Contexto Com o final do Império no Brasil, a Igreja foi separada do Estado. Nesse sentido, a primeira constituição republicana registrava a laicidade do Estado e a possibilidade de liberdade de culto a todas as religiões no país. Nas primeiras décadas do século XX no Brasil, a igreja católica procurava recuperar seu lugar de privilégio tanto no nível das consciências dos indivíduos, quanto no âmbito político. Assim investiu de forma extensiva na divulgação de suas ideias por meio da imprensa e no combate às “más leituras”. Nesse cenário, o franciscano Pedro Sinzig e grupos de leigos vinculados ao Centro da Boa Imprensa e à Liga pela Moralidade voltaram-se para um amplo projeto de saneamento de textos literários. As campanhas moralizadoras tiveram início progressivo. Promovidas simultaneamente por Belisário Távora, chefe de polícia e Joaquim Ignácio Tosta, diretor dos correios na capital, juntamente com o Círculo Católico buscavam proibir a circulação por meio dos correios de postais, desenhos, artefatos e publicações obscenas. A higienização moral na cidade e o estabelecimento de uma remodelagem do corpo social ordenado, eram um dos ideais difundidos pelos setores mais conservadores As denúncias realizadas contra as leituras consideradas imorais, possuíam a preocupação em congregar os ideais católicos com o discurso jurídico em prol da civilização e do progresso. Nesses discursos, a modernização e a busca da civilização da sociedade seria ameaçada pela imoralidade, o que acarretaria na destruição da instituição familiar. Os jornais noticiavam constantemente o esforço pela proibição dos impressos e textos sediciosos, sendo essas leituras, tratadas como ocorrências patológicas que desencadeariam o fim de uma sociedade civilizada e ordenada. Colocando os homens de letras, sejam pela imprensa, literatura ou teatros, como os causadores das “moléstias”, enquanto esses buscavam abranger muitos leitores. A censura ocorria nos impressos sendo: textos literários, na imprensa e também nos teatros. O era imoralidade nesse período? Discutindo, então, sobre a concepção de moral no início do século XX, na cidade do Rio de Janeiro, ela esteve ligada a um tipo de conduta, ideais e práticas voltados a convicções de progresso econômico e ao processo de modernização urbana. A imoralidade denunciada pela imprensa local e combatida pela polícia esteve ligada principalmente a preceitos relacionados a uma conduta sexual ilícita que contrariava o modelo socialmente aceito oriundo das doutrinas religiosas cristãs. As temáticas Esses impressos eram classificados como uma leitura “para homens” eram “direcionados exclusivamente ao público masculino, em função dos possíveis efeitos perniciosos sobre o caráter das senhoras e das moçoilas de boa família”, eram classificados como pornografia, pois explorava, em seus editoriais, enredos com amores reprovados socialmente devido à perda da virgindade, traição matrimonial, personagens como padres e freiras que não cumpriram com seus votos de castidade e o cotidiano das áreas e casas de prostituição EL FAR, Alessandra. Páginas de sensação: literatura popular e pornográfica no Rio de Janeiro (1870-1924). São Paulo. Companhia das Letras, 2004. p.187. Nesse contexto, surgiu, em 1912, a Liga Anti-Pornografia, que se transformou, em 1917, na Liga pela Moralidade, vinculada à União Católica Brasileira. Ambas tinham o objetivo de combater a pornografia e contribuir para o saneamento moral da sociedade brasileira. Tanto a Liga Anti-Pornografia quanto a Liga pela Moralidade requisitaram os trabalhos da polícia do Rio de Janeiro para auxiliar na defesa de seus interesses A partir de então passaram a ocorrer confiscos de folhetos e cartões-postais com conteúdo sediciosos pelas ruas do Rio de Janeiro. O código republicano, no entanto, não fazia referência a proibições de veiculação de obras ou imagens obscenas, o que tornava essa iniciativa de censura bastante controversa O Gato: Álbum de Caricaturas 06\04\1912 O Riso: semanário artístico e humorístico 14/11/1912 Em 1923, surgiu uma nova lei, que proibia a venda e a circulação de livros, folhetos, periódicos ou jornais, gravuras, estampas, pinturas ou impressos de qualquer natureza que contivessem ofensas à moral e aos bons costumes. Como a principal preocupação do discurso moral da igreja desse período foi a manutenção da família, as noções de feminilidade e de masculinidade foram vinculadas também aos ideais de maternidade e de paternidade dentro de valores cristãos. Com o passar do tempo, paulatinamente essas concepções começaram a convergir com os interesses do Estado no forjamento de um ideal de Nação. Estado Novo Sob o governo de Getúlio Vargas, a igreja encontrou as condições necessárias para a realização de seu intento, recristianizando as estruturas sociais e as dotando de um fundamento doutrinário católico. Se esse foi um projeto colocado em prática a partir dos anos de 1930 e de uma aliança com a esfera pública, as bases para a sua realização já apareciam no discurso católico décadas antes. Como a organização do apostolado laico se mostrava um elemento essencial para a realização desse processo, a igreja investiu fortemente em projetos educativos, capazes de fornecer os elementos necessários para o projeto restaurador católico.