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Filosofia 11ºAno

Ficha Formativa nº3

I
Responda às questões seguintes.

1. Em que se baseiam os conhecimentos de facto?


Os conhecimentos de facto baseiam-se na relação de causa e efeito, ou seja, na
crença de que determinados acontecimentos causam outros.

2. Por que razão a relação de causa e efeito tem, segundo Hume, origem na experiência?
Tem origem na experiência porque é a ocorrência conjunta de dois acontecimentos
que torna possível supor que um é causa do outro. É na experiência que os factos
aparecem ligados por uma relação de sucessão, condição necessária da ideia de
relação causal.

3. Como defende Hume esta tese?


Defende-a de duas formas:
a) Argumenta que os acontecimentos que intitulamos «causa» e «efeito» são muito
diferentes, não podendo por isso deduzir-se um do outro. Da ideia de água não
inferimos a priori que pode afogar; b) Tal como um cego de nascença não pode ter
uma ideia das cores, quem não observar que o lume pode queimar nunca formará
a ideia dessa relação.

4. «Todos os raciocínios relativos a questões de facto parecem assentar na relação de


causa e efeito. Somente por meio dessa relação podemos ir além da evidência da
nossa memória e dos nossos sentidos.»
Explicite a segunda afirmação do texto de David Hume.
Hume afirma que a relação de causa e efeito nos leva para lá da experiência passada
e imediata porque estabelecemos uma relação entre factos observados e factos não
observados.

5. O que significa dizer que a ideia de relação causal está associada à ideia de conexão
necessária?
Significa dizer que o acontecimento que consideramos «causa» e o que consideramos
«efeito» estão ligados, não de forma temporária ou acidental, mas sempre. Com a
ideia de causa queremos dizer que tal ou tal facto (causa) deve, necessariamente,
produzir outro. A conexão necessária entre causa e efeito consiste, não na mera
conjunção constante, mas no facto de que um dado acontecimento não pode ocorrer
sem o outro.

6. Embora tenha origem empírica, será que esta ideia pode ser justificada pela
experiência?
Filosofia 11ºAno
Não, porque ter experiência de uma conexão necessária entre acontecimentos
implicaria que tivéssemos a impressão sensível de todas as vezes que «causa» e o
«efeito» acontecem em conjunto. Isso implicaria que tivéssemos impressão sensível
do que ainda não aconteceu. Mas do futuro não pode haver experiência.
A experiência apenas pode mostrar que entre dois acontecimentos há uma
conjunção constante. Não temos impressão sensível de uma conexão que se traduz
na proposição «Sempre assim foi e sempre assim será».

II
Leia atentamente o texto seguinte.
«O hábito é o grande guia da vida humana. É o único princípio que torna a
nossa experiência útil para nós, e nos faz esperar, no futuro, um curso de
eventos similar aos que ocorreram no passado. Sem a influência do hábito
seríamos inteiramente ignorantes de todas as questões de facto que
ultrapassem o que está imediatamente presente à memória e aos sentidos.
Nunca saberíamos como adaptar os meios aos fins, nem como empregar os
nossos poderes naturais para produzir qualquer efeito. Acabaria
imediatamente toda e qualquer ação, bem como a maior parte da
especulação.»

David Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano, Lisboa, INCM, 2002, p. 59.
1. Esclareça a afirmação inicial do texto.
O hábito é o grande guia da vida humana por várias razões: 1. Torna útil a experiência
porque significa que aprendemos com esta; 2. Aprendemos que o passado é um guia
para o futuro no sentido em que observar a sucessiva e constante conjugação de
certas causas e efeitos nos permite criar expetativas quanto à repetição dessa relação
no futuro; 3. Torna possível organizar e planear as nossas ações.

2. Mostre como mediante o hábito se forma a ideia de conexão necessária?


Tendo a experiência de que dois acontecimentos aparecem regularmente
conjugados, um seguindo-se ao outro, sentimos a inclinação para supor uma conexão
necessária entre tais acontecimentos, de modo que entendemos o primeiro como
causa e o segundo como efeito, atribuindo ao primeiro o poder de causar o segundo.
Por outras palavras, do primeiro segue-se necessariamente – sempre – o segundo. É
esta «crença natural» que torna possível o raciocínio que nos leva a crer que o fogo
causa calor, que o álcool causa embriaguez, assim como muitas outras regularidades
causais que inferimos acerca do mundo.

3. «Sem a influência do hábito, seríamos inteiramente ignorantes de todas as questões


de facto que ultrapassem o que está imediatamente presente à memória e aos
sentidos.»
Filosofia 11ºAno
Explicite o que Hume quer dizer.
Hume quer dizer que é um fator psicológico e não racional que está na base dos
raciocínios que fazemos a partir da experiência. O hábito é o princípio com base no
qual da simples constatação da contiguidade e sucessão entre dois fenómenos se
infere também a necessidade da conexão entre os dois fenómenos, considerando um
«causa» e o outro «efeito».

4. O hábito é um princípio racional?


Não. O hábito é uma disposição natural ou um instinto que, como todos os instintos, é
útil para a adaptação do ser humano à realidade. Com esse instinto foi a própria
natureza que nos ofereceu a possibilidade de predizer as suas próprias regularidades.
Esse instinto torna possível inferir efeitos semelhantes de causas semelhantes e
predizer acontecimentos futuros de modo a sobreviver no mundo em que habitamos.
É, assim, uma espécie de «crença natural» que se impõe à nossa vontade e não
depende da nossa razão.

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