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por conhecimentos específicos para o exer- trada dos recém-graduados nos mercados.
cício de muitas atividades torna a gradua ão Frequentemente, o mercado coloca como
uma condi ão insuficiente para o exercício critério de recrutamento a comprova ão de
profissional. Essas demandas estão transfor- algum curso específico, além do diploma de
mando atividades tradicionais em novas pro- gradua ão. Essa prática é um obstáculo in-
fissões ou abrindo o leque das especializa- tegrado recentemente aos mercados de tra-
ões, como é o caso de cuidadores de crian- balho e é aplicável tanto aos profissionais
as, de agentes de seguros e de acompa- empregados quanto aos autônomos, em di-
nhamento terapêutico. Além disso, constata- versos campos ocupacionais. Ou seja, exige-
se uma reterritorializa ão de atividades que se dos recém-formados alguma inser ão
redefine fronteiras, relativizando o diploma prévia em tarefas mais especializadas. De
de gradua ão, como tem sido observado na certa forma, a “habilita ão” é configurada
diversidade encontrada em fun ões de ges- não somente pelo diploma, mas também
tão, por exemplo. Pesquisa recente, realizada pelos “valores agregados” às competências
pela Associa ão Brasileira de Recursos Hu- e pela trajet ria profissional. Os dados do
manos (ABRH, 2008), revelou que os Admi- segmento da pesquisa que investiga a pro-
nistradores e os Psic logos estão tecnica- fissionaliza ão inicial dos psic logos podem
mente empatados na ocupa ão do cargo de ser analisados sob esse ponto de vista, ou
chefe de gestão de pessoas. Se esse dado for seja, como al guns indicadores que podem
confrontado com o fato de que os cursos de esclarecer os primeiros contatos do psi-
psicologia preparam os psic logos de forma c logo com o mercado. Para a análise da
bastante precária para essa fun ão, constata- questão-fim deste capítulo, tomou-se da
se que esses profissionais estão disputando pesquisa o conjunto de dados produzidos
esse cargo com os administradores que, por sobre os sujeitos que possuem até dois anos
sua vez, pelo menos em tese, recebem uma de tempo de gradua ão e, portanto, ainda se
forma ão mais voltada para o exercício des- encontram na etapa de socializa ão de sua
ses cargos. Essa constata ão da pesquisa da identidade profissional, isto é, ainda na fase
ABRH revela a reterritorializa ão profissio- de busca, configura ão e legitima ão de seu
nal no campo da gestão. A situa ão é análo- engajamento ocupacional como psic logos.
ga em todos os outros campos profissionais. O exame dos dados disponíveis sobre o seg-
Essa dinâmica profissional é confirmada mento de psic logos recém-formados propi-
pela dissemina ão dos cursos de especia- cia uma subamostra de 835, ou 24,9% de
liza ão, extensão e p s-gradua ão. Em bus- todos os sujeitos (Figura 5.1). Essa subamos-
ca de habilidades para atingir a condi ão tra é o objeto de análise neste capítulo.
de especializa ão flexível e uma bagagem Com o objetivo de organizar as dife-
carregada de “competências portáteis”, ou rentes informa ões que essa subamostra
seja, que podem ser utilizadas em várias si- oferece, este capítulo está organizado em
tua ões de atua ão profissional, os profis- três se ões. A primeira é dedicada ao es-
sionais têm participado desses cursos, obs- crutínio das características dos recém-for-
curecendo as fronteiras entre as profissões. mados. A segunda é dedicada a algumas
Esse fato, hoje muito frequente, está com- condi ões que estes ne fitos encontram
plicando a separa ão entre profissionaliza- em sua inser ão profissional e, a terceira,
ão e “habilita ão”, dois conceitos clara- é dedi cada à compreensão das contingên-
mente distintos, há pouco mais de uma dé- cias “internas” do primeiro emprego. Co-
cada. Esse olhar sobre o curriculum profis- mo fechamento do capítulo, são apresen-
sional em busca de “habilita ão” e de po- tadas algumas considera ões visando à sis-
tencialidades coloca obstáculos para a en- tematiza ão dos resultados mais signifi-
O trabalho do psicólogo no Brasil 87
3,353
4000
3500
3000
2500
2000
1500
834
1000
500
0 Amostra geral
Recém-formados
Figura 5.1 Comparativo entre número total de psic logos pesquisados e amostra de recém-gra-
duados, em números absolutos.
Fonte: Dados do questionário online aplicado.
cativos e à síntese daquilo que esta par- se a viabilidade, a visibilidade, o acesso não
te da pesquisa agrega à profissiona liza ão problemático e a potencialidade de realiza-
dos psic logos. ão pessoal e profissional que o ser psic -
logo oferece ao jovem brasileiro. Os dados
da pesquisa não permitem a incursão nes-
CArACTErÍSTICAS DOS sas diversas possibilidades, mas pode-se
PSICólOgOS rECÉm-grADUADOS concluir, sem receio de qualquer exagero,
que a constata ão da porcentagem de 1/4
A análise dos dados fornecidos pelos dos profissionais serem recém-formados é
sujeitos dessa subamostra revela poucas um indicador da possibilidade e da confian-
surpresas sobre a profissão de psic logo. Se a que a profissão oferece para o engaja-
essa propor ão de 24,9% de recém-forma- mento ocupacional e da potencialidade de
dos corresponder à popula ão de psic logos realiza ão pessoal, econômica e social. Esse
ne fitos de todo o país, pode-se conside- dado e as hip teses que dele decorrem per-
rar a hip tese de que essa profissão encon- mitem a considera ão de que os psic logos
tra-se em ritmo de crescimento positivo. Há podem ser uma for a transformadora da
suficiente escolha da profissão de psic logo sociedade brasileira.
para repor e expandir a popula ão já cons- Além do crescimento constatado, um
tituída dessa profissão. Isso quer dizer que olhar sobre as características dos sujeitos
ser psic logo é um caminho profissional dessa subamostra revela outros aspectos re-
que interessa e motiva os jovens, uma vez lacionados à evolu ão da profissão de Psi-
que não se constata falta ou queda de novas c logo que esclarecem tendências da socie-
escolhas para essa ocupa ão. Tal hip tese dade, assim como revelam problemas. Na
estimula outra questão: “qual a razão ou o Figura 5.2 estão ilustrados alguns dados
motivo desse interesse por ser psic logo?”. que são indicadores da dinâmica da profis-
Merecendo receber apostas como possíveis são de Psic logo e de sua interface com a
boas respostas a essa questão, encontram- sociedade brasileira.
88 Bastos, Guedes e colaboradores
IDADE/SEXO
Feminino: 83,9%
Entre 24 e 26 anos: 51,4% Masculino: 16,1%
mOrADIA
ESCOlArIDADE-PAIS
PAI: mãE:
Pós-Graduação: 15,3% Pós-Graduação: 11,6%
Superior completo: 30,0% Superior completo: 23,6%
Médio completo: 23,6% Médio completo: 28,0%
Outros: 9,6% Outros: 36,8%
Privada 75,7%
Pública 24,3%
Outro aspecto que chama aten ão nas da busca seu espa o profissional. Provavel-
características dos psic logos recém-forma- mente, essas porcentagens refletem as con-
dos é a sua distribui ão nas diversas regiões di ões de mercado às quais os psic lo-
do país. A concentra ão mais alta de psi- gos estão sujeitos. Os empregos e as opor-
c logos está alocada nas regiões Sudeste e tunidades de trabalho autônomo andam
Sul (Figura 5.4), exatamente onde são ofe- em correla ão com as atividades e o dina-
recidos mais cursos de Psicologia e onde, mismo econômico e cultural. Como a Psi-
também, se constata a concentra ão de ati- cologia oferece significativa amplitude de
vidades econômicas industriais, de servi- engajamentos profissionais, com diferentes
os e comerciais. Na Figura 5.10, verifica- especializa ões e tipos de institui ões, fica
se, igualmente, a propor ão dos recém-for- difícil o levantamento de hip teses que di-
mados que já estão engajados na profissão recionem a compreensão dos porquês. Mes-
(351 sujeitos, ou seja, 41,5% do total de 835 mo assim, é de conhecimento público que
formados) e daqueles que ainda não conse- muitas institui ões nas áreas social, de saú-
guiram essa meta (58,5%). Chama a aten- de, de trabalho e de educa ão ainda não se
ão do leitor o fato de que, nas regiões Sul, estruturam para demandar a atua ão de
Sudeste e Norte, a maioria dos recém-for- psic logos, utilizando servi os de pessoas
mados já encontrou emprego, enquanto nas “habilitadas” ou de profissionais mais ex-
regiões Nordeste e Centro-Oeste, ao con- perientes que aceitam salários de trainees,
trário, a maioria dos recém-graduados ain- ou profissionais de áreas fronteiri as com a
3,1
Norte
2,7
7,4
Centro-Oeste
10
Recém-formado
com 1º emprego
Recém-formado sem
17,7
Nordeste a 1ª inserção no
19,1 mercado de trabalho
28,5
Sul
25,2
43,3
Sudeste
42,7
0 10 20 30 40 50
Figura 5.4 Comparativo entre a distribui ão dos profissionais recém-graduados e que possuem
primeiro emprego por região do país, em percentuais.
Fonte: Dados do questionário online aplicado.
O trabalho do psicólogo no Brasil 91
Psicologia, como é o caso dos psiquiatras ão de sua forma ão, com a experiência de
em clínicas e hospitais e dos pedagogos, trabalho, o parâmetro de 5 salários míni-
nas escolas. Esse resultado é um importan- mos o coloca acima da grande maioria dos
te sinal para orientar as políticas públicas trabalhadores do país. Além disso, o fato de
relativas à profissão do psic logo. Talvez, 21% receber entre 6 e 8 salários mínimos
em regiões como o Nordeste e Centro-Oes- revela que alguns setores e algumas insti-
te, fosse necessário um projeto dedicado tui ões valorizam as atividades dos psic -
ao investimento na viabiliza ão profissional logos ou que a profissão está inserida na di-
dos psic logos. Essa é uma hip tese plau- nâmica da competitividade. É possível que
sível, porém, não deixa de ser uma suposi- a alta porcentagem de oferta ainda dispo-
ão que não avan ará sem o apoio de mais nível de profissionais recém-formados (Fi-
dados empíricos. gura 5.4) seja um dos fatores que contri-
Outro aspecto importante do estudo bua para o achatamento médio da remu-
das profissões está nos padrões e nas prá- nera ão. Provavelmente, alguns profissio-
ticas de remunera ão. O trabalho, além de nais têm mais de um emprego, fato que po-
ser uma fun ão psicol gica, por meio do de alterar a interpreta ão dos dados expres-
qual o individuo se realiza e viabiliza pro- sos na Figura 5.5. Os problemas e as hip -
jetos pessoais, também goza do status de teses propiciados pelos dados disponibili-
fun ão econômica. É por meio do trabalho zados nessa pesquisa instigam a necessidade
que as pessoas provêm recursos para a sua do aprofundamento e da expansão da inves-
sobrevivência. Sob esse aspecto da profis- tiga ão da profissionaliza ão dos psic logos
sionaliza ão, os psic logos apresentam al- para se ter uma visão da dinâmica comercial
guns problemas. O primeiro dado que apa- desses profissionais. Talvez, estudos longitu-
rece da leitura da Figura 5.5 é a disper- dinais sejam mais esclarecedores.
são e a irregularidade na remunera ão. En- Em uma sociedade competitiva, com ex-
quanto 26,2% da amostra total de psic lo- cedente de oferta, dentro de um contex-
gos ganha algo igual ou superior a 10 sa- to que é caracterizado pela rápida inova ão
lários mínimos, 42,7% ainda não atingem em tecnologia e em formas de gestão, a in-
5. Essa dispersão revela a existência de pos- ser ão profissional demanda dos psic logos
síveis disparidades entre as áreas de espe- tanto controle quanto investimento sobre
cializa ão, como educa ão, trabalho e saú- sua atualiza ão, para evitar os riscos da mar-
de, também entre servi o público e priva- ginaliza ão profissional, como vem sendo
do e entre tempo integral e tempo parcial. comum hoje em dia. Essa questão chama o
Não há padrões uniformes de remunera ão. interesse do pesquisador para as formas de
Ser psic logo é uma profissão muito estrati- atualiza ão profissional que também atin-
ficada por diversas categorias de deman- gem o recém-formado. A Figura 5.6 oferece
da e de valoriza ão. Um fato curioso dos uma visão geral das respostas dos partici-
dados é o de que a situa ão dos recém-for- pantes da pesquisa. A primeira conclusão
mados se revela muito melhor do que a que se pode inferir desse gráfico é a disponi-
condi ão do psic logo pleno. É possível ob- bilidade de diversos recursos de atualiza ão,
servar que 39,6% dos trainees recebem, em tais como congressos, cursos de especiali-
média, perto de 5 salários mínimos, índice za ão, supervisão acadêmica, grupos de es-
não desprezível no quadro geral de salários tudo, atividades de aperfei oamento, já bem
no Brasil. Para um profissional que ainda é conhecidas de todas as profissões. Todas es-
jovem, está na fase de socializa ão de sua sas possibilidades têm contribuído signifi-
identidade profissional e ainda tem que in- cativamente e integram o Plano de Desen-
vestir significativamente na complementa- volvimento Individual (PDI), que hoje é um
92 Bastos, Guedes e colaboradores
50
45
39,6
40
35
30,7
28,5
30
26,2
25
18,1
20
15,3
14,2
15
11,3
10
5,7
5
5
0
450 1850 2250 3150 de 4000 a
9450
Figura 5.5 Percentuais comparados da renda numérica média, em reais, dos recém-graduados e da
amostra geral.
Fonte: Dados do questionário online aplicado.
imperativo para todos os profissionais. De gere que esse empenho pode ser um pro-
acordo com os dados, os psic logos têm uti- cesso de contínuo aperfei oamento, como
lizado mais de uma dessas alternativas. Nes- um forte sintoma da consciência da ne-
se aspecto, a popula ão de psic logos plenos cessidade e da rea ão positiva a essa de-
e a de recém-formados não se diferenciam. manda. Isso ocorre tanto para os recém-for-
A atualiza ão profissional ocorre a partir mados, de uma maneira geral, quanto para
de uma combina ão de diversas formas de aqueles que já atuam na profissão há mais
aprendizagem e atinge a todos. tempo. É provável que haja diferen as sig-
Conforme ilustra a Figura 5.6, pode-se nificativas se os distintos campos de atua-
afirmar que os recém-formados procuram, ão profissional forem comparados entre si.
de forma significativa, manter-se atualiza- Assim, por exemplo, a supervisão acadêmi-
dos utilizando todas as estratégias dispo- ca tem sido mais comum entre os psic lo-
nibilizadas pelo mercado de forma ão. A gos clínicos do que entre os psic logos que
frequência de atividades de atualiza ão su- atuam na área de trabalho.
O trabalho do psicólogo no Brasil 93
90,2
Congresso
87,2
80,3
Especialização em Psicologia
83,0
72,6
Supervisão acadêmica
68,1
36,9
Aperfeiçoamento
41,0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Figura 5.6 Percentuais comparados entre os psic logos recém-formados e os que atuam em seu
primeiro emprego por tipo de atualiza ão profissional.
Fonte: Dados do questionário online aplicado.
Um último aspecto que envolve a carac- tor, que já foi mais popular como critério de
teriza ão dos recém-graduados diz respeito escolha profissional e hoje já não apresenta
às razões que os levaram a escolher a pro- tanta for a de apelo devido à competi ão e
fissão de psic logo. Foi considerada para à oscila ão do mercado de trabalho, é o
analisar essa questão apenas a porcentagem status profissional, o prestígio, que sensibili-
de respondentes que considerou as razões zou de maneira mais forte apenas 19,5% dos
apresentadas como tendo forte influência. sujeitos. Quanto ao status da profissão, os
Ou seja, aqueles que assinalaram (em uma recém-graduados avaliam que a profissão
escala que mediu a intensidade da influên- goza de certo prestígio, pois a média de con-
cia de 1 a 7), apenas as op ões de 5 a 7. cordância de que o psic logo possui credibi-
Nessa questão, os dados permitem inferir lidade, significância e é reconhecido foi de
que os recém-formados foram mais forte- 4,5 para a maioria dos pesquisados que com-
mente mobilizados por fatores de ordem põem este segmento, em uma escala em que
interna (Figura 5.2), tais como, realiza ão o grau máximo de concordância era 7.
pessoal, voca ão, compatibilidade com as Ao finalizar essa análise-interpreta ão
pr prias habilidades, gosto e valoriza ão das características do psic logo recém-for-
das atividades e dos objetivos realizados mado, tem-se um quadro definido, claro e
pelos psic logos. Fatores externos, tais co- indicativo de uma identidade do profissio-
mo remunera ão, abertura do mercado, vi- nal. Os psic logos recém-formados são jo-
sibilidade da profissão e riscos diversos ti- vens do sexo feminino que ainda não se
veram influência forte em um segmento desligaram de suas famílias; ultrapassaram
menor 30,5% dos recém-formados. Um fa- a etapa educacional atingida por seus pais
94 Bastos, Guedes e colaboradores
fato es i te os
93,4%
S a s socia
fato es exte os
da p o iss o
30,5%
19,5%
rAzõES
ESCOlhA DA
PrOfISSãO
Figura 5.7 Razões que levaram os psic logos recém-graduados a escolher a profissão, em percentuais.
Fonte: Dados do questionário online aplicado.
0,4
Nunca atuou 3,0
2,5
Já atuou, mas não exerce
3,6
nenhuma atividade atualmente
% amostra mais de
2,0
Exerce atividade fora do 2 anos de formado
4,4
campo da psicologia % amostra
recém-graduados
24,8
Exerce atividade na psicologia
21,9
e em outros campos
70,3
Exerce atividade 67,1
somente em psicologia
Figura 5.8 Compara ão da condi ão de atua ão entre amostra de recém-formados e os psic logos
com mais de dois anos de tempo de gradua ão, em percentuais.
Fonte: Dados do questionário online aplicado.
dade na qual os empregos são instáveis, muito baixos, insuficientes como indicado-
migrantes, dinamizados por alta competiti- res de alguma tendência ou como um re-
vidade e frequentes rupturas na carreira, o sultado que sofre interven ão de variáveis
fato de 2/3 de profissionais viverem da devidas ao acaso.
profissão na qual se graduaram revela o A partir desse quadro, pode-se conside-
quadro de uma profissão organizada que rar que o ser psic logo é uma profissão atra-
oferece servi os demandados pelo merca- tiva, sob o ponto de vista de sua potencia-
do. Infelizmente, essa pesquisa não fornece lidade de realiza ão profissional e de merca-
dados qualitativos para se interpretar os do como hip teses merecedoras de investi-
24,8% e os 21,9% daqueles (respectiva- mentos. Os dados frequentemente publi-
mente, psic logos plenos e recém-forma- cados sobre outras profissões – engenheiro,
dos) que exercem outras atividades re- advogado, administrador, economista – dão
muneradas. Essa dupla carreira, tanto po- conta de situa ões muito mais problemáti-
de ocorrer devido a alguma peculiaridade cas do que a do psic logo. Tal resultado re-
das circunstâncias da vida do profissional for a a análise anterior sobre a potencia-
quanto devido a uma escolha intencional lidade motivadora da Psicologia como tra-
de carreira dupla ou, ainda, devido a uma jet ria ocupacional, uma vez que a proba-
necessidade para completar seus rendimen- bilidade de engajamento é alta. Integra essa
tos. Muitas pessoas, em diversas profissões, representa ão otimista da profissão a consta-
apresentam as mesmas condi ões. Os de- ta ão de que a condi ão de atua ão dos pro-
mais extratos da amostra revelam escores fissionais psic logos não muda muito quan-
96 Bastos, Guedes e colaboradores
atividade fora
do campo da
psicologia
de baixa remuneração
Exerce
54,2
Ausência de oferta de trabalho
21,1
atividade atualmente
Outros
Já atuou, mas não
exerce nenhuma
26,3
Baixa remuneração
Nunca
atuou
61,1
Ausência de oferta de trabalho
0 10 20 30 40 50 60 70
Figura 5.9 Motivos que justificam, predominantemente, as condi ões de inser ão dos recém-for-
mados, em percentuais.
Fonte: Dados do questionário online aplicado.
escore ao qual se pode atribuir influências do duz nas atividades e nos limites dos diver-
acaso, mas é indicativa de variáveis estrutu- sos campos profissionais. A complexidade
rantes do contexto no qual eles trabalham. também é observada em fun ão do crescen-
Em rela ão aos psic logos plenos, os dados re- te questionamento que a intensifica ão das
velam alguma crise na profissão, que não lhes interfaces da Psicologia com outras ciências
oferece perspectiva futura ou porque lhe pro- vem sucitando sobre as metodologias de
piciam baixa remunera ão, 26,3%. A com- pesquisa. Diante desse quadro, essa análise
preensão e os motivos desses resultados de- não poderia ser completada sem a conside-
manda dados que esta pesquisa não oferece. ra ão de hip teses sobre o retrato da área
Há, ainda, uma última considera ão sobre os da Psicologia como profissão a partir de
psic logos que atuam profissionalmente em fatores como o regime de trabalho, a remu-
outras áreas que não a Psicologia. Dentre os nera ão, as atividades, as institui ões em
24,8% dos psic logos plenos (Figura 5.8) que que os psic logos são profissionalmente en-
atuam fora da área de gradua ão 54,2%, ou gajados e suas formas de atua ão.
seja, aproximadamente 12% da popula ão to- Confirmando aquilo que já foi analisado,
tal, citam a falta de oferta de trabalho, índice 41,8% dos recém-formados caracterizam-se
ligeiramente superior aos coeficientes de de- de profissionais formalmente engajados den-
semprego do país. Como os empregos, no tro dos quatro setores institucionais que ofe-
contexto atual, são viabilizados mais do que recem oportunidades de trabalho – a ativida-
procurados, é necessário buscar mais infor- de autônoma, 37,3%, o setor público, 33,6%,
ma ões, isto é, dar continuidade a essa pes- o setor privado, 19,7%, e as institui ões que
quisa para se ter uma ideia mais precisa dos não são privadas e nem governamentais, co-
fatores que afetam a profissão na atual di- mo é o caso das ONGs, 9,4%. Essa estratifi-
nâmica dos mercados de trabalho. ca ão do primeiro emprego leva a interpretar
A partir dessas constata ões, pode-se que o psic logo encontra espa o nos quatro
concluir que a profissão de psic logo oferece setores formais da economia do país. Essa
oportunidades profissionais para a grande abertura é um sinal positivo da aceita ão da
maioria dos indivíduos que decidiram abra- profissão e da diversidade de atividades rea-
á-la como caminho de suas vidas. Contri- lizadas pelas institui ões que são porosas para
buem para algumas dificuldades, a dinâmica receber a contribui ão de um especialista em
do mercado e a baixa remunera ão oferecida comportamento humano ou que necessitem
e, provavelmente, as limita ões dos profis- desse especialista para funcionar.
sionais, recém-formados e plenos, na viabi- O corolário dessa conclusão é a signi-
liza ão de seus empregos. ficativa amplitude de oportunidades dis-
poníveis para os psic logos no mercado.
De certa forma, o ser psic logo no Brasil
CArACTErIzAnDO O PrImEIrO é atuar em uma profissão que dispõe de
EmPrEgO DO rECÉm-grADUADO muitas portas abertas para o engajamento
ocupacional, facilitando alternativas distin-
O terceiro aspecto, cuja contribui ão tas de carreira para os recém-formados. Is-
pesa de modo significativo na compreensão so significa que um psic logo pode ter in-
da profissão de psic logo no Brasil cujos teresses não somente por uma particular
dados da pesquisa permitem considerar, são especialidade como, por exemplo, a clínica,
as características presentes no primeiro em- mas também por uma institui ão específica,
prego. Esse conjunto de características é, uma escola, dentro de distintas op ões de
indubitavelmente, complexo devido à tran- vínculo, seja como empregado, como s cio
si ão que a globaliza ão da sociedade pro- ou como autônomo.
98 Bastos, Guedes e colaboradores
Amos total
3.335
Amostra recém-formados
com 1º emprego 351
Figura 5.10 Comparativo numérico entre amostras de recém-formados, recém-formados com pri-
meiro emprego e amostra total pesquisada.
Fonte: Dados do questionário online aplicado.
37,3%
Autônoma
InSErçãO 3º SETOr
ONGS (93,1%)
Figura 5.12 Âmbitos nos quais os psic logos recém-formados se inserem em seu primeiro emprego
por setor, em percentuais.
Fonte: Dados do questionário online aplicado.
Conforme é possível constatar na Figu- setor privado, por sua vez, absorvendo 1/5
ra 5.12, as ONGs são os locais onde aqueles dos psic logos recém-formados lhes oferece,
profissionais que desejam realizar sua carrei- tal como o setor público, ampla variedade
ra no terceiro setor dispõem de mais ofertas de op ões para engajamento institucional e
de engajamento profissional, além de outras significativa diversidade de especializa ões.
aqui não publicadas, como sindicatos e coo- Essa ampla variedade de trajet rias de car-
perativas, segundo constatado na Figura 5.13. reira cria um quadro mais complicado do
Essa informa ão foi omitida na Figura 5.12, psic logo quando outras variáveis como as
por ser uma alternativa ainda pouco frequen- especialidades e as abordagens de atua ão,
te. A institucionaliza ão profissional do psi- o acesso ao trabalho, o regime contratual, a
c logo como trabalhador autônomo, que é o carga horária e a forma de remunera ão são
segmento de maior frequência para o pri- consideradas, como mostram as Figuras 5.13
meiro emprego, dispõe da possibilidade de e 5.14 e na Figura 5.15.
trabalho em consult rios alugados e par- Os psic logos atuam em diferentes ramos
ticulares, provavelmente como atividade “so- das atividades humanas e isso é claramente
lo”, em parceria ou em associa ão com ou- refletido no primeiro emprego. A atividade
tros profissionais em equipes multidiscipli- predominante está claramente alocada na
nares que integram colegas da mesma e de área de saúde, através da atua ão em clínica,
outra área ocupacional. A inser ão no setor 35,3%, e em saúde 10,4%. A área da Psico-
público é significativa, constituindo 1/3 dos logia do Trabalho e das organiza ões aparece
casos de primeiro emprego, e dispõe de alta como a segunda especialidade mais atrativa
diversidade de especialidades e de institui- e, possivelmente, mais demandada. As outras
ões. Nesse setor, podem se engajar os psic - áreas aparecem em seguida com escores me-
logos que direcionam suas carreiras para a nores, porém marcando presen a no cená-
especializa ão em clínica e saúde, em traba- rio profissional, como a docência e a Psicolo-
lho, em educa ão e em projetos sociais. O gia Jurídica.
100 Bastos, Guedes e colaboradores
SETOr PÚBlICO
SETOr PrIvADO
OngS COOPErATIvAS
Figura 5.14 Percentuais comparados da amostra por tipo de acesso, carga horária e regime de
trabalho e por setor de atua ão.
Fonte: Dados do questionário online aplicado.
45,0
40,0
35,0
30,0
25,0
20,0
Só assalariado
15,0
Assalariado e autônomo
10,0 Só autônomo ou voluntário
5,0
0,0
Recém-formados Recém-formados Amostra geral
com 1º emprego
Figura 5.15 Percentuais comparados entre amostra de recém-formados, recém-formados com pri-
meiro emprego e amostra total por condi ão de assalariamento.
Fonte: Dados do questionário online aplicado.
Figura 5.16 Atividades mais frequentes no primeiro emprego dos recém-formados por setor de
inserção, em percentuais. Foram retiradas as frequências nulas e as abaixo de 3.
Fonte: Dados do questionário online aplicado.
OngS e
Seto púb ico Seto p i ado
coope ati as
– Em grupos – Em grupos
fo a de
multidisciplinares – Individual (48%) multidisciplinares
atua o
(61,9%) (41,7%)
Co t ibui o
o a de atua o
– Muito (62,5%) – Muito (62,5%) – Muito (68,6%)
pa a a ca ce
de esu tados
Se ti e to e
e a o ao seto – Satisfeitos (71,9%) – Satisfeitos (78,8%) – Satisfeitos (70,0%)
de atua o
Figura 5.17 Percentuais comparados entre a amostra de recém-formados com primeiro emprego,
por setor de atua ão e forma de atua ão, contribui ão para alcance dos resultados, sentimento em
rela ão ao setor de atua ão e percep ão de possibilidades de crescimento.
tor público, 62,5%, e nas ONGs e coope- como um setor ocupacional amadurecido e
rativas, 68,6%, provavelmente devido às em desenvolvimento.
condi ões e à finalidade do trabalho. Nes-
sas institui ões, a atua ão profissional é
mais protegida da competitividade e das COnClUSãO
pres sões de um plano estratégico, bem co-
mo menos influenciadas pela busca de lu- É animador, gratificante e esperan o-
cros financeiros. so para uma sociedade e para os profis-
Os sentimentos em rela ão ao setor e à sionais da Psicologia encontrar resultados
pr pria atua ão revelam alto índice de sa- como esses, identificados na popula ão de
tisfa ão, fato que sugere a condi ão de pro- jovens recém-formados na trajet ria da pro-
fissionais adaptados, sob tensões contro- fissão do psic logo no Brasil. Ser psic logo
ladas, pouco significativas ou justificadas e é uma profissão aberta a diferentes cami-
com grande parte das expectativas aten- nhos, diversificada para abrigar pessoas de
didas. O dado menos positivo desse quadro distintos interesses, alicer ada para enfren-
está na percep ão da potencialidade de tar as turbulências da globaliza ão e enri-
crescimento que, embora sendo aproxima- quecida de significativa pluralidade de re-
damente 50%, revela a influência de limi- cursos para ser uma for a de transforma ão
ta ões e de restri ões que devem come ar a na sociedade. Em um momento hist rico no
ser consideradas na trajet ria de carreira. qual as profissões enfrentam significativas
Em vista desses resultados, a profissão metamorfoses em suas configura ões, iden-
de psic logo no Brasil pode ser assumida tidades e inser ões no mercado, os dados
O trabalho do psicólogo no Brasil 105