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Resumo de Filosofia - Continuação
Resumo de Filosofia - Continuação
Resumo de Filosofia - Continuação
→ David Hume era um filósofo empirista, uma pessoa empirista é alguém que considera
que a fonte principal do conhecimento humano é a experiência (α posteriori).
→ Hume concordava com a seguinte afirmação:
Nada está no intelecto sem antes ter passado pelos sentidos.
Esta afirmação era defendida por diversos filósofos da Idade Média, inspirados por
Aristóteles.
Impressões e ideias
→ Segundo Hume, tudo o que está na nossa mente deriva da experiência.
Mas o que está na nossa mente?
R:. Perceções.
→ Para Hume, esta palavra designa todo e qualquer conteúdo mental, distinguindo-se em
dois tipos:
- Impressões
- Ideias
→ Impressões: derivam dos sentidos, são dados fornecidos pela experiência imediata.
As impressões, por um lado, podem ser externas ou internas.
Ideias complexas: são as que se podem dividir em partes. (associação de várias ideias)
Ex: Ideia de casa. ( Pois na casa existem quartos, sala, casa de banho, cozinha, etc)
O princípio da cópia
→Para David Hume, as ideias são apenas cópias das impressões. Elas são como
recordações/representações que temos das coisas mesmo que elas não estejam presentes.
As impressões são mais:
- detalhadas, vívidas, intensas, fortes, claras, nítidas…
As ideias são o oposto:
- fracas, menos intensas, menos nítidas..
Por ex.: Eu vi a Iara na quinta-feira (utilizei os meus sentidos) → impressão
Eu não vi a Iara na sexta-feira, então pensei nela → ideia
→Hume argumenta este princípio dizendo que as ideias não podem ser inatas (nascer
connosco) porque, todas as ideias que temos, mesmo sobre coisas irreais (como sereia ou
unicórnio) têm base em impressões. Se não pudermos ter experiência de algo, não
conseguiremos formar ideias sobre isso. Por exemplo:
- Uma pessoa que nasce cega não pode ter ideias das cores, pelo facto de não as ter
experienciado/sentido, logo não terá impressões das mesmas.
- Eu posso ter a ideia de unicórnio porque tenho a impressão de cavalo e narval e
utilizando a minha imaginação, para misturar estas ideias, posso ter a ideia de
unicórnio, mesmo não tendo a sua impressão.
- Ideias abstratas, como o universo, apesar de não terem impressões, são compostas
por ideias mais simples que, sim, têm impressões, como planeta, estrela… Logo as
ideias abstratas também provém da experiência, embora indiretamente. *
↓
Basicamente*: Ideia complexa que se forma através da associação de ideias menos
complexas com impressões.
→Para Hume, a ideia de Deus é uma criação humana. Ele acredita que essa ideia deriva da
reflexão sobre as operações da nossa própria mente e de aumentar sem limites as
qualidades de bondade e sabedoria. Logo a crença em Deus, para Hume, é uma ideia
complexa empírica, não inata, originada pela associação de ideias.
→ Para saber que nenhum solteiro é casado, ou que um triângulo tem três lados, basta
analisar e explicitar os conceitos que temos, isto é, podemos descobrir isso relacionando
ideias. Podemos também saber isso α priori, pois não precisamos observar solteiros ou
triângulos para fazer essas afirmações, basta pensar nos conceitos que já possuímos→
operação do pensamento (intuição, dedução ou raciocínio demonstrativo).
→ Trata-se de verdades necessárias, pois não podia suceder que um triângulo não tivesse
três lados, caso contrário não seria um triângulo→ Hume diz que essa ideia, a negação de
uma relação de ideias, é uma contradição.
→ A certeza: podemos estar certos da sua verdade. Essa certeza pode ser estabelecida
demonstrativamente→ através de raciocínios, caso dos cálculos matemáticos. Ou
intuitivamente→ intuição é uma compreensão direta e imediata.
→ Para saber que os planetas do sistema solar têm órbitas elípticas não basta analisar os
nossos conceitos e o significado dos termos usados→ pensando num planeta não se
descobre a ideia de órbita elíptica. Para isso é preciso recorrer à experiência e observar os
factos do mundo→ α posteriori.
→ Carácter contingente: Hume diz que a negação de uma questão de facto não implica
contradição. Dizer que Lisboa não é a capital de Portugal, ou que o Sol não vai nascer
amanhã, é falso, mas não é contraditório.
A negação de uma questão de facto pode ser falsa mas não contraditória.
Ex: É verdade que Lisboa é a capital de Portugal, mas podia não ser (podia haver uma
mudança política e decidir-se que outra cidade era a capital de Portugal. Mas não
conseguimos imaginar um triângulo que não tenha três lados)
[ser contingente significa que algo que é hoje pode não ser amanhã]
→ As questões de facto não se caracterizam pela certeza, mas sim pela probabilidade: a
sua verdade pode ser mais ou menos provável, mas nunca totalmente certa.
Ex: é muitíssimo provável que o Sol nasça, mas não é impossível que aconteça.
O conhecimento do mundo
O conhecimento das relações de ideias consiste na explicitação a priori dessas ideias, mas
têm um carácter empírico, pois derivam de impressões. Por isso, apesar de Hume
considerar que as relações de ideias são a priori, estas derivam, inicialmente, de
impressões e devido a isso não existe incoerência. Por exemplo: podemos saber a priori
que nenhum solteiro é casado, mas sem a experiência [impressões] não teríamos os
conceitos de solteiro, nem casado. Além disso, este conhecimento não é substancial, ou
seja, não é um conhecimento sobre o mundo, pois não nos diz nada de novo sobre as
coisas que existem ou não existem. Para adquirir conhecimento substancial precisamos de
recorrer à experiência, pois só esta nos pode ensinar coisas sobre os factos do mundo e
nos dar novas informações. Logo, só o conhecimento das questões de facto é substancial,
porque é a posteriori.
Concluindo, Hume acredita que há conhecimento a priori, no entanto este é
desinteressante e não é substancial. A resposta para a origem do conhecimento é a
experiência.
Basicamente:
-Relações de ideias: toda afirmação que seja intuitiva ou demonstrativamente certa
[ciências da geometria, álgebra e da aritmética]. O seu conhecimento pode ser obtido
através da análise de conceitos. Podem ser descobertas apenas pensando/ a priori (por
intuição ou dedução). A sua verdade é necessária (a sua negação envolve contradição),
certa e não substancial.
- Questões de facto: O seu conhecimento é tido através de inferências indutivas causais.
Só podem ser conhecidas a posteriori. A sua verdade é contingente (a sua negação não
envolve contradição. Não envolvem certeza, mas sim probabilidade. O seu conhecimento é
substancial.
A causalidade
→ A causalidade é a relação entre a causa e o efeito. Hume dedicou muita atenção a este
tema, pois considerava-o um elemento fundamental nos esforços humanos para
compreender o mundo.
Exemplos de causalidade:
- A chuva cai em cima do telhado e ao bater na superfície provoca ruído;
- Damos uma tacada numa bola de bilhar e devido a isso ela move-se;
- Batemos palmas e devido a isso outra pessoa ouve o som; (...)
A (causa) B (efeito) *
Impacto da chuva no teclado → Ruído
Pancada na bola com o taco → Movimento da bola
→ Entre A e B há uma conexão que faz com que a ocorrência de A provocará B (se não
houver interferência de outros fatores). Pode, portanto, dizer-se que existe uma conexão
necessária entre a causa e o efeito (*no esquema acima as setas representam a conexão
necessária)
Se observarmos um certo efeito, calculamos que ele foi antecedido por uma determinada
causa que o provocou.
Ex: se a Anna observar pegadas na praia, calcula que passou ali uma pessoa antes dela.
→ Depois de Hume defender essa ideia, o mesmo coloca uma questão crucial: temos
realmente experiência de quê?
→ Segundo Hume, nunca vemos realmente a relação causal supostamente entre eles→
conexão necessária (não temos disso uma impressão sensorial, uma sensação)
→ Vemos A e depois vemos B, nunca vemos realmente uma coisa a causar a outra. Não
temos qualquer prova que tenha sido A a causar B.
Nenhum objeto jamais revela, pelas suas qualidades que aparecem aos sentidos, nem as
causas que o produziram nem os efeitos que dele provirão. -David Hume
→ Como essa repetição ocorre muitas vezes, criamos a expectativa (hábito de esperar) de
que vai voltar a ocorrer: vemos A e esperamos que B também surja. Essa expectativa é um
sentimento ( impressão interna) que depois projetamos no mundo, levando-nos a acreditar
que existem relações causais (conexões necessárias) e que estas fazem parte efetivamente
do mundo e das coisas. Trata-se de um fenómeno psicológico e subjetivo: existe na nossa
mente e não nas coisas do mundo.
→ Para Hume, a ideia de conexão necessária é uma cópia de um sentimento e não de uma
sensação (como seria de esperar caso as relações causais fossem reais e não meramente
psicológicas.
→ Estes acontecimentos baseiam-se na experiência, mas trata-se da experiência interna do
sujeito (nós) e não da experiência do mundo.
…a mente é levada pelo hábito, quando aparece um dos eventos, a esperar o seu
acompanhante usual e a acreditar que ele vai ocorrer…
→ David Hume diz que ao afirmarmos a existência real de relações causais estamos a ir
mais longe do que aquilo que a experiência nos mostra. Por isso, para Hume a
compreensão habitual da causalidade não é correta.
→ Concluindo, a causalidade para Hume tem um carácter notoriamente cético.
O problema da indução
→ No dia a dia as pessoas fazem inúmeros raciocínios indutivos→ generalizações e
previsões.
Ex:
- Os iogurtes de mirtilo que já provei eram saborosos. Logo, todos os iogurtes de
mirtilo são saborosos.
- Os veados observados até hoje eram herbívoros. Consequentemente, pode
afirmar-se que todos os veados são herbívoros.
- O novo cão da Yara ladrou todas as vezes que passei perto da casa dela. Por isso,
vai certamente ladrar quando daqui a dois minutos passar por lá.
→ Os raciocínios indutivos partem da experiência, mas vão além da experiência, na medida
em que as suas conclusões se referem a casos não observados, quer do presente, quer do
futuro. Podemos observar isso vendo os exemplos acima: não seria possível a Anna provar
todos os iogurtes de mirtilo, mas no entanto, a conclusão do raciocínio (que é uma
generalização) refere-se a todos eles.
→ Pode dizer-se que nesses raciocínios ocorre uma espécie de salto→ do alguns para
todos (generalização) e do alguns do passado ou do presente para o próximo ou os
próximos casos do futuro (previsão). Se não pudéssemos dar esse salto indutivo só
poderíamos, provavelmente, pensar e falar do imediato, do aqui e agora.
→ Contudo, o problema não está ainda resolvido, pois Hume coloca outra questão:
Como se pode justificar o princípio da uniformidade da natureza?
→ A natureza ser regular, é uma questão de facto, pois é uma verdade contingente e não
necessária→ a ideia de uma natureza irregular é falsa mas não contraditória (esperar a
resposta do professor)
→ Também é possível refletir sobre problemas mais gerais, relacionados com a atividade
científica:
O que é pensar cientificamente?
Em que diferem as teorias científicas das não científicas?
Qual é o método seguido na ciência?
Existe progresso científico?
A ciência dá-nos um conhecimento objetivo da realidade?
→ A reflexão sobre esse tipo de questões acima pertence a uma disciplina filosófica
chamada Filosofia da ciência, visto que, as ciências particulares não respondem a esse tipo
de questões.
A ciência
→ A ciência é o estudo do mundo físico (ciências da natureza), esta palavra é relativamente
recente, visto que o seu uso só se vulgarizou no final do século XIX. Filósofos como Locke e
Hume usaram o termo “Filosofia natural” para designar o conhecimento do mundo natural.
→ A ciência moderna começou a desenvolver-se a partir do século XVI, quando Copérnico
publicou Da Revolução das Esferas Celestes.
→ Com o surgimento da ciência moderna foi introduzido uma nova forma de pensar e
explicar o mundo, colocando em causa a autoridade dos pensadores antigos e da religião,
apresentando como alternativa: observação e a razão – meios que permitem explicar o
funcionamento da natureza.
O senso comum inclui algumas superstições (crenças falsas e injustificadas), que não são
conhecimento.
Ex:
- A Anna acreditar que o número 13 dá azar
- A Yara acreditar que uma pata de coelho dá sorte
O problema da demarcação
“Quando é que uma teoria deve ser classificada como científica? Existe algum critério que
determine o carácter ou estatuto científico de uma teoria?” -Karl Popper
*Notas: pseudociência: é algo que parece ciência, mas não é ciência. Apresenta uma
linguagem que parece científica. Elas são pessoais, imprecisas, subjetivas,
descontextualizadas e parciais. Por exemplo: astrologia.
Verificação
→ Os filósofos defensores do positivismo lógico começaram por considerar que uma teoria
só é científica se for constituída por afirmações empiricamente verificáveis, ou seja, quando
se pode conceber experiências que estabeleçam conclusivamente a sua verdade ou
falsidade.
→ Este critério da demarcação foi alvo de críticas. Uma delas alega que, sendo as
hipóteses e leis científicas expressas por enunciados universais, estas não podem ser alvo
de verificação, pois isso implicaria observar todos os casos e isso é impossível.
→(Exemplo da lei da inércia de Newton) - Por maior que seja o número de casos
observados, não é possível garantir a verdade desta lei através da experiência, pois
refere-se a todos os corpos do passado, do presente e do futuro. Ora, isso colocaria em
causa a cientificidade das hipóteses e das leis da ciência, o que faria pouco sentido
Confirmação
→ Outros filósofos positivistas (nomeadamente Carnap) apresentaram um critério
alternativo à verificação→ confirmação.
→ Dúvida para pôr ao professor.
-submeter a teoria a vários testes de forma a confirmá-la (mais forte ou mais fraca
dependendo do numero de testes realizados.)
Mas o que é a falsificabilidade e por que razão esta é uma condição necessária para
uma teoria ser considerada científica?
→ Uma teoria só é falsificável se for possível pensar numa circunstância que a desmentiria
(tornaria falsa). Popper acrescenta dizendo que essas condições empíricas que permitem
refutar/falsificar as teorias científicas têm de ser logicamente pensáveis ou imagináveis (não
significa que tenham de vir a ocorrer, podem acontecer ou não).
*É importante refutar as teorias e não aceitá-las de ânimo leve.
→ Popper defende que os cientistas devem adotar uma atitude contrária à dos astrólogos:
- devem formular teorias claras, onde se explicitem as condições em que estas
podem revelar-se falsas;
- realizar testes exigentes, procurando eventuais erros nessas teorias→ devem
procurar falsificá-las;
→ Corroboração: permite a aceitação provisória da teoria enquanto resistir aos testes que
procuram falsificá-la, sendo assim, essa teoria continua a ser falsificável.
→ Porém, para Popper, as hipóteses ou teorias científicas são sempre conjeturais, isto
é, são tentativas provisórias de explicação, suposições que podem vir a revelar-se falsas.
Por isso, não devemos dizer que são verdadeiras.
Nunca se pode provar nem afirmar que uma teoria científica é verdadeira. Quanto muito,
pode provar-se que é falsa – se se realizar um teste cujos resultados sejam contrários às
suas previsões. -Karl Popper
Nota*: conjeturar= apresentar ideias/hipóteses.
conjuntura- tem a ver com as características do tempo e do espaço.
“A ciência é conjectural e conjuntural”
Grau de falsificabilidade
→ Para Popper, as teorias mais interessantes para a ciência são aquelas com um elevado
grau de falsificabilidade.
→ Segundo Popper, os cientistas devem procurar teorias que sejam ousadas e com um
elevado conteúdo empírico, teorias que digam mais sobre o mundo, com poder explicativo e
correndo mais risco de falhar. Teorias assim têm um elevado grau de falsificabilidade e é
positivo que assim seja.
→ Os cientistas não devem interessar-se por teorias que “passam” facilmente nos testes
empíricos, devem interessar-se por teorias que resistam a tentativas exigentes da
falsificação.
Quanto mais uma teoria for universal/abrangente, mais falsificada ela é.
→ As teorias que Popper se refere podem ser ordenadas do menor para o maior grau de
falsificabilidade:
1. As teorias de Kepler e Galileu são as menos falsificáveis→ por serem menos
abrangentes/menos universais.
2. As teorias de Newton e Maxwell são mais falsificáveis do que as anteriores.
3. A teoria de Einstein é mais abrangente, a que tem maior poder explicativo, a mais
informativa e, por isso mesmo, é aquela cujo grau de falsificabilidade é mais elevado
– podendo assim ser mais facilmente desmentida pelos factos.
→ Quanto maior for a generalidade de um enunciado científico universal, maior será o seu
grau de falsificabilidade → quanto mais fenómenos referir, maior será a possibilidade de
surgirem contraexemplos
Vejamos agora algumas frases que se seguem. Será que todas serão falsificáveis?
1. A aura das pessoas não é afetada pela gravidade.
→ Não é falsificável, pois não se consegue conceber nenhum teste para avaliar nem
indicar as condições em que poderia revelar-se falsa.
Exemplos de previsões:
1. No futuro, poderão existir outras pandemias.
→ Esta previsão não é falsificável, pois, além de não indicar nenhum período temporal (ano,
mês, etc) preciso, limita-se a referir uma possibilidade.
2. No próximo ano, a pandemia continuará a afetar a saúde física e mental dos
jovens portugueses.
→ Esta previsão é falsificável, porém, não é tão específica.
3. Nos próximos dois meses, a pandemia continuará a afetar a saúde física e
mental dos jovens portugueses.
→ Esta previsão é falsificável, até mais do que a previsão 2, pois é mais específica – dá
informações mais detalhadas.
Condições suficientes
→ A falsificabilidade é uma condição necessária para uma teoria ser científica, porém,
não é uma condição suficiente. Para uma teoria ser científica deverá reunir, em
simultâneo, os seguintes requisitos:
- Ser falsificável
- Ter capacidade explicativa, fornecendo respostas para problemas com alguma
complexidade.
→ Sendo assim, existem enunciados que são falsificáveis, mas não chegam a ser
científicos, pois são respostas a questões banais, por exemplo:
- Todos os seres humanos têm pernas.
A pseudociência
→ Popper procura distinguir a ciência de áreas que não são ciências (algumas dessas não
ciências tentam passar-se por ciências). Tendo como exceção áreas como a literatura e a
filosofia, etc (áreas que não são científicas), pois não fingem ser científicas. Existem vários
exemplos que Popper analisa, um deles é a astrologia.
→ A astrologia, para Popper e para muitas pessoas, é uma pseudociência, ou seja, uma
falsa ciência, vejamos porquê:
- Utiliza uma linguagem vaga;
- Qualquer dado observado é visto como uma comprovação da teoria – dificilmente
consegue-se imaginar uma situação que a falsifique;
- Não é submetida a testes empíricos;
→ Segundo Popper, se uma teoria não pode ser sujeita ao processo de falsificação, as suas
explicações são irrefutáveis, logo a astrologia não é uma ciência.
O problema do método
O conhecimento científico é metódico, pois utiliza uma série de etapas e procedimentos ao
contrário do senso comum, que não implica esforço de raciocínio, pois para o adquirir basta
apenas ver, ouvir, seguir as tradições. Portanto, que método(s) recorrem os cientistas
nas suas tentativas para explicar e compreender o universo? Existem perspectivas que
tentam responder a esta questão e elas são: a Perspectiva Indutivista e a Perspectiva
Falsificacionista.
Críticas ao indutivismo
→ Segundo Popper e alguns filósofos, a visão indutivista do método científico não
corresponde a uma decisão correta da atividade dos cientistas. Existem duas objeções à
perspectiva indutivista:
→ A primeira diz: não há observação pura, independentemente de pressupostos teóricos.
Os cientistas fazem observações em função de um determinado enquadramento mental-
que engloba interesses, expectativas, conhecimentos já adquiridos- ou seja, a
mundividência, e com objetivo de resolver um problema específico. Assim sendo, a
observação é sempre orientada por pressupostos teóricos prévios e por isso nunca vai ser
totalmente pura/ virgem e objetiva. Com isto está a ser criticado o a Perspectiva Indutivista
do Método Científico, ou seja, o método tradicional.
→ A segunda diz: que o ponto de partida nem sempre é a observação. Há fenómenos
estudados pelos cientistas que não são diretamente observáveis, por exemplo, o facto de
uma parte do universo ser constituída por matéria negra. Esta não é visível mas sim inferida
através de efeitos gravitacionais sobre a matéria visível (estrelas…). Casos como estes
permitem colocar em causa a perspectiva indutivista do método, segundo a qual, nas suas
investigações, os cientistas têm de partir sempre da observação.
Sendo assim, a indução é utilizada na conceção do método indutivista e não é utilizada na
conceção falsificacionista do método.
→ As teorias que são corroboradas nunca deixam de ser meras conjeturas aceites
provisóriamente, pois testes futuros podem evidenciar a sua falsidade.
→ Popper diz que os cientistas devem ter uma atitude autocrítica em relação às suas
próprias teorias e uma atitude crítica quanto às teorias dos outros cientistas (procurar erros
que levem à refutação e não à sua confirmação).
Perspetiva indutivista:
1. Observação e registo dos factos empíricos
2. Elaboração da hipótese
3. Experimentação
4. Formulação das leis científicas
Perspetiva falsificacionista
1. Problema
2. Conjeturas (hipóteses)
3. Submissão a testes: refutação ou corroboração
Papel da experimentação
⇩ ⇩
Verificação ou Refutação ou
confirmação das corroboração das
hipóteses hipóteses
⇩ ⇩
Perspetiva Perspetiva
indutivista do falsificacionista
método do método
O problema da indução
Todos os raciocínios baseiam-se num pressuposto- o princípio da uniformidade da natureza.
O princípio da uniformidade da natureza: a natureza é regular, constante, não está sempre a
mudar.
David Hume tenta justificar este princípio mas não consegue: não é justificável a priori pois
este princípio é também uma questão de facto (envolve probabilidade), e, não é justificável
a posteriori pois é um raciocínio indutivo, uma indução, por isso estaria a justificar uma
indução com outra indução, tornando assim a sua justificação circular e falaciosa. Por isso,
conclui que este princípio tem caráter cético.
→ Popper concorda com a análise lógica que David Hume fez do problema da indução→ as
conclusões das inferências indutivas (de uma proposição particular conclui-se uma
proposição universal) ultrapassam os dados da experiência e não se encontram
racionalmente justificadas) – mas, rejeita a perspetiva de Hume em relação à indução, pois
para David Hume a mesma pode ser utilizada no método científico, enquanto que para
Popper não, deste modo, o mesmo pretende ultrapassar o problema da indução evitando-o.
A Perspectiva de Popper
Seleção natural das teorias
→ Popper considera que a ciência se desenvolve através do processo de substituição das
teorias falsificadas por novas teorias e que isso proporciona acréscimo de conhecimento.
Estas novas teorias proporcionam explicações mais adequadas do que as anteriores, por
isso são mais completas e conseguiram ultrapassar as tentativas de refutação dos rigorosos
testes empíricos a que foram submetidas. Por isso, oferecem explicações dos fenómenos
mais aproximadas da realidade.
Popper compara o desenvolvimento da ciência ao processo de seleção natural, descrito
pela teoria evolucionista de Darwin. A sobrevivência dos seres vivos depende da
capacidade de estes se adaptarem ao meio natural, modificando gradualmente os seus
organismos de forma a conseguirem viver num certo meio ambiente. Os que conseguem
adaptar-se têm mais hipóteses de assegurar a sobrevivência e a descendência.
→Popper pensa que o mesmo acontece com as teorias científicas: apenas sobrevivem as
que resistem às tentativas de falsificação dos testes empíricos, as mais aptas. Contudo os
testes podem corroborar a teoria “sobrevivente” mas nunca provar a sua verdade: as teorias
são sempre conjeturas (hipóteses/explicações provisórias), que apesar de eliminar os erros
anteriores, podem ser falsificadas e substituídas por outras a qualquer momento.
Progresso ⇒ Cumulativo:
→ Correção de erros
→ Acréscimo de conhecimento
→ Aproximação à verdade
Mas, se é assim, como justificar a nossa confiança nas explicações científicas dos
fenómenos e nas tecnologias (computadores, telemóveis) que se baseiam na sua
aplicação?
→ Os críticos a Popper dizem que, se as ideias de Popper fossem corretas, não teríamos
motivos racionais para acreditar na ciência. Estaríamos a pensar que muitas explicações e
instrumentos que usamos resultam de teorias que podem vir a ser falsificadas e que,
portanto, não são inteiramente fiáveis. Porque haveríamos de acreditar nessas teorias? Não
seria razoável fazê-lo, porque não teríamos boas razões para pensar que eram verdadeiras.
Os críticos dizem que, Popper dizer que uma teoria ter resistido até agora às tentativas de
refutação não é uma justificação plausível para confiarmos nas indicações de um médico ou
não ter receio que o avião onde estamos não vai cair.
→ É preciso mais razões e a teoria de Popper não nos proporciona isso.
-Caso assim fosse não haveria verdade absoluta possível ao nosso alcance