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Ao longo da história da humanidade diferentes povos cultuavam diferentes religiões,

veneravam diferentes divindades e praticavam diferentes ritos, mas quando esses povos se
encontravam essas diferenças se tornavam motivos de conflitos, guerra, caos e ódio, isso é
o que hoje chamamos de Intolerância Religiosa.

A religião é um dos aspectos culturais de um povo e traz em si uma interpretação sobre o


mundo, a vida e as relações sociais. Principalmente em tempos antigos, era ela quem
influenciava as ações, as estruturas da sociedades e seus costumes.

Muitos povos sofreram intolerância religiosa ao longo dos anos, e sofrem até hoje, algumas
das intolerâncias mais emblemáticas foram as sofridas pelos judeus, cristãos e povos de
matriz africana.

O histórico de perseguição ao povo judaico é extensa desde 1095, onde foram acusados de
serem responsáveis pela morte de Jesus Cristo, o que resultou na perda de milhares de
vidas judias na durante a Santa Inquisição. Mais tarde, já na idade moderna os judeus
passaram a ter certa liberdade religiosa que mais tarde deu origem ao maior massacre da
história, o holocausto da Alemanha nazista que resultou na morte de aproximadamente 6
milhões de judeus.

Já as principais perseguições ao povo cristão aconteceram durante o império romano, a


falta de compatibilidade da cultura romana e a doutrina cristã, pois naquela a vida o
sofrimento humano eram mercadorias, espetáculos armados para alvoroçar multidões,
princípios totalmente contrários a fé cristã que pregava a igualdade e a empatia. E então
devido a grande expansão do cristianismo na época os imperadores viam uma ameaça
potencial.

A intolerância religiosa contra as práticas africanas, assim como o racismo, é uma herança
do Brasil dos tempos da colonização, com a imposição da religião cristã dos europeus sobre
as religiões de matrizes africanas.
Desenvolvimento

● Identificar os crimes contra a liberdade religiosa

Todo indivíduo, tanto aqueles que possuem uma religião e exercem sua crença, quanto os
que não têm religião, têm o direito e é amparado por lei para manifestar sua ideologia ou fé
por uma determinada religião.

Caso esse direito seja desrespeitado a infração penal prevê pena de um mês a um ano ou
multa, a qualquer pessoa que publicamente, por motivo de crença ou função religiosa,
impeça ou perturbe as cerimônias ou prática de culto religioso e despreze publicamente ato
ou objeto de culto religioso alheio.

Para o diretor do Departamento de Polícia Judiciária Especializada (DPJE), delegado


Márcio Gutierrez, é essencial que as pessoas tomem conhecimento sobre seus direitos, no
que diz respeito à manifestação religiosa. “Quando a pessoa tem preconceito ou
discriminação por sua religião ou se manifesta contra a sua escolha religiosa e não permite
que você exponha sua opinião ou pratique sua religiosidade, isso se configura como crime.
Seja ele por meios sociais ou pessoalmente. Ressalto que o artigo 20 da lei nº 7.716/1989
(Lei Preconceito ou Racismo) diz que é crime praticar, induzir ou incitar a discriminação ou
preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”.
.
● Possíveis Motivações

O fundamentalismo religioso – prática que classifica algumas doutrinas como verdade


absoluta a ser seguida – é um dos principais motivadores para mentalidades e
comportamentos intolerantes.
● Introdução ao Brasil

O nosso país tem uma ligação intrínseca com a intolerância religiosa, nas mais diversas
culturas do Brasil há pegadas dela, seja nos modos como as religiões são praticadas, seja
nas nossas falas, vocabulário e expressões, infelizmente em muitos casos essas ações são
pejorativas.

Isso acontece porque desde de a colonização, grande parte do processo de formação do


país está relacionado com a intolerância religiosa que ocasionaram perseguições contra
negros e índigenas e a guerra justa.

Durante o período colonial, a religião católica não admitia nenhuma outra religião e as
crenças indígenas e africanas passaram a ser vistas como maléficas e, portanto,
desprezadas e rechaçadas.

A partir dessa ideia, em um primeiro momento, a Guerra Justa se estabeleceu no Brasil, ela
seria o meio de justificar os ataques portugueses às nações indígenas que viviam na
américa. Ela era executada por meio das missões jesuíticas, indígenas que não queriam ser
catequizados eram mortos ou aprisionados, os que aceitavam podiam viver em paz desde
que seguissem a religião cristã.

Essas perseguições, com o início do tráfico negreiro e a escravização, se direcionaram ao


povo negro, a intolerância religiosa se tornou mais intensa contra as religiões de matriz
africana, eles foram obrigados a adotar várias estratégias, como esconder suas divindades
em imagens católicas.

Com isso também temos a invisibilização de elementos e simbologias fundamentais à


construção do país. O apagamento da cultura africana e do povo nativo foi uma missão
iniciada com os Jesuítas e que persiste até hoje.
● Brasil nos tempos atuais

1. Manchetes em sequência:

a) “Em nome de Jesus”, bandidos destroem terreiro no Rio;

https://veja.abril.com.br/brasil/em-nome-de-jesus-bandidos-destroem-terreiro-no-rio/

b) Estudo mostra que religiões de matrizes africanas foram alvo de 91% dos ataques
no RJ em 2021;

https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2022/01/22/estudo-mostra-que-religioes-de-matr
izes-africanas-foram-alvo-de-91percent-dos-ataques-no-rj-em-2021.ghtml

c) Intolerância religiosa e o risco da impunidade;

https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/renato-freitas-invasao-missa-curitiba/

d) Polícia do Rio indicia 10 traficantes por ataques a templos de religião africana;

https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2017/09/14/policia-do-rio-indicia-10-trafi
cantes-por-ataques-a-templos-de-religiao-africana.htm

e) Entidades lançam pesquisa inédita para mapear racismo e violência religiosos no


Brasil;

https://www.brasildefato.com.br/2022/03/17/entidades-lancam-pesquisa-inedita-para-mapear
-racismo-e-violencia-religiosos-no-brasil

2. Depoimentos e Recortes das Notícias:

a) “Fui expulsa pelo tráfico”,” Vivo e, se precisar, morro pelo candomblé”, “Não posso
voltar lá, porque a área é dominada pelos traficantes”.

b) “relatório feito pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa mostra que as


religiões de matrizes africanas foram as que mais sofreram ataques no ano
passado", “Foram 47 denúncias, a maior parte contra as religiões de matrizes
africanas”.

c) No sábado, um grupo liderado pelo vereador petista Renato Freitas invadiu uma
missa católica na igreja de Nossa Senhora do Rosário, no Centro de Curitiba, e
forçou a interrupção da cerimônia religiosa.
Manifestantes com bandeiras do PT e do PCB forçaram a entrada na igreja e
passaram a gritar palavras de ordem como “racistas” e “fascistas”. O que
teoricamente era um protesto contra a morte do congolês Moïse Mugenyi e de
Durval Teófilo Filho, ambos recentemente assassinados, se tornou um ato político
com críticas ao presidente Jair Bolsonaro e aos católicos, que o teriam ajudado a
chegar ao poder nas eleições de 2018.

d) “A gente percebe que tem um mini Estado Islâmico se formando no Rio. Um braço
armado. Já não basta toda a opressão nas comunidades, agora tem mais essa? São
traficantes destruindo e oprimindo a liberdade religiosa”, destaca o Deputado Carlos
Minc, que se manifestou sobre o caso.

e) “No ano de 2021, foram feitas 571 denúncias de violação à liberdade de crença no
Brasil”, “Só no Rio de Janeiro, em 2020, foram registrados mais de 1,3 mil crimes
que podem estar ligados à intolerância religiosa”.
● Pontos de Luz

Quando olhamos para essas situações é normal enxergarmos apenas escuridão e


desespero, mas é preciso acreditar, mesmo nessa imensidão de caos há pontos de luz, há
pontos de esperança, onde podemos nos apoiar e confiar.
Com o avanço da discussão sobre intolerância religiosa muitas ações foram sendo
desenvolvidas, seja para informar, conscientizar e educar, ou para proteger e acolher
vítimas da intolerância. Podemos citar exemplos como a vitória da Grande Rio sobre a ,
protestos e eventos contra a intolerância e a criação de ONGs.

A Grande Rio obteve o primeiro título de sua história ao desmistificar a divindade de origem
africana Exu, figura que muitas vezes enfrenta o preconceito de grupos cristãos que a
associam ao diabo.
Com imponentes carros alegóricos, coreografias e figurinos elaborados durante meses, a
escola abordou as diferentes facetas de Exu, orixá dos cruzamentos e do movimento,
responsável pela comunicação entre humanos e divindades em religiões como o candomblé
e a umbanda.

Protestos como o 3° Encontro Pelo Fim da Intolerância Religiosa O evento, organizado pela
comunidade das religiões de matriz africana de Ponta Grossa a fim de reforçar que o estado
é laico e que todos têm o direito de ter a sua religião respeitada.
E o grupo chamado Juventude Inter-Religiosa do Rio de Janeiro (JIRJ) “O principal objetivo
do grupo é promover o diálogo, o respeito entre as religiões, já que no meio juvenil a gente
vê tantas desavenças em relação à religiosidade”, diz a fiscal tributária Aline Barbosa
Almeida, de 26 anos, secretária-executiva do JIRJ.

O Núcleo de Atendimento às Vítimas de Intolerância Religiosa (Navir) é inaugurado em


Nova Iguaçu: O núcleo vai procurar atender todas as vítimas de intolerância religiosa não só
de Nova Iguaçu, como de toda a Baixada. A ideia é criar um banco de dados de vítimas
desse crime para que os casos sejam acompanhados com mais eficácia, assim como os
boletins de ocorrências feitos em delegacias.

● Conclusão

O choque entre diversos povos gerou diversos embates e conflitos no passado, infelizmente
ainda acontecem inúmeros casos de intolerância, mas com o decorrer dos séculos a
situação mudou muito, leis para defender a prática livre de religiões foram criadas, as
pessoas tem mais e mais liberdade religiosa, hoje em dia elas podem em muitas vezes falar
abertamente sobre suas religiões. Na própria sociedade vem surgindo agentes que
semeiam a liberdade religiosa. Mas temos que fazer a nossa parte e respeitar uns aos
outros independente do crédulo ou religião.

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