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Renan Santos*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Ao final do século 5, o que restava dos escombros do Império Romano era uma multidão
dispersa de povos bárbaros e alguns fragmentos da cultura clássica, que só não desapareceram
devido aos esforços dos monges copistas e dos grandes pensadores cristãos em Alexandria,
Grécia e Roma.
É difícil delimitar a origem da Escolástica porque jamais ela se estabeleceu como uma
doutrina filosófica restrita. Diferente do que se pensa, havia no ambiente católico uma
divergência muito viva em questões teológicas. Foi esse espírito do debate que acabou dando
origem à corrente de atividades intelectuais, artísticas e filosóficas a que se convencionou
chamar de Escolástica (do latim D.
Possivelmente a maior contribuição da Escolástica à filosofia tenha sido o seu notável rigor
metodológico e dialético. Os estudantes das principais universidades precisavam passar por
exames que envolviam a disputa oral de argumentos, sempre regida pelo uso da lógica formal
e intermediada por um mestre.
Pedro Abelardo se inspirou nesse método dialético e o aprofundou em sua obra ` ,
que virou referência para a resolução de problemas a partir da sucessão de afirmações e
negações sobre um mesmo tópico. Para isso, era imprescindível uma definição satisfatória dos
termos, que evitasse ambiguidades.
Tiveram muito sucesso nesse sentido os escolásticos, chegando a criar palavras totalmente
novas a partir das raízes do grego e do latim, o que acabou resultando no latim escolástico. A
própria evolução das ciências se deve em grande parte ao desenvolvimento desse rigor
terminológico.
A verdade é que, com a chegada da imensa obra de Aristóteles, foram surgindo naturalmente
dois partidos nas universidades: os tradicionais, agostinianos e platônicos, que não admitiam a
ideia de ciências autônomas em relação à teologia, e os "modernos" aristotelistas, fascinados a
tal ponto com a investigação da filosofia natural que buscaram tornar as ciências
independentes da teologia.
Essa discussão levou a grandes contendas acerca da relação entre fé e razão, cuja ruptura
definitiva ficaria a cargo do franciscano inglês Guilherme de Ockham no século 14, abrindo
de vez as portas para a ciência moderna.
üa esteira das traduções que abalaram o Ocidente, encontrou-se a Ô
, obra do filósofo
antigo Porfírio, onde ele expunha o problema dos universais em Aristóteles. Iniciava-se assim
um dos mais longos debates da história da filosofia.
Quando olhamos para duas maçãs, vemos algo de comum entre elas? Ou elas são
completamente diferentes? Há uma substância "maçã" separada delas, ou ela está em cada
uma das maçãs? Ou a substância "maçã" não existe de forma alguma? Perguntas desse tipo é
que dirigiram o debate dos universais.
Com o declínio dos impérios português e espanhol, a filosofia medieval cristã praticamente
desapareceu, enquanto o cartesianismo, o positivismo e o agnosticismo kantiano atingiam o
seu auge.