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HUME
HUME
IMPRESSÕES E IDEIAS
A teoria empirista1 de Hume tem por base a distinção entre dois tipos de
perceções ou conteúdos mentais:
Impressões (perceções mais vívidas; abrangem as nossas sensações
externas como as visuais, auditivas ou tácteis, bem como os nossos
sentimentos internos, por exemplo, emoções, desejos, etc.)
Ideias (perceções mais ténues que constituem o nosso pensamento,
como por exemplo, se estamos a ver um objeto azul estamos a ter uma
ideia de azul; se estivéssemos a ver um objeto azul essa impressão era
mais intensa do que se imaginarmos a cor).
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Os empiristas defendem que todo o conhecimento dos factos do mundo é a posteriori. Os
racionalistas defendem que algum desse conhecimento é a priori.
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As ideias simples são as que não admitem qualquer separação ou divisão; as
ideias complexas são as que podem ser divididas em partes, resultando da
combinação das impressões ou das ideias simples.
O PRINCÍPIO DA CÓPIA
As ideias são como que cópias/recordações das impressões. São
representações que temos das coisas mesmo que estas não estejam
presentes. As ideias são cópias enfraquecidas das impressões.
Se não conseguirmos estabelecer relação entre uma ideia e a correspondente
impressão, então pode concluir-se que essa «ideia» é um termo sem
significado. Esta é uma das maneiras de eliminar ideias falsas.
De acordo com o princípio da cópia, todas as nossas ideias têm a sua origem
em impressões externas (dados dos sentidos) ou internas (sentimentos e
desejos), ou seja, todas as nossas ideias são cópias das nossas impressões.
Se não pudermos ter experiência de uma coisa não conseguiremos formar
ideias acerca dela.
Mesmo as ideias mais abstratas têm origem na experiência.
Não existem ideias inatas, isto é, não existem ideias que o nosso entendimento
ou intelecto não tenha formado a partir da experiência. A experiência fornece
os materiais a partir dos quais se geram todas as nossas ideias, mesmo as
mais elaboradas e abstratas.
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Hume apresenta a favor do princípio da cópia o seguinte: aqueles que estão
privados de certas impressões são incapazes de formar ideias
correspondentes. Por exemplo, uma pessoa que seja cega de nascença não
conseguirá formar a ideia de azul, já que nunca teve qualquer impressão de
azul.
O que dizer das ideias que não correspondem a qualquer impressão que
tenhamos tido? Por exemplo, podemos ter ideia de uma cavalo azul, mas
nunca ter observado um cavalo azul. Hume sugere que os exemplos deste
género apoiam o princípio da cópia. Nunca tivemos uma impressão de um
cavalo azul, mas já observámos cavalos e já observámos objetos azuis, pelo
que temos a ideia de cavalo e a ideia de azul. A partir destas ideias, podemos
formar a ideia mais complexa de cavalo azul. Assim, ainda que todas as
nossas ideias simples sejam cópias diretas de impressões, o nosso
pensamento combina imaginativamente essas ideias de modo a formar ideias
mais complexas, que no seu todo, muitas vezes, não correspondem a nada
que tenhamos observado ou sentido alguma vez.
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São verdades necessárias (não podemos nega-las sem nos
contradizermos; a negação de uma proposição que exprime uma relação
de ideias implica uma contradição)
Envolvem certeza
O seu conhecimento não é substancial (nada dizem sobre o que existe
no mundo).
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Enquanto para Descartes a ideia de Deus é inata sendo causada pelo próprio
criador (Deus), Hume considera que a ideia de Deus é uma ideia complexa
(empírica, não inata) resultante da associação de várias ideias.
A CAUSALIDADE
A ordem e a regularidade das nossas ideias assentam em princípios que
permitem uni-las e associá-las. É na relação de causa e efeito que se baseiam
os nossos raciocínios acerca dos factos.
O nosso conhecimento dos factos restringe-se às impressões atuais e às
recordações de impressões passadas. Só com base nessas impressões e
recordações é que podemos justificar as nossas crenças. Uma vez que não
dispomos de impressões relativas ao que acontecerá no futuro, também não
possuímos o conhecimento dos factos futuros.
Apesar disso, há muitos factos que esperamos que se verifiquem no futuro.
Esperamos que um papel se queime se o atirarmos ao fogo, ou que a roupa se
molhe se a deitarmos à água. Trata-se de verdades contingentes, relativas a
questões de facto, e que têm por base uma inferência causal. Até agora,
sempre o fogo queimou e sempre a água molhou. Logo, isso irá verificar-se
também no futuro. Queimar e molhar são efeitos cujas causas são
respetivamente, o fogo e a água.
Verifica-se assim que a ideia de causa é aquela que preside às nossas
inferências acerca de factos futuros. Essas inferências têm um carácter
indutivo. A indução (enquanto previsão), como vimos anteriormente, baseia-se
em casos passados e antevê casos ainda não observados.
Mas a relação de causa e efeito é geralmente entendida como sendo uma
conexão necessária, isto é, que um determinado efeito se produzirá
necessariamente a partir do momento em que existe determinada causa.
Acontece que não dispomos de qualquer impressão relativa à ideia de conexão
necessária entre fenómenos.
Sabemos que só a partir da experiência é que se pode conhecer a relação
entre a causa e o efeito. Trata-se de um conhecimento a posteriori e não a
priori. Mas a única coisa que percecionamos é que entre dois fenómenos,
eventos ou objetos verifica-se uma conjunção constante: um deles ocorreu
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sempre a seguir ao outro. Isso lava-nos a concluir que entre eles há uma
conexão necessária, o que é um erro, na opinião de Hume.
Este raciocínio pode ser igualmente aplicado às operações da mente sobre o
corpo. Hume apresenta uma série de argumentos que visam provar que a ideia
de conexão necessária também não decorre de qualquer impressão interna, o
que leva a concluir que não surge, em toda a natureza, sem um único exemplo
de conexão que possamos conceber.
Sendo assim, o nosso conhecimento acerca dos factos futuros não é um
rigoroso conhecimento. Trata-se apenas de suposição ou de probabilidade.
Esse conhecimento assenta unicamente numa expectativa.
Tal não significa que não estejamos certos de que o fogo queimará ou de que a
água molhará. Contudo, esta certeza tem apenas um fundamento psicológico:
o hábito ou costume.
Criamos a expectativa de que uma certa coisa vai voltar a acontecer. Essa
expectativa é um sentimento (uma impressão interna) que depois projetamos
no mundo, levando-nos a acreditar que existem realmente relações causais (ou
conexões necessárias) e que estas fazem parte efetivamente do mundo e das
coisas. Trata-se, portanto, de um fenómeno psicológico e subjetivo: existe na
nossa mente e não nas coisas do mundo.
Nunca observamos qualquer conexão necessária entre causa e efeito. A ideia
de conexão necessária tem origem num sentimento interno produzido pelo
hábito. A ideia de conexão necessária é portanto, uma cópia de um sentimento
e não de uma sensação. Baseia-se na experiência interna do sujeito e não na
experiência do mundo.
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quais se verifica uma relação causal são completamente distintos. Assim, se
não tivermos o auxílio da experiência, nunca poderemos descobrir que efeito
terá um certo objeto ou acontecimento, nem que causa o produziu. Suponha-se
que arremessamos uma pedra para um vidro. Se não tivermos qualquer
conhecimento empírico acerca do vidro, seremos incapazes de prever que o
arremesso terá o efeito de o quebrar. Do mesmo modo, se não nos basearmos
na experiência passada, não conseguiremos inferir que um monte de cinzas foi
causado por uma fogueira.
O PROBLEMA DA INDUÇÃO
No conhecimento de questões de facto – questões acerca do que existe e do
que ocorre na natureza, a relação de causa e efeito ocupa um papel
fundamental porque procuramos relacionar os fenómenos, e quando
determinados fenómenos se verificam, aguardamos que outros também se
verifiquem, de certas causas esperamos certos efeitos, tese defendida pelo
princípio da causalidade.
Hume diz-nos que todas as ideias derivam de impressões sensíveis. Assim, do
que não há impressão sensível não há conhecimento. Deste modo, não
podemos dizer que tenhamos conhecimento a priori da causa de um
acontecimento, ou de um facto.
Embora tendo consciência da importância que o princípio de causalidade teve
na história da humanidade, Hume vai submetê-la a uma crítica rigorosa.
Segundo ele, o nosso conhecimento dos factos restringe-se às impressões
atuais e às recordações de impressões passadas. Assim, se não dispomos de
impressões relativas ao que acontecerá no futuro, também não possuímos o
conhecimento dos factos futuros. Não podemos dizer o que acontece no futuro
porque um facto futuro ainda não aconteceu. Contudo, há muitos factos que
esperamos que se verifiquem no futuro. Por exemplo, esperamos que um papel
se queime se o atirarmos ao fogo. Esta certeza que julgamos ter (que o papel
se queima), tem por base a noção de causa (nós realizamos uma inferência
causal), ou seja, atribuímos ao fogo a causa de o papel se queimar. Sucede
que, segundo Hume, não dispomos de qualquer impressão da ideia de
causalidade necessária entre os fenómenos.
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Hume afirma que só a partir da experiência é que se pode conhecer a relação
entre a causa e o efeito. Não se pode ultrapassar o que a experiência nos
permite. A experiência é, pois, a única fonte de validade dos conhecimentos de
factos. Quer dizer que só podemos ter um conhecimento a posteriori. A única
coisa que sabemos é que entre dois fenómenos se verificou, no passado, uma
sucessão constante, ou seja, que a seguir a um determinado facto ocorreu
sempre um mesmo facto.
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A crítica principal de Hume ao ceticismo pirrónico é a de que é impraticável.
Devido à nossa natureza, não conseguimos deixar de acreditar, por exemplo,
que o mundo exterior é real e uniforme. Certas crenças são tão fundamentais e
importantes para a ação que nem o pirrónico consegue coloca-las realmente
em dúvida, exceto nos raros momentos em que se entrega à reflexão filosófica.
Ninguém consegue viver como um cético pirrónico, pelo que esta forma de
ceticismo é destituída de sentido.
CETICISMO MITIGADO
Hume opõe-se ao ceticismo radical, seja ele cartesiano ou pirrónico. Não rejeita
a hipótese de conhecermos a realidade, apenas lhe assinala limites. Neste
aspeto, o seu ceticismo é mitigado/moderado, reconhece a imperfeição e os
limites do entendimento humano, que não pode ir além da experiência e para o
qual há domínios que se encontram vedados.
Os resultados céticos de Hume são muito fortes. Não podemos ter uma crença
justificada na uniformidade da natureza nem na realidade do mundo exterior.
Segundo Hume, não podemos deixar de acreditar que a natureza é uniforme e
que o mundo exterior é real. Estas crenças fazem parte da natureza humana, e
na vida quotidiana não conseguimos pensar nem agir na sua ausência. Os
argumentos céticos são impotentes para as destruir. Como mostram que as
nossas capacidades de conhecimento são muito limitadas, levam-nos a adotar
as seguintes atitudes:
Evitar o dogmatismo no pensamento e na tomada de decisões
Evitar investigações demasiado especulativas.
O cético moderado caracteriza-se por ter estas atitudes. Dado que está
consciente das limitações do entendimento humano, tem uma mente aberta ao
mesmo tempo que rejeita todas as pretensões ao conhecimento em questões
demasiado distantes da experiência.
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DUAS CONCLUSÕES CÉTICAS DE HUME
Hume é cético, pois acredita que a investigação filosófica abala profundamente
muitas das nossas pretensões ao conhecimento. Duas das suas conclusões
céticas mais importantes são:
A nossa crença na uniformidade da natureza é racionalmente
injustificada.
A nossa crença na realidade do mundo exterior é racionalmente
injustificada.
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permanece igual. Por isso, as nossas perceções da mesa não são a própria
mesa.
Hume sugere que o realista tem de encarar as perceções como representações
dos objetos exteriores. O realista aceita a seguinte hipótese:
As perceções dos sentidos são causadas por objetos exteriores que,
embora sejam semelhantes a elas, existem independentemente da
nossa mente.
As crenças cognitivas para Hume não têm um fundamento racional mas sim
um fundamento no hábito e no costume. Para Hume, é o hábito que nos leva a
inferir uma relação de causa e efeito entre dois fenómenos. Se no passado
ocorreu sempre um determinado facto a seguir a outro, então nós esperamos
que no presente e no futuro também ocorra assim.
O hábito e o costume permitem-nos partir de experiências passadas e
presentes em direção ao futuro. Por isso, o nosso conhecimento de factos
futuros não é um conhecimento rigoroso, é apenas uma convicção que se
baseia num princípio psicológico: o hábito.
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OBJEÇÕES A HUME
Objeção ao princípio da cópia
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Objeção baseada na argumentação a favor da melhor explicação
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as relações causais, de facto, existem do que supor que essas conjunções
constantes simplesmente ocorrem no mundo de um modo casual.
A validade do conhecimento
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subjaz a todas as inferências causais, e na suposição de que o mundo exterior
é real. Como muitas das nossas crenças se apoiam nestas suposições e elas
não estão justificadas, podemos inferir que também essas crenças não estão
justificadas e que, portanto, não constituem conhecimento.
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SÍNTESE
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O conhecimento de questões de facto é a posteriori e corresponde a
proposições que têm as seguintes características:
o São verdades contingentes (podemos nega-las sem nos
contradizermos);
o São apenas prováveis;
o Dizem respeito àquilo que existe no mundo, isto é, são
substanciais.
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dúvida, é algo que está fora do nosso alcance e que tornaria
impossível a ação.
Objeções a Hume:
o É implausível que o conhecimento matemático não seja
substancial, pois quando se fazem cálculos matemáticos parece
haver conhecimento novo e não uma mera explicitação de ideias;
o A matemática aplica-se ao mundo, no quotidiano e nas ciências.
o A identificação humeana entre causalidade e conjunção
constante, se for aceite, leva à admissão de falsidades. Por
exemplo, o dia é causa da noite (ou vice-versa), já que entre eles
existe conjunção constante, o mundo não teve uma causa, já que
a criação do mundo aconteceu só uma vez, não havendo uma
conjunção constante.
Questões a Hume
Quais são as principais teses empiristas?
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Todo o conhecimento deriva da experiência. A mente é, à partida, uma tábua
rasa. Não existem ideias inatas.
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absoluta; baseiam-se no raciocínio indutivo. Os conhecimentos das ciências
naturais e das ciências humanas são questões de facto. Só as questões de
facto nos dizem como são e como acontecem as coisas do mundo.
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uniforme e que o futuro não repita o passado. O exemplo do ornitorrinco é
revelador de que o número de observações que serve de base a uma indução
é logicamente independente da verdade da conclusão.
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