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7.7.2023

A OFENSIVA
DO GOVERNO
LULA
CONTRA O
DISCURSO
DE ÓDIO E O
EXTREMISMO

66
CLUBE DE REVISTAS

/ Capa
A OFENSIVA DO GOVERNO LULA
CONTRA O DISCURSO DE ÓDIO E O
EXTREMISMO
3 | por Ivan Longo
edição #66

/ Política
25 | André Valadão é a isca bolsonarista
para pautar discurso de "perseguição
religiosa", por Plinio Teodoro
conteúdo |

33 | Reforma Tributária: vitória de Lula, de


Haddad e da democracia, por Plinio Teodoro
/ Economia
48 | A nova cartada da base governista
para emparedar Campos Neto e baixar os
juros, por Ivan Longo
/ Global
57 | Mercosul: Lula manda recado duro
para União Europeia, por Iara Vidal
/ Brasil
66 | Treinamento militar para crianças, por
Raphael Sanz
71 | São Paulo: mais imóveis desocupados
do que moradores em situação de rua, diz
IBGE, por Julinho Bittencourt
/ Cultura
77 | Morre Zé Celso, por Julinho Bittencourt
83 | Por que eu odiei a campanha da
Volkswagen com Elis Regina e Maria Rita,
por Marcelo Hailer

87 / Expediente
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Capa

A OFENSIVA
DO GOVERNO
LULA
CONTRA O
DISCURSO
DE ÓDIO E O
EXTREMISMO

por Ivan Longo


Fotos Reprodução
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Palácio do Planalto, ministérios e base


governista no Congresso se mobilizam em
diferentes frentes para combater a cultura
da violência, uma das heranças malditas
de Jair Bolsonaro

O
s atos golpistas do dia 8 de janeiro
evidenciaram que o governo Lula
tem como um de seus principais
desafios, além da construção de políticas que
restabeleçam o desenvolvimento e o bem-estar
social no país, a manutenção da democracia.
Isso passa, necessariamente, pelo
enfrentamento à cultura do ódio e violência
que explodiu no país durante o governo de Jair
Bolsonaro, que foi amplificada por meio das
redes sociais e que, atualmente, é utilizada por
parlamentares e personalidades de extrema
direita como forma de aumentar seus capitais
políticos e até mesmo financeiros.
Nos últimos dias, dois casos evidenciaram a
urgência de se adotarem medidas para combater
o discurso de ódio que oprime inúmeros
segmentos da sociedade e que ameaça o
Estado Democrático de Direito. Trata-se de
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Foto Reprodução
O deputado federal bolsonarista Gustavo Gayer (PL-GO)

manifestações abjetas feitas por duas pessoas


com grande poder de mobilização.
Um dos casos é o do deputado federal
bolsonarista Gustavo Gayer (PL-GO), segundo
parlamentar mais votado em seu estado e um
dos parlamentares com maior influência nas
redes sociais, segundo ranking produzido pela
FSB Pesquisa.
Durante entrevista a um podcast, Gayer, um
contumaz divulgador de fake news, concordou
com a colocação absurda do apresentador
de que africanos teriam o quociente de
inteligência (QI) menor que o de macacos,
sugeriu que a população de países da África é
“burra” e, por isso, “quase todos” os governos
do continente seriam ditaduras e ainda fez o
mesmo ataque aos eleitores do presidente Luiz
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Inácio Lula da Silva.
"Aí você vai ver na África: quase todos os
países são ditaduras. Quase tudo lá é ditadura.
Democracia não prospera na África. Por quê?
Para você ter democracia, é preciso ter o
mínimo de capacidade cognitiva para entender
o bom e o ruim, o certo e o errado. Tentaram
fazer democracia na África várias vezes. O que
acontece? Um ditador toma tudo e o povo
[simula aplausos]. O Brasil está desse jeito. O
Lula chegou à Presidência e o povo burro: 'êeee,
picanha, cerveja!'", disparou o parlamentar.
O outro caso que ganhou destaque foi o
do pastor bolsonarista André Valadão, líder da
Igreja Batista da Lagoinha. Durante um culto
realizado em Orlando, nos Estados Unidos, e
transmitido para milhões de brasileiros por meio
das redes sociais, Valadão incitou os fiéis a
assassinarem pessoas LGBTQIA+.
"Essa porta foi aberta quando nós tratamos
como normal [a homossexualidade] aquilo que
a Bíblia já condena. Agora é hora de tomar
as cordas de volta e dizer: 'não, pode parar,
reseta'. Aí Deus fala 'não posso mais, já meti
esse arco-íris, se eu pudesse, eu matava tudo
e começava tudo de novo. Mas já prometi para
mim mesmo que não posso, então, agora está
com vocês'. Você não pegou o que eu disse:
agora está com você. Eu vou falar de novo: está
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Foto Reprodução
O pastor bolsonarista André Valadão, líder da Igreja Batista da Lagoinha

com você", declarou.


O governo Lula, por intermédio de seus
ministérios e de parlamentares que compõem
sua base no Congresso Nacional, entretanto,
está empenhado em agir contra esse tipo de
manifestação e vem adotando medidas diretas
e indiretas para enfrentar o problema. Os dois
bolsonaristas, logo após os discursos de ódio
em questão, tiveram respostas rápidas.
Gustavo Gayer, por exemplo, tornou-se alvo
da Advocacia-Geral da União (AGU), liderada
por Jorge Messias, e do Ministério da Igualdade
Racial, comandado por Anielle Franco. Ambos
os órgãos acionaram a Procuradoria-Geral da
República (PGR) com uma notícia-crime para
que o deputado seja investigado no âmbito
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criminal por conta da declaração racista.
Segundo a AGU, a fala de Gayer, que chegou
em meio à repercussão do caso a atacar o
ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida,
enquadra-se no crime previsto no art. 20 da
Lei nº 7.716/19 (Lei do Crime Racial), qual
seja: “praticar, induzir ou incitar a discriminação
ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional”.

“A MANIFESTAÇÃO É CLARAMENTE
DISCRIMINATÓRIA, POIS DIFERENCIA
A CAPACIDADE COGNITIVA DE SERES
HUMANOS CONSIDERANDO A ORIGEM
AFRICANA, CONTINENTE EM QUE
SABIDAMENTE A MAIORIA DA POPULAÇÃO
É NEGRA, CONCLUINDO QUE NÃO TERIAM
APTIDÃO PARA COMPREENDER REGIME
DEMOCRÁTICO”, DIZ UM TRECHO DA
NOTÍCIA-CRIME PROTOCOLADA NA PGR.

Além disso, parlamentares da base


governista protocolaram junto ao Conselho
de Ética da Câmara dos Deputados
representações em que pedem a cassação do
mandato de Gustavo Gayer.
No caso de André Valadão, integrantes do
governo e da base de Lula no Congresso também
se mobilizam para puni-lo. O ministro da Justiça,
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Flávio Dino, foi às redes sociais e anunciou que o
pastor será submetido à investigação.

"O SUPOSTO CRISTÃO QUE


PROPAGA ÓDIO CONTRA
PESSOAS, POR VIL
PRECONCEITO, TEM NO
MÍNIMO DOIS PROBLEMAS.
PRIMEIRO, COM JESUS
CRISTO, QUE PREGOU AMOR,
RESPEITO, NÃO VIOLÊNCIA CONTRA
PESSOAS. 'AMAR AO PRÓXIMO COMO A SI
MESMO', DISSE JESUS. SEGUNDO, COM AS
LEIS, E RESPONDERÁ POR ISSO", ESCREVEU
O MINISTRO.

Já o senador Fabiano Contarato (PT-ES),


líder da bancada petista no Senado, protocolou
representação junto ao Ministério Público
Federal (MPF) em que pede a prisão preventiva
do líder da Igreja Batista da Lagoinha.
“Apesar de ele estar nos Estados Unidos, os
telespectadores estão no Brasil, e o Judiciário
brasileiro já tem jurisprudência para tratar casos
assim. Além disso, a homofobia pode ser
enquadrada como crime de racismo, previsto
na Lei 7.716/89, com penas que podem chegar
a cinco anos de prisão”, disse Contarato.
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“EM UM PAÍS EM QUE UMA
PESSOA LGBT É MORTA
A CADA 32 HORAS,
É INADMISSÍVEL QUE
TENHAMOS PESSOAS
QUE SE DIZEM LÍDERES
RELIGIOSAS INCITANDO A
VIOLÊNCIA E O ASSASSINATO EM MASSA.
A LIBERDADE, SEJA DE EXPRESSÃO OU
RELIGIOSA, ACABA QUANDO O DISCURSO
VAI CONTRA A VIDA DE QUALQUER PESSOA.
ESSE HOMEM NÃO REPRESENTA DEUS
E MUITO MENOS OS ENSINAMENTOS
CRISTÃOS. DEUS É AMOR, É UNIÃO, É
RESPEITO, JAMAIS DISCURSO DE ÓDIO E DE
INTOLERÂNCIA”, PROSSEGUIU
O SENADOR.

Enfrentamento ao discurso de ódio e


extremismo como política de Estado
Para além das medidas pontuais adotadas
contra casos específicos, o governo Lula
pretende transformar o combate ao discurso
de ódio em política de Estado. Nesse sentido,
foi lançado, no dia 3 de julho, o “Relatório
de Recomendações para o Enfrentamento
ao Discurso de Ódio e ao Extremismo no
Brasil”, produzido pelo Grupo de Trabalho (GT)
instituído pelo Ministério dos Direitos Humanos
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Foto Reprodução Facebook


Manuela D'Ávila preside o Grupo de Trabalho que teve como objetivo
catalogar o problema do discurso de ódio

com o intuito de catalogar o problema, debater


o assunto e propor políticas públicas voltadas
à temática.
O GT, presidido pela ex-deputada
Manuela D’Ávila, é composto por dezenas
de representantes da sociedade civil, entre
acadêmicos, comunicadores e influenciadores
digitais, além de observadores internacionais,
e conta com nomes como o da antropóloga
Debora Diniz, o professor titular do Instituto de
Psicologia da Universidade de São Paulo (USP)
Christian Dunker e o influenciador Felipe Neto.
Ao longo de quatro meses, o grupo realizou
inúmeras reuniões e se debruçou em pesquisas
com extensa bibliografia para proporcionar um
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raio-X completo sobre o discurso de ódio no
país, focando principalmente na atuação dos
disseminadores da cultura violenta por meio
das redes sociais e elencando quais são os
principais grupos atingidos pelo extremismo.

“NÃO FOI FÁCIL PRODUZIR


UM RELATÓRIO SOBRE
ESSE TEMA. DEBATER AS
POLÍTICAS DE ÓDIO, EM UM
CERTO SENTIDO, É DEBATER
O CARÁTER DA FORMAÇÃO
NACIONAL, NA SUA ORIGEM. O
DESAFIO QUE O MINISTRO NOS PROPÔS
FOI IMENSO. REUNIU MULHERES E HOMENS
DA SOCIEDADE QUE DEDICAM SUAS VIDAS
A ENCONTRAR POLÍTICAS QUE CONSIGAM
'VACINAR' O BRASIL DE DETERMINADOS
PROCESSOS DE ÓDIO.

O relatório que o ministro receberá é de um


Brasil que pode colher frutos. Com solo pronto
para plantar essas sementes”, afirmou Manuela
D’Ávila durante o evento de apresentação do
documento.
O relatório tem 87 páginas e apresenta um
conjunto de estratégias e recomendações para
o enfrentamento do discurso de ódio e do
extremismo a partir dos seguintes temas:
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• Educação e Cultura em Direitos Humanos;


• Escola e Universidade promotoras da Paz
e da Convivência Democrática;
• Internet Segura, Educação Midiática e
Comunicação Popular e Comunitária;
• Proteção às Vítimas dos Discursos de
Ódio;
• Dados e Pesquisas para Subsidiar as
Ações e Políticas Públicas;
• Boas Práticas para Jornalistas e
Comunicadores para Enfrentar o Discurso
de Ódio.

Segundo o documento, que foi dedicado


à antropóloga Adriana Dias, uma das maiores
pesquisadoras sobre o neonazismo no mundo e
que faleceu em janeiro deste ano, as principais
manifestações de ódio e extremismo a serem
enfrentadas são:

• Misoginia e violência contra as mulheres;


• Racismo contra pessoas negras e
indígenas;
• Ódio e violência contra a população
LGBTQIA+;
• Xenofobia e violência contra estrangeiros e
nacionais das regiões Norte e Nordeste;
• Ódio e violência contra as pessoas e
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comunidades pobres;
• Intolerância, ódio e violência contra as
comunidades e pessoas religiosas e não
religiosas;
• Capacitismo e violência contra as pessoas
com deficiência; grupos geracionais mais
vulneráveis ao contágio do extremismo:
jovens e pessoas idosas;
• Atos extremistas contra as escolas,
instituições de ensino e docentes e a
violência decorrente do discurso de ódio;
• Ódio e violência extremista contra
instituições e profissionais da imprensa e da
ciência;
• Violência política, neonazismo e atos
extremistas contra a democracia.

O grupo de trabalho deu grande destaque,


nas recomendações, para a necessidade de
mecanismos que permitam a regulação das
redes sociais e plataformas digitais, conforme
já prevê projeto que tramita na Câmara dos
Deputados e ações que vêm sendo analisadas
pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
"Reforço a necessidade [de regulação das
redes sociais]. Não existe uma sociedade
democrática sem regras. É fundamental que
avancemos para a regulação das plataformas
de rede social. Não existe democracia sem
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Foto Valter Campanato/Agência Brasil


Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos

regras. Quem fala isso é contra a democracia.


Precisamos estabelecer uma regulação, para
que não tenha palco para disseminação de
ódio. Temos que enfrentar com coragem,
isso que a vida nos pede, coragem", pontuou
Silvio Almeida.
Em seu discurso no lançamento do relatório,
o ministro dos Direitos Humanos ainda chamou
atenção para o aspecto lucrativo do discurso
de ódio e enfatizou que aqueles que pretendem
capitalizar com a cultura da violência e da
opressão não terão sossego.
"O ódio é uma mercadoria, no sentido mais
específico do termo, tal como aprendemos
desde o século 19. O ódio, portanto, tornou-se
fonte de lucro para empresas, inclusive aquelas
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que administram as chamadas redes sociais.
Mas, além disso, o ódio tornou-se fonte de
popularidade e uma forma de existência para
pessoas sem escrúpulos, pois sabemos que o
ódio gera engajamento, o que é fundamental
para o que chamamos de economia da
atenção", atestou.

"SABEMOS TAMBÉM QUE


O ÓDIO É FUNDAMENTAL
PARA OS MERCADORES
DA FÉ, PARA OS FARISEUS,
QUE MANIPULAM A FÉ DAS
PESSOAS DE CIMA DOS
PÚLPITOS, SERVINDO APENAS
PARA DESTILAR SEU ÓDIO. ESSAS PESSOAS
NÃO ESTÃO ACIMA DA LEI, NÃO ESTÃO
ACIMA DA CONSTITUIÇÃO E, EM UM ESTADO
LAICO NO QUAL AS PESSOAS TÊM TODO
O DIREITO DE EXPRESSAR SUA RELIGIÃO,
MAS TAMBÉM TÊM O DIREITO DE NÃO
TER RELIGIÃO, CERTAMENTE PRESTARÃO
CONTAS À JUSTIÇA BRASILEIRA. NÃO
TENHAM DÚVIDAS DISSO", EMENDOU
O MINISTRO.

A medida mais urgente, além da mobilização


para judicializar casos de divulgadores de
discurso de ódio, proposta pelo grupo de
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Fotos Reprodução
Entre os participantes do grupo de trabalho estão a antropóloga Débora Diniz, o
psicanalista Christian Dunker e o influenciador Felipe Neto

trabalho no relatório e já acatada pelo Ministério


dos Direitos Humanos, é a criação do Fórum
Permanente de Enfrentamento ao Discurso de
Ódio e ao Extremismo, que vai acompanhar e
articular projetos e ações de combate à questão
no país.
“Para discutirmos de maneira sistemática e que
possamos sempre nos antecipar, ou pelo menos
captar, nos momentos mais agudos, as várias
transformações e mudanças a que essa temática
está sujeita. Esse fórum será resultado de uma
ação interministerial e todos estarão envolvidos
nessa nossa tarefa”, explicou Silvio Almeida.
“Essas pessoas [os disseminadores de
discurso de ódio] tentarão a todo custo impedir
que nós façamos o nosso trabalho. Não
tenho dúvidas também que os adversários da
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Foto Reprodução
O advogado Camilo Onoda Caldas, relator do texto produzido
pelo Grupo de Trabalho

República e da democracia não terão um dia de


paz”, avisou o ministro.

Bolsonarismo
Relator do texto produzido pelo grupo de
trabalho, o advogado Camilo Onoda Caldas,
que é doutor em filosofia e teoria geral do
direito, falou à Fórum sobre a produção do
trabalho e destacou que as expectativas após a
apresentação do relatório são “as mais positivas”.
“Tanto o GT quanto os ministérios,
sobretudo o dos Direitos Humanos, estão
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compactuando com o sentimento de que a
pauta do enfrentamento ao discurso de ódio e
extremismo entrou definitivamente na agenda
não apenas deste governo, mas do Brasil”,
celebra o advogado.
Caldas chama atenção para o fato de que
a maior parte do discurso de ódio parte da
extrema direita, atualmente composta por
apoiadores radicais de Jair Bolsonaro.

SEGUNDO O RELATOR, ESSA


CULTURA DA VIOLÊNCIA
“NÃO SE REDUZ À FIGURA
DO BOLSONARO, MAS SIM A
UM FENÔMENO MAIS AMPLO
EM QUE DETERMINADAS
PERSONALIDADES DA POLÍTICA
FAZEM DO DISCURSO DE ÓDIO A ESPINHA
DORSAL PARA DISPUTA DE ELEIÇÕES E
PARA CONQUISTAR CAPITAL POLÍTICO”.

“O relatório, inclusive, fala da necessidade


de se combater o que a gente denomina de
superdisseminadores do discurso de ódio, que
se utilizam de fake news, aproveitam-se de
preconceitos que as pessoas têm e procuram
explorar isso para desenvolver esse sentimento de
desrespeito, de transgressão, de violência contra
as mais diversas minorias existentes”, analisa.
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O relator ressalta que “uma das constatações
mais simples para se perceber a relação entre
extrema direita, bolsonarismo e discurso de
ódio é observar quem foram os candidatos
mais votados do bolsonarismo e verificar quais
deles utilizaram o discurso de ódio como uma
estratégia eleitoral e política”.
“A gente vai ver que, se não todos,
praticamente todos que estão ali entre os
mais votados [na eleição de 2022], em algum
momento ou em todo momento, valem-se do
discurso de ódio como estratégia. Inclusive, os
eleitos continuam mobilizando as suas redes
sociais essencialmente a partir do discurso de
ódio”, pontua.
Entre os dez deputados federais mais
votados do país no último pleito estão figuras
como Nikolas Ferreira (PL-MG), Carla Zambelli
(PL-SP), Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e
Ricardo Salles (PL-SP). Para além do partido
e do padrinho político, o ponto em comum
entre todos eles é o fato de que são alvo de
inquéritos por divulgação de fake news ou por
discursos preconceituosos e violentos.

Educação
O relatório, além da criação do fórum
permanente, propõe, no âmbito do tema
educação e cultura, por exemplo, ações de
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proteção e prevenção, desenvolvidas a partir de
um Plano Nacional de Enfrentamento à Violência
nesses locais, com ações de educação
midiática para promover uma postura ativa de
docentes, estudantes, familiares; programas
de saúde mental; e uma rede de inteligência
entre os órgãos responsáveis pela garantia
da segurança pública e as organizações da
sociedade civil, universidades e instituições que
produzem monitoramentos e estudos.
Com relação ao discurso de ódio on-line,
o documento recomenda a estruturação
de uma política de educação midiática e
responsabilização dos “superspreaders e
os fiadores do ódio", tal como fortalecer a
mobilização com o objetivo de construir um
novo marco regulatório para as plataformas
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digitais e a inteligência artificial.
Para Camilo Onoda Caldas, apenas a
judicialização e repressão dos casos que
envolvem discurso de ódio, entretanto, não são
suficientes e, por isso, o relatório apresentado
ao Ministério dos Direitos Humanos elenca
medidas atreladas à questão da prevenção, que
passa, essencialmente, pela educação.
“É necessário pensar o aspecto da
formação, da educação. Isso é um ponto
central porque esse problema não surgiu
agora. Ele não é um episódio. Ele não está
baseado em um indivíduo exclusivamente, ele
é um processo que foi construído ao longo
de vários anos e, portanto, para que a gente
consiga enfrentar e desfazer isso, é necessário
igualmente um processo de desconstrução
contínua. É emergencial o desenvolvimento
dessas políticas públicas de informações,
educação e direitos humanos que podem
iniciar uma reversão desse quadro”, avalia.

Liberdade de expressão
Caldas considera igualmente fundamental a
colaboração da sociedade civil para enfrentar
o problema, já que os “mercadores do ódio”
agem de maneira premeditada, já esperando
reações das autoridades, governo ou imprensa,
para depois alegarem que estariam sendo alvo
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de “censura”.
“A todo momento os mercadores do ódio
dizem que o governo, o Poder Judiciário, o
Legislativo ou a imprensa querem atuar para
censurar as pessoas e restringir a liberdade de
expressão. Isso é absolutamente falso porque
a Constituição já estabelece limites. O que se
quer é apenas que esses limites constitucionais
sejam respeitados. Mas a estratégia deles tem
sido, consciente e deliberadamente, extrapolar
esses limites para gerar uma resposta contra
eles e, a partir disso, dizer que estão sendo
censurados”, assinala.
“Episódios recentes que ocorreram
envolvendo líderes religiosos, políticos, ilustram
isso. Claramente, eles sabiam que estavam
extrapolando o limite, sabiam que estavam
agindo de maneira criminosa e eles esperavam
essa reação contra eles justamente para veicular
a ideia de que se trata de um movimento de
censura, de repressão, quando na realidade
se trata de fazer valer a lei, a Constituição e os
tratados que o Brasil assinou em defesa dos
direitos humanos e contra o discurso de ódio”,
finaliza o advogado.w

A íntegra do Relatório de Recomendações para o


Enfrentamento ao Discurso de Ódio e ao Extremismo
no Brasil pode ser acessada neste link
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FILMES

EP.1
Terrorismo de Estado

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Política

André Valadão é a
isca bolsonarista
para pautar discurso
de "perseguição
religiosa"
por Plinio Teodoro
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Bolsonaro e Valadão são protagonistas


da simbiose sórdida entre extrema direita
e ultraconservadorismo cristão. E sabem
que, com Lula, as vítimas dos falsos profetas
podem descobrir onde estão os
verdadeiros demônios

A
simbiose entre a extrema direita
fascista e setores do cristianismo
ultraconservador é uma das heranças
mais nocivas do bolsonarismo para a
sociedade brasileira.
Não é à toa que Jair Bolsonaro (PL),
que se diz católico, aliou-se à escória do
neopentecostalismo, que há décadas domina
a política estadunidense e desembarcou no
Brasil levando aos templos a pregação dualista
— que divide o mundo entre Deus e o diabo, o
bem e o mal —, e sua teologia da prosperidade,
versão religiosa da meritocracia, dentro de
uma organização empresarial onde o Pix e as
oferendas imperam.
Durante a campanha eleitoral, Bolsonaro e
sua trupe de pastores utilizaram do terror dentro
das igrejas para dizer que Lula fecharia templos
e iniciaria uma perseguição religiosa implacável
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Foto Reprodução
Bolsonaro e o pastor André Valadão

para impor o ilusório comunismo — o "homem


do saco" dos adultos.
Seis meses após assumir o poder, Lula,
diferentemente do que se pregava, não fechou
igrejas. Pelo contrário: abriu um canal de diálogo
até mesmo com setores mais reacionários do
evangelismo, como o Republicanos, partido
controlado pela Igreja Universal do Reino de
Deus, de Edir Macedo.
O presidente brasileiro também foi recebido
pelo papa Francisco há poucos dias no
Vaticano. Um encontro carinhoso entre os
dois maiores líderes progressistas do mundo,
que rendeu diversas imagens que rodaram o
mundo. E que chegaram às igrejas católicas.
Para tentar barrar uma investida de Lula no
terreno evangélico — fértil para pregação de
pautas falso moralistas —, o bolsonarismo usa
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Foto Ricardo Stuckert/PR


Lula e o papa Francisco

o discurso homofóbico e fascista de André


Valadão, um dos pastores mais próximos do
clã, como isca para ressuscitar o velho discurso
da perseguição religiosa.
Valadão deu a deixa ao incitar os fiéis a
assassinarem a população LGBTQIA+, em uma
escalada de discursos violentos, e provocou
a justa reação do governo e das autoridades,
como o Ministério Público, que trata o palavrório
do falso profeta como é: criminoso.
Ao sentirem que a isca foi fisgada, a
contrarreação foi armada, com o apito de
cachorro dado por Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na
terça-feira (4).
"Aos que estavam duvidando… a perseguição
chegou dentro das igrejas, é o início do fim do
resto que ainda tínhamos de liberdade religiosa",
escreveu o senador no Twitter.
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Junto da publicação, Flávio compartilhou
uma notícia do site Pleno News, que pertence
ao grupo MK de Comunicação, criado pelo
falecido senador e pastor Arolde de Oliveira,
morto em 2020.
O grupo, que já gerenciou contas em redes
sociais do próprio Flávio Bolsonaro, é um dos
principais porta-vozes do ultraconservadorismo
neopentecostal e tem entre seus colunistas
nomes como Marco Feliciano, Bia Kicis e
Elizete Malafaia.
O retorno de Lula ao poder ameaça
a simbiose da extrema direita com o
ultraconservadorismo evangélico ao libertar a
população mais pobre do terrorismo religioso
por meio de programas sociais.
Sem fome e com conhecimento, a
consciência desperta. E, consequentemente, há
a percepção da manipulação covarde feita pelos
falsos "messias", seja nos púlpitos das igrejas
ou da política. E o dízimo começa a secar —
nas igrejas e na política, via Pix. Bolsonaro,
Valadão e sua trupe sabem disso e apostam
nessa segregação, nesse dualismo entre "gente
do bem" e "endemoniados".
Foi assim em 2003 e começa a ser assim
em 2023. Só não podemos morder a isca. E
para isso é necessário cevar com conhecimento
aqueles que são vítimas dessa aliança sórdida.
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É essa a libertação — de consciência — que
o próprio Cristo prega nas escrituras. E é ela
quem leva as pessoas a descobrir onde estão
os falsos profetas e os verdadeiros demônios.w
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

Foto Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

Extrema direita usa


teologia violenta contra
LGBTs para controle social,
diz Henrique Vieira
por Yuri Ferreira

Em entrevista ao programa Fórum Café de


quarta-feira (5), o deputado federal e pastor
Henrique Vieira (PSOL-RJ) comentou as falas
recentes do pastor André Valadão e a ascensão
do conservadorismo evangélico dentro do
nosso país.
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“É majoritariamente popular, majoritariamente
de mulheres e majoritariamente negro. É
uma fração da classe trabalhadora brasileira
no nosso país. Agora, de fato tem um
conservadorismo predominante, mas não
unânime, e de fato existe um fundamentalismo
evangélico muito vinculado à extrema direita e
ao bolsonarismo, que tem penetrado fortemente
nas instituições”, disse.

“HÁ UMA VIOLÊNCIA


DESSE SETOR
EVANGÉLICO”, DISSE.
“A GENTE PRECISA
SABER IDENTIFICAR
ESSE FUNDAMENTALISMO
E COMBATÊ-LO FIRMEMENTE,
PEDAGOGICAMENTE, PORQUE ESSE
FUNDAMENTALISMO É AUTORITÁRIO E
VIOLENTO”, COMPLETOU O DEPUTADO.

“Se entregar o evangélico para a extrema


direita, nós temos um problema, porque é
uma fração cada vez mais numérica da classe
trabalhadora do nosso país”, disse.

Sexualidade, conservadorismo e controle


Na segunda-feira (3), um vídeo de André
Valadão pedindo a morte das pessoas
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LGBTQIA+ em seu palanque da Igreja Batista
da Lagoinha viralizou nas redes sociais. As
imagens chocaram e causaram revolta de
diversos setores da sociedade, inclusive dentro
do governo Lula. Vieira, que é pastor evangélico
e deputado federal do campo da esquerda,
comentou o caso.
“Dentro de uma determinada teologia cristã
hegemônica, a sexualidade sempre foi um
problema”, afirmou. “A sexualidade como fonte
de prazer, de liberdade, como uma experiência
constitutiva da humanidade, sempre foi um
problema para uma teologia baseada na culpa e
no medo”, disse.
Henrique relembrou a violência contra as
pessoas LGBTQIA+. “Corpos domesticados
inclusive em sua sexualidade são corpos mais
interessantes a um sistema de controle e de
medo. A diversidade sexual desmonta esse
castelo, ela afirma a força da individualidade e
da singularidade, então ela é um problema para
o sistema ultraconservador”, diz.
“Há uma teologia agressiva a partir de uma
leitura não filtrada pelo Cristo”, diz. “Tem a ver
com uma forma de interdição de controle da
sexualidade”, disse.
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Foto Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados


Política

Reforma tributária:
vitória de Lula,
de Haddad e da
democracia
por Plinio Teodoro

P
" Parecia impossível. Valeu lutar!" O tuíte do
ministro da Fazenda, Fernando Haddad,
às 21h54 da quinta-feira (6), minutos
após a aprovação em primeiro turno da reforma
tributária por 382 votos a 118 — no segundo
turno o placar foi de 375 a 113 — selou a vitória
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de um Brasil que arcava com muitos resquícios
da ditadura militar.

"DEPOIS DE DÉCADAS,
APROVAMOS UMA
REFORMA TRIBUTÁRIA.
DEMOCRATICAMENTE", DIZIA
AINDA A MENSAGEM DE
HADDAD SOBRE A CONQUISTA,
QUE MODERNIZOU O SISTEMA
TRIBUTÁRIO DO PAÍS APÓS 56 ANOS.

A última reforma tributária havia sido aprovada


no país em 1967, três anos depois de abertos os
porões da ditadura.

"O BRASIL TERÁ SUA PRIMEIRA


REFORMA TRIBUTÁRIA DO
PERÍODO DEMOCRÁTICO.
UM MOMENTO HISTÓRICO E
UMA GRANDE VITÓRIA PARA
O PAÍS. PARABÉNS PARA A
CÂMARA DOS DEPUTADOS PELA
SIGNIFICATIVA APROVAÇÃO ONTEM E
AO MINISTRO FERNANDO HADDAD PELO
EMPENHO NO DIÁLOGO E NO AVANÇO
DA REFORMA. ESTAMOS TRABALHANDO
PARA UM FUTURO MELHOR PARA TODOS",
CELEBROU LULA.
CLUBE DE REVISTAS
E deu crédito àquele que, em 2018,
arcou com o ônus de tentar barrar a volta de
representantes desse mesmo regime autoritário
quando o atual presidente, que liderava as
pesquisas, foi impedido de disputar as eleições.
Como frisa Lula, a vitória foi muito além do
campo econômico, com a modernização do
sistema tributário do país. A maior conquista,
para todos os brasileiros, deu-se no campo
político, com a implosão da extrema direita
fascista capitaneada por Jair Bolsonaro (PL),
que usou dos artifícios mais sórdidos e das
fake news — com o ex-presidente resgatando
o "comunismo" e aliados confundindo
propositalmente "gênero" alimentício com a
mentira da "ideologia" que propagam — para
criar terror na população e tentar barrar a
proposta do governo.
Na batalha contra a máquina de mentiras, o
relator da reforma na Câmara, Aguinaldo Ribeiro
(PP-PB), incluiu uma emenda que cria a cesta
básica nacional de alimentos — a ser definida
por lei complementar — isenta de impostos
"para que ninguém fique inventando alíquota
e fique dizendo que a gente vai pesar a mão
sobre pobre".
Em meio a intensas negociações com
prefeitos e governadores, Haddad partiu para o
corpo-a-corpo com Tarcísio Gomes de Freitas
CLUBE DE REVISTAS

Foto Diogo Zacaria/Ministério da Fazenda


O ministro da Fazenda Fernando Haddad com o governador de São Paulo
Tarcísio de Freitas concedem entrevista depois do acordo pela aprovação
da reforma tributária

(Republicanos), que o derrotou na disputa ao


governo paulista em 2022. Ao negociar pontos
contestados pelo governador, Haddad instalou
a bomba que, dias depois, seria colocada no
colo de Bolsonaro pelo seu ex-ministro da
Infraestrutura — e uma das principais apostas
da extrema direita radical para encabeçar uma
chapa com Michelle Bolsonaro nas eleições
presidenciais de 2026.
Após uma reunião diplomática, no melhor
estilo soft power do governo Lula, Haddad
posou ao lado do governador, que declarou
"ser um parceiro no debate, na aprovação da
reforma tributária". O gesto colocou Tarcísio na
centro-direita e atraiu boa parte dos votos do
CLUBE DE REVISTAS
Centrão fisiológico, necessários para compor
o mínimo de 308 deputados favoráveis para
aprovação de uma PEC, a Proposta de Emenda
à Constituição.
A foto mostrando a parceria, no entanto,
enfureceu o inelegível Jair Bolsonaro, que
transtornado acionou o apito de cachorro para
que os radicais apoiadores atacassem Tarcísio
na reunião do PL antes da votação da reforma.
O fogo amigo, no entanto, garantiu 20 dos 99
votos do PL na aprovação da PEC.

Bomba de fragmentação
A troca de farpas que tomou as redes
causou um efeito semelhante às bombas de
fragmentação e atingiu todo o Centrão. Em
um gesto incomum, o presidente da Câmara,
Arthur Lira (PP-AL), ocupou a tribuna e, em
duro discurso, rompeu com o "radicalismo"
de Bolsonaro.

“NÃO NOS DEIXEMOS LEVAR


PELO QUE SEMPRE CRITIQUEI,
QUE É O RADICALISMO
POLÍTICO. O POVO
BRASILEIRO ESTÁ CANSADO
DISSO, AS ELEIÇÕES JÁ
OCORRERAM, OS VITORIOSOS,
COMO NÓS, ESTÃO NO PODER. LEMBRO
CLUBE DE REVISTAS
A VOCÊS QUE O MEU CANDIDATO, QUE
APOIEI NAS ELEIÇÕES, PERDEU A ELEIÇÃO
PRESIDENCIAL. DEIXEMOS AS URNAS DE
LADO, VOLTEMOS NOSSOS OLHOS PARA O
POVO BRASILEIRO. REFORMA TRIBUTÁRIA
NÃO SERÁ NA BOCA DE NINGUÉM UM
JOGUETE POLÍTICO, REFORMA TRIBUTÁRIA
NÃO É INSTRUMENTO DE BARGANHA
POLÍTICA, REFORMA TRIBUTÁRIA NÃO É
BATALHA POLÍTICO-PARTIDÁRIA, REFORMA
TRIBUTÁRIA NÃO É PAUTA DE GOVERNO,
REFORMA TRIBUTÁRIA É PAUTA DE ESTADO,
REFORMA TRIBUTÁRIA É O FUTURO DO
NOSSO PAÍS”, DISPAROU EM
TOM INFLAMADO.

A posição de Lira antecipou a votação dos


deputados do PP, que garantiu 40 dos 49 votos
da bancada à proposta de Lula e Haddad. Já
na manhã da sexta-feira (7), o presidente da
sigla, o ex-ministro da Casa Civil Ciro Nogueira,
hasteou a bandeira branca, disse que "o Brasil
precisa mudar" e deu o tiro de misericórdia da
legenda no ex-chefe.
"Nenhuma oposição pode ser contra o Brasil.
O Brasil que queremos é maior do que todos
nós, o Brasil que queremos pode não ser o de
hoje, mas é hoje que temos a obrigação de
construí-lo", tuitou.
CLUBE DE REVISTAS
Em meio ao tiroteio, o presidente do
Republicanos, o bispo licenciado da Igreja
Universal do Reino de Deus (Iurd) Marcos Pereira,
anunciou a derrocada da antiga base bolsonarista.

"OS EPISÓDIOS DE HOJE


(QUINTA-FEIRA) NÃO ISOLAM
BOLSONARO, PORQUE
ELE JÁ SE ISOLOU E VEM
SE ISOLANDO PELO SEU
PRÓPRIO COMPORTAMENTO.
ENTREGOU A ELEIÇÃO PARA O LULA POR
CAUSA DO COMPORTAMENTO DELE. VEM
SE ISOLANDO QUANDO COMEÇA A BRIGAR
COM O JUDICIÁRIO, QUANDO LÁ NO INÍCIO
DO GOVERNO BRIGA COM O PARLAMENTO,
QUANDO ELE É CONTRA A VACINA", ATACOU
PEREIRA, COM UM QUÊ DE MÁGOA AINDA
RESULTANTE DE SER ESCANTEADO POR
BOLSONARO NO COMANDO DA CAMPANHA
EM 2022.

Braço político da igreja de Edir Macedo e partido


de Tarcísio Gomes de Freitas, o Republicanos
se descolou definitivamente do bolsonarismo ao
entregar 36 dos 39 votos da bancada.
A aprovação da reforma tributária mostra
que uma das principais batalhas do governo
foi vencida — com muito café e um montante
CLUBE DE REVISTAS
de emendas que ultrapassam os R$ 7 bilhões.
No entanto, Lira mostrou que ainda tem
munição ao jogar para o segundo semestre a
votação do arcabouço fiscal – que fazia parte
inicialmente do esforço para votação.
Acossado pela investigação da Polícia
Federal (PF) sobre o suposto esquema de
corrupção dos kits de robótica, financiado
com recursos do orçamente secreto, o
presidente da Câmara mostra que ainda tem
bala na agulha para manter o sequestro de
parte do orçamento da União, obtido nos
anos em que Bolsonaro colocou a democracia
como alvo no Brasil.

PEC, JUSTIÇA
TRIBUTÁRIA
E DESIGUALDADE
SOCIAL

A aprovação da PEC 45/19, que moderniza


a estrutura tributária do país, é o primeiro
passo para se criar no país a justiça tributária,
que pretende desencadear, em um segundo
momento, um projeto para reduzir a
CLUBE DE REVISTAS
desigualdade no país.
O próprio Lula admitiu, em entrevista horas
antes da aprovação no Congresso, que a
reforma tributária foi a possível. Não a que ele
próprio e Haddad almejavam.

"CERTAMENTE NÃO É O
TEXTO PERFEITO QUE QUER
O HADDAD. E CERTAMENTE
NÃO É O TEXTO QUE QUER
A CÂMARA. É UM TEXTO QUE
VAI SER POSSÍVEL CONSTRUIR,
PORQUE UMA REFORMA TRIBUTÁRIA
ENVOLVE 203 MILHÕES DE INTERESSES.

Quando todo mundo fala em reforma


tributária, todo mundo fala em diminuir a carga
tributária. Todo mundo fala na criação do
IVA [Imposto sobre Valor Adicionado]. O que
acontece é que quando você coloca o papel
na mesa aparecem 203 milhões de ideias e
aí você tem que ter habilidade, conversar,
discutir para construir um texto. A ideia é dar
ao Brasil, da mesma forma que a gente possa
tentar diminuir a carga tributária, uma política
tributária tão séria que diminua a sonegação.
Isso significa que, mesmo a pessoa pagando
menos, mas muito mais gente pagando, o
Estado vai arrecadar mais. É com essa ideia fixa
CLUBE DE REVISTAS

“O primeiro passo da reforma


tem a ver com os impostos
dos bens de consumo. Depois
vamos preparar o segundo
passo, que é em função
do imposto de renda, do
patrimônio, para que a gente
tenha mais justiça tributária"”
Alexandre Padilha

que trabalhamos", afirmou.


Em entrevista ao Fórum Café, o ministro
de Relações Institucionais, Alexandre Padilha,
afirmou que a conquista exigiu muito diálogo,
que será ainda mais necessário para dar um
segundo passo, quando o governo federal
pretende colocar em pauta temas delicados
diante de um Congresso extremamente elitista,
como a taxação das grandes fortunas e a
promessa de campanha de Lula de colocar os
ricos no imposto de renda.
"O primeiro passo da reforma tem a ver
com os impostos dos bens de consumo, a
simplificação desses impostos vai ser muito
importante para melhorar investimentos,
aumentar a geração de emprego, de renda, ser
mais justo nos impostos cobrados. E depois
vamos preparar o segundo passo da reforma,
que é em função do imposto de renda, do
CLUBE DE REVISTAS
patrimônio, para que a gente tenha mais justiça
tributária", disse o ministro, que comemorou
a reconstrução do ambiente econômico e
institucional do país.

UMA REFORMA
POSSÍVEL

Aprovada na Câmara como vitória do governo


Lula, a PEC 45/19 foi elaborada a partir da
proposta feita pelo deputado Baleia Rossi
(MDB-SP), que já tramitava na Câmara. Agora a
proposta vai ao Senado, onde Haddad prevê que
o projeto deve passar sem muitas dificuldades.
A PEC vai promover a modernização do
sistema tributário brasileiro, um dos mais
atrasados do mundo, e a fase de transição,
com a unificação de cinco tributos para a
criação do chamado IVA, o Imposto sobre Valor
Agregado, deve durar até 2033.
O IVA — taxação presente em 174
países — vai absorver o Imposto sobre
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Produtos Industrializados (IPI), o Programa de
Integração Social (PIS), a Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social (Cofins), o
Imposto sobre Operações relativas à Circulação
de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços
(ICMS) e o Imposto Sobre Serviços (ISS).
Os três primeiros são tributos federais e
resultarão em um imposto de valor agregado,
a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS). O
ICMS é estadual e o ISS, municipal, resultando em
outro IVA, o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS).
Além de unificar o tributo, o IVA tem um
mecanismo que faz com que sua cobrança
não seja cumulativa ao longo da cadeia de
produção. As empresas poderiam recolher o
imposto com um “desconto” do valor que já foi
pago anteriormente ao longo da produção.
Ou seja, o IVA evita a chamada bitributação,
que é o pagamento de tributo sobre tributo.
O início da fase de transição será em 2026,
quando o IVA federal terá alíquota de 0,9% e o
imposto cobrado nos estados e municípios será
de 0,1%.
Em 2027, PIS e Cofins serão extintos, e a
alíquota do IPI será reduzida a zero. A cada
ano, a alíquota em vigor do ICMS e do ISS
será reduzida em 1/10. O término da transição
será em 2032. A partir do ano posterior, serão
cobrados apenas os IVAs.
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Conselho Federativo
A PEC ainda prevê a criação do Conselho
Federativo, que será responsável por centralizar
a arrecadação do futuro IVA estadual e municipal.
O órgão vai contar com 27 representantes
de cada um dos estados e do Distrito Federal,
14 representantes que serão eleitos, com
voto em peso igual, pelos municípios, e 13
representantes que serão eleitos, com peso do
voto ponderado pelo número de habitantes,
pelos municípios.

Pontos negociados
Além da isenção dos produtos da cesta
básica nacional, as negociações na Câmara
resultaram em diversas emendas ao projeto
original, entre elas a que cria o “cashback”,
mecanismo que prevê a devolução de impostos
para um público determinado, como a
população de baixa renda.
Além disso, diversos setores conseguiram
a redução de desconto de 40% do IBS (IVA
estadual e municipal) e do CBS (IVA federal).
Foram incluídas atividades artísticas e culturais,
serviços de educação, medicamentos e
dispositivos médicos e serviços de saúde, além
de produtos agropecuários.
Já outros produtos e serviços terão a
isenção de impostos, como medicamentos
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contra o câncer, produtos hortícolas,
frutas e ovos e dispositivos médicos e de
acessibilidade para pessoas com deficiência.
A lei ainda permitirá a redução de 100% da
alíquota do CBS incidente sobre serviços de
educação de ensino superior (Prouni).

Imposto do "pecado"
e tributação de jatinhos
Para compensação das isenções e descontos
nos setores beneficiados, a proposta prevê a
cobrança do chamado "imposto do pecado",
de competência federal, sobre bens e serviços
prejudiciais à saúde e ao meio ambiente, como
cigarros e bebidas alcoólicas.
Além disso, uma antiga bandeira
progressista, capitaneada em grande parte por
Guilherme Boulos (PSOL-SP), passará a valer: a
cobrança de IPVA para jatinhos, iates e lanchas.
A proposta ainda busca fechar o cerco contra
sonegadores que recebem heranças ou doações
de famílias, que hoje buscam locais com
tributações menores para processar o inventário.
A nova legislação prevê que a cobrança seja feita
no domicílio da pessoa falecida.w
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Foto Agência Brasil


Economia

A nova cartada da base


governista para emparedar
Campos Neto e baixar
os juros
Deputados de nove partidos entregaram ao
presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, uma
petição em que solicitam investigação sobre a
política monetária do BC
por Ivan Longo

P
arlamentares que compõem a base do
governo Lula no Congresso Nacional
seguem mobilizados na tentativa de
fazer com que o Banco Central (BC), presidido
CLUBE DE REVISTAS
atualmente pelo indicado de Jair Bolsonaro,
Roberto Campos Neto, reduza a taxa básica de
juros (Selic), que está em astronômicos 13,75%
— o maior índice de juros real do mundo.
Para além dos discursos do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva com tom crítico a
Campos Neto, que representam uma forma de
pressão na empreitada pela redução dos juros,
deputados petistas e de outros partidos vêm
adotando medidas para solucionar o problema.
Lindbergh Farias (PT-RJ), por exemplo, pediu a
exoneração do presidente do BC em denúncia
protocolada junto ao Conselho Monetário
Nacional (CMN), apontando que Campos Neto
teria descumprido os objetivos da instituição.
A denúncia de Lindbergh contra Campos
Neto foi apresentada um dia após o Comitê de
Política Monetária (Copom) do BC, em reunião
realizada no dia 21 de junho, decidir manter
a taxa de juros em 13,75%. A princípio, o
presidente da instituição sustentava que a taxa
de juros nas alturas seria necessária por conta
da inflação alta. Acontece que, nos últimos
meses, o Brasil melhorou seus indicadores
econômicos, registrando queda inflacionária,
crescimento do Produto Interno Bruto (PIB),
valorização do real e aumento da perspectiva da
nota de crédito no cenário internacional.
Todos esses fatores, segundo economistas,
CLUBE DE REVISTAS

“A decisão do Conselho de
Política Monetária (Copom) de
manter a taxa Selic em 13,75%
é inaceitável. Fica parecendo,
cada vez mais, que Roberto
Campos Neto e o Banco
Central não estão agindo de
forma técnica”
Lindbergh Farias

criariam um ambiente favorável para que o


BC reduzisse a taxa de juros. A instituição,
entretanto, decidiu manter o índice fixado desde
junho de 2022.
“A decisão do Conselho de Política Monetária
(Copom) de manter a taxa Selic em 13,75% é
inaceitável. Fica parecendo, cada vez mais, que
Roberto Campos Neto e o Banco Central não
estão agindo de forma técnica ao manter, pela
sétima vez consecutiva, os juros em patamar
tão elevado. Mas, sim, agindo politicamente
para travar a economia brasileira e sabotar
o governo do presidente Lula”, declarou
Lindbergh ao representar contra Campos Neto.

A nova cartada
Como forma de aumentar a pressão sobre
Campos Neto e fazer com que a taxa de juros,
finalmente, seja reduzida, parlamentares do PT
CLUBE DE REVISTAS
se uniram a lideranças de outros oito partidos
(PV, MDB, PSD, PSOL, PSB, PDT, PCdoB e
Rede) e elaboraram uma petição, apresentada na
quarta-feira (5) ao presidente do Senado, Rodrigo
Pacheco (PSD-MG), solicitando uma investigação
sobre a política monetária do Banco Central,
que segundo esses parlamentares vem sendo
marcada por uma "motivação viciada e vício de
finalidade, desconectada dos acontecimentos
fáticos precedentes".

PELA LEGISLAÇÃO, CABE AO


SENADO FISCALIZAR A ATUAÇÃO DO
BANCO CENTRAL. NO DOCUMENTO,
AS LIDERANÇAS PARTIDÁRIAS
PEDEM “APURAÇÃO DE EVENTUAIS
RESPONSABILIDADES DO ATUAL
PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL DO
BRASIL NO QUE SE REFERE À DEMORA
E AO NÃO CUMPRIMENTO ADEQUADO E
TEMPESTIVO DO CONTROLE DA INFLAÇÃO,
DO EMPREGO E DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO E SOCIAL" DIANTE DA
MANUTENÇÃO DA TAXA DE
JUROS EM 13,75%.

"As justificativas apresentadas para tal


manutenção [da taxa de juros] atrelam-se a
uma conservadora política econômica que
CLUBE DE REVISTAS
ignora as favoráveis quedas inflacionárias dos
últimos meses, bem como omite-se do efeito
negativo da alta taxa de juros, impondo uma
desaceleração da economia e manutenção da
retração da atividade empresarial, criação de
empregos e qualidade de vida dos brasileiros,
fatores que foram utilizados pelo Copom para
justificar a manutenção da taxa de juros", diz um
trecho da petição.
"A simples justificativa de ser necessário
“parcimônia” e ficar atentos a um possível
cenário de volta de crescimento da inflação
não é suficiente para contraditar fatos. Na
verdade, é dizer: o BC impõe altíssima taxa
de juros sob o pretexto de cautela e meras
especulações de possível alta da inflação, ao
passo que o Brasil apresenta concretamente
uma redução do índice inflacionário em mais
da metade do índice que justificou a alta
dos juros (índice de agosto de 2022). Mas,
para além disso, importante elucidar que a
economia de uma nação apresenta elementos
de interdependência que ditam o crescimento,
a geração de empregos e o bem-estar social.
Assim, por óbvio, um alto índice inflacionário
interfere no cotidiano vivenciado por todos os
brasileiros, desde o mais simples trabalhador
até mais bem abastado financeiramente. O
controle inflacionário é uma medida importante
CLUBE DE REVISTAS

Foto Pedro França/Agência Senado


Rodrigo Pacheco, presidente do Senado

e de necessária observação, o que pode e é


realizado pelo controle da taxa de juros base",
prossegue o documento.

Petição entregue a Pacheco


A petição para que Campos Neto e a política
monetária do Banco Central sejam alvo de
investigação foi entregue ao presidente do
Senado, Rodrigo Pacheco, em reunião com os
autores do documento.
Segundo o deputado Zeca Dirceu (PT-
PR), líder da bancada petista na Câmara,
Pacheco acolheu a petição para análise e
se comprometeu a convocar Campos Neto
ao Senado para dar satisfações sobre a
manutenção da Selic nas alturas. O petista
CLUBE DE REVISTAS

“Nossa expectativa é que na


próxima reunião do Copom
haja uma redução da taxa de
juros e, ao mesmo tempo, o
presidente do Banco Central vá
ao Senado para cumprir essa
obrigação legal”
Zeca Dirceu

destaca, ainda, que a petição não tem caráter


político, mas sim técnico.
"Quero destacar a importância de Rodrigo
Pacheco ter nos recebido e acolhido para
análise da nossa petição que questiona
a maneira como o Banco Central está se
comportando nos últimos anos. É uma
petição baseada na lei, naquilo que estabelece
responsabilidades do Senado e naquilo que
estabelece responsabilidades do Banco Central.
O presidente [Pacheco] vai avaliar essa petição,
mas já nos adiantou que há previsão legal que a
cada seis meses o presidente do Banco Central
venha aqui no Senado prestar contas (...).
Nossa expectativa é que na próxima reunião [do
Copom] em agosto haja uma redução da taxa
de juros e, ao mesmo tempo, naquela semana
ou na próxima o presidente do Banco Central vá
ao Senado para cumprir essa obrigação legal",
CLUBE DE REVISTAS

“Nós avaliamos que a política


monetária está viciada, está
equivocada, e manter juros de
13,75% é um erro do ponto de
vista técnico, inclusive. Isso
tem um impacto
muito grande e ruim para a
economia brasileira”
Gleisi Hoffmann

disse Zeca em coletiva de imprensa.


Presidente do PT, a deputada Gleisi
Hoffmann, que também assina a petição,
ressaltou que o documento foi elaborado "com
base na Constituição, no regimento interno do
Senado e também na Lei Complementar que
diz que é obrigação do Senado da República
fiscalizar o Banco Central".
"Nós avaliamos que a política monetária está
viciada, está equivocada e manter juros de
13,75% é um erro do ponto de vista técnico,
inclusive. Isso tem um impacto muito grande e
ruim pra economia brasileira. E há contradição
entre o comunicado do Banco Central e a ata
[da reunião do Copom] que foi logo a seguir
divulgada, inclusive com divergências internas
acerca da política de juros. Nós entendemos
que, além de perseguir a queda da inflação,
o Banco Central também é responsável por
CLUBE DE REVISTAS

Foto Reprodução
Sede do Banco Central, em Brasília

perseguir o pleno emprego e por atenuar as


flutuações da atividade econômica do país",
avaliou a petista.
"E isso não foi cumprido ao longo
desses últimos anos. Então, pedimos essa
investigação tanto da política monetária como
dos atos do presidente do Banco Central,
peticionando o Senado da República que
também é corresponsável, uma vez que é
quem aprova a indicação do presidente do
Banco Central", emendou.
As próximas reuniões do Copom para
anunciar a taxa básica de juros serão realizadas
nos dias 1º e 2 de agosto.w
CLUBE DE REVISTAS

Foto Ricardo Stuckert/PR


Global

Lula manda recado


duro para União
Europeia
Brasil assume liderança do bloco por seis
meses; durante solenidade, presidente
brasileiro listou os desafios dos países
da região e defendeu ampliar mercado de
exportação regional
por Iara Vidal

O
Brasil assumiu na terça-feira (4) a
presidência temporária, por seis meses,
do Mercosul. Durante a 62ª Cúpula
de Chefes de Estado do Mercosul e Estados
CLUBE DE REVISTAS
Associados, em Puerto Iguazú, na Argentina,
o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou
que o acordo de livre comércio do Mercosul
com a União Europeia (UE) é inaceitável.
Ele disse que o bloco europeu enviou
aditivos ao acordo com previsão de aplicação
de multas em caso de descumprimento de
obrigações ambientais.

"O INSTRUMENTO ADICIONAL


APRESENTADO PELA UNIÃO
EUROPEIA EM MARÇO
DESTE ANO É INACEITÁVEL.
PARCEIROS ESTRATÉGICOS
NÃO NEGOCIAM COM BASE
EM DESCONFIANÇA E AMEAÇA
DE SANÇÕES. É IMPERATIVO QUE O
MERCOSUL APRESENTE UMA RESPOSTA
RÁPIDA E INCISIVA", AFIRMOU LULA.

O presidente disse ainda que está


comprometido com a conclusão de um tratado
equilibrado e que assegure o espaço necessário
para adoção de políticas públicas “em prol da
integração produtiva e da reindustrialização”.
“Não temos interesse em acordos que nos
condenem ao eterno papel de exportadores
de matérias-primas, minérios e petróleo.
Precisamos de políticas que contemplem
CLUBE DE REVISTAS

Foto Ricardo Stuckert/PR


Fotografia oficial dos chefes de delegação dos países membros, Bolívia, Estados
Associados e convidados especiais. Hotel Gran Meliá Iguazú, Argentina

uma integração regional profunda, baseada


no trabalho qualificado e na produção de
ciência, tecnologia e inovação. Isso requer
mais integração, a articulação de processos
produtivos e na interconexão energética, viária e
de comunicações”, acrescentou o presidente.

Acordos de livre comércio
Lula também vem defendendo alterações
em pontos do acordo de livre comércio sobre
compras governamentais, que, segundo
ele, podem prejudicar pequenas e médias
empresas do país. “É inadmissível abrir mão do
poder de compra do Estado – um dos poucos
instrumentos de política industrial que nos
resta”, observou.
CLUBE DE REVISTAS
Aprovado em 2019, após 20 anos de
negociações, o acordo Mercosul-UE precisa
ser ratificado pelos parlamentos de todos os
países dos dois blocos para entrar em vigor.
A negociação envolve 31 países e poderá
enfrentar resistências.
O presidente acrescentou que quer revisar
e avançar nos acordos em negociação com
Canadá, Coreia do Sul e Singapura e “explorar
novas frentes de negociação” com parceiros
como a China, a Indonésia, o Vietnã e com
países da América Central e Caribe.

“A PROLIFERAÇÃO DE
BARREIRAS UNILATERAIS
AO COMÉRCIO PERPETUA
DESIGUALDADES E
PREJUDICA OS PAÍSES EM
DESENVOLVIMENTO”, DISSE
LULA.

Para ele, combater o ressurgimento do


protecionismo no mundo implica, ainda,
resgatar o protagonismo do Mercosul na
Organização Mundial do Comércio (OMC).

Moeda comum
O presidente voltou a defender a adoção de
uma moeda comum para os países da região.
CLUBE DE REVISTAS

Foto Ricardo Stuckert/PR


Lula durante sessão plenária de chefes de Estado do Mercosul, Bolívia, Estados
Associados e convidados especiais

"A adoção de uma moeda comum para


realizar operações de compensação entre
nossos países contribuirá para reduzir custos e
facilitar ainda mais a convergência. Falo de uma
moeda de referência específica para o comércio
regional, que não eliminará as respectivas
moedas nacionais", explicou

Acordos comerciais
Lula afirmou que tem uma agenda externa
ambiciosa para o Mercosul, na ampliação de
mercados para exportação dos produtos locais.
"Embora já tenhamos uma área de livre
comércio de fato com nossos vizinhos sul-
americanos, há espaço para ampliar e
aprimorar os acordos comerciais com Chile,
Colômbia, Equador e Peru. Retomaremos
CLUBE DE REVISTAS
uma agenda externa ambiciosa para ampliar
o acesso a mercados por nossos produtos de
exportação", enfatizou.

Presidência do Mercosul
O presidente Lula agradeceu os esforços
feitos pela Argentina, que entregou a
presidência temporária do Mercosul. Ao longo
dos últimos seis meses, a Cúpula Social do
Mercosul foi retomada – após sete anos de
paralisação, – houve o Fórum Empresarial do
bloco e um avanço na revisão do Regime de
Ordem e na negociação do acordo de direito
de família.

“O BRASIL ASSUME HOJE A


PRESIDÊNCIA PRO TEMPORE
COM A DETERMINAÇÃO
DE LEVAR ADIANTE ESSES
ESFORÇOS. PRETENDEMOS
APERFEIÇOAR NOSSA
TARIFA EXTERNA COMUM E
EVITAR QUE BARREIRAS NÃO TARIFÁRIAS
COMPROMETAM A FLUIDEZ DO COMÉRCIO”,
DECLAROU O PRESIDENTE.

Lula reconheceu que há agendas ainda


pendentes com dois setores ainda excluídos do
livre comércio: o automotivo e o açucareiro.
CLUBE DE REVISTAS
“Buscaremos, também, concluir a oitava
rodada de liberalização do comércio de
serviços. A adoção de uma moeda comum
para operações de compensação entre nossos
países contribuirá para reduzir custos e facilitar
ainda mais a convergência”, afirmou o brasileiro.

Mercosul
Fundado em 1991, o Mercado Comum do
Sul (Mercosul) é a mais abrangente iniciativa
de integração regional da América Latina,
surgida no contexto da redemocratização
e reaproximação entre os países da região,
ao final da década de 1980. Os países do
Mercosul correspondem a 67% do território da
América do Sul, o equivalente a 11,9 milhões
de quilômetros quadrados. Os 270 milhões
de habitantes do países do bloco equivalem a
CLUBE DE REVISTAS
62% da população sul-americana. Os países do
Mercosul detinham 67% do PIB da América do
Sul em 2021.
As trocas comerciais dentro do bloco
passaram de US$ 4,5 bilhões em 1991 para US$
46,1 bilhões em 2022. Nos últimos dez anos, a
média do comércio dentro da região tem girado
em torno de US$ 39 bilhões. O intercâmbio
comercial do Mercosul com o mundo foi de US$
727 bilhões em 2022, dos quais US$ 398 bilhões
referem-se a exportações.
Os principais destinos das vendas do
Mercosul foram China, Estados Unidos e
Países Baixos. As exportações do Brasil para
o Mercosul alcançaram US$ 21,9 bilhões de
dólares em 2022, o equivalente a 6,5% das
exportações brasileiras, contra US$ 18,9 bilhões
em importações (ou 6,9% das importações
totais), gerando um superávit de US$ 3 bilhões
para o Brasil.w
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A N O S
22JORNALISMO
DE
INDEPENDENTE

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Foto Reprodução Facebook


Brasil

Treinamento militar
para crianças
Santa Catarina resiste: grupo neofascista
que leva proselitismo armamentista a crianças
é denunciado
por Raphael Sanz

O
Movimento Humaniza SC, sediado
em Florianópolis, protocolou na última
segunda-feira (3) uma denúncia no
Ministério Público e na Procuradoria de Justiça
da Infância e Juventude de Santa Catarina
contra a organização denominada Fope (Força
Pré-Militar Brasileira) por pressionar escolas
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do estado a permitir que seus cursos sejam
oferecidos no contraturno escolar, carregados
de conteúdos de proselitismo armamentista,
para alunos a partir de 8 anos.
Após o ataque a uma creche em Blumenau,
que vitimou crianças pequenas em abril, foi
criado o Comitê de Operações Integradas de
Segurança Escolar (Comseg), da Assembleia
Legislativa de Santa Catarina (Alesc), que
recorreu às principais cidades catarinenses
buscando estabelecer um diálogo com as
comunidades escolares a fim de debater o
problema. A denúncia do Movimento Humaniza
SC contra a Fope foi anunciada na última
reunião do Comseg, também na segunda-feira,
pela ex-senadora Ideli Salvatti (PT). Ela explicou
o que é a Fope e por que suas atividade vão
de encontro ao Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA).
“Aqui, em Santa Catarina, em Florianópolis, e
no Brasil, tem uma coisa chamada Fope, Força
Pré-militar Brasileira. Alguém já ouviu falar? Pois
é. Essa tal de Fope tem como objetivo preparar
jovens entre 8 e 18 anos de idade que estejam
interessados em seguir a carreira militar. No
entanto, fotos e publicações do grupo revelam
que crianças de 5 anos já estão envolvidas nas
atividades de treinamento militar quando nós
temos um Estatuto da Criança e do Adolescente
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“Essa tal de Fope tem como


objetivo preparar jovens entre 8
e 18 anos de idade que estejam
interessados em seguir a carreira
militar. No entanto, fotos e
publicações do grupo revelam
que crianças de 5 anos já estão
envolvidas nas atividades de
treinamento militar”
Ideli Salvatti

que veda terminantemente a utilização de armas


e munição. No seu artigo 242, o ECA proíbe a
venda, fornecimento – ainda que gratuito – e
a entrega de armas, munições e explosivos a
crianças e adolescentes. E mesmo assim eles
estão fazendo treinamento militar”, disse Salvatti
na audiência pública da Comseg.
Salvatti explica ainda que o grupo
denunciado é nacional, e não atua apenas
em Santa Catarina. Dessa forma, pediu à
deputada Luciane Carminatti (PT), presidente
da Comissão de Educação, que pudesse
acionar o Ministério dos Direitos Humanos.
Segundo a ex-senadora, é assustador
observar as postagens da Fope e ver relações
que considera óbvias com o militarismo para
crianças verificadas em regimes como o da
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Itália fascista ou o da Alemanha nazista. Tal
relação é inclusive apontada na denúncia do
Movimento Humaniza SC.

“NA HORA QUE VOCÊ BATE


OS OLHOS NAQUILO, NAS
FOTOS, NAS ROUPAS, NAS
POSTURAS E NAS PRÁTICAS,
NÃO TEM COMO NÃO
LEMBRAR DA JUVENTUDE
HITLERISTA. A SIMILARIDADE É
ABSURDA.

Se não fizermos o saneamento do ódio e


da violência na sociedade brasileira não vamos
resolver problema algum. E mais: não vamos
resolver problema algum enquanto continuarmos
tratando o armamentismo como ‘liberdade de
expressão’. Armamentismo não é liberdade de
expressão, é incitação ao ódio, ao crime e à
violência”, declarou Salvatti para a Fórum.
Ideli Salvatti apontou ainda que o grupo
oferece atividades extracurriculares com a
promessa de ensinar as crianças sobre a
disciplina militar e supostos valores pátrios, o que
ela qualifica como “doutrinação ideológica”.
“Uma deputada do PL disse que estamos
contra esse projeto por sermos ‘contra tudo o
que não é doutrinação ideológica de esquerda’.
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Foto Reprodução
Crianças militarizadas durante o regime de Benito Mussolini, na Itália

Mas isso é pura doutrinação ideológica. Isso é


oferecido nas escolas, ou por algumas pessoas
nas escolas, como atividade de contraturno.
Ou seja, os pais que precisam deixar os filhos
em algum lugar e com alguém no momento
em que as aulas não ocorrem são incentivados
a deixá-los com a Fope. Assim, ao invés de
termos o esporte e as artes como atividades
de contraturno, temos agora instrução
armamentista e militarismo. Os vídeos são
assustadores, aparecem até crianças de 5 ou 6
anos”, concluiu.w
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Foto Rovena Rosa/Agência Brasil


Brasil

São Paulo: mais imóveis


desocupados do que
moradores em situação
de rua, diz IBGE
O arquiteto, urbanista e professor Nabil
Bonduki comenta os dados com exclusividade
para a Fórum e aponta soluções
por Julinho Bittencourt

D
e acordo com o Censo 2022 recém-
divulgado pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), há
588.978 imóveis particulares desocupados sem
moradores na capital paulista, enquanto há
48.261 pessoas vivendo nas ruas da cidade.
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Foto Bob Wolfenson/Divugação


O arquiteto e urbanista Nabil Bonduki

O número de imóveis vazios é 12 vezes o


total de pessoas em situação de rua na capital.
O levantamento do número estimado de
quem está em situação de rua é feito pelo
Observatório Brasileiro de Políticas Públicas
com a População em Situação de Rua (Polos-
UFMG), com dados do Cadastro Único para
Programas Sociais (CadÚnico).
O município de São Paulo, de acordo com o
CadÚnico do governo federal, concentra 25%
dos moradores de rua de todo o Brasil.

Várias razões
O arquiteto, urbanista e professor Nabil
Bonduki enfileirou, em entrevista à Fórum, uma
série de motivos para a grande quantidade de
imóveis vagos na cidade. Para ele, o fenômeno
tem diferentes motivos. “Uma razão básica é
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a falta de capacidade de pagamento de parte
da população que não tem habitação e mora
em situação precária, de aluguel, em cortiços,
convivendo com outras famílias ou até mesmo
as famílias que vivem nas ruas. São pessoas
que não têm renda nem pra alugar nem pra
comprar”, afirma.

“EXISTEM, NO ENTANTO,
OUTRAS RAZÕES PARA A
EXISTÊNCIA DE IMÓVEIS
CONSIDERADOS VAGOS.
DOS 12% DE IMÓVEIS
VAGOS EM SÃO PAULO,
EM TORNO DE 6% A 8%
ESTÃO EM CIRCULAÇÃO, OU
SEJA, ESTÃO À VENDA OU PARA ALUGAR.
SE NÃO TIVER ESSA MARGEM, O PREÇO
DOS IMÓVEIS DISPARA, POIS VOCÊ NÃO
TERIA DISPONIBILIDADE PARA QUEM TEM
CONDIÇÃO DE ALUGAR”, EXPLICA
O URBANISTA.

Nabil diz ainda que “existem muitos imóveis


na cidade que estão vagos, mas têm uso
temporário. O Censo traz algo em torno de 1%
a 1,5%, mas eu acho que é muito mais. Talvez
o IBGE não tenha conseguido captar a grande
quantidade de imóveis hoje que estão, por
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exemplo, em aluguel por aplicativo, ou mesmo
pessoas que moram em outras cidades e têm o
imóvel em São Paulo e ocupam provisoriamente
em fins de semana, para trabalho, que podem
ter sido registrados como imóveis vagos, embora
eles tenham uma ocupação temporária”.

“É CLARO QUE EXISTEM


TAMBÉM AQUELES
IMÓVEIS QUE ESTÃO
ESPECULANDO”,
PROSSEGUE O
PROFESSOR. “AS
PESSOAS QUE TÊM UM
IMÓVEL, MAS NÃO QUEREM
ALUGAR NEM VENDER PELO PREÇO
QUE ESTÁ SENDO OFERECIDO NAQUELE
MOMENTO. PESSOAS QUE INVESTEM EM
IMÓVEIS COM A EXPECTATIVA DE VENDER
OU ALUGAR POR UM PREÇO MAIS ALTO.
E TAMBÉM TÊM OS IMÓVEIS QUE ESTÃO
VAGOS POR PENDÊNCIAS JURÍDICAS,
COMO INVENTÁRIOS.”

Em relação às políticas para enfrentar esse


problema, Nabil adverte que é preciso ter
políticas habitacionais que sejam muito mais
para garantir o acesso do que a construção
de moradias. “Nós temos, por exemplo, o
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Minha Casa, Minha Vida, que cede a casa com
subsídios para as famílias, mas nós não temos
muitos programas voltados a garantir o acesso
às moradias já existentes. Poderia ser, por
exemplo, um programa de complementação do
aluguel, de financiamentos de imóveis usados.
Esse tipo de programa já existe na Caixa, mas
a taxa de juros é muito alta, e esse é outro
aspecto que faz com que as casas fiquem
ociosas”, encerra.

O DEPUTADO FEDERAL
E LÍDER DO MTST,
GUILHERME BOULOS
(PSOL-SP), AFIRMOU,
AO COMENTAR OS
DADOS DO IBGE, QUE
“É URGENTE INVESTIR EM
POLÍTICAS PÚBLICAS COMO
O ALUGUEL SOCIAL E A REQUALIFICAÇÃO
DE IMÓVEIS NO CENTRO EXPANDIDO PARA
DIMINUIR O DÉFICIT DE HABITAÇÃO
NA CAPITAL”.

Já a Prefeitura de São Paulo, comandada


pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB), afirmou que
"tem ampliado os instrumentos de atendimento
para reduzir o déficit habitacional na capital e
atender o maior número de famílias".w
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500k
Valeu,
comunidade!
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Cultura

Morre
Zé Celso
O cidadão de bem
finalmente vai dormir
em paz
por Julinho Bittencourt
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Q
uem já assistiu a algum espetáculo do
Teatro Oficina nunca mais foi o mesmo.
Ninguém, amando ou odiando, passava
por aquilo incólume. Desde sempre, Zé Celso e
seu grupo viraram do avesso o teatro brasileiro.
O espectador, atônito, não conseguia decidir
se o que via era teatro, um show de rock,
performance ou tudo ao mesmo tempo.
Cresci assombrado com sua direção do
espetáculo – a que nunca assisti – Roda Viva, de
Chico Buarque. Os relatos, em plena ditadura,
eram de uma ousadia sem precedentes com,
entre outras coisas, pedaços de carne e
respingos de sangue atirados no público.
O próprio Chico chegou a dizer que o que
levou à reação desmedida da direita e da
ditadura contra a peça foi, sobretudo, a direção
do Zé. Seu texto, declarou modestamente o
compositor, não trazia nada de tão ofensivo.
Em um fato histórico tão triste quanto
inesquecível e revoltante, militantes do grupo
paramilitar Comando de Caça aos Comunistas
(CCC) invadiram o Teatro Ruth Escobar, em São
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Foto Arquivo Oficina


Foto Jennifer Glass/Divulgação

No alto, Chico Buarque, com 23 anos, durante ensaio do espetáculo


Roda Viva, dirigido por Zé Celso. Acima, o direitor ensaia a
remontagem do musical, em 2018

Paulo, em 1968, durante a segunda montagem


do espetáculo, espancaram os artistas e
depredaram o cenário.
Desde então, Zé Celso sempre esteve do lado
certo da história. Em plena Operação Lava Jato,
num teatro lotado em Brasília, em um momento
em que até as pedras do calçamento da capital
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Fotos Reprodução

O Teatro Oficina Uzyna Uzona, ou apenas Oficina, está localizado em um prédio


antigo na Rua Jaceguai, no Bixiga, em São Paulo. No início dos anos 1990, o teatro
passou por uma grande reformulação, com projeto arquitetônico de Lina Bo Bardi e
Edson Elito. O novo Oficina foi inaugurado em 1994

estavam contra a presidente Dilma Rousseff e


seu governo, com extrema coragem, ele usou
máscaras ridicularizando os então personagens
fatídicos que vieram a promover o golpe, reforma
trabalhista, a consequente eleição do inominável
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Fotos Reprodução
O casamento de Zé Celso com o ator Marcelo Drummond; o diretor
encontra Silvio Santos; Zé Celso no Teatro Oficina em ato pró-Dilma; e
Caetano Veloso nu na peça As Bacantes

e o Brasil ladeira abaixo. Não cito os nomes em


respeito à memória do diretor.
Hoje, a canalhada do lado de lá tem motivos
de sobra para comemorar. Partiu um dos mais
corajosos e bravos artistas do lado de cá.
Sujeito raro e brilhante, Zé Celso soube unir
como poucos o saber artístico ao pensamento
político. Nunca foi apenas panfletário ou única e
tão somente diretor. Nunca separou as coisas.
Nele estava tudo junto e misturado, incluindo aí
a sexualidade em alta combustão.
Seus atores cagavam e se masturbavam
em público, agarravam pessoas da plateia,
tiravam suas roupas e as do público –
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deixaram Caetano Veloso nu em pelo durante
apresentação do espetáculo As Bacantes, em
São Paulo, no final da década de 1990.
Desde a década de 1980, o diretor vinha
lutando contra o Grupo Silvio Santos, que
deseja construir um complexo comercial no
terreno ao lado do Teatro Oficina. Zé Celso
defendia que o terreno deveria ser usado como
uma extensão do teatro, para criação de um
parque cultural.
Zé Celso foi o desespero do cidadão de
bem, que agora deve rezar para que sua alma
descanse em paz e não deixe vestígios. Puro e
ledo engano. Zé Celso está por aí, multiplicado
em todos os cantos de São Paulo, do Brasil e
do mundo.
Seu último grande ato, o casamento, aos
86 anos, com o ator Marcelo Drummond,
amor da vida inteira, foi de uma alegria
comovente. Drummond, em piada fulminante,
talvez tenha definido o espírito libertário
e anárquico de Zé Celso e seu entorno:
“Casamos para ter amantes”.w
CLUBE DE REVISTAS

Foto Reprodução vídeo


Cultura

Por que eu odiei


a campanha da
Volkswagen com Elis
Regina e Maria Rita
por Marcelo Hailer

N
a manhã de terça-feira (4), ao abrir
o Twitter para verificar o que estava
acontecendo no Brasil e no mundo, a
primeira coisa que surgiu na minha timeline foi
a divulgação da nova campanha publicitária da
Volkswagen, que anunciava sua linha de carros
elétricos e também celebrava seus 70 anos
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de existência. Até aí, nada de mais, apenas
mais um dia no capitalismo; mas os problemas
começam com o tema da campanha: um
suposto "reencontro" de Maria Rita com sua
mãe Elis Regina, falecida em 1982.

AO ASSISTIR À CAMPANHA E VER


ELIS REGINA CANTANDO DE DENTRO
DE UMA KOMBI, SENTI UM PROFUNDO
ESTRANHAMENTO. UMA SENSAÇÃO DE
MAL-ESTAR. AFINAL, ESTAMOS DIANTE
DA MAIOR CANTORA DO BRASIL, ALGUÉM
QUE LUTOU CONTRA A DITADURA E QUE,
ANTES MESMO DE SE TORNAR MODA,
JÁ ACREDITAVA NO LEMA DE QUE "UM
OUTRO MUNDO É POSSÍVEL"... SERÁ QUE
ELA CONCORDARIA EM SER GAROTA-
PROPAGANDA DA VOLKS?

Não é Elis Regina que está ali e,


sinceramente, não há semelhança material.
O que vemos dentro da Kombi parece um
boneco de plástico com feições alienígenas. É
equivocado e profundamente cafona.
Tudo está errado nessa campanha publicitária:
"ressuscitar" a cantora Elis Regina para colocá-la
como "vendedora de carros" é uma vandalização
de sua imagem e de tudo o que ela representa
para a cultura e a política brasileira.
CLUBE DE REVISTAS

Foto Reprodução vídeo


Maria Rita, filha de Elis, no vídeo da campanha da Volks

Carro elétrico não é um sonho


A escolha da música Como Nossos Pais,
composta por Belchior e eternizada na voz de
Elis Regina, é outro erro, pois se trata de uma
crítica profunda à inércia diante da mudança
dos tempos: viver como nossos pais não é algo
legal, mas profundamente nocivo. Parar no
tempo é como estar morto
Além disso, a transição do carro movido a
combustível para o carro elétrico não representa
uma "mudança", ambos são prejudiciais ao
meio ambiente. É um insulto a Belchior e Elis
que essa canção seja usada dessa maneira.
Existe também a questão ética: por mais que
se argumente que Maria Rita tenha autorizado o
uso da imagem de sua mãe para vender carros,
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Belchior, autor de Como Nossos Pais, canção usada na campanha


da Volks e eternizada na voz de Elis Regina

Elis Regina não está mais aqui para permitir


ou não que sua imagem seja utilizada para
promover automóveis de uma empresa que teve
relações suspeitas com o nazismo e a ditadura
brasileira. Novamente, pergunto: Elis estamparia
essa campanha?
Também não se trata de uma posição
obstinada e contrária à inteligência artificial (IA),
pelo contrário, uma vez que é um caminho
sem volta. No entanto, questiono a ideia de
"ressuscitar" uma pessoa e usá-la em uma
campanha publicitária que vai totalmente contra
os valores defendidos por Elis ao longo de sua
vida. Isso levanta outra questão: em um futuro
próximo, será possível reescrever histórias e
biografias por meio de simulações de IA?w

Assista ao vídeo da campanha da Volks aqui


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expediente | edição #66

Diretor de Redação
_ Renato Rovai

Editora executiva
_ Dri Delorenzo

Textos desta edição:


_ Ivan Longo
_ Plínio Teodoro
_ Iara Vidal
_ Raphael Sanz
_ Julinho Bittencourt
_ Marcelo Hailer

Designer Revisão
_ Marcos Guinoza _ Laura Pequeno
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