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de Miguel Torga
Análise externa:
Análise interna:
O sujeito poético inicia a sua composição lírica com duas comparações: “Tal
como o camponês” e “Ou como tu pastor”. O sujeito poético compara o canto
destes dois seres ao seu próprio canto, isto é, o canto através da palavra que é
a poesia. E qual é a sua forma de cantar? O sujeito poético canta “livre” e “sem
me ouvir”, pelo facto de ser um canto que provém de dentro, dentro de si, razão
pelo qual ninguém não o ouve e nem mesmo a ele próprio.
O sujeito poético remete a seguir para o ofício de pastor, tendo esta palavra um
sentido duplo: o pastor de ovelhas e o das missas, ou seja, o sujeito “compara”
por assim dizer que o bom pastor era Jesus e o povo eram as suas ovelhas.
Toda a poesia exprime um conjunto de mitos agrários de uma forma pessoal que
é a sua visão.
Feita a análise interna, retornemos ao título deste poema. O título deste poema
é comunhão, porque o eu lírico está em comunhão com a natureza e com todo o
ambiente pastoril e campestre.
Desfecho
Não tenho mais palavras.
Gastei-as a negar-te...
(Só a negar-te eu pude combater
O terror de te ver
Em toda a parte).
Fosse qual fosse o chão da caminhada,
Era certa a meu lado
A divina presença impertinente,
Do teu vulto calado,
E paciente...
E lutei, como luta um solitário
Quando, alguém lhe perturba a solidão
Fechado num ouriço de recusas,
Soltei a voz, arma que tu não usas,
Sempre silencioso na agressão.
Mas o tempo moeu na sua mó
O joio amargo do que te dizia...
Agora somos dois obstinados,
Mudos e malogrados,
Que apenas vão a par na teimosia.
Miguel Torga,
Câmara Ardente
1. Divida o poema nas suas partes ló9icas e identifique o assunto de cada uma.
- no passado;
- no presente.
4. "Soltei a voz, arma que tu não usas, / Sempre silencioso na agressão."
5 Comprove, a partir do poema, que a negação do Divino é, para Torga, uma
forma de afirmar o Homem.
II
Elabore uma dissertação em que aborde o seguinte tema: o mito de Anteu na poesia
de Cesário Verde.
(Cenários de resposta)
- o refúgio na recusa;
- a obstinação.
No presente, sente que o tempo lhe trouxe uma certa conformação, embora
permaneça obstinado, a "par na teimosia ...
4.1. O primeiro verso "Soltei a voz, arma que tu não usas," exprime as
palavras de alguém inconformado, que só consegue recorrer ás palavras
para traduzir a sua revolta ou inconformismo; o verso "Sempre
silencioso na agressão" remete para a imagem de que o silêncio vale
muitas vezes mais do que qualquer palavra. Esta surge como a arma do
divino.