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Relação causal

A discussão da causação [relação causal] por Hume é uma das mais substanciais contribuições do
empirismo para a filosofia. Q u e podemos observar dos poderes e estruturas causais existentes no
mundo? Falamos rotineiramente de forças, ações, influências - objetos a afetar outros objetos, um
evento a produzir um outro. (Podemos imaginar um mundo sem causa lidade? Procuremos imaginá-lo
agora. A leitura da frase anterior levou-nos a fazer essa tentativa de imaginar que não há causalidade?)
Mas podemos conhecer empiricamente esses aspetos causais do mundo?
Depende do que é a causação[relação causal]. Muitos diriam que é uma forte conexão entre dois
eventos, com um a necessitar do outro. Contudo, já observámos de facto esse tipo de ligação? Hume
negou que alguém o tenha conseguido. A sua posição era que estamos restringidos a observar, no má -
ximo, padrões de associações e não qualquer outro elo de conexões. (…)
Observemos um fósforo e a chama subsequente depois de o friccionarmos. Observemos um outro
fósforo friccionado com outro, daí resultando também uma chama. Poderíamos prolongar este padrão à
vontade; de facto, chamamos-lhe um padrão causal. Mas a posição de Hume foi que ninguém - e isso
inclui os cientistas entre nós - pode observar uma necessitação subjacente. A observação, por muito
sofisticada que possa ser, revelará apenas um evento seguido de um outro. Por mais fósforos que
friccionemos e independentemente da proximidade com que sejam observados, nada se observa para
além de uma regularidade. (…)
Primeiro, temos um; depois - mesmo que rapidamente - temos o outro, metafisicamente distinto do
primeiro. Embora possamos inferir que há um elo oculto, esta inferência ultrapassa qualquer apoio
observacional direto que possamos ter em seu favor. Não podemos observar a ligação como tal;
podemos observar apenas o «antes» e o «depois». Inferir que a ligação extra está presente é ir aonde a
observação como tal não nos pode levar. Assim, qualquer afirmação de que uma ligação causal subjaz
ao que é observado ou é conhecimento que não é puramente observacional - ou não é conhecimento
sequer.

S. Hetherington, Realidade, Conhecimento, Filosofia. Uma introdução à


metafísica e à epistemologia, Instituto Piaget, 2007, pp. 162-163.

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