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Inserção no mercado de trabalho


os psicólogos recém-formados

Sigmar Malvezzi, Janice Aparecida Janissek de Souza e José Carlos Zanelli

Dentro deste projeto abrangente de in- fissionais alcunhados de trainees no mer-


vestiga ão do estágio atual de desenvolvi- cado de trabalho. Dentro de tais contingên-
mento da profissão do psic logo no Brasil, cias, pode-se afirmar que as profissões so-
objeto deste livro, a contribui ão do pre- frem pressão por mudan as. Por um lado,
sente capítulo consiste na análise do co- elas encontram aberturas para se expandir,
me o da vida profissional dos psic logos. assumindo os novos problemas que têm
Aqui será discutida a inser ão inicial desses surgido em todos os aspectos da socieda-
profissionais no mercado de trabalho, fase de; por outro, o trabalho exige competên-
que tem sido denominada de primeiro em- cias coletivas, fato que obriga as profissões
prego no jargão popular. Em uma socie- a negociarem suas fronteiras com outros
dade dinâmica, como a atual, tem-se que campos profissionais. Assim, de uma ma-
reconhecer as diversas contamina ões que neira geral, pode-se dizer que todas as pro-
os dados empíricos sofrem e a metamorfose fissões enfrentam alguma transi ão em sua
que todas as profissões enfrentam. Mesmo forma de atuar, em seus papéis, em suas
assim, a análise do primeiro emprego car- interfaces e em sua organiza ão interna
rega significativo potencial para a com- (Freidson, 2001; Fournier, 1999).
preensão dessa ocupa ão. Nesse momento Um sintoma importante dessas altera-
hist rico, no qual os papéis, as identidades, ões é constatado na amplia ão do conceito
os territ rios e as atividades profissionais de profissionalismo, por for a das deman-
estão sendo consideravelmente alterados das de especializa ão no exercício de mui-
pela globaliza ão das atividades, pela rá- tas atividades (Monchatre, 2007) que eram
pida inova ão das tecnologias e dos servi- abertas até recentemente. Essas demandas
os, bem como pela alta competitivida- têm dinamizado os perfis ocupacionais, im-
de comercial, são naturais as expectativas pondo, a todos os profissionais, mesmo aos
de paradoxos, não somente nos processos trainees, a exigência de alguma especiali-
que integram e circundam a profissão, mas za ão e de experiência prévia, mesmo para
também nas pr prias atividades dos pro- o primeiro emprego. A crescente demanda
86 Bastos, Guedes e colaboradores

por conhecimentos específicos para o exer- trada dos recém-graduados nos mercados.
cício de muitas atividades torna a gradua ão Frequentemente, o mercado coloca como
uma condi ão insuficiente para o exercício critério de recrutamento a comprova ão de
profissional. Essas demandas estão transfor- algum curso específico, além do diploma de
mando atividades tradicionais em novas pro- gradua ão. Essa prática é um obstáculo in-
fissões ou abrindo o leque das especializa- tegrado recentemente aos mercados de tra-
ões, como é o caso de cuidadores de crian- balho e é aplicável tanto aos profissionais
as, de agentes de seguros e de acompa- empregados quanto aos autônomos, em di-
nhamento terapêutico. Além disso, constata- versos campos ocupacionais. Ou seja, exige-
se uma reterritorializa ão de atividades que se dos recém-formados alguma inser ão
redefine fronteiras, relativizando o diploma prévia em tarefas mais especializadas. De
de gradua ão, como tem sido observado na certa forma, a “habilita ão” é configurada
diversidade encontrada em fun ões de ges- não somente pelo diploma, mas também
tão, por exemplo. Pesquisa recente, realizada pelos “valores agregados” às competências
pela Associa ão Brasileira de Recursos Hu- e pela trajet ria profissional. Os dados do
manos (ABRH, 2008), revelou que os Admi- segmento da pesquisa que investiga a pro-
nistradores e os Psic logos estão tecnica- fissionaliza ão inicial dos psic logos podem
mente empatados na ocupa ão do cargo de ser analisados sob esse ponto de vista, ou
chefe de gestão de pessoas. Se esse dado for seja, como al guns indicadores que podem
confrontado com o fato de que os cursos de esclarecer os primeiros contatos do psi-
psicologia preparam os psic logos de forma c logo com o mercado. Para a análise da
bastante precária para essa fun ão, constata- questão-fim deste capítulo, tomou-se da
se que esses profissionais estão disputando pesquisa o conjunto de dados produzidos
esse cargo com os administradores que, por sobre os sujeitos que possuem até dois anos
sua vez, pelo menos em tese, recebem uma de tempo de gradua ão e, portanto, ainda se
forma ão mais voltada para o exercício des- encontram na etapa de socializa ão de sua
ses cargos. Essa constata ão da pesquisa da identidade profissional, isto é, ainda na fase
ABRH revela a reterritorializa ão profissio- de busca, configura ão e legitima ão de seu
nal no campo da gestão. A situa ão é análo- engajamento ocupacional como psic logos.
ga em todos os outros campos profissionais. O exame dos dados disponíveis sobre o seg-
Essa dinâmica profissional é confirmada mento de psic logos recém-formados propi-
pela dissemina ão dos cursos de especia- cia uma subamostra de 835, ou 24,9% de
liza ão, extensão e p s-gradua ão. Em bus- todos os sujeitos (Figura 5.1). Essa subamos-
ca de habilidades para atingir a condi ão tra é o objeto de análise neste capítulo.
de especializa ão flexível e uma bagagem Com o objetivo de organizar as dife-
carregada de “competências portáteis”, ou rentes informa ões que essa subamostra
seja, que podem ser utilizadas em várias si- oferece, este capítulo está organizado em
tua ões de atua ão profissional, os profis- três se ões. A primeira é dedicada ao es-
sionais têm participado desses cursos, obs- crutínio das características dos recém-for-
curecendo as fronteiras entre as profissões. mados. A segunda é dedicada a algumas
Esse fato, hoje muito frequente, está com- condi ões que estes ne fitos encontram
plicando a separa ão entre profissionaliza- em sua inser ão profissional e, a terceira,
ão e “habilita ão”, dois conceitos clara- é dedi cada à compreensão das contingên-
mente distintos, há pouco mais de uma dé- cias “internas” do primeiro emprego. Co-
cada. Esse olhar sobre o curriculum profis- mo fechamento do capítulo, são apresen-
sional em busca de “habilita ão” e de po- tadas algumas considera ões visando à sis-
tencialidades coloca obstáculos para a en- tematiza ão dos resultados mais signifi-
O trabalho do psicólogo no Brasil 87

3,353
4000
3500
3000
2500
2000
1500
834
1000
500
0 Amostra geral

Recém-formados

Figura 5.1 Comparativo entre número total de psic logos pesquisados e amostra de recém-gra-
duados, em números absolutos.
Fonte: Dados do questionário online aplicado.

cativos e à síntese daquilo que esta par- se a viabilidade, a visibilidade, o acesso não
te da pesquisa agrega à profissiona liza ão problemático e a potencialidade de realiza-
dos psic logos. ão pessoal e profissional que o ser psic -
logo oferece ao jovem brasileiro. Os dados
da pesquisa não permitem a incursão nes-
CArACTErÍSTICAS DOS sas diversas possibilidades, mas pode-se
PSICólOgOS rECÉm-grADUADOS concluir, sem receio de qualquer exagero,
que a constata ão da porcentagem de 1/4
A análise dos dados fornecidos pelos dos profissionais serem recém-formados é
sujeitos dessa subamostra revela poucas um indicador da possibilidade e da confian-
surpresas sobre a profissão de psic logo. Se a que a profissão oferece para o engaja-
essa propor ão de 24,9% de recém-forma- mento ocupacional e da potencialidade de
dos corresponder à popula ão de psic logos realiza ão pessoal, econômica e social. Esse
ne fitos de todo o país, pode-se conside- dado e as hip teses que dele decorrem per-
rar a hip tese de que essa profissão encon- mitem a considera ão de que os psic logos
tra-se em ritmo de crescimento positivo. Há podem ser uma for a transformadora da
suficiente escolha da profissão de psic logo sociedade brasileira.
para repor e expandir a popula ão já cons- Além do crescimento constatado, um
tituída dessa profissão. Isso quer dizer que olhar sobre as características dos sujeitos
ser psic logo é um caminho profissional dessa subamostra revela outros aspectos re-
que interessa e motiva os jovens, uma vez lacionados à evolu ão da profissão de Psi-
que não se constata falta ou queda de novas c logo que esclarecem tendências da socie-
escolhas para essa ocupa ão. Tal hip tese dade, assim como revelam problemas. Na
estimula outra questão: “qual a razão ou o Figura 5.2 estão ilustrados alguns dados
motivo desse interesse por ser psic logo?”. que são indicadores da dinâmica da profis-
Merecendo receber apostas como possíveis são de Psic logo e de sua interface com a
boas respostas a essa questão, encontram- sociedade brasileira.
88 Bastos, Guedes e colaboradores

Sem qualquer surpresa em rela ão a quase 50 anos de existência da profissão,


momentos anteriores da profissionaliza ão mas continua significativamente alocada
do psic logo no Brasil, e às tendências ge- na sociedade como uma op ão profissional
rais encontradas nesse segmento da popu- pouco atrativa para os homens. Razões que
la ão brasileira, os psic logos recém-forma- poderiam explicar esse viés de gênero exis-
dos apresentam características já conhe- tem muitas já conhecidas, tais como o mi-
cidas. Essa pesquisa apenas confirma aquilo metismo inercial da tradi ão (muitas es-
que já era conhecido. colhas são balizadas pelas tendências ge-
Primeiramente, essa subamostra revela rais) ou a possível percep ão do psic logo
que ser psic logo ainda atrai mais jovens como um técnico, fato que poderia desmo-
do sexo feminino do que do sexo masculino. tivar indivíduos do sexo masculino que so-
Essa segmenta ão em favor da identidade nham com a possibilidade de poder, lide-
feminina pode ter variado ao longo dos ran a e empreendedorismo.

IDADE/SEXO

Feminino: 83,9%
Entre 24 e 26 anos: 51,4% Masculino: 16,1%

mOrADIA

Cônjuge ou companheiro: 19,4%


Fam lia Origem: 53,1%
Cônjuge e filhos: 13,3%

ESCOlArIDADE-PAIS
PAI: mãE:
Pós-Graduação: 15,3% Pós-Graduação: 11,6%
Superior completo: 30,0% Superior completo: 23,6%
Médio completo: 23,6% Médio completo: 28,0%
Outros: 9,6% Outros: 36,8%

Figura 5.2 Características dos psic logos recém-graduados, em percentuais.


Fonte: Dados do questionário online aplicado.

Além da continuidade da feminiliza ão, mais tempo, tendo em vista circunstâncias


o fato de 51,4% encontrarem-se na faixa pessoais dos alunos. Igualmente, o fato de
etária esperada para essa etapa da vida 53,1% dos recém-formados morarem com a
profissional (entre 24 e 26 anos) revela que família (a porcentagem daqueles que já
as trajet rias profissionais dos recém-for- constituiram sua pr pria família, 13,3%, ou
mados ocorrem dentro dos limites de va- dentro de arranjos familiares alternativos,
riância esperados da popula ão, para um 19,4%, é alta, mas constitui significativa
curso cuja gradua ão demanda cinco anos minoria) permite levantar a hip tese de
de estudos que podem ser esticados por duas possíveis explica ões para esses resul-
O trabalho do psicólogo no Brasil 89

tados. A primeira seria a falta de indepen- profissionaliza ão no Brasil do que, em par-


dência financeira do recém-formado, con- ticular, da profissão de psic logo. Aquilo que
di ão que impede a emancipa ão de mora- ocorre com os psic logos não difere das
dia. A segunda, de certa maneira, decorre da contingências que circundam a popula ão
primeira e pode revelar um certo comodismo brasileira. Nesse aspecto, comparado aos ou-
dos recém-formados, pois, ao prolongarem o tros países industrializados, o Brasil se en-
tempo de sua permanência na casa dos pais, contra em uma etapa de transi ão para o
eles mantêm um padrão de vida que, sozi- crescimento da popula ão que tem acesso à
nhos, não teriam condi ões financeiras de educa ão. A condi ão dos jovens recém-for-
construir em uma perspectiva de curto prazo. mados nos cursos de Psicologia revela me-
Outro fator que também afasta qualquer lhoria nos graus de educa ão.
surpresa nessa popula ão é o conjunto de Outra informa ão que também não apre-
resultados sobre a escolaridade dos pais. O senta surpresas é a natureza da institui ão em
grau de forma ão dos pais é mais alto que o que o curso de Psicologia foi realizado, confor-
das mães, mais de 60% dos pais apresen- me os dados da Figura 5.3. A porcentagem de
ta a escolaridade mínima – o ensino médio 75,7% de profissionais formados em insti-
completo – hoje exigida de qualquer traba- tui ões particulares, grosso modo, revela a es-
lhador urbano, mesmo de ajudantes gerais. tratifica ão da oferta de cursos de Psicologia
Pesquisas apontam que menos de 50% da no Brasil, ainda concentrada na iniciativa pri-
popula ão geral brasileira atinge o nível aci- vada, assim como igualmente revela o cresci-
ma do ensino médio completo. Portanto, mento da oferta do curso de Psicologia em
essa subamostra reflete a condi ão geral dos tais institui ões, conforme já foi salientado e
brasileiros, que é confirmada no índice infe- discutido no Capítulo 4 deste livro. Essa priva-
rior a 20% dos pais que cursaram ou ain- tiza ão da gradua ão em Psicologia segue a
da cursam a p s-gradua ão, como confirma- tendência geral do ensino no processo de glo-
do pela porcentagem de 15,3% dos pais e baliza ão e de industrializa ão, inclusive nos
11,6% das mães. Esses resultados revelam, países mais avan ados que o Brasil, como é o
então, mais os problemas e as condi ões da caso dos Estados Unidos.

Privada 75,7%

Pública 24,3%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%

Figura 5.3 Natureza da institui ão de gradua ão em Psicologia no segmento dos recém-graduados,


em percentuais.
Fonte: Dados do questionário online aplicado.
90 Bastos, Guedes e colaboradores

Outro aspecto que chama aten ão nas da busca seu espa o profissional. Provavel-
características dos psic logos recém-forma- mente, essas porcentagens refletem as con-
dos é a sua distribui ão nas diversas regiões di ões de mercado às quais os psic lo-
do país. A concentra ão mais alta de psi- gos estão sujeitos. Os empregos e as opor-
c logos está alocada nas regiões Sudeste e tunidades de trabalho autônomo andam
Sul (Figura 5.4), exatamente onde são ofe- em correla ão com as atividades e o dina-
recidos mais cursos de Psicologia e onde, mismo econômico e cultural. Como a Psi-
também, se constata a concentra ão de ati- cologia oferece significativa amplitude de
vidades econômicas industriais, de servi- engajamentos profissionais, com diferentes
os e comerciais. Na Figura 5.10, verifica- especializa ões e tipos de institui ões, fica
se, igualmente, a propor ão dos recém-for- difícil o levantamento de hip teses que di-
mados que já estão engajados na profissão recionem a compreensão dos porquês. Mes-
(351 sujeitos, ou seja, 41,5% do total de 835 mo assim, é de conhecimento público que
formados) e daqueles que ainda não conse- muitas institui ões nas áreas social, de saú-
guiram essa meta (58,5%). Chama a aten- de, de trabalho e de educa ão ainda não se
ão do leitor o fato de que, nas regiões Sul, estruturam para demandar a atua ão de
Sudeste e Norte, a maioria dos recém-for- psic logos, utilizando servi os de pessoas
mados já encontrou emprego, enquanto nas “habilitadas” ou de profissionais mais ex-
regiões Nordeste e Centro-Oeste, ao con- perientes que aceitam salários de trainees,
trário, a maioria dos recém-graduados ain- ou profissionais de áreas fronteiri as com a

3,1
Norte
2,7

7,4
Centro-Oeste
10
Recém-formado
com 1º emprego
Recém-formado sem
17,7
Nordeste a 1ª inserção no
19,1 mercado de trabalho

28,5
Sul
25,2

43,3
Sudeste
42,7

0 10 20 30 40 50

Figura 5.4 Comparativo entre a distribui ão dos profissionais recém-graduados e que possuem
primeiro emprego por região do país, em percentuais.
Fonte: Dados do questionário online aplicado.
O trabalho do psicólogo no Brasil 91

Psicologia, como é o caso dos psiquiatras ão de sua forma ão, com a experiência de
em clínicas e hospitais e dos pedagogos, trabalho, o parâmetro de 5 salários míni-
nas escolas. Esse resultado é um importan- mos o coloca acima da grande maioria dos
te sinal para orientar as políticas públicas trabalhadores do país. Além disso, o fato de
relativas à profissão do psic logo. Talvez, 21% receber entre 6 e 8 salários mínimos
em regiões como o Nordeste e Centro-Oes- revela que alguns setores e algumas insti-
te, fosse necessário um projeto dedicado tui ões valorizam as atividades dos psic -
ao investimento na viabiliza ão profissional logos ou que a profissão está inserida na di-
dos psic logos. Essa é uma hip tese plau- nâmica da competitividade. É possível que
sível, porém, não deixa de ser uma suposi- a alta porcentagem de oferta ainda dispo-
ão que não avan ará sem o apoio de mais nível de profissionais recém-formados (Fi-
dados empíricos. gura 5.4) seja um dos fatores que contri-
Outro aspecto importante do estudo bua para o achatamento médio da remu-
das profissões está nos padrões e nas prá- nera ão. Provavelmente, alguns profissio-
ticas de remunera ão. O trabalho, além de nais têm mais de um emprego, fato que po-
ser uma fun ão psicol gica, por meio do de alterar a interpreta ão dos dados expres-
qual o individuo se realiza e viabiliza pro- sos na Figura 5.5. Os problemas e as hip -
jetos pessoais, também goza do status de teses propiciados pelos dados disponibili-
fun ão econômica. É por meio do trabalho zados nessa pesquisa instigam a necessidade
que as pessoas provêm recursos para a sua do aprofundamento e da expansão da inves-
sobrevivência. Sob esse aspecto da profis- tiga ão da profissionaliza ão dos psic logos
sionaliza ão, os psic logos apresentam al- para se ter uma visão da dinâmica comercial
guns problemas. O primeiro dado que apa- desses profissionais. Talvez, estudos longitu-
rece da leitura da Figura 5.5 é a disper- dinais sejam mais esclarecedores.
são e a irregularidade na remunera ão. En- Em uma sociedade competitiva, com ex-
quanto 26,2% da amostra total de psic lo- cedente de oferta, dentro de um contex-
gos ganha algo igual ou superior a 10 sa- to que é caracterizado pela rápida inova ão
lários mínimos, 42,7% ainda não atingem em tecnologia e em formas de gestão, a in-
5. Essa dispersão revela a existência de pos- ser ão profissional demanda dos psic logos
síveis disparidades entre as áreas de espe- tanto controle quanto investimento sobre
cializa ão, como educa ão, trabalho e saú- sua atualiza ão, para evitar os riscos da mar-
de, também entre servi o público e priva- ginaliza ão profissional, como vem sendo
do e entre tempo integral e tempo parcial. comum hoje em dia. Essa questão chama o
Não há padrões uniformes de remunera ão. interesse do pesquisador para as formas de
Ser psic logo é uma profissão muito estrati- atualiza ão profissional que também atin-
ficada por diversas categorias de deman- gem o recém-formado. A Figura 5.6 oferece
da e de valoriza ão. Um fato curioso dos uma visão geral das respostas dos partici-
dados é o de que a situa ão dos recém-for- pantes da pesquisa. A primeira conclusão
mados se revela muito melhor do que a que se pode inferir desse gráfico é a disponi-
condi ão do psic logo pleno. É possível ob- bilidade de diversos recursos de atualiza ão,
servar que 39,6% dos trainees recebem, em tais como congressos, cursos de especiali-
média, perto de 5 salários mínimos, índice za ão, supervisão acadêmica, grupos de es-
não desprezível no quadro geral de salários tudo, atividades de aperfei oamento, já bem
no Brasil. Para um profissional que ainda é conhecidas de todas as profissões. Todas es-
jovem, está na fase de socializa ão de sua sas possibilidades têm contribuído signifi-
identidade profissional e ainda tem que in- cativamente e integram o Plano de Desen-
vestir significativamente na complementa- volvimento Individual (PDI), que hoje é um
92 Bastos, Guedes e colaboradores

50

45

39,6
40

35

30,7

28,5
30

26,2
25

18,1
20

15,3
14,2

15

11,3
10

5,7

5
5

0
450 1850 2250 3150 de 4000 a
9450

% amostra recém-graduados % amostra geral

Figura 5.5 Percentuais comparados da renda numérica média, em reais, dos recém-graduados e da
amostra geral.
Fonte: Dados do questionário online aplicado.

imperativo para todos os profissionais. De gere que esse empenho pode ser um pro-
acordo com os dados, os psic logos têm uti- cesso de contínuo aperfei oamento, como
lizado mais de uma dessas alternativas. Nes- um forte sintoma da consciência da ne-
se aspecto, a popula ão de psic logos plenos cessidade e da rea ão positiva a essa de-
e a de recém-formados não se diferenciam. manda. Isso ocorre tanto para os recém-for-
A atualiza ão profissional ocorre a partir mados, de uma maneira geral, quanto para
de uma combina ão de diversas formas de aqueles que já atuam na profissão há mais
aprendizagem e atinge a todos. tempo. É provável que haja diferen as sig-
Conforme ilustra a Figura 5.6, pode-se nificativas se os distintos campos de atua-
afirmar que os recém-formados procuram, ão profissional forem comparados entre si.
de forma significativa, manter-se atualiza- Assim, por exemplo, a supervisão acadêmi-
dos utilizando todas as estratégias dispo- ca tem sido mais comum entre os psic lo-
nibilizadas pelo mercado de forma ão. A gos clínicos do que entre os psic logos que
frequência de atividades de atualiza ão su- atuam na área de trabalho.
O trabalho do psicólogo no Brasil 93

90,2
Congresso
87,2

80,3
Especialização em Psicologia
83,0

72,6
Supervisão acadêmica
68,1

Grupo estudo 69,6


67,6

36,9
Aperfeiçoamento
41,0

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Recém formados com 1º emprego


Recém formados sem inserção no mercado de trabalho

Figura 5.6 Percentuais comparados entre os psic logos recém-formados e os que atuam em seu
primeiro emprego por tipo de atualiza ão profissional.
Fonte: Dados do questionário online aplicado.

Um último aspecto que envolve a carac- tor, que já foi mais popular como critério de
teriza ão dos recém-graduados diz respeito escolha profissional e hoje já não apresenta
às razões que os levaram a escolher a pro- tanta for a de apelo devido à competi ão e
fissão de psic logo. Foi considerada para à oscila ão do mercado de trabalho, é o
analisar essa questão apenas a porcentagem status profissional, o prestígio, que sensibili-
de respondentes que considerou as razões zou de maneira mais forte apenas 19,5% dos
apresentadas como tendo forte influência. sujeitos. Quanto ao status da profissão, os
Ou seja, aqueles que assinalaram (em uma recém-graduados avaliam que a profissão
escala que mediu a intensidade da influên- goza de certo prestígio, pois a média de con-
cia de 1 a 7), apenas as op ões de 5 a 7. cordância de que o psic logo possui credibi-
Nessa questão, os dados permitem inferir lidade, significância e é reconhecido foi de
que os recém-formados foram mais forte- 4,5 para a maioria dos pesquisados que com-
mente mobilizados por fatores de ordem põem este segmento, em uma escala em que
interna (Figura 5.2), tais como, realiza ão o grau máximo de concordância era 7.
pessoal, voca ão, compatibilidade com as Ao finalizar essa análise-interpreta ão
pr prias habilidades, gosto e valoriza ão das características do psic logo recém-for-
das atividades e dos objetivos realizados mado, tem-se um quadro definido, claro e
pelos psic logos. Fatores externos, tais co- indicativo de uma identidade do profissio-
mo remunera ão, abertura do mercado, vi- nal. Os psic logos recém-formados são jo-
sibilidade da profissão e riscos diversos ti- vens do sexo feminino que ainda não se
veram influência forte em um segmento desligaram de suas famílias; ultrapassaram
menor 30,5% dos recém-formados. Um fa- a etapa educacional atingida por seus pais
94 Bastos, Guedes e colaboradores

fato es i te os
93,4%
S a s socia
fato es exte os
da p o iss o
30,5%
19,5%

rAzõES
ESCOlhA DA
PrOfISSãO

Figura 5.7 Razões que levaram os psic logos recém-graduados a escolher a profissão, em percentuais.
Fonte: Dados do questionário online aplicado.

e foram mobilizados a escolher a profissão econômica. Como já foi analisado anterior-


por fatores internos. São profissionais cons- mente, cerca de 40 a 50% dos recém-for-
cientes da gramática do mercado e, por mados ainda não lograram seu emprego,
isso, respondem às demandas de acompa- por isso, a leitura dos dados oferecidos pela
nhamento da evolu ão de sua profissão. A Figura 5.8, apresenta algumas dificuldades.
demanda de emprego é alta, equivalendo a A primeira delas refere-se aos obstáculos
50% da oferta, e a remunera ão é muito que a atual dinâmica e a diversidade do mer-
variada, porém não ruim para um trainee. cado de trabalho impõem sobre a estabilidade
Uma vez conhecidas as características das categorias de trabalhadores. Fatores como
do psic logo recém-formado, a análise das (1) a diversidade dos contratos (por horas
condi ões que circundam essa profissão diárias, mensais ou anuais, por presta ão es-
enriquecerá o entendimento sobre o seu porádica de servi o, por projetos), (2) a mul-
estado atual que a caracteriza como ampla tiplicidade de vínculos, (3) a indiferencia ão
e atrativa para os jovens. entre emprego, estágio e trabalho esporádico,
(4) a remunera ão por resultados, por com-
petências, por atividades exercidas e por pro-
AS COnDIçõES DE dutividade e (5) a superposi ão e a oscila ão
InSErçãO PrOfISSIOnAl entre trabalho formal e informal têm difi-
DOS rECÉm-grADUADOS cultado o enquadramento da profissionali-
za ão nas diversas categorias propostas por
Além das características que integram o questionários. Mesmo considerando-se es-
perfil do psic logo recém-formado, outro sa dificuldade, os dados dessa pesquisa re-
aspecto revelador da evolu ão dessa profis- velam o funcionamento da profissão de psi-
são são os motivos que definem a perma- c logo, conforme se pode constatar nas Fi-
nência ou não na profissão. A permanência guras 5.8 e 5.9.
informa a continuidade da carreira profis- Esses resultados podem ser considera-
sional dentro da área da Psicologia e é vá- dos bons para a profissão, levando-se em
lida para profissionais plenos e seniors, uma conta que, da amostra total, 70,3% dos psi-
vez que os recém-formados ainda não vi- c logos plenos e 67,1% dos recém-forma-
venciaram seu potencial de realiza ão e sua dos exercem a profissão e, provavelmente,
viabilidade como campo de sobreviência vivem de seus rendimentos. Em uma socie-
O trabalho do psicólogo no Brasil 95

0,4
Nunca atuou 3,0

2,5
Já atuou, mas não exerce
3,6
nenhuma atividade atualmente

% amostra mais de
2,0
Exerce atividade fora do 2 anos de formado
4,4
campo da psicologia % amostra
recém-graduados

24,8
Exerce atividade na psicologia
21,9
e em outros campos

70,3
Exerce atividade 67,1
somente em psicologia

0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0

Figura 5.8 Compara ão da condi ão de atua ão entre amostra de recém-formados e os psic logos
com mais de dois anos de tempo de gradua ão, em percentuais.
Fonte: Dados do questionário online aplicado.

dade na qual os empregos são instáveis, muito baixos, insuficientes como indicado-
migrantes, dinamizados por alta competiti- res de alguma tendência ou como um re-
vidade e frequentes rupturas na carreira, o sultado que sofre interven ão de variáveis
fato de 2/3 de profissionais viverem da devidas ao acaso.
profissão na qual se graduaram revela o A partir desse quadro, pode-se conside-
quadro de uma profissão organizada que rar que o ser psic logo é uma profissão atra-
oferece servi os demandados pelo merca- tiva, sob o ponto de vista de sua potencia-
do. Infelizmente, essa pesquisa não fornece lidade de realiza ão profissional e de merca-
dados qualitativos para se interpretar os do como hip teses merecedoras de investi-
24,8% e os 21,9% daqueles (respectiva- mentos. Os dados frequentemente publi-
mente, psic logos plenos e recém-forma- cados sobre outras profissões – engenheiro,
dos) que exercem outras atividades re- advogado, administrador, economista – dão
muneradas. Essa dupla carreira, tanto po- conta de situa ões muito mais problemáti-
de ocorrer devido a alguma peculiaridade cas do que a do psic logo. Tal resultado re-
das circunstâncias da vida do profissional for a a análise anterior sobre a potencia-
quanto devido a uma escolha intencional lidade motivadora da Psicologia como tra-
de carreira dupla ou, ainda, devido a uma jet ria ocupacional, uma vez que a proba-
necessidade para completar seus rendimen- bilidade de engajamento é alta. Integra essa
tos. Muitas pessoas, em diversas profissões, representa ão otimista da profissão a consta-
apresentam as mesmas condi ões. Os de- ta ão de que a condi ão de atua ão dos pro-
mais extratos da amostra revelam escores fissionais psic logos não muda muito quan-
96 Bastos, Guedes e colaboradores

Proposta de trabalho 18,2

atividade fora
do campo da
psicologia
de baixa remuneração

Exerce
54,2
Ausência de oferta de trabalho

21,1
atividade atualmente
Outros
Já atuou, mas não
exerce nenhuma

Falta de perspectiva de 26,3


crescimento profissional

26,3
Baixa remuneração
Nunca
atuou

61,1
Ausência de oferta de trabalho

0 10 20 30 40 50 60 70

Figura 5.9 Motivos que justificam, predominantemente, as condi ões de inser ão dos recém-for-
mados, em percentuais.
Fonte: Dados do questionário online aplicado.

do se analisa o tempo de formado. É pro- competência do profissional que possui o di-


vável que a grande maioria dos recém-for- ploma, mas que não está suficientemente pre-
mados esteja engajada no mercado de traba- parado), tal como ocorre com outras áreas
lho na área de Psicologia, dentro do primeiro profissionais. Ainda uma terceira interpreta ão
ano ap s sua gradua ão. permite considerar que a apresenta ão de
Complementado essas conclusões, obti- condi ões pessoais dificultam a absor ão do
das pela leitura da Figura 5.8, a Figura 5.9 profissional por parte do mercado, seja por
propicia outras informa ões que enriquecem a tra os pessoais ou por razões comuns no Bra-
compreensão do mercado de trabalho para os sil, como é o caso dos diversos tipos de pre-
psic logos. Novamente, a falta de informa ões conceitos. Como a popula ão de psic logos
qualitativas impede o esclarecimento de mui- recém-formados que ainda não viveram a ex-
tas questões significativas para o problema. periência do primeiro emprego na área é mui-
A informa ão que mais se destaca na Figura to baixa, 3% (Figura 5.8), o impacto dos
5.9 é sobre as justificativas da espera do pri- dados da Figura 5.9 sobre sua condi ão pro-
meiro emprego como psic logo é que 61,1% fissional de psic logo, é um dos fatos menos
dos recém-formados revelam ser devido à fal- significativos na compreensão dessa ocupa ão.
ta de oferta de trabalho. Há diversas causas Para os psic logos recém-formados que já
possíveis para esse resultado. De um lado, a atuaram, mas que atualmente não exercem
longa espera pelo início da vida profissional atividades profissionais na área, além das jus-
é compatível com uma interpreta ão literal ticativas “falta de perspectiva de crescimento
frente à crise econômica (diminui ão da oferta profissional” e “baixa remunera ão” existe um
de empregos ou de oportunidades de trabalho percentual da amostra (21,1%), para os quais
autônomo) e com uma interpreta ão genérica não é possível identificar um motivo. Essa pro-
às características do trabalhador (a falta de por ão é significativa porque 20% não é um
O trabalho do psicólogo no Brasil 97

escore ao qual se pode atribuir influências do duz nas atividades e nos limites dos diver-
acaso, mas é indicativa de variáveis estrutu- sos campos profissionais. A complexidade
rantes do contexto no qual eles trabalham. também é observada em fun ão do crescen-
Em rela ão aos psic logos plenos, os dados re- te questionamento que a intensifica ão das
velam alguma crise na profissão, que não lhes interfaces da Psicologia com outras ciências
oferece perspectiva futura ou porque lhe pro- vem sucitando sobre as metodologias de
piciam baixa remunera ão, 26,3%. A com- pesquisa. Diante desse quadro, essa análise
preensão e os motivos desses resultados de- não poderia ser completada sem a conside-
manda dados que esta pesquisa não oferece. ra ão de hip teses sobre o retrato da área
Há, ainda, uma última considera ão sobre os da Psicologia como profissão a partir de
psic logos que atuam profissionalmente em fatores como o regime de trabalho, a remu-
outras áreas que não a Psicologia. Dentre os nera ão, as atividades, as institui ões em
24,8% dos psic logos plenos (Figura 5.8) que que os psic logos são profissionalmente en-
atuam fora da área de gradua ão 54,2%, ou gajados e suas formas de atua ão.
seja, aproximadamente 12% da popula ão to- Confirmando aquilo que já foi analisado,
tal, citam a falta de oferta de trabalho, índice 41,8% dos recém-formados caracterizam-se
ligeiramente superior aos coeficientes de de- de profissionais formalmente engajados den-
semprego do país. Como os empregos, no tro dos quatro setores institucionais que ofe-
contexto atual, são viabilizados mais do que recem oportunidades de trabalho – a ativida-
procurados, é necessário buscar mais infor- de autônoma, 37,3%, o setor público, 33,6%,
ma ões, isto é, dar continuidade a essa pes- o setor privado, 19,7%, e as institui ões que
quisa para se ter uma ideia mais precisa dos não são privadas e nem governamentais, co-
fatores que afetam a profissão na atual di- mo é o caso das ONGs, 9,4%. Essa estratifi-
nâmica dos mercados de trabalho. ca ão do primeiro emprego leva a interpretar
A partir dessas constata ões, pode-se que o psic logo encontra espa o nos quatro
concluir que a profissão de psic logo oferece setores formais da economia do país. Essa
oportunidades profissionais para a grande abertura é um sinal positivo da aceita ão da
maioria dos indivíduos que decidiram abra- profissão e da diversidade de atividades rea-
á-la como caminho de suas vidas. Contri- lizadas pelas institui ões que são porosas para
buem para algumas dificuldades, a dinâmica receber a contribui ão de um especialista em
do mercado e a baixa remunera ão oferecida comportamento humano ou que necessitem
e, provavelmente, as limita ões dos profis- desse especialista para funcionar.
sionais, recém-formados e plenos, na viabi- O corolário dessa conclusão é a signi-
liza ão de seus empregos. ficativa amplitude de oportunidades dis-
poníveis para os psic logos no mercado.
De certa forma, o ser psic logo no Brasil
CArACTErIzAnDO O PrImEIrO é atuar em uma profissão que dispõe de
EmPrEgO DO rECÉm-grADUADO muitas portas abertas para o engajamento
ocupacional, facilitando alternativas distin-
O terceiro aspecto, cuja contribui ão tas de carreira para os recém-formados. Is-
pesa de modo significativo na compreensão so significa que um psic logo pode ter in-
da profissão de psic logo no Brasil cujos teresses não somente por uma particular
dados da pesquisa permitem considerar, são especialidade como, por exemplo, a clínica,
as características presentes no primeiro em- mas também por uma institui ão específica,
prego. Esse conjunto de características é, uma escola, dentro de distintas op ões de
indubitavelmente, complexo devido à tran- vínculo, seja como empregado, como s cio
si ão que a globaliza ão da sociedade pro- ou como autônomo.
98 Bastos, Guedes e colaboradores

Amos total
3.335

Amostra recém-formados 838

Amostra recém-formados
com 1º emprego 351

0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000

Figura 5.10 Comparativo numérico entre amostras de recém-formados, recém-formados com pri-
meiro emprego e amostra total pesquisada.
Fonte: Dados do questionário online aplicado.

37,3%
Autônoma

Setor público 33,6%

Setor privado 19,7%

Terceiro setor (ONGS) 9,4%

0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0


Figura 5.11 Percentual comparado da amostra de recém-graduados em seu primeiro emprego por
setor de inser ão.
Fonte: Dados do questionário online aplicado.

Considerando-se essa abertura, pode-se conclusão é corroborada pelos dados ex-


afirmar que o ser psic logo no Brasil é uma pressos na Figura 5.12, que oferece infor-
profissão plural, se for tomada essa riqueza ma ões mais detalhadas sobre a inser ão
de diversidade em distintas categorias de dos psic logos em cada um dos setores in-
condi ão e de natureza de trabalho. Essa vestigados.
O trabalho do psicólogo no Brasil 99

InSErçãO 3º SETOr
ONGS (93,1%)

InSErçãO COmO AUTônOmO E COnSUlTOrIA

Consultorio particular alugado (73,3%) Consulótrio particular (17,6%)

InSErçãO nO SETOr PrIvADO


Empresa comercial Instituição ensino Escola até Hospitais
industrial ou de superior (15,3%) ensino médio (14,3%)
serviço(37,8%)

InSErçãO nO SETOr PÚBlICO


Escola pública até ensino médio Hospitais públicos Órgão administração
(14,0%) (31,9%) pública centralizada (18,5%)

Figura 5.12 Âmbitos nos quais os psic logos recém-formados se inserem em seu primeiro emprego
por setor, em percentuais.
Fonte: Dados do questionário online aplicado.

Conforme é possível constatar na Figu- setor privado, por sua vez, absorvendo 1/5
ra 5.12, as ONGs são os locais onde aqueles dos psic logos recém-formados lhes oferece,
profissionais que desejam realizar sua carrei- tal como o setor público, ampla variedade
ra no terceiro setor dispõem de mais ofertas de op ões para engajamento institucional e
de engajamento profissional, além de outras significativa diversidade de especializa ões.
aqui não publicadas, como sindicatos e coo- Essa ampla variedade de trajet rias de car-
perativas, segundo constatado na Figura 5.13. reira cria um quadro mais complicado do
Essa informa ão foi omitida na Figura 5.12, psic logo quando outras variáveis como as
por ser uma alternativa ainda pouco frequen- especialidades e as abordagens de atua ão,
te. A institucionaliza ão profissional do psi- o acesso ao trabalho, o regime contratual, a
c logo como trabalhador autônomo, que é o carga horária e a forma de remunera ão são
segmento de maior frequência para o pri- consideradas, como mostram as Figuras 5.13
meiro emprego, dispõe da possibilidade de e 5.14 e na Figura 5.15.
trabalho em consult rios alugados e par- Os psic logos atuam em diferentes ramos
ticulares, provavelmente como atividade “so- das atividades humanas e isso é claramente
lo”, em parceria ou em associa ão com ou- refletido no primeiro emprego. A atividade
tros profissionais em equipes multidiscipli- predominante está claramente alocada na
nares que integram colegas da mesma e de área de saúde, através da atua ão em clínica,
outra área ocupacional. A inser ão no setor 35,3%, e em saúde 10,4%. A área da Psico-
público é significativa, constituindo 1/3 dos logia do Trabalho e das organiza ões aparece
casos de primeiro emprego, e dispõe de alta como a segunda especialidade mais atrativa
diversidade de especialidades e de institui- e, possivelmente, mais demandada. As outras
ões. Nesse setor, podem se engajar os psic - áreas aparecem em seguida com escores me-
logos que direcionam suas carreiras para a nores, porém marcando presen a no cená-
especializa ão em clínica e saúde, em traba- rio profissional, como a docência e a Psicolo-
lho, em educa ão e em projetos sociais. O gia Jurídica.
100 Bastos, Guedes e colaboradores

ABOrDAgEnS ADOTADAS ArEAS DE ATUAçãO


Combina 2 abordagens (23,6%) Cl nica/avaliação (35,3%)
Psicanálise (22,5%) Organizacional (18,1%)
Combina mais de 3 abordagens (22,2%) Cl nica/saúde (10,4%)
Sócio-histórica (2,0%) Docência (0,9%)
Psicodramalista (1,4%) Jur dica (0,5%)

Figura 5.13 Percentuais comparados entre a amostra de recém-formados atuantes no primeiro


emprego por abordagem adotada e áreas de atua ão.
Fonte: Dados do questionário online aplicado.

SETOr PÚBlICO

ACESSO: CArgA hOrÁrIA: rEgImE:


P ocesso se eti o 40 o as (35,8) Co t atado co o
ou co cu o (49,3) psic o o, pe o e i e
estatutá io (63,2%)

SETOr PrIvADO

ACESSO: CArgA hOrÁrIA: rEgImE:


P ocesso se eti o Até 20 o as (45,8%) P estado de se i o e
ou co cu o (34,7%) psico o ia atua do co o
Co ite (34,7%) aut o o (42,3%)

OngS COOPErATIvAS

ACESSO: CArgA hOrÁrIA: rEgImE:


P ocesso se eti o Até 20 o as (84,5%) Co o o u tá io (44,4%)
ou co cu o (53,8%)

Figura 5.14 Percentuais comparados da amostra por tipo de acesso, carga horária e regime de
trabalho e por setor de atua ão.
Fonte: Dados do questionário online aplicado.

Embora não tenha aparecido nos dados Psicometria na Psicologia do Trabalho e da


da pesquisa, essa diversificada atua ão pro- Psicanálise na Psicologia Clínica. O que po-
fissional dos psic logos deve estar rela- de ser constatado nos dados é que a diver-
cionada a tradi ões presentes, e nem sem- sidade na institucionaliza ão da profissão
pre tão visíveis, de paradigmas epistemo- de psic logo ocorre em paralelo com o plu-
l gicos e ontol gicos que foram associados ralismo nas abordagens de atua ão. Em-
a atua ões específicas, como é o caso da bora a Psicanálise esteja destacada como a
O trabalho do psicólogo no Brasil 101

45,0

40,0

35,0

30,0

25,0

20,0
Só assalariado
15,0
Assalariado e autônomo
10,0 Só autônomo ou voluntário

5,0

0,0
Recém-formados Recém-formados Amostra geral
com 1º emprego

Figura 5.15 Percentuais comparados entre amostra de recém-formados, recém-formados com pri-
meiro emprego e amostra total por condi ão de assalariamento.
Fonte: Dados do questionário online aplicado.

abordagem mais frequente, 22,5%, a ten- te setor é movido pela competitividade e


dência mais clara é a atua ão pluralista pelo controle sobre os resultados, o acesso
através do apoio em duas, 23,6%, ou três, por meio de convite tem sido um instru-
22,2%. Esse resultado revela abertura para mento crescente, desde o início do novo
discutir questões que continuam em foco milênio, tendo em vista a estrutura das or-
na Psicologia desde os seus prim rdios co- ganiza ões em células nas quais a sele ão
mo ciência do comportamento. A presen a é feita por meio do modelo de forma ão
de outras abordagens, como a s cio-hist - de equipes.
rica e o psicodrama, confirmam a riqueza A segunda característica é o turno de
de caminhos que a profissionaliza ão do trabalho. Os dados relativos à carga horária
psic logo no Brasil contempla. dos psic logos recém-formados dão conta
Caminhando adiante na constata ão de do quadro que, a cada dia, se torna mais
outros dados da pesquisa, três caracterís- evidente no contexto de trabalho, ou seja, o
ticas aparecem para enriquecer essa aná- aparecimento de diferentes padrões de car-
lise. A primeira delas se refere à forma de ga de trabalho. Esse tem sido um dos aspec-
acesso ao primeiro emprego. Em todos os tos mais difíceis de se avaliar porque a
setores pesquisados, a forma de acesso ao transferência de muitas atividades para o
primeiro emprego se dá, predominante- computador e a realiza ão de tarefas em
mente, por meio de processo seletivo ou outros locais que não a sede do emprego
por concurso. Essa tem sido a tradi ão na têm dificultado a aferi ão e a precisão dos
grande maioria das institui ões e uma obri- turnos e dos horários. De qualquer forma,
gatoriedade legal no servi o público. No os dados permitem a constata ão de dife-
setor privado, parte dos contratados in gres- ren as nos padrões das três categorias insti-
sa, também, por meio de convite. Como es- tucionais aferidas na Figura 5.13.
102 Bastos, Guedes e colaboradores

A terceira característica se refere ao re- dessa variável, as atividades são apresen-


gime de trabalho, outro fator indicativo da tadas, por setor de inser ão, conforme ilus-
transi ão na institucionaliza ão do traba- tra a Figura 5.16.
lho. Quatro regimes aparecem na pesquisa De maneira geral, pode-se afirmar que
como possibilidades de engajamento profis- a aplica ão de testes psicol gicos é a ati-
sional. Embora no quadro esteja omitido, o vidade mais frequente e representativa da
contrato pela CLT é comum aos psic logos. profissão em todos os setores de inser ão
Além deste, são encontrados o contrato es- do primeiro emprego, com exce ão das
tatutário dos servidores públicos, o contrato ONGs. Em se guida, aparecem atividades
como autônomo e o trabalho voluntário que apresentam diferentes frequências e
(que pode dispor e, muitas vezes dispõe, de posi ões no ranking dos quatro segmentos,
ajuda nos custos). porém são aquelas que respondem por
Complementando esse conjunto de carac- pelo menos 5% das atividades dos psic -
terísticas constituintes do perfil do primeiro logos recém-formados, tais como diag n s-
emprego, aparece a questão da remunera ão. tico e assistência psicol gica a pa cien tes e
A remunera ão do psic logo também está en- a crian as. Esse resultado revela que os
volvida na dinâmica gerada pela globaliza ão psi c logos recém-formados atuam em ta-
da sociedade, revelando, em mais uma frente, refas técnicas (e provavelmente operati-
a diversifica ão encontrada nos turnos e nos vas), como é o engajamento esperado na
regimes de trabalho. Examinando a Figura popula ão de trainees (ainda inexperiente
5.11, constata-se uma distribui ão equitativa em tarefas que demandam conhecimento
entre o regime assalariado e os regimes mis- de cenários e raciocínio estratégico). Tare-
tos, seja assalariado e autônomo, seja autô- fas administrativas, docência e orienta ão
nomo e voluntário. Essas combina ões de surgem destacadas, sem revelar, no entan-
compensa ão financeira têm sido característica to, alguma tendência na profissão. Esse
crescente em todos os países do mundo in- quadro denota que o repert rio de atua ão
dustrializado, como consequência do enfra- profissional dos psic logos no primeiro
quecimento dos vínculos de trabalho (Barley e emprego é, de certa forma, reduzido, o
Kunda, 2004). O resultado aqui encontrado é que não deixa de ser coerente com essa
uma decorrência do número significativo de etapa de carreira.
psic logos engajados como autônomos. O da- Para finalizar essa caracteriza ão dos
do que mais chama a aten ão do observador é fatores externos presentes no primeiro em-
a diferen a entre a amostra geral e o estrato prego do psic logo recém-formado, tem-se
de psic logos já engajados no primeiro em- ainda um aspecto não menos importante
prego. Cresce significativamente o número de que é a forma de atua ão alocada na Figura
psic logos que combinam o trabalho autôno- 5.17. Tal como observado em outras carac-
mo com o voluntário. Esse dado permite in- terísticas, a atua ão dos psic logos é diver-
terpreta ões em distintas dire ões. De um sificada em atua ão individual, como é o
lado, pode revelar maturidade e estabilidade caso de muitas atividades técnicas e de
profissionais, como também pode indicar sen- atua ão em equipes multidisciplinares, para
sibilidade pelas necessidades sociais e, ainda, se responder à necessidade de forma ão de
revelar uma forma de aquisi ão de novas ex- competências coletivas. Nesses resultados,
periências profissionais. o índice de 61,9% e de 41,7% de recém-
Outra característica do perfil do primei- -formados que trabalham em equipes apon-
ro emprego é a natureza da atividade que tam um sinal positivo da integra ão a ou-
é oferecida aos profissionais recém-forma- tros profissionais e da potencialidade que es-
dos. Para se ter uma visão mais específica sa forma de trabalho oferece para a apren-
O trabalho do psicólogo no Brasil 103

• Aplicação de testes psicológicos – 23,6%


• Atendimento a crianças com distúrbios de aprendizagem – 18,2%
Atividades mais frequentes • Assistência psicológica a pacientes clínicos e cirúrgicos – 7,9%
no setor público • Psicodiagnóstico – 3,9%
(% psicólogos) • Orientação de pais – 3,6%
• Planejamento de política educacional – 2,7%

• Aplicação de testes psicológicos – 19,7%


• Atendimento a crianças com distúrbios de aprendizagem – 10,5%
Atividades mais frequentes • Assitência psicológica a pacientes clínicos e cirúrgicos – 7,9%
no setor privado • Diagnóstico organizacional – 7,9%
• Psicodiagnóstico – 5,5%
(% psicólogos) • Consultoria – 3,9%
• Docência – 3,9%
• Cargo administrativo – 3,9%

• Atendimento a crianças com distúrbios de aprendizagem – 19,6%


• Assistência psicológica a pacientes clínicos e cirúrgicos – 15,2%
Atividades mais frequentes • Psicodiagnóstico – 15,2%
no setor ONGS • Aplicação de testes psicológicos – 8,7%
(% psicólogos) • Consultoria – 4,3%
• Cargo administrativo – 4,3%
• Assistência materno-infantil – 4,3%

• Aplicação de testes psicológicos – 22,0%


Atividades mais frequentes • Psicodiagnóstico – 18,5%
como autônomo • Atendimento a crianças com distúrbios de aprendizagem – 10,5%
• Assitência psicológica a pacientes clínicos e cirúrgicos – 7,9%
(% psicólogos) • Consultoria – 3,9%
• Diagnóstico organizacional – 3,9%

Figura 5.16 Atividades mais frequentes no primeiro emprego dos recém-formados por setor de
inserção, em percentuais. Foram retiradas as frequências nulas e as abaixo de 3.
Fonte: Dados do questionário online aplicado.

dizagem do psicólogo trainee. O índice de contribuição de sua forma de atuação pa-


48% de sujeitos que trabalham de forma in- ra os resultados, o sentimento em relação
dividual igualmente reflete uma condição ao setor em que se insere e a percepção
largamente conhecida de profissionais que de possibilidade de crescimento do setor
prestam serviços técnicos como autônomos, de inserção.
no setor privado. Hoje, o serviço de diagnós- Esses resultados sinalizam que os psi-
tico psicológico nas empresas tem sido ter- cólogos recém-formados percebem o pró-
ceirizado, fato refletido nos dados dessa pes- prio trabalho como fértil porque contribui
quisa. significativamente para os resultados em
O último fator que os dados aqui anali- função dos quais ele foi planejado. Isso
sados oferecem para o estudo dos psicólo- constitui um dado positivo, uma vez que o
gos no Brasil é apreendido na subjetivi- trabalho como fonte de sentido e porque
dade dos sujeitos, como consta na Figura deve refletir certo grau de autoestima do
5.17. A percepção que os sujeitos têm da profissional. Os escores são maiores no se-
104 Bastos, Guedes e colaboradores

OngS e
Seto púb ico Seto p i ado
coope ati as

– Em grupos – Em grupos
fo a de
multidisciplinares – Individual (48%) multidisciplinares
atua o
(61,9%) (41,7%)

Co t ibui o
o a de atua o
– Muito (62,5%) – Muito (62,5%) – Muito (68,6%)
pa a a ca ce
de esu tados

Se ti e to e
e a o ao seto – Satisfeitos (71,9%) – Satisfeitos (78,8%) – Satisfeitos (70,0%)
de atua o

Possibi idade – Percebem algumas – Percebem algumas – Percebem algumas


de c esci e to possibilidades possibilidades possibilidades
nO seto (48,9%) (48%) (47,9%)

Figura 5.17 Percentuais comparados entre a amostra de recém-formados com primeiro emprego,
por setor de atua ão e forma de atua ão, contribui ão para alcance dos resultados, sentimento em
rela ão ao setor de atua ão e percep ão de possibilidades de crescimento.

tor público, 62,5%, e nas ONGs e coope- como um setor ocupacional amadurecido e
rativas, 68,6%, provavelmente devido às em desenvolvimento.
condi ões e à finalidade do trabalho. Nes-
sas institui ões, a atua ão profissional é
mais protegida da competitividade e das COnClUSãO
pres sões de um plano estratégico, bem co-
mo menos influenciadas pela busca de lu- É animador, gratificante e esperan o-
cros financeiros. so para uma sociedade e para os profis-
Os sentimentos em rela ão ao setor e à sionais da Psicologia encontrar resultados
pr pria atua ão revelam alto índice de sa- como esses, identificados na popula ão de
tisfa ão, fato que sugere a condi ão de pro- jovens recém-formados na trajet ria da pro-
fissionais adaptados, sob tensões contro- fissão do psic logo no Brasil. Ser psic logo
ladas, pouco significativas ou justificadas e é uma profissão aberta a diferentes cami-
com grande parte das expectativas aten- nhos, diversificada para abrigar pessoas de
didas. O dado menos positivo desse quadro distintos interesses, alicer ada para enfren-
está na percep ão da potencialidade de tar as turbulências da globaliza ão e enri-
crescimento que, embora sendo aproxima- quecida de significativa pluralidade de re-
damente 50%, revela a influência de limi- cursos para ser uma for a de transforma ão
ta ões e de restri ões que devem come ar a na sociedade. Em um momento hist rico no
ser consideradas na trajet ria de carreira. qual as profissões enfrentam significativas
Em vista desses resultados, a profissão metamorfoses em suas configura ões, iden-
de psic logo no Brasil pode ser assumida tidades e inser ões no mercado, os dados
O trabalho do psicólogo no Brasil 105

dessa pesquisa revelam significativa estabi- A pesquisa revela que os recém-forma-


lidade em aspectos-chave da profissionali- dos estão conscientes das potencialidades,
za ão, como fica evidenciado na abertura recursos e do alcance de sua profissão. Tal-
das portas por parte das empresas públicas, vez esse seja o dado novo produzido por
das organiza ões comerciais, das institui- essa pesquisa e um de seus resultados mais
ões direcionadas para o trabalho social e importantes. A informa ão fornecida pela
do exercício profissional autônomo. Chama Figura 5.16, dando conta de que mais de
a aten ão de qualquer observador a atrativi- 60% dos recém-formados percebem os re-
dade que essa profissão exerce sobre os jo- sultados de suas atividades, desenvolveram
vens e a dispersão de caminhos alternativos sentimentos positivos em sua atua ão e
para lidar com os problemas da sociedade. identificarem potencialidades de crescimen-
Como todas as outras profissões, o ser psi- to, indica que a visão desses sujeitos trans-
c logo enfrenta as contradi ões, os confli- cende o territ rio de suas tarefas, configu-
tos e as desigualdades presentes no contex- rando a contextualiza ão de suas atividades
to brasileiro que nos dados dessa pesquisa e alguma consistência com seus valores e
estão refletidos na dificuldade para encon- suas aspira ões pessoais. Perceber a contri-
trar o primeiro emprego, na instabilidade bui ão produzida pela for a da pr pria cau-
do vínculo de trabalho e na irregularidade salidade pessoal é, segundo De Charms
da compensa ão financeira. (1968), um dos fatores mais fortes no vín-
Outro aspecto, não menos significativo culo criativo do indivíduo com o trabalho.
do que esses, é a diversidade das atividades Essa percep ão desencadeia no indivíduo “a
exercidas pelos profissionais recém-forma- iniciativa de comportamentos direcionados
dos. No conjunto de tarefas que compõem para produzir transforma ão no ambiente
o trabalho deles, foram encontradas ativi- ao seu redor” (p. 6). Além disso, o fato de a
dades de técnicas na área de avalia ão, de- satisfa ão dos recém-formados atingir a
senvolvimento, interven ão e planejamen- marca dos 70% revela, igualmente, pontos
to. Esse dado releva a ampla penetra ão do positivos na adapta ão efetiva ao trabalho.
conhecimento e dos instrumentos produzi- De acordo com Warr (2007), esse índice de
dos no âmbito da Psicologia. Essa dispersão satisfa ão está associado à autovalida ão
do trabalho do psic logo se deve ao fato que é um fator, por sua vez, relacionado ao
do objeto da Psicologia ser o comporta- bem-estar e à motiva ão.
mento, seus determinantes e o processo de Finalmente, o escore de aproximada-
adapta ão do ser humano ao mundo e a si mente 50% na percep ão de crescimento
mesmo, como questão presente em todas não poderia estar aqui menos destacado.
as atividades humanas, seja na saúde, seja A profissionaliza ão ganha sentido e for a
no trabalho, na educa ão, na constru ão na medida em que o indivíduo percebe no
de estruturas sociais e políticas, bem como trabalho a sua condi ão de potencialidade
na arte. Pode-se afirmar que a explica ão e de aprender e de ser. Através dessa per-
o manejo dos processos psicol gicos inte- cep ão, ele identifica viabilidade na reali-
gram, direta ou indiretamente, todas as za ão de suas aspira ões e vê suas poten-
atividades da sociedade. Por outro lado, cialidades como uma espiral que nunca é
esses mesmos dados revelam que a Psico- consumada.
logia e os psic logos têm oferecido contri- Esses resultados, em seu conjunto, jus-
bui ões efetivas para serem, assim, conti- tificam a atitude de esperan a que a pro-
nuamente demandados e necessários. fissão de psic logo produz.
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