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Análise dos “Textos “A Situação Etnográfica: Andar e

Ver” e “ Etnografia e Trabalho de Campo”

Após a leitura dos dois textos, “A Situação Etnográfica: Andar e Ver” de Hélio
Silva, e “Etnografia e Trabalho de Campo” de Roberto Malighetti, fizemos uma analise
e encontramos nos dois algumas semelhanças, quando se trata do escrever na pesquisa
de campo, mas em outros momentos os dois nos mostram visões bem distintas como se
faz a pesquisa de campo e o papel do etnógrafo no campo.

Ambos os textos defende a ideia que a escrita não é algo definitivo, mas que
pode ser revista, enquanto Hélio é bem repetitivo nessa ideia do texto não ser algo
definido, Roberto Malighetti vai mais fundo nesse conceito e defini como “um processo
dinâmico e difuso que assinala especificidades na aprendizagem do conhecimento
antropológico, o qual, por isso mesmo, não pode ser “congelado”“. Escrever é a
organização de uma matéria textual, Malighetti desenvolve mais sobre escrever e mostra
que o texto possui vários níveis de dialogo, entre o antropólogo e os nativos, entre os
próprios nativos, entre as diferentes fontes de informação, entre o antropólogo e a
comunidade cientifica e entre o antropólogo e o seu próprio ser.

O resultado disso é que o documento etnográfico vai apresentar dois mundos; o


mundo do etnógrafo e dos seus leitores e o mundo dos membros da cultura. Essa
preocupação com a escrita por parte dos antropólogos e algo recente, enxerga esse
processo como algo intrínseco a pesquisa em todas as fases, fases essas que o autor não
fala, mas que Hélio no seu livro se aprofunda muito mais que são: situar, andar, ver
(falaremos sobre isso mais pra frente do texto).

Porém não devemos encara o trabalho etnográfico como simplesmente a


passagem do oral para o escrito, mas sim como uma reelaboração do escrito, o texto
possui duas etapas, a primeira é que os dados coletados no campo são produtos textuais,
são textos que relatam o cotidiano da vida social, que se observa e participa, são as
primeiras formas de compreensão e uma das principais fontes de dados, porém esses
textos são considerados liminares, estão em continua transformação. A segunda etapa
são os relatórios etnográficos que são intertextuais, já relacionados com os outros
relatórios, relatos individuais, literatura cientifica tornando se um texto mais completo e
coerente.

As fases da pesquisa de campo que Hélio se aprofunda no seu texto e que


Roberto Malighetti não citas são situar, andar e ver. A primeira fase é a situar – se que
ele define com “a localização do etnógrafo no espaço social que estuda”. Essa
localização é pensada de acordo com a relação com os nativos que observa e com o
deslocamento pelo território onde os nativos transitam e se localizam. A segunda é o
andar, pois é através do trajeto no campo feito pelo etnógrafo é que sua imagem é
projetada e decodificada pelos nativos, e vai ser a sua circulação pelo campo que vai
determinar a sua acolhida pelo grupo estudado.

A terceira é o ver, Hélio destaca a diferença entre o olhar e o ver pois, o olhar é
mais superficial enquanto o ver é uma organização do que foi olhado, espiado, reparado,
notado, ele define ver como “ um olhar que se organiza; um olhar organizado e
reorganizado; que vai organizando; que organiza; que vai revendo; que revê e dá por
revisto”. Esse ver etnográfico é resultado de um conflito entre a autopercepção e a
alterpercepção, entre aquilo que o etnógrafo ver e o que os outros pensam e dizem para
ele.

O grande ponto de divergência dos textos é o papel do etnógrafo em campo,


Roberto Malighetti tem uma posição conservadora quando se referi ao etnógrafo como
uma autoridade, da qual ele não deve abrir mão, pois segundo ele por mais que o
etnógrafo tente substituir o monólogo pelo diálogo o seu discurso vai ser sempre
assimétrico. Ele vai dizer que tanto no campo do discurso e no terreno etnográfico, a
relação entre etnógrafo e nativo vai sempre ser uma relação hierárquica.

A relação entre o etnógrafo e o nativo no campo do discurso vai ser uma relação
entre linguagens “débeis” e linguagens “fortes”, que governam o fluxo internacional do
conhecimento, enquanto na relação do terreno etnográfico a autoridade do etnógrafo se
fundamenta não só no poder político e econômico, mas principalmente sobre o “saber e
poder – escrever”. E que a relação do antropólogo se funda numa inevitável violência
inerente a pesquisa, pois a presença do pesquisador já é uma intrusão e que o projeto
antropológico viola o projeto do nativo, e que o trabalho de campo resulta numa luta
contra o tempo, que implica em ultrapassar o direito dos nativos de ficarem calados.

Hélio traz uma abordagem totalmente diferente, ele não fala de autoridade, mas
sim de uma consciência por parte do pesquisador, é preciso reconhecer que na
experiência etnográfica estamos a observar uma cena da qual fazemos parte, e a
capacidade de se incluir como peça exterior cuja presença altera a cena. O pesquisador
precisa reconhecer o caráter subjetivo da observação, mas, sobretudo a capacidade de
ter uma noção objetiva de sua própria presença.

Ele ressalta que o etnógrafo deixou de ser uma figura enigmática, tornando se
uma figura mais conhecida, sua presença pode incomodar um pouco por querer
vasculhar algo que parece obvio para os nativos, mas também sua presença pode ser
bastante aguardada entre membros de movimentos sociais em busca de discursos
legitimados, pois ele é capaz de pôr no papel a historia do lugar e de seus habitantes.

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