos e acumulados durante toda a sua vida a seus filhos e netos. Todo esse processo nos
mostra que toda a vida dos índios é uma forma de aprendizado, e como a participação da
comunidade é importantíssima para a formação das crianças e dos jovens índios e que esse
aprendizado não se restringe a escola e apenas aos pais, como vemos nas sociedades não índias.

Os povos indígenas possuem várias criticas aos processos pedagógicos adotados


pela escola formal, que muitas vezes o modelo de ensino das escolas indígenas reproduz
o sistema escolar da sociedade nacional, os currículos e os programas geralmente são
inadequados à realidade das comunidades indígenas. O material didático-pedagógico é
em alguns casos inadequado prejudicando as práticas educativas. Existe também a
dificuldade de fixar os professores nas comunidades, fato que se deve à ausência de
moradias dignas, transporte e alimentação para os mesmos e falta de programas de
formação de professores indígenas locais.

Os professores indígenas possuem um papel de destaque nesse processo, são eles


que viveram os problemas de suas comunidades e de seus povos, de tal modo que a
escola tem sido o lugar em que se originaram movimentos de resistência e de
reivindicação de direitos sobre a terra contra a discriminação e a falta de respeito,
atualmente, os professores indígenas formam um importante segmento de luta por
direitos.

O texto apresenta vários dados sobre a educação indígena, porém esses dados
são do censo de 2005, já estando bastante desatualizados mas vamos lá, são 2.324
escolas indígenas de ensino fundamental e médio atendendo 164 mil estudantes, desses
estudantes temos 63,8% cursam o ensino fundamental, 2,9% cursam o ensino médio.
São 9.100 professores, 88% indígenas. Outro dado da FUNAI (Fundação Nacional do
Índio) estima que mais de 2.000 estudantes indígenas esteja no ensino superior, o texto
faz uma comparação entre os anos de 2002 e 2005, mostrando um aumento no número
de alunos indígenas, em 2002 eram 111.171 em 2005 164.018 isso na educação básica,
no ensino fundamental da primeira até a quarta série eram em 2002 82.918 em 2005
passou para 104.573 um aumento de 26% , da quinta até a oitava série eram em 2002
16.148 em 2005 passou para 24.251, um aumento de 50%.

Um dado que chama atenção no texto é o número de escolas e de estudantes


indígenas no ensino médio, são em 2002, 18 escolas indígenas de ensino médio para em
2005, 72 uma expansão de 300%, a quantidade de estudantes para essas escolas em
2002 eram 1.187, em 2005 passou para 4.749 uma expansão também de 300%. Apesar
de todo esse aumento as escolas de ensino médio são poucas em comparação com as
escolas de educação básica e fundamental outro fato é que a maioria dessas escolas de
ensino médio, não aplica os princípios da educação indígena especifica. O autor afirmar:
“Isto significa que centenas de jovens indígenas precisam deixar suas aldeias e migrar
para as cidades, enfrentando inúmeras situações complicadas e graves riscos sociais em
busca de níveis de escolarização mais avançados e que não existem nas
aldeias.”(LUCIANO, 2006, p. 143)

Para contra por com os dados apresentados no texto, temos os dados do último
censo de 2010 das distribuições de matrículas no ensino médio, mostra que em 2007
foram 14.987, em 2008 foi de 11.466 uma pequena queda, mas já se recuperou em 2009
com 19.021 e em 2010 foi de 27.615, obtendo um crescimento de 45,2%.

Sobre as outras etapas da educação indígena o censo de 2010, nos trás os


seguintes dados, a educação indígena chegou, em 2010, a 246.793 matrículas de
educação básica, o que corresponde um crescimento de 7,3%. A oferta do ensino
fundamental aumentou em 6,3%, com ênfase nos anos finais, com crescimento de
16,4%. Isso nos mostra como a educação indígena vem crescendo cada vez mais no
Brasil.

Sobre dados da educação indígena no ensino superior são bastante escasso, até o
próprio texto apresenta poucos dados sobre essa etapa da educação, e os que apresentam
como já foi falado acima estão desatualizados, o autor foca mais nas políticas de ações
afirmativas, trazendo uma abordagem muito importante e esclarecedora sobre as cotas.
Segundo Luciano o sistema de cotas tem como propósito de amenizar e de
corrigir, pelo a desigualdade e injustiça das práticas tradicionais de seleção adotadas
pelas universidades brasileiras. São absolutamente desiguais que estudantes indígenas
de aldeias e a população negra, que em sua maioria vivenciaram as péssimas condições
do ensino público, concorram as vagas nas universidades com os filhos da classe média
que sempre estudaram nas melhores escolas privadas e poderão fazer cursos
preparatórios especializados.

O autor deixa claro que ou se é a favor ou se é contra, ou se é favorável à maior


democratização de acesso ao ensino superior, tendo o sistema de cotas como uma
medida compensatória da enorme dívida histórica do Brasil com a população negra e os
povos indígenas que representam a metade de sua população, ou se é favorável à
continuidade da manutenção dos privilégios das classes dominantes.

O sistema de cotas tem um forte valor simbólico, a proposta obriga o Estado


brasileiro a reconhecer sua dívida histórica para com os povos indígenas e com a
população negra. Este reconhecimento é imprescindível para a construção de uma nação
brasileira multicultural. As políticas de cotas são, portanto, necessárias enquanto
política compensatória, mas não enquanto política pública permanente.

Como foi citado acima no texto, os professores indígenas tiveram uma


participação bastante importante nesse processo de crescimento e fortalecimento da
educação indígena, foi a partir do ano de 1994, que o movimento indígena promoveu
encontros locais para melhor articulação dos professores das aldeias mais distantes e
para divulgar o novo processo em curso, surgiram o Movimento dos Professores
Indígenas do Amazonas, Roraima e Acre (COPIAR), transformado atualmente em
Conselho dos Professores Indígenas da Amazônia (COPIAM), desde 1988 vem se
reunindo em encontros anuais para discutir os problemas comuns e tirar linhas gerais de
ação e reivindicação, procurando mudar a situação das escolas indígenas na região. A
partir dessas articulações surgiu à declaração de princípios elaborada pelos professores
com 15 pontos, que ainda orienta as bases da educação indígena, são eles:

1. As escolas indígenas deverão ter currículos e regimentos específicos, elaborados


pelos professores indígenas, juntamente com suas comunidades, lideranças,
organizações e assessorias.

2. As comunidades indígenas devem, juntamente com os professores e as organizações,


indicar a direção e a supervisão das escolas.

3. As escolas indígenas deverão valorizar culturas, línguas e tradições de seus povos.

4 É garantida aos professores, comunidades e organizações indígenas a participação


paritária em todas as instâncias – consultivas e deliberativas – de órgãos públicos
governamentais responsáveis pela educação escolar indígena.

5. É garantida aos professores indígenas uma formação específica, atividades de


reciclagem e capacitação periódica para o seu aprimoramento profissional.

6. É garantida a isonomia salarial entre professores índios e nãoíndios.


7. É garantida a continuidade escolar em todos os níveis aos alunos das escolas
indígenas.

8. As escolas indígenas deverão integrar a saúde em seus currículos, promovendo a


pesquisa da medicina indígena e o uso correto dos medicamentos alopáticos.

9. O Estado deverá equipar as escolas com laboratórios, onde os alunos possam ser
treinados para desempenhar papel esclarecedor junto às comunidades no sentido de
prevenir e cuidar da saúde.

10. As escolas indígenas serão criativas, promovendo o fortalecimento das artes como
formas de expressão de seus povos.

11. É garantido o uso das línguas indígenas e dos processos próprios de aprendizagem
nas escolas indígenas.

12. As escolas indígenas deverão atuar junto às comunidades na defesa, na


conservação, na preservação e na proteção de seus territórios.

13. Nas escolas dos não-índios será corretamente tratada e veiculada a história e a
cultura dos povos indígenas brasileiros, a fim de acabar com os preconceitos e o
racismo.

14. Os municípios, os estados e a União devem garantir a educação escolar específica


às comunidades indígenas, reconhecendo oficialmente suas escolas indígenas de acordo
com a Constituição Federal.

15. Deve ser garantida uma Coordenação Nacional de educação escolar indígena,
interinstitucional, com a participação paritária de representantes dos professores
indígenas.

Sobre a legislação e a educação indígena, o texto nos mostra bastante às


mudanças que ocorreram até chegamos aos dias de hoje. A Constituição de 1934 foi a
primeira que atribuiu poderes exclusivos da União para legislar sobre assuntos
indígenas, porque antes tínhamos a catequese realizada pelos jesuítas, durante o período
imperial a educação indígena ficou sobre responsabilidade das Assembleias Provinciais.
Em 1906 ficou sobre os cuidados do Ministério da Agricultura, já em 1910 passou para
SPI (Serviço de Proteção ao Ìndio). As escolas do SPI caracterizavam- se por
apresentarem regimentos idênticos aos das escolas rurais, incorporando a alfabetização
em português, ignorando o idioma dos povos indígenas, além de atividades
profissionalizantes. A constituição de 1988 foi um grande marco na educação indígena,
pois foi com a constituição que os povos indígenas conseguiram garantir uma educação
que respeitassem suas identidades, crenças, costumes e idiomas.

Durante muito tempo a educação escolar oferecida aos povos indígenas sempre
teve como objetivo a integração do índio à sociedade nacional, sem respeito às
diferenças culturais e linguísticas. Era uma educação do ponto de vista do colonizador
para os índios, isso que dizer que, a escola servia para o colonizador ensinar ao índio a
ser e a viver como ele. A escola foi um dos principais instrumentos usados durante a
história para descaracterizar e destruir as culturas indígenas, atualmente pode enxergar a
escola como um instrumento na reconstrução e na afirmação das identidades dos mais
diversos povos indígenas.

É de suma importância reconhecer que os povos indígenas ainda mantêm vivas


as suas formas de educação tradicional, que podem contribuir para a formação de uma
política e de uma prática educacional, capaz de atender aos seus interesses e às novas
necessidades da realidade atual. Tais conhecimentos não são necessariamente
incompatíveis com os conhecimentos da escola moderna.

Referências bibliográficas

LUCIANO, Gersem dos Santos. O índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os
povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de
Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2006.

Dados do IBGE consultados dia 26/11/17 no site: http://portal.mec.gov.br/index.php?


option=com_docman&view=download&alias=7277-censo-final-pdf&Itemid=30192.

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