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Intolerância religiosa

A intolerância religiosa é uma forma de preconceito por conta da religião.


Geralmente, a intolerância religiosa manifesta-se por meio de discriminação,
profanação e agressões.

A intolerância religiosa é o ato de discriminar, ofender e rechaçar religiões, liturgias


e cultos, ou ofender, discriminar, agredir pessoas por conta de suas práticas
religiosas e crenças. A intolerância religiosa está marcada na história da
humanidade, principalmente porque, no passado, era comum o estabelecimento de
pactos entre as religiões, em especial as institucionalizadas, como o cristianismo, e
os governos.

A religião foi um meio de demarcar o poder político e controlar a população. Houve,


inclusive, um período em que os cristãos foram perseguidos e criminalizados no
Império Romano. Hoje, o pensamento republicano e, em especial, a democracia
impedem que, ao menos teoricamente, exista um vínculo direto entre Estado e
religião, formando o que chamamos de Estado laico.
Infelizmente, a intolerância religiosa ainda é uma realidade que assola comunidades
em todo o mundo. No Brasil, esse problema está relacionado majoritariamente ao
racismo, pois a intolerância religiosa é praticada, em maior escala, contra os
adeptos das religiões de matriz africana. Nesse caso, a intolerância religiosa
carrega uma vontade de anular a crença associada aos povos originários da África

Lei sobre a intolerância religiosa

O Brasil é, ao menos teoricamente e do ponto de vista jurídico, um país laico. Nós


respeitamos, enquanto Estado Nacional, as predisposições estabelecidas na
Declaração Universal dos Direitos Humanos. O artigo 5º da Constituição Federal de
1988 também assegura a igualdade religiosa e reforça a laicidade do Estado
brasileiro.
Para além da garantia constitucional e do pacto estabelecido pela ONU por meio da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, existe a Lei nº 9.459, de 13 de maio de
1997, que em seu primeiro artigo prevê a punição para crimes motivados por
discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Quem praticar,
induzir ou incitar a discriminação por conta dos motivos citados pode ser punido
com um a três anos de reclusão e aplicação de multa. Apesar da clara ofensiva de
punição garantida pela lei 9.459/97, não há uma lei específica para tratar somente
dos casos de intolerância religiosa.
Intolerância religiosa no Brasil

Dados levantados pelo antigo Ministério dos Direitos Humanos apontam que, entre
2015 e 2017, houve uma denúncia de intolerância religiosa a cada 15 horas no
Brasil. O disque 100, número destinado à denúncia gratuita de intolerância religiosa,
inclusive quando praticada por parte de agentes públicos e órgãos estatais, tem
maioria de registros em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, respectivamente.

Segundo as estatísticas, 25% de todos os agressores são identificados como


brancos e 9% das ocorrências dizem respeito a atos praticados dentro de casa. A
maior parte das vítimas de intolerância é composta por adeptos de religiões de
matriz africana. Os católicos (64,4% dos brasileiros) registram 1,8% das denúncias
de intolerância, e os protestantes (22,2% da população) registram 3,8% das
denúncias. Ao mesmo tempo, os adeptos de religiões de matriz africana
(candomblé, umbanda e outras denominações), que, juntos, representam 1,6% da
população brasileira, também representam cerca de 25% das denunciantes de
crimes de ódio e intolerância religiosa.

Já perdi um emprego em uma multinacional onde a chefe dizia que ‘odiava crente”.
“Existe agressão, existe perseguição. Já tive muitas crises de ansiedade. Cheguei a
pensar em desistir”. As frases, respectivamente ditas pelo bispo evangélico Carlos
Damasceno e pelo pai de santo Bruno Vieira, chamam a atenção para o fato de que,
embora de religiões diferentes, ambos já foram vítimas de preconceito inúmeras
vezes. Em Minas Gerais, somente em 2022, de janeiro a novembro, foram
registradas 83 ocorrências tendo o preconceito religioso como causa. Assim como
os dois líderes, outros entrevistados relatam casos de opressão, xingamentos e
violência vivenciados por eles em função da fé.

O assunto sobre intolerância religiosa tomou as redes sociais nos últimos dias, após
um episódio no Big Brother Brasil (BBB). Os participantes Key Alves, Cristian Vanelli
e Gustavo Benedeti foram acusados de serem intolerantes com Fred Nicácio. O trio
declarou “medo” devido à religião do médico.

Segundo os brothers e sister, Nicácio “estava parado fazendo os negócios dele”


durante a noite, o que não os agradou. “Vocês acordaram com o Fred? Vocês não
viram? Eu acordei e ele estava parado em frente à cama de vocês”, disse Cristian,
que já foi eliminado da casa, assim como Gustavo. Tadeu Schmidt precisou intervir
na edição e deu espaço para Fred Nicácio falar da sua crença em uma religião de
matriz africana.

Brasil registra três queixas de intolerância religiosa por dia em


2022; total já chega a 545 no país
Andar até o ponto de ônibus de roupas brancas e colar de contas, a chamada guia,
foi o suficiente para a enfermeira Carolina Viegas, 35, ser atingida por uma lata de
refrigerante, jogada de dentro de um carro, seguido por gritos de "macumbeira" e
"isso é coisa do diabo".

"Eu fiquei desnorteada. A partir desse dia, foi tirada de mim a liberdade de viver. Eu
não podia mais ir a pé, né? Passei a só andar de táxi, com medo, durante o preceito
[semanas em que precisa de vestimentas específicas]", conta ela.
Casos como o de Carolina, que já passou pela umbanda e hoje é do candomblé, se
repetem ao menos três vezes por dia no Brasil. Só neste ano, o país teve 545
denúncias de intolerância religiosa.
Este é o número de queixas recebidas entre janeiro e junho apenas no Disque 100,
serviço para denunciar violações de direitos do Ministério da Mulher, da Família e
dos Direitos Humanos, segundo levantamento feito pela GloboNews.
O estado com mais registros é São Paulo, com 111 denúncias, seguido do Rio de
Janeiro, com 97, Minas Gerais (51), Bahia (39), Rio Grande do Sul (26), Ceará (11)
e Pernambuco (13).

No ano passado, no mesmo período, foram 466 denúncias. Ou seja, 2022 registrou
um aumento de 17%. No primeiro semestre de 2020, foram 498 queixas -- um
aumento agora de 9,4%.
Em todo o ano de 2021, foram 1.017 denúncias, e os estados que lideraram o
ranking eram os mesmos.
O Disque 100 é um serviço de disseminação de informações sobre direitos de
grupos vulneráveis e de denúncias de violações de direitos humanos, como crianças
e adolescentes, pessoas idosas, pessoas com deficiência, população LGBT,
população em situação de rua, entre outros.
O canal do governo federal recebe, analisa e encaminha as queixas para o órgão
responsável pela investigação, proteção ou responsabilização.
O serviço funciona diariamente, 24 horas por dia, incluindo sábados, domingos e
feriados.
As ligações podem ser feitas de todo o Brasil por meio de discagem direta e
gratuita, bastando discar 100.

O serviço é considerado um “pronto socorro” dos direitos humanos e atende graves


situações de violações que acabaram de ocorrer ou que ainda estão em curso,
acionando os órgãos competentes e possibilitando o flagrante.
Qualquer pessoa pode reportar alguma notícia de fato relacionada a violações de
direitos humanos, da qual seja vítima ou tenha conhecimento.
A enfermeira não denunciou por esse canal quando foi vítima. Também não era a
primeira vez. Quando estava na faculdade, precisou raspar os cabelos em um ritual
de iniciação do candomblé, e passou a ver colegas se afastarem na sala e no
refeitório. "Eu ouvia comentários tipo: 'Essa menina é do diabo, mexe com coisa
ruim'", conta ela.
Na residência médica, após se formar enfermeira, também via os colegas do
hospital evitarem fazer plantão junto a ela ou ensinarem os procedimentos.
"Diversas pessoas têm esse tipo de preconceito, independente de classe social ou
nível de estudo", diz.
Mesmo com tantos episódios de preconceito, ela continua saindo com as vestes do
candomblé. "É a representação de quem nós somos. Nossa identidade. Essa
indumentária é parte da minha ancestralidade que eu estou respeitando. Mas hoje,
em meio a tanto ego e vaidade, estão distorcendo a palavra de Deus, de Oxalá, seja
quem for. A mensagem das religiões deveria ser de amor, de paz. Mas alguns
querem ser o dono da verdade, como se fosse o detentor de todo o saber, então é
por isso que existe a intolerância religiosa. Mas somos todos iguais e irmãos.

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