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ALVES, Luiz Gustavo. Libertem Nosso Sagrado: as disputas de uma reparação histórica.

Dissertação
(mestrado) Programa de Pós-Graduação em História. Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2021.

CAPÍTULO 2 – “Para chegar aqui, atravessei um mar de fogo”: as disputas anteriores sobre os
objetos
Práticas de coerção policial e apreensão de artefatos religiosos foram comuns no Rio de Janeiro, Bahia
(Coleção Estácio Lima) e Pernambuco (Coleção Afro do Xangô) – marcas da diáspora africana, da
colonização e plantation, e também dos processos de resistência da comunidade afro-brasileira. Ambos os
estados há reconhecimento da periferização dos tempos de matriz africana, como forma de continuar
existindo através das estratégias de invisibilização. Também são marcas profundas do racismo religioso na
sociedade brasileira em geral, mas nas populações destes estados.
Relações entre intelectuais da medicina e polícia. No caso do Recife, há a articulação entre a Secretaria de
Higiene Mental e a Secretaria de Segurança Pública, com intensificação das batidas policias nas décadas de
1920 e 1930
Com o avanço da repressão, houve uma colaboração entre os psiquiatras do Serviço e as lideranças de
terreiros para determinar aqueles aptos a serem legalizados, funcionarem normalmente e escaparem
de ser vilipendiados. As casas abriam-se para as pesquisas, os sacerdotes passavam por exames e
recebiam o laudo. (p.72)

Gilroy, 2012 – Atlântico Negro: experiencias de terror racial


O estado brasileiro foi responsável pela formulação de técnicas de controle sobre os cultos de matriz
africana. Um procedimento com longa duração de uma violência que buscava disciplinar e controlar
os saberes considerados inferiores, e que era formatado em esfera nacional. Portanto, nesse início do
período republicano, as apreensões de objetos mantiveram-se constantes não só no Rio de Janeiro,
mas em diferentes localidades do país até, pelo menos, a década de 1940. (p.73)

Marcos legislativos
Ordenações Filipinas (1603) e Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia (1707), que impunham a
doutrina cristã por meio do batismo e da filiação a irmandades. Após o século XIX e a proximidade com a
política inglesa, a Constituição de 1924 estabelece a liberdade de culto, que na prática se verificou a
liberdade religiosa para cristãos.
Embora o direito à liberdade religiosa estivesse determinado, a prática se dava de maneira distinta no
que se refere às expressões religiosas de matriz africana, uma vez que havia outros procedimentos
para exercer uma punição a estas expressões. Na falta de uma lei que proibisse expressamente o
exercício de costumes afro religiosos, o Código de Posturas da Ilustríssima Câmara Municipal, criado
pela Polícia da Corte em 1870, enquadrava os praticantes destes cultos em estelionato, roubo e demais
crimes que não a prática religiosa. (p.75)

Legislação como forma de controle sobre o modo de vida da população negra. Batuques africanos proibidos
ainda durante o Império por funcionarem como reunião de negros para uma possível revolta. Nesse contexto
surgem as primeiras batidas policiais e, consequentemente, apreensões de objetos sagrados (p.75).
Carolina Cabral R. Almeida (2017) e a repressão às “casas de dar fortuna” – peças doadas ao Museu
Nacional em 1880 – exposição “Kumbukumbu: África, Memória e Patrimônio” até 2018, com o incêndio no
museu
Apreensões tinham como objetivo o sumiço das tradições religiosas de matriz africana, ou pelo menos de
sua cultura material -> “genocídio do negro brasileiro”, epistemicídio

Século XIX e início XX: racismo científico, evolucionismo, eugenia. Estudos sobre a população negra são
um dispositivo determinista de inferioridade e dominação que justificaria o branqueamento da população
brasileira como forma de “civilizar-se” e ir na direção do progresso
Transformações sociais e novas formas de controle dentro dos valores republicanos – novos mecanismos de
exclusão: urbanismo autoritário, formulação de leis proibitivas direcionadas a práticas tradicionais da
população afro-brasileira. Proibição de praticas de um “brasil colonial” e (novas) formas de disciplinar as
práticas espaciais urbanas
Normatização da cidade:
 Contravenção: Código de Posturas – proibição da venda de hortifrutigranjeiros e o caráter urbano da
capital; regulação do uso do solo urbano e a delimitação dos quintais; normatização do espaço
através de mercados populares e a proibição do comércio ambulante (contenção dos fluxos)
 Crime (agravamento das práticas): Código Penal – religião, capoeira, vadiagem e demais
“aglomeração de suspeitos”
No que se refere às religiões de matriz africana, o Código Penal de 1890 criminalizou a magia, o espiritismo
e o uso de “talismãs” para fins curandeiros, por meio dos artigos 156, 157 e 158, muito embora a
Constituição de 1891 garantisse a liberdade de culto (p.78)
Curandeirismo: repressão à uso da etno-botanica como promoção de saúde tradicional
Talismã: justificativa para apreensão de artefatos
Espiritismo: diferenciação entre “magia boa” e “magia má” e a capacidade dos grupos sociais se
organizarem politicamente para sua defesa pública

As reformas policiais surgem com o objetivo de tornar o poder público mais responsável pela
segurança e pela ordem (...). O Estado brasileiro se esforçou em regulamentar e oficializar a Polícia
como principal instituição da estruturação da burocracia estatal e dos parâmetros de conduta da
sociabilidade da burguesia com atuação direta na sociedade civil, por isso o nome Policia Civil do
Distrito Federal. Criava-se um embate entre a política – defensora da modernidade trazida pela
Proclamação da República -, e o povo, que lutava pelas suas identidades e práticas sociais. Nesse
sentido, a intensa repressão cotidiana está intimamente ligada à modernidade, estabelecida em
reformas urbanas e leis. (p.80)

Repressão como a essência da polícia


Reforma da cidade acompanhada pela modernização e profissionalização da polícia com o objetivo de
pensar a sociedade brasileira a partir de novos prismas – desenvolvimento científico como a criminologia
(meio social em que o criminoso vive)
Apoio da imprensa – inúmeras denúncias veiculavam em jornais

Museu do Crime (1912): depósito de reorganização dos itens apreendidos, local de guarda e coleta de armas
brancas, coleção de toxicologia, jogos de azar e artefatos religiosos. Segunda instituição museal do país
(depois do Museu Nacional).
Paradigmas dos museus
Século XVI – gabinete de curiosidades (espaços ocupados com objetos coletados por intelectuais e viajantes
com o objetivo de classificar e representar o outro)
Século XVIII – consolidação da identidade nacional
Século XIX – coleções do imperialismo (museus etnográficos, histórico-naturais), que serviam de
sustentação empírica do evolucionismo biológico e social [objetos apreendidos no continente africano e
americano]

Velasco, 2019: pesquisa sobre ataques policiais a casas de santo e a possibilidade de localização da
repressão a terreiros e classificação racial, com base em inquéritos policiais e capas de jornal de 1890 a 1929

Regimento Interno da Polícia Civil e a delimitação do Museu


Antes do tombamento as peças ficavam no deposito
1938 e o tombamento etnográfico: “Polícia Civil deveria se adequar a uma política – ainda em estágios
iniciais – de salvaguarda e reformular a estrutura de seu museu” (p.86)
- Regimento interno da Polícia (1945): selecionar, classificar, preparar, distribuir os objetos salvaguardados
por salas de exposição – reformulação do museu nos moldes dos museus modernos, preocupação com suas
coleções
Museu da Polícia:
1945 – Francisco Eugenio, 228
1965 – Rua Frei Caneca, 162 – exposição de 1972 a 1989
1999 – Retorno para a Rua da Relação
 Cada coleção do Museu possuía o nome de museu, “é como se cada coleção formasse um museu
interno ao museu maior da Polícia Civil”
 Dante Milano, poeta modernista, diretor do museu de 1945 a 1964
 Objetivos: preservar a memória das ações da polícia e se autossustentar como espaço de estudo e
pesquisa da criminologia
 1954: registrado no Conselho Internacional de Museus (ICOM) como museu cientifico “com feição
de museu de arte popular”
 1989: incêndio e a perda de 37 itens da coleção
[não podemos perder de vista disputas de sentido internas à instituição]
Relação entre presidente do SPHAN e diretor do Museu da Polícia: cartas, questionários e lista de itens
relacionados. Descrição de “peças raras e notáveis”, e identificação da coleção como Magia afro-brasileira,
não “Magia Negra”, como instituído pela polícia
Percebe-se que este museu se configurava como uma instituição interna muito cara para a Polícia
Civil e que conquistou muito prestigio com o Sphan. Além disso, pode-se afirmar que a
museologização do crime, em certa medida, teve sucesso, ao observar a forma como a coleção e o
próprio museu foram classificadas nas correspondências entre a polícia e a instituição de patrimônio.
(p.90)

O historiador acredita que o Museu pode ter sido descredenciado do ICOM por não ter aberto seu acervo
para pesquisa ao longo das décadas.
Museologização do crime (Corrêa, 2009): tentativa de demonstrar os malefícios causados pelos objetos e
seus donos, ou seja, além da apreensão de objetos como provas de crime, encontrou-se uma museografia que
reforçava a leitura que ali estava representado o material do mal, e tornasse o crime peça de museu
Correa e Maggie entendem a coleção como a representação do mal e do crime a partir do olhar policial, não
o aspecto afro-brasileiro da religião, ou os frutos da repressão policial

Marcas impressas na coleção e a travessia forçada dos terreiros pro depósito, sem deixar o caráter sagrado,
mas adicionado a ele o verniz da criminalização, e posteriormente do depósito para o museu, com o objetivo
de informar ao público sobre a memoria das atividades da corporação policial.
No primeiro período a coleção assemelhava-se a uma sala de troféus, acrescentando a violência simbólica de
expor de maneira desrespeitosa*maldizendo*desvirtuando (raptando o sagrado e representando o criminal)
“Esses diferentes usos dos objetos se baseiam em controle, coerção e no estabelecimento de uma ideologia
dominante, ou seja, a reprodução de valores introduzidos desde o período colonial” (p.92)

Sentidos do museu da polícia: “se anteriormente o museu se apresentou primeiro enquanto um depósito,
depois como um museu de provas de crime, hoje há uma tentativa de estabelece-lo muito mais como lugar
de memória policial” (p.95)

Tombamento Etnográfico
Coleção de objetos sagrados afro-brasileiros foi o primeiro ITEM registrado pelo Iphan no Livro do Tombo
Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, em 1938, o que destaca sua importância
Tombamento “é um instrumento jurídico com finalidade de proteger o patrimônio cultural, e sua criação está
inserida no processo de construção de uma nação moderna em curso na Era Vargas” (p.96)
Criação de instrumentos de proteção ao patrimônio dentro do esforço de construir (e preservar) os símbolos
de uma nação moderna
Tanto a polícia quanto as lideranças religiosas encaravam o tombamento como uma marca de valorização do
conjunto de peças (embora apenas 127 delas sejam tombadas)
Polícia: defendia o tombamento como importante para a memória policial do período republicano, e
reconhecia a importância da instituição como essencial para o projeto de nação da primeira metade do
século XX – garantia da ordem e da segurança
conceitos de progresso e civilização embutidos no sentido de nação, são marcas do sentimento nacional e
estão inseridos no conjunto de processos necessários para a criação da memória presente no patrimônio
nacional
patrimônio é a identificação e preservação de símbolos capazes de integrar o território e materialização a
nação
Modernismo e o Estado Novo: projeto modernista e a escolha da matriz luso-brasileira (na arquitetura
neocolonial, por exemplo) como marca e matriz do que é a imagem da nação brasileira, rompendo com a
identidade da monarquia e da primeira república
- Estado Novo: “ampliou as estratégias que buscavam estabelecer uma legitimidade cultural e a criação de
uma forte identidade nacional”
- Intelectuais modernistas integram as instituições estatais, considerados “especialistas no projeto de nação
moderna”

Anteprojeto Mário de Andrade: produz os sentidos de uma gestão estatal que identifica, seleciona e protege
o patrimônio nacional. Define o que é patrimônio (1), indica a noção de arte (2), equilibra as contribuições
da cultura popular e da cultura erudita
(1) “composto por todas as obras de arte pura ou aplicada, popular ou erudita, nacional ou estrangeira,
pertencentes aos poderes públicos, a organismos sociais e a particulares nacionais, e particulares
estrangeiras residentes no Brasil”
(2) Criação de bens patrimoniais que carregavam a “habilidade humana de utilizar aspectos como fatos
históricos, meio ambiente, as ciências, etc.”, ou seja, arte é mais que a cultura material, mas também
as manifestações imateriais da cultura popular (línguas, culinária, danças, musicas, contos, práticas
de cura)
4 livros de tombo:
 Arqueológico e etnográfico: arte arqueológica, ameríndia e popular
 Histórico
 Belas Artes
 Artes aplicadas (?)

“Arte popular” como manifestação de arte pura ou aplicada, podendo ser objetos, monumentos, paisagens
ou folclore (bens imateriais)
- Objetivo era democratizar a noção de arte, cultura e patrimônio, que “esbarrava no projeto autoritário
varguista que tinha as minorias étnicas como obstáculos para a unidade nacional”
Formação discursiva do SPHAN: se configura inicialmente como academia, capaz de reunir intelectuais
modernistas em prol de uma legitimidade do que é patrimônio, é a institucionalização de um lugar de fala
capaz de elaborar um conjunto de representações
arquitetos com maior peso no campo, priorizando a monumentalidade, e a arquitetura colonial a mais
tombada
critérios para o tombamento: excepcionalidade e interesse do publico

caráter etnográfico do patrimônio reverbera a dicotomia “primitivo/nacional e urbano/rural”: quem forma a


nação são as elites descendentes de europeus e suas referencias civilizatórias, o “outro” exótico faz parte do
processo de conquista da civilização e, resguardadas as distancias coloniais, também (“até”) fez parte da
construção da nação
ou seja, através de uma incorporação do “Outro”, aquele que seria diferente em relação à identidade
nacional pensada pelos modernistas, nas políticas de preservação. Esse “Outro” faria parte de outra
estrutura social como outra produção cultural, além da distância geográfica. (...) [reconhecendo as
tradições populares] que, apesar de correrem risco de acabar com a intensa modernização, possuíam
valores para determinados grupos sociais e, portanto, contribuíram para a construção da identidade
nacional. (p.105)

Potencial museológico e a tentativa de preservação das culturas no curso da civilização (homogeneização


nacional): a cultura do “outro” deveria ser preservada pois não estava em condições de igualdade a priori
- Modernistas previam a construção de identidade sem perder a pluralidade, porque isso nos diferencia das
demais culturas exteriores

Questões levantadas pela pesquisa: por que a Polícia pediria para tombar o acervo?
O autor acredita que o tombamento não passou pelo crivo dos intelectuais que estavam formando o discurso
do órgão pois a patrimonialização se deu em uma negociação entre a Polícia Civil e o diretor do SPHAN. O
tombamento muda a forma de gestão do acervo e sua relação dentro da instituição. Acredita-se que fora
aprovado devido a sua propriedade policial, pois caso os objetos ainda estivessem nos terreiros de origem
não teriam sido patrimonializados em 1938.
Luiz Gustavo defende que o acervo não foi considerado emblema da identidade nacional como outros
patrimônios, mas sua importância é originada na preservação da memória policial, instituição representativa
da construção da nação do século XX.
A excepcionalidade da coleção estaria no estranhamento, na exotização dos objetos e o papel da polícia na
repressão a manifestações exóticas, garantindo a identidade nacional

Salvaguarda dos objetos


Audiência pública em 2017 e levantamento das questões
 O tombamento ser um impeditivo à transferência da coleção para outra instituição museal
 Uso dos objetos, que estavam sendo manuseados de forma inapropriada
 Terminologias para os objetos

Diferença entre os regimes de valor, significados e classificação postulados entre técnicos e religiosos: prova
de crime/objeto etnográfico, arte/sagrado

Importância da coleção hoje: “contar uma época importante de nossa história, (...) [pois] estes objetos
marcam a repressão às religiões de matriz africana e, portanto, deveriam estar aos olhos da sociedade para
que o debate acerca da intolerância religiosa esteja sempre vivo” (IPHAN, 2018)
- Desperdício do valor cultural da coleção quando esta não estava exposta – questionamento da Polícia Civil
por esta não trabalhar em diálogo com os membros das religiões de matriz africana

CAPÍTULO 3 – “Mas acabou, cativeiro acabou” – Os sentidos da reparação


Repatriação é uma prática (ação/política) entre diferentes países, não entre instituições (e grupos sociais)
dentro do mesmo país
Reparação histórica e as demandas por novas práticas de conservação dos saberes nativos em museus:
comum ao campo de estudos da escravidão (1) e ditadura militar
(1) No sentido de reparar injustiças cometidas contra a população negra como consequência direta do
período da escravidão
(2) Em ambos os casos (escravidão, repressão policial, ou ditadura) é o Estado (através de suas
instituições) o algoz e promotor de opressão social, por isso a reparação é uma discussão
intranacional

Organizações religiosas de matriz africana surgem na década de 1930 no contexto de repressão aos terreiros:
2º Congresso Afro-brasileiro, 1937 e a fundação da União das Seitas Afro-brasileiras em Salvador
- Proposta de Edison Carneiro que a União substituísse a polícia na direção dos cultos
União Espírita da Umbanda do Brasil, 1939, com a proposta de “oferecer proteção contra a ação policial a
todos os centros de Umbanda a eles filiados”, expedindo alvarás

Afro-patrimônios e cultura como arma (Mafra, 2011)


O acionamento da categoria cultura parte do desejo de ver os objetos integrados em uma perspectiva que os
coloca como parte da cultura nacional, tanto por meio das transformações sobre sua patrimonialização como
pelo fato de serem considerados documentos históricos da população negra. (p.126)
Cultura como arma: por um lado reconhecer que há a objetificação da cultura, mas por outro o sujeito
objetificado faz uso da própria representação e dos pressupostos de quem o objetificou em favor de seus
próprios interesses
MR: museu deixa de ser visto como espaço de metáfora colonial para um espaço de relação e de
representacaoes culturais dinâmicas, negociáveis e em transformação

Cidadania patrimonial
Se o patrimônio, como um todo, está no mito da construção da nação e os grupos [afro-brasileiros]
foram marginalizados em diferentes momentos da historia do Brasil, pode-se afirmar que a campanha
Liberte Nosso Sagrado almeja fazer com que uma nova narrativa sobre o tombamento, a mudança de
nome da coleção, a mudança de sua propriedade e o acesso às peças pelos religiosos possam conferir
um meio de se chegar até a cidadania. (p.126)

- primeira camada de reparação histórica: representação de um patrimônio afro-brasileiro num museu serve
de ferramenta na luta por direitos

Estratégias, modulações, negociações e discursos nos ajudam a observar que o processo da transferência não
parte de uma suposta benevolência das instituições públicas que reconhecem e preservam bens culturais.
(p.127)
Ressignificação da coleção: é manuseada enquanto símbolo de uma mediação entre culturas e unversos
(religioso, patrimonial, político-institucional)
- objetos carregam resíduos históricos dos grupos sociais aos quais eles possuem alguma referencia antes de
adentrarem ao museu (Susan Pearce, 1994)
- coleções etnográficas possuem diferentes representações de diferentes agentes da acao colonial ao se
transformarem em patrimônio museológico
- reparação histórica surge como motivação para valorizar a cultura através da exposição e produção de
conhecimento quanto às peças e religiões – cultura aparece como um direito do cidadão após a sua violação
- reconhecer que o nome anterior “Colecao da Magia Negra” perpetua o racismo religioso de outrora
- possibilidade de construir metodologias em conjunto com as lideranças: discussão sobre rituais, como se
dará a museografia nas exposições

Ressignificação das coleções etnográficas dentro do campo dos novos estudos culturais
Complexidades do processo de reparação histórica:
 Mobilização do sagrado como argumento da campanha para a gestão compartilhada – reparação –
transferência
 Dimensão sagrada e a possibilidade dos objetos perderem ou não seu axe
 Os objetos são documentos históricos das religiões de matriz africana,
 Novas compreensões de curadoria
Musealização e discussões sobre a morte das peças: processo de classificação gera exotização pois o objeto
“não se encaixa na cultura onde é exposta”
Uma vez que aqueles objetos não se encaixam nos padrões estéticos artísticos ocidentais da época, a peça,
geralmente, era visualizada como exótica

Gestão compartilhada: possibilidade de conciliação entre os valores sagrados e os valores museológicos,


conciliação entre órgãos públicos e comunidades de matriz africana
Valor de exposição: “para alcançar o objetivo de as peças poderem ter finalidade pedagógica, foi necessário
os membros da campanha flexibilizassem a noção do que é sagrado” (p.142)
Processo de artificação dos objetos: mudança social que faz surgir novos objetos e novas práticas, pode ser
um processo flexível através do diálogo como comitê gestor
 alteração no significado dos objetos
 mudanças terminológicas, institucional e organizacional
 construção de um novo discurso sobre a coleção e abertura para a intelectualização dos vários
processos, desde a confecção aos usos

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