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Jair Bolsonaro venceu as eleições com uma votação expressiva do público evangélico e
apoio da ala conservadora da igreja católica, exibindo o lema “Brasil acima de tudo. Deus
acima de todos”, quando ainda candidato se apresentou como defensor dos valores cristãos e
da família. O lema pode ser lido assim, como um chamado ao patriotismo e aos valores
religiosos. Contudo, há uma alusão direta ao lema nazista “Deustschland Über Alles”
(Alemanha acima de tudo), que não pode ser ignorado. A Escolha do lema não é mera
coincidência. Assim como o “America First” de Trump evocou a memória do nacionalismo de
extrema-direita dos Estados Unidos, o “Brasil acima de tudo” sinalizou, de tal modo, um
alinhamento político-ideológico com o que há de mais agressivo e sectário no campo da direita
hoje. Sim, estamos falando do ressurgimento do fascismo como força política relevante e
atuante no mundo. Trump nos EUA, Bolsonaro no Brasil, Boris Johnson na Inglaterra, Matteo
Salvini na Itália, Viktor Orbán na Hungria, formam um bloco disperso economicamente, mas
coeso no seu modo de fazer política, o qual denominaremos aqui de novo fascismo.
Seus ministros são pessoas semi-formadas, de pouco prestígio para as pastas que
assumiram. Com exceção talvez de Paulo Guedes e Marcos Pontes (casos que rendem uma
boa discussão), a maioria não tem compromisso com a comunidade científica ou profissional
das áreas que atuam. O ministro Weintraub é um exemplo disso. Vindo do campo da economia
e da administração de empresas, não tem nenhuma intimidade com o debate educacional,
busca implantar um plano empresarial, destoante do papel social e científico das
Universidades públicas. Ao mesmo tempo, é desrespeitoso com a produção educacional
brasileira ao desqualificar o legado de Paulo Freire, com provocações infantis nas redes sociais.
Um governo minimamente sério, nunca indicaria uma pessoa com tão poucas qualificações
para o cargo e com tão pouca diplomacia para lidar com a questão tão fundamental para o
desenvolvimento do país, como a educação.
Por fim o fascismo de hoje une o militarismo com a religião. Não é segredo para
ninguém que o fundamentalismo religioso sempre esteve ao lado de governos ditatoriais.
Bolsonaro que, plagiando a ministra Damares, se apresenta como um presidente
“terrivelmente” cristão, não tem nenhum pudor em defender a tortura, a ditadura e as armas
como solução política para a segurança do país. A mensagem cristã do perdão e da não-
violência, se transforma numa reação armada aos “pecadores”. O símbolo da “arminha com a
mão”, substitui a mão estendida do acolhimento. São inúmeras as referências bíblicas sobre a
vida de Cristo em que ele condena a violência e o uso das armas. Numa delas, quando um
soldado romano que o levaria preso para o julgamento de Pôncio Pilatos tem sua orelha
arrancada pela espada do apóstolo Pedro, que sai em defesa de seu mestre, Jesus calmamente
devolve a orelha para o soldado e repreende seu discípulo, dizendo-lhe que “quem vive pela
espada, morrerá pela espada”. Não bastasse o seu discurso belicoso, Bolsonaro se destaca por
proferir impropérios, semear a discórdia e desrespeitar a memória dos mortos, um
comportamento, acredito, destoante da mensagem cristã. Também numa outra referência em
que Jesus questiona os ritos de lavar as mãos dos escribas e fariseus, pronuncia que “O que
contamina o homem não é o que entra, mas o que sai da boca [...] o que sai da boca, procede
do coração”. Ao dizer isso, adverte sobre o que professamos, aquilo que professamos é o que
temos de mais íntimo. Bolsonaro, nesses sete meses de governo, não conseguiu dizer uma
palavra de conciliação e de esperança para os mais de 13 milhões de desempregados do país.
Ao contrário, seu discurso tem contaminado o cotidiano com a discórdia e uma sutil vileza, que
busca normatizar práticas despóticas e espúrias. Ele é a expressão mais acabada do novo
fascismo brasileiro.