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Resumo

Descartes
O projecto de Descartes consiste em dar um fundamento metafísico a todo o saber. A
verificação do saber deve apontar para os princípios constitutivos de toda a dimensão do
conhecimento. O itinerário de Descartes coloca em causa os alicerces do saber tradicional ao
mesmo tempo que se encaminha para a descoberta de um primeiro princípio absolutamente
certo e seguro, que permite reconstruir com ordem e segurança o conjunto dos conhecimentos.
Como Descartes procura encontrar um conhecimento que não pode de modo nenhum ser posto
em causa, a estratégia é duvidar de uma forma radical, de forma a que todo o saber que resistir à
dúvida seja considerado radicalmente verdadeiro. É na persistência da dúvida, na tenacidade
radical que Descartes encontra a maior das certezas, o que não pode pôr em causa na medida
em que brota do próprio movimento da dúvida: a do sujeito que duvida e que, portanto, pensa. É
absolutamente evidente. É evidente mesmo quando se duvida dessa evidência. A rejeição de
tudo; se nos podemos persuadir de que não há absolutamente nada no mundo, eu, que assim
nego e afirmo, tenho necessariamente que ser qualquer coisa. Isto é, posso duvidar de tudo,
menos de que duvido. E se duvido, penso, e se penso sou. A natureza do cogito revela-se no
acto de pensar e corresponde ao fundamento primeiro do conhecimento, a certeza primeira da
existência do sujeito que vai conhecer.
É uma verdade intuitiva e não o resultado de um silogismo, se fosse um silogismo seria uma
verdade a partir de um conhecimento anterior mais geral – tudo o que pensa existe, o sujeito
pensante refere-se a si apreende-se por uma simples inspecção do espírito. É uma intuição
actual, o sujeito toma conhecimento no acto de pensar.
Só no pensamento se revela a realidade: as coisas existem para o sujeito sob a forma de
pensamento, de ideias. Existem nas ideias enquanto conteúdos ou representações mentais. A
realidade das coisas é o próprio pensamento – as coisas existem enquanto pensadas. Para chegar
à descoberta de algo diferente de si o ser pensante só tem um ponto de partida seguro, o seu
pensamento.
Historicamente o racionalismo defende a existência no sujeito de ideias inatas, que não provêm
da experiência, e que estão na origem de conhecimentos absolutos, universais e necessários,
defende a razão como a única fonte de conhecimento válido e que só através dela se pode
aspirar ao conhecimento apodicticamente certo. O racionalismo argumenta poder alcançar a
certeza, a fundamentação do racionalismo é metafísica e a ideia de Deus corresponde à sua
realidade, à sua existência real, o limite do conhecimento é a própria fundamentação do
conhecimento.

David Hume
As ideias verdadeiras referem-se a impressões. As impressões referem-se aos fenómenos e à
ordem da sua sucessão temporal. Não há impressão de conexão entre os fenómenos. Todas as
nossas ideias derivam de impressões sensíveis. A toda e qualquer ideia tem de corresponder
uma impressão porque as ideias são imagens das impressões. Do que não há impressão sensível
não há conhecimento.
Consideremos que temos uma impressão sensível -  - uma bola de bilhar em movimento a
direcção a outra que está parada, e que de seguida temos outra impressão sensível -  - as duas
bolas de bilhar chocam e a que antes estava parada, com o choque adquire movimento. Se
perpetuarmos o jogo de bilhar observamos que a impressão do acontecimento  sucede sempre
à impressão do acontecimento . Como consequência, da sucessão regular pressupomos uma
relação causal, uma conexão “necessária”, assumimos que sempre que se dá  acontece  .
Portanto, quando dizemos que acontecendo  sempre acontecerá  estamos a falar de um facto
futuro, que ainda não aconteceu. É aqui que David Hume diz que ultrapassamos o que a
experiência – a única fonte de validade dos conhecimentos de facto – nos permite. Com efeito,
David Hume argumenta que o conhecimento dos factos deriva das impressões actuais e
passadas. Não podemos ter conhecimento de factos futuros porque não podemos ter qualquer
impressão sensível ou experiência do que ainda não aconteceu. A ideia de relação causal entre
dois fenómenos é uma ideia da qual não temos qualquer impressão sensível. Como o critério de
verdade de um conhecimento factual é que a uma ideia corresponda uma impressão sensível,
logo, não há inatismo na ideia de relação causal e por conseguinte necessidade nessa relação,
portanto, não temos legitimidade para falar de uma relação causal entre os dados da nossa
experiência, e a ideia de conexão necessária é por isso fictícia. A experiência revela os
fenómenos que de cada vez se apresentam. A observação sucessiva de dois fenómenos mostra
dois fenómenos distintos. A experiência pode revelar que a um determinado fenómeno -x se
segue outro - y. Não há impressão que um fenómeno causa outro, não há impressão da relação
de causalidade. Não há impressão de que sempre será assim, de que ao fenómeno – x suceda –y.
O conhecimento de que ao fenómeno – x suceda o fenómeno – y por inferência causal não
radica na conexão necessária entre os fenómenos mas na suposição e na crença proveniente do
hábito, do costume, da experiência repetida. Segundo David Hume, nós inferimos uma relação
necessária entre causa e efeito pelo facto de nos termos habituado a constatar uma relação entre
factos sucessivos. Contraímos assim o hábito de, dado um facto, esperarmos outro. É apenas o
hábito ou costume que nos permite sair daquilo que está imediatamente presente na experiência
em direcção ao futuro. A razão humana sente-se impelida a criar a ficção de uma conexão
necessária da qual nunca teve experiência. A crença que deriva da vontade que o futuro seja
previsível e controlável.
Kant
Podemos considerar que a filosofia de Kant historicamente supera as doutrinas racionalista e
empirista na medida em que coloca o conhecimento como procedente da experiência cujos
dados são submetidos à estrutura transcendental do sujeito. Com o nascimento da ciência
moderna a reflexão filosófica sobre o conhecimento ganhou grande importância nomeadamente
no que diz respeito ao problema da origem do conhecimento. Só se poderá compreender uma
ciência universal se esta radicar em sólidas fundações do conhecimento. Historicamente, as duas
correntes perfiladas eram o racionalismo e o empirismo. O racionalismo confiava no poder da
razão e concebia um sistema de ideias inatas que conduziria a verdades absolutas e eternas,
sempre válidas. O racionalismo afirma a superioridade da razão como fonte do conhecimento O
empirismo afirmava a prioridade da experiência e defendia a necessidade de partir dos dados da
experiência sensorial para explicar a elaboração do conhecimento abstracto e teórico. David
Hume situa-se no empirismo e um dos princípios de que se ocupou foi o da causalidade.
Argumenta que a conexão causa- efeito é estabelecida pela experiência, pela junção habitual de
fenómenos distintos, contínuos no espaço e no tempo. Argumenta que esta relação não pode ser
transferida para além dos limites da experiência possível.
Kant considera que David Hume “ o acordou do seu sono dogmático “ Reconhece, de acordo
com o empirismo, o papel da experiência, mas vai ao encontro do racionalismo na medida em
que defende que a relação entre os dados da experiência é estabelecida pelo sujeito do
conhecimento. Historicamente, supera assim a dicotomia racionalismo – empirismo.
Para a sustentação do conhecimento e consequentemente da ciência Kant serve-se dos juízos
sintéticos a priori. Um juízo consiste na relação entre um sujeito e um predicado, na afirmação
ou negação de algo acerca de um sujeito. A relação apresenta várias formas: juízos analíticos ou
explicativos, sintéticos ou extensivos e sintéticos a prior.
O juízo analítico é explicativo pois o predicado explicita aquilo em que o sujeito consiste( por
ex.: o triângulo é uma figura de três ângulos ou o todo é maior que as partes); é um juízo
tautológico ou de identidade porque repete, por outras palavras, o conceito do sujeito. É um
juízo universal e necessário porque o que diz do sujeito não pode deixar de ser assim e vale em
todos os tempos e lugares ( um triângulo não pode nunca deixar de ser um polígono de três
angulos); é um juízo em que o predicado não contradiz o sujeito, mas não é um juízo que
enriqueça o conhecimento.
O juízo sintético é a posterior ( por ex.: a terra é esférica). O predicado não resulta de uma
análise do sujeito da proposição, mas acrescenta algo ao sujeito. Embora ampliando o
conhecimento não é um juízo verdadeiramente científico porque, estando sujeito a excepções, é
contingente e não necessário e universal. Não são independentes da experiência, dependem da
observação têm o seu valor no momento da observação.
Kant admite um terceiro tipo de juízos, os sintéticos a prior, sem os quais não haverá
conhecimento científico. São universais e necessários mas, simultaneamente, alargam o
conhecimento. Pela necessidade e universalidade têm a vantagem dos juízos analíticos, pela
ampliação do conhecimento gozam da vantagem dos juízos a posterior. Opõem-se, todavia, aos
analíticos porque aumentam o conhecimento e aos juízos a posterior porque são universais e
necessários, isto é, de validade independente da experiência. Por exemplo, todo o acontecimento
tem uma causa: o ter uma causa não está contido no conceito de acontecimento. Trata-se de um
juízo extensivo, universal e necessário. A universalidade e necessidade não são inferidas da
experiência. A experiência revela a sucessão de fenómenos, não dá a conexão necessária. O
juízo sintético a priori supera a experiência, sem no entanto a dispensar. O predicado não está
contido no sujeito (estaria se fosse dito, por exemplo, todo o efeito tem uma causa).
Pode-se falar da revolução coperniciana em Kant pois recoloca o homem numa posição central,
( as investigações de Copérnico tinham posto em causa a centralidade do planeta terra
defendendo a teoria heliocêntrica ) isto é, defende o papel primordial do sujeito no acto
cognitivo. A relação sujeito objecto passará a ser vista de outra forma. Afirmará o primado da
actividade do sujeito e uma submissão necessária do objecto ao sujeito. Reconhece contudo a
experiência, há uma adequação dos objectos à natureza do humano, às faculdade cognitivas
humanas, objectos que surgem da experiência. Primeiramente o sujeito cognitivo como
sensibilidade e entendimento, desde logo se destaca a sensibilidade, receptividade, capacidade
de receber representações, graças à maneira pela qual é afectada pelos objectos. Ou seja, é pela
sensibilidade que os objectos são dados ao sujeito, é ela que fornece as intuíções que permitem
receber as representações. Kant empreende uma análise transcendental do conhecimento.
Transcendental não é o mesmo que transcendente. Transcendente significa o que se eleva para
além de um nível ou limite dados, o que supera e ultrapassa determinada fronteira. Também se
pode considerar transcendente o que vai para além dos limites de toda a experiência possível e
portanto achar que um sistema de filosofia transcendente é algo ilegítimo.
Transcendental significa condição de possibilidade a prior. A crítica de Kant usa o termo
Transcendental porque o projecto de Kant pretende realizar uma investigação transcendental do
conhecimento, Trata-se de uma análise das condições que tornam possível a prior o
conhecimento.
O método transcendental corresponde ao acto de buscar e conhecer as condições a prior que
tornam possível um objecto de conhecimento e que lhe conferem por isso mesmo, um carácter
de necessidade. Todo o elemento a prior que entre neste conjunto de condições formais de um
conhecimento é transcendental.
Através da análise da estrutura do sujeito que conhece, da interpretação da estrutura a prior do
sujeito Kant procura os princípios e as leis que regem e fundamentam o conhecimento válido e
portanto o conhecimento científico.
A análise do sujeito transcendental visa o estudo das condições e representações possíveis
anteriores à experiência do objecto, isto é, do conjunto de pressupostos que podem tornar a
experiência possível e portanto explicar e justificar o conhecimento científico. Ou seja , quais
são as condições no sujeito que permitem o conhecimento necessário e universal.
As condições a prior são portanto, universais e necessárias e são anteriores à experiência, ou
seja, não provém da experiência, são antes sua condição de possibilidade e pertencem à
estrutura de conhecer do sujeito. Todo o conhecimento começa com a experiência mas nem todo
o conhecimento deriva dela. No conhecimento dos objectos há sempre elementos que dependem
do próprio objecto e constituem a matéria do conhecimento e outros que dependem do sujeito e
constituem a forma.
O sujeito define-se com capacidade de receber representações. Esta capacidade pressupõe a
existência no sujeito de princípios organizadores que condicionam e possibilitam que seja
afectado pelos objectos exteriores de um determinado modo.
Os princípios organizadores condicionam e possibilitam que o sujeito seja afectado pelos
objectos de um determinado modo. Se os princípios organizadores ou formais são condição de
possibilidade das próprias impressões sensoriais, terão que ser anteriores e independentes de
qualquer relação com a experiência, logo resultantes da pura espontaneidade do espírito, a
prior, definindo o modo como o sujeito está aberto ao mundo. O desígnio da necessidade da
aplicação dos dados da experiência aos princípios a prior do sujeito traduzem a superação do
racionalismo e do empirismo.
Conhecer pressupõe uma matéria a posterior, proveniente da experiência, e uma forma a prior
do sujeito que recebe o objecto. Kant procura isolar os elementos formais do conhecimento
puro, a prior. As duas fontes do conhecimento são a sensibilidade e o entendimento. Para
conhecermos é preciso que algo nos seja dado. A intuição dá os objectos , fornece algo para
conhecer. A forma pura das intuições encontra-se a prior no espírito. Toda a intuição sensível
consiste na recepção de dados empíricos ou impressões sensíveis mediante as formas puras a
priori da sensibilidade.
A sensibilidade é a capacidade do sujeito receber representações dos objectos. Fornece ao
sujeito o dado, a matéria do conhecimento que é ordenada e unificada por certas formas ( as
formas ou intuições puras da sensibilidade) existentes no sujeito. Intuir é um acto que
corresponde a uma relação imediata com as coisas e verifica-se quando alguma impressão
sensível nos é dada, é o modo imediato e espontâneo que o sujeito é afectado pelo objecto. O
entendimento interpreta os dados que a sensibilidade forneceu de forma a unificar a sua
multiplicidade e diversidade. A intuição é uma referência imediata ao objecto na condição de o
objecto nos ser dado e afectar, por qualquer modo a nossa faculdade de representação. O objecto
indeterminado da intuição empírica, que se verifica quando o objecto afecta o sujeito,
denomina-se fenómeno. Ao que no fenómeno corresponde à sensação, aos dados sensíveis,
denomina-se matéria. O que do fenómeno pode ser ordenado mediante diversas relações
(espacio – temporais) chama-se forma do fenómeno.
A sensibilidade é a capacidade do sujeito ser afectado pelos objectos. O resultado dessa afecção
por parte do sujeito é o conjunto das representações sensíveis, ou seja das sensações, a matéria.
Enquanto disposição do sujeito para receber impressões sensoriais, a sensibilidade determina o
modo como o objecto afecta o sujeito pois a representação do objecto não é independente do
modo próprio do sujeito se deixar afectar. A sensibilidade define o modo como o sujeito está
relacionado com o mundo e confere à realidade uma determinada estrutura. A matéria do
conhecimento fornecida pela sensibilidade é ordenada segundo as intuições puras a prior da
sensibilidade – o espaço e o tempo- princípios organizadores que independentes e anteriores à
experiência são condições de possibilidade e da relação sujeito – objecto, sujeito – realidade, e
estruturam a realidade sob a forma de espacio – temporalidade.
Sendo disposições do sujeito para perceber o mundo de um determinado modo, o espaço e o
tempo são formas puras, isto é, vazias de conteúdo e só adquirem um conteúdo quando entram
em relação com a experiência da qual são princípio condicionante. São puros princípios formais
da sensibilidade, só existem como possibilidade, como capacidade da perceptividade de algo.
As formas da sensibilidade são o espaço e o tempo. O espaço e o tempo são intuições puras da
sensibilidade. O sujeito conhece espacio – temporalmente, é afectado pelos objectos que
espacializa e temporaliza.
Espacializar significa intuir que as impressões sensíveis provêm de coisas que a nossa
sensibilidade situa como estando ou passando por exemplo, à frente, à direita, no alto, por
baixo, num qualquer lugar. Ou seja, ao referirmo-nos às coisas cujas impressões recebemos nós
utilizamos uma linguagem carregada de expressões espaciais mesmo que não as verbalizemos.
Estabelecemos entre elas relações espaciais. Não concebemos nada que não possamos
relacionar no espaço. Por exemplo a secretária está à nossa frente, por cima deste determinado
piso, etc.
Temporalizar significa intuir que as impressões sensíveis que recebemos são captadas num
determinado tempo, antes e depois de qualquer coisa, significa que as impressões sensíveis são
captadas de forma sucessiva. Por exemplo, primeiro ouvimos o toque de saída depois ouvimos o
arrastar das cadeiras. Se o arrastar das cadeiras e o toque por acaso se acontecerem
simultaneamente, são antes de qualquer outro acontecimento e posterior a outro. E mesmo
considerando apenas os dois acontecimentos, estes dão-se ao mesmo tempo, isto é, não
concebemos nada fora do tempo ainda que o não verbalizemos.
Só recebemos impressões sensíveis dando-lhes forma espacio – temporal. Qualquer referência
imediata aos fenómenos é impossível para o ser humano fora das coordenadas do espaço e do
tempo. Espaço e Tempo não são intuições dos objectos, mas intuições a prior, ou seja, as
condições segundo as quais as coisas se manifestam e produzem em nós impressões. Toda a
nossa intuição está condicionada pelo espaço e pelo tempo. Fora desta dupla coordenada nada se
relaciona connosco, nada se manifesta ou é objecto para nós.
As representações da sensibilidade são a matéria que será unificada pelas formas do
entendimento. Essas formas são os conceitos puros ou categorias. As categorias do
entendimento são leis a prior, universais e necessárias, às quais os fenómenos da experiência se
submetem. A espontaneidade que caracteriza o entendimento é a produção de conceitos. A
intuição é uma referência imediata ao objecto, na condição do objecto nos ser dado e modificar,
afectar, por qualquer modo que seja, a nossa faculdade de representação. A sensibilidade é a
faculdade que o espírito tem de ser modificado pelos objectos. O resultado dessa modificação é
o conjunto das representações sensíveis. Ou seja, das sensações.
A forma prévia que determina o modo como as coisas podem ser percebidas existe no espírito
antes de toda a percepção de um objecto, portanto não provém da experiência, antes a precede
como princípio formal da perceptibilidade de algo. Perceptibilidade que depende do sujeito e
não dos objectos na medida em que é ele que estabelece o fundamento e as condições de
existência do mundo dos objectos, do mundo fenoménico. É a disposição, o modo como o
sujeito se relaciona com o mundo. Define o sujeito frente a algo que lhe é simultaneamente
exterior e existente sob determinado modo.
O Espaço e o Tempo são intuições puras a prior e não impressões sensíveis particulares, são
condições da experiência dos fenómenos A captação dos objectos é inserida em relações de
distância, proximidade, grandeza, numa rede de relações espaciais. O espaço, para além de
constituir uma intuição pura, permite produzir a forma do sentido externo na medida em que
não podemos perceber nenhum objecto fora do espaço, estabelecemos concomitantemente
relações de perto e longe, grande e pequeno, pelo que, no espaço é fundamentada a validade da
geometria, a qual pode determinar as propriedades espaciais de todos os objectos possíveis da
experiência. O que está subjacente é a forma universal que condiciona os objectos. Também
todos os estados de consciência, permitidos por uma forma de sentido interno, são apresentados
sucessivos ou simultâneos, isto é, ligados por relações de temporalidade, o que fundamenta a
aritmética.
Os dados sensíveis, que constituem a matéria da sensibilidade, são a posterior, as intuições
puras – o espaço e o tempo- constituem a forma da sensibilidade, forma a prior. A intuição que
se relaciona com o objecto, portanto, a síntese a posterior da matéria e da forma, chama-se
intuição empírica. O objecto indeterminado da intuição empírica denomina-se fenómeno.
A matéria do entendimento são as intuições sensíveis ( fornecidas pela sensibilidade ) a forma a
prior do entendimento são as categorias. A síntese da matéria do e da forma do entendimento é
o objecto do conhecimento.
O conhecimento provém de duas fontes, a sensibilidade e o entendimento, ambos
indispensáveis: só pela sua reunião se obtém o conhecimento. A dicotomia fundamental entre
estas duas fontes é estabelecida de imediato: pela primeira é-nos dado um objecto; pela segunda
esse mesmo objecto é pensado por meio de uma representação a prior.
Sendo disposições do sujeito para perceber o mundo de um determinado modo, o espaço e o
tempo são formas puras, isto é vazias de conteúdo, e só adquirem um conteúdo quando entram
em relação com a experiência, da qual são o princípio condicionante. Não seria possível
qualquer relação sujeito – mundo se não existisse no homem esta capacidade de recepção de
algo que se dá e é percebido segundo o modo próprio do sujeito que conhece. O sujeito recebe
do mundo exterior ou de si ( enquanto ele próprio é também objecto de conhecimento )
impressões sensoriais que são integradas numa estrutura de espacio-temporalidade. As formas
puras da sensibilidade operam uma síntese espacial ou temporal constituindo assim o dado
fenoménico. Espaço e Tempo são puros princípios formais da sensibilidade, próprios do sujeito.
Como puras formas vazias de conteúdo não têm existência senão na medida em que entrarem
em relação com o mundo. Só existem como possibilidade, como capacidade de receptividade de
algo. Daí a denominação princípios transcendentais enquanto condicionam e possibilitam a
capacidade de conhecer e só há conhecimento na medida em que são aplicados a um objecto
externo ou interno do sujeito.
Conhecer implica que os dados sensíveis, múltiplos e diversos sejam unificados,
compreendidos pelo entendimento. O entendimento produz espontaneamente certos conceitos
que não derivam da experiência e que unificam a diversidade sensível. O entendimento tem
unicamente como objecto os dados fenoménicos captados pela sensibilidade.
O entendimento, faculdade de conhecer a prior, fornece a forma do conhecimento pelos seus
conceitos. As representações da sensibilidade são a matéria que será unificada pelas forma do
entendimento. Essas formas são os conceitos puros ou categorias.
As categorias do entendimento são leis a prior às quais os fenómenos da experiência se
submetem necessariamente . As categorias são conceitos universais puros a prior do
entendimento e não derivam do hábito como pretendiam os empiristas. Sendo condição
necessária e a prior de todos os juízos pelos quais o pensamento conhece a realidade
experiencial não dispensam as intuições sensíveis que lhe fornecem o dado material.
Só se pode aplicar, por exemplo, a categoria de causalidade se os dados sensíveis se
apresentarem numa relação de sucessão, ou a de substância se captar previamente a
permanência do objecto. A sensibilidade não estabelece relações de causalidade, situa os dados
sensíveis espacio-temporalmente: x acontece ao mesmo tempo que y, ou x acontece antes e y
depois. Verifica-se uma ligação entre os fenómenos (temporal). Dizer que x sucede antes de y é
diferente de dizer que y acontece devido a x ter acontecido. Uma sucessão temporal não torna
um fenómeno y dependente de outro x, não liga necessariamente um ao outro. A relação causal
deriva do entendimento aplicar o conceito de causa. Este conceito permite estabelecer relações
de dependência entre dois fenómenos, transformando um em causa e outro em efeito. Se, por
exemplo, x é causa de y, y é efeito, isso quer dizer que y depende de x, não sucede sem ele e
que sempre que se verifica x necessariamente irá suceder y. O entendimento conhece aquilo que
a sensibilidade coloca ao seu dispor ligando necessariamente mediante o conceito de causa os
dados sensíveis.
As formas a prior do entendimento não recebem impressões sensíveis, aplicam-se aos dados
sensíveis, recebidos pela sensibilidade e unificam-nos, sintetizam-nos e estabelecem entre eles
uma ligação necessária.
São doze as categorias ou conceitos puros: unidade, pluralidade e totalidade segundo a
quantidade; realidade, negação e limitação segundo a qualidade; possibilidade, existência e
necessidade, segundo a modalidade; substância, causalidade e acção recíproca segundo a
relação. O entendimento só pode pensar os fenómenos aplicado-lhes as categorias, ou seja, os
fenómenos não podem ser pensados se não o forem de acordo com as categorias.

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