Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
COMPREENDER
TERESA COLOMER; ANNA CAMPS.
A LÍNGUA ESCRITA
• Função do código de representação: define aquilo que constitui a própria essência da língua escrita: um
sistema de mediação entre o ser humano e a realidade por meio de sinais determinados.
• Alfabetização: permite desenvolver novas formas de processos psicológicos superiores.
• Língua escrita: permite a existência de uma memória coletiva e uma comunicação muito maior entre as
pessoas.
• Processo de industrialização:
• alfabetização associada ao êxito econômico e ao esforço individual em prol da ascensão social;
• escolarização obrigatória: inclui o acesso de toda a população à alfabetização no interior do novo
âmbito solidamente formalizado.
• UNESCO, sobre alfabetização:
• Mais do que uma finalidade em si mesma, a alfabetização deve ser considerada como uma maneira
de preparar o homem para um papel social, cívico e econômico que vai além dos limites de um
tarefa rudimentar de alfabetização, que consista simplesmente em ensinar a ler e a escrever. O
próprio processo de aprendizagem da lectoescrita deve converter-se em uma oportunidade para
adquirir informações que possam ser utilizadas imediatamente para melhorar os níveis de vida; a
leitura e a escrita não conduzirão apenas a um saber geral elementar, mas a uma maior
participação na vida civil e uma melhor compreensão do mundo à nossa volta, abrindo o caminho,
finalmente, ao conhecimento humano básico.
• Diversos usos da língua escrita:
• O uso prático ou funcional da língua escrita em termos de adaptação a uma sociedade moderna e
urbana que recorre constantemente a ela na vida cotidiana.
• O uso da língua escrita como potencialização do conhecimento, como progresso individual ou
coletivo, no qual o domínio da linguagem escrita é entendido (e administrado e reivindicado) como
poder: poder da informação, progresso científico, poder da ascensão social que possibilita, etc.
• O uso da língua escrita como acesso ao prazer estético por meio dos usos formais e poéticos do
escrito.
• O código oral e o código escrito
• A aprendizagem da língua escrita deve ser situada no âmbito do domínio linguístico progressivo, em
estreita relação com a língua oral e com os demais códigos de representação social.
• Se a linguagem é o instrumento mais valioso para construir nossa concepção do mundo, para imaginar,
interpretar, organizar, abstrair, etc., será preciso pensar em um programa educativo que ajude a ampliar
essas capacidades a partir de sua ancoragem em experiências plenas de sentido.
O QUE É LER?
• Concepções de leitura:
• Modelo de processamento ascendente: supõe que o leitor começará por fixar-se nos níveis inferiores
do texto (os sinais gráficos, as palavras) para formar sucessivamente as diferentes unidades linguísticas
até chegar aos níveis superiores da frase e do texto.
• Modelos interativos de leitura: O texto proporciona apenas uma das fontes críticas de informação. É
preciso que o resto provenha dos conhecimentos prévios do leitor. (O leitor é considerado como um
sujeito ativo que utiliza conhecimentos de tipo muito variado pra obter informação do escrito e que
reconstrói o significado do texto ao interpretá-lo de acordo com seus próprios esquemas conceituais e a
partir de seu conhecimento do mundo.
• Leitura compreensiva – 4 pontos:
• A leitura eficiente é uma tarefa complexa que depende de processos perceptivos, cognitivos e
linguísticos.
• A leitura é um processo interativo que não avança em uma sequência estrita desde as unidades
perceptivas básicas até a interpretação global de um texto. Ao contrário, o leitor experiente deduz
informação, de maneira simultânea, de vários níveis distintos, integrando ao mesmo tempo informação
grafofônica, morfêmica, semântica, sintática, pragmática, esquemática e interpretativa.
• O sistema humano do processamento da informação é uma força poderosa, embora limitada, que
determina nossa capacidade de processamento textual. Sua limitação sugere que os processos de baixo
nível funcionam automaticamente e que, portanto, o leitor pode atentar aos processos de
compreensão de alto nível.
• A leitura é estratégica. O leitor eficiente atua deliberadamente e supervisiona de forma constante sua
própria compreensão. Está alerta às interrupções de compreensão, é seletivo ao dirigir sua atenção aos
diferentes aspectos do texto e progressivamente torna mais precisa sua interpretação textual.
• Processo geral de interpretação da informação:
• Memória: Se a informação recebida não foi subestimada, começa um processo para sua retenção na
memória
• De curto prazo: capacidade limitada tanto no tempo como na quantidade de informação retida.
• De longo prazo: grande duração e capacidade.
• Representação do mundo:
• Esquemas: são estruturas mentais que o sujeito constrói na interação com o ambiente, e que
organizam seu conhecimento e o modo de usá-lo.
• Os esquemas de conhecimento que as pessoas formam ao longo de sua vida servem-lhes para
prever, contrastar e interpretar qualquer informação, desde como viajar de avião até que tipo de
pessoa parece ser um novo conhecido.
• Processo leitor:
• Formulação de hipóteses: expectativas em todos os níveis do texto; são formuladas como suposições
ou perguntas mais ou menos explícitas para as quais o leitor espera encontrar resposta se continuar
lendo.
• Verificação de hipóteses realizadas: o que o leitor antecipou deve ser confirmado no texto mediante os
indícios gráficos.
• A intenção da leitura: leitura silenciosa integral; leitura seletiva (orientada por um propósito); leitura
exploratória (produzida em saltos); leitura lenta (para desfrutar aspectos mais formais do texto); leitura
informativa (busca rápida de informação pontual).
• Mudança: Em vez do estudo a partir do fracasso na lectoescrita, é o estudo dos procedimentos utilizados
pelos bons leitores que centra a tentativa de estabelecer como a escola pode facilitar o acesso à língua
escrita, ao mesmo tempo em que esse objetivo deixa de ser um tema situado nos primeiros níveis escolares
para ser concebido como um desenvolvimento contínuo da aprendizagem da compreensão do texto escrito.
• Algumas condições para o ensino da leitura
• Partir do que os alunos sabem: escolarização – possibilita a ampliação da experiência sobre o mundo de
representação e comunicação. A avaliação dos conhecimentos prévios sobre o escrito e a estimulação
para sua continuidade são tarefas básicas da escola, que deverá planejar sua intervenção a partir da
informação que cada um dos alunos possui sobre a forma e a função do código escrito.
• Utilizar textos concebidos para a sua leitura: Ou seja, a escola deve utilizar textos realmente concebidos
para ser lidos. (Ex. textos muito breves, sem contextualização, que impedem a construção das hipóteses
pelas crianças).
• Experimentar a diversidade de textos e leituras: A familiarização com as características do escrito
implica ter experiências com textos variados, de tal forma que se vão aprendendo suas características
diferenciais, e que a habilidade de leitura possa ser exercitada em todas as suas formas segundo a
intenção e o texto.
• Ler sem ter de oralizar: É necessário um ensino que não se baseie na decifração literal de textos
escritos. A leitura oralizada pode impedir as crianças de dedicar atenção à finalidade real da leitura:
a construção do sentido, e habituam-se a decifrar mecanicamente sem procurar entender o texto.
(Seria conveniente criar continuamente situações para falar do que se lê e de como se faz, mais do
que dedicar horas e horas simplesmente a oralizar textos).
• A leitura em voz alta: Esse tipo de leitura tem de ser uma atividade presente na educação leitora,
desde que não seja entendida simplesmente como a oralização de um texto. Ler em voz alta tem
sentido quando considerada como uma situação de comunicação oral na qual alguém deseja
transmitir o que um texto diz a um receptor determinado.
• Ensino da compreensão leitora
ATIVIDADES E SITUAÇÕES ORIENTADAS A ENSINAR A COMPREENDER O TEXTO
Atividades orientadas a ler para aprender Atividades orientadas a aprender a ler
Continua sendo uma exceção o trabalho a partir de textos Embora continue presente a concepção segundo a qual o aluno já sabe
informativos, textos que constituem a essência do ler quando é capaz de decifrar um texto, hoje se admite facilmente
contato com a língua escrita em todas as demais matérias que um dos objetivos da aula de língua, inclusive nos níveis médicos de
escolares, já que, ao longo de sua escolaridade, os alunos ensino, é ensinar a ler. Porém, o que a escola faz para ensinar a ler
necessitam, de forma crescente, aprender coisas como nesses níveis mais elevados nem sempre, e nem mesmo comumente,
encontrar as ideias principais de um texto, contrastá-las tem muito a ver com a compreensão do texto. Exemplos de atividades
com as expectativas e os conhecimentos próprios, inferir generalizadas:
as etapas expositivas, relacionar as informações de vários • Atividades denominadas de “compreensão de texto”: atividades
textos, integrá-las em um único discurso, seguir uma seguidas de questionários que buscam mera constatação do grau
exposição oral com o suporte de notas suficientemente de compreensão a que parece ter chegado o aluno.
seletivas, etc. • Atividades de manipulação e exercitação de aspectos formais da
língua: exercitação normalmente orientada para aspectos formais,
Educação literária: deve ter como objetivo a formação de como ortografia, gramática) ou para elementos tratados de forma
um leitor cada vez mais competente. É preciso passar da descontextualizada (palavra, frase).
situação de ler para aprender para a perspectiva global de • Atividades nas quais o professor mantém o monopólio da
aprender a ler. interpretação: em geral, o professor se transforma em
intermediário entre o texto escrito e o aluno até o ponto de acabar
monopolizando a interpretação e impondo-a aos alunos.
• Necessidade de ensinar a compreender
• Incrementar a iniciativa de alunos e alunas (dar aos alunos um papel mais ativo – resumir, sublinhar as
ideias principais, tomar notas, formular perguntas etc.).
• Utilizar técnicas de discussão coletiva. (A discussão baseada no texto ajuda os alunos a enriquecerem sua
compreensão ao oferecer-lhes as interpretações dos demais, reforça sua memória a longo prazo, já que
devem recordar a informação para explicar o que entenderam, e contribui também para melhorar a
compreensão e profundidade e o pensamento crítico quando os alunos têm de apresentar argumentos
sobre as opiniões emitidas e têm de eliminar as incoerências e contradições lógicas de seu próprio
pensamento com relação ao texto lido.
• Relacionar a compreensão com a produção de textos. Proposta de Flood e Lapp (1983): 1. Fase da pré-
escrita: o aluno escolhe o tema sobre o qual deseja escrever, e o professor o ajuda a pensar o que sabe
sobre ele. Escreve isso em uma ficha e busca mais informações. 2. A seguir, deve selecionar a informação
mais importante da ficha e sintetizá-la em uma ficha de redação do tema. O passo importante será
escolher os detalhes que esclarecem ou desenvolvem a ideia. 3. O último passo será a correção e a
escrita seguida do texto.
O PLANEJAMENTO DA LEITURA NA ESCOLA
• Lembrete: O pape central da leitura não é ler para aprender a ler, mas ler por um claro interesse em
saber o que diz o texto para algum propósito bem-definido.
• É no uso real que o ato de leitura ativa e integra todos os processos e conhecimentos que são
necessários para o seu funcionamento, e é nisso que o aluno experimenta a tensão de dotar de
significado um texto e se sente incitado a esforçar-se porque quer se servir da informação que este
contém.
• 2 grandes blocos:
• A leitura de textos relacionados com a tarefa escolar e com a vida na escola: anúncios, livros de
consulta, termômetro, mural de responsabilidades, cardápio, calendário, carta, guia turístico etc.
• A leitura literária: Destina-se a apreciar o ato de expressão do autor, a desenvolver o imaginário
pessoal a partir dessa apreciação e a permitir o reencontro da pessoa consigo mesma em sua
interpretação. (Importante: contexto de leitura que permite o debate, comentários, intercâmbio
...).
• Intervenções de ajuda à compreensão global do texto
• Representação gráfica do texto: podem ser utilizados diagramas variados, tabelas e outros.
• Fazer e comparar resumos: há uma discussão profunda sobre o que deve ou não figurar em um
resumo. Práticas possíveis: sublinhar partes importantes do texto, assumir a forma de resumos
hierarquizados, desafio de se buscar o máximo de informações com o mínimo de palavras, oferecer
resumos prontos de um texto e comparar qual é o melhor etc.
• O ensino das habilidades leitoras específicas
• Avaliação formativa
• Antes: O saber ler era fácil de medir enquanto era avaliado como um saber declarativo. Entendia-se por
ler o exercício concreto de decodificar signos gráficos para passa-los a sons da língua.
• Funções da avaliação:
• Concepção mais tradicional: tentativa de medir objetivamente o nível dos conhecimentos obtidos
pelos alunos ao final de um determinado processo de ensino.
• Nova concepção: instrumento educativo que pode ser integrado no próprio processo de ensino-
aprendizagem (avaliação formativa). Consequências:
• A avaliação deixa de ser um instrumento nas mãos do professor e passa a envolver também o aluno no controle
de seu próprio processo.
• O reconhecimento da aprendizagem como uma construção do próprio aluno implica uma mudança na utilização
dos instrumentos de avaliação, que perdem seu habitual sentido sancionador.
• A integração da avaliação no processo de ensino-aprendizagem comporta a diversificação dos instrumentos de
observação e medida, que passam a incluir tanto a observação sobre os aspectos positivos nas situações de uso
real dos conhecimentos, como uma grande multiplicidade de exercícios pensados especificamente para poder
caracterizar as dificuldades de cada um.
• Critérios para a avaliação da leitura
• O que avaliar? O que deve ser objeto de avaliação é o grau de integração, inferência e coerência com que
o leitor integra a informação textual com a anterior. Há a necessidade de obter informações sobre os
seguintes aspectos, durante o ensino:
• A aquisição da leitura foi concebida como um processo hierárquico e linear dentro do âmbito escolar.
Muito ao contrário, a apropriação da língua escrita é um processo multiforme no qual os alunos
progridem ao mesmo tempo em aspectos tão diversos como sua velocidade de leitura, seu conhecimento
sobre formas gramaticais próprias do escrito, sua capacidade de encontrar informação, ou a maneira de
introduzir-se no mundo imaginário que lhe é proposto.
QUESTÃO 01
(Vunesp) Segundo Colomer e Camps (2012), a leitura é uma tarefa complexa que depende de processos
perceptivos, cognitivos e linguísticos. Nessa perspectiva, para que a leitura realmente ocorra, é preciso
a) escolher como materiais de leitura pequenos fragmentos de textos ou palavras soltas para serem estudadas
isoladamente.
b) adotar o modelo de processamento ascendente, focando nos níveis inferiores do texto (os sinais gráficos, as
palavras) para formar as diferentes unidades linguísticas até chegar aos níveis superiores.
c) ler as letras, as palavras e as frases de um texto do mesmo modo como se leria se elas fossem apresentadas
isoladamente e fora de contexto.
d) compreender o significado de um texto, ou seja, compreender e somar os significados das palavras que o
compõem e decifrar, de forma mecânica, os signos gráficos.
e) utilizar conhecimentos de tipo muito variado para obter informação do escrito e reconstruir o significado do
texto ao interpretá-lo de acordo com os próprios esquemas conceituais e o conhecimento de mundo.
QUESTÃO 02
(Vunesp) Colomer e Camps (2012) fazem referência a Foucambert, o qual divide as diferentes maneiras de
abordar o escrito segundo diferentes objetivos de leitura. Seguem duas dessas maneiras de leitura
1. Leitura_________ , orientada por um propósito de ordenação ou para extrair uma vaga ideia global.
2. Leitura_________ , produzida em saltos, para encontrar uma passagem, uma informação determinada.
a) lenta … seletiva
b) integral … informativa
c) seletiva … exploratória
d) informativa … silenciosa
e) exploratória … silenciosa
GABARITO
1. E
2. C