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O Empirismo cético de David Hume:

David Hume é um autor do iluminismo, época das “luzes” e do despertar do


pensamento próprio:

(“Ousa pensar. Tem a coragem de te servires do teu próprio entendimento”) –


Immanuel Kant

Hume começa por formular uma crítica ao Racionalismo de Descartes. Esta assenta na
desconfiança de Descartes em relação à experiência, que, não colocando a razão de
parte, será para David Hume a principal fonte do conhecimento.

“O mais vivo pensamento é ainda inferior à mais baça sensação.” - David Hume

Para Hume, todo o nosso conhecimento só pode ser feito a posteriori, ou seja, está
dependente da experiência e só pode ser feito através da mesma.

Perceção: As perceções são os conteúdos na mente humana, que se compões pela


junção de impressões e ideias (Impressão + Ideia = Perceção).

Impressão: Sensação, vinda dos 5 sentidos ou das nossas emoções. (Por exemplo, o
sabor de um sumo de laranja quando o bebemos).

Ideia: Representação mental, imagem posterior à impressão, cópia débil da mesma. (A


memória que temos do sabor do sumo de laranja).

As ideias derivam das impressões, pois o conhecimento ao vivo de provar o sumo de


laranja é incomparavelmente superior à memória do mesmo ou à descrição de
alguém.

Todavia, é também verdade que não experimentámos tudo aquilo que dizemos
conhecer. Esses conhecimentos, sem experiência, resultam da associação de ideias:

Semelhança -> Ligação entre ideias similares. (um retrato de alguém faz-nos,
naturalmente, pensar na pessoa retratada).

Contiguidade -> Estabelece relações de contexto entre objetos dependentes ou que se


sucedem espacial ou temporalmente. (Quando se menciona D. Afonso Henriques,
pensamos em Portugal e na sua formação).

Causalidade -> Estabelece a relação entre um objeto e a causa ou efeito que originou.
(Ao ver um ferimento, por causalidade pensamos na dor que a pessoa sente).
Para além disto, existe outra questão problematizada por Hume: Se a experiência é
necessária para ter o conhecimento:

Porque não preciso de me queimar sempre para saber que o fogo queima?

David Hume explica que é por causa de algo denominado hábito. Ou seja,
normalmente o fogo queima, pelo que temos legitimidade para acreditar que ele
queimará da próxima vez que lá colocamos a mão. O hábito implica 3 conceitos:

 Causalidade: O fogo queima.


 Conexão necessária: Associação do fogo à ideia de queimadura, mesmo sem o
experimentar.
 Raciocínio indutivo: De factos particulares retiro um conhecimento geral. Isto
é, porque já me queimei antes ou outros já se queimaram, concluo,
indutivamente, que o fogo queima.

Mas, o hábito de o fogo queimar, dá-nos a garantia de que o fogo sempre queimará?

Não. Para Hume o verdadeiro conhecimento só ocorre quando efetivamente


experimentamos algo. Tudo aquilo que nos chega por hábito é nada mais do que uma
ínfima memória, inferior à mais baça sensação.

Ainda que tenhamos legitimidade para estar convictos de que o sol nascerá amanhã,
ou que uma mesa de madeira não se irá transformar em betão, por exemplo, apoiados
nas provas causais, para Hume, esta convicção nunca se pode constituir como uma
verdade de facto, apenas como uma verdade provável. Apesar de o hábito ser a nossa
grande bússola, este não pode oferecer ao homem a garantia de verdade, pelo que
não existiria contradição em dizer que o sol não nascerá amanhã, já que é apenas
provável que ocorra.

“ O costume é, assim, o grande guia da vida humana. É só esse o princípio que torna
útil a nossa experiência de eventos semelhantes àqueles que ocorreram no passado.
Sem influência do hábito, seriamos completamente ignorantes.” – David Hume

Há, portanto, 2 tipos de conhecimento:

Relações de ideias –> Verdades matemáticas e tudo o que nos chega por hábito.

Questões de facto -> Quando é retirada uma conclusão a partir de uma experiência
sensível. Só este conhecimento é verdadeiro.
Causalidade e raciocínio indutivo
A relação causa-efeito baseia-se em raciocínios acerca de factos. Está restrita a
impressões atuais ou recordações de impressões passadas.

Induzir -> Retirar uma conclusão geral a partir de casos particulares. A indução é o
inverso da dedução e só nos dá um conhecimento provável.

David Hume afirma que não é possível atingir um conhecimento verdadeiro através da
indução, já que existirá sempre incerteza em relação a como seriam os casos que
faltam provar.

Mesmo perante a causalidade dos fenómenos, na qual a nossa mente liga a causa e o
efeito por uma conexão necessária, ou seja, uma ligação inquebrável entre os
fenómenos, Hume diz que não podemos ter a verdadeira certeza de que sempre
sucederá assim no futuro.

Para Hume o futuro é e será sempre provável.

Tipo de ceticismo de David Hume

É correto considerar que David Hume é um cético moderado, já que este, não negando
totalmente a possibilidade de conhecer, admite apenas que possamos chegar a uma
verdade provável, através do hábito, graças a experiências anteriores.

No entanto, como a experiência não dá qualquer tipo de resposta às questões


metafísicas como a questão de Deus, podemos também classifica-lo como sendo
cético metafísico.

Méritos e críticas a David Hume

David Hume teve um importantíssimo contributo para o desenvolvimento da


ciência e da filosofia. Por um lado, juntou à emancipação da razão a realidade inegável
e fundamental da experiência humana. Por outro, obrigou a ciência desde então a
problematizar a causalidade e a indução, passando a ser forçoso, ao construir teorias
gerais através de casos particulares, ressalvar espaço para a surpresa e o aparecimento
de casos diferentes (exceções).

Hume é criticável no sentido em que considera a perceção a fonte do


conhecimento, não nos sendo possível através das suas teorias clarificar aquilo que
conhecemos quando intuímos, imaginamos ou alucinamos, ou a natureza daquilo que
está na nossa mente e não advém daquilo que experimentámos.

Para além disso, o facto de rejeitar as leis da causalidade, física e ciência, torna
a sua teoria algo radical. Por fim, é-nos possível questionar se será realmente possível
guiarmo-nos na vida apenas pela experiência ou hábito, sem colocarmos a hipótese de
algo de interior, pessoal, ou mesmo metafísico.

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