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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO

Disciplina: Sociedade e cultura


Nome: João Victor da Silva Oliveira - 201820458
Caroline Balbino Morais - 201620313
Curso: Ciências Biológicas

Intolerância religiosa
contra religiões de matrizes africanas

1º/ 2022
1- Introdução:

O presente trabalho propõe-se realizar uma exposição acerca das ações violentas de
cunho verbal ou físicas às instituições de religiosidade africana ou aos seus adeptos. A fim
de analisar o contexto histórico do surgimento da cultura negra no brasil e os efeitos que o
ideal imperialista de raça trouxe para a formação da sociedade etnocêntrica atual.
As reportagens e pesquisas que darão base ao estudo se chamam: “Por que as religiões
de matriz africana são o principal alvo de intolerância no Brasil?" Escrito por Jefferson Puff
e publicado pela BBC News Brasil em 2016 com apoio qualitativo da matéria feita pela
rádio câmara: "Aumento da intolerância religiosa no país preocupa deputados" e
quantitativo por meio de análises do censo demográfico cultural feito pelo IBGE em 2010
onde relaciona a distribuição religiosa dentro do Brasil.
Com isso a reportagem enfatiza para o leitor um resumo sobre a cultura religiosa afro
descendente, mostrando com foco central em relatos de seus adeptos as dificuldades
decorrentes do preconceito para que estabeleça a realização de livre culto. Ela também
enfatiza a importância deste patrimônio religioso para a riqueza da diversidade cultural
brasileira que é desvalorizado e demonizado por outras instituições sociais extremistas de
cunho religioso que são maioria nas principais instituições de decisões parlamentares que
influenciaram as práticas sociais.

2- Processo histórico

As práticas religiosas recriadas pelos negros durante a sua chegada na sociedade


brasileira são marcadas como um exemplo de resistência pois esses povos de diferentes
localidades de África, vieram em condições de escravos pelos portugueses no período das
grandes navegações. Nesse período os povos de origem europeia tinham o pensamento
de segregação de raça ficando impregnado nas ações políticas e sociais.
Com o crescente desenvolvimento de novas tecnologias para a propiciação da busca de
novas conquistas em outras localidades. As grandes navegações tiveram um grande
aumento. Decorrendo assim o encontro de povos negros na África. Por terem uma pele
mais escura e seu comportamento ser diferente do povo europeu, onde as práticas de
alimentação, vestuário, linguagem e comportamento se apresentavam de forma mais
simplória, a ideia de superioridade europeia se colocou em prática onde categorizou o
negro como pagão por não ter um comportamento religioso católico, e o estabeleceu como
"animal" por não ter uma semelhança comportamental ao branco. Esse pensamento fez
com que houvesse um exercício da força ao povo negro para sua utilização e
comercialização em interesse próprio em lavouras ou trabalhos sem remuneração.
Nesse processo escravagista milhares de negros vieram para o primórdio da sociedade
brasileira onde tiveram seus direitos culturais violados pois não podiam utilizar sua
linguagem, não podiam praticar seu culto religioso de forma livre ou em qualquer
momento, serviram de mão-de-obra em plantações sofrendo com perseguições e
violências de vários tipos perdendo suas origens e identidades.
Para compreender essa prática intolerante, deve-se analisar a vigência da prática da
religião católica nesse período colonial que impunha a outras culturas sua própria.
Obrigando o uso da prática do clero para a evangelização, e socialização dos povos
escravizados na cultura europeia diminuindo a cultura afrodescendente e indígena.
Essa imposição fez com que os negros praticassem sua fé de forma velada e escondida a
tornando criminal e penalizada. Como forma de luta e resistência os negros usam a
sincretização para cultuar suas divindades. Sendo possível ver seu reflexo hoje com a
comemoração de dias relacionados aos orixás das casas de umbanda e candomblé com
as datas comemorativas católicas.

3- Violência

O autor da reportagem coloca em destaque uma situação de uma jovem de onze anos que
estava vestida com as indumentárias religiosas candomblecistas e foi atingida na cabeça
por uma pedra. Nesse sentido a intolerância religiosa pode ser entendida como um
processo de não reconhecimento da veracidade de sua religião por outra pessoa. A
incapacidade de compreender outra religião que é diferente pode explicar a
concentricidade da prática da ação violenta descrita no começo da reportagem sofrida pela
jovem e demonstra os fatores que levam à vandalização das instituições de matrizes
africanas.
Desde o surgimento as religiões de influência africana são alvo de ataques onde seus
ancestrais eram perseguidos, criminalizando suas práticas. A sociedade colonial discrimina
a religiosidade negra como "magia negra", "feitiçaria" pois não tinham a compreensão e
nem o domínio sobre a cultura africana. A composição rítmica, com atabaques, as
incorporações de divindades com manifestação corporal criaram nos brancos o fator do
medo, com o intuito de se proteger contra ataques físicos. Com isso houve um aumento na
perseguição que eram disseminadas pela igreja católica. Na sociedade atual as
discriminações persistem, mas sob uma nova perspectiva sendo em espaços públicos e
privados como podemos perceber na reportagem.
Com o aumento de adeptos ao longo do tempo ocorre um aumento nos casos de
intolerância religiosa, com ações discursivas de ódio, agressões físicas aos praticantes e
destruição de cultos. Mesmo a livre exercício de culto ser garantida pela constituição
federal desde 1988, várias vidas são atingidas por esses fenômenos sociais.
O autor coloca para o leitor os dados quantitativos do aumento da violência aos adeptos
de religião de matriz africana em relação aos anos. Onde se cria a relação da história de
preconceito e racismo sofrido pelos povos negros desde sua chegada no Brasil até os dias
atuais.
Ao definir essa discussão com base comprovada das denúncias. É possível identificar que
o causador dessas ações são normalmente adeptos de outras religiões mais extremistas,
que disseminam diante de seus fiéis o discurso do ódio, visando qualquer contato social
com outra cultura, comportamento e ideal. Esses grupos religiosos em relação a outras
minorias estão em maior número em locais de grande representatividade como nas
bancas políticas onde as decisões são discutidas para o melhor convívio social que se
mostra ao ler as notícias diferentes dos comportamentos praticados de forma real.
As causas dessas ações políticas e teológicas são baseadas no interesse próprio desse
movimento que com a leitura da matéria vai se percebendo que os estudiosos relacionam
esse efeito com base nas influências do racismo que é reflexo do processo histórico da
cultura negra onde seu multiculturalismo e sua identidade foi gravemente desumanizada e
desvalorizada.
Fazendo uma análise quantitativa sobre a distribuição religiosa na sociedade brasileira
percebe-se de acordo com o censo do IBGE de 2010, A composição evangélica com
42.275.440 milhões de adeptos, Católicos com 123.280.172 mil, candomblecistas e
umbandistas com 167.363 mil adeptos.

4- Interseccionalidade: Raça
Seu conceito surge de significados biológicos onde sua definição ao decorrer do tempo foi
utilizado como delimitador social por meio da política, promovendo uma hierarquia entre as
pessoas brancas e negras. Com o tempo essa barreira se torna translúcida onde é
perceptível em ações, termos e também é possível perceber com a análise quantitativa de
dados que apontam os efeitos estruturais da sociedade atual.
De acordo com o censo do IBGE de 2010 dentro das religiões de matriz africana existem
277.150 mil adeptos à religiosidade ao lado de 305.728 mil adeptos pardos e negros. Um
fator que chama atenção é a proporção do gráfico exposto pelo centro de pesquisa onde
as religiões afro representam no ano de 2000 cerca 0,3% em relação a outras como
católicas e evangélicas e no censo de 2010 a porcentagem não é significativa.
Analisando a reportagem: “ Aumento da intolerância religiosa no país preocupa deputados”
feito pela rádio câmara apresenta esses dados onde mesmo as religiões de matriz africana
representam 1% da população seus adeptos ainda sofrem com a violência. Demonstrando
que há um relativismo cultural ativo contra a expressão cultural negra, ferindo a laicidade e
os direitos religiosos de todos que são sustentados pela constituição. Trazendo de volta a
discussão sobre os efeitos do racismo do começo da construção da sociedade brasileira
até os dias atuais.
Um fator que expõe esse discurso de ódio contra a minoria religiosa é o aumento da falta
de representatividade religiosa nas decisões políticas, sendo que no parlamento dos 181
deputados e 8 senadores 80% dos partidos possuem a frente evangélica. Esse grupo
religioso em sua maioria extremista tem um discurso mais ativo ao ódio que remete ao
racismo criado pelos povos brancos da idade moderna se aplicando na sociedade atual
ocultando atrás da sua religiosidade impondo-a como a correta, por não entender que a
alteridade e o respeito são fatores importantes para a manutenção do convívio social.
Decorrente disso, a falta de representatividade torna mais difícil a criação de leis,
instituições, e programas que viabilizem a diminuição da violência contra adeptos e das
instituições físicas do culto afro descendente.

5- Interseccionalidade: Classe
Com base do processo histórico pode-se perceber que os negros pós escravidão não
obtiveram o acesso a todos a outros nívelamentos sociais sendo marginalizados por conta
do racismo evidente e foram obrigados a se estabelecer nas periferias das cidades.
Decorrente a barreira social imposta pelo racismo e relativismo cultural, os negros não
adquiriram seus direitos como cidadões diante da sociedade, que nada mais é que o
acesso à emprego, educação e direito politico ao voto. Causando um empobrecimento
desse grupo etnico onde verá resquícios dessas ações discriminatórias até nos dias
atuais.
As religiões de matriz africana surgem nesse contexto periférico onde se localizavam em
morros com muita vegetação para facilitar a visualização de possíveis ataques, pois no
período a prática de expressão cultural negra como capoeira, ou culto religioso como
candomblé eram vistos como crime.
Um dos reflexos desse contexto racista contra essa minoria étnica pode ser observado por
meio dos dados de censo o IBGE de 2010 que mostra que relacionado a religiões de
matrizes africanas (umbanda e candomblé) 21.695 mil adeptos não possuem rendimento
econômicos recebendo menos de uma salário mínimo e apenas 9.163 mil pessoas
recebem até um salário mínimo onde a maioria de adeptos dessas religiões são
compostas por negros e pardos.

6- Interseccionalidade: Gênero
Nas relações que envolvem a discussão de gênero nas religiões de matriz africana é
possível perceber uma grande divisão de papéis entre homens e mulheres dentro do
terreiro. No candomblé, por exemplo, as mulheres desempenham funções que
desencadeiam a perpetuidade do culto ao longo do tempo, podendo exemplificar no
candomblé por exemplo a responsabilidade de criação dos iniciados dentro da
religiosidade. Dentro da hierarquia dessas religiões, tanto mulheres quanto homens podem
ocupar os postos mais altos dentro do culto denominados de Yalorixás e Babalorixás.
Com um olhar panorâmico de acordo com o processo histórico e vivência dentro da
religião e com o levantamento da pauta sobre a atuação feminina no candomblé, pode-se
perceber uma maior quantidade de yalorixás à frente dos terreiros. Podendo-se analisar
com base no censo o IBGE de 2010 sobre o gênero masculino e femino no candomblé e
umbanda com 269.488 mil homens dentro dessa religião em oposição a maioria feminina
com 319.310 mil mulheres adeptas a religião.
Uma das várias instituições religiosas cancomblecistas chamada "Casa Branca do
engenho velho" é fundada por uma princesa africana chamada Yá nasso na bahia, essa
fundação já demonstra o papel fundamental da mulher mesmo diante da escravidão para o
desenvolvimento cultural da religião afro. O culto é primordialmente idealizado e praticado
majoritariamente por mulheres, já os homens desempenham funções de manutenção do
terreiro e proteção que com o tempo foi se disseminando pelo brasil sendo também
agregado homens à frente de suas matrizes. Relatos de filhos de santo demonstram que
esse papel masculino se estabelece por conta da alta violência de policiais e intolerantes
decorrente do preconceito contra a prática religiosa africana.
O estabelecimento da formação das religiões de matriz africana no início do século XIX
afronta a sociedade etnocêntrica e machista da época pois coloca em evidência a mulher
negra como a protagonista a frente de sua minoria religiosa e social na busca de melhores
condições de vida, e também em busca de uma liberdade de sua prática cultura sem o
medo da violência e da depredação contra suas instituições.

7 - Considerações finais
Por meio da análises das reportagens, e da pesquisa do censo do IBGE de 2010 como
objeto deste estudo, é possível concluir que a falta de conhecimento sobre as religiões de
matrizes africanas são alguns dos pilares que garantem a falta de manutenção do bom
convívio em relação à diversidade cultural. Assim se faz preciso a divulgação por meios de
comunicação como rádio e televisão a fim de criar espaços para a discussão de diferentes
pontos de vista religiosos a fim de acessibilizar o fim dessa realidade social conflituosa.
Colocando o multiculturalismo como um meio de fazer uma mudança no contexto desse
racismo estrutural a fim de criar uma interculturalidade por meio de práticas que
possibilitam aos jovens o convívio com as diferentes culturas e também possibilitar seu
estudo e compreensão no ambiente escolar.
Os exemplos citados nas referências de relatos de agressões físicas e simbólicas e no
corpo deste trabalho comprovam a falta de estabilidade emocional e psicológica do outro
que tornam o convívio social segregado e cada vez mais difícil por não ter a consciência
do respeito e da aceitação das diversidades e peculiaridades de cada indivíduo da
sociedade.
O estado tem um papel fundamental na manutenção da integridade pessoal e cultural
desses povos propiciando a criação de leis e de instituições que assegurem a liberdade
para a prática religiosa, sendo assim nas decisões políticas teriam que ser aplicadas sem
o envolvimento pessoal ou religioso dos representantes ali posicionados para colocar em
prática a opinião do povo para seu bom convívio. Diminuindo os efeitos do racismo,
ignorância na sociedade moderna.

Referências

CANDAU, Vera Maria. Direitos humanos, educação e interculturalidade: as tensões entre


igualdade e diferença. Rev. Bras. Educ., v. 13, n. 37, Rio de Janeiro, Abr. 2008. Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/rbedu/v13n37/05.pdf Acesso em: 01 Nov. 2020.

GONÇALVES, Alicia Ferreira. Sobre o conceito de cultura na Antropologia. Cadernos de estudos


sociais. Recife, v. 25, no. 1, p. 061-074, jan./jun., 2010. Disponível em:
https://periodicos.fundaj.gov.br/CAD/article/view/1416/1136 Acesso em: 01 nov. 2020.
PUFF, Jefferson. Por que as religiões de matriz africana são o principal alvo de intolerância no
Brasil?. BBC Brasil, [S. l.], p. 1, 21 jan. 2016. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/160120_intolerancia_religioes_africanas_jp_rm

MARIANO. Agnes. Histórias do povo negro. Disponível em:


https://historiasdopovonegro.wordpress.com/fe-2/maes-de-santo/

Correio braziliense. Bancada evangélica já alcança 80% dos partidos. Disponível em:
https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2022/05/5009738-bancada-evangelica-ja-alcanca-80-
dos-partidos.html

Censo demográfico 2010. Características gerais da população, religião e pessoas com deficiência.
Rio de Janeiro: IBGE, 2012. Disponivel em:
https://censo2010.ibge.gov.br/apps/atlas/pdf/Pag_203_Religi%C3%A3o_Evang_miss
%C3%A3o_Evang_pentecostal_Evang_nao%20determinada_Diversidade%20cultural.pdf

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