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O empirismo

de Hume

Retrato de David Hume, Allan Ramsay, óleo sobre tela,


Scottish National Portrait Gallery, Edimburgo, 1766
Impressões e ideias

 Aos conteúdos da nossa mente Hume chama perceções. Estas distribuem-se por duas categorias
principais: as impressões e as ideias.

 As impressões consistem em experiências e tanto podem ser externas como internas.

 As ideias abrangem os nossos conceitos, bem como aquilo que imaginamos ou recordamos.

 As impressões distinguem-se das ideias pela sua maior vivacidade.

 Princípio da cópia: todas as ideias são cópias de impressões.

 O princípio da cópia é empirista, pois diz-nos que todos os conteúdos da nossa mente têm a sua
origem na experiência.

 Das impressões resultam diretamente todas as nossas ideias simples. Combinando essa ideias, a
nossa mente produz ideias complexas.
Relações de ideias e questões de facto

 Outro princípio empirista é a bifurcação de Hume: todo o nosso conhecimento proposicional é


ou de relações de ideias ou de questões de facto.

 As relações de ideias definem-se por poderem ser conhecidas a priori. São intuitiva ou
demonstrativamente certas.

 São verdades necessárias.

 Nada afirmam ou implicam sobre a existência de entidades concretas.

 As questões de facto definem-se por terem de ser conhecidas a posteriori.

 São verdades contingentes

 Afirmam ou implicam a existência de entidades concretas.

 Hume não nega a existência de conhecimento a priori, mas defende que, para sabermos o que
existe na realidade concreta, temos sempre de recorrer à experiência.
Dedução

A dedução, ou método dedutivo, parte de uma lei ou teoria geral para deduzir conclusões
relativas a questões particulares. A partir de premissas validadas pela ciência e tidas como
verdadeiras, o cientista elabora verdades particulares. (Da causa para os efeitos).
Assim, todos os casos particulares estarão submetidos a uma regra geral (universal). Na
dedução, a regra ou teoria é hierarquicamente superior aos dados coletados.

Exemplos:

a) Um triângulo é um polígono de três lados. Logo, todo e qualquer polígono de três lados será um
triângulo.

B) Um médico, ao realizar uma consulta, parte de seus conhecimentos prévios (universais) e busca
interpretar os sintomas do paciente (particulares) e definir o tratamento mais adequado.
Indução

Na indução, ou método indutivo, o trajeto rumo ao conhecimento começa na


observação. Partindo do que se é observado, ou seja, do particular, elabora-se uma regra
geral. A indução baseia-se, portanto, na generalização e na probabilidade. (Dos efeitos
para as causas.)
Ao basear-se num salto para a generalização, o método indutivo, só pode garantir a
verdade até certo grau. Ou seja, a sua conclusão tem apenas um grau de probabilidade de
ser verdadeira.

Veja alguns exemplos:


•Foram observados 100 cisnes, todos eram brancos. Logo, todos os cisnes são brancos.

2) Até hoje, o sol nasceu todos os dias. Logo, o sol nasce todos os dias.
Raciocínio causal

 Todos os raciocínios relativos a questões de facto assentam na relação de causa e efeito, ou seja,
na relação de causalidade.

 As relações causais nunca podem ser descobertas a priori. Para inferirmos um efeito a partir de
uma causa, ou o inverso, precisamos sempre de nos apoiar na experiência.

 Para fazermos uma inferência causal, temos de nos basear em regularidades observadas ou
conjunções constantes. Por exemplo:

1. Ocorreu um raio.

2. Aos raios têm-se seguido trovões.

3. Logo, provavelmente irá ocorrer um trovão.


Uniformidade da Natureza e indução

 Ao fazer inferências causais estamos sempre a pressupor que a natureza se comporta de uma
maneira uniforme, isto é, que a causas semelhantes seguem-se efeitos semelhantes – e, assim, que
o futuro assemelhar-se-á ao passado.

 Este é o princípio da uniformidade da Natureza.

 Temos, pois, temos de completar o raciocínio anterior:

1. O futuro assemelhar-se-á ao passado.

2. Ocorreu um raio.

3. Aos raios têm-se seguido trovões.

4. Logo, provavelmente irá ocorrer um trovão.


Uniformidade da Natureza e indução

 Como poderemos justificar o pressuposto de que o futuro se assemelhará ao passado? De acordo


com Hume, é impossível justificá-lo.

1. Se o princípio da uniformidade da natureza é justificável, então pode ser justificado


demonstrativamente ou indutivamente.
2. Mas este princípio não é justificável demonstrativamente.
3. E também não é justificável indutivamente.
4. Logo, o princípio da uniformidade da natureza não é justificável.

 O problema da indução é o desafio de responder a este argumento cético de Hume.


O hábito

 As inferências causais podem não ser racionalmente justificáveis, mas são psicologicamente
explicáveis.

 Elas resultam da lei psicológica do hábito ou costume.

 De acordo com esta lei ou princípio, sempre que a mente humana se depara repetidamente com
acontecimentos de um certo tipo (como raios) seguidos por acontecimentos de outro tipo (como
trovões), fica com a expectativa de que um acontecimento do segundo tipo ocorra sempre que se
depara com um acontecimento do primeiro tipo.
A ideia de conexão necessária

 Quando julgamos que um acontecimento causa outro, presumimos que existe uma conexão
necessária entre os dois: que a causa está ligada ao efeito, de tal forma que o efeito tem de se seguir
à ocorrência da causa.
 Qual é a origem da ideia de conexão necessária?
 Pelo princípio da cópia, esta ideia tem de derivar de impressões.
 Mas, em cada caso particular de causalidade, nunca temos qualquer impressão de uma conexão
necessária.
 A impressão de conexão necessária consiste num sentimento produzido pelo hábito.
 Assim, a conexão entre a causa e o efeito não existe entre os próprios acontecimentos.
 Ela existe, por assim dizer, apenas na nossa cabeça.
 Parece-nos, por exemplo que os acontecimentos de beber água e de deixar de ter sede estão
conectados, mas, na verdade, essa conexão é imaginada por nós pela força do hábito – e
projetada nos acontecimentos.
A natureza da causalidade

 Para Hume, dizer que um acontecimento x causa um acontecimento y é o mesmo que dizer
que...

... (1) a x segue-se y e (2) a todos os acontecimentos semelhantes a x seguem-se


acontecimentos semelhantes a y.

 Ou que...

... (1) a x segue-se y e (2) observar um acontecimento semelhante a x faz-nos ter a expectativa
de um acontecimento semelhante a y.
A natureza da causalidade

 A crítica de Thomas Reid a Hume:

Não conheço um autor anterior ao Sr. Hume que tenha sustentado que só temos esta noção de causa:
algo que é anterior ao efeito e que, segundo a experiência, foi seguido constantemente pelo efeito.
[...]
[V]ou apontar aqui algumas consequências que podemos deduzir corretamente desta definição de
causa, para que possamos julgá-la pelos seus frutos. [...]
Segue-se desta definição de causa que a noite é a causa do dia e o dia a causa da noite. Pois, desde o
começo do mundo, não houve coisas que se tenham sucedido mais constantemente. [...]
Desta definição de causa, seguir-se-ia que não temos razões para concluir que houve uma causa da
criação do mundo, pois não existiram circunstâncias prévias às quais se tenham seguido
constantemente esse efeito. E, pela mesma razão, segue-se desta definição que tudo o que seja
singular na sua natureza,
natureza ou que seja a primeira coisa do seu género, não pode ter uma causa.

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