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Faculdade Cásper Líbero

Graduação Jornalismo

Rafaela Tanikawa Mesquita Zampolli

Por aí vai
Roberto Alvim e o Nazismo

São Paulo

2023
Por aí vai

Em 16 de janeiro de 2020, a Secretaria Especial de Cultura divulgou um vídeo do secretário


Roberto Alvim anunciando o Prêmio Nacional das Artes, projeto que movimentou mais de
R$ 20 milhões. A fim de engrandecer o discurso, Alvim se posicionou da mesma forma que
o reconhecido Ministro da Propaganda Nazista, Joseph Goebbels, e reproduziu suas frases
ao som da ópera de Richard Wagner, a favorita de Adolf Hitler.

Hitler começou discursando nas cervejarias, Roberto Alvim já estava atrás das mesas de
um gabinete fazendo pronunciamento oficial para o Brasil inteiro, que não se contentou com
o dito e fez o mundo tomar consciência da barbárie. A Embaixada da Alemanha repudiou a
fala de Alvim, deixando explícita a problemática de "banalizar ou glorificar a era do
nacional-socialismo".

A base do discurso regimental foi trazer a sensação de ameaça, literalmente fazer sentir
que as mulheres, a economia, as crianças e a soberania do país estariam sob constante
perigo e precisavam se proteger. Se você ficou em dúvida a respeito de qual regime eu
estou me referindo (bolsonarista ou nazista), lhe digo que tanto faz, a final, foi neste
pronunciamento que as coisas se fizeram indissociáveis.

Alvim? Quem?

Roberto Alvim é dramaturgo, conhecido no meio das direções teatrais, e tem um problema
de saúde que o levou para a conversão à religião evangélica. Seus posicionamentos
sempre se movimentaram na direção da crítica à produção cultural contemporânea, mas foi
apenas quando chamou Fernanda Montenegro de mentirosa e sórdida que completou a
carteirinha e foi chamado por Bolsonaro para uma cadeira na Fundação Nacional de Artes.

Confortavelmente sentado na Funarte, Alvim dizia que iria movimentar uma guerra cultural.
Uma de suas mais duvidáveis decisões foi chamar o jornalista Sérgio Camargo para presidir
a Fundação Palmares: órgão de referência na preservação das manifestações culturais
negras e difusão da Lei que torna obrigatório o ensino da História Afro-Brasileira nas
escolas. Sérgio, porém, disse que a escravidão foi boa para os negros e mal sentiu o cheiro
da Fundação.

A coincidência retórica, perfeita

"O que a esquerda está fazendo é uma falácia de associação remota: com uma
coincidência retórica em UMA frase sobre nacionalismo em arte, estão tentando
desacreditar todo o PRÊMIO NACIONAL DAS ARTES, que vai redefinir a Cultura
brasileira... É típico dessa corja.", escreve Alvim no Facebook.
Ameaçado, Alvim argumentou: “A similaridade para no âmbito nacionalista, no campo das
artes e conservador, e na busca por um ideal clássico. [...] As ideias contidas na frase são
absolutamente perfeitas e eu assino embaixo delas. Daquelas ideias. Depreender daí uma
associação com todo o restante, de extermínio de pessoas, é ser absolutamente mal
intencionado”.

Como diz a professora de história contemporânea da Faculdade Cásper Líbero, Vanessa


Bortulucce, “o nazismo ainda vende”, e as palavras de Joseph, reproduzidas por Roberto,
estavam carregadas de apelo à autoridade, uma certa repetição de constatações capazes
de estimular a sensação de repressão ao que estaria causando medo. Não à toa, as
palavras escolhidas são de desconhecimento popular, e é necessária certa experiência
acadêmica para que se entenda o que está sendo dito.

A virtuosidade nas palavras é propositalmente implantada para causar sensação de


soberania sobre quem ouve e não as entende. As frases contém diversos subentendidos, e
ocultam palavras que facilitariam o entendimento sintático. A imposição, quase paternal, é
expressa pelo uso contínuo do imperativo. Não obstante, ambos personagens trazem uma
referência musical.

A música favorita de Adolf Hitler

Apesar das manifestações religiosas não serem populares no contexto nazista, a música
clássica fez referência ao divino. Ao contrário das “obras musicais dos judeus e do Jazz
negro degenerado”, a ópera Lohengrin, do romântico alemão Richard Wagner, tocou o
coração de Hitler e de Alvim. Essa foi a trilha sonora escolhida para a propaganda
governamental que anunciou o Prêmio Nacional das Artes.

Tchau!

"Tendo em vista o imenso mal-estar causado por esse lamentável episódio, coloquei
imediatamente meu cargo à disposição do Presidente Jair Bolsonaro, com o objetivo de
protegê-lo."

Neste instante, ficou claro que a apologia ao Nazismo é impensável para muitos dos
brasileiros. Não para todos, vergonhosamente. Poucas horas depois, Roberto Alvim foi
exonerado do cargo de Secretário Especial de Cultura, pelo próprio governo Bolsonaro. Um
ano depois, o ex-secretário já declarava que este havia sido seu maior erro, “maldito
discurso”.

“A frase em si não tinha nenhuma conotação nazista, por isso não percebi nada de errado.
De qualquer forma, mesmo ignorando, ter deixado aquilo passar no meu discurso foi um
engano terrível – que, repito, quase me custou a vida.”
Joseph Goebbels e a manipulação cerebral

No ano de 1933, livros impróprios foram queimados diante de uma grande campanha
promovida por Goebbels. Foram censurados livros de autores judeus, pacifistas, liberais,
clássicos, anarquistas, socialistas e comunistas. A arte alemã da próxima década seria
heróica e romântica. Bom, pelo menos esse era o seu desejo… Seu admirador, Alvim, tem
exatamente as mesmas ambições artísticas.

“A educação nacional alemã será colocada em minhas mãos”, dizia Goebbels, reforçando a
ideologia nazista, banindo e descredibilizando dissidentes. O ministro mais jovem e mais
importante para Hitler é, até hoje, reconhecido pelas suas técnicas de manipulação cerebral
que passaram a ser as próprias técnicas nazistas.

As transmissões de rádio eram controladas, o aparelho estava sendo vendido a preço de


banana para que todos pudessem comprar, alto-falantes eram observados por toda parte.
"Acabem com o comunismo”, “livre a alemanha dos judeus”, dizia o ministro nazista. Não à
toa, a frase de Goebbels repetida por Alvim foi dita em 8 de maio de 1933, dois dias antes
da maior queima de livros e perseguição intelectual do regime.

Apesar da associação nichada, algumas atitudes deixaram Alvim à vontade para manifestar
toda imundice nazista. Afinal, Cristo andaria armado com uma pistola, diz Bolsonaro. Um
mês antes da fala, o pastor Dinho Souza rifou uma arma na igreja, porque “aquele que
negligencia a defesa da sua família não pode ser chamado de homem”. Por aí vai.

“Quando o dogma fica acima da vida, se salva o dogma e se sacrifica a vida. Isso sempre
foi assim na história da humanidade. Quando a religião é mediada pelo amor, ela faz coisas
belíssimas: ajuda o mundo, produz a paz.”

-Pastor Henrique Vieira

Fontes:

https://g1.globo.com/mundo/noticia/morre-aos-106-anos-ex-secretaria-de-goebbels-ministro-
de-propaganda-de-hitler.ghtml

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/redatora-de-mentiras-brunhilde-p
omsel-secretaria-do-ministro-joseph-goebbels.phtml

https://www.youtube.com/watch?v=AEeFlIr0d7I&ab_channel=Estad%C3%A3o
https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/01/17/embaixada-da-alemanha-se-p
ronuncia-apos-alvim-copiar-discurso-de-nazista.htm

https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-e-lazer/noticia/2020/01/roberto-alvim-diz-que-citacao
-a-goebbels-foi-coincidencia-mas-que-a-frase-em-si-e-perfeita-ck5i57svc00ny01plot5kixfa.ht
ml

https://www.cartacapital.com.br/cartaexpressa/engano-terrivel-um-ano-depois-de-discurso-n
azista-roberto-alvim-lamenta-episodio/

https://youtu.be/51jQlzZUFoE

https://youtu.be/wVYYtQcXdyM

https://youtu.be/WHXPjU_CSoA

https://youtu.be/KMqbn8-LwY4

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-51149261

https://open.spotify.com/episode/4jCmtowszj6ynJW3KoJhC8?si=WlMc8klhTdm8LhuwAKzkZ
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