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INÍCIO 〉 GERAL

SUPREMACISTAS

Cinco vezes que Bolsonaro, ou


pessoas ligadas a ele,
recorreram a símbolos nazistas
Gesto de Filipe Martins, assessor do presidente, não é
isolado e mostra relação estreita de Bolsonarismo com
nazismo

Igor Carvalho
Brasil de Fato | São Paulo (SP) | 25 de março de 2021 às 13:45

Filipe Martins e o gesto que gerou revolta, por sua


identificação com supremacistas brancos -
Reprodução/TV Senado

O assessor internacional da Presidência da


República, Filipe Martins, não foi a única
pessoa no círculo de amigos, ou de aliados de
Jair Bolsonaro (sem partido), que recorreu a
gestos e símbolos que fazem referência ao
nazismo. O Brasil de Fato encontrou outros
cinco momentos em que bolsonaristas
mostraram a relação estreita que existe entre o
brasileiro e o movimento fundado por Adolf
Hitler, responsável pelo assassinato de
seis milhões de judeus.

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Na última quarta-feira (24), Martins aparecia


na TV Senado, atrás do presidente da Casa, o
senador Rodrigo Pacheco, quando fez um gesto
de “OK” com as mãos, mas com três dedos
retos, em forma de W. O gesto é classificado
pela Liga Antidifamação (ADL), entidade com
sede nos Estados Unidos, que combate o
antissemitismo, como forma de identificação
entre supremacistas brancos.

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Saiba mais: No Senado, assessor de Bolsonaro


faz gesto ligado a movimento supremacista

Em suas redes sociais, o Museu do Holocausto


criticou o gesto: “Pesquisas acadêmicas, como
da antropóloga Adriana Dias, mostram
crescimento no número de células neonazistas e
no engajamento de integrantes no Brasil. O
Museu do Holocausto, consciente da missão de
construir uma memória dos crimes nazistas que
alerte a humanidade dos perigos de tais ideias,
reforça que a apologia a este tipo de símbolo é
gravíssima. Nossa democracia não pode admitir
tais manifestações.”

Roberto Alvim

O caso mais emblemático, até então, era do ex-


secretário especial de Cultura, Roberto Alvim,
que em janeiro de 2020, copiou uma citação do
ministro de propaganda da Alemanha nazista,
Joseph Goebbels, em um discurso para as redes
sociais, para divulgar o Prêmio Nacional das
Artes.

Em um de seus discursos, Goebbels afirmou: “A


arte alemã da próxima década será heroica, será
ferreamente romântica, será objetiva e livre de
sentimentalismo, será nacional com grande
páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou
então não será nada”.

Leia mais: Roberto Alvim é demitido da


Secretaria de Cultura após copiar discurso
nazista

Na adaptação de Alvim, ficou assim: “A arte


brasileira da próxima década será heroica e será
nacional. Será dotada de grande capacidade de
envolvimento emocional e será igualmente
imperativa, posto que profundamente vinculada
às aspirações urgentes de nosso povo, ou então
não será nada.”

Roberto Alvim copiou discurso de Gobbels /


Foto: Reprodução

Paraquedistas

Em 17 de maio de 2020, ex-companheiros de


armas de Bolsonaro, quando o presidente era
paraquedista das Forças Armadas, foram até o
Palácio do Planalto saudar o mandatário.
Porém, no momento do cumprimento,
estenderam o braço direito para o alto e
gritaram “Bolsonaro somos nós”.

O episódio foi encarado por especialistas como


uma alusão ao nazismo. Entre eles, Lilia Moritz
Schwarcz, historiadora, doutora em
antropologia e professora titular da Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
(FFLCH) da USP. Em um artigo publicado na
Revista Zum , ela faz a relação entre o gesto e o
movimento alemão.

“Paraquedistas, vestidos com roupas militares,


entoam uma variação de Heil Hitler a partir do
grito de ‘Bolsonaro somos nós’, selando uma
espécie de compromisso coletivo, na base do
‘nós comum’, em torno dos ideais do
presidente. No caso, porém, o gesto não evoca
um ritual religioso, mas reforça um
compromisso bélico numa nação que não está
em guerra. Nesse sentido, indica uma possível
guerra no horizonte político, e sinaliza lealdade
ao dirigente”, explicou Shwarcz.

Para especialistas, não há dúvida sobre a


referência do gesto / Foto: Reprodução

Pai, filho e Allan dos Santos

Jair Bolsonaro e seu filho, o deputado federal


Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), protagonizaram
um dos episódios. Em maio de 2020, o
presidente tomou um copo de leite puro,
durante uma transmissão ao vivo em seu perfil
no Facebook.

Imediatamente, pesquisadores associaram o


gesto a uma prática de movimentos neonazistas
americanos, que passaram a tomar leite branco
como símbolo da supremacia branca. Um dia
depois, Eduardo Bolsonaro ironizou as críticas
recebidas pelo pai e postou uma foto dos atores
Lázaro Ramos e Thais Araújo bebendo leite
puro. O blogueiro Allan dos Santos, linha
auxiliar do bolsonarismo nas redes sociais,
repetiu o gesto em uma transmissão ao vivo do
seu canal.

:: Leite, racismo e neonazismo ::

“Nacionalistas brancos fazem manifestações


bebendo leite para chamar a atenção para um
traço genético conhecido por ser mais comum
em pessoas brancas do que em outros – a
capacidade de digerir lactose quando adultos. É
uma tentativa racista para se embasar em
‘ciência’ para diferenciar e justificar a ‘raça
branca’. Mas como já provado e explicado por
toda ciência: Não há evidência genética para
apoiar qualquer ideologia racista. O que há é, na
verdade, um governo tosco e motivado pelo
ódio”, explicou o antropólogo David Nemer, na
época.

“O extremismo do Bolsonarismo é tão tosco


que eles apropriam tudo da Alt Right
(extremistas brancos americanos) e com atraso
– já que isso começou nos EUA em 2017”,
ironizou.

Bolsonaro bebe leite branco e puro em sua live


semanal / Foto: Reprodução

Sara Winter

Fiel apoiadora de Jair Bolsonaro, a militante


Sara Geromini passou a usar o sobrenome
“Winter” para homenagear Sarah Winter, uma
mulher inglesa que se tornou espiã nazista e
integrante da União Britânica de Fascistas.

Em suas casas, a Winter original ostentava a


bandeira nazista e nunca foi punida pelos
bárbaros crimes cometidos pelos nazistas, ao
contrário de outros ingleses que se vincularam
ao governo de Hitler.

:: Sara Winter, agitadora de extrema direita, é


presa pela PF em Brasília ::

Winter, a brasileira, organizou um grupo


chamado “300 do Brasil”, que tinha como
objetivo “combater a corrupção e a esquerda no
mundo”. O grupo manteve, durante o mês de
maio de 2020, um acampamento na Esplanada
dos Ministérios. Nas marchas do movimento,
eles carregavam tochas e se vestiam de branco.
A estética se assemelhava à Ku Klux Klan
(KKK), movimento de supremacistas brancos
americanos.

Sara Winter e sua inspiração, a espiã nazista


Sarah Winter / Foto: Reprodução

Toda semana

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Em sua nota, o Museu do Holocausto lamentou


a série de episódios no Brasil. “É estarrecedor
que não haja uma semana que o Museu do
Holocausto de Curitiba não tenha que
denunciar, reprovar ou repudiar um discurso
antissemita, um símbolo nazista ou ato
supremacista. No Brasil, em pleno 2021. São
atos que ultrapassam qualquer limite de
liberdade de expressão"

Edição: Rebeca Cavalcante

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