Você está na página 1de 18

Filosofia

David Hume:
 Privilegia a experiência e o conhecimento a posteriori.
 Filósofo empirista.
 Indução.
 Defendeu que a capacidade cognitiva do conhecimento é limitada.
 Considerou que todo o nosso conhecimento é apenas provável e verosímil.

Para Hume:
Como o conhecimento deriva da experiência, o sujeito só tem a atitude de receber pois
se não houver o objeto, não há a impressão.
A mente humana é vazia de conteúdos, não possuindo qualquer conhecimento à
nascença: nega as ideias inatas.
 Todo o nosso conhecimento é adquirido.
O conteúdo da nossa mente: perceções
As perceções são classificadas segundo o critério do grau de força e vivacidade com que
afetam a mente.

Impressões Ideias
São vivas e intensas porque derivam diretamente São menos vivas e intensas porque resultam de
da experiência: originais. imagens mentais, que formamos a partir das
impressões.
São perceções mais intensas, podendo ser internas
ou externas. São perceções menos intensas, sendo cópias
das impressões.
Ex: sensações, emoções, paixões, quando vemos,
ouvimos, sentimos, amamos, odiamos, desejamos Ex: a imagem de uma árvore na memória.
ou queremos.

Ex:
Uma impressão é a sensação de dor provocada por uma queimadura; uma ideia é a
lembrança dessa sensação de dor ou da sua antecipação através da imaginação.
Que relação existe?
As ideias derivam das impressões, sendo as suas cópias. Se as ideias são cópias das
impressões e são causadas por estas, então não existem ideias inatas - afasta-se de
Descartes.
O poder criativo da mente exerce-se apenas sobre os materiais que nos são fornecidos
pelos sentidos e pela experiência.

Impressão simples: impressão de um tom de verde-não admitem qualquer separação ou


divisão.
Impressão complexa: impressão de um jardim- podem ser dividias em partes, resultando
da combinação das várias impressões.
Ideia simples: ideia de um tom de verde.
Ideia complexa: ideia de um jardim.
 Ideias simples derivam de impressões simples: representadas de modo exato.
 Muitas ideias complexas (formadas por exemplo na imaginação) não têm
qualquer impressão que lhes corresponda.
 Muitas das impressões complexas nunca são exatamente copiadas em ideias.
Não há conhecimento fora dos limites impostos pelas impressões.

Modos de conhecimento:

Relação de ideias:
É independente da experiência e dos factos, embora estas não deixem de derivar da
experiência.
Ex: Nós temos a ideia do que é um triângulo, mas apenas porque alguém nos disse o que
era um triângulo, derivando assim da experiência.
O valor de verdade destas proposições não está dependente do confronto com a
experiência, sendo estabelecido pela simples operação do pensamento.
A demonstração com base em ideias é dedutiva pois a sua verdade pode ser apurada
pela coerência do raciocínio.
 São evidentes, expressando verdades necessárias: verdades que não poderiam ser
falsas.
Conhecimento a priori e dedutivo: como lógica, matemática, geometria…
Ex: 7+5=12
Questões de facto:
Exigem um confronto direto com o que obtemos através da sensibilidade.
 O valor de verdade destas proposições só pode ser determinado recorrendo à
experiência.
Exemplos como: estou a estudar; chove; a terra gira em torno do seu próprio eixo, estão
a apresentar enunciados relativos a factos e cuja justificação se encontra na experiência
sensíveis.
 São verdades contingentes: verdades que poderiam ter sido falsas, caso as coisas
do mundo tivessem sido diferentes. Não há contradição ao negá-las.
São indutivas (a posteriori).

 Como estas impressões têm origem empírica, não dispomos de conhecimento a


priori acerca do mundo.

A causalidade:
Existem princípios que nos permitem ordenar, unir e conectar as nossas ideias, tais
como:
 Semelhança: um retrato de alguém leva os nossos pensamentos para a pessoa
retratada.
 Contiguidade no tempo e no espaço: a lembrança de um quarto numa casa leva
a pensar nos outros compartimentos.
 Causalidade (relação de causa e efeito): uma ferida (causa) faz pensar na dor
(efeito) que se lhe segue.
Esta última tem importância para Hume.

Se o limite dos nossos conhecimentos é imposto pelas impressões, então, o nosso


conhecimento dos factos limite há impressões atuais e às recordações de impressões
passadas, sendo através delas que justificamos as nossas crenças. Como não dispomos
de impressões futuras, também não podemos ter conhecimento de factos futuros.

 Apesar disso, há afirmações que dizem algo que vai além da experiência e da
informação que os sentidos nos fornecem.
Ao determinar a causa, podemos prever o efeito.
Ex: todos os gatos são carnívoros; amanhã vai chover no Norte de Portugal; o próximo
cisne que observarmos será branco; o fogo é a causa do calor.
 Estão associadas a questões de facto.

Segundo Hume, é na relação causa e efeito que se baseiam todos os nossos raciocínios
acerca de factos. Só mediante esta relação é que podemos ir além dos testemunhos e da
memória.
Deriva da experiência pois apercebemo-nos de que certos objetos ou fenómenos
particulares se combinam constantemente uns com os outros.
Ex: chamamos causa ao fogo e efeito ao calor: inferimos a existência de um da
existência de outro, estando perante uma inferência causal.

Conjunção constante:
No entanto, não dispomos de qualquer impressão que corresponde à ideia de conexão
necessária entre dois fenómenos. A única coisa que a experiência revela é que entre os
dois se verifica uma conjunção constante.
Conjunção constante: um deles a que chamamos efeito ocorre sempre depois do outro:
efeito.
 Concluímos que existe uma relação de causalidade e de conexão necessária.
Apos a repetição constante de uma conjunção constate, somos levados pelo
hábito/costume a esperar que apareça um a partir do aparecimento do outro.
O hábito cria em nós a expectativa de que essa conjunção continuará a verificar-se no
futuro.

A ideia do hábito é uma criação da nossa mente, não sendo originada por qualquer
propriedade objetiva das coisas, sendo um mecanismo psicológico. Sendo este e não o
raciocínio que está na base de todas as nossas inferências a partir da experiência.

Resumo: é na relação causa e efeito (a posteriori) que se baseiam todos os nossos


raciocínios acerca dos factos. A causalidade consiste numa conjunção constante que
observámos entre acontecimentos, mas o sentimento de expectativa decorrendo do
hábito ou costume leva-nos a considera-la uma conexão necessária.

Ver página 69.


Como não há fundamento objetivo para a ideia de conexão necessária, Hume apresenta
uma perspetiva cética a respeito do conhecimento científico dos fenómenos. As ciências
empíricas assentam em raciocínios acerca de causas e efeitos. Uma vez que a
experiência não nos mostra que há relações causais reais entre os fenómenos e visto que
o princípio da causalidade não é objetivo, o conhecimento científico dos fenómenos
naturais é posto em causa.

O problema da indução:
É o problema que está associado à questão de saber se as inferências indutivas estão ou
não justificadas.
Hume defende que não estão, revelando-se cético em relação ao papel que a razão
desempenha ao tentar justificar essas inferências.
Indução: raciocínio em que depois de considerar um número suficiente de casos
particulares, conclui uma verdade geral.

Indução por:
Generalização: observaremos 800 gatos e constatámos que todos tinham o corpo
coberto de pelo. Logo, todos os gatos têm o corpo coberto de pelo.
Previsão: Até hoje, a Terra girou sempre em redor do seu próprio eixo. Logo, amanha a
Terra irá girar em redor do seu próprio eixo.

Segundo Hume, qualquer argumento indutivo pressupõe a ideia de que a natureza é


uniforme e que a causas semelhantes se seguem efeitos semelhantes: princípio da
uniformidade da natureza. O futuro assemelha-se então ao passado, isto é, a natureza
sempre funcionará da mesma forma, de modo previsível e regular.
Será que este princípio é racionalmente justificável?
Se for, então há um bom motivo dedutivo ou indutivo a seu favor.
 Qualquer argumento indutivo a favor do princípio é circular. Partimos da
premissa de que até agora pelo que podemos observar, a natureza sempre foi
uniforme e concluímos que a natureza é sempre uniforme. Mas este raciocínio
sendo indutivo, já pressupõe o principio de que a natureza é uniforme, tornando-
se circular. (petição de princípio);

 Este princípio não é uma verdade conceptual (a priori) que se deduz das
definições dos seus termos. Não é contraditório pensar que a natureza deixará de
ser uniforme ou que as regularidades do passado deixarão de se verificar no
futuro. Este princípio também não se deduz das observações efetuadas até agora.

Logo o princípio não é racionalmente justificável, pelo que a indução não é fiável.
Hume acredita que não temos uma justificação racional para confiar na indução ou
para acreditar que ela é fiável. Sendo assim, as leis científicas, que se baseiam na
indução, são injustificáveis: outra conclusão cética de Hume.
 Hume diz que a indução não nos garante sempre o conhecimento mas é a única
que temos para prever o futuro através do passado.
Hume destacou a falta de uma base racional para a indução, sugerindo que a nossa
confiança nesse método é mais baseada em hábito e costume do que em uma
justificação sólida.

O eu, o mundo exterior e Deus:


Eu:
Hume considera que cada ser humano é apenas um feixe ou coleção de diferentes
perceções que se sucedem umas às outras. Hume pensa que não existem boas razões
para pensar que uma entidade ou substância distinta das nossas ideias e impressões,
exista.

Mundo exterior:
Por instinto somos levados a acreditar na existência de um mundo exterior, um mundo
independente da nossa perceção ou dos nossos centeúdos mentais.
No entanto, só temos acesso ao conteúdo das nossas mentes, isto é, a única realidade de
que estamos certos é constituída por perceções (impressões e ideias). Assim, também
não sabemos se as perceções são causadas por objetos exteriores.
Uma realidade que seja distinta das perceções e exterior a elas não se pode afirmar com
base nas impressões dos sentidos nem com base na reação de caus e efeito, pois não
temos experiência ou impressão de tal realidade.
 Sendo assim, a crença na existência de uma realidade que seja a causa das
nossas impressões e que seja distinta do que é exterior a elas é uma crença que
não é justificável racionalmente.

Deus:
A afirmação de que Deus existe não é racionalmente justificável.

 Logo estes 3 não são objeto de qualquer impressão.

Ceticismo moderado e fundacionalismo de Hume:


Ceticismo de Hume: muitas das coisas que julgamos saber não as sabemos de facto.
Este raciocínio não é um ceticismo radical (pirrónico) mas sim moderado.

Este filósofo é cético ao mostrar que muitas das coisas que julgamos saber não as
sabemos efetivamente. Assim:
 Não observamos conexões necessárias entre fenómenos, pelo que as crenças
relativas a leis naturais (como a do sal e hipertensão) não são conhecimento;
 A indução não é fiável, pelo que as crenças obtidas indutivamente não são
conhecimento;
 Não são racionalmente justificáveis as crenças em realidades que transcendam o
domínio da experiência, como a do eu, mundo exterior e Deus.

É moderado com os seguintes objetivos:


 Evitar cair no dogmatismo:
 Salvaguardar a imparcialidade e a moderação nas opiniões e nos juízos;
 Apartar a mente dos preconceitos;
 De nos defendermos das afirmações precipitadas e temerarias;
 De evitarmos decisões imprudentes.
 Nos precavermos contra certas investigações afastadas da experiência e das
informações dos sentidos.

Fundamento do conhecimento:
As crenças básicas para um empirista são então as crenças de que se está a ter esta ou
aquela experiência. Estas crenças que permitem evitar a regressão infinita da
justificação subjazem as impressões dos sentidos, derivando da experiencia sensorial
imediata.

Como não conseguimos justificar as crenças acerca do que não é objeto da observação,
grande parte das nossas crenças não são conhecimento.

Críticas a Hume:
Tom de azul desconhecido: uma pessoa vê um tom de azul desconhecido pode formar
uma ideia deste tom, mesmo sem ter tido a impressão correspondente, o que segundo
Hume seria impossível, já que essa pessoa nunca teve qualquer impressão simples à
qual pudesse corresponder a ideia desse tom de azul.
Objeção à noção de causa: há acontecimentos que se sucedem constantemente
(conjunção constante) mas entre os quais não consideramos existir uma relação causal
(o dia e a noite não são causa ou efeito um do outro).

Ver página 80

Filosofia da ciência:

A ciência possui um papel muito importante mas a sua sobrevalorização conduzem por
vezes a uma ideia errada e precipitada de que o conhecimento científico é a única forma
de conhecimento fiável, seguro e rigoroso: cientismo. Leva o publico a depositar na
ciência toda a sua confiança e esperança mesmo sem compreender muitas das sua
teorias e características.
Isto leva à proliferação de informações que não são científicas mas que passam por ser.
Pseudociência: tipo de teoria ou atividade sem qualquer base científica, mas que
procura passar por científica.

Do senso comum à ciência:


Senso comum ou conhecimento vulgar: tipo de conhecimento que resulta da
acumulação de informações, crenças e ideias dispersas que retiramos diretamente das
nossas experiências de vida e que nelas encontram a sua justificação. É coletivamente
partilhado e transmitido de geração em geração.

Características do senso comum:


 Superficial/pouco aprofundado;
 Não é organizado;
 Utilização de linguagem corrente: imprecisa e sem rigor;
 Conhecimento prático;
 Assistemático;
 Ametódico;
 Subjetivo;
 Preditiva; (prevê a ocorrência de novos fenómenos)
 Dogmático; (é um conhecimento que é aceite sem fundamentação racional)
 Transmite-se de geração em geração;
 Reflete crenças valores e preconceitos
 Acrítico (o que é aceito como conhecimento não é colocado em questão nem é
objeto de análise crítica)
É construído de forma imediata (espontâneo) e a partir da primeira perceção da
realidade o que se trata de uma precipitação pois toma-se como conhecimento aquilo
que pode ser apenas aparente.
 No entanto é eficaz na resposta a questões do dia-a-dia.

Nota: o senso comum é visto como o ponto de partida para a ciência, na medida em que
muitas das questões que os cientistas colocam partem da tentativa de compreensão dos
factos e fenómenos que estão na origem de problemas do dia-a-dia.
 O senso comum alimenta-se de conhecimentos científicos como documentários
e livros.
 O conhecimento científico prolonga e complementa, o conhecimento vulgar.

Características da ciência:
Nota: as teorias científicas são as respostas para os fenómenos que ocorrem no mundo e
na natureza.
A ciência é uma tentativa de compreender e explicar a realidade, o mundo que nos
rodeia, de forma organizada, rigorosa e fundamentada.
 Explicativa; (implica a construção de leis e teorias explicativas)
 Sistemáticas;
 Rigorosa;
 Crítica;
 Revisível; (os resultados são provisórios até melhor resposta ser encontrada)
 Metódica; (baseia-se em pesquisas e investigações apoiadas em métodos)
 Faz-se acompanhar de instrumentos de medida;
 Profunda;
 Organizada;
 Mediata; (as explicações da realidade baseiam-se em provas e demonstrações
rigorosas)
 Resulta da investigação crítica;
 Valor teórico e prático; (permite prever a ocorrência de determinados fenómenos
e permite resolver questões que surgem diariamente)
 Utiliza linguagem rigorosa.

O problema da demarcação:
Trata-se de saber distinguir o que é ciência do que o que não é ciência, ou o que separa a
conhecimento científico de outros tipos de conhecimento.
 É a dificuldade em estabelecer limites claros entre o que é considerado ciência e
o que não é.
Compreender o que é científico é crucial para distinguir entre conhecimento confiável e
especulações não fundamentadas.
Teorias não científicas: não atendem aos critérios da ciência, não são fundamentadas.
Ex: os anjos têm asas.

Teorias científicas: conjunto organizado de leis, hipóteses e princípios que explicam


fenómenos observáveis e preveem resultados futuros. São empiricamente
fundamentadas e testáveis.
Ex: a Lua gira em torno da Terra.
Nota: as teorias serem sistemáticas e explicativas não é condição suficiente para
garantir a sua cientificidade.

Alguns filósofos apresentaram critérios de cientificidade como resposta ao problema da


demarcação:

Critério da verificabilidade: segundo este critério, uma teoria só é científica se aquilo


que propõe puder ser verificado empiricamente.
Uma afirmação empiricamente verificável é aquela cujo valor de verdade pode ser
determinado através da observação ou da experiência.
Uma teoria é científica apenas se consistir em afirmações empiricamente verificáveis.

Afirmações verificáveis:
Algumas árvores têm mais de 3 metros de altura;
A Lua gira em torno da Terra;
Existem microplantas em Marte. (o valor de verdade desta ainda não foi estabelecido
mas é possível estabelecer um conjunto de observações que o possam estabelecer).

Afirmações não verificáveis:


Certos anjos têm asas;
A porta do Céu é feita de ouro;
A essência da realidade é de carácter mental.
Estas afirmações não pode ser empiricamente verificáveis uma vez que o seu conteúdo
ultrapassa do domínio dos factos observáveis.

Objeções a este critério:


A maioria das teorias científicas expressa-se em enunciados universais, que não são
suscetíveis de verificação empírica. Para verificarmos empiricamente o que esta lei
define, teríamos de observar todos os casos existentes o que não é possível: problema da
indução (generalização)
 Isto inviabiliza a justificação completa das hipóteses e das leis científicas.
Os filósofos defensores do critério afirmam que basta apenas fazer uma verificação
empírica parcial desde que “o grau de confirmação“ das teorias possa ser
estabelecido.

Surge assim um novo critério:

Critério da falsificabilidade, criada por Karl Popper.


Popper foi cético relativamente ao poder preditivo da indução porque:
 É impossível verificar a universalidade de qualquer teoria científica;
Para este:
Nunca se pode prever nem afirmar que uma teoria científica é verdadeira. Quando
muito, pode provar-se que é falsa.

Ex: nenhum número de observações que confirme a hipótese de que “Todos os planetas
possuem órbitas elípticas” bastará para nos mostrar que a teoria é verdadeira. No
entanto, uma única órbita planetária não elíptica refutaria, de imediato, a hipótese.

Critério da falsificabilidade: uma teoria é científica apenas se for empiricamente


falsificável, ou seja, se e só se for possível conceber uma observação ou uma
experiencia capaz de a refutar.
Uma teoria é científica se podem ser concebidos testes que provem que a teoria é falsa.
Testar uma teoria é então encontrar casos que sejam incompatíveis com ela (casos que,
a serem observados, a falsifiquem).

Ou seja, de acordo com Popper:


 A mecânica de Newton é um exemplo de teoria científica: é falsificável, as suas
previsões podem ser sujeitas a testes e refutadas;
 A astrologia constitui um exemplo de teoria não científica: trata-se de uma teoria
não falsificável.

Afirmações falsificáveis:
Todo o ferro dilata quando é aquecido; o cometa Halley aparecerá no ano de 2061;
amanhã nevará na serra da Estrela: todos os nativos de Peixes são mulheres
Todos estes exemplos podem ser falsificados.

Afirmações não falsificáveis:


Algum ferro dilata quando é aquecido; surgirá no céu uma bola de fogo (como não é
dita uma data, é impossível provar que é falsa); amanha ou nevará na Guarda ou não
nevará; o próximo ano trará energias positivas aos nativos de Peixes. (afirmação vaga).

 Quanto mais conteúdo empírico uma teoria tiver, mais ousada será e maior
alcance explicativo terá e mais informativa será.
 Quanto maior o grau de falsificabilidade de uma afirmação, mais interessante ela
será para a ciência.

Se essa afirmação for falsificada, contribuirá para encorajar o desenvolvimento de uma


hipótese que não possa ser assim tao facilmente refutada; se mostrar ser difícil de
falsificar, fornecerá uma teoria convincente, e quaisquer novas teorias serão ainda
melhores.

1- O ferro da Torre Eiffel dilata quando é aquecido;


2- Todo o ferro dilata quando é aquecido;
3- Todo o metal dilata quando é aquecido.
O 3 é mais abrangente, estando mais exposto ao risco de ser refutado.
Se se observasse um pedaço de ferro da Torre Eiffel que não dilatasse quando aquecido,
1, 2 e 3 estariam refutadas, mas se o metal observado fosse outro que não ferro, só 3 era
refutada. Conclui-se que é mais fácil refutar 3 do que 1.
Nota: falsificabilidade ≠ falsificação
Todas as boas teorias científicas são falsificáveis mas não falsas.
Nota: a falsificabilidade é uma condição necessária para as teorias serem científicas
mas não é suficiente. É também necessário que proporcionem boas explicações para
problemas reais e ser capazes de fazer previsões.
Método científico:
 Conjunto de procedimentos, orientados por um conjunto de regras, que
estabelecem a ordem das operações a realizar com visto a atingir um
determinado resultado.
O indutivismo e falsificacionismo são 2 perspetivas sobre qual o método utilizado pelos
cientistas.

Indutivismo:
Defendida por Francis Bacon e Stuart Mill.
Bacon considerava que o conhecimento científico se devia fundar na indução,
observação e na experimentação, sendo o único caminho possível para o progresso da
ciência.

Teorias científicas

Contexto de descoberta Contexto da justificação

Processo peloProcesso
qual o cientista
pelo qual o cientista
formula (ou descobre) a hipótese
testa, defende (ou justifica) a
ou teoria. hipótese ou teoria.

Contexto de descoberta:
1-observação dos factos ou fenómenos: parte da observação dos factos e regista-os.
Deve ser isenta, rigorosa, objetiva e imparcial.
2-formação de hipóteses: o investigador procura descobrir a relação existente entre os
factos, formulando uma hipótese, inferindo, através da indução, um enunciado geral a
partir de particulares.
Contexto da justificação:
3-experimentação/verificação experimental: deduzem-se consequências para a
formulação da hipótese, que usam para fazer previsões. Se as consequências não se
verificarem, a hipótese é rejeitada, reformulando-se a hipótese original ou construindo
uma nova hipótese. Se se verificarem, é confirmada.
4-generalização dos resultados: recorrendo à indução, o cientista generaliza a relação
encontrada estabelecendo uma lei geral.
O raciocínio indutivo parte de observações particulares e atinge conclusões gerais,
aumentando o nosso conhecimento, tendo um caracter amplificante que o raciocínio
dedutivo não tem.

Criticas ao indutivismo:
 A observação não é necessariamente o ponto de partida da ciência, mas sim os
problemas que surgem.
 A observação não consegue ser pura, objetiva e imparcial, ocorrendo sempre
num determinado contexto sendo afetada por teorias, expectativas do cientista…
 Há teorias científicas que têm por base factos que não são observáveis, como a
origem no Universo, pelo que estas não resultaram de um processo de indução a
partir de observações.
 O raciocino indutivo não confere o rigor lógico necessário às teorias cientificas
(como já disse David Hume).

Baseamo-nos em casos particulares para generalizar ou para prever, efetuando um salto


do conhecido para o desconhecido.
Confiamos na indução porque partimos do principio da uniformidade da natureza, mas
segundo Hume, como este principio é feito pela generalização, não é racionalmente
justificável, pelo que não há justificação racional para as crenças obtidas por indução.
Ao ir além das premissas, corremos o risco de erro. Mesmo que as premissas sejam
verdadeiras, nenhuma inferência indutiva, pode garantir uma conclusão absolutamente
certa.

Perspetiva falsificacionista:
Uma lei científica tem a forma de uma proposição universal.
Do critério da verificabilidade resultava a conclusão inaceitável de excluir da ciências
leis como estas, já que não são suscetíveis de ser definitivamente verificadas pela
experiencia.
 Popper concorda com Hume ao dizer que a indução não é racionalmente
justificável, não constituindo isto o que permite distinguir ciência do que não é
ciência.
Já que nenhuma lei científica universal é empiricamente verificável pode ser
dedutivamente falsificada.
Segundo Popper, a ciência procede não por indução, mas por conjeturas e refutações. As
teorias científicas são conjeturas que o cientista procurará submeter a testes que visam
a sua refutação ou falsificação.

O indutivista afirma que a investigação científica começa pela observação. Popper nega,
dizendo que não há observações puras e neutras, sendo estas medidas por pressupostos
que já o “dizem”.
A observação é também seletiva pois, como não podemos observar tudo em simultâneo,
damos atenção a um objeto em particular condicionado por algo que o antecedo: um
problema, por exemplo.

O método científico começa por problemas.


Se não houver problema, a investigação científica não se inicia.
Problema

Tentativa de explicação: hipótese ou conjetura (explicação provisória)

Tentativa de refutação: observação e testes experimentais (a observação e a


experimentação desempenham aqui um papel importante)

O cientista procura prever o que acontece se a teoria estiver correta e a seguir procura
observações e experiencias cujos resultados sejam incompatíveis com as suas previsões.

A hipótese resiste aos testes; A hipótese não resiste aos testes;

Hipótese corroborada; Hipótese refutada;

Continuação dos testes, cada vez mais Reformulação da hipótese ou formação de


severos (para a tentar refutar) nova hipótese.

Nota: se uma nova hipótese for formulada, esta é também submetida a testes severos.
 Não se pode afirmar que haja teorias científicas verdadeiras. Estas são
refutáveis e apenas conjeturas, cujo sucesso poderá ser mais ou menos
duradouro.
 Uma teoria preferível a outra não é uma teoria absolutamente verdadeira, apenas
uma teoria que ainda não é falsa.
 Enquanto resistir aos testes é aceite, quando não resistir é rejeitada.
Este método baseia-se no raciocínio dedutivo. (modus tollens)
A verificação das teorias incorre na falácia da afirmação do consequente.
 A ciência progride então por conjeturas e refutações.
Ver caderno esquema!

Críticas a Popper:
1- O critério de falsificação não corresponde à prática do cientista. Este defende
exaustivamente a sua teoria e não tem como principal objetivo testá-la por
falsificação.

2- Encontrarem uma rejeição da previsão não demove a previsão dos cientistas, ao


contrário do que Popper dizia. (além de que este não teve em conta que a
falsificação pode ser resultado de um erro humano) A sua teoria não é descritiva
(não diz como os cientistas procedem) mas é apenas normativa (diz como os
cientistas deviam proceder)

Apresenta uma conceção idealizada da ciência.


3-considerando a história da ciência, esta não evolui por processos assentes em
refutações. Newton, por exemplo, não abandonou a sua teoria na presença de factos que
aparentemente as falsificavam.
4-desvaloriza o papel da confirmação das teorias. As previsões bem-sucedidas têm um
importante papel no desenvolvimento científico.
5-não dá conta do conhecimento útil da ciência. Confiar numa teoria científica é ter
boas razoes para acreditar que ela é verdadeiras e não apenas aceitá-la só porque até
agora nunca foi falsificada ou refutada.
Os problemas da evolução da ciência e da objetividade do
conhecimento científico:
É importante compreender como a ciência evolui e se essa evolução é inteiramente
racional ou não, se na origem dos avanços estão apenas critérios estritamente racionais e
objetivos.

A perspetiva de Popper sobre a evolução da ciência:


 A ciência progride por conjeturas e refutações.
 O erro é o motor do progresso científico. É a possibilidade de as teorias seres
falsificadas ou refutadas que permite à ciência avançar progressivamente.
 Só com uma atitude crítica e não dogmática será possível ao cientista
avançar.
Analogia com a teoria da evolução por seleção natural de Darwin:
As teorias cientificas que mais vão resistindo aos testes são as mais fortes e as que,
mediante a eliminação de erros, se mantêm vigentes. As teorias menos aptas, que não
resistem aos testes experimentais, são eliminadas e dadas como erros.

Problema Teoria (conjetura) Eliminação de erros (refutação) novo problema

 A nova teoria, tem de ser melhor do que a anterior, explicar os aspetos que a
outra não explicava; elimina os erros da anterior e resolve os problemas que a
outra não conseguia, sendo mais abrangente.
Nenhuma teoria científica é verdadeira, é apenas mais verosímil que a anterior.
Para que se constitua uma descoberta ou um passo em frente, a nova teoria deve entrar
em confronto com a anterior, pelo que o progresso da ciência é sempre revolucionário.
 Como a ciência é conjetural, não atinge a verdade, apenas se aproxima dela,
progredindo assim.
A perspetiva de Popper sobre a objetividade da ciência:
Acredita que a ciência evolui de acordo com critério racionais, lógicos e objetivos, cujo
conteúdo das teorias obedece a princípios lógicos que garantem o rigor e a objetividade
com que o conhecimento científico explica e descreve a realidade.
Na escolha de teorias concorrentes, só intervêm critérios objetivos, sem a interferência
de quaisquer outros aspetos subjetivos, como crenças religiosas ou preferências
politicas.

A subjetividade é importante no contexto de descoberta mas não no contexto de


justificação da mesma.
Critérios objetivos para a avaliação das teorias científicas:
 Sucesso em testes independentes;
 Capacidade explicativa;
 Capacidade de prever novos fenómenos.

Você também pode gostar