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História Contemporânea
História Contemporânea
Recensão Critica:
Noite
De Elie Wiesel
O Autor
Mais tarde em 1955 mudou-se para os Estados Unidos, especificamente para Nova
Iorque. Wiesel escreveu mais de 40 livros, tanto ficcionais como não, e é considerado
um dos maiores nomes da dita Literatura do Holocausto, tendo inclusivamente ganho
um prémio Nobel.
A Obra
Introdução
De entre as suas obras decidi abordar aquela que é em geral considerada a mais
importante e pela qual lhe foi atribuído um prémio Nobel em 1986, Night.
Esta obra foi inicialmente escrita em yiddish e o tomo continha cerca de 900 páginas,
mais tarde foi traduzido para francês e transformada na novela de127 páginas La Nuit
que eventualmente foi traduzida para o inglês. Wiesel teve muitos problemas para
encontrar um editor e quando finalmente editou o livro em 1958 ele teve inicialmente
muitos problemas em vender. Também é de relevância a edição de 2006 que surge com
o revivalismo da obra do autor, especialmente no Reino Unido onde recebeu nesse ano
um título de cavaleiro honorário por educar a população do Reino Unido quanto à
história dos horrores do Holocausto. A versão utilizada nesta recensão é a tradução
portuguesa de Paula Almeida, editada em 2003 pela Texto Editora.
A obra é narrada por Eliezer, um jovem judeu que começa por viver na sua cidade natal
Sighet na Transilvania Húngara. Como qualquer jovem da sua cultura aprendia a Torah
e tinha inclusive o professor para lhe ensinar a Cabala. Um dia no entanto este professor
e deportado e no seu regresso traz consigo historias horríveis sobre como a Gestapo
havia controlado o comboio em que ele seguia e de seguida encaminhado os judeus para
um bosque onde eles haviam sido brutalmente assassinados, contudo todos o tomam por
um lunático.
Eliezer conta a história de como ele e o seu pai foram separados da sua mãe e três irmãs
e submetidos a um processo de escolha para decidir se estariam aptos a trabalhar ou se
seriam mortos imediatamente, exame que passam mas apenas para verem uma fornalha
repleta de corpos de crianças a caminha das casernas dos prisioneiros. A expressividade
da escrita de Weisel (quanto à dita fornalha) chega a ser assustadora mas isso só
enriquece um texto que realça aqueles que foram possivelmente os actos mais
desumanos do passado século.
Em seguida o jovem e o seu pai seguem para o campo principal, Auchwitz, onde os
mais diversos tipos de crueldade os esperam a eles e aos que os acompanham, sendo
que Eliazer nos relata inclusive como perdeu o seu dente de ouro que lhe foi arrancado
com uma colher ferrugenta. O livro aborda também o pessimismo (em muitas situações)
extremo dos judeus que viviam nestas condições, como muitos perdiam a sua fé e outros
encontravam conforto na compaixão para com o próximo ou nos ideais do Sionismo, a
defesa da criação de uma nação judaica na Palestina. É também brutal a descrição de um
ambiente em que a morte é sempre eminente, estando estes “escravos” constantemente
Mas os relatos mais fortes do livro serão quase sem duvida os dos enforcamentos que
tomavam lugar no campo os quais os prisioneiros eram forçados a ver, Eliezer expressa
aqui muito bem a sua perda de fé, ambígua no sentido em que era circunstancial pois
qualquer pessoa naquelas condições poria as suas convicções em questão.
Ao fim de meses no campo Eliezer tem uma infecção no pé e é internado mas nesta
altura os nazis vão forçar os prisioneiros a viajar a pé e sem qualquer protecção contra
os elementos de Auchwitz para Gleiwitz, uma viajem de cinquenta milhas para muitos
letal e a qual Eliezer realça ter sobrevivido apenas com a ajuda do seu pai, o que não
aconteceu com outros judeus do seu relato os quais abandonavam os pais para tentar
garantir a sua sobrevivência. Depois disto foram novamente “enlatados” em comboios
para se dirigirem ao seu destino final Buchenwald. No entanto após sobreviverem a
tudo isto, Eliezer e o seu pai são finalmente separados quando este morre, apenas meses
antes das tropas americanas liberarem o campo de concentração onde se encontravam.
A obra tem uma enorme relevância no estilo que pode ser classificado como literatura
do holocausto, pois alguns acontecimentos desta época são de facto tão incrivelmente
desumanos que é de compreender o cepticismo que se pudesse fazer sentir na altura
quanto a eles e este tipo de testemunho, e efectivamente a romantização do mesmo vem
realçar o horror que se fez sentir assim como dar que pensar quanto aos erros que se
deseja que a humanidade não volte a cometer.
Admito que pessoalmente (apesar de não nutrir qualquer tipo de ideais anti-semitas)
nunca me senti confortável com a ideia de o holocausto ser contado por judeus por uma
questão de bias, no entanto, a opção de Wiesel de romantizar esta obra adiciona-lhe (na
minha opinião) uma enorme credibilidade pois assim ela não se pretende assumir como
facto absoluto mas sim como relato livre, dando assim ao leitor a hipótese de pensar por
Esta obra acaba então por ter dois grandes pontos a seu favor, por um lado o relato
histórico (mesmo que romantizado) dos tormentos do autor e outros judeus durante o
Holocausto, e por outro o valor artístico e humano de alguém que consegue transformar
tão grande sofrimento em arte, chegando a passar tão vívida uma imagem daquilo que
havia passado que nos chega a fazer sentir na sua pele, obrigados a viver num mundo
sem qualquer tipo de esperança.
Gostaria então de deixar como minha opinião final que o livro é uma obra interessante e
de valor, não se limitando a ficar pela mediocridade devida ao tema que por si já torna
fácil uma escrita muito expressiva, ficam-me dele grandes reflexões do autor, assim
como a lembrança do seu debate com a desumanidade e com a perda de fé.
Bibliografia
▪ WIESEL, Elie, La Nuit, Paris, Les Editions de Minuit, 1958 (trad. Port.: Noite, trad.
Paula Almeida, Lisboa, Texto Editora, 2003.)