Resumo de Filosofia - Continuação

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Resumo do 2º Teste de Filosofia - Continuação

O empirismo de David Hume

→ David Hume era um filósofo empirista, uma pessoa empirista é alguém que considera
que a fonte principal do conhecimento humano é a experiência (α posteriori).
→ Hume concordava com a seguinte afirmação:
Nada está no intelecto sem antes ter passado pelos sentidos.
Esta afirmação era defendida por diversos filósofos da Idade Média, inspirados por
Aristóteles.

Impressões e ideias
→ Segundo Hume, tudo o que está na nossa mente deriva da experiência.
Mas o que está na nossa mente?
R:. Perceções.

→ Para Hume, esta palavra designa todo e qualquer conteúdo mental, distinguindo-se em
dois tipos:
- Impressões
- Ideias

→ Impressões: derivam dos sentidos, são dados fornecidos pela experiência imediata.
As impressões, por um lado, podem ser externas ou internas.

Impressões externas: sensações provenientes da visão, audição, olfato e paladar. (cinco


sentidos)
Impressões internas: sentimentos e desejos.

E por outro lado, as impressões podem ser simples ou complexas.

Impressões simples: não se decompõem. (indivisíveis)


Ex: sensação de azul.
Ex: sensação gustativa de doce.

São exemplos de impressões simples

Impressões complexas: associações de impressões simples. (associação de várias


impressões simples)
Ex: Visão de uma casa.
Ex: Audição de uma música.

São exemplos de impressões complexas

→ Ideias: derivam dos pensamentos.


As ideias podem ser simples ou complexas.
Ideias simples: são as que não admitem distinção ou separação. (indivisíveis, não se
podem decompor)
Ex: Ideia de azul.

Ideias complexas: são as que se podem dividir em partes. (associação de várias ideias)
Ex: Ideia de casa. ( Pois na casa existem quartos, sala, casa de banho, cozinha, etc)

O princípio da cópia
→Para David Hume, as ideias são apenas cópias das impressões. Elas são como
recordações/representações que temos das coisas mesmo que elas não estejam presentes.
As impressões são mais:
- detalhadas, vívidas, intensas, fortes, claras, nítidas…
As ideias são o oposto:
- fracas, menos intensas, menos nítidas..
Por ex.: Eu vi a Iara na quinta-feira (utilizei os meus sentidos) → impressão
Eu não vi a Iara na sexta-feira, então pensei nela → ideia

→Hume argumenta este princípio dizendo que as ideias não podem ser inatas (nascer
connosco) porque, todas as ideias que temos, mesmo sobre coisas irreais (como sereia ou
unicórnio) têm base em impressões. Se não pudermos ter experiência de algo, não
conseguiremos formar ideias sobre isso. Por exemplo:
- Uma pessoa que nasce cega não pode ter ideias das cores, pelo facto de não as ter
experienciado/sentido, logo não terá impressões das mesmas.
- Eu posso ter a ideia de unicórnio porque tenho a impressão de cavalo e narval e
utilizando a minha imaginação, para misturar estas ideias, posso ter a ideia de
unicórnio, mesmo não tendo a sua impressão.
- Ideias abstratas, como o universo, apesar de não terem impressões, são compostas
por ideias mais simples que, sim, têm impressões, como planeta, estrela… Logo as
ideias abstratas também provém da experiência, embora indiretamente. *

Basicamente*: Ideia complexa que se forma através da associação de ideias menos
complexas com impressões.
→Para Hume, a ideia de Deus é uma criação humana. Ele acredita que essa ideia deriva da
reflexão sobre as operações da nossa própria mente e de aumentar sem limites as
qualidades de bondade e sabedoria. Logo a crença em Deus, para Hume, é uma ideia
complexa empírica, não inata, originada pela associação de ideias.

Relações de ideias e questões de facto


→ Para Hume, tudo aquilo que podemos investigar e tentar conhecer se divide em dois
grupos:
- relações de ideias
- questões de facto

Eis alguns exemplos de cada grupo:


→ Relações de ideias (α priori):
- 3x5 é igual à metade de 30
- o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos
- nenhum solteiro é casado
- um triângulo tem três lados
- o dobro de 5 é metade de 20 (...)

→ Para saber que nenhum solteiro é casado, ou que um triângulo tem três lados, basta
analisar e explicitar os conceitos que temos, isto é, podemos descobrir isso relacionando
ideias. Podemos também saber isso α priori, pois não precisamos observar solteiros ou
triângulos para fazer essas afirmações, basta pensar nos conceitos que já possuímos→
operação do pensamento (intuição, dedução ou raciocínio demonstrativo).

→ Trata-se de verdades necessárias, pois não podia suceder que um triângulo não tivesse
três lados, caso contrário não seria um triângulo→ Hume diz que essa ideia, a negação de
uma relação de ideias, é uma contradição.

→ A certeza: podemos estar certos da sua verdade. Essa certeza pode ser estabelecida
demonstrativamente→ através de raciocínios, caso dos cálculos matemáticos. Ou
intuitivamente→ intuição é uma compreensão direta e imediata.

→ Relações de facto (α posteriori):


- o Sol vai nascer amanhã
- Leonard Cohen é autor do álbum “Songs of Love and Hate”
- Lisboa é a capital de Portugal
- os planetas do sistema solar têm órbitas elípticas
- Fumar faz mal à saúde (...)

→ Para saber que os planetas do sistema solar têm órbitas elípticas não basta analisar os
nossos conceitos e o significado dos termos usados→ pensando num planeta não se
descobre a ideia de órbita elíptica. Para isso é preciso recorrer à experiência e observar os
factos do mundo→ α posteriori.

→ Carácter contingente: Hume diz que a negação de uma questão de facto não implica
contradição. Dizer que Lisboa não é a capital de Portugal, ou que o Sol não vai nascer
amanhã, é falso, mas não é contraditório.
A negação de uma questão de facto pode ser falsa mas não contraditória.
Ex: É verdade que Lisboa é a capital de Portugal, mas podia não ser (podia haver uma
mudança política e decidir-se que outra cidade era a capital de Portugal. Mas não
conseguimos imaginar um triângulo que não tenha três lados)
[ser contingente significa que algo que é hoje pode não ser amanhã]

→ As questões de facto não se caracterizam pela certeza, mas sim pela probabilidade: a
sua verdade pode ser mais ou menos provável, mas nunca totalmente certa.
Ex: é muitíssimo provável que o Sol nasça, mas não é impossível que aconteça.

O conhecimento do mundo
O conhecimento das relações de ideias consiste na explicitação a priori dessas ideias, mas
têm um carácter empírico, pois derivam de impressões. Por isso, apesar de Hume
considerar que as relações de ideias são a priori, estas derivam, inicialmente, de
impressões e devido a isso não existe incoerência. Por exemplo: podemos saber a priori
que nenhum solteiro é casado, mas sem a experiência [impressões] não teríamos os
conceitos de solteiro, nem casado. Além disso, este conhecimento não é substancial, ou
seja, não é um conhecimento sobre o mundo, pois não nos diz nada de novo sobre as
coisas que existem ou não existem. Para adquirir conhecimento substancial precisamos de
recorrer à experiência, pois só esta nos pode ensinar coisas sobre os factos do mundo e
nos dar novas informações. Logo, só o conhecimento das questões de facto é substancial,
porque é a posteriori.
Concluindo, Hume acredita que há conhecimento a priori, no entanto este é
desinteressante e não é substancial. A resposta para a origem do conhecimento é a
experiência.

Basicamente:
-Relações de ideias: toda afirmação que seja intuitiva ou demonstrativamente certa
[ciências da geometria, álgebra e da aritmética]. O seu conhecimento pode ser obtido
através da análise de conceitos. Podem ser descobertas apenas pensando/ a priori (por
intuição ou dedução). A sua verdade é necessária (a sua negação envolve contradição),
certa e não substancial.
- Questões de facto: O seu conhecimento é tido através de inferências indutivas causais.
Só podem ser conhecidas a posteriori. A sua verdade é contingente (a sua negação não
envolve contradição. Não envolvem certeza, mas sim probabilidade. O seu conhecimento é
substancial.

A causalidade
→ A causalidade é a relação entre a causa e o efeito. Hume dedicou muita atenção a este
tema, pois considerava-o um elemento fundamental nos esforços humanos para
compreender o mundo.

“Todos os raciocínios relativos a questões de facto parecem assentar na relação de causa e


efeito. Somente por meio desta relação podemos ir além da evidência da nossa memória e
dos nossos sentidos.” - David Hume

A compreensão habitual da causalidade


→ No nosso dia a dia deparamo-nos com inúmeras situações em que existem relações de
causalidade, geralmente, não consideramos que a sua compreensão seja problemática.

Exemplos de causalidade:
- A chuva cai em cima do telhado e ao bater na superfície provoca ruído;
- Damos uma tacada numa bola de bilhar e devido a isso ela move-se;
- Batemos palmas e devido a isso outra pessoa ouve o som; (...)

Nestes exemplos existe um acontecimento A→ causa, que provoca um acontecimento B→


efeito

A (causa) B (efeito) *
Impacto da chuva no teclado → Ruído
Pancada na bola com o taco → Movimento da bola

→ Entre A e B há uma conexão que faz com que a ocorrência de A provocará B (se não
houver interferência de outros fatores). Pode, portanto, dizer-se que existe uma conexão
necessária entre a causa e o efeito (*no esquema acima as setas representam a conexão
necessária)

→ Todos nós fazemos frequentemente inferências causais:

Prevemos que uma certa causa provocará um certo efeito.


Ex: se a Yara vê a chuva a cair, ela prevê que a roupa que está na corda ficará molhada.

Se observarmos um certo efeito, calculamos que ele foi antecedido por uma determinada
causa que o provocou.
Ex: se a Anna observar pegadas na praia, calcula que passou ali uma pessoa antes dela.

→ Esta é a compreensão habitual da causalidade. Contudo, Hume considerou que essa


conceção da causalidade está errada. Vejamos porquê.

O que é a causalidade para Hume?


Causalidade:
- A experiência mostra-nos conjunções constantes e não conexões necessárias
- Ligamos a causa ao efeito com base no hábito (um fenómeno psicológico e
subjetivo)
- A ideia de conexão necessária é a cópia de um sentimento e não de uma impressão
externa

→ Hume diz que o estabelecimento de relações de causalidade só pode ser feito α


posteriori e não α priori, ou seja, apenas a experiência nos permite fazer inferências causais
e dizer que uma determinada coisa é causa ou efeito de outra.

→ Ter experiência, ver as coisas a acontecerem, é indispensável para fazer inferências


causais.
Ex: Se a Anna nunca viu, nem ouviu dizer, que o calor faz o metal dilatar, ela não
conseguirá prever que um pedaço de metal que agora está a ver dilatará se for posto perto
de um fogo intenso. → sem a experiência, e recorrendo apenas à razão, a Anna nunca faria
tal previsão.

→ Depois de Hume defender essa ideia, o mesmo coloca uma questão crucial: temos
realmente experiência de quê?

→ Hume responde depois que só temos apenas experiência do acontecimento A e depois


do acontecimento B. Ou seja, vemos uma coisa a acontecer a seguir à outra e nada mais.

→ Segundo Hume, nunca vemos realmente a relação causal supostamente entre eles→
conexão necessária (não temos disso uma impressão sensorial, uma sensação)
→ Vemos A e depois vemos B, nunca vemos realmente uma coisa a causar a outra. Não
temos qualquer prova que tenha sido A a causar B.

Nenhum objeto jamais revela, pelas suas qualidades que aparecem aos sentidos, nem as
causas que o produziram nem os efeitos que dele provirão. -David Hume

→ Contudo, vemos essa sequência ocorrer várias vezes: A e depois B, A e depois B, A e


depois B, etc. Hume chama a essa repetição de→ conjunção constante.

→ É só da conjunção constante que temos experiência.

→ Como essa repetição ocorre muitas vezes, criamos a expectativa (hábito de esperar) de
que vai voltar a ocorrer: vemos A e esperamos que B também surja. Essa expectativa é um
sentimento ( impressão interna) que depois projetamos no mundo, levando-nos a acreditar
que existem relações causais (conexões necessárias) e que estas fazem parte efetivamente
do mundo e das coisas. Trata-se de um fenómeno psicológico e subjetivo: existe na nossa
mente e não nas coisas do mundo.

→ Para Hume, a ideia de conexão necessária é uma cópia de um sentimento e não de uma
sensação (como seria de esperar caso as relações causais fossem reais e não meramente
psicológicas.
→ Estes acontecimentos baseiam-se na experiência, mas trata-se da experiência interna do
sujeito (nós) e não da experiência do mundo.

…a mente é levada pelo hábito, quando aparece um dos eventos, a esperar o seu
acompanhante usual e a acreditar que ele vai ocorrer…

…é o sentimento ou impressão a partir do qual formamos a ideia de conexão necessária.


-David Hume

→ David Hume diz que ao afirmarmos a existência real de relações causais estamos a ir
mais longe do que aquilo que a experiência nos mostra. Por isso, para Hume a
compreensão habitual da causalidade não é correta.
→ Concluindo, a causalidade para Hume tem um carácter notoriamente cético.

O problema da indução
→ No dia a dia as pessoas fazem inúmeros raciocínios indutivos→ generalizações e
previsões.
Ex:
- Os iogurtes de mirtilo que já provei eram saborosos. Logo, todos os iogurtes de
mirtilo são saborosos.
- Os veados observados até hoje eram herbívoros. Consequentemente, pode
afirmar-se que todos os veados são herbívoros.
- O novo cão da Yara ladrou todas as vezes que passei perto da casa dela. Por isso,
vai certamente ladrar quando daqui a dois minutos passar por lá.
→ Os raciocínios indutivos partem da experiência, mas vão além da experiência, na medida
em que as suas conclusões se referem a casos não observados, quer do presente, quer do
futuro. Podemos observar isso vendo os exemplos acima: não seria possível a Anna provar
todos os iogurtes de mirtilo, mas no entanto, a conclusão do raciocínio (que é uma
generalização) refere-se a todos eles.

→ Pode dizer-se que nesses raciocínios ocorre uma espécie de salto→ do alguns para
todos (generalização) e do alguns do passado ou do presente para o próximo ou os
próximos casos do futuro (previsão). Se não pudéssemos dar esse salto indutivo só
poderíamos, provavelmente, pensar e falar do imediato, do aqui e agora.

Mas que razões temos para confiar nesses raciocínios?


Terá a indução uma justificação racional?

→ Segundo Hume, qualquer raciocínio indutivo se baseia num pressuposto, conhecido


como princípio da uniformidade da natureza→ a natureza é regular, ou seja, não muda
arbitrariamente.Ex: A Anna ao prever que o Sol vai nascer amanhã está a pressupor que a
Terra continuará a girar como tem girado até hoje.

Todos os argumentos tirados da experiência assentam na similaridade que constatamos


entre os objetos naturais, pela qual somos induzidos a esperar efeitos similares aos que
constatámos seguirem-se de tais objetos. -David Hume

→ Contudo, o problema não está ainda resolvido, pois Hume coloca outra questão:
Como se pode justificar o princípio da uniformidade da natureza?
→ A natureza ser regular, é uma questão de facto, pois é uma verdade contingente e não
necessária→ a ideia de uma natureza irregular é falsa mas não contraditória (esperar a
resposta do professor)

O ceticismo moderado de Hume


Hume diz ser um cético moderado, pois chegou a conclusões céticas sobre a causalidade e
a indução, alegando que sabemos menos do que julgamos saber e ainda acreditava que
nós temos alguns conhecimentos, como o conhecimento das relações de ideias e de
questões de facto.
Por exemplo (questão de facto): A Iara tem fome agora. Ela sabe que se comer pão fica
sem fome, como já aconteceu no passado.
→ O facto de acreditarmos que isto voltará a acontecer é apenas uma crença e não
propriamente conhecimento, pois resulta de um raciocínio indutivo e este não é
racionalmente justificado. Deste modo, não sabemos o que há no pão que nos tire a fome
(uma vez que a experiência não nos mostra qualquer conexão necessária entre a ingestão
do pão e o desaparecimento da fome, mas apenas a conjunção constante dos dois
fenómenos). A experiência marca o limite do conhecimento humano. Uma das
consequências disto é que muitas proposições científicas (da Física, Química e Biologia)
não poderão ser consideradas conhecimento. Esta consequência traz implicações na
maneira de vermos o mundo e de entendermos a ciência. Todavia isto não faz de Hume um
cético radical, nem que ele não reconhece o valor explicativo das ciências. Apenas significa
que Hume foi um precursor de ideias aceites por vários cientistas e filósofos da ciência.
*nota: lembrar do exemplo do senhor da Matrix; E Hume era um bon vivant.
O ceticismo radical torna a vida impossível
Outra razão para Hume se declarar um cético moderado é que ele defende que ainda
devemos fazer raciocínios indutivos e inferências causais e acreditar em relações causais,
apesar disso ir contra a sua tese e mesmo que não haja nenhuma justificação racional e
nem que a experiência nos mostre a existência de uma relação entre os fenómenos
[respetivamente]. Mas porquê? Por que se deixássemos de fazer tais coisas a nossa vida
seria muito mais difícil ou até impossível e fazer tais coisas dá-nos muita utilidade prática.
Além disso, temos uma tendência psicológica para fazer inferências indutivas e acreditar na
causalidade, pois é algo que faz parte da nossa natureza, já é um hábito/costume que
desenvolvemos. Por isso, devemos continuar a fazê-lo apesar de não termos justificação
racional.
Os céticos radicais, como Pirro e Sexto empírico, defendiam que devemos suspender as
nossas crenças e não afirmar nem que sim nem que não. Todavia, segundo Hume, não
seria possível vivermos como céticos radicais. Teoricamente o ceticismo radical é difícil de
rejeitar, mas não é possível viver e agir de acordo com ele. Hume considerou que existe
reflexões da Filosofia, que nos fazem tirar conclusões céticas, e a vida prática. E é esta que
“ganha”, pois as necessidades da vida levam-nos a manter a crença em coisas que foram
postas em causa por essas reflexões.
Para Hume, a capacidade humana de conhecer o mundo tem limites e devemos
reconhecê-los, pois, caso contrário, estaremos a confundir opiniões sem fundamento e
especulações vazias com conhecimento. Devemos, portanto, ter humildade intelectual e
não sermos dogmáticos. Além disso, não devemos deixar que os problemas
epistemológicos nos impeçam de aproveitar a vida. Hume pensava assim e por isso era um
bon vivant.

Objeções a David Hume


Os conhecimentos matemáticos são substanciais
→ Para Hume, os conhecimentos matemáticos são relações de ideias, ou seja, esses
conhecimentos são α priori e necessários, mas não substanciais (coisas que acrescentam
conhecimento ao mundo).
→ Para muitos filósofos, como Kant, esse pensamento de Hume é implausível, pois
segundo os mesmos, os conhecimentos matemáticos são substanciais, porque, são mais
do que uma explicitação de ideias e apresentam algo novo.
Ex: Dizer 224+37=261 é dizer algo novo, 261 é uma novidade que não está contida nos
conceitos de 224 e 37.

→ Outro ponto que outros filósofos argumentam é precisamente: os conhecimentos


matemáticos aplicam-se ao mundo. Ocorre em inúmeras situações do dia a dia.
Ex:
- Utilização de números fracionários para indicar quantidades→ Yara coloca ⅔ da
carne na panela e guarda o resto no frigorífico.
- Utilização de conhecimentos matemáticos nas ciências (da natureza ou sociais)-->
recorrem à matemática para formular as suas teorias e explicações com mais rigor.
Existem diversas disciplinas matemáticas (estatística, cálculo, álgebra, etc)
/*
→ Os filósofos concluem afirmando que, se os conhecimentos matemáticos podem ser
aplicados ao mundo, se ajudam quer seja a descrever, quer seja a explicar o mundo,
pode-se afirmar que os conhecimentos matemáticos são sim substanciais.

A conceção de causalidade de Hume tem consequências absurdas


→ Tirar dúvida com o professor
teremos de considerar que o dia é a causa da noite, ou a noite a causa do dia, pois entre
eles existe uma conjunção constante, mas é falso pois o dia não é a causa da noite e a
noite não é a causa do dia.
não poderemos dizer que o universo foi um caso da causalidade pois foi criado uma só vez,
não havendo assim uma conjunção constante, visto que não houve repetição/ões.
→ Os críticos a David Hume dizem que a conjunção constante é mais problemática do que
a própria causalidade. Dizem que não faz sentido por em causa a causalidade.
Comparação entre as teorias de Descartes e de Hume
1. Perspetiva filosófica que se insere a teoria de cada um
Descartes→ Racionalismo
Hume→ Empirismo
2. Fonte do conhecimento mais valorizada
Descartes→ Razão
Hume→ Sentidos (ou experiência)
3. Existe ideias inatas?
Descartes→ Sim, temos como exemplo o cogito e a ideia de Deus
Hume→ Não, todas as ideias têm origem nas impressões (mesmo as mais
abstratas, como a ideia de Deus)
4. Como pode ser obtido o conhecimento α priori?
Descartes→ Através da intuição e da dedução
Hume→ Através da intuição e da dedução
5. O conhecimento α priori é substancial?
Descartes→ Sim, permite-nos ter informações sobre o mundo
Hume→ Não, é um conhecimento das relações de ideias, ou seja, não dá
informações sobre o mundo. Os factos do mundo só podem ser conhecidos α
posteriori
6. Qual é o fundamento do nosso conhecimento do mundo?
Descartes→ O cogito (fundamento racional, α priori)
Hume→ As impressões (fundamento empírico, α posteriori)
7. Os céticos têm razão?
Descartes→ Não, é possível alcançar conhecimentos indubitáveis (ideias claras e
distintas, cuja verdade é garantida por Deus) que podem ser racionalmente justificados
Hume→ Em parte, pois temos alguns conhecimentos, mas em muitas áreas não
temos conhecimento, apenas crenças sem justificação, mas não podemos rejeitar

A Filosofia da ciência estuda o quê?


→ Nas disciplinas (História, Economia, Geografia, Física, Química, Biologia, etc) os nossos
professores e os manuais transmitem-nos as teorias e explicações aceites pelos
especialistas dessas certas ciências. Essas ciências dão resposta a inúmeras questões.
Algumas dessas questões relacionam-se facilmente com a vida quotidiana e outras nem
tanto.
Quais são os efeitos da cocaína no cérebro?
Como se formaram os continentes’ O que é a Pangeia?
Como se constrói uma sonda capaz de se deslocar em Marte?

→ Também é possível refletir sobre problemas mais gerais, relacionados com a atividade
científica:
O que é pensar cientificamente?
Em que diferem as teorias científicas das não científicas?
Qual é o método seguido na ciência?
Existe progresso científico?
A ciência dá-nos um conhecimento objetivo da realidade?

→ A reflexão sobre esse tipo de questões acima pertence a uma disciplina filosófica
chamada Filosofia da ciência, visto que, as ciências particulares não respondem a esse tipo
de questões.

→ O objeto de estudo desta área da Filosofia é a investigação de problemas que surgem da


reflexão sobre a ciência e a prática científica. Entre esses problemas contam-se os
seguintes:
- O que há de distinto nos métodos científicos?
- As teorias científicas são apenas conjeturas (suposições, hipóteses) provisórias?
Podem ser falsificadas? (...)

→ Dentro da Filosofia da ciência podemos encontrar 2 subcapítulos que abordam quatros


problemas filosóficos distintos:
- Os problemas da demarcação e do método→ positivismo lógico, indutivismo e
falsificacionismo
- Os problemas da evolução e da objetividade→ duas respostas diferentes:
falsificacionista (Karl Popper) e historicista (Thomas Kuhn) → Não sai no teste

Relevância dos problemas


→ As descobertas científicas têm produzido imensas mudanças nas sociedades humanas e
na natureza, e isso levou à criação de diversos objetos que resultaram da aplicação dos
conhecimentos científicos, como por exemplo: computadores, medicamentos, automóveis…
→ Além de permitir a compreensão de inúmeros acontecimentos, o conhecimento científico
também nos ajuda a agir, de forma adequada, nas mais variadas situações. Isto sucede
porque habitualmente acreditamos na ciência e reconhecemos-lhe uma elevada
plausibilidade. Mas que razões temos para pensar assim? Visto que as teorias mudaram ao
longo da história e algumas mostraram ser falsas, que motivos temos para acreditar nas
teorias que vigoram atualmente? A ciência será mesmo objetiva?

A ciência
→ A ciência é o estudo do mundo físico (ciências da natureza), esta palavra é relativamente
recente, visto que o seu uso só se vulgarizou no final do século XIX. Filósofos como Locke e
Hume usaram o termo “Filosofia natural” para designar o conhecimento do mundo natural.
→ A ciência moderna começou a desenvolver-se a partir do século XVI, quando Copérnico
publicou Da Revolução das Esferas Celestes.

→ Com o surgimento da ciência moderna foi introduzido uma nova forma de pensar e
explicar o mundo, colocando em causa a autoridade dos pensadores antigos e da religião,
apresentando como alternativa: observação e a razão – meios que permitem explicar o
funcionamento da natureza.

→ A partir dessa altura, os cientistas começaram a valorizar a observação e os testes


experimentais, passando a utilizar a linguagem matemática.

→ É importante salientar que as ciências empíricas possuem algumas características que


as distinguem, como por exemplo, o senso comum.

→ Senso comum: este conhecimento baseia-se na experiência de vida e nas tradições, é


um saber essencialmente prático que permite enfrentar problemas quotidianos. Pode variar
de pessoa para pessoa, é utilizado sem uma preocupação sistemática de rigor e de
justificação, ou seja, este conhecimento diz-nos que os fenómenos são de um certo modo,
mas muitas vezes não explica as causas/razões do porquê de serem assim.
Ex:
- Saber cozinhar
- conhecer a localidade onde se vive
- saber que no inverno chove mais que no verão (...)

O senso comum inclui algumas superstições (crenças falsas e injustificadas), que não são
conhecimento.
Ex:
- A Anna acreditar que o número 13 dá azar
- A Yara acreditar que uma pata de coelho dá sorte

→ A ciência trata-se de um saber que envolve investigações com alguma complexidade e


que não pode ser adquirido apenas com base na experiência de vida. Envolve uma
sistemática preocupação com o rigor e a justificação das afirmações, ou seja, caracteriza-se
pela procura das causas de fenómenos e pela tentativa de construir um conjunto organizado
e coerente de conhecimentos.
*Nota: A ciência é objetiva, fundamentada, organizada, faz experiências. Já o senso comum
é pragmático, tradicional, quotidiano.
A tecnologia
→ Outro tema que surge associado à ciência é a tecnologia. Como se relacionam?

→ Tudo ao nosso redor é tecnologia.

→ A tecnologia permite a construção de diversos mecanismos com base em conhecimentos


cientìficos, ou seja, a tecnologia é uma aplicação da ciência.

→ Nas suas investigações, os cientistas utilizam instrumentos científicos que são


realizações tecnológicas (telescópios, microscópios, termómetros, balanças, etc)
Ex: No âmbito das comunicações ilustra o modo de como a ciência e a tecnologia se
encontram interligadas.

O problema da demarcação
“Quando é que uma teoria deve ser classificada como científica? Existe algum critério que
determine o carácter ou estatuto científico de uma teoria?” -Karl Popper

→ Colocar o problema da demarcação significa perguntar se é possível encontrar um


critério da cientificidade. Este permitirá dizer quais são as características que as teorias
devem ter para serem consideradas científicas, ou seja, o critério para distinguir o que é e o
que não é ciência e o que é pseudociência. As razões que justificam a necessidade de
encontrar um critério de cientificidade são:
- teóricas- a importância de delimitar e compreender o objeto de estudo de cada uma
das áreas referidas;
- práticas- saber identificar quando ocorrem discursos pseudocientíficos e como agir
nas situações em que isso acontece;
- educacionais- saber o que ensinar nas escolas.
Algumas das teorias que visam responder ao problema da demarcação são a dos
positivistas lógicos (Ayer e Carnap) [Verificação e Confirmação] e a de Popper
[Falsificabilidade].
→ Popper reformula o método científico clássico e apresenta um novo/reformulado, onde
substitui o passo da verificação e confirmação pela falsificabilidade.
Método Científico Clássico:
1) Observação;
2) Hipóteses→ devem ser as mais adequadas;
3) Verificação/ Confirmação/ Experimentação→ Tudo tem de ser confirmado;
4) Lei científica/ conclusão

*Notas: pseudociência: é algo que parece ciência, mas não é ciência. Apresenta uma
linguagem que parece científica. Elas são pessoais, imprecisas, subjetivas,
descontextualizadas e parciais. Por exemplo: astrologia.

Verificação
→ Os filósofos defensores do positivismo lógico começaram por considerar que uma teoria
só é científica se for constituída por afirmações empiricamente verificáveis, ou seja, quando
se pode conceber experiências que estabeleçam conclusivamente a sua verdade ou
falsidade.
→ Este critério da demarcação foi alvo de críticas. Uma delas alega que, sendo as
hipóteses e leis científicas expressas por enunciados universais, estas não podem ser alvo
de verificação, pois isso implicaria observar todos os casos e isso é impossível.
→(Exemplo da lei da inércia de Newton) - Por maior que seja o número de casos
observados, não é possível garantir a verdade desta lei através da experiência, pois
refere-se a todos os corpos do passado, do presente e do futuro. Ora, isso colocaria em
causa a cientificidade das hipóteses e das leis da ciência, o que faria pouco sentido

Confirmação
→ Outros filósofos positivistas (nomeadamente Carnap) apresentaram um critério
alternativo à verificação→ confirmação.
→ Dúvida para pôr ao professor.
-submeter a teoria a vários testes de forma a confirmá-la (mais forte ou mais fraca
dependendo do numero de testes realizados.)

A resposta de Popper: falsificabilidade


→ Popper responde ao problema da demarcação propondo um outro critério→
falsificabilidade.
→ De acordo com Popper, a principal distinção entre as teorias científicas e não científicas
é o facto de as primeiras (teorias científicas) serem falsificáveis.
→ Segundo Popper, através da aplicação deste critério, é possível distinguir os enunciados
das ciências (ele tem em vista as ciências empíricas e não a Matemática) dos enunciados
não científicos. O que está realmente em causa é a demarcação relativamente à
pseudociência.

Mas o que é a falsificabilidade e por que razão esta é uma condição necessária para
uma teoria ser considerada científica?
→ Uma teoria só é falsificável se for possível pensar numa circunstância que a desmentiria
(tornaria falsa). Popper acrescenta dizendo que essas condições empíricas que permitem
refutar/falsificar as teorias científicas têm de ser logicamente pensáveis ou imagináveis (não
significa que tenham de vir a ocorrer, podem acontecer ou não).
*É importante refutar as teorias e não aceitá-las de ânimo leve.

→ A falsificabilidade está longe de ser uma característica negativa, é uma condição


necessária para uma teoria ser científica. Se uma teoria se apresenta infalsificável, contém
algum “truque” para evitar o falhanço, e o preço disso é a incapacidade explicativa.
Portanto, as teorias como a astrologia (signos) não são científicas→ procuram apresentar
explicações propositalmente vagas para que não sejam refutadas por nenhum caso em
concreto.
→ Ao contrário das teorias de Newton e de outras teorias científicas, as explicações
astrológicas não são falsificáveis, pois a resposta à pergunta: *

Permitem conceber algum estado de coisas que as falsifique?


*é negativa. As pseudociências interpretam tudo o que acontece como uma confirmação da
teoria→ por isso são irrefutáveis.
Nota*: o facto de as pseudociências serem irrefutáveis não é sinónimo de ser uma
qualidade, pois isso significa que apenas são vagas e evitam o confronto com os factos
(evitam ser testadas) daí não serem científicas.

→ Popper defende que os cientistas devem adotar uma atitude contrária à dos astrólogos:
- devem formular teorias claras, onde se explicitem as condições em que estas
podem revelar-se falsas;
- realizar testes exigentes, procurando eventuais erros nessas teorias→ devem
procurar falsificá-las;

→ Popper dá o exemplo de Einstein ter descrito as circunstâncias observacionais que , se


ocorressem, fariam com que a sua teoria fosse falsa.
→ Quando uma teoria não resiste às tentativas de falsificação dos testes empíricos , diz-se
que foi falsificada e terá de ser substituída por outra (totalmente ou em parte) que corrija
os erros da anterior.
→ Se por acaso os dados observacionais não conseguirem pôr em causa a teoria, diz-se
que foi corroborada (saiu fortalecida).

→ Corroboração: permite a aceitação provisória da teoria enquanto resistir aos testes que
procuram falsificá-la, sendo assim, essa teoria continua a ser falsificável.

→ Porém, para Popper, as hipóteses ou teorias científicas são sempre conjeturais, isto
é, são tentativas provisórias de explicação, suposições que podem vir a revelar-se falsas.
Por isso, não devemos dizer que são verdadeiras.

Nunca se pode provar nem afirmar que uma teoria científica é verdadeira. Quanto muito,
pode provar-se que é falsa – se se realizar um teste cujos resultados sejam contrários às
suas previsões. -Karl Popper
Nota*: conjeturar= apresentar ideias/hipóteses.
conjuntura- tem a ver com as características do tempo e do espaço.
“A ciência é conjectural e conjuntural”

Grau de falsificabilidade
→ Para Popper, as teorias mais interessantes para a ciência são aquelas com um elevado
grau de falsificabilidade.
→ Segundo Popper, os cientistas devem procurar teorias que sejam ousadas e com um
elevado conteúdo empírico, teorias que digam mais sobre o mundo, com poder explicativo e
correndo mais risco de falhar. Teorias assim têm um elevado grau de falsificabilidade e é
positivo que assim seja.
→ Os cientistas não devem interessar-se por teorias que “passam” facilmente nos testes
empíricos, devem interessar-se por teorias que resistam a tentativas exigentes da
falsificação.
Quanto mais uma teoria for universal/abrangente, mais falsificada ela é.

→ As teorias que Popper se refere podem ser ordenadas do menor para o maior grau de
falsificabilidade:
1. As teorias de Kepler e Galileu são as menos falsificáveis→ por serem menos
abrangentes/menos universais.
2. As teorias de Newton e Maxwell são mais falsificáveis do que as anteriores.
3. A teoria de Einstein é mais abrangente, a que tem maior poder explicativo, a mais
informativa e, por isso mesmo, é aquela cujo grau de falsificabilidade é mais elevado
– podendo assim ser mais facilmente desmentida pelos factos.

→ Quanto maior for a generalidade de um enunciado científico universal, maior será o seu
grau de falsificabilidade → quanto mais fenómenos referir, maior será a possibilidade de
surgirem contraexemplos

Vejamos agora algumas frases que se seguem. Será que todas serão falsificáveis?
1. A aura das pessoas não é afetada pela gravidade.
→ Não é falsificável, pois não se consegue conceber nenhum teste para avaliar nem
indicar as condições em que poderia revelar-se falsa.

2. Todos os corpos terrestres são afetados pela gravidade.


→ É falsificável, pois pode ser alvo de testes empíricos e é possível indicar em que
condições pode se revelar falsa.

3. Todos os corpos do universo são afetados pela gravidade.


→ É falsificável, pois pode ser alvo de testes empíricos e é possível indicar em que
condições pode se revelar falsa. Mas se se descobrisse noutro planeta uma rocha que não
fosse imutável pela gravidade esta frase seria falsa.
→ Mesmo que as últimas duas frases sejam falsificáveis, têm graus de falsificabilidade
diferentes. A frase 2 é menos falsificável do que a frase 3. Na frase 3 refere-se a mais
objetos do que a frase 2, e por isso, corre mais riscos de falhar.

→ Segundo Popper, as previsões são deduzidas das teorias (enunciados universais). O


caso das previsões é diferente do caso das teorias, pois, quanto mais preciso e
específico forem, maior é o seu grau de falsificabilidade.
Nota*: as previsões vagas não são falsificáveis.

Exemplos de previsões:
1. No futuro, poderão existir outras pandemias.
→ Esta previsão não é falsificável, pois, além de não indicar nenhum período temporal (ano,
mês, etc) preciso, limita-se a referir uma possibilidade.
2. No próximo ano, a pandemia continuará a afetar a saúde física e mental dos
jovens portugueses.
→ Esta previsão é falsificável, porém, não é tão específica.
3. Nos próximos dois meses, a pandemia continuará a afetar a saúde física e
mental dos jovens portugueses.
→ Esta previsão é falsificável, até mais do que a previsão 2, pois é mais específica – dá
informações mais detalhadas.

Condições suficientes
→ A falsificabilidade é uma condição necessária para uma teoria ser científica, porém,
não é uma condição suficiente. Para uma teoria ser científica deverá reunir, em
simultâneo, os seguintes requisitos:
- Ser falsificável
- Ter capacidade explicativa, fornecendo respostas para problemas com alguma
complexidade.

→ Sendo assim, existem enunciados que são falsificáveis, mas não chegam a ser
científicos, pois são respostas a questões banais, por exemplo:
- Todos os seres humanos têm pernas.

A pseudociência
→ Popper procura distinguir a ciência de áreas que não são ciências (algumas dessas não
ciências tentam passar-se por ciências). Tendo como exceção áreas como a literatura e a
filosofia, etc (áreas que não são científicas), pois não fingem ser científicas. Existem vários
exemplos que Popper analisa, um deles é a astrologia.

→ A astrologia, para Popper e para muitas pessoas, é uma pseudociência, ou seja, uma
falsa ciência, vejamos porquê:
- Utiliza uma linguagem vaga;
- Qualquer dado observado é visto como uma comprovação da teoria – dificilmente
consegue-se imaginar uma situação que a falsifique;
- Não é submetida a testes empíricos;

→ Segundo Popper, se uma teoria não pode ser sujeita ao processo de falsificação, as suas
explicações são irrefutáveis, logo a astrologia não é uma ciência.

→ Os discursos das pseudociências encontram-se difundidos (espalhados) na internet e


abrangem diversos assuntos – falsas curas para o covid-19, negação das alterações
climáticas ou ,até mesmo, a rejeição das vacinas.
→ Estas pseudociências caracterizam-se, em geral:
- Uso de uma linguagem científica (utilização de termos da Biologia, Física,
Psicologia, etc, de modo descontextualizado - tirado do contexto - e impreciso -
vago)
- Recurso a autoridades (tradição e supostos especialistas)
- Uso de “provas” pessoais e subjetivas ( não vão direto ao ponto), essas provas
não são submetidas a uma avaliação por entidades exteriores

O problema do método
O conhecimento científico é metódico, pois utiliza uma série de etapas e procedimentos ao
contrário do senso comum, que não implica esforço de raciocínio, pois para o adquirir basta
apenas ver, ouvir, seguir as tradições. Portanto, que método(s) recorrem os cientistas
nas suas tentativas para explicar e compreender o universo? Existem perspectivas que
tentam responder a esta questão e elas são: a Perspectiva Indutivista e a Perspectiva
Falsificacionista.

A Perspectiva Indutivista do Método- Método atual


No séc. XVII o filósofo Francis Bacon contribuiu para a ciência na medida que defendeu
que as explicações deveriam basear-se não na autoridade (de filósofos e cientistas do
passado e da religião), mas sim na razão e principalmente na experiência, ou seja, em
ideias claras que pudessem ser sustentadas por indícios empíricos.
A perspectiva indutivista diz que o método científico baseia-se na indução. Uma das teses
que acredita que a indução baseia o método é a Perspectiva Simples do Método Científico.
O Método Experimental está inserido nesta perspectiva e é:
1) Observação e registo dos factos empíricos;
2) Elaboração de hipóteses → através da generalização formula-se uma tentativa
provisória de explicar o que foi observado;
3) Experimentação [confirmação e verificação].
4) Formulação das leis científicas → através da generalização.
De acordo com o indutivismo, as inferências indutivas (generalização e previsão)
permitem, então, explicar como o cientista descobre hipóteses, procede à confirmação das
previsões baseadas nas hipóteses e formula as leis científicas.

Críticas ao indutivismo
→ Segundo Popper e alguns filósofos, a visão indutivista do método científico não
corresponde a uma decisão correta da atividade dos cientistas. Existem duas objeções à
perspectiva indutivista:
→ A primeira diz: não há observação pura, independentemente de pressupostos teóricos.
Os cientistas fazem observações em função de um determinado enquadramento mental-
que engloba interesses, expectativas, conhecimentos já adquiridos- ou seja, a
mundividência, e com objetivo de resolver um problema específico. Assim sendo, a
observação é sempre orientada por pressupostos teóricos prévios e por isso nunca vai ser
totalmente pura/ virgem e objetiva. Com isto está a ser criticado o a Perspectiva Indutivista
do Método Científico, ou seja, o método tradicional.
→ A segunda diz: que o ponto de partida nem sempre é a observação. Há fenómenos
estudados pelos cientistas que não são diretamente observáveis, por exemplo, o facto de
uma parte do universo ser constituída por matéria negra. Esta não é visível mas sim inferida
através de efeitos gravitacionais sobre a matéria visível (estrelas…). Casos como estes
permitem colocar em causa a perspectiva indutivista do método, segundo a qual, nas suas
investigações, os cientistas têm de partir sempre da observação.
Sendo assim, a indução é utilizada na conceção do método indutivista e não é utilizada na
conceção falsificacionista do método.

O método das conjeturas e refutações


→ Em alternativa à conceção indutivista do método científico, Popper defende que, nas
ciências da natureza, os cientistas utilizam o método crítico ou o método das conjeturas e
refutações.
Segundo a perspetiva falsificacionista, existem três etapas:
1. Problema
→ O cientista coloca a questão para a qual pretende obter uma resposta.
2. Conjeturas (hipóteses)
→ O cientista formula uma hipótese (suposição, tentativa de solução do problema), de
preferência, com elevado conteúdo empírico. Como os cientistas chegam a essa
formulação? Segundo Popper, a descoberta das hipóteses deve-se ao espírito criativo e
imaginativo dos cientistas (intuição de uma observação ocasional, de um sonho, etc).
Depois de apresentar a hipótese, ocorre a possibilidade de deduzir consequências
empíricas (fazer previsões a partir da hipótese de modo a testá-la).
3. Submissão a testes: refutação ou corroboração (das conjeturas)
→ As consequências deduzidas das hipóteses são submetidas a testes visando
confrontá-las (hipóteses) com os factos. Popper considera que os testes são tentativas de
refutação e não de verificação ou confirmação. Os cientistas devem procurar erros de
modo a falsificar as hipóteses. Se as conjeturas ou teorias resistirem às tentativas de
falsificação, são corroboradas, caso as teorias não resistirem às tentativas de falsificação,
são refutadas.
→ As teorias falsificadas são aquelas que não resistem às tentativas de falsificação. Essas
teorias terão de ser substituídas por completo ou por partes por outras teorias.

→ As teorias que são corroboradas nunca deixam de ser meras conjeturas aceites
provisóriamente, pois testes futuros podem evidenciar a sua falsidade.

→ Popper diz que os cientistas devem ter uma atitude autocrítica em relação às suas
próprias teorias e uma atitude crítica quanto às teorias dos outros cientistas (procurar erros
que levem à refutação e não à sua confirmação).

Perspetiva indutivista:
1. Observação e registo dos factos empíricos
2. Elaboração da hipótese
3. Experimentação
4. Formulação das leis científicas

Perspetiva falsificacionista
1. Problema
2. Conjeturas (hipóteses)
3. Submissão a testes: refutação ou corroboração

Papel da experimentação

⇩ ⇩
Verificação ou Refutação ou
confirmação das corroboração das
hipóteses hipóteses

⇩ ⇩
Perspetiva Perspetiva
indutivista do falsificacionista
método do método

O problema da indução
Todos os raciocínios baseiam-se num pressuposto- o princípio da uniformidade da natureza.
O princípio da uniformidade da natureza: a natureza é regular, constante, não está sempre a
mudar.
David Hume tenta justificar este princípio mas não consegue: não é justificável a priori pois
este princípio é também uma questão de facto (envolve probabilidade), e, não é justificável
a posteriori pois é um raciocínio indutivo, uma indução, por isso estaria a justificar uma
indução com outra indução, tornando assim a sua justificação circular e falaciosa. Por isso,
conclui que este princípio tem caráter cético.

→ Popper concorda com a análise lógica que David Hume fez do problema da indução→ as
conclusões das inferências indutivas (de uma proposição particular conclui-se uma
proposição universal) ultrapassam os dados da experiência e não se encontram
racionalmente justificadas) – mas, rejeita a perspetiva de Hume em relação à indução, pois
para David Hume a mesma pode ser utilizada no método científico, enquanto que para
Popper não, deste modo, o mesmo pretende ultrapassar o problema da indução evitando-o.

A aplicação do método crítico



Críticas ao falsificacionismo
A distinção entre ciência e pseudociência
O filósofo Paul Thagard considera que a distinção entre ciência e pseudociência deve ser
feita a partir de determinadas características típicas e não de características necessárias e
suficientes. Deste modo, fariam parte da pseudociência propriedades como a detenção de
factos empíricos, o desinteresse por teorias alternativas e a ausência de progresso…
Por outras palavras, a distinção entre ciência e pseudociência depende da comunidade de
quem as pratica e do contexto.

O falsificacionismo não descreve corretamente a prática científica


Em vários momentos da história da ciência verificou-se que os cientistas não procederam
de acordo com o método das conjeturas e refutações, não adotaram um ponto de vista
crítico em relação às suas teorias e não tentaram falsificá-las. Pelo contrário, resistiram às
tentativas de refutação, procurando antes confirmar e consolidar as suas teorias. Assim,
mesmo que tivessem constatado que algumas previsões empíricas tinham falhado,
colocavam antes em causa as condições em que os testes haviam sido realizados e não a
teoria. Conclui-se, analisando a história da ciência, que o processo das conjecturas e
refutações não descreve de forma adequada como é que a atividade científica se
desenvolve na realidade. Por isso, alguns críticos dizem que Popper não explicou o modo
como a ciência funciona, mas sim como ele gostaria que funcionasse.

Os problemas da evolução e da objetividade da ciência


Como evolui a ciência? A ciência será objetiva? As mudanças na ciência serão guiadas por
princípios racionais? Haverá razões para considerar as teorias atuais melhores do que as
teorias do passado ou serão apenas diferentes? …
As respostas a essas perguntas são feitas por Popper (perspectiva falsificacionista) e por
Kuhn ( perspectiva historicista).

A Perspectiva de Popper
Seleção natural das teorias
→ Popper considera que a ciência se desenvolve através do processo de substituição das
teorias falsificadas por novas teorias e que isso proporciona acréscimo de conhecimento.
Estas novas teorias proporcionam explicações mais adequadas do que as anteriores, por
isso são mais completas e conseguiram ultrapassar as tentativas de refutação dos rigorosos
testes empíricos a que foram submetidas. Por isso, oferecem explicações dos fenómenos
mais aproximadas da realidade.
Popper compara o desenvolvimento da ciência ao processo de seleção natural, descrito
pela teoria evolucionista de Darwin. A sobrevivência dos seres vivos depende da
capacidade de estes se adaptarem ao meio natural, modificando gradualmente os seus
organismos de forma a conseguirem viver num certo meio ambiente. Os que conseguem
adaptar-se têm mais hipóteses de assegurar a sobrevivência e a descendência.
→Popper pensa que o mesmo acontece com as teorias científicas: apenas sobrevivem as
que resistem às tentativas de falsificação dos testes empíricos, as mais aptas. Contudo os
testes podem corroborar a teoria “sobrevivente” mas nunca provar a sua verdade: as teorias
são sempre conjeturas (hipóteses/explicações provisórias), que apesar de eliminar os erros
anteriores, podem ser falsificadas e substituídas por outras a qualquer momento.

Progresso científico = aproximação à verdade


→ Para Popper, a verdade é um ideal que deve orientar a prática dos cientistas. Ainda que
as teorias sejam criação do ser humano e que não correspondam inteiramente à realidade,
a eliminação dos erros, através do método crítico (método das conjeturas e refutações), faz
com que os cientistas consigam alcançar representações cada vez mais corretas dos
fenómenos.

→ Do ponto de vista popperiano, o progresso científico é cumulativo, pois as teorias do


presente corrigem as teorias do passado, consequentemente trazem novos conhecimentos,
o que permite um acréscimo/aumento de saber e uma maior aproximação à verdade.
Popper diz que os cientistas mesmo que não consigam alcançar a verdade, os mesmo têm
de aproximar ao máximo dela.
→ As novas teorias são aceites porque contêm menos erros e são mais completas do que
as anteriores→ são verosímeis. ← linguagem de Popper

Progresso ⇒ Cumulativo:
→ Correção de erros
→ Acréscimo de conhecimento
→ Aproximação à verdade

A ciência é um conhecimento objetivo?


Popper defende que a objetividade é uma característica da ciência, pois considera que a
escolha das teorias é feita de modo imparcial e impessoal. Ele reconhece que fatores de
natureza individual, social ou política podem por vezes afetar a atividade de certos
cientistas. No entanto, Popper pensa que esses fatores não interferem na avaliação crítica
das teorias. A escolha destas depende dos resultados dos testes empíricos realizados e da
discussão crítica. A teoria proposta por um certo cientista poderá ser testada pelo próprio,
mas depois terá de ser testada e analisada por outros cientistas. Por isso, mesmo que
alguns cientistas se deixem influenciar por algo extracientífico, isso será descoberto e
corrigido por outros cientistas→ através da partilha e discussão pública e crítica dos
resultados.
→ Popper pensa que a avaliação das teorias pode ser realizada de forma totalmente
impessoal e é independente de fatores subjetivos e do contexto em que os cientistas
exercem a sua atividade.
Popper apresenta-se como defensor da racionalidade da ciência. Ser racional significa que
aceitar ou rejeitar uma ideia/teoria depende da existência de boas razões. A atitude racional
dos cientistas implica a análise crítica das justificações e uma disposição permanente para
as rever ou abandonar, caso se encontrem fundamentadas.
Objeção a Popper
Não nos dá boas razões para confiar na ciência
→ De acordo com a perspetiva falsificacionista, a ciência tem se desenvolvido através da
eliminação de teorias erradas, embora exista um progresso que faça com que as teorias se
aproximem da verdade, as teorias continuam a ser conjeturais, nunca estamos em
condições de garantir que são verdadeiras, essas teorias podem sempre vir a ser refutadas.

Mas, se é assim, como justificar a nossa confiança nas explicações científicas dos
fenómenos e nas tecnologias (computadores, telemóveis) que se baseiam na sua
aplicação?

→ Os críticos a Popper dizem que, se as ideias de Popper fossem corretas, não teríamos
motivos racionais para acreditar na ciência. Estaríamos a pensar que muitas explicações e
instrumentos que usamos resultam de teorias que podem vir a ser falsificadas e que,
portanto, não são inteiramente fiáveis. Porque haveríamos de acreditar nessas teorias? Não
seria razoável fazê-lo, porque não teríamos boas razões para pensar que eram verdadeiras.
Os críticos dizem que, Popper dizer que uma teoria ter resistido até agora às tentativas de
refutação não é uma justificação plausível para confiarmos nas indicações de um médico ou
não ter receio que o avião onde estamos não vai cair.
→ É preciso mais razões e a teoria de Popper não nos proporciona isso.

-Caso assim fosse não haveria verdade absoluta possível ao nosso alcance

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