Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
David Hume
5. Por que razão o princípio da cópia implica que não há ideias inatas?
Se as ideias são cópias de impressões e são por isso causadas por estas, então têm uma origem
empírica. As nossas ideias formam-se todas a partir da experiência.
12. Por que razão associamos a ideia de causa à ideia de conexão necessária?
Porque entendemos a ligação entre causa e efeito como uma relação que acontece sempre e
não só quando observamos dois eventos conjugados e sucedendo um ao outro. Sempre que
dois acontecimentos aparecem regularmente conjugados, julgamos que a um se segue
necessariamente o outro, de tal modo que a causa tem o poder de necessária ou
inevitavelmente produzir o outro.
13. Pode a experiência – o único critério de verdade dos juízos de facto – provar essa
conexão necessária?
Não. Quando dizemos que um acontecimento (A) causa necessariamente outro (B), dizemos
que A causa sempre B. Ora, causar sempre significa que causou, causa e causará. Mas isto
implica que teríamos de ter a impressão deste poder causal no futuro. Contudo, de
acontecimentos futuros não temos qualquer impressão sensível. Logo, a experiência não
encontra nenhuma impressão que corresponda à ideia de conexão necessária.
14. A que se deve então a nossa crença de que há acontecimentos que estão
necessariamente conectados?
Deve-se a um fator psicológico: o hábito. Transformamos uma relação de sucessão temporal
constante entre dois factos – a única coisa que a experiência nos pode dar – numa conexão
necessária porque habituados a observar dois acontecimentos constantemente conjugados
julgamos um não pode acontecer sem o outro. O costume ou hábito gera em nós a crença, a
convicção de que aquilo a que chamamos efeito deve seguir-se àquilo a que chamamos causa.
16. Em que se baseiam as nossas relações causais e a confiança que depositamos nos
raciocínios indutivos?
Baseiam-se na crença da uniformidade da natureza, na suposição de que o que sucedeu no
passado voltará a acontecer no futuro do mesmo modo.
18. O que conclui Hume da sua análise dos problemas da causalidade e da indução?
Conclui que o conhecimento do mundo não é possível porque não podemos justificar nem a
crença na causalidade nem a crença na indução. Apesar desta conclusão, há razão para não
considerar Hume um cético radical. O conhecimento do mundo não tem um fundamento
objetivo, mas o hábito assume o papel de princípio produtor de uma crença natural segundo a
qual o mundo funciona como julgamos que funciona.
Resumo da teoria do conhecimento de David Hume
Nem todas as ideias são Todas as nossas ideias têm uma origem
OS CONTEÚDOS inatas, mas o conhecimento empírica, mesmo as mais complexas e
DO funda-se em ideias inatas ou abstratas. São cópias de impressões
ENTENDIMENTO puramente racionais.
sensíveis. Por isso não há ideias inatas. O
empirismo rejeita o inatismo.
EXERCÍCIOS
1. De que depende o nosso conhecimento acerca de questões de facto?
Parece uma proposição, não suscetível de muita discussão, que todas as ideias são
apenas cópias das nossas impressões ou, por outras palavras, que nos é impossível
pensar qualquer coisa que previamente não tenhamos sentido, quer pelos nossos
sentidos externos ou internos. Esforcei-me por explicar e demonstrar esta
proposição e expressei a esperança de que, mediante uma conveniente aplicação
dela, os homens possam alcançar uma maior claridade e precisão nos raciocínios
filosóficos do que a que, até agora, conseguiram obter.»
Hume pensa que não temos conhecimento do eu, porque não temos qualquer
impressão que lhe corresponda. Temos consciência das nossas perceções, sensações e
sentimentos, pensamentos e emoções. Mas, por mais que procuremos, não
encontramos uma impressão que possa estar na origem da ideia de Eu. Sempre que
inspecionamos os conteúdos da nossa própria mente, descobrimos impressões e
ideias, de calor ou de frio, de claro ou escuro, de amor ou ódio, de prazer ou dor,
mas nunca encontramos nada que corresponda ao eu, que supostamente constitui a
sede dessas perceções. A mente, diz Hume, é uma espécie de teatro em que várias
perceções ocorrem sucessivamente. Contudo, a comparação com o teatro não nos
deve enganar, uma vez que são unicamente estas perceções que constituem a mente
e não temos a mais remota noção do lugar em que estas cenas são representadas ou
dos materiais de que são compostas.
Por outro lado, também não podemos estar certos da existência do mundo exterior.
Pensamos que existem objetos externos, que têm uma existência contínua e
independente de nós, porque temos certas perceções cuja origem atribuímos a esses
objetos. Mas será que podemos provar que esses objetos são efetivamente a origem
das nossas perceções? Hume pensava que não, porque a nossa mente conhece
unicamente as suas próprias perceções, isto é, as impressões e ideias, e tanto umas
como outras são estados internos, subjetivos, e não podem constituir prova de que
algo tem uma existência contínua e independente fora de nós. É perfeitamente
possível que essas perceções existam sem que lhes corresponda qualquer objeto
(prova-o as alucinações e os sonhos). A aparente constância das coisas, o facto de
que o que vemos hoje é mais ou menos igual ao que vimos ontem, leva-nos a
acreditar que têm uma existência independente das nossas perceções. Esta crença
não tem, no entanto, justificação porque não temos experiência da conjunção
constante entre os objetos e as nossas impressões. O facto de não se poder justificar
racionalmente a existência do mundo exterior, no entanto, não implica que este não
exista. Não podemos conhecer a existência do mundo exterior, mas podemos
acreditar que existe. Trata-se de uma crença que, embora não seja racionalmente
justificável, é tão natural que devemos perguntar que razões nos levam a acreditar
que o mundo externo existe e não propriamente se ele existe.
III
1. Esclareça o que distingue o empirismo de Hume do racionalismo de
Descartes.