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Isso
acontece porque o sujeito, entidade cognoscente, é dotado de faculdades que lhe permitem
receber impressões com vista à elaboração de uma construção mental: a representação. Ora, o
problema começa aqui.
Para responder a esta questão existe a resposta de Descartes e David Hume, assumindo
posições antagónicas. Descartes, racionalista, pôs a tónica na razão; Hume, porque é empirista,
considerava que os sentidos são a verdadeira fonte do conhecimento.
O empirismo
David Hume
Para David Hume todo o conhecimento começa com a experiência, uma vez que é pelos
sentidos que captamos a matéria de representação. Desta forma, os conteúdos da mente são as
impressões (os dados imediatos da experiência, como por exemplo, as sensações) e as ideias (as
representações que construímos a partir das impressões).
As impressões por sua vez são mais vivas do que as ideias, dado que são o correlato
mental imediato da experiência sensível. As ideias por sua vez são apenas réplicas esbatidas das
impressões.
Desta forma, nada existe no espírito que não tenha tido uma impressão prévia: todas as
nossas ideias têm origem empírica, pelo que não há ideias inatas. Existem, isso sim, impressões
e ideias. Em suma, do que não há impressão não há conhecimento.
É por isso que quando nos referimos à relação entre dois factos, em que um é a causa e
outro efeito, percebemos que a sua contingência, pelo que a necessidade que acreditamos
marcas a relação não é mais do que uma imposição que nasce do hábito.
Uma lei, de um ponto de vista lógico, é uma proposição ou juízo universal e necessário.
Mas se o ponto de partida do conhecimento é a experiencia (e não a razão), os juízos que
nascem da experiência têm a sua marca. O que nos autoriza a passar de um juízo particular
(contingente) para um juízo universal (necessário)? De um ponto de vida lógico, nada nos
autoriza a fazê-lo, pois o universal não é a soma dos particulares. Sós há experiencia do que
acontece e não do que ainda não aconteceu (o futuro), pelo que generalizar numa proposição o
que ainda não é significa dar um salto no desconhecido.
Para responder à questão, Hume afirma que não dispomos de qualquer impressão de
ideia de casualidade entre fenómenos. O que a experiencia nos dá, num aqui e agora, é um
fenómeno X, a que se segue o fenómeno Y, também ele inscrito num aqui e agora. O facto de se
seguir ao outro faz-nos crescer que há um nexo causal, isto é, que um é móbil do outro. Porém
a única coisa que podemos saber e conhecer é que entre um e outro se constatou, até ao
momento, uma sucessão constante, isto é, um aconteceu sempre antes do outro. Assim, se o
conhecimento nasce de impressões, não há experiência da relação entre impressões.
Exatamente porque até ao momento as coisas sempre assim aconteceram, cremos que
sempre serão assim. Percebe-se, desta forma, que a pretensa causalidade não passa de uma
crença apoiada num hábito, pelo que a sua fundamentação, ao invés de ser lógico-racional é tão
somente psicológica e afetiva.