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2. Por que razão a relação de causa e efeito tem, segundo Hume, origem na
experiência?
É a partir da relação que estabelecemos entre as diversas ideias que vamos criando
ideias novas, originando assim conhecimento. Uma forma de associar ideias é através
da relação de causa: da interligação das ideias resultam as nossas crenças (fruto de
processos associativos fortalecidos pelo hábito e costume sem nenhum fundamento
racional) que, sendo uma associação repetitiva de ideias que correspondem a uma
dada impressão tem sempre um fundamento empírico. Sem recorrer á experiência não
podemos afirmar que A causa B, por exemplo, não podemos afirmar que a água entra
em ebulição aos 100 graus sem experienciar esse acontecimento primeiro.
Os acontecimentos entre os quais se verifica uma relação causal são distintos. Sem o
auxílio da experiência nunca podemos descobrir que efeito terá X acontecimento ou a
causa que o produziu, se não nos basearmos na experiência passada não somos
capazes de fazer inferências causais.
Hume afirma que “Todos os raciocínios relativos a questões de facto parecem assentar
na relação de causa e efeito.” e, por sua vez, esta relação é sustentada pelo hábito.
Segundo o filósofo, projetamos nos acontecimentos a nossa tendência para inferir um
acontecimento a partir de outro. Esta observação repetida permite-nos imaginar uma
conexão entre dois acontecimentos diferentes. Por outras palavras, se eu vejo A
provocar B sucessivamente no tempo e espaço fico com o costume de que A provoque
B, formulando uma crença sobre esta sucessão de acontecimentos. Esta crença não é
uma verdade lógica porque (ainda que pareça improvável) existe a possibilidade de A
não provocar B. Do mesmo modo não é uma verdade empírica uma vez que as
impressões não podem ultrapassar o que experienciámos e experienciamos (não
podemos ter conhecimento daquilo que ainda não aconteceu porque não temos
nenhuma impressão acerca disso). Assim, não possuo bases que justifiquem a minha
crença, no entanto, o hábito diz-me que “A provocar B” é provável ultrapassando e
“guiando-nos” além daquilo que as impressões e memória permitem. Através do
hábito é-me permitido fazer previsões baseadas em casos passados.
5. O que significa dizer que a ideia de relação causal está associada á ideia de
conexão necessária?
6. Embora tenha origem empírica, será que esta ideia pode ser justificada pela
experiência?
Esta ideia não pode ser justificada a posteriori porque a ideia de conexão necessária
não resulta do nosso contacto empírico: observamos a causa e de seguida observamos
o seu efeito mas, nunca vemos a sua conexão, isto é, não observamos nada que faça a
causa produzir necessariamente o seu efeito. Além disto, dizer que “A causa B” não se
restringe apenas ao passado e presente, estamos também a afirmar que “A causará B”
mas, o nosso conhecimento limita-se apenas às impressões atuais e passadas. Não
temos, portanto, impressão sensível de que será assim no futuro. Não podemos dizer
que “A causa B” por indução porque não conseguimos criar impressões do que nunca
observámos.
1. Esclareça a afirmação inicial do texto
O hábito leva-nos a esperar que certas causas levem a certos efeitos por isso, o nosso
conhecimento no futuro é apenas expectativa baseada num fundamento psicológico: o
costume. Este torna-se numa crença quando, depois de tantas repetições e conjunções
constantes de B a suceder A, a mente concebe maior força, vivacidade e credibilidade
à crença de que existe uma conexão necessária entre ambos, ou seja, tantas
impressões no passado onde se verifica uma interligação que, a nossa mente atribui
um carácter necessário à crença de que sempre assim sucederá.
Uma vez que vivemos num mundo de probabilidades, sem certeza que a relação causal
existe, concebemos ao costume uma força e um carácter fundamental criando leis de
forma a organizar a nossa realidade baseados neste processo cognitivo.
Hume quer dizer que sem o hábito, ou seja, a capacidade que apresentamos para
prever algo baseado na experiência empírica que vivenciamos entre dois
acontecimentos relacionados no passado, não apresentaríamos qualquer
conhecimento para além daquilo que captamos no momento. Mesmo as nossas
impressões passadas seriam insignificantes uma vez que seriam acontecimentos ao
acaso dos quais não poderíamos tirar qualquer conclusão para além daquilo que
vivenciamos. Quer dizer, sem o hábito que tenho de que o fogo queima, mesmo que
no passado me tivesse queimado com o fogo não poderia concluir que ele queimasse
no futuro também, levando-me a ser ignorante perante qualquer indução que apenas
o costume me permite fazer. O nosso conhecimento limitar-se-ia às pequenas
impressões que temos no exato momento em que estamos em contacto sensível
deixando-nos desorientados e sem informação acerca do que o que as nossas ações
causarão, seriamos incapazes de inferir acerca do futuro, uma vez que não nos
poderíamos basear nos casos observados anteriormente.
Não, as relações que a mente origina através do costume não se baseiam em nenhum
princípio racional. O hábito de ver um acontecimento suceder outro leva-nos à crença
que sempre assim vá acontecer, no entanto, apenas temos hábito das coisas com as
quais temos contacto empírico, o hábito advém das experiências repetidas de ver dois
acontecimentos interligados.