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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE HUMANIDADES
Departamento de História - Curso de Licenciatura Plena em História
DISCIPLINA: Estudos Sócio-históricos e Culturais da Educação
PROFa. Dra. Joeline Rodrigues de Sousa

Joaquim Emanuel Ferreira de Oliveira - 552540

Larissa de Souza Sobral - 554414

Selene Montenegro D’Angelo - 552263

SEGUNDA AVALIAÇÃO PARCIAL

FORTALEZA - CE

2023
O fascismo foi vencido nas urnas através do voto, mas o bolsonarismo ainda prevalece
no Brasil. Bolsonaro pode ter saído e vai ser punido, o que não aconteceria se ele tivesse sido
reeleito, mas e depois? Lula pode ter vencido, podemos ter um presidente mais democrático,
progressista e supostamente mais aberto à mudanças a favor do povo, mas o fascimo ainda se
mostra no Congresso conservador e com opiniões próprias. A contradição do Estado em que
vivemos entre um presidente a favor da vida e um Congresso a favor do Marco Temporal,
apenas um reflexo de que: Bolsonaro pode ter saído, mas o bolsonarismo ainda persiste no
Brasil.
Essa guerra pode ser pensada através da teoria da Guerra de Posição de Gramsci, onde
a disputa do poder, por cargos e por representações no Estado é um dos principais meios de
disputa na determinação do futuro do país, principalmente porque essa luta pelos cargos de
representação também significam a luta do consciente do povo, para a criação do consciente
da população brasileira e também por espaços de representação histórica e no combate a
desinformação. Lula ter vencido é uma vitória do povo, mas a luta continua.
A guerra de posições, a disputa por lugares de poder a serem ocupados, é principal
nesse momento em que o país está em debate quanto à informação e a disseminação de
conhecimento, o embate do bolsonarismo vai para além da guerra contra o fascismo, mas
também a guerra contra a desinformação e as fake news. O embate político posto no Brasil
afeta diretamente a educação, que se torna essencial agora na disputa do senso comum da
população e no processo de conscientização da população, principalmente em um período
onde as contradições do capitalismo estão evidenciadas em todas as partes, principalmente no
atual governo.
Como por exemplo, é visível que apesar do histórico embate ao fascismo, vencido nas
urnas, e do novo governo mais democrático e, supostamente, mais representativo, há-se uma
maior abertura quanto a mudanças que beneficiam o povo brasileiro, porém, mostra-se a
primeira contradição neste governo ao realizar a observação do novo plano econômico: o
arcabouço fiscal.
Apresentando-se como um novo teto de gastos, um conjunto de regras fiscais que
limitam o investimento social voltado para a população brasileira enquanto 46,3% do PIB do
país vai para uma suposta dívida externa. É possível ver, então, o claro privilégio da dívida
externa perante a necessidade pública, a preferência em encher o bolso da burguesia
manipuladora dessa dívida enquanto o povo recebe restrições quanto ao aumento do
salário-mínimo, infraestrutura, saúde (3,3%) e educação (2,7%).
Com uma proposta de desacelerar a economia ao meio de um abrupto ajuste fiscal,
apenas congelará a economia e prejudicará ainda mais a população, sem equacionar as
questões principais a que se destina, apenas garantindo a manutenção das diferenças sociais e
da precarização das classes mais baixas que necessitam de investimos sociais para
sobrevivência, assim como o país inteiro precisa desses investimentos para garantir a
qualidade do serviço público, porém agora restringido não poderá desempenhar seu papel
pode poderia.
A contradição está no governo que se diz popular e progressista mas apoia um teto de
gastos que limita o crescimento do Brasil, como a educação com teto de investimento de 2,7%
e com um aumento máximo de 2,5% ao ano e até a aprovação do novo Ensino Médio.
Em um local para a disputa do consciente brasileiro pela abertura política a
contradição quanto à educação se dá no arcabouço fiscal por estar diretamente ligado a uma
nova forma de sucateamento, onde se observa a educação novamente sendo deixada de lado e
inferiorizada perante a mudança do Brasil, quando em realidade, é uma das principais armas
do povo brasileiro. O privilégio de um estudo de qualidade fica, então, ligado à elite brasileira
enquanto o povo brasileiro é novamente deixado de lado.
Marx evidencia a contradição do capitalismo e a sua lógica destrutiva ao longo de toda
sua teoria, como podemos ver, mesmo um governo populista e de defesa dos interesses dos
trabalhadores em um sistema de exploração como o capitalismo não consegue defender
plenamente os direitos que merecemos enquanto classe. A luta de classes se evidencia junto a
essa contradição, onde os investimentos necessários para a manutenção da classe trabalhadora
é totalmente sucateada enquanto os interesses da burguesia brasileira e até mesmo
internacional é privilegiada, os fazendo receber metade do PIB brasileiro.
Outra contradição demonstrada, agora para além da economia, é a visível na própria
composição do governo atual. Em uma luta política o governo é contraditório em ações, como
com a criação de um Ministério dos Povos Indígenas, em favor da regulamentação dos
territórios indígenas e a favor do direito desses povos, mas com a tese do Marco Temporal em
encaminhamento, que promete tirar a posse terras indígenas e entregá-las a latifundiários.
A tese do Marco Temporal defende que os povos indígenas têm direito apenas às
terras que ocupavam ou disputavam em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da
Constituição. Ignorando o contexto histórico pós ditadura militar, onde era constante o
massacre, a perseguição desses povos e a ocupação de suas terras pelo "desenvolvimento
nacional", onde mostrava-se uma entrega da terra desses povos a burguesia, o que se desdobra
até atualmente. O Marco Temporal de 1988, então, mostra-se como um critério falso, racista e
colonial, ignorando o fato de que não há um modelo nacional de ocupação das terras
indígenas. Em que, para além da disputa política essencial, se tratando do direito à vida dessa
população, é também uma disputa pela memória e reconhecimento da existência e da
retratação dos indígenas nas leis, nos espaços de liderança e na educação, em sua inclusão na
sociedade e na luta por eles e com eles.
Como já exposto, o atual governo vive em contradições; e tais contradições começam
a ter sua evidência evocada no campo institucional do Congresso. A CPI do MST que vem
sendo orquestrada pela ala bolsonarista que está em grande peso no congresso, arrasta noções
deturpadas do movimento para que se desenvolva um campo fértil para levantamento de
falsas ideações sobre a luta desses trabalhadores da terra.

Podemos pensar as noções estabelecidas por Max Weber e suas ideias em relação ao
“poder”, vemos como exposto na nota divulgada pelo o movimento que: “Convocação do
João Pedro Stédile para CPI é mais uma etapa da criminalização contra o MST”, uma luta
para se definir uma narrativa perante a comissão, e mesmo que para o movimento se
configure uma perseguição, para o indivíduo que observa de fora a situação, a narrativa lhe
mostrada é outra graças ao poder. Para Weber, que trabalha com a noção realista de poder que
consiste na ação de submeter o outro à sua vontade, fazendo com que ele se comporte tal qual
ao seu desejo, há diversos tipos de “poder”, porém o que nos interessa para uma análise desse
momento é o poder trago por ele como legítimo, aquele que predomina desde da formação do
Estado moderno, esse poder exercido pela as instituições governamentais tem como sua
principal forma de manifestação as leis, ou a legitimidade legal de algo. Perante isso,
voltemos o nosso olhar para a CPI e como o peso da legitimidade como evidenciado na
notícia vinculada no BrasilDeFato, onde é relatado que grande parte dos que foram participar
da CPI foram convocados e não convidados, o “peso” da lei se fez por cima deles e do próprio
movimento, em uma tentativa que parece estar caminhando para uma vitória de enquadrar o
movimento na ilegalidade, nessa forma de poder que o Bolsonarismo usurpou nas urnas,
evidenciando contradições e noções deturpadas de instituições sequeladas pelo o fascismo.
Diante do exposto, ficamos com a contradição principal de um governo dito populista, mas
que não consegue submeter ao seu controle o congresso, aquele que simboliza o seu poder
legítimo, que ainda é dominado pelo o fascismo institucional.

Ainda pensando no exposto sobre contradições na atual sociedade contemporânea,


pensemos na deturpação do conceito de trabalho e também das noções de conhecimento e
inteligência, quando lançamos nosso olhar para as Inteligências Artificiais (IAs), sobretudo a
mais famosa atualmente, chamada “ChatGPT”, e analisamos a construção de um fato social,
como defendido por Durkheim. O exposto no corpo da notícia, que denuncia a estratégia de
“abastecimento” do programa, é no mínimo chocante, como tudo que envolve trabalhos
extremamente subalternizados e esquecidos pelo o seu arredor, os rotuladores, esses
profissionais que passam por momentos extremamente desgastantes sofrem de uma pressão
social para adquirirem empregos e acabam em profissões desse tipo. Como discorrido pelo o
próprio empresário dono de uma dessas agências terceirizadas de rotuladores, os
trabalhadores passam a ganhar a mais que outras profissões convencionais em seus países
natais; mesmo que seja somente o mínimo – como mostrado, menos de um dólar hora -, é
mais que o outro.

Com esse fato mostrado pela a notícia podemos notar a noção de fato social de
Durkheim no sentido que o indivíduo é pressionado a adquirir um subemprego pela as
condições sociais a ele imposta, com o pensar que é necessário se submeter a tal situação para
sobreviver, para adquirir dinheiro, o indivíduo se faz explorado e permanece nessa situação
por que é algo que já foi lhe imposto desde de sua educação. Pois no pensar de Durkheim, a
educação serve para moldar o indivíduo para a sociedade e no caso da sociedade atual, vemos
uma contradição onde a própria educação parece se moldar para a sustentação de um sistema
onde a noção indivíduo se perde, substituímos nosso intelecto pelo o intelecto da IA. A
contradição essencial da IA perante ao trabalho dos rotuladores, que podemos analisar pelo o
pensar de Durkheim, é a própria noção de fato social, se somos submetidos por uma sociedade
exterior a nós e que para isso somos pressionados e moldados para se encaixar nos padrões
sociais, a quem serve esse molde e pressões? É de se pensar até mesmo as noções de
inteligência e conhecimento, que são deturpados por pensamentos que se perdem na
necessidade do ser humano, como dito no corpo da notícia: “A inteligência artificial não tem
nada de inteligente” pois foi alguém que lhe deu essa capacidade de distinguir o legal e o “não
legal”.

Ainda pensando sobre o ChatGPT e suas problemáticas, podemos trazê-lo à área que
mais tem gerado polêmica: a educação. O artigo do site Brasil Escola evidencia de forma
suscinta essa questão, falando sobre os prós e contras de usar a ferramenta no ambiente
escolar. Idelfranio Moreira, entrevistado no artigo, defende que a ferramenta ajudará os alunos
a realizar atividades que exijam mais cognitivamente, contribuindo na resolução de problemas
e estimulando o estudante a pensar crítica e criativamente, além de dar suporte aos
professores; mas o próprio Idelfranio se contradiz ao dizer que a maior desvantagem da IA é a
de causar dependência na tecnologia, minando a criticidade e criatividade, além de não ser
capaz de resolver conflitos.

O próprio texto já mostra como a IA vai contra o ideal de educação defendido por
Gramsci, como uma formação abrangente e integral, focada no desenvolvimento humano e
não apenas na formação para o trabalho. Essa tecnologia ignora as considerações necessárias
para a equidade educacional, que deve levar em conta questões de gênero, classes sociais e
origem étnica para que o desenvolvimento humano seja verdadeiramente universal.

No Brasil, esse aspecto também vai de encontro com outra questão de extrema
importância: a reforma do Novo Ensino Médio proposta durante o governo Temer, aprovada
no governo Bolsonaro e mantida no governo Lula. A proposta é essencialmente formada pelo
conceito de “escola das fábricas” de Gramsci, em que o estudante não mais tem a
preocupação de se formar como um ser humano possuidor de criticidade e de intelecto
desenvolvido, mas como massa disponível para o mercado de trabalho, produzida com o
mínimo de investimento estatal possível. A medida é constantemente combatida desde os
debates iniciais, pois não é preciso muito para perceber o quão prejudicial ela é; afinal, o
ensino no país precisa de uma reforma de fato, mas não que seja uma formação de
mão-de-obra desqualificada para qualquer outro aspecto humano que não seja o trabalho, e
sim um processo contínuo de uma formação ampla, recíproca, cultural e hegemônica,
fundamentos da nova concepção de formação elaborados por Gramsci, que são unidos no
conceito de Escola Unitária.

O Novo Ensino Médio, é claro, tem o seu propósito cumprido ao servir como uma
forma de manutenção da ideologia burguesa dominante na conjuntura atual. Gramsci, ao
entender as ideologias como concepções de mundo formadas no Bloco histórico de diversas
formas e diferentes níveis, nos explica o processo de difusão das ideologias e evidencia como
elas são importantes; para que a hegemonia possa ser formada, é preciso que as ideologias se
mascarem dentro da realidade até se tornarem senso comum, internalizadas pelas classes, mas
também a classe operária pode reagir contra essa hegemonia ao desafiá-la e desenvolver suas
próprias ideias. A transformação social é alcançada justamente a partir dos interesses e
demandas contra-hegemônicas. Isso evidencia que todas essas medidas prejudiciais ao povo
brasileiro, seja na educação ou em qualquer outro aspecto político, precisam ser pautas
tomadas pela classe trabalhadora dominada e combatidas até que essa realidade possa ser
alterada em benefício para a maioria da população.
REFERÊNCIAS

CARNEIRO, Ricardo. A âncora da economia brasileira. CartaCapital, 2023. Disponível em:


<https://www.cartacapital.com.br/blogs/observatorio-da-economia-contemporanea/a-ancora-d
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CartaCapital, 2023. Disponível em:
<https://www.cartacapital.com.br/opiniao/o-brasil-da-encruzilhada-lula-x-lira-precisa-resgatar
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Ministro Alexandre de Moraes vota contra marco temporal para demarcação de terras
indígenas. LEX Editora, 2023. Disponível em:
<https://www.lex.com.br/ministro-alexandre-de-moraes-vota-contra-marco-temporal-para-de
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Convocação de Stedile para depor em CPI é 'mais uma etapa da criminalização', afirma MST.
BrasildeFato, 2023. Disponível em:
<https://www.brasildefato.com.br/2023/06/21/convocacao-de-stedile-para-depor-em-cpi-e-ma
is-uma-etapa-da-criminalizacao-afirma-mst> Acesso em 3 de junho de 2023.

SMINK, Veronica. Os milhares de trabalhadores em países pobres que abastecem programas


de inteligência artificial como o ChatGPT. BBC News Brasil, 2023. Disponível em:
<https://www.bbc.com/portuguese/articles/c3gze230pj1o> Acesso em: 3 de junho de 2023.

ChatGPT na educação: especialista comenta sobre a inteligência artificial no campo


educacional. Brasil Escola, 2023. Disponível em:
<https://brasilescola.uol.com.br/noticias/chatgpt-na-educacao-especialista-comenta-sobre-a-in
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MENDES, Felipe. BrasildeFato, 2023. Disponível em:


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VOIGT, Priscila e ROSA, Bibiana. A luta dos povos indígenas contra o Marco Temporal. A
Verdade, 2021. Disponível em:
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MATOS, Carolina. Proposta de novo arcabouço fiscal beneficia mercado financeiro. A


Verdade, 2023. Disponível em:
<https://averdade.org.br/2023/03/proposta-de-novo-arcabouco-fiscal-beneficia-mercado-finan
ceiro/> Acesso em: 02 de junho de 2023.

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