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Texto 1: A Teoria do conhecimento de David Hume relação, no entanto, a causalidade em si não seria um fator objetivo, mas subjetivo,

uma vez que não podemos ter uma impressão da força que põe as coisas em relação
A teoria do conhecimento desse filósofo é baseada em sua interpretação das causal, mas apenas dos eventos observados subsequentemente.
operações da mente. Ele propõe que todo o conteúdo da mente (o que John Locke O que se supõe ser uma questão de causa, afirma David Hume, é antes fruto do
havia nomeado de modo semelhante como “ideias” seja considerado como percepção. hábito. É por meio de muitas experiências e com o auxílio da memória que entendemos
Esse termo é usado em um sentido mais amplo do que o do cotidiano e abrange as haver uma conjunção constante entre certos eventos, quando não haveria nenhuma
diversas operações e capacidades da mente. necessidade lógica nessas relações de causa e efeito.
As percepções só são distinguidas pelo grau de vivacidade com o qual nos Em seu famoso exemplo, afirma que é pelo hábito que acreditamos que o Sol
afetam, assim, qualquer desejo, reflexão ou sentimento será sempre mais intenso do nascerá todos os dias, e com isso quer dizer que esse evento é apenas
que uma recordação ou uma imaginação dessas situações. A lembrança do nascimento uma probabilidade, não uma verdade estabelecida pela razão. Todas as questões de
de um filho ou uma filha, por exemplo, não poderia comparar-se com o momento do fato seriam contingentes, ou seja, poderiam deixar de ser, mas as propriedades do
nascimento em si. Sendo assim, teríamos as impressões, que são as percepções mais triângulo, por outro lado, que são conceituais, permanecem por necessidade lógica.
intensas, e os pensamentos (ou ideias), que são as percepções mais fracas. David
Hume afirmou, por isso, que mesmo o pensamento mais intenso não se compara à Principais citações de David Hume
impressão mais fraca.
Esse filósofo defendeu que os pensamentos representam o que originalmente •Investigações sobre o entendimento humano
apreendemos pelas impressões. Isso explicaria não apenas por que algumas percepções
“Um homem tomado de um acesso de fúria é afetado de maneira muito diferente de um
são fracas, mas por que alguns pensamentos ocorrem apenas na mente e não na
outro que apenas pensa nessa emoção. Se você me diz que uma certa pessoa está
realidade. Podemos, por exemplo, imaginar uma montanha de ouro, mas nenhuma
enamorada, eu entendo facilmente o que você quer dizer e formo uma ideia adequada
existe concretamente. Decompondo esse conteúdo em elementos mais simples
da situação dessa pessoa, mas jamais confundiria essa ideia com os tumultos e agitações
(montanha e ouro), descobriríamos que esses conteúdos resultaram de experiências
reais da paixão.” |1|
anteriores. É por meio dessa identificação que concluiríamos que todos os conteúdos
da mente se originam de alguma impressão. “O contrário de toda questão de fato permanece sendo possível, porque não pode jamais
Tendo explicado as operações da mente e identificado que os pensamentos têm implicar contradição, e a mente o concebe com a mesma facilidade e clareza, como algo
origem empírica, seria esperada uma explicação sobre a origem do que percebemos perfeitamente ajustável à realidade. Que o sol não nascerá amanhã não é uma
pelos sentidos ou das sensações, que advêm de uma realidade extra mental, mas isso proposição menos inteligível nem implica mais contradição que a afirmação de que ele
não ocorre! David Hume limita o entendimento humano às próprias percepções, nascerá; e seria vão, portanto, tentar demonstrar sua falsidade.” |2|
de modo que essas percepções originárias simplesmente surgiriam na mente. Isso
significa que não se pode experimentar o que está além dessas percepções mais simples. “Se um objeto nos fosse apresentado e fôssemos solicitados a nos pronunciar, sem
Tendo indicado a origem dos pensamentos (ou das ideias), resta ainda indicar consulta à observação passada, sobre o efeito que dele resultará, de que maneira, eu
como se pode alcançar conhecimento ou certeza. Sobre isso há três principais relações: pergunto, deveria a mente proceder nessa operação? Ela deve inventar ou imaginar
semelhança, contiguidade no tempo e no espaço, e causa e efeito. Embora as ideias algum resultado para atribuir ao objeto como seu efeito, e é óbvio que essa invenção
possam ser associadas livremente, como ao imaginar-se uma montanha de ouro, apenas terá de ser inteiramente arbitrária. O mais atento exame e escrutínio não permite a mente
as duas primeiras relações são válidas para estabelecer-se verdades conceituais. encontrar o efeito na suposta causa, pois o efeito é totalmente diferente da causa e não
O que será mais inovador em seu pensamento é a investigação das questões de pode, consequentemente, revelar-se nela.” |3|
fato, na qual encontramos as causalidades. Todos os fatos seriam explicados por essa

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