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DAVID HUME

Conteúdos da Mente
Temos acesso direto apenas ao que se encontra na nossa mente e na mente há
pensamentos, recordações, sensações, sentimentos, desejos, etc.
Tudo isso são perceções, pois é o nome que Hume dá aos conteúdos da mente.
Todas essas perceções podem ser divididas em dois tipos principais:
- impressões (por exemplo, a sensação de calor e as sensações auditivas);
- ideias (por exemplo, os pensamentos e as recordações).
Fundamento do conhecimento
Como as ideias são formadas a partir (são cópias) das impressões, é nas
impressões que está o fundamento do conhecimento e não nas ideias.
Isso significa que, se alguém não tiver a impressão de azul (se nunca tiver tido a
sensação de ver algo azul), então também será incapaz de ter o pensamento
correspondente, ou seja, será incapaz de formar a ideia de azul.
Assim, tudo começa com as sensações ou impressões sensíveis, e mesmo as ideias
mais abstratas são formadas a partir da matéria das impressões.
Daí que o fundamento do conhecimento sejam as impressões sensíveis e não as
ideias ou pensamentos. Por isso, Hume é um empirista e não um racionalista: as
impressões sensíveis são a base ou fundamento do conhecimento.
Ideia de Deus
Mas será que também a ideia de Deus tem origem empírica?
Hume defende que sim.
Mas como?
Ela é derivada das impressões internas, ou seja, das impressões que temos acerca de nós
próprios. Hume chama reflexões a essas impressões. Ao refletirmos sobre as operações da
nossa inteligência, da nossa sabedoria, da nossa bondade, etc., podemos usar a nossa
imaginação para aumentarmos de forma ilimitada essas qualidades, formando desse modo
a ideia de um ser infinitamente bondoso, sábio e inteligente (a ideia de um ser perfeito).
Assim, a ideia de um ser perfeito não tem de ser causada ou posta em nós por algum ser
perfeito. A ideia de ser perfeito (Deus) tem uma origem empírica e não tem de existir um
ser perfeito para formarmos a ideia de perfeição.
Conhecimento proposicional
Apesar de as impressões e as ideias serem os materiais do
conhecimento, elas ainda não são conhecimento em sentido
proposicional.
Quanto ao conhecimento proposicional, Hume considera então outro
princípio, que é conhecido como o princípio da bifurcação:
Há apenas duas espécies, mutuamente exclusivas, de conhecimento
proposicional:
— ou esse conhecimento é de questões de facto,
— ou esse conhecimento é de relações de ideias.
Conheciment
o
Há água em estado sólido.
questões Marte é um planeta mais pequeno que a Terra
de facto No dia 25 de abril de 1974 ocorreu uma
revolução política em Portugal.
de (conhecimento
factual) A cidade de Braga fica a norte da cidade do
proposiçõe Porto.
s relativas
a ...

O que é redondo não é quadrado.


relações 1 + 2 = 3.
de ideias Deus existe ou não existe.
(conhecimento O todo é maior do que cada uma
conceptual)
das suas partes.
Questões de facto
1. Há conhecimento de factos particulares mas não há aqui qualquer raciocínio
lógico envolvido.
Ex: Está a chover em Lamego.

2. A fonte do conhecimento de questões de facto é a experiência ou observação:


trata-se de conhecimento a posteriori (ou empírico).

3. É o conhecimento substancial e ampliativo, pois diz respeito ao conhecimento


da natureza.

4. Pode ser composto por factos gerais, causas e efeitos (conhecimento


proporcionado pelas ciências).
Nestes casos, temos de usar o a indução.
Relações de ideias

1. Apenas se usa o raciocínio dedutivo (lógico)

2. A fonte do conhecimento de relações de ideias é o


pensamento ou raciocínio: trata-se de conhecimento a priori
(ou racional).

3. Não é conhecimento substancial, pois diz respeito apenas aos


próprios conceitos que usamos, suas relações e significados.
Como ir além da experiência?
Hume considera que o conhecimento das questões de facto (ou seja, da natureza) é a
posteriori (ou seja, baseia-se na experiência).

Contudo, as ciências permitem:


• formular leis da natureza;
• fazer previsões do que irá acontecer;
• explicar as causas do que acontece.

Em todos estes casos acabamos, no entanto, por ir além da experiência, isto é, além do
que foi observado.
• Mas afinal como chegamos nós a esse tipo de conclusões universais, conclusões
sobre o futuro e conclusões sobre causas, a partir de observações particulares?

• A resposta comum é que a transição dos casos particulares observados para


afirmações gerais (e também para casos futuros ou para explicações causais) se faz
por indução (raciocínio indutivo).

• Mas a própria indução depende, segundo Hume, da relação de causa e efeito (da
noção de causalidade).

• Qual é, então, a origem da nossa noção de causalidade?


Causalidade e Conjunção constante
(diferença)
A conjunção constante ocorre entre quando associamos dois tipos de
acontecimentos
Ex. (A e B ocorrerem sempre um após o outro).

MAS
Duas coisas podem ocorrer sempre conjuntamente, e, no entanto,
nenhuma delas ser causa da outra. Por exemplo, sempre que faço anos é
também feriado em Portugal (há conjunção constante). Porém, uma
coisa não é causa da outra (não há causalidade).
O que explica, então, a diferença entre conjunção constante e
causalidade?

A diferença é que, ao afirmarmos que A é a causa de B, estamos a querer


dizer que uma coisa não poderia ocorrer sem a outra, e não apenas que
observámos uma sempre que foi observada a outra, ou seja, ao falar de
causalidade estamos a dizer também que há uma conexão necessária entre A e
B.
Mas, como observamos coisas a acontecer e nada mais, apenas observamos A
e B repetidamente, não observamos que tem de ocorrer B sempre que ocorre
A.
Dito de outro modo, apenas observamos conjunções constantes entre A e B e
não conexões necessárias. Ora, se não observamos conexões necessárias,
então também não observamos qualquer relação de causalidade na natureza.
Qual a origem da noção de causalidade, dado que não observamos
relações causais na natureza?
Hume diz que a observação de certos tipos de acontecimentos que
repetidamente se sucedem a outros gera em nós a expectativa de que, da
próxima vez em que um ocorre, também ocorra o outro.
Essa expectativa não resulta de qualquer raciocínio (não é do domínio da
lógica). É simplesmente uma tendência natural (tem um caráter meramente
psicológico), fundada na experiência acumulada, e que o nosso instinto de
sobrevivência tem mostrado ser adequada e adaptada ao funcionamento do
mundo.
Hume chama hábito a essa tendência que nos leva a esperar que aquilo que
repetidamente vimos ocorrer no passado ocorra também no futuro.
Assim, não observamos relações de causa e efeito na natureza. É apenas o
hábito que nos leva a acreditar que há realmente relações causais.
Hume afirma assim que não observamos causas nem efeitos, mas apenas
conjunções constantes.

Então que valor têm as nossas induções???


Como justificar racionalmente o raciocínio indutivo?

Só há duas maneiras de justificar racionalmente (logicamente) as nossas inferências


indutivas:
• por demonstração, ou seja, dedutivamente;
• recorrendo à observação, ou seja, indutivamente.
Mas, diz Hume, nenhuma demonstração (argumento dedutivo) permite justificar a
transição da observação de casos particulares para afirmações universais, pois as
demonstrações não têm o caráter ampliativo.
Porém, também não é racionalmente aceitável justificar logicamente a indução
recorrendo ao raciocínio indutivo, pois justificar indutivamente o raciocínio indutivo é
apresentar uma justificação circular.
Logo, nenhuma razão (seja dedutiva ou indutiva) permite justificar as nossas inferências
indutivas.
• HUME

• Cético…

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