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É importante destacar que essa violência não é de hoje. Ela é parte do sistema racista que estrutura a nossa
sociedade. Não se trata apenas de intolerância, trata-se de racismo. É um extermínio de toda a prática negra das
religiões de resistência do Brasil
origens da violência contra essas crenças estão na escravidão, processo que “sequestrou milhões de pessoas de
diferentes etnias africanas, separou famílias e tentou destruir formas de cultura que não fossem brancas e
europeias”. “O europeu não teria feito a colonização só por meio de armas. Estado e Igreja eram braços da
colonização, e serviam para desumanizar os povos sequestrados, tornando aceitável a sua escravização”
Neste contexto, os povos africanos trazidos à força ao Brasil criaram ou adaptaram as religiões que aqui
encontraram: enquanto o Candomblé foi criado no Brasil a partir da “importação” de diferentes cultos de origem
africana, a Umbanda é uma mistura de elementos das religiões indígenas, africanas e católica. Elas nasceram,
portanto, como forma de resistência ao colonialismo e ao catolicismo, que impunha a escravidão como “única
forma de salvar a alma dos negros”
As “novas” religiões foram criminalizadas em um processo semelhante àquele experimentado pelo paganismo na
Europa – que vivia então o auge da caça às bruxas. Mesmo após a independência do Brasil, as crenças de matriz
africana continuaram a ser marginalizadas: “No Brasil República, em vez de heresia, elas passaram a ser tratadas
como expressão de inferioridade racial”
Ao longo do século 19, sob as diretrizes do higienismo, a polícia apreendeu imagens de orixás, ferramentas de
culto e outros objetos sagrados que até hoje estão em posse do Museu da Polícia Civil. “Mais de um século depois,
fiéis e descendentes dos pais de santo da época ainda lutam para tirar essas peças do de lá e levá-las de volta para
os terreiros”
A violência seguiu nos anos 1930 durante o governo de Getúlio Vargas, quando, segundo Gonçalves, as crenças
afro-brasileiras tomaram proporções de “atraso cultural”. Terreiros foram invadidos e destruídos pelo Estado,
batuques de tambores e atabaques foram proibidos e a prática da imolação animal passou a ser encarada como
“anti-higiênica e cruel”. Tudo isso enquanto a intelectualidade começava a se interessar por essas religiões e o
samba nascia nos mesmos nos mesmos terreiros criminalizados. “Se popularizava, ali, o mito da democracia
racial, que até hoje existe e faz com que a opinião pública ache exagero falar em racismo”
Relatório e dados
A Comissão de Combate à Intolerância Religiosa - CCIR, criada em 2008, aliou os dados estaduais a números
nacionais, informações de outros institutos e relatos de três diferentes pesquisas acadêmicas.
Os dados do Disque 100, criado pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos, apontam 697 casos de intolerância
religiosa entre 2011 e dezembro de 2015, a maioria registrada nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas
Gerais. No Estado do Rio, o Centro de Promoção da Liberdade Religiosa e Direitos Humanos (Ceplir), criado em
2012, registrou 1.014 casos entre julho de 2012 e agosto de 2015, sendo 71% contra adeptos de religiões de
matrizes africanas, 7,7% contra evangélicos, 3,8% contra católicos, 3,8% contra judeus e sem religião e 3,8% de
ataques contra a liberdade religiosa de forma geral.
Dentre as pesquisas citadas, um estudo da PUC-Rio sugere que há subnotificação no tema. Foram ouvidas
lideranças de 847 terreiros, que revelaram 430 relatos de intolerância, sendo que apenas 160 foram legalizados
com notificação. Do total, somente 58 levaram a algum tipo de ação judicial.
O trabalho também aponta que 70% das agressões são verbais e incluem ofensas como "macumbeiro e filho do
demônio", mas as manifestações também incluem pichações em muros, postagens na internet e redes sociais,
além das mais graves que chegam a invasões de terreiros, furtos, quebra de símbolos sagrados, incêndios e
agressões físicas.
Canal funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana, para denúncias de violações aos direitos humanos
O Ministério dos Direitos Humanos (MDH) possui um serviço de atendimento específico para violação de direitos
humanos. Por meio do Disque 100, que funciona 24 horas, todos os dias da semana, o cidadão pode denunciar
todo tipo de ato dessa natureza – entre eles, naturalmente, o desrespeito à diversidade religiosa.
O serviço também funciona pela internet, para comentários ou posts on-line, na página www.disque100.gov.br.
Basta selecionar o tema da denúncia, inserir o link e o comentário denunciado. Tanto as ligações recebidas pelo
Disque 100 quanto os registros pelo site podem ser anônimos e sigilosos, se o denunciante assim optar. De acordo
com o MDH, “as denúncias recebidas são analisadas e encaminhadas aos órgãos de proteção, defesa e
responsabilização em direitos humanos, no prazo máximo de 24 horas”.
Informações necessárias para denúncia
1. Quem sofre a violência? (Vítima)
2. Qual tipo violência? (Violência física, psicológica, maus tratos, abandono etc.)
3. Quem pratica a violência? (Suspeito)
4. Como chegar ou localizar a Vítima/Suspeito
5. Endereço (estado, município, zona, rua, quadra, bairro, número da casa e ao menos um ponto de referência
concreto e que define um lugar específico)
6. Há quanto tempo? (frequência)
7. Qual o horário?
8. Em qual local?
9. Como a violência é praticada?
10. Qual a situação atual da vítima?
11. Algum órgão foi acionado?
Intolerância religiosa é crime: em defesa do Estado Laico e preservação da
dignidade da pessoa humana.
Vivemos em um país LAICO, onde a liberdade religiosa deve ser respeitada, tendo como princípio a
imparcialidade em assuntos religiosos, NÃO APOIANDO OU DISCRIMINANDO NENHUMA RELIGIÃO,
com fulcro no artigo XVIII da Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinada em 1948, sendo esta uma
garantia constitucional, conforme dispõe o artigo 5º, inciso VI, da Constituição Brasileira de 1988:
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos
religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;"
Há casos em que, o “ser intolerante” se acha no “direito” de desmoralizar pessoas e símbolos religiosos de
outras denominações, chegando até à agressão física, perseguição e outros tipos de fanatismos, que não devem
ser aceitos em uma sociedade que busca a evolução, fraternidade e igualdade de direitos.
Vale ressaltar que, intolerância religiosa que recai em discriminação, tipifica crime. A Lei 9.459, de 1997,
considera crime a prática de discriminação ou preconceito contra religiões. Ninguém pode ser discriminado em
razão de credo religioso. O CRIME de discriminação religiosa é INAFIANÇÁVEL – o acusado não pode pagar
fiança para responder em liberdade - e IMPRESCRITÍVEL, ou seja, o acusado pode ser PUNIDO a QUALQUER
TEMPO.
A pena prevista para este crime é de: reclusão por um a três anos e multa.
Segundo a Secretaria de Direitos Humanos, as denúncias pelo canal “Disque 100”, em razão de crimes de
discriminação às crenças religiosas, cresceram mais de 600%, constatando a urgência de uma mudança de postura
e mentalidade por parte de alguns.
Diga não a intolerância religiosa: em defesa do Estado Laico e preservação da dignidade da pessoa humana.
Umbanda
A Umbanda é uma religião afro-brasileira surgida em 1908 fundada por Zélio Fernandino de Moraes.
A palavra "umbanda" pertence ao vocabulário quimbundo, de Angola, e quer dizer "arte de curar”
Suas crenças misturam elementos do candomblé, do espiritismo e do catolicismo.
Também tem Jesus como referência espiritual e não é raro encontrar sua imagem em lugar destacado nos altares
das casas ou de terreiros de umbanda.
O local para a realização das cerimônias da umbanda chama-se Casa, Terreiro ou Barracão. Igualmente, são feitas
várias celebrações ao ar livre, junto à natureza, em rios, cachoeiras ou na praia.
Essas cerimônias são presididas por um “pai” ou “mãe”, um sacerdote que dirige os ritos e comanda a casa.
Também é responsável por ensinar a doutrina e os segredos da umbanda aos seus discípulos.
Na Umbanda não se pratica o sacrifício de animais e se celebra rituais de batizado, consagração e casamento.
Acreditam nos orixás e em guias espirituais. Estes podem se incorporar durante certas cerimônias e vir a Terra
para ajudar as pessoas que necessitam.
Os guias são denominados “entidades” e cada orixá possui uma linha de entidades que o auxilia.