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GEERTZ, Clifford, 1978.

“Descrição densa: por uma teoria interpretativa das culturas”,


in A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, p. 13-41.

Em seu texto “Descrição densa: por uma teoria interpretativa das culturas”, Geertz
faz uma defesa da limitação do conceito de cultura, que seja mais especificado, mais
poderoso e, portanto mais esclarecedor. Ele defende a ideia de um conceito de cultura
menos padronizado, mais coerente e definido para um progresso. Ele deseja um conceito
de cultura semi-ótico e, a partir daí, define cultura como sendo “uma teia de significados
tecida pelo próprio indivíduo e sua análise”. A cultura seria uma ciência interpretativa em
busca de um significado. Definida, assim, sua tese principal, o autor passa a explicar
algumas afirmativas. O autor compara a ciência etnográfica com o operacionismo dizendo
que a forma como é praticada e entendida que a faz uma forma de conhecimento e ela seria
definida pela descrição densa (para exemplificar o que seria a descrição densa o autor se
utiliza das diferentes formas de piscadelas; são formas de estruturas superpostas as quais
fazem o etnógrafo procurar caminhos de forma contínua). O exemplo do Judeu e o rebanho
é um exemplo de descrição densa. Segundo o autor os nossos dados são construções de
outras pessoas, do que elas se propõe e por isso se torna uma ciência obscurecida, pois
isso acontece antes de uma observação direta. É uma ciência mais observadora e menos
interpretativa. O autor fala que o etnógrafo enfrenta estruturas múltiplas, que estão
entrelaçadas umas às outras, que são irregulares e primeiramente deve-se aprender sobre
elas para depois apresentá-las.
O autor volta ao debate sobre cultura. Segundo ele esse é um assunto interminável
dentro da antropologia. Para o autor o problema está em saber se a cultura é uma conduta
padronizada, estado de mente ou ambas. Segundo o autor o conceito de cultura pode ser
obscurecido dizendo que ela se liga apenas a padrões ou que possui propósitos próprios de
forma a reduzí-la. A cultura está na mente e nos corações dos homens, segundo Geertz.
Essa escola afirma que a cultura é composta de estruturas psicológicas pelas quais os
indivíduos guiam seu comportamento. Uma descrição de cultura necessita da
transformação do indivíduo ou em, ao menos, ele se fazer passar por nativo. Há uma
mescla de subjetividade com formalidade, gerando análises particulares que nem sempre
correspondem ao pensamento nativo. Essa falta de familiaridade, esse estranhamento não
permite a compreensão de uma cultura e muito menos nos situa nela.
No que consiste a pesquisa etnográfica, onde nos situamos não se trata de ser
nativos ou copiá-los, senão descrevê-los e conversar com eles. O objetivo da antropologia é
o alargamento do universo do discurso humano. Aqui encontramos uma boa adaptação do
conceito de cultura. O autor diz que a cultura é um contexto descritível e deve ser entendido
de forma inteligível. O estranhamento é apenas um artifício deslocador da familiaridade para
facilitar a descrição. A compreensão de uma cultura está em expôr sua normalidade sem
diminuir suas particularidades. Os atos dos outros orientam nossas ações e é assim que
associamos símbolos comuns ou não. O autor nos diz que para a descrição ser
antropológica ela precisa ter um desenvolvimento de análise científica, pois ainda são
interpretações construídas e modeladas (assim como os textos de ficção). A exigência de
atenção está em esclarecer o que ocorre na observação e reproduzir essa perplexidade. A
questão determinante está em saber diferenciar situações e sinais como sendo verdadeiros
ou falsos.
É através do fluxo do comportamento da ação social que as formas culturais se
articulam. Os significados emergem dos papéis que desempenham os atores. Onde quer
que estejam os sinais simbólicos ganhamos acesso a eles através da inspeção de
acontecimentos e não em padrão. A interpretação antropológica deve nos levar ao centro
daquilo que nos propomos interpretar. O etnógrafo, através de suas anotações, transforma
um acontecimento como algo que pode ser recorrentemente consultado. “(...) o dito torna-se
enunciação (...) o que escrevemos é p ‘noema’ (substância, pensamento, conteúdo) de
falar. É o significado do acontecimento de falar não o acontecimento como acontecimento.”
A análise antropológica pode ser uma manipulação conceitual dos fatos descobertos,
recosntrução lógica e incompleta. Segundo o autor ela deveria ser uma adivinhação de
significados, avaliação de conjecturas, conclusões explanatórias a partir das melhores
conjecturas.
O autor acredita que a descrição etnográfica é interpretativa e microscópica. Os
modelos de elaboração de verdades locais para verdades mais gerais e amplas são o
“microscópico” (ideia de encontrar, resumida em pequenas aldeias, a essência de
sociedades mais amplas) e o “experimental natural” (que acaba sendo falso pois sugere
uma pureza e solidez maior da etnografia em relação a outros tipos de ciência social). O
autor diz tratar-se de interpretações inconclusivas, não testadas e nem aprovadas
cientificamente. Dar autoridade a essas interpretações não passa de “pretidigitação
metodológica”. Os dados etnográficos são apenas particulares. O importante é sua
especificidade. A solução está na compreensão das ações sociais.
A partir daí o autor começa uma defesa da antropologia enquanto ciência. As
dificuldades do desenvolvimento teórico estão na conservação da teoria próxima ao seu
terreno. A abordagem semiótica da cultura auxiliando o ganho de acesso ao mundo
conceitual visando a um diálogo de forma ampla. A tarefa essencial da construção teórica
está em tornar descrições minuciosas em generalizações dentro dos casos em busca de
peculiaridades. A segunda dificuldade está em conceber a antropologia enquanto uma
ciência não-profética. A interpretação cultural acontece após o fato. Porém, a teoria deve
sobreviver a fatos que estão por vir, defendendo novos fatos sociais. A diferença entre as
ciências interpretativas e as observacionais está entre inscrição e especificação. O
antropólogo deve tirar grandes conclusões de pequenos fatos.
A análise cultural é incompleta e quanto mais profunda menos completa ela se torna.
Comprometer-se a um conceito semi-ótico de cultura e uma abordagem interpretativa do
seu estudo é comprometer-se, também, com uma visão afirmativa etnográfica contestável.
A antropologia interpretativa propõe um refinamento de debate. O autor tenta organizar
situações concretas e acontecimentos sociais sem obscurecimento. O que se deve fazer é
treinar análises em relação a realidades e necessidades. A dimensão simbólica da ação
social é mergulhar em dilemas existenciais da vida. A antropologia interpretativa é colocar
respostas em registros para torná-los fixos, história.

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