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DISCIPLINA: Fundamentos de Sociologia

PROFESSOR(A): Dra Liana Lewis

TURMA: 1° Período

TURNO: Noite

ALUNO: Vitor Gabriel Matias

A banalização do racismo no Brasil

A princípio, um dos conceitos que podemos atribuir ao racismo é o da


naturalização de situações, ações, pensamentos, falas e hábitos que de maneira, direta ou
indireta, levam à segregação ou ao preconceito racial. Contudo, mesmo com sendo um
conceito tão perverso, atualmente, o racismo é banalizado no Brasil, isto é, sendo muitas
vezes é resumido a “mimimi”. Diante disso, esse texto discorrerá sobre as implicações
dessa questões tão complexa.

Um dos grandes problemas que incentivam o racismo no Brasil é a crescente onda


de propagação de falas e pensamentos fascistas descaradamente, como o pensador
Theodor Adorno afirmou, nenhuma tendência política social impõe uma ameaça maior
que o fascismo. Com isso, se pode afirmar que a banalização do racismo cresceu de forma
notável após a posse do atual presidente do Brasil, pois o mesmo proclama um discurso
preconceituoso e violento, infelizmente, boa parte da população brasileira concorda com
falas extremamente autoritárias.

Boaventura de Sousa Santos, um dos maiores sociólogos do Brasil, a ao defender


o pluralismo social concedeu uma entrevista e elencou uma linha de pensamento que
deixa claro que o objetivo do impeachment teve o objetivo de corroer as transformações
sociais trazidas pelos governos Lula e Dilma, mas como isso se encaixa no tema deste
texto? De modo claro, foi a partir de 2003, após 115 anos que o Brasil deu seus primeiros
passos para uma reparação histórica, que houve uma efetiva ação direta do Estado
brasileiro, com políticas sociais implantadas pelo então presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, ou seja, a demonização do partido dos trabalhadores (PT) está diretamente ligada
à vulgarização do racismo no Brasil.

Após a posse do governo guiado pelo ex-presidente Lula, o Brasil viu


testemunhou algo totalmente diferente em sua história, assim, políticas de cotas, aumento
de empregos, regularização de direitos etc. Além disso, esse governo foi um divisor de
águas para a população negra do Brasil, pois após centenas de anos de luta, conquistas
ditas impossíveis foram alcançadas, quem imaginaria jovens negros estudando em
universidades mundialmente conhecidas, quem imaginaria os mesmos estudando no
exterior?

Em um dos textos trabalhados em aula, o cientista José Murilo de Carvalho nos


pergunta se os brasileiros realmente são cidadãos, pois porque eles têm muitos deveres,
mas usufruem de poucos direitos. Contudo, no texto dele vemos que há um tremendo
desconhecimento de nossos direitos. Diante disso, se o artigo 5° nos garante igualdade
perante a lei, qual a razão de um grupo ser discriminado, diminuído e violentado
simplesmente por conta de sua etnia? A afirmação passada deixa claro o quão pertinente
o pensador foi em seu ensaio.

Em 2021, o jornal cnn CNN Brasil expôs um dado que mostrava os negros
representando 78% das pessoas mortas por armas de fogo no primeiro semestre do ano, o
que nos deixa revoltados é que dados como esses são levados na esportiva, ou seja, há
uma enorme normalização a respeito do genocídio negro em nosso país. Certa vez, o atual
presidente do Brasil afirmou que jamais entraria em um avião pilotado por um cotista,
segue o questionamento para o leitor: um piloto negro formado em uma universidade
pública aprovado dentro das vagas para cotistas se sente representado por tal líder?

David Harvey, ao trabalhar a origem do neoliberalismo de forma célebre, o mesmo


relata que essa onda de ascensão de políticas de direita cada vez mais mitigará direitos da
classe trabalhadora. Diante disso, sabemos que a maior parte da classe trabalhadora do
Brasil sofre com condições inapropriadas de trabalho, ademais, dados afirmam que
pessoas negras tendem a ocupar os piores postos de trabalho. Assim, como bem
construído por Lilia Schwarcz em seu texto “Racismo no Brasil”, mesmo com a abolição
da escravidão tenha acontecido há mais de um século, o processo se deu de forma teórica,
pois, os negros continuaram a ocupar posições socialmente inferiores.

Como uma súplica, Achile Mbembe em seu texto, expressa seu fabuloso desejo
de que o ser humano aja realmente de forma racional, consciente de seus atos e que seja
capaz de fazer construções democráticas - o desejo de Mbembe é o mesmo das pessoas
que fazem parte de grupos excluídos. Portanto, o pensador argumenta que a era do
humanismo está acabando, pois, hoje vivemos o governo das finanças, o capital acima do
social, a transformação das pessoas em reles taxas estatísticas. Ademais, vemos que a
banalização do racismo é sobre isso, é sobre a invalidação da dor do próximo.

Com o golpe de 2016, vemos uma mulher eleita democraticamente ser destituída
de seu cargo sem uma justificativa plausível, porém como Tiago Bernardon afirmou, esse
golpe não foi apenas a utilização de uma ferramenta constitucional, esse acontecimento
deixa explicito como o social é tratado no Brasil. Ou seja, uma pessoa que literalmente
sofreu o fascismo na pele foi “arrancada” da presidência e, desde então, vemos o social
ser escanteado cada vez mais, observamos as vidas sendo perdidas por conta de
politicagem.

Contudo, esse racismo se tornou mascarado no Brasil, pois enquanto os negros


tentam ver seu lugar no mundo utilizando uma bússola sociológica, falar sobre essa
segregação se tornou um tabu, observamos exemplos dessa discriminação todos os dias,
mas as pessoas insistem em dizer que a mesma ela não existe. Porém, como foi citado em
uma letra dos racionais mc’s, “somos demais para o seu quintal”, esse trecho faz alusão
à metáfora do leão selvagem que é grande demais para o quintal da elite, ou seja, é um
apelo histórico, é um grito de luta.

Para concluir, utilizaremos uma fala de Celi Scalon: a desigualdade só será


erradicada por mudanças radicais, precisamos de formas de políticas que lutem para
mudar essa disparidade de raças no Brasil. A partir disso, afirmamos que a melhor solução
para a banalização do racismo no Brasil é uma reforma política, logo, uma manifestação
na hora de votar. Porém, infelizmente essa luta ainda está longe de acabar, porém, como
Boaventura de Sousa Santos disse, precisamos que a população das universidades
participe de forma incessante para que alcancemos novas vitórias.
BIBLIOGRAFIA

ADORNO, Theodor et al. A personalidade autoritária (introdução editada).

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Racismo no Brasil. São Paulo. Editora PubliFolha, 2001.

OLIVEIRA, Tiago Bernardon de. O golpe de 2016 no Brasil – Breve ensaio da história
imediata sobre democracia e autoritarismo.

SANTOS, Boaventura de Souza. A democracia que temos não tem futuro? In Revista
Humanitas Unissinos.

HARVEY, David. O neoliberalismo: história e implicações. São Paulo: Edições


Loyola.

MBEMBE, Achille. A era do humanismo está terminando? In: revista Humanitas.

“Interesses contra a cidadania”. In: MATTA, Roberto da et. Al. Brasileiro: Cidadão?
São Paulo: Cultura Editores Associados, 1992, P. 87-125.

Bolsonaro utiliza termo considerado racista para se referir a peso de apoiador Disponível
em:<https://www.cnnbrasil.com.br/politica/bolsonaro-utiliza-termo-considerado-racista-
para-se-referir-a-peso-de-apoiador/> Acessado em 23 de maio de 2022.

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