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Armamentismo ganha espaço


na agenda de líderes
evangélicos
Até dentro da bancada evangélica do Congresso,
que chegou a se posicionar contra decretos pró-
armas editados pelo presidente no passado, o
assunto hoje divide opiniões

Eduardo Gonçalves
29/04/2022 - 04:30 / Atualizado em 29/04/2022 - 10:35

O ministro da Educação, Milton Ribeiro Foto: Cristiano Mariz / Agência O


Globo / 29/11/2021

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BRASÍLIA - Historicamente rejeitada pela


maioria dos grupos evangélicos, a defesa do
armamento da população passou a ganhar
espaço de defesa entre líderes do segmento
religioso nos últimos anos, desde a chegada
de Jair Bolsonaro à Presidência. Até dentro
da bancada evangélica do Congresso, que
chegou a se posicionar contra decretos pró-
armas editados pelo presidente no passado,
o assunto hoje divide opiniões.

Pastor da Primeira Igreja


Presbiteriana Independente de SP: ‘
Exibicionismo de armas é equivalente à
pornografia’

A questão voltou ao debate nesta semana


com o episódio envolvendo o ex-ministro da
Educação, Milton Ribeiro, pastor
presbiteriano, que disparou um tiro
acidental na área de check-in do aeroporto
de Brasília. Graduado em teologia, ex-reitor
do Mackenzie e professor de Direito, Ribeiro
tem porte de arma expedido pela Polícia
Federal e registro de Caçador, Atirador
Desportivo ou Colecionador (CAC) emitido
pelo Exército.

O ex-ministro, no entanto, não está sozinho


no movimento cristão armamentista. Pastor
pentecostal da Assembleia de Deus e ex-
vereador pelo Republicanos, Cláudio
Ferreira virou coordenador do grupo Pró-
Armas em Sergipe. Em vídeos publicados
nas redes, ele explica como tem estruturado
o movimento no Estado, procurando apoio e
patrocínios de donos de clubes de tiro e lojas
de arma, além de pessoas dispostas a
defender a agenda em cargos políticos.

Política: Abraham Weintraub ironiza caso


de arma com ex-ministro Milton Ribeiro,
mas se retrata em seguida

— A grande maioria abraçou a causa aqui.


(...) Nós [o pró-armas] já crescemos uns
70%, 80% do que éramos no passado. (...)
Sabemos que hoje o pró-armas é a
esperança de adquirirmos algum direito —
diz ele, ressaltando a organização de
caravanas para protestar em Brasília.
Ferreira não foi localizado para comentar as
postagens.

Em Pernambuco, o pastor e vereador pelo


PP, Junior Tércio, e a sua mulher, deputada
estadual Clarissa Tércio (PP), também
incorporaram a pauta à sua agenda. Em
postagens recentes nas redes sociais, o casal
exibe fotos em que aparecem armados de
pistola e escopeta num clube de tiro. Em
uma delas, incluíram a seguinte mensagem:
“Juntos enfrentaremos todas as guerras,
seja no mundo espiritual ou material”.

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perda de florestas nativas no mundo
aconteceu no Brasil

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Líder da Igreja Ministério da Fé, o pastor


Fadi Faraj é outro propagador da tese de
que o “direito de defesa é bíblico”.

— A questão é defender nossos valores e


família. A Bíblia não contradiz defender a
família. Por exemplo, quando a Palavra diz
“não matarás”, é “defenderás” também —
afirma Faraj.

‘Jesus não era pacificador’

Mais do que encampar a bandeira como


uma opinião individual, esses religiosos
passaram a usar a Bíblia para defender o
ponto de vista. Citam, por exemplo, dois
trechos em que Jesus usa um chicote (na
visão deles, um armamento da época) para
expulsar os vendilhões do templo e, outro,
em que ele pede supostamente aos
discípulos para venderem a capa e
comprarem espadas.

Dentro da bancada evangélica, o assunto


está longe de um consenso. Mas,
diferentemente de como era no passado, os
que são contrários agora preferem não se
manifestar para não se indispor com
Bolsonaro. Já os que são favoráveis ao
armamento da população civil defendem a
bandeira com mais garra.

— Jesus não era um pacificador e tampouco


um pacifista. Isso são visões de um Jesus
histórico. A Bíblia defende o direito de
autodefesa e uma visão nacionalista —
afirma o deputado e pastor Marco Feliciano
(PL-SP), dirigente da Frente Parlamentar
Evangélica. O deputado pastor Abílio
Santana (PSC-BA), que é filiado a um clube
de tiro na Bahia, costuma discursar que
desarmar a população é “jogada da
esquerda”.

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Na lista dos evangélicos contrários à agenda


armamentista, que inclui até ex-delegados e
policiais, há figuras importantes da
bancada, como o ex-presidente do grupo e
amigo de Bolsonaro Cezinha de Madureira
(PSD-SP). Procurado pelo GLOBO, ele não
quis se posicionar sobre o tema.

O atual líder do grupo, Sóstenes Cavalcante


(PL-RJ), situa-se no que ele classifica como
“meio termo”:

'Desafio Euphoria': alunos simulam uso


de droga com corretivo e preocupam pais e
profissionais da saúde

— Acho que a posse tem que ser garantida a


quem quiser. E o porte tem que ter
mecanismos de controle do Estado. Se
deixar todo mundo andar de pistola e fuzil
para cima e para baixo, isso aqui vai virar
um bangue-bangue. Nós não temos cultura
para liberar porte à vontade— afirma ele,
que também atribui o crescimento do
movimento pró-armas entre integrantes do
grupo à questão política. — A tomada do
discurso desarmamentista pela esquerda
acabou empurrando muitos evangélicos a se
tornarem armamentistas.

A visão dele reflete o que pensa boa parte


dos grandes líderes das igrejas evangélicas
do país, como o pastor Silas Malafaia, o
bispo Manoel Ferreira e o pastor RR Soares,
que em vídeo disse ter pavor de armas (“eu
não gosto nem de ver”).

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— Claro que a essência da igreja é


missionária para levar amor, perdão e paz,
mas em casos excepcionais cabe aos cristãos
se protegerem— afirmou o bispo Robson
Rodovalho, líder da Igreja Sara a Nossa
Terra, que também diz se posicionar “no
meio de campo”.

Conveniência política

Na visão de especialistas no assunto, essa


pauta tem ganhado relevância no meio
evangélico por uma questão de
“conveniência política”.

— Como defendeu o cientista político


Vinicius do Valle, essas ideias estão
associadas a um pragmatismo político,
muito mais fundamentado numa questão de
conveniência política eleitoral do que na
ética cristã — afirmou o antropólogo Juliano
Spyer, autor do livro “Povo de Deus: Quem
são os evangélicos e por que eles importam”.

Fellipe dos Anjos, pastor Batista e


doutorando em Ciências da Religião pela
Universidade Metodista, lembra o papel
determinante que evangélicos tiveram nas
mobilizações a favor do desarmamento, no
fim dos anos 1990.

Investigação: Ex-ministro do MEC


descumpriu regra da ANAC ao descarregar
arma no balcão de aeroporto

— Dezenas de igrejas se tornaram postos de


coletas de armas. Muitas lógicas religiosas e
experiências políticas mudaram de lá para
cá. Entre elas, a intensificação de um
discurso de guerra espiritual que as
comunidades estariam em uma batalha que
visa o domínio político e cultural da nação.

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Se os religiosos armamentistas citam a


Bíblia para justificar as suas ideias, os
desarmamentistas também listam um vasto
repertório que mostram Jesus preferindo
entregar a própria vida ao invés de "exercer
o poder de matar", segundo Anjos. Entre os
trechos, mencionam ainda falas de Cristo
dizendo que quem “lança mão da espada,
pela espada perecerá” e que se alguém
“bater na face, oferece-lhe a outra”.

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