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O PROBLEMA DA CAUSALIDADE
1. Observação de um facto: duas bolas de bilhar chocam. (conjunção constante entre (A)
e (B), em que (B) sucede a (A).
2. Análise do Fenómeno: Como consequência da conjunção constante ou sucessão
regular de (A) e (B) nasce na nossa mente a ideia de relação causal ou conexão
necessária.
Dizemos então: Sempre que se dá (A) acontece (B).
Quando dizemos esta proposição estamos a falar de um facto futuro. É aqui que Hume
diz que ultrapassamos o que a experiência – a única fonte de validade dos
conhecimentos de facto – nos permite. Para Hume o conhecimento dos factos reduz-se
às impressões atuais e passadas. Não podemos ter conhecimento de factos futuros
porque não podemos ter qualquer impressão sensível ou experiência do que ainda não
aconteceu. A ideia de relação causal, de uma conexão necessária entre dois fenómenos,
é uma ideia da qual não temos qualquer impressão sensível. Como o critério de verdade
do conhecimento é que a uma ideia corresponda uma impressão sensível, não temos
legitimidade para falar de uma relação causal entre os dados da nossa experiência.
Inferimos uma relação necessária entre causa e efeito pelo facto de nos termos
habituado a constatar uma relação constante entre factos semelhantes ou sucessivos. É
apenas o hábito ou costume que nos permite sair daquilo que está imediatamente
presente na experiência em direção ao futuro. A constante relação de contiguidade
espacial e de prioridade temporal entre os fenómenos A e B levam a razão a inventar
uma conexão que ela julga necessária, mas da qual nunca teve experiência. É o hábito
ou o costume, o responsável pela inferência causal, e não a razão, pois esta não tem
legitimidade para tal: isto porque a experiência só nos revela o como os fenómenos se
sucedem, mas não nos dá a conexão necessária que os torna causa e efeito, ou seja, o
porquê dessa sucessão. Podemos então explicar que o hábito é um princípio da natureza
humana.