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Segundo Hume, tudo o que podemos conhecer refere-se a relações de ideias e questões

de facto. As questões de facto revelam proposições do conhecimento do mundo em que


a verdade só pode ser conhecida mediante a experiência, isto é, temos de observar o
mundo dos factos para verificar se elas são verdadeiras ou falsas. Exemplo: “Amanhã
vai chover.” Este é um juízo cujo valor de verdade não pode ser decidido pela simples
inspeção a priori, ou seja, temos de a confrontar com uma verificação experimental, isto
é, a sua verdade ou falsidade só pode ser determinada a posteriori.

Ao contrário das relações de ideias, não há qualquer contradição na negação de um


conhecimento de facto. As proposições de facto podem ser verdadeiras, mas também é
possível que venham a revelar-se falsas. Logo, se a proposição “Amanhã vai chover”
for negada, esta não irá violar o princípio lógico da não contradição. São assim,
proposições contingentes. Apesar da probabilidade dada pelos boletins meteorológicos
de que amanhã irá chover é logicamente possível que isso também não aconteça.
Mas, se todo o conhecimento começa com a experiência, e se os juízos que podemos
fazer a partir dessa experiência são particulares e contingentes, como podemos validar o
conhecimento científico que ambiciona confiar em juízos universais e necessários?? O
que nos permite dizer que “toda a causa tem um efeito”

O PROBLEMA DA CAUSALIDADE

Todo o nosso conhecimento fundamental do mundo é alcançado através da nossa


experiência com o mundo. Todas as nossas crenças têm de ser justificadas através do
que sentimos e observamos. A relação causa-efeito é uma das formas de associação das
questões de facto.

Análise da relação causa-efeito segundo Hume:

1. Observação de um facto: duas bolas de bilhar chocam. (conjunção constante entre (A)
e (B), em que (B) sucede a (A).
2. Análise do Fenómeno: Como consequência da conjunção constante ou sucessão
regular de (A) e (B) nasce na nossa mente a ideia de relação causal ou conexão
necessária.
Dizemos então: Sempre que se dá (A) acontece (B).
Quando dizemos esta proposição estamos a falar de um facto futuro. É aqui que Hume
diz que ultrapassamos o que a experiência – a única fonte de validade dos
conhecimentos de facto – nos permite. Para Hume o conhecimento dos factos reduz-se
às impressões atuais e passadas. Não podemos ter conhecimento de factos futuros
porque não podemos ter qualquer impressão sensível ou experiência do que ainda não
aconteceu. A ideia de relação causal, de uma conexão necessária entre dois fenómenos,
é uma ideia da qual não temos qualquer impressão sensível. Como o critério de verdade
do conhecimento é que a uma ideia corresponda uma impressão sensível, não temos
legitimidade para falar de uma relação causal entre os dados da nossa experiência.

Inferimos uma relação necessária entre causa e efeito pelo facto de nos termos
habituado a constatar uma relação constante entre factos semelhantes ou sucessivos. É
apenas o hábito ou costume que nos permite sair daquilo que está imediatamente
presente na experiência em direção ao futuro. A constante relação de contiguidade
espacial e de prioridade temporal entre os fenómenos A e B levam a razão a inventar
uma conexão que ela julga necessária, mas da qual nunca teve experiência. É o hábito
ou o costume, o responsável pela inferência causal, e não a razão, pois esta não tem
legitimidade para tal: isto porque a experiência só nos revela o como os fenómenos se
sucedem, mas não nos dá a conexão necessária que os torna causa e efeito, ou seja, o
porquê dessa sucessão. Podemos então explicar que o hábito é um princípio da natureza
humana.

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