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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!

11/10/2015

INDEX
BOOKS
N ilv a L ú cia Rech S te d ile
Universidade de Caxias do Sul

S ílv io P aulo B o to m é
Universidade Federal de Santa Catarina

GROUPS
11/10/2015
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
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Dados In tern acion ais de C atalogação na P ub lica çã o (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

INDEX B otom é, S ilvio Paulo


M ú ltip lo s â m b ito s de a tu a ç ã o p ro fis s io n a l : a lém da p re ve n çã o de
p roblem as / S ílvio P aulo B oto m é , N ilva Lucia Rech S té d ile . — 2. ed. —
São Paulo : C e n tro Paradigm a C iências do C o m p o rta m e n to , 2015.

ISBN 9 7 8 -8 5 -6 9 4 7 5 -0 1 -9

BOOKS
1. A tuação 2. C o m p o rta m e n to 3. Form ação
p ro fissio na l 4. Prevenção - P roblem as 5. Saúde
I. Stédile, N ilva Lucia Rech. II. Títu lo .

15-06712 C D D -362

índices para catálogo sistemático:

GROUPS
1. M ú ltip lo â m b ito de a tu açã o : A tu a ç ã o p ro fis s io n a l:
Prevenção de problem as 362

e d ito r C e n tro P aradigm a C iências do C o m p o rta m e n to

revisão C a m ila Carvas


projeto gráfico e diagram ação M ila S a n to ro

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Sumário

A p re s e n ta ç ã o

INDEX
P re fácio

PARTE 1
Núcleo do conceito de "prevenção": perigos e possibilidades para os
comportamentos profissionais em diferentes campos de atuação na
sociedade
1.1 S ig n ific a d o s do te rm o "p re v e n ç ã o " ao lo n g o d o te m p o

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1.2 0 c o n c e ito de "p re ve n çã o " e p o s s ib ilid a d e s de a tu a ç ã o p ro fis s io n a l

1.3 0 n ú cle o d e fin id o r d o c o n c e ito de "p re v e n ç ã o " c o m o u m a


m o d a lid a d e de a tu a ç ã o p ro fis s io n a l

PARTE 2
“Prevenir problemas" como parte de um sistema de comportamentos
complexo e abrangente
2.1 R elação e n tre o c o n c e ito de "p re v e n ç ã o “ e a classe de

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c o m p o rta m e n to s p ro fis s io n a is d e n o m in a d a " p re v e n ir a
o co rrê n c ia de p ro b le m a s"

2.2 A b ra n g ê n cia da a tu a ç ã o p ro fis s io n a l p re v e n tiv a e su a s re la ç õ e s


co m o u tro s â m b ito s de a tu a ç ã o na so c ie d a d e

R eferências

índice de Tabelas e Figuras

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APRESENTAÇÃO

Um treinamento técnico é imprescindível para uma boa atuação profissional.


Cursos de formação, graduação e especialização se esmeram para oferecer um treino
técnico em várias profissões. Muitos manuais de diversos níveis são disseminados
como base para que essa atuação atinja um bom grau técnico. Professores, supervisores
e orientadores de estágios cumprem o papel de transformar em ações tecnicamente

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dirigidas o que está escrito nas obras.
No entanto, esse treinamento não é suficiente para que a aplicação do conhecimento
seja adequada. É necessária uma reflexão a respeito das práticas profissionais em cada
campo de atuação que possa revelar e guiar os caminhos da utilização dos saberes
importantes de maneira consciente, socialmente adequada e justa. Isto nem sempre
é garantido nos textos teóricos e técnicos e, ainda mais preocupante, os próprios
professores, supervisores e formadores não são capazes de exercer essa reflexão,
extendendo esta incapacidade a seus orientandos e alunos.

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É sobre esse âmbito que Nilva e Sílvio se debruçaram para que pudéssemos obter
luzes sobre o caminho obscuro e tortuoso da aplicação de conhecimentos profissionais.
De uma maneira esclarecedora, objetiva e dirigida, os autores nos guiam sobre as
responsabilidades e definições precisas dos graus ou âmbitos de atuação que podemos
exercer nas profissões com vistas, especialmente, à prevenção de problemas.
O exercício bem sucedido dos autores de transformar conceitos abstratos em
comportamentos claramente definidos oferece uma via de conduta coerente e
compatível com a busca de uma sociedade mais livre de problemas. E cobra (algo

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quase inédito ainda nos dias de hoje) uma atuação que procure, mais do que remediar
uma situação de infelicidade já instalada, a possibilidade de evitar que ela se instale.
Mais do que isso, a concepção abrangente das atuações profissionais ganha
destaque na análise que se desenrola durante o livro todo. Os autores preocuparam-se
em posicionar conceitos fundamentais a partir dos seus desenvolvimentos históricos
para que saibamos as origens das práticas e o quanto o enfrentamento das questões
oriundas da realidade foram-nas transformando, exigindo adaptações e atualizações.
O livro aponta também os limites e as possibilidades de atuação no tempo presente de
maneira reflexiva, o que permite antecipar as soluções para o nosso cotidiano e nos
prepararmos de melhor maneira para o futuro.

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A extensa, ampla e bem sucedida atuação profissional, acadêmica e política dos


autores atesta que a chamada à responsabilidade parte de quem conhece por dentro
os problemas abordados, parte de quem já arregaçou as mangas e construiu todo um
conhecimento sólido e concreto acerca das atuações profissionais em vários âmbitos.
Nilva tem uma extensa atuação em políticas públicas de saúde e uma intensa
atividade de formação de profissionais no âmbito da saúde e gestão universitária. Sua
atividade enquanto docente na Escola de Enfermagem da Universidade de Caxias do
Sul é exemplar, tendo recebido vários prêmios por sua atuação em diversos planos
de ação.

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Silvio, por sua vez, tem sido um incansável defensor e divulgador da Análise do
Comportamento pelo Brasil, estendendo os conhecimentos dessa ciência para além
dos limites da Psicologia e da Educação, suas duas áreas de maior atuação. Silvio já
atuou sobre contingências que incidem diretamente sobre a saúde pública, obtendo
melhorias nos atendimentos às populações; em organizações, estabelecendo fluxos
comportamentais que as recuperaram de falhas funcionais; recebeu prêmio, ao lado de
seus alunos, por contribuições para a segurança e a qualidade no trânsito e cooperou
com múltiplas análises de competências de diversas profissões. Tudo isso sem contar

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a sua participação no desenvolvimento da política científica no Brasil junto a órgãos
governamentais e eventos científicos.
Por todas essas razões, MÚLTIPLOS ÂMBITOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
- ALÉM DA PREVENÇÃO DE PROBLEMAS torna-se uma obra norteadora para
todos aqueles que se preocupam e assumem o comportamento humano como objeto
de estudo e intervenção.

Mais do que um técnico, o livro transforma o leitor em um profissional consciente

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e realmente engajado com a mudança social de maneira ética.

Roberto Alves Banaco


S e te m b ro de 2013

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PREFÁCIO

Há mais de quatro décadas que trabalhamos com diferentes campos de atuação


profissional. Predominantemente, nos dedicamos ao campo da Saúde, seus campos
de atuação afins e, até mesmo, diferentes campos especializados dentro dessa área.

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Examinando a direção do desenvolvimento tanto da história do conhecimento quanto
do trabalho no campo da Saúde, nos deparamos com um a compreensão cada vez mais
abrangente do conceito de saúde no âmbito das áreas de conhecimento relacionadas
aos fenômenos biológicos, fisiológicos, bioquímicos etc. A própria Organização
Mundial da Saúde (OMS) já ampliou e generalizou o conceito de tal forma que sua
abrangência, pode-se dizer, envolve todos os campos de trabalho humano.
Um pouco mais restritamente, as transformações conceituais nas áreas de
conhecimento e nos procedimentos nos campos de atuação profissional relacionados

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de alguma forma à saúde humana também tiveram transformações muito grandes.
Da medicina mais tradicional, passando pela Saúde Pública e pela Epidemiologia
Social, tivemos uma compreensão e abrangência de atuação cada vez maior em
relação à Saúde Humana (assim mesmo, com letras maiúsculas). Da preocupação
com a “doença”, o “estranho”, o “anormal” ou qualquer manifestação que perturbava
e assustava pela diferença e sofrimento (que já se atribuiu aos demônios), passamos a
preocupar-nos com as variáveis determinantes desses tipos de fenômenos. A Ciência

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(também com “C” maiúsculo) trouxe suas contribuições e superamos a superstição, as
crendices, fomos além da Filosofia, no início do século XXI, há uma venturosa junção
entre investigação empírica e pensamento crítico construindo um conhecimento
muito mais sólido com a integração entre Ciência e Filosofia.
Este livro é uma reflexão fortemente alicerçada em estudo conceituai, escorada
por uma análise dos processos comportamentais que constituem categorias básicas
de trabalho profissionais em diferentes campos de atuação na sociedade. A origem
dos conceitos - e tipos de comportamentos profissionais - examinados deve muito
ao trabalho com o campo da Saúde, mas não se esgota nele nem se restringe a ele.
E isso foi um alento para escrever essas poucas dezenas de páginas, na expectativa
de que elas sejam úteis a outras pessoas assim como foi para nós. Os diferentes
âmbitos de atuação profissional que elas apresentam - e procuram delimitar com uma

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nom enclatura c s p e i a m o s sri m a i s j m o is.i d o q u e •' Ml K ‘ u s a m o s c o m o p o n t o d e

partida desse ex am e precisam constituir in stru m e n to s para aum entai a claieza e


a direção do trab alh o profissional cm q u alq u er cam po de atuação, lais âm bitos de
atuaçao podem ser etapas de um a intervenção profissional ou ditei entes tipos de
atuação, conform e os problem as que os originam . Assim com o p o d e m constituir,
em si mesmos ou com o processos de trab alh o encadeados, objetos de investigação
científica e m aterial para m uita reflexão filosófica a respeito das profissões que tem os
como parte da vida hum ana. Aliás, profissões, m uitas delas (talvez a m aioria), carentes
de um a reflexão crítica a respeito de seu objeto, seus lim ites, suas definições básicas,
sua ética e seus princípios orientadores. D estacam -se, en tre estas últim as, as profissões
de m aior alcance ou abrangência nos seus efeitos sociais. O que, obviam ente, envolve,
inclusive, o ofício de governar, um a atuação (ou um cam po) profissional cada vez mais
em evidência , graças às exigências enorm es que tem em sua p ró p ria com plexidade
e variedade de conhecim entos e ao rigor que lhe é inerente. N o entanto, parece que
ignoram os isso tudo e im provisam os m uito com o sen so -co m u m m ais desprovido de

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qualquer preocupação científica ou filosófica rigorosa. O u, até m esm o, com u m ainda
mais im provisado procedim ento de estudo do co n h ecim en to existente. C om o se as
inform ações pudessem ser reduzidas a trejeitos retóricos a ilu strar eternas discussões
que mal orientam com portam entos profissionais efetivos, além de rotinas já instaladas

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a serem continuam ente redecoradas com term in o lo g ia “novidadeira”. O u, em alguns
casos, recursos retóricos velhos e ultrapassados com o “m uletas” p ara insegurança nos
processos de investigar, raciocinar e elaborar científica e filosoficam ente.

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Obviamente, exam inar “prevenção” em q u alq u er cam po de atuação profissional
exige um exame das dem ais alternativas de atuação (que d en o m in am o s “âm bitos” por
razões que explicaremos no texto) possíveis nesses m esm os cam pos de trabalho. Isso
nos levou m uito além do cam po da Saúde, que, em g ran d e parte, originou e orientou
exigências no exame que lhes apresentam os a seguir.
Esperam os que cada leitor encontre sua p ró p ria profissão e seus problemas
de atuação nas páginas que virão. Os term o s e os conceitos não são novos, nem
m odism os que querem os lançar. M as o exam e e a organização conceituai nos parecem
merecer um a nova reflexão. Talvez isso possa ser u m a b o a orientação para o exercício
profissional, para a capacitação de jovens e até m esm o p ara a confecção de currículos
Prefácio

de cursos profissionalizantes ou de graduação nas universidades. Nesses otícios e


nas consultorias que realizam os para m últiplos g ru p o s de profissionais e diferentes
instituições, as distinções que lhes apresentam os ajudaram a orientai" vários tipos dc
8 trabalhos nos mais diversos contextos.

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Temos a esp eran ça de que isso p o ssa aco n tecer ain d a m ais p o r m eio d a reflexão e do
trabalho de vocês, leitores, d o que apenas a p a rtir d o q u e lhes ap resen tam o s aqui. Sem
dúvida, desejam os u m b o m ap ro v eitam en to d o que, com h u m ild ad e, lhes oferecem os.
Não desejam os ap en as “b o a sorte” p o rq u e sabem os que a “so rte” d e p en d e rá dos
esforços e d o tra b a lh o de cad a um . Por isso, lhes desejam os “um b o m estudo” e u m
“bom tra b a lh o ”. Q u e este tex to p o ssa ser u m a efetíva co n trib u ição p a ra isso.

Ni Iva Lúcia Rech Stedile e Sílvia Paulo Botomé

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PARTE 1
0 NÚCLEO DO CONCEITO "PREVENÇÃO": perigos e
possibilidades para os com portam entos profissionais

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em diferentes campos de atuação na sociedade

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PARTE 1

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0 NÚCLEO DO CONCEITO "PREVENÇÃO": perigos e


possibilidades para os com portam entos profissionais em
diferentes campos de atuação na sociedade

INDEX Até a primeira década do século XXI, o termo “prevenção” recebeu diferentes
significados de acordo com a época e o entendimento de quem o utilizou. E quanto
menor a visibilidade sobre o fenômeno a que ele se refere, maior a tendência de

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utilizar esse termo conforme conveniências pessoais, momentâneas ou circunstanciais
e ampliar a quantidade de fenômenos a que o conceito se refere, restringindo a
visibilidade do mesmo como foco de orientação para qualquer tipo de trabalho. Por
isso, identificar e avaliar aspectos nucleares do conceito de prevenção em Saúde, ou
em qualquer outro campo de atuação, parece decisivo para compor uma concepção
sobre o que significa, realmente, “prevenção”. Uma concepção que tome claro e preciso
o entendimento desse fenômeno e facilite, como decorrência, o desenvolvimento de
comportamentos profissionais efetivamente preventivos.

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A concepção do que seja “prevenção” e uma possível decorrente facilitação para
realizar esse processo podem ser contribuições úteis para que diferentes profissionais,
especialmente os da Saúde, trabalhem bem e com eficácia com os processos pelos
quais são responsáveis de diversas maneiras na sociedade. Essas “diversas maneiras”
também podem ser mais claras e precisas para orientar a atuação desses profissionais.
O termo “prevenção” é de uso muito comum: difundiu-se e consolidou-se no campo da
Saúde sem, no entanto, estar livre de equívocos e contradições. Em múltiplos campos
de atuação, muitas vezes, nem sequer foi objeto de exame ou de aprofundamento para
orientar a atuação profissional. A identificação das suas características nucleares pode
contribuir com a atuação preventiva em qualquer área.

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Considerando que o conceito de prevenção em Saúde tem diferentes significados


em função das definições apresentadas na literatura e difundidas em diferentes campos
de atuação profissional ao longo do tempo, parece haver necessidade de um “balanço”
ou avaliação conceituai a respeito dessa expressão e de seu uso. Como tal avaliação
pode ser feita com ênfase em diferentes aspectos relacionados ao trabalho com as
condições de saúde ou de vida das pessoas, o que inclui o entorno no qual elas vivem,
parece útil perguntar: qual conceito de prevenção pode ser mais apropriado, preciso,
claro ou seguro para orientar e facilitar a realização e o desenvolvimento de atividades

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efetivamente preventivas em qualquer campo de atuação profissional e, de maneira
particular, no campo de atuação denominado “Saúde”?
Para responder tal pergunta é necessário fazer um exame da linguagem que tem sido
usada na conceituação da expressão “Prevenção em Saúde” e da influência dela e das
definições feitas a respeito do exercício dos profissionais da Saúde nesse âmbito ou tipo
de atuação. Principalmente porque nesse campo de atuação profissional a expressão
tem sua origem fortemente demarcada e foi mais detidamente utilizada e examinada.
Isso significa, ou engloba, também uma avaliação dos equívocos conceituais existentes
no exercício profissional e na literatura disponível, o que parece tão necessário quanto

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um exame dos termos e expressões que, utilizados na proposição de um conceito de
“Prevenção” (em Saúde e mesmo em outros campos de atuação), torne mais claro e
preciso seu significado. Parece urgente e necessário haver um cuidadoso exame que
evidencie a variedade de aspectos considerados na definição desse conceito e os
possíveis problemas existentes nas intervenções e pesquisas que se abrigam som a
denominação de “prevenção”, em qualquer campo de atuação profissional.
Ribes Inesta (2009) apresenta, de maneira precisa, um exame sobre três questões
fundamentais a respeito das relações entre conhecimento e atuação profissional que

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parecem pertinentes ao trabalho de exame e uso científico de um conceito: o que
significa exatamente “aplicar conhecimento científico?”, “o que é que ‘se aplica’?”
e “como se realiza o processo denominado por essa expressão ‘aplicar’?”. As três
perguntas dizem respeito às relações entre áreas de conhecimento e campos de
atuação profissional Distinções e relações examinadas também por Ribes Inesta
(1982), Rebelatto e Botomé (1987), Botomé e Kubo (2002) e ampliadas para o exame
das implicações na estrutura organizacional das universidades por Botomé (1996).
O exame dessas questões e das distinções e relações entre áreas de conhecimento e
campos de atuação profissional tém sérias e intrincadas implicações para o trabalho
e para a produção de conhecimento. Ayres et al. (2003), por exemplo, salientam
a importância do conceito de vulnerabilidade” na orientação para a atuação

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profissional na sociedade, particularmente para os agentes responsáveis por cargos


de direção, administração, gestão e no que diz respeito às implicações para os que
realizam atividades mais acentuadamente técnicas. Tais questões, conceitos e exames
são diretamente pertinentes a qualquer análise de um conceito, como o de “prevenção”,
em relação a modalidades de atuação profissional na sociedade.
Os âmbitos de atuação profissional vão muito além do que é feito como intervenção
em problemas ou como prevenção dos mesmos. O trabalho preventivo, porém, parece
ser um ponto intermediário entre dois conjuntos de âmbitos de intervenção: os que

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são realizados depois que os problemas já produziram prejuízos e os que podem ser
feitos antes e para que tais prejuízos não ocorram ou tenham seus efeitos atenuados.
Examinar com atenção e ter clareza a respeito dos conceitos desses âmbitos de atuação
e suas implicações para o trabalho profissional e capacitação de novos profissionais é
uma exigência para o exercício das profissões e formação de novas gerações que vão
realizar esse exercício no século XXI.

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1.1 Significados do termo "prevenção" ao longo do tempo

O termo “prevenção” aparece, com frequência, na bibliografia de Saúde Pública,


Medicina Preventiva, Enfermagem Comunitária, Atenção Primária em Saúde,
Psicologia da Saúde, Psicoterapia, Fisioterapia, Terapia Ocupacional e na literatura
de diferentes áreas do conhecimento ou relacionada a outros campos de atuação
profissional. Esse termo recebe os mais variados significados de acordo com a época,
as circunstâncias e a interpretação pessoal de quem o utiliza, além de variações que, em
função da criação de novos subcampos de atuação, adotam a mesma expressão. Isso
ocorre quase sempre sem considerar a história de desenvolvimento do conhecimento

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que pode atualizar seu o núcleo desse conceito. A variedade de significados dados ao
termo levou a uma decorrência que precisa ser percebida, cuidadosamente avaliada
e administrada por quem trabalha com prevenção de qualquer tipo de problema.
Parte das definições a respeito do conceito de “prevenção” parece envolver equívocos
e contradições conceituais que necessitam exame, esclarecimento, aperfeiçoamento ou
até abandono e superação.
Leavell e Clark (1976) reforçam uma definição de Saúde Pública como “ciência

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e arte” de evitar a doença, prolongar a vida e desenvolver a saúde física, mental e a
eficiência, por meio do esforço organizado da comunidade, do saneamento do meio
ambiente, do controle de infecções, da organização dos serviços de saúde, do diagnóstico
precoce e do tratamento das doenças e do aperfeiçoamento da “máquina social”.
Parece ser a primeira vez que a expressão “evitar a doença” foi utilizada na elaboração
da definição de Saúde Pública. Duncan e Clark (1975) propuseram uma categorização
dos níveis de atuação em Saúde e, a partir disso, apareceram as expressões “prevenção
primária” e “prevenção secundária” como recursos para aperfeiçoar o entendimento

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de “prevenção em saúde” ou, ampliando o conceito, “prevenção de qualquer tipo de
problema”, mesmo que não sejam “problemas de saúde”. Isso, sem considerar o trabalho
pioneiro de Ignaz Semmelweis que, em 1846, inaugurou um procedimento de controle
de variáveis que levavam à infecção de puérperas (a febre puerperal) em uma unidade
de internação para essas pacientes hospitalares. Tal trabalho, não apenas salientava um
procedimento de controle experimental de variáveis para produção de conhecimento,
como inaugurava uma forma de intervenção capaz de “prevenir” infecções pós-parto
t II HW

em instituições hospitalares. O trabalho de Semmelweis é histórico e tornou-se um


clássico não apenas da medicina, mas também de metodologia científica e, de certa
forma, inaugurou uma forma de trabalho que controlava a probabilidade de ocorrência
’t de um problema antes que ela se efetivasse.

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Em 1972, Ferrara et al. , com seus estudos sobre Saúde Pública, ampliaram para
o meio social o que Ignaz Semmelweis havia feito em uma enfermaria de hospital
e relacionaram a noção de prevenção com a necessidade do esforço organizado da
comunidade para conseguir saneamento do meio, controle de doenças transmissíveis,
educação sanitária e organização de serviços de saúde, entre outros. Estabeleceram,
nessas considerações, cinco níveis de um trabalho de prevenção de problemas:
1) prevenção inespecífka; 2) prevenção específica; 3) diagnóstico precoce; 4)
tratamento oportuno e 5) reabilitação. Esses autores possibilitaram incluir no
conceito de prevenção a importância do “esforço organizado da comunidade” (como
uma perspectiva preventiva) para controlar os processos sociais que asseguram ao

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indivíduo e à comunidade condições de vida adequadas, no caso do trabalho dos
autores citados, para sua saúde física e fisiológica. O conceito, no entanto, estava
ancorado em problemas de saúde já instalados. Pelo menos os três últimos estágios
não se referem a prevenir, mas a tratar algo inadequado ou indesejável já existente:
o diagnóstico precoce, o tratamento oportuno e a reabilitação. Os três previnem
não mais o problema, mas o seu desenvolvimento para graus mais avançados. Eles
se referem a processos de correção de um problema que já se instalou. E prevenir o

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avanço de um problema não é mais prevenir a ocorrência dele.
LeavelI e Clark (1976), ainda com um trabalho na área da Saúde e com base na
mesma orientação conceituai, apresentaram a organização do que consideravam
“prevenção em saúde” em três “níveis”: 1) prevenção primária (promoção à saúde e
proteção específica); 2) prevenção secundária (diagnóstico, tratamento precoce e
limitação da invalidez) e 3) prevenção terciária (reabilitação). O enunciado formulado
por LeavelI e Clark (“é essencial a identificação o mais precoce possível da doença no
indivíduo para que todas as medidas preventivas disponíveis possam ser aplicadas,

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a fim de evitar ou retardar seu progresso”) corresponde a um desenvolvimento no
conceito de “prevenção” em relação ao que era conhecido até então: prevenção era
fundamentalmente antecipar a ação do profissional em relação aos problemas de
saúde, mesmo depois que eles já existissem.
Embora fosse um avanço na conceituação, a proposição de LeavelI e Clark ainda
manteve o entendimento de prevenção como uma atividade circunscrita ao indivíduo
e desenvolvida quando ele já apresentava uma doença (exceto na prevenção que
denominaram como primária), condições de saúde deficitárias ou precárias, e quando
houvesse risco evidente ou alto das mesmas ocorrerem. O aspecto importante disso é
que apenas antecipar uma intervenção profissional em relação às condições de saúde
de um indivíduo parece ser insuficiente para delimitar, apropriadamente, um possível

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conceito do que seja “prevenção em relação a problemas de saúde”. Pode haver muitos
períodos de tempo em relação a essa “antecipação” e, conforme esse “tempo”, pode
haver decorrências para a conceituação do que seja “prevenção”. “Antecipar” não quer
dizer o mesmo que “evitar” ou “impedir” a ocorrência de algo e isso é um aspecto
importante do conceito de “prevenção”. “Antecipação” é apenas um componente do
processo de prevenir e, por isso, é muito pouco para ser considerado seu definidor.
Embora “antecipar” possa ser uma operação intermediária necessária, não é suficiente,
principalmente, quando ocorre com os processos a prevenir já estão em curso ou com
condições configuradas para sua ocorrência. “Antecipar”, apenas como “previsão” é
muito pouco. Pelo menos nos limites do conceito de “prevenir” e nas relações dele com

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a denominação de outras modalidades de atuação profissional em qualquer campo de
atuação. Em particular e, talvez mais alarmantemente, nos da Saúde.
Mesmo sem considerar as decorrências similares desses conceitos para os múltiplos
campos de atuação profissional na sociedade, existe uma complexidade muito grande
e muitas exigências em relação ao que possa ser considerado como “antecipação” de
algum tipo de acontecimento. Assim como quanto aos comportamentos compatíveis
com a prevenção necessária que uma possível “antecipação” anuncia como “previsão”.
A distinção entre tantos conceitos e seu uso cuidadoso no trabalho profissional não

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é mera filigrana retórica. É um refinamento orientador para auxiliar no aumento
da probabilidade de que os comportamentos reunidos sob o nome de “prevenção”
possam efetivamente ocorrer de forma a fazer com que “algo não ocorra e antes de
começar a acontecer” (com o pedido de licença para tal pleonasmo). As distinções
conceituais, até as mais microscópicas, podem até parecer dispensáveis. Mas o
alerta de Morei (2003), a respeito da importância da precisão conceituai para se
evitar erros radicais e resoluções absurdas em processos administrativos, sociais,
políticos, psicológicos e de vários outros tipos com os quais essa precisão (ou falta

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dela) se relaciona, é uma orientação preciosa. Um “farol” a indicar que a pressa em
decidir sem conceitos bem elaborados pode, simplesmente, levar a ter que refazer um
trabalho ou até a perder tudo o que foi feito. As contribuições de Morei, nessa obra,
são reforçadas pelo questionamento de Ribes Inesta (2009) quando ele examina os
problemas com a “aplicação” do conhecimento. “O que aplicar?” e “como aplicar?”
são perguntas formuladas pelo autor para problematizar a relação entre conhecimento
e ação (principalmente a profissional). A isso, é necessário acrescentar até mesmo a
dúvida se aplicar o conhecimento” é uma expressão adequada para essa operação de
transformar conhecimento científico em comportamentos humanos”. Tal dúvida é
algo crucial conforme Kubo e Botomé (2001) destacam quando salientam que o que

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é aprendido (e o que é ensinado) é comportamento e não informações. O trabalho


profissional envolve lidar com informações por meio de comportamentos específicos
diante de situações problemas. Comportamentos muito diferentes do que apenas
“repetir informações”, “aderir a elas” “adotá-las” (ou “ritualizá-las”) de forma mais
automática do que crítica e localizadora. Quais os âmbitos dessas possibilidades de
atuação profissional? É possível ir além das tradicionais concepções tecnicistas e
limitadoras, reduzidas à abrangência de apenas parcelas das possibilidades dos campos
de atuação?
LeavelI e Clark foram autores fundamentais no avanço do entendimento da
relação entre homem, meio ambiente e agente etiológico na conformação de doenças,

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especialmente pelo delineamento do que seja a história natural de uma doença. No
entanto, parece que o conceito de prevenção pode avançar, a partir deles, na direção
de esclarecer o que é de fato uma ação preventiva. E isso também parece ser útil para
outros campos profissionais além daqueles próximos ou reunidos sob a égide do
termo “Saúde”. Afinal, o uso do conhecimento como orientação para a ação não é
um processo simples e envolve tomar decisões (com suas complexas estruturas) em
relação ao que acontece e ao que precisa ser feito para intervir profissionalmente de

BOOKS
alguma maneira com o risco perene - e muitas vezes alto - de cometer erros radicais e
tomar decisões absurdas (Morei, 2003). O processo de transformação de conhecimento
em comportamento humano, em múltiplos âmbitos de atuação, em qualquer campo
de trabalho profissional, é um processo de integração de conhecimentos, às vezes
microscópios, e de várias áreas, em sínteses mais macroscópicas. E tais processos
envolvem tanto interdisciplinaridade como multidisciplinaridade e até, como podem
outros preferir, transdisciplinaridade (Ribes Inesta, 2009).
Mesmo com esse entendimento e essas contribuições a respeito do conhecimento -

GROUPS
aparentemente ainda deficitário - , a classificação de prevenção em “níveis” (primário,
secundário e terciário) encontrou, no meio universitário, profissional e nas instituições
de Saúde em geral, ampla aceitação. Os trabalhos posteriores passaram a utilizar as
categorias propostas por LeavelI e Clark como ponto de partida para definir o que
seja prevenção em Saúde. O conceito, entendido e formulado dessa maneira, passou a
aparecer frequentemente no discurso acadêmico ou profissional e a ser forte orientador
para a atuação no exercício do trabalho no campo da Saúde. Desde então, a definição
de prevenção é identificada, por diferentes autores, com o que é conhecido como
“diagnóstico precoce”, “tratamento imediato”, “reabilitação”, “promoção” (Cooper, 1979;
Roca e Díaz, 1992; Pisa e López, 1993; Araújo, 1995).

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Até o final do século XX, esse entendimento parecia estar bem consolidado na
literatura, pelo menos do campo da Saúde. Rouquayrol (1994), por exemplo, embora
apresente uma definição mais precisa e abrangente do que a de Leavell e Clark (1976)
em relação ao conceito de prevenção, mantém a noção de que prevenir consiste no
desenvolvimento de ações profissionais relacionadas aos diversos estágios de evolução
de uma doença. “Prevenir é prever antes que algo aconteça ou mesmo cuidar para que
não aconteça. Prevenção em Saúde Pública é a ação antecipada, tendo por objetivo
interceptar ou anular a evolução de uma doença” (Rouquayrol & Goldbaum, 2003,
p. 30). Em outras palavras, para esses autores, além de evitar que os problemas de
saúde ocorram, evitar que uma doença já instalada se agrave também é considerado

INDEX
uma atuação preventiva. Eles afirmam que a prevenção pode ser conseguida por meio
de correções introduzidas politicamente no status quo socioeconômico que funciona
como uma pré-condição de doença, em função da pobreza e da ignorância. No campo
da Saúde, as ações preventivas têm como finalidade eliminar elos da cadeia patogênica,
no ambiente físico, social, assim como no meio interno dos seres vivos afetados ou
suscetíveis a algum prejuízo. Ou seja, o conceito inclui duas modalidades de atuação
profissional: 1) antecipar-se à instalação de um problema de saúde e 2) atuar, depois de
sua instalação, para impedir que ele se agrave. Generalizando para outros campos de

BOOKS
atuação profissional, bastaria substituir “problema de saúde”, por “qualquer modalidade
de problema que possa prejudicar a sociedade ou alguma pessoa na sociedade” e o
conceito teria os mesmos problemas e limitações.
Para Rouquayrol e Goldbaum (2003), a prevenção é abrangente, induindo tanto as
ações dos profissionais em saúde (decisão técnica, ação direta e parte da ação educativa),
como as estruturas socioeconômicas e políticas. “Antes que haja uma prevenção
primária, há de haver uma prevenção de caráter estrutural. A prevenção deve anteceder
a ação dos especialistas em saúde. Deve começar em nível das estruturas políticas e

GROUPS
econômicas (Rouquayrol & Goldbaum, 2003, p. 30).” Esse aumento de abrangência é,
sem dúvida, um avanço conceituai importante, mas que mantém a prevenção ainda
em um conceito restrito em relação à definição de que tal verbo (prevenir) exige um
complemento. É diferente “prevenir o avanço de algo que já está em curso” e “prevenir
a ocorrência de algo antes que comece ou aconteça”. E isso vale para qualquer tipo de
problema que possa acontecer na sociedade ou na vida das pessoas.
Rebelatto e Botomé (1987) apresentam um conceito de prevenção como algo que é
feito antes que um problema aconteça (mesmo que em graus mínimos e imperceptíveis,
o que envolve procedimentos de avaliação de risco ou tendência) e para impedi-lo de
acontecer. Indicam, como característica essencial do “fazer” prevenção, o profissional

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atuar antes que o problem a no qual é necessário intervir ocorra e p ara im pedir
sua ocorrência mesmo em graus mínimos. Essa forma de definir prevenção parece
ser mais um grau de desenvolvimento ou refinamento em direção à explicitação das
propriedades definidoras do conceito “prevenção” no seu núcleo delimitador. Nesse
caso, a definição deixa claro que o comportamento de prevenir (profissionalmente) é
diferente, por exemplo, do comportamento profissional de diagnosticar precocemente
(em estágios iniciais da ocorrência ou desenvolvimento de um problema) ou do
comportamento de tratar (ou de resolver) com eficiência um problema de saúde (ou
de outro tipo) já instalado ou mesmo da categoria de comportamentos que poderia
receber o nome de “impedir seu desenvolvimento depois que já se instalou”. Isso exige

INDEX
um exame cuidadoso do que pode significar esse destaque de Rebelatto e Botomé a
respeito de características do conceito.
Melchiori (1987), ao projetar, em um município, um a agência para pessoas com
necessidades especiais em uma perspectiva de exame semelhante à apresentada
por Rebelatto e Botomé (1987), considera que as necessidades, os sofrimentos e os
problemas começam muito antes de atingir graus que fazem com que as pessoas
procurem atendimento para minimizar ou sanar tais problemas, sofrimentos
ou necessidades. O profissional, nesse sentido, deve ser capaz de apresentar

BOOKS
comportamentos como identificar e caracterizar não apenas os problemas de saúde
já instalados, mas também quando, quanto e em que circunstâncias relativas às
condições de vida de um organismo ou de uma coletividade há risco de ocorrências
de problemas que possam afetá-los. “A descoberta do risco (ou da probabilidade de
algo ocorrer) implica (ou exige) o conhecimento daquilo que faz com que o evento
aconteça e habilite o profissional a lidar com o controle das variáveis responsáveis pela
ocorrência dos problemas, antes que eles surjam” (Melchiori, 1987, p. 146), comecem
ou aconteçam. Isso envolve também os conceitos de “causalidade”, “determinação

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absoluta” e “determinação probabilística” e os problemas envolvidos com o uso
indiferenciado deles. É importante considerar ainda que existe uma forte interação
entre os conceitos de “risco” (probabilidade de algo ocorrer) e “vulnerabilidade” (risco
de alguém ou uma situação ser submetido a ocorrência de algo” (Ayres et al., 2006).
De acordo com essa concepção apresentada por Rebelatto e Botomé (1987) e
Melchiori (1987), o comportamento de prevenir (mais precisamente, uma classe de
comportamentos que inclui muitos outros comportamentos mais específicos) implica,
fundamentalmente, agir em relação aos múltiplos determinantes dos problemas e
não apenas em relação aos problemas ou suas consequências e sempre para mantê-
los sob controle de forma a não produzirem efeitos ou consequências problemáticos.

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Talvez a principal contribuição desses autores seja a de possibilitar, no conjunto, o


estabelecimento de uma relação direta e inequívoca entre problemas (centralmente
os de “saúde” e seus determinantes, no caso desses autores), que normalmente
estão presentes no ambiente em que vivem os organismos vivos. Mynaio (2009), ao
examinar relações entre ambiente e saúde, destaca a complexidade (uma dimensão
epistemológica que diferencia os referenciais sistêmicos das teorias tradicionais)
como sendo constituída pelo entrelaçamento das partes constituintes de um processo
ou sistema. Um sistema complexo é formado por grande quantidade de unidades
constitutivas com uma ainda maior multiplicidade de interações. Para uma atuação
profissional que vá além da redução de sinais e sintomas presentes quando da

INDEX
manifestação de determinado problema, prevenção em uma dada situação exige
estudo e identificação das variáveis tanto das constituintes quanto das determinantes
do problema em foco, bem como das múltiplas, complexas e dinâmicas interações
entre elas. O que é muito evidente e passível de verificação no conhecimento no
campo da Saúde. O mesmo raciocínio, porém, não se aplica a áreas de conhecimento
isoladas ou a pesquisas específicas que investigam um ou outro aspecto constituinte
de um fenômeno. Ribes Inesta (2009) destaca a tendência aos exames microscópicos
do trabalho científico em relação ao necessário exame macroscópico e integrativo de

BOOKS
múltiplos aspectos no trabalho de intervenção profissional, o que é coerente com o
exame das diferenças entre campo de atuação e área de conhecimento destacadas por
Rebelatto e Botomé (1987) e Botomé e Kubo (2002).
“Prevenção” pode, dessa forma, ser considerado o nome de uma categoria de
comportamentos comum a muitos tipos de profissionais, além daqueles da área da
Saúde, reconhecida por “prevenir problemas”. Refere-se, portanto, a um processo
fundamentalmente psicológico: o comportamento humano, com seus determinantes
sociais, físicos, econômicos, de aprendizagem, biológicos e vários outros,

GROUPS
principalmente os relacionados ao ambiente em que os indivíduos (ou organismos)
humanos estão inseridos e se comportando (agindo ou atuando). Isso faz com que
a ênfase recaia não sobre um conceito que se assemelhe à caracterização de uma
coisa ou objeto, mas que nomeie apropriadamente um processo muito diferente de
outros processos. Isso fica ainda mais complexo uma vez que tal tipo de fenômeno ou
processo refere-se a comportamentos humanos. A noção de comportamento precisa
estar no núcleo desse exame ou dificilmente será possível transformar o conceito
de “prevenção” em capacidade (ou procedimentos) de atuação (técnicas, inclusive)
dos indivíduos, sejam eles os profissionais que devem realizar comportamentos para
prevenir problemas na sociedade ou pessoas comuns que precisam prevenir qualquer

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acontecimento desagradável em suas vidas cotidianas (saúde, convivência, acidentes,


conflitos...)- As exigências, considerando essa perspectiva no exame do conceito,
parecem ser grandes. Prevenir não é uma coisa, uma entidade ou um processo não
humano. Ele é, antes de qualquer outra coisa, o nome de uma maneira de agir perante
a probabilidade de ocorrência de um problema. As implicações desse entendimento
são muito exigentes para entender e realizar tal tipo de atuação perante o mundo,
ou em relação a qualquer aspecto dele. A começar pela capacidade de perceber
“probabilidade de ocorrência de algo”.
Lescura e Mamede (1990), com base em autores norte-americanos (Becker,
Drechman & Kirscht, 1974; Cullen, 1980) e nacionais (Rodrigues Neto, 1986 e

INDEX
Botomé, 1981b), apresentaram a noção de comportamento preventivo. Segundo esses
autores, é importante desenvolver um conhecimento que se refira ao comportamento
de indivíduos que não estão apresentando ou tendo problemas, inclusive doenças,
de qualquer tipo. Esses comportamentos podem constituir alternativas àqueles que
produzem os problemas e são cometidos pelas próprias pessoas que sofrerão as
implicações ou decorrências deles. Isso^xige um redimensionamento dos estudos
que limitam o foco de investigação no fenômeno doença ou qualquer outro tipo de
problema. Ou seja, os comportamentos <jue as pessoas apresentam e que produzem

BOOKS
os problemas ou constituem apenas reação aos sintomas dos problemas também
devem ser alvo de exame e intervenção.Tal concepção faz com que sejam exigidos
ainda comportamentos específicos de políticos, administradores e dos próprios
profissionais, da Saúde ou de qualquer outro campo de trabalho, uma vez que as más
condições de vida, inclusive de saúde (oúkmtros tipos de problemas), fazem parte de
um sistema social no qual tanto os profissionais que devem atuar nos problemas quanto
os indivíduos que os apresentam estão inseridos (Holland, 1978).Uma percepção
sistêmica envolve a consideração de todos os aspectos de um problema (suas múltiplas

GROUPS
dimensões, variados determinantes e decorrências em curto, médio ou longo prazos),
o que é uma exigência ainda não atendida pela capacitação formal dos diferentes tipos
de profissionais para os campos de atuação existentes na sociedade.
Nesse sistema, os comportamentos de cada indivíduo e de cada profissional,
em diferentes posições ou circunstâncias, podem garantir melhora significativa nas
condições gerais que interferem na vida, na saúde ou nos diferentes tipos de problemas
de organismos individuais ou de coletividades de organismos. Também podem
assegurar que tais problemas nem sequer ocorram por meio de comportamentos que
impeçam as variáveis determinantes de agirem (ou interagirem). Em cada posição ou
circunstância, porém, os agentes e seus comportamentos para produzir o que pode

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receber o nome de “prevenção” vão ser diferentes ou variar muito. Nesse último tipo
de conceituação, o nome “prevenir” para tais tipos de comportamentos que impedem
a ocorrência de problemas talvez seja mais adequado, mas é preciso esclarecer que há
exigências conceituais importantes que o diferenciam de outros nomes identificadores
de processos diversos.
No exercício profissional de diferentes campos de atuação, a maioria das
intervenções denominadas como “preventivas”, no entanto, adotam como orientação
conceitos de prevenção que podem ser considerados ultrapassados ou inadequados,
uma vez que abrangem mais (ou outras coisas) do que um efetivo impedimento

INDEX
de ocorrência do (problema) que precisa ser “prevenido”. Talvez porque o conceito
não esteja explicitado de forma adequada entre os profissionais e na literatura. São
encontrados vários tipos de atividades profissionais consideradas (nomeadas ou
rotuladas?) como trabalho preventivo, mas que não têm potência ou não são coerentes
para, de fato, impedir a ocorrência de problemas em geral ou de más condições de
saúde especificamente. Isso significa, em outros termos, que são atividades comuns (ou
tradicionais) de intervenção, nomeadas (justificadas?) com um conceito socialmente
aceitável (o de “prevenção”), que adquiriu status como parte do modismo de uma

BOOKS
época, talvez disfarçando velhas rotinas e modos arraigados de agir profissionalmente
(Rebelatto, 1991), e que têm, em geral, como objetivo último, recuperar a saúde por
meio do tratamento dos problemas manifestados em sinais e sintomas, ou algo similar
em outros campos de atuação profissional.
Em 1976, Arouca, médico sanitarista, defendeu sua tese de doutorado e apresentou,
mais especificamente no campo da medicina, a problematização do conceito de
prevenção e sua relação com a atuação profissional de médicos. Esse trabalho foi
fundamental para a construção de uma perspectiva e um conhecimento de natureza

GROUPS
social a respeito da Saúde no Brasil. “A Medicina Preventiva, dentro dessa abordagem,
representa um novo fenômeno no campo conceituai da área médica ao estabelecer
uma nova articulação com uma sociedade em profunda mudança” (Silva, 2003, p.15).
Segundo Arouca, esse discurso “preventivista” privilegia uma “nova atitude” (uma
nova orientação para agir) e levanta dúvidas em relação à experiência pedagógica
do hospital, “recolocando” a enfermidade em relação com o mundo social, onde
os determinantes das alterações na saúde estão em constante interação. Assumir
a universalidade do cuidado com a saúde e praticá-la no cotidiano passa a ser uma
questão de comportamento profissional dos que atuam nesse campo. Comportamentos
de profissionais e também da população em geral. No campo da Medicina, começam
a ganhar força uma concepção de trabalho em equipe, um conceito abrangente de ser

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humano e de saúde como um processo socialmente construído e a importância das


relações entre médico, paciente, comunidade, família e organização social, inclusive
dos serviços de saúde. Para outros campos de atuação, há algo semelhante como
possibilidade, embora neles isso apareça de forma muito mais incipiente ou ainda nem
sequer esteja presente. As implicações dessa compreensão do conceito de prevenção
para outros campos de atuação profissional são sérias e podem representar um forte
impacto na conceituação de tais campos e isso ainda está se desenvolvendo, tanto
como conhecimento quanto como formas de atuação.
Arouca (2003) apresenta a conduta “preventivista” como a que tem por

INDEX
objetivo imediato a não ocorrência do processo “doença” (ou qualquer alteração
prejudicial à saúde) por meio da interferência na interação hospedeiro-agente, no
meio ambiente, nos fatores predisponentes, na educação, na promoção à saúde, na
mudança de “hábitos”, entre outros. Essa “conduta” (termo espanhol correspondente
a comportamento, em português) substitui o que pode ser denominado “conduta
- ou comportamento! - curativa”, a qual tem se mostrado ineficiente, com enfoque
predominantemente biológico. Um enfoque que força a medicina a uma crescente
especialização, diminui as relações com a comunidade e tem sido base dos processos

BOOKS
de formação profissional dos agentes de Saúde. Dentre os diferentes princípios que
embasam a proposta “preventivista” no campo da Saúde podem ser destacados: 1) o
reconhecimento da doença como resultante da interação entre agentes, hospedeiros
e ambiente, sendo a prevenção possível por meio de atuação em um ou mais desses
agentes ou intermediários (interrompendo, alterando ou impedindo a interação); 2) as
medidas devem ser aplicadas a indivíduos ainda sadios; 3) as ações preventivas devem
ser estendidas a toda a família considerada uma unidade social básica; 4) envolve a
prática da educação em saúde (sem limitar-se a ela); 5) hábitos e costumes devem

GROUPS
ser investigados e levados em conta e 6) o médico, ou qualquer outro profissional
da Saúde, deve compreender a complexidade desse campo em relação a todos os
seus elementos componentes, assim como os seus determinantes na sociedade e no
ambiente em que eles ocorrem.
As contribuições desse autor foram decisivas na análise dos elementos fundamentais
do conceito de prevenção e marcaram época na problematização da formação médica
e de outros profissionais do campo da Saúde. Mais ainda, seus fundamentos podem ser
aplicados na prevenção de problemas em qualquer campo de atuação profissional. E
acarretam um questionamento muito sério para todos os profissionais: onde reside o
núcleo do trabalho que delimita a responsabilidade central de qualquer campo de
atuação profissional? Somente nos fenômenos que constituem os problemas? Como

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fic a m as v ariáv eis d e te rm in a n te s d a o co rrên cia desses problemas dos quais se ocupam
o s p ro fissio n a is d e u m c a m p o de atuação? E com o ficam quando elas são conhecidas
p o r á reas d e c o n h e c im e n to q u e u su alm en te não se relacionam com o campo de
atu ação ? A p ró p ria c o n fu sã o en tre os conceitos de área de conhecimento e campo de
a tu a ç ã o p ro fissio n a l é u m a das dificuldades a enfrentar e superar para trabalhar com
u m c o n c e ito d e p rev en ção co eren te com o próprio significado da palavra.

INDEX
BOOKS
GROUPS

cc
c
Cl .

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1.2 0 conceito de "p reven ção " e possibilidades


de a tu a ç ã o profissional

A o examinar as contribuições de autores como Leavell e Clark (1976), Chaves


1980 i , Rebelatto e Botomé (1987), M elchiori (198“) e Arouca (2003), é perceptível
uma diferença entre o referencial utilizado p o r eles para explicitar o que seja prevenção
como nome de um tipo (ou classe) de com portam ento profissional, especialmente, no
campo da Saude. Leavell e C lark apresentam , para tornar claro o que entendem por
prevenção, a classificação esquem atizada na Tabela 1. Nessa tabela é possível notar
que prevenção é considerada um a categoria geral de atuação profissional dividida em
três subcategorias: 1) prevenção prim ária; 2) prevenção secundária e 3) prevenção
terciária. E para cada um a delas são definidas formas de atuação específicas. As ações de
saúde correspondentes à prevenção prim ária são a prom oção da saúde e sua proteção
específica; à prevenção secundária, o diagnóstico precoce, o tratam ento adequado e a

INDEX
limitação da invalidez; e à prevenção terciária, a reabilitação.

TABELA 1

PREVENÇÃO PRIMÁRIA
BOOKS
"Níveis'' de preven ção no tra b a lh o em Saúde, propostos por Leavell e C lark (1 9 7 6 ),
indicando d ife re n te s "graus de prevenção" na concepção dos autores

PREVENÇÃO SECUNDÁRIA PREVENÇÃO TERCIÁRIA

promoção proteção
GROUPS
diagnóstico
precoce e limitação da
da saúde específica tra ta m e n to invalidez reabilitação
adequado

Essa form a de apresentar o conceito “prevenção” e de representar sua tipologia,


embora tenha tido valor didático, não esclarece precisamente o que significa prevenção,
envolvendo outras form as de atuação que não poderiam caracterizar um a atuação
profissional com o atuação preventiva. O u seja, um a atuação realizada “antes que o
problema ocorra e para que ele não venha a ocorrer”, conforme destacam Rebelatto
e Botomé (1987). Há um a generalidade e um a vaguidade na term inologia original, e
uma indução de im pressão de hierarquia ou prioridade de atuação, que não parecem
úteis no entendim ento dessa preciosa contribuição para encontrar vários âmbitos de

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atuação que ampliam as possibilidades de trabalho para qualquer campo profissional


na sociedade e para seu ensino ou desenvolvimento nas instituições de ensino.
Chaves (1980) examinou o conceito de prevenção em Saúde baseado nos “níveis”
propostos por Leavell e Clark e acrescentou a exigência de aplicação das ações de
Saúde em cinco “níveis” de atuação profissional: 1) melhorar as condições de vida
e o ecossistema, reduzindo ao mínimo as agressões ambientais e, ao mesmo tempo,
fomentando a geração de indivíduos de melhor potencial genético; 2) proteger os
indivíduos especificamente contra agressões ambientais que nãopossamser removidas;
3) identificar e tratar cada caso (problema de saúde) precocemente, sempre que seja
importante para melhor prognóstico e para maior eficiência do tratamento da doença;

INDEX
4) proporcionar condições para pronta recuperação, sem sequelas, de indivíduos já
doentes e 5) recuperar, ao máximo, o que existe de forma e de função nos subsistemas
lesados para que o indivíduo possa reintegrar-se como membro ativo e independente
na sociedade.
Nesses “níveis” de atuação profissional, propostos por Chaves, ainda permaneceu
o entendimento de prevenção (no campo da Saúde, no caso) em um sentido amplo
(e ambíguo), que reúne a prevenção da ocorrência com a prevenção da evolução
de uma doença, o próprio tratamento ou recuperação e a melhoria de condições

BOOKS
de saúde já existentes. Ao ampliar o conceito, o autor aumenta sua generalidade
(supergeneralizando), ambiguidade e imprecisão, e diminui seu valor e capacidade de
orientar a ação e aumentar a perceptibilidade das diferentes possibilidades de atuação
profissional com suas exigências específicas. De certa forma, o que é denominado
pelo termo “prevenção” parece passar a reunir múltiplas formas de “intervenção
profissional no campo da Saúde”. Estendendo o conceito - e os equivalentes processos
comportamentais que poderiam receber o mesmo nome - para outros campos de
atuação profissional, o problema será mantido com uma dificuldade conceituai

GROUPS
ainda maior e uma confusão comportamental muito grande no trabalho com
problemas diferentes daqueles do campo da Saúde. “Prevenção” parece ter se tornado,
superficialmente, algo “politicamente correto” para nomear qualquer tipo de atuação
profissional, conferindo-lhe maior importância ou status, sem necessariamente
haver uma exigência específica conceituai ou operacional para delimitar melhor a
abrangência do conceito.
Os “níveis” de atuação profissional propostos por Chaves foram examinados por
Botomé (1981a) e por Rebelatto e Botomé (1987) que propuseram sete “níveis” (o
nome mais apropriado talvez fosse “âmbitos”, por se referirem à abrangência e não
à altitude ou à hierarquia dos fenômenos envolvidos em cada conceito) possíveis

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para atuação profissional, considerando graus nas condições de Saúde. Esses “níveis”
(âmbitos!) representam tipos ou formas de atuação profissional porque, de fato, não
há hierarquia ou sequenciamento entre eles e, por isso, é inadequado o uso do termo
“nível” para referir-se a eles. São tipos ou formas de atuação em que, talvez, o aspecto
mais definidor seja a abrangência de pessoas atingidas e envolvidas, ou de resultados
e seus respectivos custos para a sociedade. Se for assim, a complexidade dos conceitos
será muito maior do que apenas a sua redução a um “nível”, em função da diversidade
de dimensões envolvidas e dos múltiplos graus de variação que cada uma pode ter,
principalmente em relação à abrangência de seus resultados, complexidade de seus
procedimentos, porte dos custos e benefícios e amplitude das pessoas envolvidas ou

INDEX
atingidas por esse tipo de atuação profissional.
A Tabela 2 mostra esses sete âmbitos de atuação, caracterizando classes amplas de
atuação que contém, cada uma, ainda múltiplos graus de variação. A seta graduada
representa gradientes do fenômeno “condições de Saúde” (ou de qualquer problema
a ser objeto de intervenção). À direita, é possível notar possibilidades de trabalho no
campo da Saúde explicitadas por expressões que se referem a relações bem definidas
entre resultados que interessam obter e as ações profissionais necessárias para
obtenção deles. São sete tipos de atuação profissional, organizados de acordo com

BOOKS
o critério de complexidade de atuação e apresentados em uma mensuração ainda
apenas ordinal, e não nominal, intervalar ou de razão (para ser mais preciso que a
simplificação difundida pela divisão binária entre “quantitativo” e “qualitativo” para as
possibilidades de mensuração dos processos ou fenômenos).
Segundo Botomé (1981a), o primeiro tipo (na escala de amplitude de atuação e de
efeitos indicada na Tabela 2) de atuação profissional é denominado atenuação. Nesse
tipo de atuação profissional, o objetivo é atenuar o sofrimento relacionado a problemas
ou danos definitivos e irreversíveis produzidos nos organismos ou nas suas condições

GROUPS
de vida (pelo menos em um dado momento ou condição). O importante, nesse caso,
é criar condições para que o organismo viva com a dificuldade existente, mas com o
menor sofrimento possível. Significa que, não podendo eliminar o problema existente,
pelo menos a quantidade de sofrimento relacionada com ele é reduzida É o caso, por
exemplo, de doentes terminais, para os quais ainda não há condições de reversão das
más condições de saúde já existentes. Algo parecido acontece com o Mal de Alzheimer,
cujo tratamento, pelo menos até as descobertas anunciadas em julho de 2012 e
realizadas por um uruguaio trabalhando na Suécia e com uma equipe de pesquisadores
americanos (conforme reportagem do jornal Folha de São Paulo, em 09/01/2012), tem
sido caracterizado por adiar ou atenuar a manifestação dessa alteração nas condições

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de saúde de um organismo. Ou, em outro tipo de exemplo, encaminhar e atenuar os


prejuízos de empregados de uma empresa que faliu ou dos alunos de uma faculdade
cujos donos não conseguiram manter a organização funcionando. O dano, já instalado,
exige um tipo de comportamento profissional imediato: atenuar, com o conhecimento,
as condições e a tecnologia disponíveis, o sofrimento ou o prejuízo já existente e, de
certa forma, irreversível. Prevenir o dano já existente (que já ocorreu) não é mais
possível, nem corrigir o que foi danificado. O que parece ser mais apropriado é atenuar
o sofrimento e, se houver condições, recomeçar o processo prejudicado, recompondo
o que for possível e adequado.

INDEX
TABELA 2
Tipos de atuação (classes de comportamentos) profissional possíveis de realizar
no campo profissional da Saúde, segundo Rebelatto e Botomé (1987), e em outros
campos de atuação, ampliando o conceito examinado pelos autores

Tipos ou classes de Caracterização dos processos comportamentais a serem


comportamentos apresentados por profissionais diante dos diferentes tipos de
profissionais problemas com os quais se defrontam na sociedade

1 Atenuar 4 Atenuar sofrim ento produzido por danos definitivos nas condições de

BOOKS
vida dos organismos, no ambiente ou nos problemas sociais

2 Compensar Compensar danos irreversíveis nas condições de vida dos organismos,


no ambiente ou nos problemas sociais existentes

3 R eab ilita r Reabilitar (limitar, reduzir) danos produzidos nas condições de


vida (organismos lesados) ou nas condições sociais ou ambientais
existentes

4 Recupera' Recuperar (eliminar) danos produzidos na qualidade das condições de


vida dos organismos ou do ambiente em que vivem

5. PREVENIR
GROUPS
Impedir a ocorrência de danos nas características das condições de
vida dos organismos, na sociedade ou no ambiente em que vivem
tais organismos

6 M anter Manter características adequadas nas condições de vida dos


organismos, do ambiente ou da sociedade em que eles vivem

7 Promover Promover melhores condições de vida existentes nos organismos ou


melhores condições para a vida no ambiente, físico ou social, com que
se relacionam

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Em vários casos, atenuar sofrimento pode ser o tipo de trabalho (de atuação
profissional) a ser realizado como etapa inicial de um processo de intervenção
complexo, com várias etapas diferenciadas. Até como forma de viabilizar outras fases
mais avançadas de trabalho em que a pessoa ou pessoas vítimas de algum tipo de
lesão ou prejuízo estejam em melhores condições para poder participar da intervenção
profissional com benefícios maiores do que apenas esse inicial.
Chama atenção a referência que Botomé (1981a) faz na expressão “atenuação de
sofrimento ou prejuízo” como uma espécie de “disfarce” do nome mais apropriado
do processo que é sempre realizado por alguém: “atenuar”. Seja um sofrimento, como
ocorre em Medicina, Enfermagem, Fisioterapia, em alguns casos da Psicologia etc.,
ou prejuízos, como em muitos outros campos de atuação profissional como Ensino,

INDEX
Administração, Política, Governo, Engenharia e Agronomia. O fato de “atenuar algo”
ser um Comportamento humano, definido (considerando o núcleo do conceito desse
tipo de comportamento) pelo principal tipo de consequência (redução ou interrupção
do sofrimento ou prejuízo de alguém), é muito importante. Não é um acontecimento
independente dos comportamentos de algum tipo de agente, geralmente no papel de
um profissional, embora não só nesse contexto esse tipo de atuação ocorra. Isso exige,
no mínimo, uma atualização com o conceito de comportamento e não o uso desse
termo no entendimento do senso-comum, como sinônimo de atividade, intenção, ação,

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gesto, disposição, atitude ou atuação. Há critérios que exigem o exame de seis tipos
básicos de interações entre três tipos fundamentais de acontecimentos para poder
nomear apropriadamente um comportamento (Botomé, 1981c). Sem isso, é muito
difícil identificar, aprender, ensinar ou simplesmente apresentar um comportamento
específico no momento ou circunstância apropriado. De qualquer forma, é sempre
melhor o uso de um verbo (atenuar sofrimento ou prejuízo) do que de um substantivo
(“atenuação”) para indicar que tipo de trabalho (de comportamento humano) está
sendo realizado. O substantivo escamoteia a ênfase no processo comportamental

de trabalho. GROUPS
realizado por alguém e, por isso, um verbo pode ser melhor para nomear esse tipo

Na Tabela 2 foram apresentados esse e mais seis tipos de intervenção profissional


com diferentes graus de abrangências e que delimitam, um pouco mais clara e
precisamente, as possibilidades de atuação em qualquer campo profissional na
sociedade, além do que tradicionalmente se denomina “prevenção primária,
secundária ou terciária” (ver Tabela 1).
O segundo tipo de atuação, além de “atenuar sofrimento ou prejuízo,” é
denominado “compensação”. Nesse caso, o objetivo (o resultado ou produto a ser

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obtido) é compensar o dano produzido nas condições de saúde, ou quaisquer outras,


por meio, por exemplo, do desenvolvimento de capacidades que permitam obter
benefícios que “compensem” o dano existente em um organismo, produzido por ele ou
outro organismo em qualquer tipo de acontecimento, processo ou objeto. É um tipo
de atuação que exige mais conhecimento e tecnologia do que “atenuar sofrimento ou
prejuízo”, uma vez que as exigências são maiores: é necessário criar possibilidade de
algum grau de recuperação ou de compensação do que foi perdido ou prejudicado.
No início do século XXI, esse tipo de atuação foi dramaticamente ilustrado pelo
“tratamento” fornecido a Stephen Hawking (físico inglês, autor de Uma Nova História
do Tempo, com Leonard Mlodinow, 2005) com esclerose lateral amiotrófica (ELA).Um

INDEX
elaboradíssimo equipamento e cuidados o fizeram prolongar a vida com uma atividade
profissional significativa por mais de quarenta anos além do esperado para portadores
désse tipo de patologia. Mas, embora seja melhor do que “apenas” atenuar sofrimento,
“compensar dano” ainda é precário do ponto de vista da resolução de problemas para a
população e da melhoria do nível da qualidade de vida e das condições gerais de saúde
de uma pessoa, de muitas pessoas ou de toda a sociedade (isso pode ser entendido
como “do ambiente em que elas vivem”), sob qualquer perspectiva que essa “qualidade
possa ser considerada”. Em síntese, a “compensação de danos” pode ser percebida no

BOOKS
campo da Saúde, por exemplo, quando é administrada insulina diária a um paciente
diabético para compensar sua incapacidade definitiva de produzi-la ou quando se
fornece uma prótese para substituir um membro amputado que compense, embora
com limitações e incômodos, a incapacidade de locomoção de alguém. Em outros
âmbitos que não os da Saúde, os aspectos que podem significar “compensar danos”
são muitos e constituem parte da ocupação dos mais diversos campos de atuação
profissional (o Direito e a Advocacia são exemplos mais evidentes disso).
Obviamente, “compensar danos” ainda não é uma expressão sem controvérsias

GROUPS
e dificuldades para nomear esse âmbito de atuação profissional. Mas é fundamental
como distinção de apenas “atenuar sofrimento”. No âmbito das profissões sociais,
por exemplo, isso é crucial e ainda carece de definições bem estabelecidas para que
ninguém tenha apenas atenuado o sofrimento quando pode haver compensação
dos danos sofridos. Imagine trabalhos no âmbito do Serviço Social, do Direito ou
da Psicologia para ter noção das exigências desse grau de complexidade de atuação.
Compensar os danos por várias décadas de experiência de vida mal feita ou com
condições inapropriadas para um desenvolvimento adequado pode ser uma tarefa
hercúlea. Principalmente porque ela contém algo imponderável: quanto é possível
ou suficiente “compensar” do dano produzido?

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De forma semelhante ao que foi considerado sobre “atenuação”, “compensação”


de danos, sofrimentos ou prejuízos é apenas um nome para designar outro tipo
(ou classe) de comportamentos humanos. “Tipo” (ou classe) porque há múltiplas
maneiras específicas de realizar esse “comportamento” que variam, como no caso do
“atenuar sofrimento, dano ou prejuízo”, conforme o objeto de intervenção, o estágio
de desenvolvimento do mesmo ou da intervenção em realização, as circunstâncias ou
etapa de um processo de intervenção e até da capacidade de percepção, entendimento
e de atuação do agente que realiza a intervenção. O que, efetivamente, vai definir
se qualquer atuação pode, de forma adequada, ser denominada “compensar danos,
sofrimento ou prejuízo”, são seus resultados. Haverá, de fato, alguma compensação

INDEX
para as pessoas, sociedades ou ambiente pelo que já foi perdido, deteriorado, estragado
ou destruído? Se não houver, o nome será inapropriado e o que esta sendo feito talvez
seja outra coisa, mesmo que o agente queria “compensar” algo e as ações, em outras
circunstâncias, tenham sido apropriadas para "fazer compensações”. A exigência
de um entendimento muito grande sobre o que seja o fenômeno comportamento
humano é, novamente, algo que precisa ser considerado e atendido para possibilitar
visibilidade do que acontece, decisão do que precisa ser feito, clareza e precisão na
ação a ser realizada e condição de avaliar se o que foi “feito”, de fato, produziu o

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resultado em grau suficiente para merecer o nome “compensar dano, sofrimento ou
prejuízo” nas circunstâncias em que ocorreu a intervenção profissional. O que melhor
delimitará o que está sendo feito por qualquer agente que atuar na sociedade são os
efetivos resultados do trabalho profissional e suas características específicas. Não são
as ações ou intenções, ou mesmo as palavras utilizadas, que delimitam o que foi feito,
mas os resultados das ações profissionais que constituirão os aspectos importantes na
definição do que está sendo feito como contribuição para a sociedade.
Um terceiro tipo de atuação profissional em qualquer campo é o que recebe o nome

GROUPS
de “reabilitação” (ver Tabela 2). Nele, pelo menos no caso da Saúde, o que importa
é lim itar ou reduzir danos produzidos nas condições de saúde dos organismos,
melhorando o máximo possível o que o organism o pode conseguir realizar.
Em outros campos de atuação profissional, a reabilitação vai se referir aos objetos,
processos (industriais, de produção, de aprendizagem, por exemplo), instrumentos
e até aos ambientes danificados ou deteriorados (e ou mesmo mal construídos) pelas
pessoas. O conhecimento e a tecnologia disponíveis a respeito do problema existente
são duas condições (ou exigências) que, em geral, possibilitam identificar, mais ou
menos, melhor ou pior, o que está acontecendo e o que está sendo feito pelos agentes
que estão atuando nesse âmbito profissional (ou têm a intenção de fazê-lo).

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Esse terceiro tipo de atuação (limitar ou reduzir danos) produz mais benefícios
do que os anteriores (ou impede maiores prejuízos) e pode combinar-se com eles de
diferentes maneiras. Ele pode ser tanto um tipo de atuação profissional (iniciando e
terminando como tal) quanto uma etapa de um processo que até pode começar pelos
dois outros tipos anteriores (atenuar e compensar), prosseguindo quando houver
condições melhores para ser realizado (reabilitar o que foi lesado, estragado, perdido
ou danificado). No caso do Direito, por exemplo, há o que é conhecido como “direitos
difusos” em que é possível identificar como limitar ou reduzir danos ao cuidar de uma
praça, de instalações urbanas que poderiam constituir prejuízos para pessoas se não

INDEX
fossem cuidados apropriadamente.
No caso do campo da Saúde (em todos os âmbitos de entendimento desse termo),
por exemplo, esse tipo de atuação profissional pode ser considerado até satisfatório
em muitos casos em função da profundidade, da extensão ou do tempo em que o
organismo permaneceu com a lesão ou prejuízo (às vezes desde o nascimento). Nesse
campo profissional, os progressos no âmbito do conhecimento e da tecnologia na
Biomecânica, na Biologia, na Fisiologia, na Física, na Química, na Psicologia, nas
técnicas de cirurgia, medicações etc. podem ajudar muito. Mas o conhecimento e

BOOKS
a tecnologia a respeito do ambiente e de seu controle e construção, assim como os
relacionados à educação das pessoas e à administração dos processos, organizações,
instituições e outros recursos da sociedade e da natureza também são importantes para
realizar esse tipo de atuação. No entanto, do ponto de vista de um trabalho abrangente
(o mais coletivo possível), duradouro, eficaz e profundo, esse tipo de intervenção
ainda é precário porque o seu custo em uma população doente ou em ambientes,
processos, instrumentos ou instalações é muito alto e não elimina o problema já

GROUPS
existente nem o impede de acontecer ou de continuar ocorrendo. O trabalho é o
de reabilitar, o que implica manter ainda algum grau de algo que não está bem ou
apto a realizar seu objetivo, mas não necessariamente vai além, embora faça com que
alguma coisa seja “reabilitada”: possa voltar a exercer uma função que foi perdida,
lesada, prejudicada, impedida, deteriorada etc. O que foi perdido e o que aconteceu
antes não serão recuperados integralmente. Apenas será possível voltar a exercer uma
função de uma maneira já, em algum grau, prejudicada e talvez de forma menos eficaz
ou efetiva do que era possível. Em alguns casos, esse tipo de atuação é o único possível
diante do conhecimento e da tecnologia disponíveis ou acessíveis ao agente que realiza
o trabalho de “reabilitar” alguém (ou “algo”) a exercer uma função de importância
pessoal ou social.

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Também aqui, o que definirá se a atuação profissional (o tipo de intervenção


realizado) é mesmo “reabilitadora” é o seu resultado (ou objetivo da intervenção) e
o quanto dele viabilizou o exercício de uma função (uma interação com o ambiente
ou um comportamento) que antes era realizada de maneira completa e adequada,
produzindo benefícios para si, para os outros, para a natureza e para a sociedade. Em
cada campo de atuação, os tipos de resultados e os graus que os profissionais conseguem
fazer com que alguém (ou algum órgão de alguém) volte a exercer seu papel (ou sua
função) indicarão se o trabalho pode ou não ser denom inado “reabilitar”.
Reabilitação não é o que é feito: é o nome próprio de um processo de trabalho

INDEX
ou de atuação (e, por isso, um processo comportamental) realizado por alguém que
produzirá um resultado. Para avaliar a adequação desse nome, é necessário haver uma
comparação entre o que existia antes, o que passa a existir em múltiplos aspectos do
objeto de intervenção, da sociedade, do ambiente físico, das condições do organismo
ou do objeto de intervenção, dos resultados obtidos, do grau de diferença entre eles e o
que existia antes e sua durabilidade após a intervenção. Isso traz algumas decorrências
para os cuidados com o uso dos conceitos, seu estudo, aprendizagem, ensino e a
nomeação de qualquer atuação profissional. Um bom exemplo disso, e talvez muito

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didático, são os trabalhos de Arquitetura em que o objetivo é reabilitar uma construção
a exercer, mesmo que de maneira não totalmente equivalente, suas funções anteriores
a algum tipo de lesão ou prejuízo (destruição, estrago ou deterioração).
Ainda na Tabela 2, o quarto tipo na hierarquia crescente do grau de abrangência,
complexidade e profundidade de atuação em relação aos problemas é o que recebe o
nome de “recuperação”. Nesse quarto tipo de atuação profissional (e mesmo pessoal,
quando se trata da própria vida particular das pessoas), o objetivo é elim inar ou
corrigir danos produzidos na qualidade das condições de vida ou de saúde dos

GROUPS
organismos, para eles (ou outros tipos de objetos de intervenção) voltarem às
mesmas condições que existiam antes do problem a (de saúde ou outros) instalar-
se ou ocorrer. Esse tipo de intervenção ou atuação profissional também pode ser
considerado satisfatório do ponto de vista da solução dos problemas já existentes nos
indivíduos, em suas vidas, nos ambientes, na sociedade, nos objetos, nos processos de
trabalho ou outros. Mas, pode ser considerado precário do ponto de vista da resolução
de problemas humanos, sociais e ambientais, uma vez que ainda apenas elimina o
problema existente em cada organismo ou situação específica num dado momento e
recupera o que foi perdido depois que aconteceu, mas não elimina a ocorrência ou a
probabilidade de ocorrência do fenômeno indesejável, lesivo, prejudicial, destrutivo ou
desagradável, principalmente em uma abrangência coletiva ou duradoura. Os custos
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social e financeiro desse tipo de intervenção permanecem altos, como nos âmbitos
de atuação anteriormente examinados (ver âmbitos de atuação 1 a 3 na Tabela 2),
e ainda dificultam, ou inviabilizam, uma generalização para múltiplos indivíduos de
uma coletividade ou para uma amplitude de efeitos no ambiente e na sociedade (ou
nas organizações, instituições, processos de trabalho, de convivência, de lazer etc.) que
seja efetivamente de baixo custo social. Significa, em outras palavras, que a atuação
em atenuação do sofrimento, compensação de danos, reabilitação e recuperação das
condições de saúde tende a ser dirigida a indivíduos, e não a coletividades, e é o que
usualmente (ou mais amplamente) caracteriza a atuação profissional: profissionais
atendendo a necessidades individuais de pessoas que buscam serviços com problemas

INDEX
já instalados. Mesmo que realizado com grupos (exemplo de diabéticos, hipertensos,
gestantes, pessoas com prejuízos diversos), a abrangência de atuação costuma ser
restrita àqueles indivíduos que os compõem ou suas famílias. Diversamente, em
uma atuação profissional preventiva, o controle das variáveis, especialmente as
ambientais, que compõem e determinam condições de vida ou de saúde, tende a
abranger o conjunto de pessoas que sofrem ou produzem a ação dessas variáveis,
mesmo que de forma indireta e independentemente da participação individual ou

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consciente dessas pessoas.
Mesmo que o preço (inicial) possa ser mais alto na realização do trabalho nos
âmbitos mais abrangentes de atuação, sem considerar a relação entre preço e benefício
(que indicaria o custo real da intervenção profissional e do benefício produzido),
o que importa é a relação entre preço e resultados. A noção de custo nesses tipos
de intervenção não pode ser reduzida ao preço financeiro. A relação entre preço
financeiro, exigências de esforço e dedicação e benefício total, não apenas para um
indivíduo, momento ou circunstância, é o que dará a noção de custo do trabalho. No

GROUPS
caso dos âmbitos de atuação examinados na Tabela 2, progressivamente, o benefício
parece ser maior e, consequentemente, o custo social, humano (físico, psicológico,
social, cultural etc.) e econômico (não apenas financeiro) menor. Em alguns casos,
muito menor.
Uma das confusões mais comuns em relação ao conceito de prevenção,
particularmente no campo da Saúde, vem da dificuldade em perceber com mais clareza
os limites entre prevenção e recuperação, uma vez que o profissional tem a sensação de
que ao tratar um problema e impedir sua evolução, ele o está prevenindo. Nesse caso,
está tratando o problema (a doença, por exemplo) e diminuindo gradativamente
seus sintomas ou aspectos prejudiciais. Pode, ao tratar um problema ou uma doença,
estar prevenindo o aparecimento de outro e de graus mais acentuados do mesmo,

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mas a doença em tratam ento ou o problema sob intervenção não foi prevenido. Para
exemplificar, quando um profissional trata um a gripe, o faz também para prevenir
uma pneumonia, mas a gripe não foi prevenida. O mesmo acontece quando se trata
uma furunculose e pode-se, nessa ação, prevenir um a septicemia. Prevenir o avanço
ou o desenvolvimento de algo não é a mesma coisa que prevenir a ocorrência
desse “algo”.
Há um quinto tipo de atuação profissional que exige maior quantidade,
especificidade e sofisticação do conhecimento e da tecnologia, relacionados aos
problemas de um organismo, de seu próprio comportamento, de seu ambiente físico
ou social do que os demais tipos de intervenção profissional apresentados. Esse

INDEX
pode ser denominado “preventivo” e seu objetivo é impedir a existência de danos
nas características das condições de saúde, no organismo ou no seu ambiente físico
ou social. Para atuar preventivamente é preciso agir em relação aos fatores que
determinam os problemas e não em relação às características ou sintomas do
problema já existente. Significa que o objeto de atuação profissional não é um
problema existente e sim a probabilidade de sua ocorrência, possibilitando uma
atuação para que o problema, objeto da intervenção, não ocorra.

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Esse tipo de atuação exige um conhecimento muito claro, preciso e amplo sobre
as variáveis determinantes das condições ou características de algum fenômeno ou
processo, especialmente no caso da Saúde: todos os tipos de fenômenos que podem,
existindo ou acontecendo, exercer influência sobre a probabilidade de ocorrência
do fenômeno de interesse da intervenção profissional em qualquer campo. O que
importa é sempre atuar antes que o problema ocorra e de uma forma que ele nunca
venha a ocorrer. Esse é um tipo de atuação que exige preparação e tecnologia muito
elaboradas e específicas, envolvendo várias áreas de conhecimento e, geralmente, mais

GROUPS
de um campo de atuação profissional. Exige, por exemplo, um conhecimento profundo
sobre os fatores determinantes das condições de um organismo ou de qualquer outro
processo, sobre como essas variáveis estão relacionadas entre si e influenciam-se
mutuamente, a respeito de qual tecnologia está disponível para lidar com cada tipo
de variável envolvida e sobre quais campos de atuação profissional precisam ser
incluídos no trabalho sobre a complexa rede de relações entre as variáveis envolvidas.
A direção da atenção, os tipos de comportamento e os objetos de intervenção mudam
muito quando há um trabalho nesse âmbito de atuação profissional. É uma atuação
na qual, mais intensa e profundamente, é necessário um trabalho multidisciplinar
e interdisciplinar conforme o exame de Paviani e Botomé (1993). A distinção entre
campo de atuação profissional e área de conhecimento se torna ainda mais necessária

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e é essencial esclarecer que qualquer campo de atuação profissional não é redutível ao


conhecimento de uma única, ou mesmo umas poucas, área de conhecimento. Qualquer
campo profissional exige conhecimentos de múltiplas áreas para que haja a constituição
de comportamentos que caracterizem a sua atuação. Menos ainda a intervenção pode
ser reduzida a uma pesquisa, uma obra ou um autor, escola ou teoria de preferência
de quem está trabalhando. O reducionismo dos campos de atuação e dos processos
de intervenção a áreas de conhecimento ou a parcelas ainda menores do trabalho de
sua construção são equívocos graves, embora comuns, tanto no conhecimento quanto
no ensino e nos trabalhos de intervenção, desde sua concepção e planejamento até

INDEX
sua realização e avaliação. Isso é demonstrado por Ribes Inesta (1982, 2009), Botomé
(1996) e Kubo e Botomé, (2001) de uma maneira clara e orientadora para a superação
de tais limitações no planejamento e realização da preparação de novos profissionais.
Cabe destacar que mesmo que a atuação preventiva ocorra em relação a um
indivíduo, o controle das variáveis determinantes da sua condição (sua saúde ou sua
aprendizagem, por exemplo) tende a atingir todas as pessoas sob a influência daquelas
variáveis. Isso aumenta a clareza em relação à diferença de abrangência (para mais) que
uma atuação preventiva tende a ter em termos de resultados da atuação profissional.

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Uma variável potencialmente produtora de malefícios, devidamente controlada, pode
beneficiar múltiplas pessoas, incluindo até novas gerações.
O sexto tipo de atuação é denominado “manutenção”. Seu objetivo profissional
não é mais resolver problemas existentes ou impedir os prováveis de acontecer. Mais
uma vez, há uma mudança de direção daquilo que orienta a atenção e o trabalho
(os comportamentos) dos profissionais. Não se trata mais de uma preocupação
com problemas existentes ou prováveis, mas com o que está bem, é bom e precisa
ser mantido assim, mesmo com as múltiplas questões de definição e consenso

GROUPS
social a respeito do que sejam essas qualificações para as condições ou processos. O
objetivo é manter as características adequadas nas condições de vida ou de Saúde
do organismo, no ambiente físico ou social e até nos próprios comportamentos
humanos, preservando e conservando as condições responsáveis pela ocorrência
dos níveis satisfatórios de vida, da qualidade do ambiente, da atividade dos
organismos, da vida social etc. A preocupação orientadora do trabalho profissional
não é mais voltada para problemas de saúde, comportamentos inadequados das
pessoas e características prejudiciais do ambiente ou da sociedade, mas sim para o
que está bem em tudo isso. Todo o esforço é orientado para manter o máximo possível
o que está bem em relação às condições existentes, seja na Saúde, no ambiente, na
organização social ou em qualquer aspecto da vida das pessoas, da sociedade e

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das instituições. Os custos financeiros e de trabalho são menores do que nos tipos
anteriores de atuação e há muito mais possibilidades de trabalhar com coletividades
de organismos, criando condições para grandes contingentes de pessoas manterem o
que já têm de bom em suas vidas. Os ganhos, nessa perspectiva de trabalho, também
são muito maiores do que nos âmbitos de atuação menos abrangentes, onde há sempre
um tipo de problema no foco do trabalho e pouca atenção no que já existe e está
funcionando bem na vida pessoal, na saúde, na sociedade, no ambiente físico etc. A
Economia ou o Planejamento Social (urbano, rural, da produção, das instalações de
uma cidade ou de uma residência) são exemplos de campos de atuação em que tal

INDEX
âmbito ou tipo de atuação pode ser altamente benéfico. Obviamente, as exigências
de preparação ou capacitação para trabalhar nesse âmbito de atuação também não
são simples ou corriqueiras e a multidisciplinaridade (contribuições de várias áreas de
conhecimento) é fundamental para orientar um serviço desse tipo.
O último tipo de atuação profissional apresentado na Tabela 2 é denominado
“promoção” (ou, mais apropriadamente, “promover”). O objetivo do exercício
profissional nessa forma de atuar é melhorar as condições existentes, sejam elas
de saúde de um organismo, de alimentação, moradia, transporte ou quaisquer

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outras que constituam parte do meio ou da vida de um ser humano ou mesmo de
seu ambiente. Mais do que m anter o que está bem, nesse tipo de atuação o que
im porta é a criação de outras e melhores condições diferentes das já existentes
que, mesmo sendo boas, mas podem ser substituídas por outras melhores. Isso é
possível por meio da proposição de novas tecnologias que garantam transformações
nas condições existentes para a vida das comunidades e do meio em que elas vivem,
além das situações pessoais. A produção de novos conhecimentos e tecnologias é
uma exigência básica importante para viabilizar uma atuação profissional desse

GROUPS
tipo. É por isso que a formação científica (capacitar os profissionais para lidar com o
desconhecido, o inexistente ou, pelo menos, o ainda não descoberto) é fundamental
no âmbito do ensino de graduação para preparar pessoas para trabalhar com
“promoção” de melhores condições de vida, de ambiente, da própria natureza etc. A
tecnologia, no entanto, vai ser utilizada ou não, em qualquer grau, conforme variáveis
políticas e administrativas determinantes do seu acesso, de sua aprendizagem e dos
processos envolvidos em sua adoção com as pessoas que constituem o objetivo dos
trabalhos profissionais e de atuação de todos na sociedade.
O trabalho de promoção de melhores condições de vida, no entanto, pode ser visto
em dois graus de abrangência ainda distintos: aperfeiçoamento do que já existe ou
desenvolvimento de novas condições devida (ou de Saúde) nem sequer existentes (como
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a resistência a determinados tipos de doenças por meio de controle genético, o que já


é feito, por exemplo, em alguns trabalhos em Agronomia e Zootecnia). No primeiro
caso, teríamos um tipo de atuação que poderia ser resumido pelo verbo “aperfeiçoar”
(condições de vida existentes) e, no segundo, pelo verbo “promover” (novas condições
de vida - ou de Saúde - que nem sequer existiam antes). Isso exige um trabalho científico
profundo e sistêmico, aliado a uma capacidade de administração e condições políticas
específicas na sociedade, particularmente nos sistema administrativo e educacional
do país. No âmbito dos comportamentos humanos, é necessário mais do que repetir
procedimentos e manter hábitos. É importante inventar novos comportamentos de

INDEX
maior potencial de qualidade de vida para a sociedade. Comportamentos que se
refiram à atividades pessoais (como lazer, convivência familiar, educação dos filhos
etc.), profissionais (procedimentos para o melhor exercício de qualquer profissão)
ou sociais (política, convivência com outras comunidades, pessoas, grupos sociais)
ou, ainda, a interações com a natureza (cuidados com o ambiente, administração de
construções etc.).
Predominantemente, a ênfase do ensino, tanto do médio como do superior, ao
preparar profissionais para atuar em diferentes campos, em particular no da Saúde,

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tem sido voltada para os quatro primeiros tipos de atuação apresentados na Tabela 2.
Isso significa que os profissionais formados (capacitados pelo sistema escolar formal)
apresentam competências para atuar na “atenuação”, “compensação”, “reabilitação” e
“recuperação” de processos ou fenômenos que ocorrem na sociedade já com algum
grau de comprometimento, em especial nos campos de atuação relacionados a
qualquer aspecto da Saúde das pessoas (e até do ambiente ou dos relacionamentos).
Esses quatro tipos parecem ter como característica comum a atenção voltada para os
sinais, sintomas ou consequências de problemas já instalados. E, geralmente, nesses

GROUPS
casos, a atuação fica circunscrita a indivíduos ou organizações (mesmo que sejam
apenas certos grupos de pessoas) com problemas de algum tipo. Embora essa ênfase de
atenção seja mais evidente nos campos profissionais relacionados à Saúde, ela também
existe nos demais. Um exemplo sutil pode ser visto nos casos em que as pessoas apenas
lidam com demandas ou mantêm rotinas de trabalho tradicionais sem se dar conta da
função (resultados importantes) dessas demandas ou rotinas. Há, nesses casos, mais
reatividade a queixas, pedidos e demandas (em geral de indivíduos ou grupos) ou até a
manutenção de rotinas “naturalizadas” e “costumes” (da organização de trabalho, por
exemplo) que, em prazos ou distâncias de porte médio ou longo, acabam produzindo
problemas ainda maiores. E isso nem sequer é notado ou considerado pelos que atuam
com a percepção limitada somente a um ou poucos âmbitos de atuação. No senso-

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comum, isso equivale a atuar constantemente sob influência de rotinas, emergências


e urgências, sem sequer perceber o que é importante ou mais importante. É comum
que tais formas de atuação generalizadas, utilizadas por grupos sob os mesmos
tipos de influência (e, em geral, em algum tipo de interação ou convivência), sejam
denominadas de “cultura”. O que não vai muito além de hábitos desenvolvidos sob
condições similares e que são considerados, por outras pessoas, como aceitáveis ou
“corretos”, generalizando sua ocorrência e aprendizagem por gerações, inclusive.
Os demais tipos de atuação - “prevenção de problemas de saúde”, “manutenção
de condições de saúde” e “promoção em saúde” - por outro lado, possibilitam uma

INDEX
atuação mais voltada para comunidades de indivíduos, exigindo também uma atuação
mais sistêmica, voltada para interferir com o conjunto de relações que determinam a
probabilidade de ocorrência de problemas na coletividade. Isso exige, como ponto de
partida, uma atuação profissional muito mais ampliado que atendimento a queixas,
solicitações, demandas, expectativas ou pedidos relacionados a problemas já existentes
ou a “necessidades sentidas” pelos solicitantes.
Um trabalho que vá além do atendimento direto a problemas já instalados exige
uma muito bem elaborada e desenvolvida formação para lidar com o desconhecido,

BOOKS
caracterizando o que acontece ou pode vir a acontecer por meio de uma cuidadosa
caracterização do problema que precisa ser resolvido pela atuação de qualquer
profissional (Botomé, 1981a, 1987; Botomé & Rosenburg, 1981)Para fazer tal
caracterização há exigência, não apenas descrever o que acontece no âmbito do que está
sendo o núcleo do incômodo (as variáveis que constituem os fenômenos ou processos
que estão acontecendo), mas também caracterizar as variáveis que constituem os
determinantes imediatos, ou em médios ou longos prazos, em relação ao que acontece.
Há ainda exigência de haver capacitação para entender e lidar, de forma precisa,

GROUPS
clara e profunda com conceitos como determinação probabilística (ou sistêmica) em
oposição à simplista noção de “causa e efeito” (determinação absoluta) já abandonada
pela Ciência como maneira de entender e elaborar as relações entre os fenômenos na
natureza. A multideterminação dos processos na natureza e na sociedade exige, como
conhecimento, uma percepção multidisciplinar com contribuições de diferentes áreas
do conhecimento a respeito da ocorrência dos fenômenos e de sua determinação. Sem
isso tudo como repertório de conhecimento e aptidões, os vários âmbitos de atuação
apresentados na Tabela 2 são, em grande parte deles, inviáveis como possibilidades de
atuação para os diferentes campos profissionais.
Tais capacidades de atuação, porém, também são exigíveis nos demais âmbitos
de atuação profissional já examinados (atenuar sofrimento, reabilitar características,
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recuperar danos). Até para decidir qual o âmbito de atuação mais apropriado em
cada situação ou etapa de um trabalho de intervenção é fundamental caracterizar
muito bem o que está acontecendo com o que pode constituir o objeto de intervenção
profissional. Mas, nesses casos, o imediatismo, o adiamento da intervenção ou o
pouco distanciamento do que acontece servem para deixar menos evidente o núcleo
caracterizador do problema e, consequentemente, as possibilidades de solução do
mesmo. É como quem joga o lixo no terreno do vizinho: o “problema”, para quem
o jogou, está “resolvido” se ele considerar apenas as consequências imediatas (seu
incômodo e o alívio decorrente quando joga o lixo fora dessa forma). Porém, em
curto ou médio prazo, as consequências podem apenas aumentar o problema para si

INDEX
próprio e criar novos para as outras pessoas. Com o passar do tempo, algo desse tipo
pode se tornar um problema de proporções gigantescas e muito difícil de resolver.
Apenas atenuar sofrimento relacionado a um pedido ou solicitação pode ser somente
desconhecer o que dá origem ao que está acontecendo e contentar-se com “efeitos
imediatos aliviadores” (e, quase sempre, apenas compensatórios). A analogia serve
para profissionais de diferentes campos de atuação que podem também fazer algo
semelhante com os problemas com os quais se defrontam em sua profissão.
Quaisquer dos âmbitos de intervenção apresentados na Tabela 2, dessa forma, são

BOOKS
exigentes para serem efetivamente modalidades de atuação profissional e não apenas
formas reativas reduzidas a dimensões técnicas da atuação profissional. As dimensões
ética, científica, social, antropológica - ou cultural filosófica (pensar e falar
corretamente com os conceitos, informações e recursos do campo de atuação e das
áreas de conhecimento a ele relacionadas) e outras constituintes da atuação profissional
são importantes para viabilizar procedimentos (“práticas”) diferenciados de trabalho.
E que possa acontecer em qualquer desses âmbitos de atuação e não apenas em alguns,
por limitações de formação ou de compreensão dos fenômenos, dos processos ou da

GROUPS
própria atuação profissional. O descaso com áreas de conhecimento importantes para
um campo de atuação profissional é uma das decorrências da própria incapacidade
de distinguir entre área de conhecimento e campo de atuação e de caracterizar com
clareza e precisão as relações entre ambos.
Cabe destacar ainda que uma dada situação, em qualquer fenômeno ou processo
que constitua objeto ou alvo de trabalho de diferentes campos de atuação, pode
exigir comportamentos em /ários desses âmbitos ao mesmo tempo, ou que uma
ação desenvolvida em um deles tenha efeitos ou resultados que ultrapassem o âmbito
de atuação profissional em si. A complexidade do trabalho, em qualquer um dos
âmbitos descritos acima, é perceptível uma vez que nenhum atendimento profissional

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resume-se ao organismo ou a um evento que se apresenta em determinado serviço


para ter atendidas suas necessidades individuais ou sua alteração circunstancial. Cada
indivíduo é e está em relação a um ambiente numa sociedade mutável e com ele interage
permanentemente e isso põe as obras, o meio, os organismos, os comportamentos
desses organismos, os utensílios, atividades etc. como possíveis objetos de trabalho
desses diferentes âmbitos de atuação profissional em qualquer momento ou tipo de
intervenção profissional que possa ser realizado. Os campos de atuação administrativos,
políticos, jurídicos, sociais, além dos mais específicos (Engenharia Civil, Elétrica,
Química, Psicologia, Enfermagem, Medicina etc.) exercem um papel fundamental e
neles é necessário haver uma atuação muitas vezes forte e intensiva para viabilizar as

INDEX
intervenções profissionais nos âmbitos de atuação mais abrangentes.
Se para denominar as classes de ações propostas em cada tipo de atuação profissional
forem utilizados verbos que as resumam no lugar de substantivos, esses tipos de
atuação poderiam ser chamados de acordo com os termos apresentados à esquerda da
Tabela 2. Os verbos tornam mais precisa a percepção das possibilidades de atuação e
das diferenças entre elas porque se referem à função do que faz o profissional e não a
uma técnica ou modalidade de trabalho que exclui as demais. A ausência de verbos, ou
sua substituição por substantivos, faz considerar essas modalidades de atuação como

BOOKS
se fossem entidades ou “objetos” que existem independentemente de comportamentos
humanos. As expressões à direita da Tabela 2 mostram que há muito mais do que
resolução de problemas já instalados ou prevenção nas várias modalidades de atuação
profissional possíveis em qualquer campo de trabalho. A área da Saúde consagrou
algumas dessas expressões com um nome substantivado (prevenção, curativo,
prevenção secundária, etc.) e isso ajuda na tendência a considerá-las como alternativas
estanques de atuação ou modalidades que não se articulam ou interagem. Essa maneira
de nomear facilita crer que é opção de um profissional em qualquer campo de atuação

GROUPS
trabalhar apenas de uma forma, independentemente das características do problema
que ocorre e que constitui objeto de intervenção.
Comparando a Tabela 1 (classificação de prevenção segundo Leavell e Clark ,1976)
com a Tabela 2, baseada no exame de Rebelatto e Botomé, (1987), é possível obter
uma representação mais elaborada dos tipos de atuação profissional conforme está
apresentado na Tabela 3. Na parte superior da Tabela 3 estão apresentados os níveis
de aplicação de medidas preventivas propostos por Leavell e Clark para o campo
da Saúde. Esses âmbitos de atuação (nesta classificação consagrada: “promoção à
saúde”, “proteção específica”, “diagnóstico precoce e tratamento adequado”, “limitação
da invalidez” e “reabilitação”) são considerados partes integrantes do fenômeno

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"prevenção". Na parte inferior da Tabela estão apresentados tipos possíveis de


atuação profissional, elaborados por Rebelatto e Botomé (1987) e ampliados, nessa
representação, para qualquer campo de atuação profissional, não apenas para o da
Saúde.

TABELA 3
Comparação entre os tipos de atuação profissional propostos por Leavell e Clark
(1972) em relação ao trabalho profissional no campo da Saúde e por Rebelatto e
Botomé (1987) em relação ao trabalho profissional em qualquer campo de atuação
profissional

INDEX
PREVENÇÃO PRIMÁRIA

Promoção
da saúde
(CONCEPÇÃO APRESENTADA POR LEAVELL E CLARK)

Proteção
especifica 1
PREVENÇÃO SECUNDÁRIA

Diagnóstico
precoce e
tratam ento
adequado
Limitação da
invalidez

(CONCEPÇÃO APRESENTADA POR REBELATTO E BOTOMÉ)


PREVENÇÃO TERCIÁRIA

Reabilitação

BOOKS
Promover Manter Prevenir Recuperar Limitar Reabilitar Atenuar
melhores boas problemas condições dano em relação sofrim ento
condições condições na vida devida já existente a danos já em
de vida de vida das prejudicadas nas existentes situações já
pessoas condições irreversíveis
de vida

GROUPS
O exame da Tabela 3 possibilita notar que, segundo esses últimos autores, no
campo da Saúde, “prevenir problemas” e “atenuar sofrimento” são dois tipos de
atuação profissional que não encontram ações correspondentes no esquema proposto
por Leavell e Clark. Também é possível perceber que “prevenção”, na parte superior
da Tabela 3, corresponde a uma categoria ampla de comportamentos profissionais,
da qual múltiplas formas de atuação fazem parte e que nem sempre podem ser
consideradas como “prevenção”, pelo menos não do mesmo tipo de fenômeno. Por
exemplo, corrigir um problema e prevenir seu desenvolvimento não são uma única
forma de atuação. Uma envolve fazer parar a existência do problema e a outra, impedir
>eu desenvolvimento ou nova ocorrência. Na parte inferior da Tabela 3, “prevenção”

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corresponde a um dos sete tipos (ou âmbitos) possíveis de atuação, cujas ações
profissionais específicas são diferentes em vários aspectos. Com esse entendimento,
mesmo que apenas restrito ao campo da Saúde, o conceito de “prevenção” não possui
a abrangência sugerida por Leavell e Clark, havendo uma especificação maior e com
outros nomes (diferentes de “prevenir”) de vários tipos (ou âmbitos de abrangência)
de atuação profissional.
Há uma nítida diferença de referencial entre as duas formas de organização das
possibilidades de trabalho apresentadas pelos autores. Para Leavell e Clark (uma
concepção predominantemente biomédica?), a “prevenção” é um tipo de atuação
que contém as ações promoção, proteção, diagnóstico precoce, tratamento imediato
e reabilitação. Para Rebelatto e Botomé (uma concepção mais sistêmica e abrangente,

INDEX
que pode atingir qualquer campo de atuação profissional), “prevenir problemas” torna-
se um tipo ou modalidade possível de atuação profissional, do qual os outros âmbitos
de atuação (promoção, proteção, manutenção, tratamento, limitação, reabilitação,
atenuação) não fazem parte. Isso não significa apenas mudar a localização ou posição
do conceito entre outros conceitos, mas alterar o núcleo de entendimento do próprio
conceito do que seja "prevenir a ocorrência de problemas” (de saúde ou de qualquer
outro tipo). Entender “prevenir” como um dos possíveis tipos de atuação profissional

BOOKS
deixa evidente uma lacuna de conhecimento a ser preenchida ainda com mais clareza e
informação do que as categorias de Leavell e Clark possibilitam. Na segunda alternativa
de entendimento apresentada na Tabela 3, as ações profissionais (comportamentos
próprios de qualquer campo de atuação profissional) ainda precisam ser melhor
definidas, explicitadas e caracterizadas do que o estão em cada um desses âmbitos de
atuação indicados, particularmente, no que é próprio, típico, definidor ou delimitador
do âmbito de atuação denominado “prevenir”.
Tudo, ou quase tudo, que o profissional faz pode ser classificado, no sistema de

GROUPS
referência de Leavell e Clark (que vigorou com muita difusão até a década de 1990),
como um “comportamento profissional preventivo”, o que torna o termo pouco útil para
delimitar uma determinada modalidade de atuação. Na forma de entender e conceituar
“prevenir” apresentada por Rebelatto e Botomé (1987), as ações ou comportamentos
preventivos dos profissionais são considerados de maneira distinta e ainda precisam
ser explicitados de forma a deixar claro quais as ações de caráter mais específico. Essas
ações não devem ser confundidas ou misturadas com os outros seis tipos de atuação
profissional indicados pelos autores que examinam os mesmos conceitos de Leavell
e Clark, mas apresentam uma concepção que envolve uma especificidade de vários
outros tipos de atuação, nomeando-os de maneira diferenciada.

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Entender “fazer prevenção de algo” como uma categoria de atuação profissional


(categoria de condutas ou comportamentos) exige formular, no mínimo, as seguintes
perguntas: 1) quais ações constituem prevenir?; 2) que situações necessitam dessas
ações que constituem esse processo denominado “prevenir”?; e 3) quais resultados
dessas ações indicam que o profissional, de fato, atuou preventivamente? Para
responder essas questões, referentes aos três aspectos constituintes do comportamento
de prevenir (situação existente, ações a apresentar e resultados a obter), ainda
é necessário desenvolver uma melhor explicitação do significado do conceito
“prevenção” (ou “prevenir”).

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1.3 0 núcleo definidor do conceito de prevenção como


uma modalidade de atuação profissional

Prevenir é um verbo que resume os efeitos que a atuação profissional tem que
produzir no ambiente. A palavra “prevenir”, por si só, não esclarece os tipos de ações
a serem desenvolvidas, mas indica os resultados que essas ações precisam produzir:
evitar que um problema (a doença, no caso da Saúde, ou outros tipos de acontecimentos
em outros campos de trabalho na vida humana) ocorra ou se instale. A produção
desse tipo de resultado (que algo não ocorra e nem comece a ocorrer) depende

INDEX
dos tipos de ações que o profissional executa em relação às múltiplas variáveis que
determinam (sempre considerando determinação probabilística com múltiplas
influências e não determinação absoluta em relações simplistas de “causa-efeito”) as
condições indesejáveis (de perda ou diminuição de saúde do indivíduo, no caso do
campo da Saúde). Ações precisam ser realizadas em relação aos determinantes e não
apenas na situação indesejável que está ocorrendo ou já ocorreu. No caso da saúde,
não simplesmente em relação à doença do indivíduo, ou de grupos de indivíduos e,
sim, em relação aos possíveis determinantes dessa doença, antes que eles exerçam

BOOKS
sua ação. As situações com que lida um agente de prevenção, nesse sentido, são
situações de risco. Nas quais há sinais de probabilidade de ocorrência daquilo que
precisa ser prevenido.
Nessa concepção, prevenir significa agir (desenvolver ações profissionais) no
ambiente (sinais de probabilidade de ocorrência de algo) para impedir que os fatores
determinantes (múltiplas variáveis) da ocorrência de um problema exerçam sua ação,
provocando tal ocorrência (novamente, no caso de exemplos do campo da Saúde, que
acarretem problemas de saúde nos indivíduos). O resultado da atuação, nessa situação,

GROUPS
é manter baixa ou nula a probabilidade de ocorrência do fenômeno de interesse. Em
síntese, isso equivale a dizer, de maneira genérica: atuar em relação a um fenômeno
ou processo, antes que ele ocorra e de tal forma que ele não venha a ocorrer. É
trabalhar com a probabilidade de algo acontecer e não com o acontecimento em si
mesmo. Por isso, as expressões “situação de risco”, “probabilidade de ocorrência”,
“tendência a ocorrer” e “situação de vulnerabilidade” podem ser importantes para
entender a atuação preventiva de um profissional quando trabalha em relação
a algum tipo de fenômeno ou processo indesejável na sociedade. Para alguns
profissionais, inclusive, há expressões que constituem elementos mobilizadores de
atenção e recursos para atuar: os indicadores de risco (de algo). Na meteorologia isso

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já é conhecido. Bombeiros, em vários lugares do mundo, já utilizam indicadores de


vários tipos (movimento de veículos, indicadores climáticos e até financeiros) para
orientar sua preparação para atuar e impedir certos tipos de incidentes: acidentes,
catástrofes, ferimentos, riscos de morte (ou riscos à vida) e suicídios. Certos eventos
na sociedade, quando ocorrem, aumentam a probabilidade de outros eventos danosos
às pessoas e, com o conhecimento dessa relação de influência, é possível agir antes que
tais decorrências aconteçam. Indo mais longe, é possível trabalhar para que elas não
venham mais a ocorrer.

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PARTE 2
"PREVENIR PROBLEMAS" como parte de um sistema de
comportamentos profissionais complexo e abrangente

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PARTE 2

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"PREVENIR PROBLEMAS" como parte de um sistema de


comportamentos profissionais complexo e abrangente

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“Prevenir problemas” constitui um conjunto de comportamentos (ou, em
uma linguagem mais comum e conhecida ou aceita: “competências”, “aptidões”,

BOOKS
“habilidades”) profissionais complexos. “Prevenir” quer dizer atuar antes que os
problemas de saúde aconteçam para impedi-los de ocorrer (Rebelatto & Botomé,
1987) e pode ser melhor entendido pela especificação das ações profissionais que
precisam ser desenvolvidas para obter esse resultado. Significa, em outros termos,
que o profissional, ao agir preventivamente, necessita estar apto a controlar, em cada
situação, fatores que determinam a ocorrência de problemas de saúde (Stedile, 1996).
Esse controle engloba uma grande quantidade de “capacitações” (comportamentos
profissionais desenvolvidos) que precisam ser especificadas de acordo com as

GROUPS
situações nas quais ocorrem as relações entre as variáveis determinantes das condições
que podem constituir problemas. Envolvem, portanto, um número significativamente
grande de comportamentos profissionais a serem aprendidos em algum momento do
desenvolvimento de uma capacitação profissional para habilitar alguém a “prevenir”
acontecimentos indesejáveis.
Desenvolver esses comportamentos deixa de ser apenas uma necessidade para
haver um compromisso com a melhoria das condições de vida da população, uma vez
que a atuação preventiva pode reduzir a influência de fatores de risco para indivíduos
e comunidades, impedindo a ocorrência de problemas em maiores contingentes
populacionais por aumentar a cobertura e abrangência das ações profissionais. Por ser

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uma forma de trabalho desenvolvida com menor frequência do que seria necessá io,
ensiná-la significa não apenas romper com o ensino tradicional, mas organizc-la
dentro de outro referencial diferente do comum: o que não espera o organismo ou
a sociedade ter problemas (entre eles, adoecer) para recuperar, tratar, reabilitar ou
“consertar” de alguma forma o que já aconteceu ou está acontecendo.
Nesse contexto, um dos objetos de atuação profissional para prevenir problemas
na sociedade são as situações onde eles ocorrem. Investigá-las constitui uma condição
para identificar quais variáveis fazem parte da situação, como elas estão relacionadas
entre si, quais fatores influenciam essas relações, o que é necessário obter como
resultado do controle dessas variáveis, qual tecnologia existente pode ser utilizada
e quais precisam ser desenvolvidas. Assim como identificar quais conhecimentos

INDEX
estão disponíveis e quais precisam ser produzidos para exercer com eficácia esse
controle, a ponto de ser possível contribuir para evitar que problemas se instalem ou
se desenvolvam na sociedade.
É importante destacar que esse controle (ou o manejo dessas variáveis), muitas
vezes, não pode ser exercido por um profissional isoladamente. Quando as variáveis
envolvidas são muito complexas, a identificação das mesmas permite perceber as
forças de influência de umas sobre as outras e decidir pelo desenvolvimento de ações
inter, multi e transdisciplinares, ou ainda intersetoriais (entre campos de atuação

BOOKS
profissionais), que possam aumentar a probabilidade de controlá-las. Em função de
tais características, algumas variáveis são controladas diretamente pela atuação de um
profissional (por exemplo, variáveis presentes no ambiente doméstico, ou relacionadas
a cuidados de enfermagem ao indivíduo e sua família); outras exigem a ação
coordenada de vários profissionais (por exemplo, variáveis nutricionais e ambientais);
ou mesmo pela integração de esforços de diferentes setores que se relacionam com
a situação específica onde esse controle precisa ser exercido (por exemplo, variáveis
relacionadas às condições socioeconômicas, políticas, ambientais etc.).

GROUPS
Controlar ou manejar fatores (variáveis ou conjuntos delas) que determinam
a ocorrência de problemas é um tipo (ou uma classe) de comportamentos muito
complexo. Para facilitar o processo de desenvolvimento das aprendizagens envolvidas
na sua execução, é necessário descobrir quais comportamentos menos complexos,
“ou mais específicos”, possibilitam o desenvolvimento dessa categoria complexa e
realizar “esse controle” de variáveis relevantes para um trabalho de prevenção. Nesse
caso, por exemplo, o controle contínuo das variáveis que interferem nas condições
de vida da população de uma comunidade, região ou agrupamento humano exige
diferentes comportamentos (aptidões, competências ou habilidades). Alguns deles

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foram apresentados por Stedile (1996): 1) identificar propriedades do conceito de


prevenção que deixem claro qual é o referencial central desse conceito; 2) caracterizar a
comunidade em seus aspectos socioeconômicos, políticos, culturais e ambientais, por
meio de: 2.1) coleta de dados sobre as condições de vida existentes; 2.2) organização,
tratamento e análise dos dados coletados sobre as condições de vida da população
e 2.3) interpretação dos dados coletados; 3) hierarquizar variáveis determinantes
das condições de vida da população de uma comunidade, região ou agrupamento
humano; 4) caracterizar os problemas (“hipóteses diagnosticas”?) existentes nas
condições de vida da população; 5) projetar formas de intervenção frente às variáveis
consistentes com as suas características e forças de influência; 6) interferir em variáveis
determinantes dos problemas de vida; 7) avaliar os resultados de uma intervenção

INDEX
no controle de variáveis que determinam condições de vida e 8) desenvolver
conhecimentos específicos necessários a uma intervenção profissional selecionada.
Embora a autora estivesse orientada mais especificamente para as condições de saúde
de uma comunidade, a expressão “vida” amplia a sua proposta, sem distorcer seu
conceito de “saúde”, sendo útil para estender tais comportamentos como repertórios
importantes para múltiplos campos de atuação profissional.
Em outras palavras, atuar preventivamente em relação aos problemas existentes
significa não esperar os “doentes” nas instituições de saúde para “curá-los”, assim

BOOKS
como não significa esperar os problemas produzirem lesões sociais para então
corrigi-los. Pressupõe ser capaz de identificar variáveis componentes e determinantes
das condições de saúde ou de outros problemas na sociedade, estabelecer critérios de
priorização das variáveis identificadas, descrever como essas variáveis se relacionam
e se influenciam mutuamente, observar e avaliar a realidade constantemente, assim
como propor e desenvolver estratégias de controle dessas variáveis com a maior
rapidez possível. Cada conjunto de ações, por sua vez, exige que qualquer profissional

GROUPS
esteja apto a tomar decisões relacionadas à resolução de problemas existentes ou
que possam vir a existir. Isso tudo, sem dúvida, exige das instituições de ensino a
capacitação do que poderia ser denominado “alto nível de autonomia” intelectual,
para avaliar modalidades de intervenção profissional em qualquer tipo ou estágio
de ocorrência de problemas que constituam objetos de trabalho de um campo de
atuação. A quantidade de comportamentos não usuais e o conceito de prevenção de
problemas possibilitam perceber com maior clareza a abrangência e a potencialidade
das ações (comportamentos) para reduzir os danos decorrentes da instalação de
problemas na sociedade.

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2.1 Relações entre o conceito de prevenção e a classe de


comportamentos profissionais, denominada "prevenir
a ocorrência de problemas"

Os tipos (ou classes) de atuação profissional denominados “atenuação de


sofrimento ou prejuízos”, “compensação de danos definitivos nas condições de vida das
pessoas”, “reabilitação em relação a danos sofridos e suas consequências”, “recuperação
de condições perdidas”, “prevenção de ocorrência de problemas”, “manutenção de
boas condições de vida” e “promoção de melhores condições de vida” (Rebelatto &
Botomé, 1987) são igualmente importantes do ponto de vista dos serviços necessários

INDEX
para indivíduos, para grupos de pessoas, para organizações, comunidades ou para a
sociedade como um conjunto. Eles, porém, não são opções arbitrárias dos profissionais
de qualquer campo de atuação, especialmente o da Saúde. O que determina a atuação
profissional - ou a decisão de atuação - em cada um desses tipos de intervenção é
o grau de qualidade das condições de vida dos indivíduos, grupos, organizações,
comunidades ou sociedade e os recursos disponíveis ou acessíveis para realizar as
intervenções mais apropriadas para alterar essas condições. Além desses aspectos
determinantes, os tipos de resultados que precisam ser produzidos pela atividade

BOOKS
profissional também devem ser igualmente levados em conta para definir o tipo de
atuação necessária ou mais apropriada para cada situação. Quando um indivíduo
apresenta dor e desconforto como consequência de, por exemplo, uma fratura, necessita
de uma atuação profissional imediata, voltada para atenuação da dor e sofrimento,
recuperação da saúde (pela redução da fratura) e reabilitação posterior (para recuperar
o máximo possível as funções desempenhadas pela parte do corpo lesada, mesmo que
não seja a recuperação total). Analogicamente, o exemplo pode valer para relações
sociais, afetivas, comerciais, políticas, jurídicas, políticas, profissionais, financeiras e

GROUPS
outras ou para processos de trabalho em qualquer campo de atuação.
A decisão a respeito de que tipo de atuação é necessário ou mais apropriado para
cada situação, ou cada etapa de uma intervenção em uma situação de trabalho, é
sempre algo que o profissional precisa realizar com cuidado e precisão. Não basta
“fazer o que sabe” ou “aplicar técnicas”. Mais do que know how (apresentar os
comportamentos relacionados a como fazer algo) é necessário know what (apresentar
os comportamentos relacionados aos processos de decidir o que é relevante fazer
diante das condições existentes) e know why (apresentar os comportamentos
relacionados às razões para fazer algo, tanto pelas características da situação quanto

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pelas consequências ou resultados importantes a serem produzidos ou obtidos de


acordo com as condições de atuação). Esses três conjuntos de comportamentos
(denominados sinteticamente pelas expressões em inglês) são indispensáveis e
inseparáveis como aprendizagens importantes para decidir que tipo de atuação é mais
apropriado para cada caso e momento da intervenção num mesmo caso e realizá-los
com a competência ou perícia apropriadas, o que envolve muito mais do que aptidões
técnicas ou instrumentais. Os processos de decisão precisam considerar, mais do
que as aprendizagens técnicas, os instrumentos de trabalho, e mesmo as tradições,
burocracias, “práticas convencionais” ou hábitos (retóricos, de pensamento ou de
atuação) já desenvolvidos e, geralmente, arraigados.
A capacidade de identificação, caracterização e avaliação das variáveis envolvidas

INDEX
em uma intervenção tem, geralmente, muito mais variedade e complexidade do que
uma atuação técnica, quase limitada a um trabalho de “despachante”, baseada em umas
poucas regras (normas, hábitos, legislação, preferência ou ideologia etc.) delimitadoras
da atuação. Atuação técnica, geral e perigosamente, aliada à incapacidade de perceber e
avaliar a multiplicidade de aspectos a considerar em cada caso. Com essas limitações, é
como se as regras, tradições, hábitos ou técnicas conhecidas fossem as únicas variáveis
e tivessem o valor de condições imutáveis ou impossíveis de considerar de outras
formas que não de uma única (e absoluta!) maneira ou entendimento. É impossível

BOOKS
atuar em âmbitos complexos de atuação profissional se tais condições predominarem
na formação ou na atuação em algum campo de trabalho.
Do ponto de vista do efeito multiplicador da atuação profissional nas condições de
vida da população, os tipos de atuação profissional são significativamente diferentes.
Enquanto no exemplo dos tipos de intervenção apropriados a um organismo que
sofreu uma fratura, as formas de atuar denominadas por “atenuação”, “recuperação”
e “reabilitação” estão circunscritas ao atendimento prestado ao indivíduo (e, no
máximo, à sua família), no tipo de atuação denominado “prevenção”, o objeto

GROUPS
preferencial são as variáveis que determinam diferentes graus na probabilidade de os
indivíduos realizarem fraturas nas condições em que vivem. Trata-se, nesse caso, de
ser capaz de avaliar risco (probabilidade de ocorrência, tendência) de acontecimentos
prejudiciais e atuar nas variáveis que o determinam (influem, provocam) de forma a
diminuí-lo ou anulá-lo. Ainda nesse caso, a atuação profissional passa a ser no controle
(e manejo) dos aspectos do ambiente que determinam o risco, e tendem a envolver,
por exemplo, projetos de edificações e residências, planejamento urbano, organização
do trânsito, construção de condições de saneamento, oportunidades de ambientes de
lazer, planejamento de ensino, entre outros, que serão desfrutados ou utilizados por

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um conjunto maior de indivíduos além daqueles lesados por uma possível falta desse
controle ou pelos tipos de procedimentos de agentes que lidam com as variáveis em
jogo. Em outras palavras, quando a atuação profissional tem como objetivo controlar
variáveis que compõem e determinam condições de vida dos indivíduos de forma a
impedir sua ação lesiva, há alta probabilidade de que os efeitos produzidos por esse
controle modifiquem a qualidade de vida do conjunto de pessoas em questão e, como
aspectos dessa qualidade, melhorem ou protejam a própria saúde dos indivíduos ou
outros aspectos de suas vidas.
Capra (1982, p.131), em um exame sobre a relação entre Medicina e Saúde afirma:
“as intervenções biomédicas, embora extremamente úteis em emergências individuais,

INDEX
têm muito pouco efeito sobre a saúde de populações inteiras. A saúde dos seres
humanos é predominantemente determinada, não por intervenção médica, mas pelo
comportamento, pela alimentação e pela natureza de seu ambiente”. Nesse comentário,
Capra exemplifica alguns tipos de variáveis que influem direta e fortemente nas
condições de saúde de um organismo. Ele, nesse exemplo, refere-se à possibilidade
de uma intervenção profissional que se estenda além dos problemas já instalados
e supere os limites de um problema que seja alvo de uma intervenção profissional
específica e limitada a uma situação. A não ser que a palavra “problema” signifique

BOOKS
algo que envolva determinantes múltiplos, não necessariamente imediatos ou em
curso, probabilidade de ocorrência de algo indesejável e decorrências em diferentes
tempos e de diferentes tipos em relação a um acontecimento específico. Conforme o
campo de atuação profissional, múltiplos aspectos em variadas abrangências podem
ser considerados “o problema” e isso acarreta a exigência de um exame complexo e
muito bem feito para orientar as características de um procedimento de intervenção.
O tradicional conceito de “diagnóstico” (principalmente em suas analogias fora do

GROUPS
campo da Saúde), entendido como “localização ou inclusão de sinais e sintomas em
uma categoria (de “causalidade”?) previamente conhecida e classificada” e que “explica
a ocorrência desses sinais e sintomas”, fica insuficiente e inadequado. Precisa haver
sempre uma “caracterização do problema a ser resolvido”. E, nesse caso, o “problema”
não é redutível à “categoria de inclusão dos sinais e sintomas observados”.
O entendimento de Saúde que Capra defende é ampliado para além da ausência
da doença. Essa ampliação da forma de entender a Saúde não é nova. Nova é sua
incorporação nas decisões e no raciocínio cotidiano. A descoberta da forma de
transmissão do cólera, por exemplo, na Inglaterra do século XVII, em contraponto a
teoria dos miasmas, somente foi possível porque o médico Snow (conforme Johnson,
2fXj8), vivendo no meio da população afetada, observou cuidadosamente os fatores

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ambientais que poderiam ser responsáveis pelo contágio. Suas descobertas graduais o
levaram a defender que essa fosse uma doença de transmissão hídrica e seus achados
mudaram a forma da humanidade tratar seus dejetos e a lógica do saneamento básico
das cidades (Johnson, 2006). O conhecimento a respeito dos processos bacterianos, que
muito contribuiu para o entendimento da relação entre ser hum ano e agente etiológico,
interrompeu essa forma de pensar (integrando variáveis biológicas com outras
ambientais) de tal modo que foi (e continua sendo) necessário reaprender a identificar
e propor maneiras de controlar as múltiplas variáveis que compõem e determinam
problemas de saúde, quer em um indivíduo, quer seja em uma coletividade.
Controlar variáveis que compõem e determinam diversos graus nas condições de

INDEX
vida dos indivíduos abrange um conjunto de ações profissionais em vários âmbitos
do sistema de relações entre fenômenos e processos que constituem o ambiente, os
organismos, as relações entre eles etc. Desde os níveis mais microscópicos (atômico,
químico, físico, fisiológico), até outros de diferentes graus de microscopia (biológico-
individual), chegando a níveis macroscópicos de relações entre tais fenômenos e
processos (social, administrativo, econômico, jurídico, político, ecológico), conforme
explicitam Rebelatto e Botomé (1987, p. 192), nos quais ocorrem os fenômenos

BOOKS
relacionados às condições de vida dos organismos e nos quais é possível realizar exame,
caracterização e interferência. As variáveis que precisam ser controladas para efetivar
um trabalho em relação a esses fenômenos podem estar circunscritas ao indivíduo
diretamente, podem estar presentes no ambiente em que esse indivíduo vive ou ainda
pertencer a um sistema mais amplo, inclusive temporalmente distante. Isso significa
que as variáveis podem fazer parte do subsistema do indivíduo ou do sistema mais
amplo na sociedade, conforme Chaves (1980) destaca que ocorre, por exemplo, no
campo da Saúde.

GROUPS
Em outros campos de atuação, isso pode ter ênfase em diferentes graus de
abrangência em relação às variáveis relevantes existentes no entorno da ocorrência de
um evento de interesse como foco ou alvo de um trabalho. Os estudos de criminologia,
por exemplo, poderiam beneficiar-se muito da ampliação da consideração das
variáveis que determinam a ocorrência de crimes com o estudo das possibilidades de
atuação em todos esses âmbitos. A tradição tende a focar o trabalho no criminoso e em
condições mais próximas e imediatas em sua vida como organismo individual (como
se fosse independente de seu meio) e ignorar ou considerar muito pouco variáveis
mais distantes ou abrangentes no ambiente, na sociedade e na história de vida de quem
é qualificado como criminoso em uma determinada circunstância.

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Atuar de acordo com esses âmbitos de trabalho exige diferentes e complexos


tipos de concepção do que constitui a saúde, a sociedade, a administração pública,
uma instituição, um organismo humano ou animal, o sistema social ou o subsistema
que delimita cada campo de atuação. Assim como o que seja cada um dos tipos de
fenômenos nucleares dos quais se ocupa cada campo de atuação profissional e o que,
como decorrência, constitui o papel desses profissionais. As construções de casas em
uma encosta na qual foi feito um aterro sanitário, por exemplo, envolve múltiplas
dessas variáveis como determinantes de deslizamentos do terreno e soterramentos
de casas e pessoas, com perda de patrimônio, de vidas e de alterações graves na
existência de muitos seres humanos por mais de uma geração. Atribuir o deslizamento

INDEX
a um excesso de chuva circunstancial é ignorar todos esses conceitos e possibilitar
que os efetivos responsáveis (pessoas, seus comportamentos ou variáveis outras)
pelas múltiplas condições que levaram à ocorrência do deslizamento do terreno nem
sequer sejam identificados. Durante muito tempo “alguém jogou o lixo no terreno do
vizinho” até que, um dia, o ponto de concentração de variáveis indesejáveis provocou
danos de difícil ou impossível recuperação em qualquer entendimento que seja feito
dessa analogia.
A complexidade dessas relações não pode ser pretexto para desconsiderá-las, seja

BOOKS
no contexto da atuação profissional, seja no da educação ou de preparação para o
exercício de uma profissão na sociedade. Pelo contrário, tal complexidade é razão para
uma preparação mais cuidadosa, bem planejada e profissional das novas gerações para
atuarem em diferentes campos de trabalho. E, assim, utilizarem o conhecimento de
múltiplas áreas, transformando esse conhecimento em comportamentos concretos de
qualquer um dos âmbitos de intervenção possíveis para atender não apenas às rotinas
e ofertas de emprego ou demandas sociais (características marcantes do conceito de
mercado de trabalho), mas, principalmente, às efetivas e mais profundas, abrangentes,

GROUPS
duradouras ou permanentes necessidades sociais, sempre nucleares no conceito de
campo de atuação profissional (Botomé, 1988), sem confundi-lo com o conceito de
área de conhecimento ou tipos específicos de conhecimentos ou até mesmo conjuntos
de técnicas de trabalho. Nem mesmo reduzi-lo a obra de um autor, “teoria” ou “escola”
e suas extensões ou “periferias’' de conhecimento.
Para prevenir problemas na sociedade, os profissionais se defrontam com diferentes
tipos de situações, em graus de complexidade também diversos. A atuação preventiva
exige que cada profissional esteja apto a lidar não apenas com os problemas de seu
campo de atuação e como eles se apresentam, mas com uma complexa rede de relações
entre variáveis que determinam (influenciam em diversos gradientes e modalidades)

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múltiplos graus de cada uma das condições de vida das pessoas, especificamente das que
dizem respeito ao tipo de fenômeno ou processo com o qual deve lidar nas instâncias
ou âmbitos ilustrados na Tabela 3. É necessário avaliar, por exemplo, tipos de relações
entre variáveis (oferta de emprego, formas de subsistência acessíveis, procedimentos
básicos de interação com o ambiente, formas de enfrentamento dos problemas de
saúde, de educação, de trabalho, de administração pública ou organizacional privada,
de administração do sistema que constitui o campo profissional, de organização
comunitária etc.) e dessas variáveis com os níveis de qualidade de vida da população
e de cada indivíduo dessa população (por exemplo, recém-nascidos, jovens, idosos,
gestantes, pessoas pobres, crianças e deficientes físicos...).

INDEX
Considerando isso, não basta lidar, mesmo que de maneira adequada, com
situações já existentes e conhecidas para realizar uma atuação preventiva. Por
exemplo, episódios de doença, categorias de classificação das mesmas e técnicas
ou recursos para tratamento em cada categoria ou qualquer tipo de problema e as
técnicas e recursos já conhecidos para resolvê-los. É importante também lidar muito
bem com a probabilidade de que os problemas possam ocorrer e com as variáveis que
interferem com essa probabilidade de ocorrência. Inclusive de variáveis que possam
ser desconhecidas, ou já estudadas em áreas de conhecimento diferentes daquelas

BOOKS
com as quais o profissional está acostumado a examinar, ou daquelas que os cursos
costumam considerar como importantes para a capacitação profissional.
Atuar a partir da probabilidade de ocorrência de um problema é essencialmente
diferente de atuar nesse problema quando ele já ocorreu. Fundamentalmente porque,
para atuar na probabilidade de ocorrência dos problemas é necessário identificar e
controlar as ações dos determinantes desses problemas e não apenas lidar com as
manifestações de tais problemas. Tais determinantes, mais do que seus resultados
(o que eles influenciam), são estudados de maneira diferente por múltiplas áreas de

GROUPS
conhecimento em relação a vários de seus aspectos. Para intervir em uma condição
de vida (ou para a vida) já alterada e prejudicada - constituindo um problema - é
costumeiro identificar o que (sinais e sintomas?) caracteriza tal problema, fazer
diagnóstico (incluir tais sinais e sintomas em categorias de problemas já existentes)
e dispor das técnicas de intervenção também existentes (e com indicação orientadora
para seu uso vinculada à categoria de inclusão) para, de alguma forma, recuperar as
condições de vida que foram alteradas no âmbito da categoria a qual tais condições
alteradas pertencem. Diferentemente, atuar sobre a probabilidade de ocorrência
de uma condição de vida, ou de alguma forma relacionada a ela, é uma forma de
evitar que os problemas aconteçam e, assim, impedir ou não permitir o aparecimento

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desses sinais e sintomas e das alterações (nas variáveis existentes na sociedade) que os
produzem. E, sendo assim, é necessário atuar com uma amplitude e variedade muito
maior de variáveis que constituem o ambiente no qual ocorre (ou pode ocorrer) algum
evento. Um exemplo clássico desse fenômeno é a redução de recursos e de sofrimento
decorrentes do controle das variáveis que aumentam a probabilidade de ocorrência de
acidentes de trânsito. Ou seja, um trânsito bem planejado, cujas variáveis relacionadas
ao fluxo de veículos e sinalização são bem controladas em determinado ambiente, evita
a ocorrência de lesões que sobrecarregam os serviços públicos de saúde, ou outros, e
provocam lesões definitivas ou mortes, além de graves prejuízos para muitas pessoas.

INDEX
Desenvolver comportamentos (capacidades, aptidões, competências, habilidades
ou qualquer outro nome que seja usado ao referir-se à atuação humana) para lidar
com risco e probabilidade de ocorrência de determinados problemas de saúde exige
várias noções de Epidemiologia, um tipo de conhecimento que muito contribuiu para
o entendimento da relação entre condições de vida e ambiente. Tais conhecimentos
sistematizados possibilitam entender a complexa rede de relações entre variáveis
determinantes dos problemas e comportamentos, além das tendências evolutivas de
tais variáveis e dos problemas que as ações de tais variáveis acarretam para a sociedade.

BOOKS
Para Rouquayrol (2009), a Epidemiologia ocupa-se, entre outras atribuições, do
estudo do “processo saúde-doença” em coletividades humanas, analisa a distribuição
e variáveis determinantes das enfermidades e danos à saúde e eventos associados
à saúde coletiva. A análise de variáveis determinantes, no caso da Saúde, envolve a
aplicação de método específico para o estudo de possíveis associações entre um ou
mais fatores de risco: físicos, químicos, biológicos, sociais, econômico, culturais etc.
Em outros campos de atuação profissional o processo é análogo para qualquer tipo
de problema que se apresente aos agentes desses campos. A Epidemiologia não é uma

GROUPS
“outra teoria”. É, antes, uma tentativa de ampliar e sistematizar a integração entre
muitas áreas e tipos de conhecimento para caracterizar com clareza e precisão o que
são os aspectos constituintes e determinantes de um problema que seja objeto de um
trabalho ou intervenção profissional.
Segundo Rouquayrol e Goldbaum (2003), a Epidemiologia, ao estudar as
influências externas que interagem na conformação de uma patologia (período pré-
patogênico), toma a prevenção possível. Prevenção que só é possível pelo estudo
da História Natural de uma doença, que compreende dois períodos sequenciados:
llHVd

1) período epidemiológico (focado nas relações indivíduo e ambiente) e 2) período


patológico (focado nas modificações que se passam no organismo vivo). Tais
62 períodos correspondem aos denominados períodos pré-patogênico e patogênico,

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por Leavel e Clarck (1976). No primeiro, devem ser considerados os fatores sociais
(socioeconômicos, sociopolíticos, socioambientais, psicossociais etc.) e, no segundo,
os individuais, entre os quais o genético. Para Ayres et al. (2006), o conhecimento
epidemiológico passa a ser cada vez menos indicativo da totalidade de uma condição
sanitária desfavorável à Saúde e cada vez mais um método, uma forma de encontrar
prováveis relações de determinação. Contribui, dessa forma, com o desenvolvimento
de formas de atuação que possam interferir na rede de relações entre determinantes
de condições de Saúde ou de outros tipos de fenômenos na sociedade, incluindo todos
os campos de atuação profissional com diferentes tipos de eventos (ou fenômenos) em

INDEX
seu núcleo definidor.
• O próprio conceito de “diagnóstico” (ou de “diagnosticar”) também está fortemente
apoiado na noção de inclusão de sinais e sintomas em uma categoria que indica o que
já se conhece a respeito de como fazer para lidar com tal categoria em que o “problema”
(os sinais e sintomas) está incluído. Isso é diferente de “caracterização” (ou de
“caracterizar”) de um processo que está ocorrendo, incluindo as variáveis específicas,
as que constituem e as que estão determinando sua ocorrência, em cada caso. As
variáveis que constituem um fenômeno e que interferem na sua ocorrência não se

BOOKS
esgotam no conhecimento da área que o caracteriza e de alguns de seus determinantes
existentes no âmbito de estudo dessa mesma área. A identificação de constituintes e
determinantes de um processo (assim como as variações de abrangência do mesmo)
exige conhecimentos de várias áreas (multidisciplinaridade) e isso nem sempre é
considerado de maneira adequada ou completa pelos sistemas de classificação (ou
categorização) dos problemas em cada campo de atuação. Principalmente porque
cada campo, em geral, prioriza ou considera apenas algumas áreas de conhecimento

ou considera que atua. GROUPS


(quando não apenas uma) em relação aos processos ou fenômenos com os quais atua

É por isso que, segundo Matus (1987), o conceito de “caracterizar problemas” é


melhor do que o de “diagnosticar problemas” como ponto de partida para o planejamento
de uma intervenção profissional. Principalmente nos campos de intervenção dos
fenômenos e processos que dizem respeito atuações humanas. Isso pode representar
uma mudança que altera quase tudo o que os profissionais estão acostumados a realizar
e a aprender ou ensinar nos cursos que preparam para o exercício profissional em cada
campo de atuação. Caracterizar um problema (também considerando as variáveis que
o determinam) é muito mais do que incluí-lo em uma categoria já conhecida a partir
de algumas de suas características (“sinais” e “sintomas”?).
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Atuar na probabilidade de ocorrência dos problemas exige percepção,


compreensão e avaliação sistêmicas e amplas das situações nas quais é necessário
intervir profissionalmente. Não basta ter uma concepção de atuação profissional
voltada ao indivíduo ou a tipos de fenômenos ou processos específicos, considerando
pouco - ou, mesmo, desconsiderando - as circunstâncias e condições nas quais os
indivíduos ou os tipos de fenômenos ou processos estão inseridos. Também não é
suficiente adotar uma definição de prevenção existente na literatura e utilizá-la como
“rótulo” para diferentes tipos de atividades no exercício profissional, mascarando
a natureza desses tipos de atividades, muitas vezes meramente compensatória,
imediatista ou atenuante de sintomas.

INDEX
Ayres et al. (2003), salientam que os profissionais podem desenvolver mais ou
melhor suas atuações profissionais se incorporarem o conceito de vulnerabilidade
em seus trabalhos cotidianos. De certa forma, o conceito de vulnerabilidade pode ser
mais apropriado do que o de “risco” em várias situações dos mais diversos campos
profissionais. A complexidade do que está envolvido em ambos os conceitos possibilita
destacar que a “vulnerabilidade” enfatiza os resultados (ou as vítimas) de processos
em que existe risco de haver algum prejuízo ou lesão. O conceito de “vulnerabilidade”

BOOKS
aumenta a amplitude de abrangência do conceito de risco (até porque o envolve)
dando conta da complexidade de mais campos de atuação em que pode haver atuação
profissional, além dos tradicionais campos ou tipos de atuação voltados para a correção
ou realização de rotinas. Ayres considera haver alguma fragilidade das estratégias
de trabalho baseadas no conceito de risco por provocar preconceitos e estigmas.
Principalmente, quando o trabalho está relacionado a processos que ocorrem com
seres vivos. Para superar a noção de “condições de risco” foi desenvolvido o conceito
de “comportamentos de risco” (quando as “condições” são produzidas por meio de

GROUPS
comportamentos de organismos). Isso levou a outros desenvolvimentos conceituais
como, por exemplo, em situações de segurança do trabalho, como o examina Bley
(2006) em um estudo que teve origem em sua dissertação de mestrado (Programa
de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina), relativa
à análise de comportamentos seguros em situações de trabalho. Esse trabalho está
disponível na internet em versão atualizada em 2010.
O conceito de “comportamentos de risco” também pode levar a concluir que são
determinados organismos (seres vivos, pessoas...) os responsáveis (“culpados”) pelas
condições de risco. Isso faz com que, facilmente, administradores e certos tipos de
profissionais culpem os indivíduos pelo que fazem ou pelo que acontece com eles,
64 de forma absoluta. Nas áreas da Saúde, da Justiça, da Educação e da Psicologia isso é

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muito comum e até exagerado. Muito além do que é aceitável com o conhecimento
existente no início do século XXI. Com o perigo dessas induções de entendimento,
é necessário, para a prevenção estrutural e social de um problema, expandir a
compreensão de redução do risco apenas como uma questão individual. Isso implica
considerar não apenas aspectos ou determinantes individuais, mas também coletivos,
físicos, ambientais, sociais, políticos, administrativos e outros relacionados àquilo
que acontece como problema, dano, prejuízo, atraso ou lesão de qualquer tipo ou
grau nas pessoas, em suas vidas ou nos ambientes em que as vidas dessas pessoas
ocorrem e são “construídas”.
É esse exame e essas distinções que fazem com que o conceito de “vulnerabilidade”

INDEX
se torne útil e esclarecedor, sem orientar para apenas uma parte da percepção do
fenômeno que constitui o núcleo de qualquer situação que possa ser considerada
como “problema”. Segundo esse conceito, pessoas e populações são mais ou
menos vulneráveis a determinadas condições e situações indutoras do aumento da
probabilidade de ocorrência de problemas e suas consequências em diferentes tempos
e abrangências. Isso faz com que qualquer atuação profissional deva orientar-se para
a alteração de condições ou contextos que propiciam o aumento de “vulnerabilidade”

BOOKS
por parte de situações, pessoas, objetos, instalações ou processos e até mesmo outros
seres vivos. E tal tipo de trabalho só pode ser feito por meio de capacitações ou
atuações multidisciplinares, multiprofissionais, interdisciplinares (e até intersetoriais,
conforme nomenclatura adotada por alguns autores). De certa forma, os conceitos
de “risco” e “vulnerabilidade”, com desculpas pela analogia, são duas faces da
mesma moeda e constituem dois focos de atenção: um nos determinantes de um
acontecimento e outro no próprio acontecimento, suas decorrências e suas “vítimas”,
em momentos variados do desenvolvimento de processos que acontecem em relação

GROUPS
a qualquer tipo de fenômeno.
Saliente-se que, se o núdeo definidor do conceito de prevenção for precisa
e claramente estabelecido, os estigmas e preconceitos, assim como as definições
precárias, tenderão a não ocorrer. E a inclusão de múltiplos aspectos de cada contexto
relacionado a um problema fará, por definição, parte da atuação profissional. Nesse
caso, os conceitos de “risco”, “probabilidade” e “vulnerabilidade” ficarão delimitados
com maior precisão como focos de exame (tipos de exame) para situações que
os contenham até simultaneamente. É útil destacar que os trabalhos profissionais
com base no conceito de vulnerabilidade não excluem a necessidade de avaliação
de riscos, nem a avaliação de probabilidade ou tendências, uma vez que trabalhar
com esses conceitos possibilita a identificação de múltiplas variáveis que interferem

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na ocorrência de qualquer fenômeno e, com isso, permitem entender e perceber


melhor o que significa “vulnerabilidade” como complemento dos conceitos de “risco”,
“probabilidade” ou “tendência”. Tais conceitos são fundamentais para todos os campos
de atuação profissional. Sua percepção e utilização, porém, exigem muita clareza a
respeito dos fenômenos que constituem tanto o fenômeno nuclear de estudo de uma
área de conhecimento quanto o âmbito delimitador dos fenômenos que constituem
o objeto de intervenção de qualquer campo de atuação profissional. Isso tudo, sem
dúvida, afetará os processos de decisão profissional (e suas respectivas estruturas) de
forma a alterar a probabilidade de “erros radicais e decisões absurdas”, na expressão
de Morei (2003).

INDEX
Vale relembrar que a linguagem usada para definir - localizar ou delimitar - um
trabalho preventivo influencia a conduta profissional. Se for inadequada, pode servir
apenas como rotulação de conveniência (terminologia “politicamente correta”?)
para atividades de pouca aceitação no meio em que o profissional atua, dificultando
a perceptibilidade do que efetivamente está sendo feito pelos profissionais de
qualquer campo de atuação. Uma linguagem adequada para referir-se aos tipos de
intervenção profissional aumenta a visibilidade sobre o que está sendo feito e aumenta
a probabilidade de aperfeiçoamento de comportamentos necessários para caracterizar

BOOKS
uma atuação profissional mais efetiva e coerente com as necessidades sociais mais
do que com demandas circunstanciais ou de emergência. Ou, pelo menos, facilita a
ocorrência de mudanças de comportamentos profissionais usualmente realizados,
pela criação de mais sinais e evidências a respeito do que efetivamente está sendo
feito na intervenção profissional ou resultando dela. O que também significa alterar
a disposição dos agentes para mudanças em seus procedimentos de trabalho e até em
conceitos já conhecidos e utilizados por eles em diferentes tempos e por diferentes
razões, inclusive hábitos pessoais, profissionais ou institucionais.

GROUPS
Os termos, definições e conceitos são sinalizadores (auxiliares, dicas) que
orientam a atuação profissional. Fazem parte do sistema ambiental, especialmente dos
processos de informação e comunicação, no cotidiano de trabalho dos indivíduos e
de sua capacitação. A precisão e a qualidade desses termos, definições e conceitos,
muito provavelmente, afetam, impedem ou até “produzem” determinados tipos de
comportamentos desses indivíduos no sistema social em que vivem ou viverão, pelo
quanto sinalizam ou substituem condições físicas, sociais ou de qualquer outro tipo
que não apenas retóricas ou imaginárias. Dessa forma, conceitos bem elaborados
e precisos são instrumentos de trabalho que ajudam (favorecem, influenciam,
predispõem, facilitam, orientam, etc.) a ocorrência de determinadas características do

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comportamento profissional. As características de tais conceitos ajudam a aumentar


a visibilidade de aspectos importantes para orientar e caracterizar cada um dos
diferentes tipos de atuação profissional de quem vai realizar uma intervenção em
processos que estão ocorrendo no ambiente. Se mal formulados, porém, esses conceitos
terão exatamente as tendências contrárias, obscurecendo e prejudicando o trabalho
profissional. É uma combinação básica: os conceitos produzidos e os respectivos
fenômenos presentes nas situações com as quais os profissionais se defrontam
determinam a probabilidade de ocorrência de determinados comportamentos,
incluindo a percepção (perceber) desses fenômenos. “É conveniente antecipar uma

INDEX
reflexão crítica sobre algumas concepções que dominam o pensamento convencional
e que trazem repercussões para análise da relação entre os fenômenos de distintas
esferas da realidade” (Breilh, 1995, p. 35), entre elas a natureza dos problemas,
incluindo as variáveis que determinam sua ocorrência, e indo muito além de suas
classificações no âmbito dos sinais, sintomas e fatores restritos das condições de vida
individuais ou em uma parcela específica do sistema social, como a história dessa
parcela no sistema em que se desenvolveu. A contribuição de Breilh contém a exigência
de uma cuidadosa elaboração de conceitos e de distinções precisas entre conceitos

BOOKS
muito próximos como “instrumentos” orientadores de um trabalho profissional. A
mera cópia, adesão, sinonímia ou pronúncia dos conceitos não é suficiente para que
eles possam, efetivamente, transformar-se em “instrumento” (ou “sinal”) de algo
que acontece, pode acontecer ou ser feito no âmbito de uma atuação profissional. É
necessária uma efetiva construção da relação entre os conceitos e os processos a que
eles se referem por parte dos que vão atuar com os fenômenos ou processos a que
esses conceitos fazem menção.
Uma percepção apropriada do que caracteriza, constitui e determina (influencia),

GROUPS
sempre probabilisticamente, as características das condições de vida de alguém, da
natureza de cada tipo de intervenção profissional e dos resultados típicos ou definidores
de cada um desses tipos de intervenção parece ser uma condição indispensável para
um trabalho profissional apropriado, pertinente, eficaz e relevante para a sociedade. E
particularmente na Saúde, pela abrangência desse fenômeno e pela importância que
tem na vida das pessoas, assim como o é também na educação de novas gerações.
Isso é importante até para qualquer trabalho profissional ser minimamente consistente
com o conhecimento atualmente disponível em relação à determinação de fenômenos
que afetam a vida humana e o meio em que ela ocorre. O conhecimento não existe
em si, mas sim no comportamento concreto das pessoas quando são orientadas
por informações que efetivamente são capazes de perceber e relacionar com os

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acontecimentos com os quais se defrontam. Ou há um forte risco de se trabalhar


com fenômenos, processos e informações mal compreendidos, dificultando muito as
relações entre conhecimento e métodos de trabalho em relação aos problemas a serem
resolvidos pela atuação profissional.
A utilização de termos inapropriados e imprecisos para expressar o significado de
“prevenção” como um tipo de trabalho profissional parece ser um elemento importante
na manutenção de comportamentos profissionais usuais, voltados à identificação e
eliminação de sinais e sintomas de problemas (por exemplo, patologias no organismo,
no caso da saúde das pessoas), enfatizando o trabalho, no máximo, de recuperação de

INDEX
condições anteriormente existentes. A utilização de termos apropriados e precisos, no
entanto, por aumentar o grau de visibilidade sobre o processo de “prevenir a ocorrência”
de qualquer problema, é uma condição importante para aumentar a probabilidade de
realização de comportamentos de outra ordem (voltados para o controle de variáveis
determinantes de condições de vida das pessoas), que viabilizem impedir que os
problemas que possam prejudicar essas condições aconteçam. Se a concepção inicial
de prevenção está comprometida, equivocada, ou se é insuficientemente esclarecedora,
é pouco provável que os profissionais tenham visibilidade suficiente para realizar

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uma atuação consistente com um conceito mais abrangente e preciso. E, se for assim,
dificilmente conseguirão perceber e avaliar as diferenças entre esse tipo (ou âmbito) de
atuação profissional e os demais.
Distinguir o significado dos termos que se referem aos vários tipos de intervenção e
compor uma definição de prevenção que esteja alicerçada nas propriedades essenciais
(e não acidentais) desse processo (e desse conceito!) envolvem um conjunto complexo
de comportamentos. Esses, por sua vez, são importantes para a realização do trabalho
de qualquer profissional nos diferentes campos de atuação existentes, como algo capaz

GROUPS
de concretizar formas de trabalho preventivas em qualquer grau de complexidade dos
fenómenos que ocorrem na sociedade. Tal processo, uma vez transformado em uma
modalidade de atuação de um profissional, constituindo, inclusive, uma possibilidade
de escolha ou opção de forma de trabalho, constituirá um procedimento geral. Isso
aumenta ainda mais a exigência de clareza e distinção do conceito e seus limites
para orientar o complexo e prolongado trabalho de capacitação de novos agentes de
trabalho, tanto nos cursos profissionalizantes quanto nos de graduação. O próprio
currículo dos diferentes cursos de preparação de profissionais terá que levar em conta
certos conhecimentos e articulá-los de uma forma que viabilize derivar (e ensinar)
os comportamentos profissionais que, efetivamente, constituam o que pode receber o
nome geral de “prevenir” problemas.

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A atuação preventiva (o trabalho ou a classe de comportamentos de prevenir


problemas) exige, de qualquer profissional, conhecimentos e comportamentos
complexos e específicos a respeito do que constitui o processo de prevenir, como
sua caracterização ou tecnologia e procedimentos necessários para realizá-lo. Agir
em relação a variáveis que determinam a ocorrência de problemas que interferem
na qualidade de vida das pessoas antes que elas exerçam sua influência, e para que
os problemas não venham a ocorrer, constitui uma forma não usual de atuação. O
profissional que pretende (ou precisa) atuar nesse âmbito necessita de informações e
aptidões (capacidade de apresentar certos comportamentos) de uma ordem diferente

INDEX
daquela usualmente requerida nos trabalhos de intervenção para atenuar sofrimento,
compensar danos, reabilitar situações ou resolver problemas já existentes (curar, por
exemplo, no caso da Saúde, ou “consertar” em vários outros campos de atuação). Não
é suficiente reconhecer sinais e sintomas (não necessariamente características) de
problemas (ou de patologias, novamente exemplificando no campo da Saúde). Mais
do que apenas isso, é necessário ser capaz de identificar claramente os processos de
determinação das condições que interferem na qualidade de vida na natureza ou
na sociedade, especificando seus componentes e as interações existentes entre eles.

BOOKS
O que, por sua vez, exige a superação da concepção (praticamente um modelo) de
profissão mais tradicional ou difundida. Uma concepção geralmente influenciada
por concepções de origem aristotélica (Lewin, 1975), sobre a natureza, o homem e
a sociedade, trabalhando com categorias de eventos e os núcleos de sua definição
(essências?) como aspecto fundamental da própria determinação de eventos
específicos dessas categorias. Parece necessário, principalmente agora no início
do século XXI, graças ao estágio do conhecimento científico existente, desenvolver
conhecimento, conceitos e procedimentos (comportamentos) de trabalho na direção

GROUPS
de uma concepção mais abrangente e mais sistêmica. Uma concepção que exige, no
mínimo, aproximação e coerência com as descobertas relacionadas às concepções
de constituição e determinação dos fenômenos possibilitada pelas contribuições de
Galileu Galilei e outros que antecederam e sucederam suas contribuições a respeito
da natureza, do homem e da sociedade, ampliando as noções de influência entre os
processos para muito mais do que “sua natureza”, “organismo” ou “contexto particular”
(Lewin, 1975).
No início do século XXI, porém, nem isso seria suficiente. Aindahá as contribuições
das descobertas de vários aspectos “microscópicos” ou sutis na determinação dos
processos e fenômenos. Mesmo que apenas como questionamento e orientação para
a necessidade de novas investigações, apresentadas para a humanidade ainda no final
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do século XX sob o nome de “contribuições da Física Quântica para a Epistemologia ’


(Capra, 1997; Heisenberg, 1998). Tais contribuições sequer estão, por enquanto, sendo
devidamente estudadas no âmbito das Ciências Humanas e da Saude, servindo
ainda para uma farta distribuição de mistificações ou especulações sem fundamentação
empírica. Ou, pelo menos, o que está sendo feito ainda parece carecer de análise
conceituai crítica e de uma cuidadosa construção de demonstrações. Isso parece ser
uma dificuldade em todos os campos de atuação profissional, destacando-se o campo
da Saúde e da Psicologia, onde ainda predomina uma concepção de profissional liberal
que atende quem já tem problemas em uma atividade predominantemente individual.
Há uma dificuldade especial a ser superada para possibilitar uma atuação

INDEX
profissional, particularmente de nível superior, de ordem diferente daquela que
predominou e foi usualmente ensinada até o final do século XX. É necessário ter acesso a
um tipo de conhecimento (Lewin, 1975; Capra, 1997 e Heisenberg, 1998, por exemplo)
não facilmente acessível para quem não estuda epistemologia ou exerce regularmente
a profissão de cientista, em qualquer área. Alguém que também se preocupe com a
integração de conhecimentos novos, mesmo com os de outras áreas no patrimônio
de informações sobre problemas, questionamentos e exigências, além daqueles das
descobertas já feitas em qualquer campo de atuação específico. Muitas informações

BOOKS
necessárias sobre os processos que constituem e determinam os fenômenos que
interessam para a atuação profissional preventiva não estão disponíveis e precisam ser
produzidas, inclusive a respeito do que constitui a própria classe (tipo ou categoria)
de comportamentos profissionais que recebe o nome de “prevenir”. Para produzir esse
tipo de conhecimento e transformá-lo em comportamentos profissionais é preciso
muita clareza sobre as características definidoras dos processos de intervenção
denominados “prevenção” e de produção de conhecimento científico, e não apenas
de outros processos de conhecer (Senso-comum, Religião, Arte, Filosofia), como

GROUPS
costuma aparecer em confusões diversas no meio acadêmico e social, constituindo
mitos e possibilitando críticas e o desenvolvimento de uma falsa concepção de Ciência
ou do que seja o trabalho científico.
O trabalho de Assini (2011) a respeito dos “comportamentos profissionais do
psicólogo constituintes da classe ‘prevenir comportamentos-problema’” é um exemplo
de transformação de conhecimentos relacionados ao trabalho de prevenção em
comportamentos humanos que constituem a classe “prevenir problemas”. Nele, a autora
examina exaustivamente os comportamentos que constituem “prevenir” quando um
profissional trabalha com “comportamentos-problema”. As decorrências desse tipo de
conceito e da extensa análise comportamental feita por Assini são muitas e atingem

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os trabalhos feitos em hospitais, instituições corretivas (prisões), abrigos para pessoas


em condições de vulnerabilidade, orfanatos, escolas, instituições de educação especial,
instituições diversas responsáveis pela administração e solução de problemas na
sociedade etc. A complexidade e a quantidade de comportamentos envolvidos no
desenvolvimento dessa classe mais geral resumida pelo nome “prevenir problemas” são
muito grandes e exigem, sem dúvida, um extenso e cuidadoso aprendizado para lidar
com todos os aspectos que possibilitam utilizar tal conceito como um instrumento de
atuação profissional.
O conhecimento disponível, os procedimentos (a “prática”, expressão comumente
utilizada) dos profissionais em diferentes campos de atuação, inclusive dos que são

INDEX
professores no sistema educacional, particularmente no ensino superior, a maneira
como eles apresentam informações e o que ensinam a fazer como “prevenção”
influencia a percepção que eles próprios têm sobre a “atuação profissional preventiva”.
É comum, ao examinar o discurso de profissionais, identificar a utilização do verbo
“evitar”. No entanto, é também comum que esse verbo seja utilizado com duplo
sentido. Por exemplo, evitar problemas de saúde e evitar agravamento de problemas
de saúde. Nas duas formas de utilização há uma mudança de referencial que confunde
o significado (e a abrangência) do termo “prevenção” ou do processo de prevenir. O

BOOKS
objeto do trabalho de prevenir não é o mesmo em cada caso. E isso muda radicalmente
o sentido da expressão que é dada, principalmente, pelo complemento do verbo
que, no segundo caso, em tese, quase se torna incoerente com o significado estrito
de “prevenir”. Esses profissionais, ainda realçando o exame no campo da Saúde, ao
exemplificar atividades preventivas que executam, citam aquelas relacionadas a ações
que antecipam a alteração na condição de saúde (por exemplo, fazer higiene corporal
para evitar verminose) e aquelas relacionadas ao diagnóstico e tratamento de patologias
instaladas (por exemplo, identificação e tratamento de pediculose em estudantes) em

GROUPS
função das atividades que desenvolveram na escola (Stedile, 1996). Por outro lado,
parte do conhecimento disponível sobre atuação profissional preventiva parece
conter equívocos que contribuem para diminuir o grau de clareza a respeito desse
tipo de intervenção profissional. A amplitude do conceito parece ser um problema de
conhecimento e seu potencial de instrumentalização para o trabalho de profissionais
em diferentes campos de atuação na sociedade também parece ser uma dificuldade
talvez muito maior como algo a superar pelo ensino e pela atuação de profissionais.
Os níveis de prevenção propostos por Leavell e Clark (primário, secundário,
terciário), por exemplo, possuem, no meio acadêmico e profissional, ampla aceitação
e status. A ponto de serem reproduzidos na maior parte da bibliografia, especial e

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predominantemente no campo da Saude. São adotados em diferentes disciplinas dos


currículos de graduação e fazem parte do discurso de grande parte dos profissionais
de diterentes campos de atuação profissional, o que corresponde a fazer parte
da formação em diferentes cursos de graduação nas escolas de nível superior. Isso
é a manutenção de conceitos que, graças ao conhecimento existente, já podem ser
superados e substituídos por outros muito mais eficazes na capacitação de profissionais
para lidarem com o porte, a complexidade e a extensão dos problemas atuais.
Há alguns tipos de verbalizações em relação às noções que recebem os nomes
de “prevenção primária”, “secundária” e “terciária” seguidas da palavra “porque”.
Tais verbalizações produzem, como resultado, a ilusão de que é possível caracterizar

INDEX
(ou explicar) o que acontece por meio do que vem depois da expressão “porque”.
Verbalizações como “prevenção secundária é prevenção porque evita que o indivíduo
agrave seu problema de saúde”, ou “prevenção terciária é prevenção porque evita a morte
ou possibilita ao indivíduo integrar-se ao meio social”, provocam uma falsa percepção
de que o profissional, mesmo sem evitar os problemas da vida do indivíduo, esteja
desenvolvendo prevenção. Os qualificativos de “primária”, “secundária” e “terciária”
tendem a servir como rótulos disseminados (até funcionando como preconceitos)
e, mais do que caracterizar, justificam qualquer tipo de atuação (comportamento)

BOOKS
profissional como sendo “preventivo”. Essa forma de agir parece muito mais uma
irresponsabilidade verbal, com sérias implicações sociais, profissionais, científicas
e educacionais (Botomé, 1994), do que um instrumento ou recurso de trabalho que
ajude o profissional a lidar com as situações nas quais os problemas acontecem e
evitá-los. O conceito de prevenção, usado dessa forma mais disseminada, não revela
o que é essencial e substitui o que, de fato, precisa caracterizar esse modo de atuar
profissionalmente. “Prevenir” algo é um tipo de comportamento muito mais complexo

GROUPS
do que alguns jogos de palavras (por exemplo, acréscimos de complementos variados
como sufixos, prefixos ou adjetivos) podem esclarecer ou possibilitar. O ensino de
“prevenir problemas”, como um tipo de comportamento profissional, fica extensa e
profundamente comprometido por um uso e exame superficial desse conceito e de suas
implicações para o trabalho profissional. No entanto, tal classe de comportamentos
é muito importante e merece ser um objetivo dos processos de ensino de qualquer
campo de atuação profissional.
Nos meios académicos e profissionais é comum haver o que Umberto Eco
(2011) denomina de “conceitos fetiche” (uma variação do que é considerado como
“politicamente correto”). A função predominante de tais conceitos não é esclarecer
o proceiso que está ocorrendo ou sendo realizado. Predomina um uso para garantir

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aceitação social e afastamento de possíveis críticas ao que está sendo feito ou falado.
Constituem uma espécie de “amuleto verbal” que, quando usado, justifica uma
maneira ou disposição de agir. Isso é parte de um uso impreciso, e até supersticioso,
de termos que são “naturalizados” pela repetição em ambientes profissionais ou
outros comuns. É, porém, uma armadilha para um efetivo trabalho profissional.
Uma expressão equivalente, usada por Contardo Calligaris (Folha de São Paulo) é
“trejeitos retóricos”: expressões que não informam, apenas envolvem ou distraem
o ouvinte (ou leitor). Vários termos utilizados nas instituições de ensino poderiam ser
classificados nessas categorias, principalmente, por serem úteis para o envolvimento
de aprendizes para os quais a terminologia nova é atraente e sedutora e lhes dá a

INDEX
impressão de “conhecimento”, de “sabedoria”. O termo prevenção não pode ficar
restrito a essas funções sob pena de perder-se um precioso instrumento de trabalho
profissional. A identificação clara e precisa dos tipos de comportamentos envolvidos
na efetiva realização do que seja “prevenir” algo é fundamental como capacitação
básica para esse tipo de trabalho ser real e não apenas um recurso retórico a ilustrar
manuais ou discursos acadêmicos ou políticos.
De fato, “prevenir” é uma complexa classe de comportamentos profissionais que
inclui muitas subclasses (algumas são encadeamentos ou cadeias comportamentais

BOOKS
extensas e bem estabelecidas). Isso acarreta a exigência de um repertório
comportamental específico bem desenvolvido para poder ser realizado como uma
modalidade de atuação. Tal repertório, embora ainda não seja extensamente acessível,
já é conhecido pelo menos em boa parte como aparece nos trabalhos e críticas de
Arouca (2003), particularmente no exame que organiza e apresenta sob o título
de “O dilema preventivista”. Nessa obra, o autor salienta não apenas várias críticas
e uma avaliação de conceitos básicos para o trabalho de prevenção, como enfatiza

GROUPS
a necessidade de superar uma concepção usual de “prevenção” com o exame da
contribuição de Nogueira (2003) sobre ir “da medicina preventiva à medicina
promotora” (de condições de saúde de boa qualidade). O trabalho de Assini (2011)
também é dessa ordem: a autora detalha e amplia a percepção de muitos tipos de
comportamentos que estão envolvidos no processo de “prevenir problemas”, embora o
foco de seu estudo seja a prevenção de problemas de natureza comportamental.
Outro aspecto a considerar é que essas categorias de adjetivos para o termo
prevenção” (primária, secundária e terciária) lhe atribuem grande amplitude de
significados. De tal forma que permite incluir nele qualquer atividade profissional
(“tudo pode ser prevenção”). Essa amplitude parece produzir “desconforto” em alguns
autores que, apesar de utilizar as três categorias, enfatizam que a “prevenção primária”

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é a "prevenção no sentido convencional (por exemplo, Dever, 1988, p.8; Rouquayrol,


1994, pp. 8, 18 e 19). Essa forma de falar sobre prevenção, utilizando qualificações
que ampliam seu significado, representa uma maneira inadequada de exame e uso
de um conceito, parecendo mais servir à adaptação de pessoas que mantêm velhos
procedimentos a termos que “estão na moda” e passam a ser fortemente aprovados
socialmente (pela repetição, aceitação, ausência de críticas etc.) nos mais diversos
ambientes (de trabalho, nas escolas, na Universidade, em diferentes tipos de cursos
de graduação etc.). O risco é fazer com que a terminologia usada para falar sobre
prevenção fique esvaziada, perca significado e precisão, informe menos e reduza a
visibilidade sobre a atuação profissional a que ela, especificamente, se refere.

INDEX
Não parece útil prejudicar a especificidade do conceito de prevenção ampliando
seus significados sem uma razão funcional para isso. Uma ampliação da especificidade
desse conceito reduz a visibilidade sobre a diversidade das possibilidades de atuação
profissional específicas para diferentes pessoas, obras, contextos, situações ou
ambientes com suas respectivas características. Conceitos referem-se a categorias de
eventos (fenômenos, acontecimentos) ou a tipos de relações entre eles (outra categoria
de eventos) e servem para identificá-los e diferenciá-los. No caso da variedade
de significados presentes na bibliografia e no discurso profissional a respeito de

BOOKS
“prevenção de problemas” no trabalho profissional, especialmente nos campos
de atuação relacionados à Saúde e às condições de vida das pessoas, ela representa
um fator importante no aumento da dificuldade para o profissional distinguir entre
diferentes possibilidades de atuação.
Além de tudo, esses problemas significam que a literatura fortalece, em diferentes
aspectos, uma percepção limitada e inadequada com relação ao processo de
“prevenir problemas”. Enquanto a compreensão desse processo estiver limitada às
categorias propostas por Leavell e Clark, ou equivalentes, é pouco provável que sejam

GROUPS
desenvolvidas formas diferentes de atuação profissional em prevenção de problemas,
acentuadamente naqueles do campo da Saúde. A amplitude e abrangência do conceito
- uma supergeneralização - distorcem seu significado ou seus referenciais e não o
ajuda a ser um instrumento de precisão conceituai capaz de auxiliar no refinamento
da percepção de possibilidades de atuação profissional. Sua amplitude o torna
genérico e retira dele a possibilidade de significados precisos e orientadores. Ao
mesmo tempo, quanto mais amplo, mais envolvente e atraente é para quem o ouve
ou lé - pela polissemia que a abrangência de significados possibilita. Nessa amplitude
de significados, ninguém corre o risco de errar ou de ser desaprovado, criticado ou
questionado se chamar muitos tipos de intervenção pelo nome de “prevenção”. Manter

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essa vaguidade é manter um equívoco conceituai. E isso precisa ser corrigido para
orientar melhor a atuação e o conhecimento nas várias possibilidades, instâncias e
amplitudes de trabalho dos diferentes campos profissionais.
A utilização de grande quantidade e variedade de termos, a utilização de termos
equivocados, o predomínio de utilização de linguagem vaga no meio acadêmico
e profissional, a não distinção entre prevenção e outros fenômenos, a confusão
existente entre comportamentos ou atividades de prevenção e outras atividades ou
comportamentos, as diferentes confusões conceituais existentes, enfim, parecem
ilustrar a precária relação existente entre conhecimento disponível, discurso
acadêmico ou técnico e atuação profissional. Provavelmente, os equívocos presentes

INDEX
no conhecimento disponível aos profissionais (e aceitos nos meios acadêmicos e nos
variados campos de atuação) em relação ao termo “prevenção” exercem algum grau de
influência na percepção deles sobre o que seja prevenir problemas em seus respectivos
campos. A constância na utilização de termos inapropriados, a utilização predominante
de termos vagos e genéricos, a utilização frequente de aspectos periféricos ao conceito
como se fossem essenciais e o efeito que resulta da utilização de um discurso aceito são
alguns exemplos de comportamentos relacionados à atuação profissional e que levam a
aumentar os problemas em lugar de resolvê-los ou minimizá-los. Tais comportamentos,

BOOKS
aliados à linguagem (ou comportamento verbal) disponível e difundida, influenciam
no tipo e características da percepção dos profissionais sobre os processos de prevenir
problemas no âmbito da atuação profissional. Esses exemplos, somados aos equívocos
de percepção presentes na literatura, exercem uma forte, sutil e permanente pressão
social (coerção) no sentido de manter e consolidar uma quantidade cada vez maior de
equívocos conceituais a respeito de “prevenir problemas” na sociedade.
Tais aspectos, combinados de diferentes formas nos meios acadêmicos e
profissionais, impedem ou dificultam uma percepção clara para os profissionais e

GROUPS
estudantes de nível superior, além de todos os tipos de profissionais que os auxiliam
como paraprofissionais (técnicos de apoio, auxiliares etc.), em relação ao que tem
valor no desenvolvimento de atividades de prevenção. Como acontece também com
a construção de um conceito apropriado em relação a esse processo específico de
intervenção profissional. Tudo isso também é parcialmente examinado por Arouca
(2003, pp. 209-214) ao levar em conta as “regras da formação discursiva”, salientando
a necessidade de respeito e muita consideração aos cuidados com a linguagem que se
refere aos recursos, processos e procedimentos de um campo de atuação profissional.
Capra (1982, p.132), ao examinar as deficiências do atual sistema de assistência
à Saúde, indica que suas raízes estão “na estrutura conceituai que serve de suporte

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à teoria e às práticas médicas”. Transpondo essa análise para trabalho preventivo,


parece que muitas das dificuldades de atuar preventivamente têm suas raízes na
estrutura conceituai presente na literatura específica disponível sobre o conceito de
prevenção de problemas, que abrange muito mais do que apenas o campo da Saúde. O
que significa que o conhecimento mais difundido contribui para diminuir o grau de
clareza sobre as características de atuação profissional preventiva e, por consequência,
não tem ajudado os profissionais a solucionar problemas específicos ou a conquistar
autoconfiança por meio de experiências de soluções apropriadas para problemas
relacionados com o controle de variáveis que determinam as condições de vida ou
de qualquer tipo de problema (Postman & Weingartner, 1974). O conceito que foi

INDEX
sendo produzido ao longo da atuação profissional (resultado do que já é conhecido
ou familiar e da experiência cotidiana) parece reproduzir e ampliar esses equívocos a
respeito do âmbito de trabalho denominado por “prevenir”.

BOOKS
GROUPS

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2.2 Abrangência da atuação profissional preventiva e suas


relações com outros âmbitos de atuação na sociedade

A Tabela 3 (tipos de atuação profissionais possíveis segundo Rebelatto e Botomé


- 1987) representa algum desenvolvimento (em relação ao que foi conceituado por
Leavell e Clark - 1976) no sentido de aumentar a visibilidade sobre tipos de atuação
profissional possíveis, distinguir prevenção de outras formas de atuar profissionalmente
e, principalmente, propor uma distinção entre eles. O exame do que está apresentado
(e representado) na Tabela 3, porém, ainda provoca algumas perguntas. Quais os
limites entre esses âmbitos de atuação? Há diferença entre o objeto de atuação em

INDEX
cada um deles? Há faixas de sobreposição entre eles? O que, essencialmente, distingue
um âmbito de trabalho de outro? A possibilidade dessas perguntas pode indicar que
a representação gráfica da Tabela 3 não é suficientemente clara e ainda possibilita
confusões ou dificuldades na percepção do que é prevenção como um tipo de
intervenção profissional entre outras. É uma forma de representação inapropriada no
sentido de dar a impressão de que esses âmbitos são níveis hierárquicos, sequenciais
ou excludentes. Ou que cada um serve para um determinado tipo de intervenção

BOOKS
profissional. As informações, embora indiquem maior diversidade nos conceitos, não
possibilitam ainda distinguir, por exemplo, as diferenças existentes entre prevenção
de problemas (de Saúde ou outros) e manutenção de boas condições de vida ou de
promoção de melhores condições de qualquer processo relacionado à vida das pessoas.
A distinção pode ser feita com maior facilidade se os tipos de atuação não forem
considerados categorias mutuamente excludentes ou hierarquicamente ordenadas.
Categorias mais abrangentes em relação aos graus de benefício, por exemplo, podem
englobar umas às outras. Ou outras formas de considerar tais categorias e as relações

GROUPS
e limites entre elas. Se isso é verdade, o sistema de classificação não é de exclusão; o
critério de distinção entre esses tipos de atuação não é de hierarquia, sequenciamento,
superioridade ou inferioridade. O critério básico de organização é a abrangência de
benefícios sociais e de funcionalidade em relação ao tipo de acontecimento que é alvo
da intervenção ou ao que é mais apropriado em uma ou outra etapa de um processo de
trabalho. É possível representar os vários tipos de atuação profissional de forma mais
apropriada à natureza de suas diferenças e das relações entre si.
A Figura 1 apresenta, em outro modelo de representação, os tipos (“níveis” para
alguns autores que os consideram do ponto de vista de uma hierarquia por qualquer
critério) de atuação profissional por âmbitos de abrangência de suas consequências,

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de acordo com as variáveis que constituem e determinam o tipo de fenômeno-alvo.


Há. na Figura 1, mais um âmbito de atuação que até agora não foi considerado: o
de aperfeiçoamento das condições existentes em relação a um tipo de fenômeno ou
processo. Nessa figura é possível observar que alguns tipos de atuação podem ser
considerados mais abrangentes do que outros (os mais externos abrangem os mais
internos e, de certa forma, os supõem) do ponto de vista da quantidade de benefícios
e do menor custo social, embora não do menor preço financeiro de cada unidade de
intervenção. As possibilidades de atuação não são excludentes, mas complementares
ou partes de uma intervenção circunstanciada. Isso significa que o que faz com que
existam diferentes tipos de atuação profissional é o grau de abrangência dos efeitos das
condutas profissionais nos problemas existentes ou com potencial de ocorrência. Ou,

INDEX
ainda, sua pertinência conforme as condições que caracterizam e determinam o que
é alvo de intervenção profissional ou em uma determinada etapa dessa intervenção.
Dessa forma, o âmbito de atuação denominado “promoção de melhores condições”,
além de oferecer algo melhor, também evita problemas em qualquer fenômeno ou
processo da mesma forma que atenua sofrimento dos que são atingidos por esse tipo
de trabalho profissional. Mudam os graus e as prioridades nas combinações do que
constitui as características e os determinantes do que é objeto e do que é objetivo da
intervenção, mas não há exclusão absoluta, assim como não há identificação ou apenas

BOOKS
sobreposição dos processos. A diferença é que, ao atuar na “promoção de melhores
condições”, há outro grau e tipo de “evitamento de problemas” e de “atenuação de
sofrimento” que sequer esperam o problema ou o sofrimento (pelo menos o que é
usualmente perceptível) instalar-se, atuando com referenciais mais voltados para
melhorar as condições existentes do que corrigir ou prevenir problemas.
O tipo de representação que está na Figura 1 possibilita examinar a atuação
profissional em pelo menos quatro dimensões diferentes daquelas mais evidentes na

GROUPS
Tabela 3. A primeira delas é que o objeto de intervenção profissional em qualquer âmbito
de abrangência é (ou pode ser) o mesmo: “as variáveis que constituem um fenômeno
(ou um processo) e as que constituem seus determinantes” (as “condições de vida de
uma pessoa, a qualidade de um processo, as condições de vida de uma coletividade, as
características de um ambiente, uma sociedade, uma organização, a estrutura de uma
organização etc.) que, por sua vez, podem ter diferentes características, graus, valores
ou intensidades em qualquer uma dessas características.
Quando o profissional atua em prevenção, pode estar atuando em determinados
graus da mesma variável de um fenômeno ou processo ou de algum de seus
determinantes (ou mais de uma de suas variáveis constituintes e mais de um de

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seus determinantes). Quando as condições de um fenômeno ou de um processo são


consideradas boas e satisfatórias, a atuação profissional precisa ocorrer no sentido
de “manter” as variáveis que estão determinando esses bons níveis nas condições
de vida de um organismo. Mas também pode haver o que está sendo chamado aqui
de “aperfeiçoamento”. É possível aperfeiçoar um processo mesmo quando ele, para
as circunstâncias e expectativas usuais, já está ocorrendo bem. Esse tipo de atuação
é mais do que “manter o que existe” e menos ainda do que “promover o que ainda
nem existe”. Embora isso possa parecer sutil, os procedimentos de investigação, de
produção de tecnologia e de intervenção são muito diferentes em cada uma dessas
alternativas de intervenção e exigem processos comportamentais muito diversos
daqueles que atualmente estão disponíveis. Também requerem que, no âmbito do

INDEX
ensino, sejam desenvolvidos processos muito diferenciados, aproximando-se do
que foi recomendado no Congresso Internacional da UNESCO, em Paris, no ano
de 1999, a respeito do que devia ser feito pelas Universidades no século XXI: formar
empreendedores (UNESCO, 1998). Empreender exige um repertório de analista de
variáveis que só se desenvolve com uma formação científica muito bem elaborada,
uma vez que empreender envolve trabalhar com o desconhecido, com o que ainda
não existe e para atender necessidades da sociedade (ou do meio) que sequer são
percebidas, formuladas ou se constituíram em demandas sociais. Observar, coletar

BOOKS
dados, organizar, tratar, analisar e representar dados são condições para interpretar
o que acontece e, a partir disso, derivar conclusões e orientações para uma atuação
efetivamente significativa. É o que corresponde a uma muito bem estabelecida
capacitação para a produção de conhecimento científico e filosófico (jamais
redutível a “técnicas de pesquisa”). Ou, em outras palavras, corresponde a uma
complexa capacidade de lidar constantemente com o desconhecido, produzindo seu
“desvelamento” (conhecimento). Tais comportamentos não são suficientes, mas são

GROUPS
necessários para a capacitação de empreendedores, se as Universidades forem atender
ao que foi indicado pela reunião internacional que a UNESCO promoveu com os
dirigentes desse tipo de instituição em Paris no ano de 1998.

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INDEX
FIGURA 1

BOOKS
Relações entre os diferentes âmbitos de atuação profissional (particularmente
em Saúde) e a localização do trabalho preventivo no conjunto desses âmbitos. Os
complementos dos verbos podem ser múltiplos, dependendo dos processos ou fenômenos
a que se referem em diferentes campos de atuação profissional.

Quando as condições não são suficientemente boas, podem ser modificadas para

GROUPS
melhorar a ocorrência de qualquer processo. O objetivo da atuação profissional é alterar
as variáveis (controlá-las de alguma maneira) que estejam determinando a qualidade
inadequada dessas condições para melhorá-las. Não mudar as variáveis identificadas
implica no aumento de risco de que alterações desfavoráveis nas condições de vida
ocorram, o que pode significar atuar profissionalmente em outros tipos ou graus das
variáveis que constituem as condições de vida (ou de um processo específico) ou que
as determinam, como recuperação do que foi danificado, reabilitação do processo
que foi objeto de lesão, como compensação de danos ou atenuação de sofrimento. As
variações em tipo ou grau dependerão sempre de múltiplos aspectos, constituindo
tipos de intervenção em algumas circunstâncias ou etapas de uma intervenção em
outras. E qualquer dessas possibilidades sempre implicará produzir conhecimento

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apropriado e preciso a respeito do que está acontecendo e em que estágio de atuação


é possível e mais apropriado trabalhar, com a respectiva avaliação do que está sendo
produzido como mais um tipo de conhecimento a orientar a atuação profissional.
Outro tipo de problema para as diferentes modalidades de atuação profissional
diz respeito aos limites entre um e outro âmbito de abrangência. Esses limites não são
nítidos. Não há uma “linha divisória” definida ou fixa, dada a complexidade dos próprios
fenômenos e das relações entre eles e seus determinantes que constituem eventuais
alvos de intervenção profissional. Assim como também será difícil estabelecer qualquer
desses âmbitos de atuação como categorias estanques ou mutuamente excludentes
em função da complexidade que os processos de intervenção profissional podem ter

INDEX
em cada campo de atuação. As sobreposições e indefinições ainda são um problema
para cuja solução será necessário produzir um conhecimento ainda mais refinado
em relação a tais âmbitos de atuação profissional. Permanece a existência de várias
propriedades periféricas, e algumas essenciais, para caracterizar cada âmbito de atuação
ainda sem um exame e uma explicitação suficientemente claras. As propriedades não
essenciais estão nessas faixas de sobreposição e as essenciais (nucleares) representam
as características definidoras de cada âmbito de atuação profissional. Identificar essas
características definidoras é condição para perceber com clareza o significado de

BOOKS
cada âmbito, os tipos de ações profissionais que podem ser realizados e os resultados
(efeitos) que podem ser obtidos em relação às condições de vida da população (ou
qualidade de qualquer processo de interesse). Por exemplo, prevenir e manter são
âmbitos de atuação profissional com sobreposições em muitas situações, dificultando
sua distinção com o conhecimento e as definições atualmente disponíveis. No entanto,
ao prevenir (impedir a existência de danos, prejuízos ou sofrimento), o profissional
tem como objeto de intervenção a probabilidade de ocorrência dos problemas para

GROUPS
diminuir os “riscos” dessa ocorrência e evitar possíveis prejuízos em relação a algum
processo de interesse no seu campo de atuação. O trabalho, nesse caso, estará voltado
ao controle (alteração) dos fatores determinantes de lesões ou alterações negativas nas
características do processo de interesse, sejam esses processos individuais, coletivos,
físicos, químicos, sociais, culturais, psicológicos, biológicos, fisiológicos etc.
Ao “manter” características das condições adequadas em um processo, o r»
profissional não visa resolver problemas já existentes (recuperação) ou alterar os
PAR fr 7

fatores que determinam prejuízos ou lesões. A atuação profissional, no caso, está


voltada para a manutenção das características adequadas já existentes, conservando
(mantendo o controle de determinadas condições ou variáveis determinantes) os
fatores responsáveis por essas boas características. 81

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Essas diferenças podem ser exemplificadas com simplicidade no caso de uma


situação do campo da Saúde: quando um profissional se defronta com a situação
“mortalidade infantil elevada” é necessário investigar os fatores determinantes desse
problema e desenvolver estratégias para alterar sua ação em relação às crianças.
Quando encontra uma situação em que a mortalidade infantil está em um índice
ideal ou não existe, o profissional precisa investigar e manter as variáveis que estão
determinando a permanência do índice de mortalidade em valores considerados
baixos (âmbito de atuação denominado de “manutenção”), com a preocupação
de conservar e proteger um grau de condição de saúde já atingido. Se houver um
índice considerado “normal” ou “bom” de mortalidade infantil, ainda será possível

INDEX
investigar o que é possível alterar para “aperfeiçoar” as condições de saúde e diminuir
esse índice ainda mais, além de cuidar do que já foi conseguido de controle das
variáveis que interferem em tais índices. Promover melhores condições de saúde,
ainda no mesmo campo de exemplos, exige investigar o que pode ser desenvolvido
e vá além daquilo que existe, o que envolve até estudos que aprofundem,
desenvolvam ou ampliem o próprio conceito de saúde, como ilustra Chaves (1980)
ao examinar o conceito de saúde como uma condição que extrapola as dimensões
biológicas e fisiológicas de um organismo. Entender isso e atuar de acordo com o

BOOKS
desenvolvimento do conhecimento será sempre uma exigência de integração entre
conhecimento e comportamento profissional e pessoal, intermediada por processos
de aprendizagem, a maioria deles, realizados por instituições educacionais como as
que, "3e fato ou apenas por nome, já existem.
Um terceiro aspecto importante no exame dos vários âmbitos de atuação
profissional refere-se ao fato de que eles não são mutuamente exdudentes. O que há,
de fato, são diferenças de abrangência entre eles, como ilustra a Figura 1. Conforme
o objeto (fenômeno, processo) de intervenção ou a natureza específica das variáveis

GROUPS
envolvidas e seus respectivos graus, esses tipos de atuação profissional podem ser
complementares ou não, podendo também constituir etapas de um único processo de
intervenção. Nem sempre todos os tipos e graus de variação dos eventos de um âmbito
de abrangência de atuação são menos complexos do que todos os tipos e graus dos
eventos de outro âmbito mais abrangente. Significa, em outras palavras, que, em uma
mesma situação de intervenção é possível (e mesmo necessário) atuar em mais de um
âmbito concomitantemente.
Quanto maior a clareza sobre cada uma dessas formas (ou âmbitos) de atuar, maior
a probabilidade de indicar o referencial a utilizar em cada uma delas, possibilitando
distinguir entre o que é prevenção e o que são os demais tipos de atuação profissional,

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inclusive quando ocorrem ao mesmo tempo. Por exemplo, ao atender um indivíduo


com fratura, é possível “atenuar o sofrimento”, “recuperar a lesão” e “prevenir sequelas
da fratura” (e não novas fraturas). Para ser dito que essa parte da atuação profissional
é preventiva são necessárias ações relativas a outros tipos de variáveis para diminuir
a probabilidade de ocorrência de novas fraturas nos indivíduos em geral e naquele
específico. É preciso, portanto, ter claro que, ao usar a expressão “prevenir sequelas”
(outros problemas diferentes e decorrentes da fratura), o referencial foi mudado e o
profissional não está “curando sequelas” ou “prevenindo fraturas”. Ao reiterar esse
exemplo, fica ilustrada a multiplicidade de tipos de atuação que podem ser realizados
em uma mesma intervenção, constituindo, inclusive, diferentes etapas desse processo.
Isso poderia estender-se na identificação de variáveis responsáveis por tais fraturas

INDEX
e em procedimentos, incluindo tecnologias específicas, para fazer com que elas
não ocorram mais. Reiterar esse exemplo apenas ilustra uma grande quantidade de
situações existentes (efetiva ou potencialmente) na sociedade que podem ser objeto de
trabalho de qualquer campo de atuação profissional. Basta trocar o exemplo “fratura”
por qualquer outro problema, mesmo de natureza social, administrativa, psicológica,
estrutural, institucional etc. e haverá os mesmos tipos de decorrências, exigências e
possibilidades para qualquer modalidade de trabalho profissional.

BOOKS
A manutenção de instalações, construções, equipamentos, alimentação, proteção
das intempéries etc. são exemplos de um âmbito de atuação com frequência descuidado
ou tratado com pouca atenção na sociedade. O resultado são os acidentes e problemas
provocados por variáveis que exigem atenção (e controle) regular para serem mantidas
em funcionamento apropriado para os fins a que deveriam ser úteis. Sem manutenção,
os custos das intervenções, seus preços e prejuízos, muitas vezes irrecuperáveis, podem
ser algo com que todos se defrontarão com frequência. É um tipo de intervenção
pouco valorizado, embora muito importante para a qualidade de vida das pessoas

GROUPS
em qualquer ambiente. O noticiário (jornais, TV, internet etc.), na primeira década
do século XXI, ironicamente com o desenvolvimento da tecnologia de informações,
foi pródigo em notícias a respeito de problemas com todos os tipos examinados de
distorções de atuação (de técnicos, administradores, políticos e população em geral).
Mesmo em uma única ação é possível ter vários âmbitos de atuação, dependendo <n
do aspecto (ou dos graus que podem ter as variáveis componentes) daquilo que está
7

sendo atingido ou realizado. É preciso identificar qual é a variável em foco (ou quais,
PARU

mais provavelmente), o seu grau (o que também envolve as próprias variáveis que
constituem o comportamento profissional) e o resultado definidor que está sendo
obtido pela intervenção para caracterizar o tipo de comportamento profissional 83

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que está sendo desenvolvido ou os tipos de atuação que estão sendo realizados
simultaneamente. Sem essa percepção, dar nomes à atuação profissional pode ser
um mero exercício de “rotulação delirante”, nomeando o que é feito em função de
aspectos irrelevantes para o trabalho de interesse. Embora possam, provavelmente, ser
relevantes para as conveniências pessoais ou políticas em uma ou outra circunstância.
Conceitos também se prestam a defesas e desonestidades variadas e isso precisa
ser cuidado no contexto de um trabalho profissional sério. Usar as expressões -
principalmente “prevenção” - para nomear formas de atuação de outros âmbitos de
atuação profissional é mais do que desonestidade. É uma perigosa falsificação que
compromete, não apenas o trabalho a ser feito e os resultados que interessam, como

INDEX
também prejudica a própria percepção do profissional a respeito do trabalho em seu
campo de atuação. E isso tende a ocorrer muito rapidamente quando são apresentados
comportamentos inadequados em relação a esse sistema conceituai.
Um quarto aspecto da atuação profissional passível de exame refere-se ao fato de
que os determinantes das condições que constituem o alvo da intervenção em cada
âmbito de abrangência são diferentes. Retomando o exemplo da fratura, quando
o indivíduo é assistido por um profissional de saúde, a atuação é exercida sobre os
determinantes individuais neurológicos capazes de diminuir a sensação de dor. De

BOOKS
forma semelhante, quando o profissional substitui a função do membro inferior pela
utilização de aparelhos (por exemplo, muletas), está lidando com variáveis relacionadas
à compensação da perda. Quando o objetivo é reduzir a fratura para recuperar o dano
ocorrido, a atuação alvo é sobre os componentes anatômicos e fisiológicos lesados para
devolver o máximo possível da função ao membro atingido (reabilitação). Mas embora
seja possível recuperar o dano feito, o período em que ele existiu (e o que aconteceu
nesse período) não é recuperável. Em prevenção, nesse exemplo, a atuação é exercida
sobre as variáveis que determinam a ocorrência de fraturas, quer no indivíduo (por

GROUPS
exemplo, melhorando a quantidade de cálcio no organismo), quer nas populações (por
exemplo, controlando a ação de fatores ambientais que aumentam a probabilidade de
ocorrência de acidentes, no caso de parcelas populacionais como pessoas idosas ou
com limitações físicas). Quando as condições de saúde são consideradas satisfatórias,
a atuação é exercida no sentido de manter os determinantes responsáveis por elas,
como criar exercícios para as pessoas manterem boas condições de funcionamento
;>

dos membros inferiores. Por fim, ao promover saúde, o profissional precisa propor
PARU

comportamentos adequados e desenvolver tecnologias que possibilitem superar


as condições de saúde consideradas boas e já existentes nos indivíduos. Isso pode
84 implicar em modificações até nas estruturas sociais ou na organização ambiental

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onde vivem os organismos. Os esforços da produção de alimentos com tecnologias


que sejam “as mais naturais possíveis” se aproximam de exemplos desse tipo de
intervenção. No entanto, os processos de produção, conservação, distribuição,
preparação e consumo de alimentos estão longe de proporcionar que a população
tenha uma boa alimentação, garantindo melhores condições de saúde para a sociedade
de forma integral. Isso pode ser estendido para qualquer comportamento e condição
que lhe diga respeito ou que interfira nos processos que constituem o que poderia ser
considerado “organismo humano”.
Em cada um desses âmbitos, os determinantes das condições de saúde com os quais
e sobre os quais os profissionais agem são diferentes e exigem uma atuação profissional

INDEX
também diferente. Os exemplos são múltiplos no campo da segurança para o trabalho,
no qual todos esses âmbitos de atuação ilustrados na Figura 1 são importantes,
particularmente os que envolvem prevenção, manutenção, aperfeiçoamento e
promoção de melhores condições de segurança no trabalho (Bley, 2006). Ignorar,
desconsiderar ou menosprezar qualquer um dos âmbitos de maior amplitude de
abrangência, obrigará a trabalhar nos âmbitos de abrangência mais restrita com custos
certamente maiores e mais sofrimento do que se houvesse uma distribuição de atenção
em cada um deles proporcional a sua importância e aos seus benefícios.

BOOKS
Os exemplos no campo da saúde ilustram o que pode acontecer em vários outros
campos profissionais em cada um desses âmbitos de atuação. Em processos produtivos
(de qualquer tipo), nos cuidados com as condições de uma cidade (saneamento, vias
de transporte, iluminação, conservação etc.), em processos sociais dos mais variados
tipos (interação conjugal, relações entre pais e filhos, legislação, interação profissional
em uma organização de trabalho - o que é denominado genericamente pela metáfora
“clima organizacional”- etc.). E, ainda, em outros processos, os mesmos âmbitos

GROUPS
de atuação se apresentam com dificuldades, limitações e possibilidades similares
para o desenvolvimento da qualidade da atuação e da formação de pessoas nos
mais variados campos profissionais. Prisões, escolas, hospitais, abrigos para pessoas
desprotegidas ou vulneráveis são exemplos que possibilitariam explorar esses vários
âmbitos com múltiplas instâncias de contribuições para que tais tipos de atuação
ou de instituições fossem mais significativas ou mais efetivas para a sociedade ter
melhores condições de vida.
Em síntese, uma atuação profissional pode interferir em vários fenômenos ao mesmo
tempo. Algumas vezes, essa atuação é de natureza curativa ou consertadora, em outras,
é do tipo preventivo ou ainda de manutenção, podendo ser ainda de aperfeiçoamento
do que está bem ou de promoção de processos ainda inexistentes. Também podem

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ser de atenuação de sofrimento ou prejuízos, dependendo das variáveis que a ação


profissional pode modificar e dos graus de cada uma, assim como dos resultados que
produz ou precisa produzir em relação aos fenômenos que constituem o alvo dessa
intervenção. A importância dos conceitos (e do conceito de prevenção em particular)
é tornar claro ao profissional quais variáveis precisam ser alteradas (controladas),
quais precisam ser apenas atenuadas e quais precisam ser mantidas para ajudar no
processo de decisão profissional sobre o alcance e possibilidades de atuar em cada um
desses âmbitos de atuação.
Isso tudo também envolve considerar tanto as variáveis constituintes quanto as
determinantes das próprias condições e recursos relacionados à atuação profissional. É
necessário destacar que os vários tipos ou âmbitos de atuação profissional (ver Figura 1)

INDEX
não são melhores ou piores em si. Eles precisam ser definidos como complementares e
realizados em função da natureza do problema a ser resolvido ou do que é mais relevante
(e até viável) ser feito a cada momento de um processo de intervenção profissional
ou em cada tipo de intervenção necessária em relação às condições de ocorrência
de um fenômeno, seja do tipo que for. Na perspectiva de abrangência dos resultados
ou benefícios sociais, esses tipos de atuação podem ser considerados “âmbitos de
atuação” em virtude da amplitude de seus benefícios para um organismo ou para uma

BOOKS
coletividade de indivíduos. A amplitude de benefícios também é observada do ponto
de vista dos custos sociais e do grau e duração de sofrimento dos organismos e dos
coletivos desses organismos. Nos âmbitos mais abrangentes, os custos e o sofrimento
tendem a ser menores. Nos âmbitos menos abrangentes, acontece o contrário, embora
o preço financeiro imediato da intervenção possa ser diferente. O custo é sempre uma
relação entre preço financeiro, dificuldades de realização (o que faz parte do preço)
e benefício obtido. Mais do que apenas considerar o preço de uma intervenção, é
importante considerar as relações entre, no mínimo, esses três componentes: preço

GROUPS
financeiro, dificuldades (e tempo) de realização e benefícios produzidos. Muitas vezes,
se não há dinheiro para fazer bem feito, dificilmente haverá dinheiro para fazer outra
vez. Isso também vale para o tempo de execução (se não há tempo para fazer direito,
haverá para fazer de novo?). No entanto, alguns âmbitos de atuação, se bem feitos e
apropriados às características do objetivo da intervenção profissional, podem ser mais
caros financeiramente, tT us de baixíssimo custo considerando a relação entre preço
pago e benefício obtido (incluindo sofrimentos e perdas evitados).
Nos acontecimentos decorrentes do terremoto que destruiu o Haiti no começo
de 2010, com toda a similaridade com as enchentes e catástrofes (naturais?) que
ocorreram em múltiplos outros lugares do mundo, há alguns cálculos sobre a

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proporção entre PIB e quantidade de mortos. Observando e comparando 73 países


(pobres, médios e ricos), a conclusão de Costa e Kahn (2007) salienta que, enquanto os
grandes desastres naturais distribuem-se equitativamente pelo planeta, o número de
mortos é muito diferente. Países com um PIB per capita de US$ 2.000 apresentam uma
média de 944 mortos por ano, enquanto países com um PIB per capita de USS 14.000
tem uma média de 188 mortes. Países com melhores condições para planificar com
rigor, construir com segurança e socorrer com rapidez e eficácia têm um índice cinco
vezes menor de mortes. Processos de administração e de governo podem ser processos
comportamentais fortemente responsáveis pelo sofrimento e estão longe de serem
entendidos, considerados ou tratados como variáveis responsáveis pelos estragos que
são feitos nesses casos.

INDEX
Pelos procedimentos e pelos discursos constantemente apresentados, parece que
a natureza não pode ser prevista. Ou pode não ser possível construir e administrar
os recursos naturais para viver em maior harmonia com essa própria natureza. O
conhecimento sobre as interações das ações hum anas com o m undo ou o ambiente
(objeto de estudo da Análise Experimental do Comportamento em Psicologia e de
intervenção dos psicólogos analistas de comportamento em múltiplos campos que
podem atuar) ainda parece ser algo à parte das considerações de trabalho nesses
vários âmbitos de atuação em exame. No caso das “catástrofes naturais” há muito

BOOKS
trabalho para atenuar sofrimento e recuperar danos ou reabilitar condições para
retomar o que foi feito antes. Mas os demais âmbitos de atuação ainda parecem
depender de muitos estudos que produzam conhecimento sobre que outros tipos
de comportamentos precisam ocorrer para que tudo isso seja diferente. O que
inclui variáveis de natureza politico-administrativa dos governos de plantão ou das
estruturas existentes para realizar esse trabalho de administração dos grandes sistemas
de relações que constituem a sociedade. Os conceitos examinados também se aplicam
à Administração e à Política ou, pelo menos, aos comportamentos dos agentes

GROUPS
administrativos e políticos. A interação dos seres humanos com a natureza ainda pode
ser muito aperfeiçoada se o conhecimento existente a respeito de como funciona essa
“natureza” for considerado. Natureza na qual o ser humano interfere sem considerar
os prováveis efeitos em médio e longo prazo que podem ser fortemente prejudiciais e
anular qualquer vantagem imediata que possa haver. Vale de novo a imagem de “jogar
o lixo no quintal do vizinho”. As consequências são muito mais complexas do que
“livrar-se do lixo” e acarretam problemas muito maiores do que outros procedimentos
tão simples ou acessíveis quanto esse de “apenas - e aparentemente - livrar-se do
problema” de forma imediata.

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A decisão de qual forma de atuação (tipo ou âmbito de intervenção) é importante


em cada momento de um trabalho ou para cada tipo de situação com que se defronta
um profissional. Tal decisão pode ser realizada de forma mais aprimorada se houver
clareza sobre essas oito possibilidades de atuação e sua pertinência a cada circunstância.
Aglomerar esses tipos de atuação sob o nome de prevenção (mesmo que com diferentes
tipos de qualificações) não parece ajudar. Não ajuda na melhor visibilidade do
trabalho profissional nem na especificação desses oito tipos (possibilidades, âmbitos)
de intervenção profissional. E isso parece valer para quase todos - se não a todos -
os campos de atuação profissional, além daqueles mais próximos à Saúde em sentido
estrito, nos quais a expressão “prevenção” foi usada com maior frequência em oposição
ao trabalho “apenas curativo” dos profissionais. Qualquer trabalho, na sociedade, pode

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ser examinado com a perspectiva dos oito âmbitos de atuação especificados na Figura 1.
Parece útil reiterar que há relação entre percepção (perceber), conhecimento
(conhecer) e outros comportamentos do profissional em sua atuação no respectivo
campo de trabalho. A maneira como os profissionais “entendem” prevenção traduz
a dificuldade de identificar propriedades essenciais desse conceito. Não apenas para
compor uma definição de prevenção, mas principalmente para utilizar as propriedades
essenciais desse conceito no cotidiano profissional como meio de identificar
continuamente as variáveis que determinam condições de vida em indivíduos, grupos de

BOOKS
pessoas ou comunidades de qualquer porte ou composição. O entendimento limitado,
confuso e equivocado, provavelmente reforçado pelo que existe no conhecimento
disponível a respeito de “prevenção”, aumenta a probabilidade dos profissionais
apresentarem comportamentos de acordo com aspectos muitas vezes periféricos e
irrelevantes desse conceito. O entendimento limitado do que seja “prevenir” aumenta
também a probabilidade de “copiar definições consagradas na literatura” e utiliza-
las para rotular atividades profissionais. Se esses conceitos “copiados” (ou adotados)
são equivocados, inadequados ou pouco claros, é provável que essas limitações ou

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deficiências conceituais produzam diferentes tipos de equívocos, inadequações, falta
de clareza e dificuldades também na atuação profissional. E isso pode acontecer pela
baixa visibilidade (pouca percepção dos aspectos relevantes) dos processos que tais
conceitos deveriam auxiliar a distinguir e identificar (perceber) melhor, com maior
precisão e clareza, para escolher ou decidir qual a forma mais adequada de atuação
a cada circunstância específica com a qual se defrontam os profissionais. Se isso for
verdadeiro, na atuação denominada “recuperação das condições de vida” (na qual
habitualmente os profissionais mais atuam), é possível supor uma dificuldade ainda
maior para atuar preventivamente, um âmbito não usual de atuação nos meios de
trabalho profissional em geral.

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O conhecimento existente, porém, possibilita e até facilita superar essas limitações.


Talvez até por um melhor ensino das aptidões (comportamentos) necessárias para
atuar nesses vários âmbitos de intervenção profissional. A formação profissional
no contexto do ensino superior, por exemplo, é um excelente meio de tornar essas
várias possibilidades de atuação referenciais para as decisões de procedimentos para
realizar as intervenções profissionais no contexto do trabalho com qualidade de vida
das pessoas na sociedade. Talvez a melhor forma de fazer com que esses vários tipos
de atuação tornem-se instrumentos efetivos de decisão e de trabalho profissionais,
seja identificar as competências necessárias (os com portamentos apropriados)
para trabalhar com eles e ensiná-las nos cursos superiores. Cabe ainda destacar
que construir processos de formação exige uma ação conjunta e coordenada das

INDEX
instituições formadoras e dos serviços existentes na sociedade (o campo da Saúde,
entendido como fenômeno amplo, multideterminado e complexo, é um exemplo
disso). Construir processos de formação deve ser conceber processos que qualifiquem
os profissionais a desenvolverem comportamentos competentes (e até habilidosos,
refinados) não apenas em Saúde e nos serviços desse campo, mas para atuar com
e na sociedade, avaliando, reestruturando e implementando novos procedimentos
(“práticas”) em serviços, num continuum em que a atuação profissional se qualifica

BOOKS
e qualifica simultaneamente o trabalho (ou serviço) realizado (Ceccim & Stedile,
2007, p. 13).
Já existem conhecimento e tecnologia para atuar em qualquer um dos oito âmbitos
de atuação profissional ilustrados na Figura 1 em todos os campos de trabalho. O ensino
superior precisa integrar noções de múltiplas áreas em cada um de seus cursos para
aproximar-se das possibilidades de ensinar coerentemente com esse conhecimento
e essa tecnologia. Principalmente superando as tradicionais divisões em grandes
conjuntos (“Biológicas”, “Exatas” e “Humanas”), como se o conhecimento de um deles

GROUPS
fosse dispensável para a capacitação profissional nos outros dois. O próprio conceito
de mercado de trabalho (ofertas de emprego e demandas sociais) precisa ser ampliado
e dar lugar ao de campo de atuação profissional (necessidades sociais e possibilidades
de atuação). Tal ampliação vai ao encontro do que parece ser mais apropriado para
uma Educação no século XXI, capacitando pessoas a trabalharem para efetivamente
atender necessidades sociais e demandas de indivíduos, grupos ou instituições. E
para construírem empreendimentos para trabalhar e não apenas contentar-se com
obter empregos, tornando-se, menos do que profissionais, despachantes de rotinas
estabelecidas em qualquer âmbito da vida no planeta. Um planeta cada vez mais
“mercadológico” e menos capaz de autossustentação na maioria de suas áreas, em grande

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parte já atingidas por uma degradação assustadora. Até porque, mais destruímos o que
foi construído ao longo de séculos do que prosseguimos com aquilo que tanto custou
a tantos povos cujas culturas (conhecimentos, produtos e hábitos) desprezamos como
se fossem apenas “bárbaros”. Talvez haja muito mais a manter, aperfeiçoar e promover
do que corrigir, compensar, atenuar sofrimento e, quase sempre, perder o que já foi
construído para “inovações” que podem ser apenas modismos lesivos no futuro.
O equilíbrio entre esses oito âmbitos de atuação ilustrados na Figura 1, como
objetivos da Educação, pode ser útil para que sejamos, coletivamente, mais capazes de
uma convivência construtiva, sustentável e mais barata em relação ao que está sendo
feito hoje. Sejamos nós alunos, profissionais, governantes, trabalhadores subalternos

INDEX
ou administradores, pais ou filhos, homens ou mulheres, crianças, jovens, adultos ou
idosos. As exigências podem ser iguais para todos em qualquer fase da vida ou em
qualquer ocasião de nossas atividades ou tipos de ocupação profissional. Esconder ou
não aperfeiçoar esses conceitos pode corresponder a ignorar o que pode ajudar a ter
mais e melhores alternativas para as escolhas que constituem a vida.
Os vários âmbitos de atuação examinados estão amplamente alicerçados nos alertas
de Morei (2003) a respeito dos processos comportamentais envolvidos na estrutura
das decisões em que acontecem erros radicais e decisões absurdas. Assim como

BOOKS
estão apoiados no processo de transformação do conhecimento em comportamentos
humanos (Kubo & Botomé, 2001), indo muito além da mera bricolagem de
informações ou na repetição, adoção, paráfrases ou outros procedimentos equivalentes
em relação às informações que revelam o conhecimento produzido por outras
pessoas. Também estão alicerçados na diferença entre os esforços de investigação
científica, com tendência a isolar e examinar microscopicamente, para conhecer em
profundidade, e sua relação com o trabalho profissional, sempre mais macroscópico
e integrador de múltiplas contribuições de cientistas em diferentes tipos de pesquisas.

GROUPS
Esse conhecimento produzido precisa ser processado e não apenas “transposto” para
atuações muitas vezes ligeiras ou superficiais, beirando muito mais a sofisticação
retórica do que a elaboração e construção tecnológica. É necessário, cuidadosa e
precisamente reaüzar transformação do conhecimento em procedimentos de trabalho
(Ribes Inesta, 2009). As contribuições de Leavell e Clark antecedem tudo isso e são - e
sempre o serão - uma importante plataforma para os âmbitos de atuação apresentados
como uma orientação para a capacitação de novos profissionais e para as decisões de
trabalho dos atuais profissionais na sociedade. Em qualquer campo de atuação!

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compreensão e crítica da Medicina Preventiva. São Paulo: Unesp e Rio de Janeiro:
Editora Fiocruz.

BOOKS
Stedile, N. L. R. (1996) Prevenção em Saúde: comportamentos profissionais a desenvolver
na formação do enfermeiro. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação
em Educação da Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, São Paulo, Brasil.
Unesco (1998). Tendências da Educação Superior para o século XXI. Paris: UNESCO;
Brasília: Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras.

GROUPS

11/10/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 11/10/2015

índice de Tabelas e Figuras

TABELA 1
"Níveis” de prevenção no trabalho em Saúde, propostos por Leavell e
Clark (1976), indicando diferentes "graus de prevenção" na concepção dos
autores

TABELA 2

INDEX
Tipos de atuação (classes de comportamentos) profissional possíveis de
realizar no campo profissional da Saúde, segundo Rebelatto e Botomé
(1987), e em outros campos de atuação, ampliando o conceito examinado
pelos autores

TABELA 3
Comparação entre os tipos de atuação profissional propostos por Leavell e
Clark (1972) em relação ao trabalho profissional no campo da Saúde e por

BOOKS
Rebelatto e Botomé (1987) em relação ao trabalho profissional em qualquer
campo de atuação profissional

FIGURA 1
Relações entre os diferentes âmbitos de atuação profissional
(particularmente em Saúde) e a localização do trabalho preventivo
no conjunto desses âmbitos. Os complementos dos verbos podem ser

GROUPS
múltiplos, dependendo dos processos ou fenômenos a que se referem em
diferentes campos de atuação profissional

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