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Universidade Estadual de Londrina

Igreja Católica e Política na


Primeira República

Jessica Caroline Taveiras


Contexto
Com o final do Império no Brasil, a Igreja foi separada
do Estado.
Nesse sentido, a primeira constituição republicana
registrava a laicidade do Estado e a possibilidade de
liberdade de culto a todas as religiões no país.
Nas primeiras décadas do século XX no Brasil, a igreja
católica procurava recuperar seu lugar de privilégio
tanto no nível das consciências dos indivíduos, quanto
no âmbito político.
Assim investiu de forma extensiva na divulgação de
suas ideias por meio da imprensa e no combate
às “más leituras”.
Nesse cenário, o franciscano Pedro Sinzig e
grupos de leigos vinculados ao Centro da Boa
Imprensa e à Liga pela Moralidade voltaram-se
para um amplo projeto de saneamento de textos
literários.
As campanhas moralizadoras tiveram início progressivo.
Promovidas simultaneamente por Belisário Távora, chefe de
polícia e Joaquim Ignácio Tosta, diretor dos correios na
capital, juntamente com o Círculo Católico buscavam proibir a
circulação por meio dos correios de postais, desenhos,
artefatos e publicações obscenas.
A higienização moral na cidade e o estabelecimento de uma
remodelagem do corpo social ordenado, eram um dos ideais
difundidos pelos setores mais conservadores
As denúncias realizadas contra as leituras
consideradas imorais, possuíam a preocupação em
congregar os ideais católicos com o discurso jurídico
em prol da civilização e do progresso.
Nesses discursos, a modernização e a busca da
civilização da sociedade seria ameaçada pela
imoralidade, o que acarretaria na destruição da
instituição familiar.
Os jornais noticiavam constantemente o esforço pela
proibição dos impressos e textos sediciosos, sendo
essas leituras, tratadas como ocorrências patológicas
que desencadeariam o fim de uma sociedade
civilizada e ordenada. Colocando os homens de
letras, sejam pela imprensa, literatura ou teatros,
como os causadores das “moléstias”, enquanto esses
buscavam abranger muitos leitores.
A censura ocorria nos impressos sendo: textos
literários, na imprensa e também nos teatros.
O era imoralidade nesse
período?
Discutindo, então, sobre a concepção de moral no
início do século XX, na cidade do Rio de Janeiro,
ela esteve ligada a um tipo de conduta, ideais e
práticas voltados a convicções de progresso
econômico e ao processo de modernização urbana.
A imoralidade denunciada pela imprensa local e
combatida pela polícia esteve ligada principalmente
a preceitos relacionados a uma conduta sexual
ilícita que contrariava o modelo socialmente aceito
oriundo das doutrinas religiosas cristãs.
As temáticas
Esses impressos eram classificados como uma leitura “para
homens” eram “direcionados exclusivamente ao público
masculino, em função dos possíveis efeitos perniciosos
sobre o caráter das senhoras e das moçoilas de boa
família”, eram classificados como pornografia, pois
explorava, em seus editoriais, enredos com amores
reprovados socialmente devido à perda da virgindade,
traição matrimonial, personagens como padres e freiras que
não cumpriram com seus votos de castidade e o cotidiano
das áreas e casas de prostituição EL FAR, Alessandra.
Páginas de sensação: literatura popular e pornográfica no
Rio de Janeiro (1870-1924). São Paulo. Companhia das
Letras, 2004. p.187.
Nesse contexto, surgiu, em 1912, a Liga Anti-Pornografia,
que se transformou, em 1917, na Liga pela Moralidade,
vinculada à União Católica Brasileira. Ambas tinham o
objetivo de combater a pornografia e contribuir para o
saneamento moral da sociedade brasileira. Tanto a Liga
Anti-Pornografia quanto a Liga pela Moralidade requisitaram
os trabalhos da polícia do Rio de Janeiro para auxiliar na
defesa de seus interesses
A partir de então passaram a ocorrer confiscos de
folhetos e cartões-postais com conteúdo sediciosos
pelas ruas do Rio de Janeiro. O código republicano,
no entanto, não fazia referência a proibições de
veiculação de obras ou imagens obscenas, o que
tornava essa iniciativa de censura bastante
controversa
O Gato: Álbum de Caricaturas 06\04\1912
O Riso: semanário artístico e
humorístico 14/11/1912
Em 1923, surgiu uma nova lei, que proibia a
venda e a circulação de livros, folhetos,
periódicos ou jornais, gravuras, estampas,
pinturas ou impressos de qualquer natureza
que contivessem ofensas à moral e aos bons
costumes.
Como a principal preocupação do discurso
moral da igreja desse período foi a
manutenção da família, as noções de
feminilidade e de masculinidade foram
vinculadas também aos ideais de
maternidade e de paternidade dentro de
valores cristãos. Com o passar do tempo,
paulatinamente essas concepções
começaram a convergir com os interesses do
Estado no forjamento de um ideal de Nação.
Estado Novo
Sob o governo de Getúlio Vargas, a igreja encontrou as
condições necessárias para a realização de seu intento,
recristianizando as estruturas sociais e as dotando de um
fundamento doutrinário católico. Se esse foi um projeto
colocado em prática a partir dos anos de 1930 e de uma
aliança com a esfera pública, as bases para a sua
realização já apareciam no discurso católico décadas antes.
Como a organização do apostolado laico se mostrava um
elemento essencial para a realização desse processo, a
igreja investiu fortemente em projetos educativos, capazes
de fornecer os elementos necessários para o projeto
restaurador católico.

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