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A LOGÍSTICA DE EXPORTAÇÃO DO SUCO DE LARANJA NA CARGILL

As opções de transporte no Brasil não têm sido favoráveis para os grandes exportadores.
Apresenta-se agora um caso de negócio de viabilização, confiabilidade de transporte e
redução de custos no transporte de suco de laranja. A Cargill, que iniciou o transporte
de suco em tambores, tem explorado a rede ferroviária, mas concluiu que a rede
rodoviária apresenta uma infraestrutura mais bem preparada para atender às demandas e
dar vazão ao produto, além de apresentar um serviço superior.

A laranja

Originário da Índia e do Extremo Oriente, a laranja é uma fruta cítrica bastante popular
por suas qualidades alimentares. No Brasil, encontrou sol e clima favoráveis para o seu
desenvolvimento. Pode ser consumido in natura, como fruta de mesa, ou na forma de
sucos concentrado, pasteurizados ou frescos. Subprodutos são gerados nos processos
como o ácido cítrico, e a pectina. A pectina é aplicada na medicina e na indústria,
agindo como absorvente de bactérias.

A indústria da laranja

O Brasil é o maior produtor e exportador de suco de laranja concentrado do mundo.


Dados estatísticos referentes à exportação brasileira de citros da década de1990 são bem
significativos. De um embarque médio anual de 1,2 milhão de toneladas, por exemplo, a
laranja corresponde a 85%, seguida pela tangerina, lima ácida (limão Taiti), pomelo e
limão siciliano. Fábricas modernas usam tecnologia de ponta para produção do suco
concentrado. Como subprodutos, são extraídos óleos essenciais da casca e farelo
peletizado de polpa cítrica, utilizado na alimentação animal. A indústria de suco de
laranja no Brasil, em comparação com a de outros países, em especial com a dos
Estados Unidos, continua concentrada. As quatro maiores empresas do Estado de São
Paulo (Citrosuco, Cutrale, Cargill, Citrovita e Coinbra/Frutesp) respondem por mais de
80% de toda capacidade instalada. Algumas dessas empresas possuem instalações para
processamento na Flórida, Estados Unidos. As câmaras frigoríficas de estocagem (tank
farm system) possibilitam o armazenamento bem como o transporte de milhares de
toneladas de suco concentrado a granel, de maneira rápida, prática e econômica. Das
fábricas, o suco segue em caminhões termicamente isolados para o porto de Santos, no
Estado de São Paulo, onde é armazenado nos terminais em tanques frigoríficos. Daí, é
embarcado em navios exclusivos que as empresas possuem e transportado para o Japão,
Estados Unidos, Canadá e Europa.

A Cargill e o problema logístico

Em 1977, a Cargill ingressou no negócio de sucos, adquirindo a Citrobasil, em


Bebedouro. Naquela época, o suco de laranja era transportado para o porto de Santos em
caminhões, armazenado em tambores de 270 quilos, que viajavam acomodados em
paletes de 1,20 x 1,20 metro. Uma carreta podia transportar até 80 tambores, enquanto
um caminhão truck levava até 48 tambores. O navio acomodava até 40 mil tambores. O
abastecimento do navio levava em torno de três semanas. Os tambores apresentavam
algumas desvantagens como:
- custo logístico alto em termos de transporte e armazenagem;
- manuseio difícil;
- alto risco em relação à qualidade do produto.

O suco de laranja não tem conservantes e precisa ser mantido a uma temperatura em
torno de 18ºC abaixo de zero.

Em busca de soluções

A fim de minimizar os problemas de transporte e reduzir os custos logísticos, a Cargill


saiu em busca de alternativas como:

Bombeamento do Suco

O suco a uma temperatura de 18ºC negativos não é bombeável. Realizaram-se, então,


testes com temperaturas reduzidas e conclui-se que era possível o bombeamento com
uma temperatura em torno de 10º a 12ºC abaixo de zero. Nessa temperatura, o
bombeamento é utilizado nas fábricas e terminais para:
- transferir o suco da produção para o tank farm;
- transferir o suco do tank farm, para o caminhão (semirreboque/tanque);
- transferir o suco do semirreboque/tanque para o tank farm do terminal (Santos);
- transferir o suco do terminal para o navio;
- transferir o suco do navio para o terminal (Amsterdã/Estados Unidos/Japão).

Transporte ferroviário

Começaram também a realizar testes com o transporte ferroviário, utilizando-se seis


plataformas com dois tanques cada uma. Para manter o suco refrigerado, utilizava-se a
injeção de nitrogênio.

Transporte rodoviário

Também foram feitos testes com rodovias. No início, os resultados não foram positivos
em virtude dos equipamentos disponíveis e estado das rodovias.

Investimentos logísticos

Em 1980, a Cargill investiu 20 milhões de dólares para desenvolver um moderno


sistema de transporte de suco a granel (ou bulk, como é conhecido mundialmente).
Naquele mesmo ano, a Cargill inaugurou em Santos, SP, o terminal portuário para
embarque de suco de laranja concentrado congelado.
A Cargill comprou um navio com dois porões, cujas paredes eram sextavadas para
ganhar espaço e aumentar sua resistência. Tinha doze tanques e cada um deles levava
até 550 toneladas. O terminal de Santos foi construído com base na capacidade do
navio, assim quando o navio ancorava, o suco era bombeado para ele. Durante a viagem
do navio, o suco de Bebedouro era transportado para o terminal de Santos, de tal forma
que quando o navio chegava, fazia-se a transferência a partir do terminal pelos
sucodutos. O primeiro embarque de carga a granel ocorreu em junho de 1980 com
destino à Europa.
Ferrovia

A ferrovia foi o modo de transporte inicialmente selecionado para transportar o suco de


laranja de Bebedouro para o porto de Santos. O tempo total do ciclo de transporte para
abastecer o terminal era de 42 dias, tempo que o navio levava para se deslocar de Santos
para o terminal na Europa. Um total de 22 comboios era usado no transporte. Os
problemas eram constantes, uma vez que havia um baixo nível de serviço e os comboios
exigiam monitoração constante. Os frequentes acidentes ferroviários foram a gota
d`água que faltava para que a Cargill buscasse outra alternativa de transporte. A viagem
programada para ocorrer em 48 horas, sendo 24 para ida e 24 para volta, era realizada
em média 72 horas, o que comprometia seriamente o processo logístico com relação à
integração dos modais marítimos e ferroviário.

Rodovia

Com o despreparo das ferrovias e o baixo nível de atendimento, iniciou-se um processo


de transporte mor meio de rodovias. No início, muitos acidentes com caminhões foram
registrados, devido à capacidade do tanque do veículo em relação ao peso que podia
transportar. Existia um espaço vazio no tanque que comprometia a estabilidade do
veículo, uma vez que a carga se movimentava no interior do tanque, dependendo das
manobras efetuadas. A evolução e o aprimoramento do transporte rodoviário, com o
binômio equipamentos mais estradas, permitiu que esse tipo de transporte apresentasse
uma vantagem competitiva, importante para a Cargill. Hoje, os caminhões que
transportam o produto levam até 32 toneladas. A viagem leva em torno de oito horas, o
que possibilitou baixar a temperatura inicial do suco, que varia entre 6 a 8ºC abaixo de
zero. Durante esse tempo, ocorre uma perda máxima de 1ºC na parte mais externa da
carga por transmissão térmica das paredes do tanque. Já não existe necessidade de
injetar nitrogênio.

Terceirização

Com o foco na produção e comercialização do suco, a Cargill adotou um processo de


migração gradativa para a terceirização do transporte a granel por rodovia. A frota
própria foi substituída por empresas de terceiros. Num primeiro momento, os tanques
pertenciam à Cargill, hoje a organização já não possui mais os tanques e tampouco
caminhões. O contrato cobre um período longo, e ajustes são efetuados conforme a
conveniência em função da variação do mercado, considerando os itens mais
importantes, como pneus e combustíveis. Três são as transportadoras que prestam
serviços para a Cargill: Morada do Sol de Araraquara, Buck de Araraquara e Transmob
de Bebedouro. Com a terceirização, os benefícios logísticos foram importantes e
influenciaram ainda a redução do nível de controle no processo. Apesar dos
investimentos no transporte ferroviário, o modo rodoviário continua sendo mais
competitivo em função da menor duração do ciclo de viagem e confiabilidade.

Concorrência

Os grandes produtores de suco no mercado nacional são Cutrale, Citrosuco, Cargill,


Citrovita e Luis Dreyfus. Os três primeiros possuem terminais de carga nos Estados
Unidos, na Europa e no Japão, além do Brasil. A Citrovita possui terminal de carga na
Europa e no Brasil. A Dreyfus não possui ainda sua logística de transporte a granel
completada e construiu um terminal de carga na Europa. A logística do suco é
fundamental para manter os custos estrategicamente alinhados, possibilitando competir
em um mercado em que empresas altamente capacitadas estão concorrendo.

Questões para Estudo, Análise e Solução:

1) Que fatores afetam os meios de transporte?


2) De que forma os avanços tecnológicos têm auxiliado os transportes? Dê alguns
exemplos.
3) Com base neste caso da Cargill, que soluções mais baratas e eficientes para o
transporte você poderá sugerir? Justifique sua proposta.

REFERÊNCIAS: Bertaglia, Paulo Roberto. Logística e gerenciamento da cadeia


de abastecimento. São Paulo: Saraiva. 2003 (Estudo de Caso: A Logística de
exportação do suco de laranja na Cargill – Paginas 307 a 311).

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