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Introdução
Exercício de fixação - 01
Considerando a temática da Teologia e seu objeto, responda: Qual
o principal argumento para a afirmação de que o objeto da Teologia,
como ciência, é inalcançável?
a) O fato de a Teologia não ser uma ciência e sim uma descrição da revelação
divina;
b) A transcendência do ser divino;
c) A limitação da revelação divina;
d) O desconhecimento da Palavra de Deus;
e) A falta de esforço humano no conhecimento, estudo e pesquisa.
Explorando ainda mais essa ideia, Boff define o objeto material como
sendo o próprio “Deus e tudo o que se refere a ele, isto é, o mundo
universo: a criação, a salvação e tudo o mais” (1999, p. 43). Já o objeto
formal “é ‘Deus enquanto revelado’. Ora, o Deus revelado é o Deus bíblico,
o Deus do Evangelho, o Deus salvador [...] Por outras palavras, trata-se
sempre de Deus enquanto visto ‘à luz da fé’. Essa última diz a perspectiva
própria da teologia” (1999, p. 44). Concluindo, Boff afirma:
Mais que isso, a partir do momento em que se instaura a fé, por meio
de uma experiência, que podemos chamar de mística, imediatamente já
estaremos elaborando uma teologia, no sentido de produzimos falas e
discursos sobre Deus. Todas as pessoas, então, são teólogas, porque
falam algo sobre Deus. Mas, que tipo de teologia é essa? Essa teologia
é o resultado da tentativa de entendimento e explicação a si mesmas e
às outras pessoas da experiência de fé. Ela é baseada na experiência,
quer seja do primeiro evento, quer seja de eventos subsequentes que se
dão, principalmente, na participação nas comunidades em momentos
de culto, louvor, oração, etc. De imediato, essa experiência deve, ou
deveria, produzir resultados e tornar-se concreta na vida da pessoa,
assumindo uma forma prática na transformação do caráter, nas ações,
comportamentos e relacionamentos. Talvez, apenas após algum tempo
experimentando e praticando a fé, surja o interesse por uma investigação
mais profunda, que inclua o estudo de cunho mais formal, ou acadêmico,
ou científico sobre essa fé. Em suma, vemos aqui o tripé da fé proposta
no tópico anterior: experiência, prática e inteligência.
Exercício de fixação - 02
Sobre o tema “A experiência e a Teologia”, é correto afirmar que:
a) A experiência não pode ser considerada como fonte válida para o
conhecimento teológico;
b) A experiência é um aspecto objetivo no discurso teológico uma vez que
é compartilhada pela comunidade de fé;
c) A experiência é um dos discursos possíveis, porém, de difícil elaboração
doutrinária;
d) A experiência é o aspecto mais importante na elaboração do discurso
teológico uma vez que expressa a fé genuína de quem encontrou a Deus;
e) A experiência é uma via de discurso da fé prática.
Glossário
Inerrância – conceito de que o texto bíblico não contém erros em
sua composição literária, quer sejam linguísticos ou de conteúdo.
Essa ideia abrange o entendimento de que nas Escrituras não
ocorrem contradições ou imprecisões, mesmo quando o conteúdo
implica em assuntos que se relacionam às ciências como história,
arqueologia, física, etc.
3.1. Revelação
Revelar significa tirar o véu de sobre algo, descobrir, trazer à luz aquilo
que estava oculto. Deus é aquele que está oculto ao ser humano em sua
condição de criador, por isso, argumenta Wolfhart Pannenberg,
1 O uso do termo profeta entre aspas é para caracterizar aqueles que serviram como
intermediários da Palavra divina na formação do texto. O termo não está restringindo
essa ação à conhecida função do profeta, oficial ou independente, assim identificado
nas Escrituras. Todos os que participaram na formação do texto sagrado são, assim,
considerados “profetas”.
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Exercício de aplicação - 03
Tendo em vista o conceito de Revelação, como podemos entender
este processo no que se refere à composição da Bíblia?
a) Deus se revelou falando verbalmente tudo o que deveria ser escrito;
b) Deus se revelou estruturando literalmente todos os conceitos
necessários para a vida humana;
c) Deus se revelou por meio de expressões gerais que valem para qualquer
situação da vida humana;
d) Deus se revelou ditando a sua mensagem especificamente aos profetas
escritores;
e) Deus se revelou usando as situações de vida experimentadas pelo povo
em sua relação contextual com ele.
3.2. Inspiração
Aprofundando um pouco mais o estudo da revelação, desenvolveremos
o conceito de inspiração, que está diretamente atrelado ao conceito de
revelação. Podemos dizer que a revelação se deu por meio da inspiração
divina dada aos “profetas” ou aos autores. É estranho notar, contudo, que
a expressão “inspirada por Deus” (theopneustos) aparece apenas uma
vez na bíblia e que, curiosamente, foi ela que mais marcou a maneira
como costumamos defender o processo de registro escrito da Palavra
de Deus: “Toda a Escritura é inspirada por Deus [...]” (2 Timóteo 3:16).
Complementando esta ideia temos o texto da carta de Pedro que trata
da profecia em geral, mas que, por conseguinte, tem sido aplicado à
inspiração na produção das Escrituras: “Antes de mais nada, saibam que
nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois
jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram
da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo” (2 Pedro 1:20-21). O texto
de Pedro está em consonância com a compreensão veterotestamentária
da “inspiração” profética, por isso, não recorre a uma nova expressão
Teologia Sistemática I | FTSA | 27
(theopneustos), e sim a uma fórmula mais antiga (pheromenoi) que é a
de ser “impelido”, “guiado”, “conduzido”, “movido” a falar (elalesan), pelo
Espírito de Deus (pneumatos agiou), ou seja, significando ser inspirado.
3.3. Iluminação
Outro conceito atrelado à revelação é o de iluminação. Na verdade, todas
são expressões que tentam dar conta da complexidade da revelação
divina. Rapidamente, digamos que a revelação divina se dá por meio
da inspiração de pessoas para produzirem e registrarem a sua Palavra
à humanidade, mas ela não termina aí, pois, Deus também nos auxilia
no entendimento da sua mensagem. A esse entendimento, tido também
como sendo patrocinado por seu Espírito, chamamos iluminação.
A iluminação também pode ser entendida como a inspiração para o
entendimento, fechando o circuito da revelação. Alguns textos bíblicos
elaboram essa ideia: João 16:12-15; Romanos 16:25-27; Efésios 1:17-
18; 1 Coríntios 2:6-16. Mas assim como a inspiração não está sendo
considerada como algo imediato, dado como um pacote pronto, por um
processo de êxtase, o mesmo ocorre com a iluminação. O entendimento
da Palavra, mesmo tendo o auxílio do Espírito, exige esforço e aplicação
no estudo e conhecimento, usando as nossas faculdades mentais.
Exercício de reflexão - 04
Reflita como a dúvida contribui para a sua reflexão pessoal e
produção de teologia a partir de suas experiências e história de vida.
Saiba mais
Reflexão crítica
Reflexão crítica é uma tomada de consciência; examinar ou analisar
fundamentos e razões de alguma coisa. Refletir criticamente é a
atitude de investigar e para isso é necessário conhecer aquilo que é
investigado, sem nenhum tipo de preconceitos e pré-conceitos.
Refletir criticamente também é posicionar-se a partir de um conjunto
de informações conquistadas com a pesquisa. Alguns termos usados
quando se fala em reflexão crítica é não julgar o livro pela capa; não
julgar o fato ou objeto sem antes conhecer criteriosamente suas
intenções, origem, autores, etc.
Reflexão crítica é uma reflexão abrangente, questionadora e autônoma,
é fazer com que um indivíduo vá além do que ele lê ou ouve, buscando
diferentes perspectivas para analisar um mesmo fato. É o fato de
não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, as
situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana;
jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido como
um todo (http://www.significados.com.br/reflexao-critica/).
3 Romanos 2:3, 4, 21-23; 3:1, 3, 6, 7, 8, 9, 31; 4:1, 3, 9, 10; 6:1, 2, 3, 15, 16, 21; 7:1, 7, 13, 24;
8:24, 31, 32, 33, 34, 35, 9:14, 19, 20, 21, 22-24, 30, 32; 10:6, 7, 8, 14, 15, 18, 19; 11:1, 2, 4, 7,
11, 15, 34, 35; 13:3; 14:10.
Teologia Sistemática I | FTSA | 37
Paulo, que talvez tenha sido o maior teólogo bíblico, afirma que os
juízos e os caminhos de Deus são impossíveis de serem explorados ou
investigados (insondáveis e inescrutáveis). Outra emblemática narrativa
bíblica é a do livro de Jó em que ele e seus amigos procuram entender e
formular teologias sobre o que teria acontecido na sua vida. Depois do
longo desenrolar de argumentações, de todo tipo, Deus, simplesmente,
apresenta uma série de perguntas a Jó, que ficam sem resposta (Jó 38-
41), das quais destaco apenas as que estão na introdução do trecho
apontado: “Então o Senhor respondeu a Jó do meio da tempestade.
Disse ele: Quem é esse que obscurece o meu conselho com palavras
sem conhecimento? Prepare-se como simples homem; vou fazer-lhe
perguntas, e você me responderá. Onde você estava quando lancei os
alicerces da terra? Responda-me, se é que você sabe tanto” (Jó 38:1-4).
Também o livro de Provérbios indica o caminho da sabedoria dizendo:
“Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio
entendimento [...] Não seja sábio aos seus próprios olhos; tema ao
Senhor e evite o mal” (Provérbios 3:5,7). E, é claro, lembramos a célebre
expressão “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos
humildes” (Tiago 4:6).
Exercício de aplicação - 05
Levando-se em conta aquilo que foi discutido até aqui, na
aplicabilidade da dúvida, da reflexão e da autocrítica na busca pelo
conhecimento, podemos concluir que:
a) Toda essa postura é uma demonstração da falta de fé em Deus;
b) Toda essa postura nos move a um entendimento mais profundo;
c) Toda essa postura é uma tentação diabólica;
d) Toda essa postura é válida, mas apenas nos casos bíblicos;
e) Toda essa postura é fruto da confusão mental causada pelo
pecado
Conclusão
A Teologia é uma atividade humana que deve ser encarada de maneira
natural e responsável, ainda que possa ser desenvolvida e motivada pelo
prazer da descoberta. Seu alvo final é a vida, como um todo. A busca
Teologia Sistemática I | FTSA | 39
pelo entendimento da revelação, do projeto de Deus para o ser humano,
pode se dar de maneira estruturada, sistematizada ou não, mas precisa
ter a consciência de que é uma tarefa de todos os creem, incluindo as
pessoas e as instituições que compõem esse ambiente.
Referências
BOFF, Clodovis. Teoria do método teológico. 2 ed. Petrópolis: Vozes,
1999.
HARRINGTON, Wilfrid J. Chave para a Bíblia: a revelação, a promessa, a
realização. São Paulo: Paulinas, 1985.
KÜMMEL, Werner Georg. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo:
Paulinas, 1982.
MOLTMANN, Jürgen. Trindade e Reino de Deus: uma contribuição para a
Teologia. Petrópolis: Vozes, 2000.
PANNENBERG, Wolfhart. Teologia sistemática. Volume 1. Santo André:
Academia Cristã; São Paulo: Paulus, 2009.
SEPÚLVEDA, Juan. Características teológicas de um pentecostalismo
autóctone: o caso chileno. In: GUTIÉRREZ, Benjamin; CAMPOS, Leonildo
S. Na força do Espírito. São Paulo: Pendão Real, 1996.
SIGNIFICADOS. “Reflexão crítica”. Disponível em: http://www.significados.
com.br/reflexao-critica/). Acessado em 01 de agosto 2015.
TILLICH, Paul. Teologia sistemática. 2 ed. São Paulo: Paulinas; São
Leopoldo: Sinodal, 1987.
1. Caminhos históricos
Ao caminharmos pela história da teologia da igreja é fundamental que
tenhamos a capacidade de tentar nos abstrair daquilo que conhecemos
hoje e nos imaginar naqueles momentos e contextos em que foram
formuladas as primeiras estruturas de pensamento. Isso porque nosso
objetivo não é produzir julgamentos ou emitir opiniões conclusivas. Esse
exercício tem como propósito nos ajudar a perceber como os tempos e
contextos são determinantes na produção da teologia e, assim, termos a
possibilidade de fazer a devida autocrítica do nosso discurso atual, além
de mantermos uma atitude de humildade e abertura para o novo.
Saiba mais
Os pais apostólicos
Uma colação antiga dos escritos dos Pais Apostólicos traz os
seguintes textos e autores: Clemente; Inácio, bispo de Alexandria;
Policarpo; epístola de Barnabé; o pastor de Hermas, epístola de
Diogneto, epístola e fragmentos de Papias e a Didaquê.
(HOLMES, Michael M. (ed.). The apostolic fathers. 2 ed. Grand
Rapids, MI: Baker, 1989).
Exercício de fixação - 06
A Teologia Medieval, conforme tratada anteriormente, pode ser
caracterizada como:
a) Formulações alegóricas fundamentadas na filosofia grega;
b) Formulações racionais e sistematizadas das doutrinas bíblicas;
c) Formulações interpretativas da tradição dos pais da igreja;
d) Formulações livres e criativas da revelação escriturística;
Nessa fase o peso da tradição era muito grande não havendo liberdade
para a elaboração de novos conceitos ou perspectivas teológicas. A
função da teologia era afirmar e reforçar a tradição, ainda que pudessem
haver discrepâncias entre as ideias propostas no passado pelos pais da
igreja e pelos concílios. Já a segunda fase, não difere muito da primeira a
não ser pelo método, que não era mais simplesmente o “sim e não”, mas
a tentativa de interpretação da tradição pela dialética aristotélica.
50 | Teologia Sistemática I | FTSA
O próximo passo foi dado, menos especulativamente
e com mais cautela, por pensadores que levavam a
sério Aristóteles, na sua elaboração teolólgica, como
demonstra, especialmente, Tomás de Aquino. Achavam
que a razão era adequada para interpretar a autoridade.
Na verdade, a razão jamais se opõe à autoridade; a
tradição viva pode ser interpretada em termos racionais.
A razão não precisa ser destruída para interpretar o
significado da tradição viva (Tillich, 2000, p. 149).
Glossário
Idade Antiga – 4.000 a.C.(invenção da escrita) a 476 d.C.(queda do
Império Romano)
Idade Média – 476 (queda do Império Romano) a 1453 (Tomada
de Constantinopla)
Idade Moderna – 1453 (Tomada de Constantinopla) a 1789
(Revolução Francesa)
Idade Contemporânea – 1789 (Revolução Francesa) a segunda
metade do séc. XX.
Idade Pós-moderna – a partir da segunda metade do séc. XX
Exercício de fixação - 07
Acerca do tema e da discussão sobre o pensamento humano. É
correto afirmar que:
a) O pensamento humano ocorre de forma dependente da influência
cultural;
b) O pensamento humano ocorre de forma independente de caminhos
predominantes;
c) O pensamento humano ocorre de forma independente de paradigmas;
d) O pensamento humano ocorre de forma dependente da consciência
formativa;
e) O pensamento humano ocorre de forma independente da maneira
como se percebe a realidade.
2.3. O Iluminismo
Para entender o paradigma moderno precisamos olhar para o
processo histórico que o gerou. O período de transição entre a Idade
Média e Moderna foi marcado por uma série de eventos e expressões
culturais, filosóficas e políticas que culminou com o surgimento de um
novo paradigma. Esses movimentos e períodos receberam diversas
designações e nomenclaturas, normalmente feitas depois do ocorrido
ou ao tentar remeter-se às mudanças causadas por eles no mundo
ocidental. Renascimento, humanismo e iluminismo são os termos mais
recorrentes ao nos referirmos à era moderna. Justo González comenta
sobre esse período:
Francis Bacon (1561-1626) René Descartes (1596 - 1650) John Locke (1632 - 1704)
Isaac Newton (1643 - 1727) David Hume (1711 - 1776) Immanuel Kant (1724 - 1804)
Tanto Leslie Newbigin quanto Stanley Grenz identificam que uma das
crises ocorreu no surgimento de dicotomias que acabaram sendo mal
elaboradas pelo discurso teológico. Newbigin fala da dicotomia entre o
que consideramos o mundo público e privado e da dicotomia entre fatos
e valores: “O mundo público é um mundo de fatos que são os mesmos
para todo mundo, quaisquer que sejam os seus valores; o mundo privado
é um mundo de valores onde todos são livres para escolher seus próprios
valores e, portanto, executar os cursos de ações que correspondam a
eles” (1986, p. 37). Sem nos aprofundarmos muito na discussão, o
que quero alertar é a dificuldade em elaborar teologicamente essas
dicotomias. Newbigin observa que o pensamento moderno levou a igreja
a pensar que a vida pública acontece independente da vida privada. Na
vida pública temos os fatos, os acontecimentos, mas é na vida privada
que escolhemos, livremente, os valores que queremos ter. Para os
cristãos modernos esse tipo de percepção é “natural”, no entanto, não
era assim que ocorria na Idade Média, quando a igreja determinava os
valores da vida pública. Perguntamos: seria, realmente, a questão dos
valores algo restrito somente à vida privada? Deveríamos pensar que
devem haver valores que valham para todos as pessoas indistintamente
no âmbito privado ou público? Será que as ações privadas, baseadas nos
valores que escolhemos, não afetam a vida coletiva e pública? Ser cristão
seria uma questão puramente privada sem qualquer interferência na vida
pública? A dificuldade é que vivemos um desconforto e uma crise porque
tanto a igreja quanto a sociedade baseiam os seus argumentos seguindo
o mesmo paradigma.
Exercício de aplicação - 09
Sobre a discussão acerca da “Crise na teologia revelada”, indique
qual opção NÃO representa os efeitos causados pelo paradigma
moderno sobre a teologia.
a) A percepção de que é possível compreender toda a revelação divina
em sistemas elaborados pelo esforço intelectual humano;
b) A consciência de que o paradigma moderno afeta a maneira como
elaboramos as teorias teológicas;
c) Os muitos e diferentes discursos ou sistemas teológicos que se
julgam corretos, um em detrimento do outro;
d) A suposição de conseguir determinar precisamente quais afirmações
das compreensões humanas da revelação divina são verdadeiras ou
falsas;
e) A incapacidade de conciliar a experiência da fé com os sistemas
teológicos resultantes da aplicação do método científico moderno.
4. Teologia bíblica
No Antigo Testamento temos aquilo que passou a ser conhecido
como Shemá4, a principal confissão de fé do povo de Israel. O texto de
Deuteronômio 6:1-9 representa uma convocação geral ao povo de Israel
para um envolvimento no ensino e incorporação da teologia à vida:
Para Carriker, apenas usar textos bíblicos não faz com que a teologia seja
bíblica. Nesse sentido, ele adverte:
É claro que não está presente no texto de Gênesis o ápice do plano divino,
no que concerne à salvação da criação, por meio da encarnação, ministério
e morte de Cristo. A menção que Carriker faz sobre esse assunto, e que
aparecerá bem mais tardiamente nas Escrituras, é apenas para reforçar
a ideia de que Deus leva à cabo o seu plano iniciado em Gênesis. O que
o autor está argumentando é que limitando a nossa observação aos
textos da criação de Gênesis, podemos ter conhecimento de que Deus é
Exercício de reflexão - 10
A partir daquilo que foi exposto como metodologia de construção
de teologias bíblicas, reflita como você, normalmente, elabora os
seus estudos pessoais e busca por conhecimento. Como você
avalia o seu processo à luz do que foi proposto? Indique pontos
positivos e negativos, vantagens e desvantagens desse processo
em função da sua própria experiência.
Referências
BRAATEN, Carl E. Locus 1: Prolegômenos à dogmática crista. In:
BRAATEN, Carl E. e JENSON, Robert W. (ed.). Dogmática Cristã. Vol.1.
São Leopoldo: Sinodal, 1990.
HOLMES, Michael M. (ed.). The apostolic fathers. 2 ed. Grand Rapids, MI:
Baker, 1989.
Exercício de Fixação - 11
Sobre a diferença entre a teologia natural e a teologia revelada é
correto afirmar que:
a) A teologia natural pressupõe o uso da razão humana e a revelada não;
b) A teologia natural não permite o conhecimento de Deus, apenas a
revelada;
c) A teologia natural e a revelada se equivalem em tudo, menos nas fontes
primárias;
d) A teologia natural limita-se às questões da realidade humana enquanto
a revelada inclui o fenômeno da revelação divina e da fé;
e) A teologia natural estuda a revelação bíblica com o uso das ciências
humanas e a revelada a estuda apenas pela fé.
Olhando, então, para a revelação feita por meio das Escrituras, o que temos
em mãos é um livro (biblos) ou uma coletânea de livros (biblia). Cada um
destes livros veio a fazer parte desta coletânea por ter sido considerado
sagrado pela comunidade da fé, que foi formada primeiro pelo povo de
Israel e depois pela igreja. Para os cristãos, a bíblia é composta por dois
grandes grupos de livros, o Antigo e o Novo Testamento ou a Antiga e a
Nova Aliança. Já o povo judeu considera como sagrados apenas os livros
da chamada Bíblia Hebraica, que coincide com o Antigo Testamento da
bíblica cristã. O Novo Testamento é a compreensão da Nova Aliança, que
Teologia Sistemática I | FTSA | 99
substitui a Antiga, instituída entre Deus e o povo de Israel, renovada com
base na pessoa de Jesus Cristo, o Messias judeu. Como o judaísmo não
reconhece Jesus de Nazaré como o Messias prometido, eles permanecem
apenas com os livros do Antigo Testamento.
Saiba mais
Sobre a questão da canonicidade, Wilfird Harrington explica:
Canonicidade significa que um livro inspirado, destinado à Igreja, foi
recebido como tal por ela. Embora todos os livros canônicos sejam
inspirados e nenhum livro inspirado exista fora do cânon, contudo,
as noções de canonicidade e inspiração não são as mesmas. Os
livros são inspirados porque Deus é o seu autor; eles são canônicos
porque a Igreja os reconheceu e admitiu como inspirados, pois, só a
O que nos interessa, então, é fazermos uma tentativa de filtrar esta influência
editorial que identifica Deus como Yahweh no tempo dos patriarcas e nos
aventurarmos a construir o entendimento sobre Deus a partir apenas da
realidade histórica daquele tempo anterior. É naquele período que se dá a
origem ao povo de Israel, com Abraão, e que se inicia toda a jornada de fé
e de revelação divina. Mais à frente nos dedicaremos ao estudo de Deus
como Yahweh, seguindo a contribuição da tradição mosaica.
Exercício de Fixação - 12
O que o termo elohim indica sobre o conhecimento de Deus,
considerando o seu uso na tradição patriarcal?
a)Elohim indica o nome próprio de Deus para Abraão, Isaque e Jacó;
b) Elohim indica que Deus é composto de várias pessoas, no caso as
pessoas da Trindade;
c)Elohim indica uma denominação genérica, semelhante ao uso da
expressão deus em português;
d) Elohim indica um Deus monístico, porém, sob a forma de plural
intenso;
e) Elohim indica o mesmo que Yahweh, porém, na língua semítica-
cananéia.
Não tomarás em vão o nome do Senhor teu Deus, pois o Senhor não
deixará impune quem tomar o seu nome em vão (Êxodo 20:3-7).
Exercício de Aplicação - 13
Em que sentido a construção de Deus como Yahweh, na tradição
mosaica, se aproxima e/ou distancia da construção como Elohim/
El na tradição patriarcal?
Yahweh e Elohim/El são nomes diferentes do mesmo Deus não
havendo diferenciação entre as construções;
Yahweh e Elohim/El concordam na ideia de um Deus que conduz
o povo em segurança, porém, Yahweh aparenta um maior
afastamento por causa do uso de um mediador;
Yahweh e Elohim/El exigem exclusividade do povo em meio ao contexto
politeísta, porém, Elohim/El permite o uso de vários santuários;
Yahweh e Elohim/El são nomes diferentes do mesmo Deus cuja
diferenciação está apenas na introdução do código legal a partir do
momento que ele se revela como Yahweh;
Yahweh e Elohim/El são construções totalmente diferentes,
originárias de períodos históricos diferentes, que foram unidas por
Moisés para convencer o povo da necessidade de libertação;
Bright insiste que, embora a Liga não fosse uma monarquia, ela significava
um reinado: “A aliança significava a aceitação da soberania de Iahweh por
Israel, e foi justamente aqui que começou a noção do domínio de Deus sobre o
povo, o Reino de Deus, tão central no pensamento de ambos os Testamentos”
(1978, p. 197). Alguns autores se referenciam a esta fase histórica como uma
teocracia, o governo de Deus, em que, como explica Bright,
Saiba mais
As doze tribos: significado religioso
A divisão da Terra Prometida mediante sorteio (daí os termos
equivalentes de “sorte” e de “herança”, isto é, propriedade fundiária
hereditária) põe em evidência que o verdadeiro dono da terra é o
próprio Deus, que coloca à disposição do seu povo, a fim de que nela
prospere e se prepare para a salvação messiânica a realizar-se em
tempo oportuno. Por isso, a herança fundiária permanecia intocável,
não podendo ser transferida de uma tribo para outra, nem de uma
família para outra. A fim de impedir que as famílias caídas na pobreza
vendessem de modo indefinido as próprias terras, a legislação
estabelecia que, no ano do jubileu (a cada cinquenta anos), as terras
vendidas voltassem aos proprietários antigos, evitando dessa forma a
acumulação das terras nas mãos de poucos latifundiários (Dt 25:8-18)
(Galbiati e Aletti, 1991, p. 86).
Mapa: https://pt.wikipedia.org/wiki/Tribos_de_Israel
O que se entende por esse tipo de religiosidade é que Javé era um Deus
acessível, próximo, assim como no tempo dos patriarcas, e que que
128 | Teologia Sistemática I | FTSA
habitava com seu povo. A construção religiosa e teológica em torno da
descrição de um Tabernáculo mais elaborado e restrito aos ofícios dos
sacerdotes é entendida como sendo uma edição posterior da tradição
literária sacerdotal do chamado Segundo Templo (Bright, 1978, p. 214).
A intenção teológica deste grupo era remeter a importância da figura
e ofício sacerdotal ao início do javismo. No entanto, alguns autores
concordam ao entender o início do javismo como uma representação de
Deus menos complexa e mais próxima do povo. Nesta mesma direção,
Bright defende que já no tempo do assentamento, após o período do
deserto, quando não se tem muita referência sobre a importância e lugar
da tenda, mais relevante do que qualquer liturgia relacionada a ela, o que
mais representava o culto a Javé eram as festas.
5.2. O judaísmo
Se durante o exílio desenvolveu-se uma compreensão mais ampliada
de Deus, que o levava para limites além do povo de Israel, o judaísmo
representou o retorno à perspectiva reducionista e exclusivista.
Historicamente, o que se chama de judaísmo foi o resultado de uma série
de atitudes e práticas, acompanhada de elaborações teológicas, que
138 | Teologia Sistemática I | FTSA
apontava para uma separação e consequente identificação dos que se
consideravam os verdadeiros representantes do povo de Deus. O cenário
enfrentado por aqueles que retornaram do exílio e tentaram reconstruir a
nação e a fé javista em seu território natal foi caótico.
Para Bright, este fenômeno ocorreu inserido em uma tensão, por que ao
mesmo tempo em que se expressava por uma via separatista, também
pretendia a conversão dos outros povos à fé javista. Esta conversão, no
entanto, não previa em sua abordagem missionária ações muito além
de uma provável conquista por meio do surgimento de alguma simpatia
que as pessoas poderiam vir a ter pelas práticas judaicas, percebidas nas
comunidades ou nas sinagogas espalhadas pelas nações do mundo antigo,
ou pela simples atração ao centro da religião que estava em Jerusalém.
Saiba mais
John Bright faz referência a alguns livros considerados não
canônicos pela igreja cristã antiga. Após a Reforma Protestante a
Igreja Católica os incorporou ao seu cânon passando a identifica-
los como deuterocanônicos, ou seja, do “segundo cânon”. Embora
não sendo considerados canônicos pelas igrejas protestantes,
esses livros tem grande relevância para o entendimento da história
que circunscreve o período bíblico. Os livros citados por Bright são:
Tobias (Tb); Jubileus (Jb); Macabeus (Mc) e Ecleisástico (Eclo).
7 Considera-se a reforma promovida pelo rei Josias, ocorrida por volta do ano 622 a.C.,
como o início do movimento deuteronomista (Gottwald, 1988, p. 141).
Teologia Sistemática I | FTSA | 141
reunia-se para a adoração do Shabbath8, que, assim,
adquiriu nova importância. Sua observância tornou-se
o substituto mais importante do culto; guardar o santo
Shabbath tornou-se uma obrigação religiosa decisiva
(Fohrer, 2012, pp. 404-405).
Exercício de Aplicação - 14
Tentando fazer um simples exercício de imaginação comparativa,
pense que características da religiosidade do período exílico e
pós-exílico estão representadas nas experiências das igrejas
evangélicas, em geral, na atualidade. Da lista abaixo, qual das
opções seria a que menos percebemos ou vivenciamos?
a) O estabelecimento de um padrão rígido de comportamento e práticas religiosas;
b) A prática de uma forma simplificada de culto em um ambiente e lugar alternativo
ao templo;
c) O interesse pela conquista de outros para a fé;
d) A exigência de práticas religiosas em um dia exclusivo da semana;
e) A segregação de pessoas que não pertencem à sua mesma etnia.
Saiba mais
A palavra anjo é a tradução do termo hebraico malakh e do grego
aggelos, que significa, em ambas as línguas, mensageiro ou
representante enviado. O significado original dos termos não tem
qualquer conotação referente a seres espirituais, sendo traduzidos,
ao longo do texto bíblico em português, tanto como mensageiro
quanto como anjo.
Exercício de Reflexão - 15
Pensando em toda a construção bíblica da pessoa de Deus
feita ao longo do Antigo Testamento, reflita quais dos aspectos
apresentados estão mais presentes ou são mais enfatizados na
sua experiência de igreja. Qual teologia, de que tradição ou período,
é que mais influencia o seu entendimento pessoal?
Exercício de Aplicação - 16
A imagem de Deus a partir de Cristo e sua missão, segundo
o relato de Lucas, é a de alguém sensível aos necessitados.
Pensando no senso comum, ou na maior parte da igreja evangélica
contemporânea que conhecemos, qual das duas opções abaixo
melhor a representaria?
Mas para completar a sua alta construção da pessoa divina, ele insere a
ideia de que é o próprio Deus quem ajuda os seres humanos neste difícil
caminho de obediência e mortificação, derramando o seu Espírito ajudador.
Resumidamente, a pessoa de Deus para Paulo é o início e o fim de tudo:
criador, redentor e consumador da vida humana (Romanos 11:36).
Exercício de Fixação - 17
Como podemos descrever as principais diferenças de abordagem
entre os três grupos de escritos do Novo Testamento (sinóticos,
paulinos e joaninos) na construção do conhecimento sobre Deus?
a) Os sinóticos focam o ministério prático de Jesus, os paulinos
reinterpretam o judaísmo à luz do evento Cristo e os joaninos dialogam
com a cultura greco-romana;
b) Os sinóticos focam a divindade de Jesus, os paulinos dialogam
com a cultura greco-romana e os joaninos reinterpretam o ministério
prático de Jesus;
c) Os sinóticos reinterpretam judaísmo à luz da cultura greco-romana,
os paulinos reinterpretam o ministério prático de Jesus e os joaninos
reinterpretam a divindade de Cristo;
2. Trindade
Após o estudo do conhecimento de Deus construído pela abordagem da
Teologia Bíblica, analisando os textos do Antigo e Novo Testamentos,
nosso foco se voltará para a discussão de outros temas que pertencem
à Teontologia e que permeiam o discurso teológico da igreja desde o
tempo da patrística.
Exercício de Aplicação - 18
No que implica para a teologia a consideração de que a construção
bíblica sobre a Trindade é algo frágil, isso considerando os textos,
desafios e dilemas presentes nas Escrituras, como um todo, no
desenvolvimento do tema?
3. Os atributos de Deus
Concluindo a disciplina e, especificamente, a seção que tratou da
Teontologia, voltamos a nossa atenção para algumas perguntas
elementares na busca pelo conhecimento de Deus: Como podemos
descrever Deus? Quem ele é? Como ele é? Como respostas, até aqui
apresentamos a construção do conhecimento de Deus pela via da
discussão filosófica e da Teologia Bíblica. Contudo, parece que a nossa
aproximação existencial ou experiencial de Deus se dá mais em relação
àquilo que construímos em nossa mente, em função da imagem que
fazemos dele. Parte desta imagem é obtida pela reflexão conceitual
filosófica, parte pela revelação bíblica e parte pela própria cultura e
compartilhamento da experiência humana.
O tema dos atributos trata desta via de descrição de Deus e das maneiras
que usamos para nos referir a ele em função de suas características
e qualidades. Valem aqui os alertas dos teólogos para que não nos
deixemos levar totalmente pela nossa imaginação criativa, mas que
atentemos para a revelação bíblica, com todas as limitações que isto
incorre para a caracterização de Deus. Lembremos também que o
caminho que estamos trilhando é o da finitude humana tentando sondar
a infinitude divina. A existência de Deus e sua essência são realidades
176 | Teologia Sistemática I | FTSA
que independem de nossa atribuição de descrições. Emil Brunner (2004,
pp. 322-323), por exemplo, destaca alguns caminhos que utilizamos para
conferir atributos a Deus que são oriundos da teologia natural:
Exercício de Fixação - 19
Levando-se em consideração o tratamento que Emil Brunner dá aos
atributos divinos, qual a principal objeção que ele aponta como sendo
responsável pelo tipo de entendimento mais comum entre os crentes?
a) A formulação dos atributos pela imaginação criativa e uso da
revelação bíblica;
b) A formulação dos atributos pela especulação filosófica e pela da
via da eminência;
c) A formulação dos atributos pela via da causalidade e pelo
testemunho da igreja;
d) A formulação dos atributos pela especulação filosófica e uso da
revelação bíblica;
e) A formulação dos atributos pela via da eminência e uso da revelação
bíblica.
Bibliografia
BRUCE, F. F. The gospel of John. Grand Rapids: Eerdmans, 1994.
Exercício de fixação - 2
Sobre o tema “A experiência e a Teologia”, é correto afirmar que:
a. A experiência não pode ser considerada como fonte válida para o conhecimento
teológico;
b. A experiência é um aspecto objetivo no discurso teológico uma vez que é
compartilhada pela comunidade de fé;
c. A experiência é um dos discursos possíveis, porém, de difícil elaboração
doutrinária;
d. A experiência é o aspecto mais importante na elaboração do discurso
teológico uma vez que expressa a fé genuína de quem encontrou a Deus;
e. A experiência é uma via de discurso da fé prática.
Reação: Por conta da subjetividade das experiências religiosas, ou
seja, aquilo que o sujeito ou o indivíduo experimenta, que por vezes
podem estar baseadas nas tradições e culturas religiosas, torna-se de
difícil a elaboração de uma teologia que represente a todos. Portanto,
a elaboração teológica tem como meio de construção a revelação
186 | Teologia Sistemática I | FTSA
“universal” e talvez mais concreta de Deus, que é a Bíblia, e não as
experiencias que apresentam características variadas e singulares de
pessoa para pessoa.
Exercício de aplicação - 3
Tendo em vista o conceito de Revelação, como podemos entender este
processo no que se refere à composição da Bíblia?
a. Deus se revelou falando verbalmente tudo o que deveria ser escrito;
b. Deus se revelou estruturando literalmente todos os conceitos necessários
para a vida humana;
c. Deus se revelou por meio de expressões gerais que valem para qualquer
situação da vida humana;
d. Deus se revelou ditando a sua mensagem especificamente aos profetas
escritores;
e. Deus se revelou usando as situações de vida experimentadas pelo povo em
sua relação contextual com ele.
Reação: Entendemos que a revelação bíblica é gradativa e associada a
contextos e acontecimentos da vida cotidiana daqueles personagens
envolvidos na narrativa e nos relatos bíblicos. Portanto, Deus se revela a
partir da vida comum e das situações as quais a vida de cada personagem
bíblico é exposta. Deus se relaciona a partir da história do povo a quem
quer comunicar-se, relacionar-se e por meio deste tornar-se conhecido.
Tais afirmações fazem da alternativa (e) a opção correta.
Exercício de reflexão - 4
Reflita como a dúvida contribui para a sua reflexão pessoal e produção
de teologia a partir de suas experiências e história de vida.
Reação: A intenção deste exercício não é a de encontrar uma resposta
única e sim provocar a reflexão a partir de sua caminhada como produtor
de teologia, entendendo que todos, de certa forma, produzimos teologia.
Como expresso anteriormente, o fazer teológico necessita da dúvida e da
reflexão, pois, estas ações nos levam a cavar mais fundo, atrás de algo
novo sobre os variados aspectos e temas teológicos aplicados à vida
cotidiana. Assim, considere a dúvida e a reflexão como portas de acesso
para a elaboração de teologias cada vez mais apropriadas.
Teologia Sistemática I | FTSA | 187
Exercício de aplicação - 5
Levando-se em conta aquilo que foi discutido até aqui, na aplicabilidade
da dúvida, da reflexão e da autocrítica na busca pelo conhecimento,
podemos concluir que:
a.Toda essa postura é uma demonstração da falta de fé em Deus;
b.Toda essa postura nos move a um entendimento mais profundo;
c.Toda essa postura é uma tentação diabólica;
d.Toda essa postura é válida, mas apenas nos casos bíblicos;
e.Toda essa postura é fruto da confusão mental causada pelo pecado
Reação: Esta postura de busca por respostas para as questões que
a vida traz à tona não deve ser vista como tentação, algo mau, como
um caminho para a perda da fé ou como uma confusão causada pelo
pecado. Ao contrário, ela ajuda a nos tornarmos pessoas interessadas
no aprendizado sobre Deus, sua Palavra e sobre a existência e o mundo
em geral. Exemplos como o Abraão, Paulo e muitos outros nas Escrituras
corroboram para a ideia de que a dúvida, se bem administrada confere
valor ao processo de aprendizado, podendo gerar um aprofundamento
quanto aos variados conhecimentos, principalmente, do próprio Deus e
sua maneira de se relacionar conosco. Portanto, a alternativa (b) é a que
melhor representa a proposta aqui apresentada.
Exercício de fixação - 6
A Teologia Medieval, conforme tratada anteriormente, pode ser
caracterizada como:
a. Formulações alegóricas fundamentadas na filosofia grega;
b. Formulações racionais e sistematizadas das doutrinas bíblicas;
c. Formulações interpretativas da tradição dos pais da igreja;
d. Formulações livres e criativas da revelação escriturística;
e. Formulações colaborativas entre a tradição e os novos desafios contextuais.
Reação: A alternativa que compreende a teologia medieval como as
formulações interpretativas da tradição dos pais da igreja, apresenta-se
como correta. A Idade Média tinha por característica a ideia de autoridade
muito forte, o que colocava Deus na primazia autoritária, porém, os
188 | Teologia Sistemática I | FTSA
apóstolos, ou pais da igreja, como aqueles que tinham grande autoridade
por serem visto como de comunicadores primários da mensagem desse
Deus, o que entende-se pela ideia desses pais da igreja como os teólogos
oficiais. O que fez com que os teólogos da Idade Medieval vissem estes
que os precederam no produzir teológico como precursores da teologia
de Cristo.
Exercício de fixação - 7
Acerca do tema e da discussão sobre o pensamento humano. É correto
afirmar que:
a. O pensamento humano ocorre de forma dependente da influência cultural;
b. O pensamento humano ocorre de forma independente de caminhos
predominantes;
c. O pensamento humano ocorre de forma independente de paradigmas;
d. O pensamento humano ocorre de forma dependente da consciência formativa;
e. O pensamento humano ocorre de forma independente da maneira como se
percebe a realidade.
Reação: Considerando a argumentação apresentada até aqui e os exemplos
apresentados no vídeo, torna-se perceptível a grande influência cultural na
formação e elaboração do pensamento humano. Vimos como a mente
humana toma caminhos diferentes quando exposta a diferentes culturas
de forma até mesmo inconsciente. O entendimento de como se dá esse
processo nos ajuda a respeitarmos as diferenças que existem entre os
vários grupos humanos e a estabelecer uma plataforma inicial de diálogo.
Exercício de aplicação - 8
Considerando a “Teoria do paradigma”, de que forma é possível observar
esse fenômeno aplicado à Teologia?
a. Houve vários paradigmas na história da igreja e a transição entre eles
sempre ocorreu de forma racional e processual;
b. Houve vários paradigmas na história da igreja e a transição entre eles
se deu de forma consensual, sem crises;
c. Houve vários paradigmas na história da igreja cujo surgimento se deu
por causa de novas revelações divinas para novos contextos;
Teologia Sistemática I | FTSA | 189
d. Houve vários paradigmas na história da igreja e a adoção de cada um
deles se deu pela concordância dos teólogos;
e. Houve vários paradigmas na história da igreja e ainda é possível
perceber a influência de alguns deles nos dias de hoje;
Reação: O paradigma como fenômeno da ciência pressupõe certo
conflito ou rompimento com aquele que o precede. Isso fica claro
quando entendemos a quantidade de paradigmas que a história nos
apresenta e como o rompimento que um novo paradigma propõe gera
crises de adaptação e até mesmo de aceitação. Na história da igreja e,
especialmente, da sua missão esse princípio também se aplica. O que
observamos hoje é que vários paradigmas, embora diferentes, ainda são
sustentados pelas igrejas e a transição para qualquer nova proposta é
sempre lenta e conflituosa.
Exercício de aplicação - 9
Sobre a discussão acerca da “Crise na teologia revelada”, indique qual
opção NÃO representa os efeitos causados pelo paradigma moderno
sobre a teologia.
a. A percepção de que é possível compreender toda a revelação divina em
sistemas elaborados pelo esforço intelectual humano;
b. A consciência de que o paradigma moderno afeta a maneira como elaboramos
as teorias teológicas;
c. Os muitos e diferentes discursos ou sistemas teológicos que se julgam
corretos, um em detrimento do outro;
d. A suposição de conseguir determinar precisamente quais afirmações das
compreensões humanas da revelação divina são verdadeiras ou falsas;
e. A incapacidade de conciliar a experiência da fé com os sistemas teológicos
resultantes da aplicação do método científico moderno.
Reação: Certamente a teologia foi impactada pelo paradigma moderno
que defende a capacidade humana de apreender e explicar a realidade.
Ao partir desse pressuposto a teologia, entendida com uma ciência
moderna, perdeu a capacidade de compreender como esse mesmo
190 | Teologia Sistemática I | FTSA
paradigma afeta de maneira quase esquizofrênica a consciência de
suas limitações. Sendo Deus transcendente e incapaz de ser totalmente
absorvido e explicado pela mente e pelo método científico humano,
muitos não se dão conta de quão distantes seus discursos e sistemas
são imprecisos e imperfeitos. Muitos permanecem tentando impor os
seus discursos sobre os outros ao invés de se disporem a estabelecer
uma busca e construção coletiva e dialógica.
Exercício de reflexão - 10
A partir daquilo que foi exposto como metodologia de construção de
teologias bíblicas, reflita como você, normalmente, elabora os seus
estudos pessoais e busca por conhecimento. Como você avalia o seu
processo à luz do que foi proposto? Indique pontos positivos e negativos,
vantagens e desvantagens desse processo em função da sua própria
experiência.
Reação: É claro que não existe um único método de construção de
teologia. É difícil até mesmo indicar o que é melhor ou pior, pois muitas
vezes isso depende do nosso perfil de personalidade e das habilidades
que possuímos. A provocação desse exercício tem a ver mais com
o processo que usamos para conhecer e entender temas, conceitos,
caminhos, etc. desde uma perspectiva bíblica. O uso de versículos soltos,
a simples cópia de algo pronto, a restrição a um determinado autor, a
repetição de algo que ouvimos, não representa necessariamente a
abrangência bíblica daquilo que queremos conhecer ou ensinar. Por isso,
a indicação para o uso da metodologia da Teologia Bíblica pode servir
como uma boa alternativa para que possamos alcançar esse objetivo.
Exercício de Fixação - 11
Sobre a diferença entre a teologia natural e a teologia revelada é correto
afirmar que:
a. A teologia natural pressupõe o uso da razão humana e a revelada não;
b. A teologia natural não permite o conhecimento de Deus, apenas a revelada;
c. A teologia natural e a revelada se equivalem em tudo, menos nas fontes
primárias;
d. A teologia natural limita-se às questões da realidade humana enquanto a
Teologia Sistemática I | FTSA | 191
revelada inclui o fenômeno da revelação divina e da fé;
e. A teologia natural estuda a revelação bíblica com o uso das ciências humanas
e a revelada a estuda apenas pela fé.
Reação: A teologia natural está voltada à vivência humana, à existência,
à vida cotidiana e aquilo que podemos perceber imediatamente em
nossa interação com esse mundo palpável. Já a teologia revelada está
relacionada às questões mais transcendentes, ao fenômeno religioso,
enfim, à revelação divina. Foi isso que se procurou apresentar até aqui.
Exercício de Fixação - 12
O que o termo elohim indica sobre o conhecimento de Deus, considerando
o seu uso na tradição patriarcal?
a. Elohim indica o nome próprio de Deus para Abraão, Isaque e Jacó;
b. Elohim indica que Deus é composto de várias pessoas, no caso as pessoas
da Trindade;
c. Elohim indica uma denominação genérica, semelhante ao uso da expressão
deus em português;
d. Elohim indica um Deus monístico, porém, sob a forma de plural intenso;
e. Elohim indica o mesmo que Yahweh, porém, na língua semítica-cananéia.
Reação: A palavra elohim na tradição patriarcal indica uma referência
geral à divindade e não um nome ou identificação específica, por isso,
também era usada para referir-se aos diversos deuses das outras religiões
do mundo antigo. Nesse mesmo sentido, ela não carrega a concepção
teológica do monoteísmo.
Exercício de Aplicação - 13
Em que sentido a construção de Deus como Yahweh, na tradição mosaica,
se aproxima e/ou distancia da construção como Elohim/El na tradição
patriarcal?
a. Yahweh e Elohim/El são nomes diferentes do mesmo Deus não havendo
diferenciação entre as construções;
b. Yahweh e Elohim/El concordam na ideia de um Deus que conduz o povo em segurança,
porém, Yahweh aparenta um maior afastamento por causa do uso de um mediador;
192 | Teologia Sistemática I | FTSA
c. Yahweh e Elohim/El exigem exclusividade do povo em meio ao contexto
politeísta, porém, Elohim/El permite o uso de vários santuários;
d. Yahweh e Elohim/El são nomes diferentes do mesmo Deus cuja diferenciação
está apenas na introdução do código legal a partir do momento que ele se revela
como Yahweh;
e. Yahweh e Elohim/El são construções totalmente diferentes, originárias de
períodos históricos diferentes, que foram unidas por Moisés para convencer o
povo da necessidade de libertação;
Reação: Tanto o conceito Bíblico de Yahweh quanto Elohim estão atrelados
à ideia de um Deus que cuida de um povo, que os conduz a determinado
objetivo, em segurança, em meio a outros povos. Deus escolhe este
povo para uma aliança de cuidado, porém, na tradição mosaica vemos a
introdução da figura de um mediador (Moisés e os sacerdotes), enquanto
na traição patriarcal, relacionada ao entendimento de Deus como elohim,
a relação se dá de forma mais imediata.
Exercício de Aplicação - 14
Tentando fazer um simples exercício de imaginação comparativa, pense
que características da religiosidade do período exílico e pós-exílico
estão representadas nas experiências das igrejas evangélicas, em
geral, na atualidade. Da lista abaixo, qual das opções seria a que menos
percebemos ou vivenciamos?
a. O estabelecimento de um padrão rígido de comportamento e práticas
religiosas;
b. A prática de uma forma simplificada de culto em um ambiente e lugar
alternativo ao templo;
c. O interesse pela conquista de outros para a fé;
d. A exigência de práticas religiosas em um dia exclusivo da semana;
e. A segregação de pessoas que não pertencem à sua mesma etnia.
Reação: O objetivo aqui é relembrar algumas características do período
indicado e, ao mesmo tempo, relacionar, por meio de uma análise crítica,
aquilo que ocorreu no passado com o que ocorre na contemporaneidade.
A opção (a) talvez seja percebida atualmente nas igrejas que possuem
Teologia Sistemática I | FTSA | 193
os chamados “usos e costumes”. A alternativa (b) indica, por exemplo,
aquilo que ocorre nos lares ou nas igrejas que se organizam em células.
A letra (c) se refere aos nossos esforços pela conversão das pessoas ao
cristianismo. Já a opção (d) aponta para a mais comum das práticas que
é a guarda do domingo como dia dedicado aos cultos a Deus em quase
a totalidade das igrejas. A última alternativa (e) se refere a exclusão
relacionada à etnia, algo que no contexto brasileiro não parece ocorrer.
Isso não elimina, no entanto, um outro problema, que pode ser a acepção
de pessoas ou algum outro tipo de preconceito.
Exercício de Reflexão - 15
Pensando em toda a construção bíblica da pessoa de Deus feita ao longo
do Antigo Testamento, reflita quais dos aspectos apresentados estão
mais presentes ou são mais enfatizados na sua experiência de igreja.
Qual teologia, de que tradição ou período, é que mais influencia o seu
entendimento pessoal?
Reação: Certamente todos temas e conceitos desenvolvidos no Antigo
Testamento estão presentes, de certa forma, em nossa compreensão
de quem Deus é. No entanto, sem ser categórico, me parece que a
contribuição do período pós-exílico, embora menor, em volume, que as
outras tradições, é a que percebemos como mais influente. Uma razão
para que isso aconteça talvez seja a sua influência sobre a teologia que
veio a ser produzida pelos autores do Novo Testamento e que, certamente,
tem a maior influência sobre a igreja na atualidade.
Exercício de Aplicação - 16
A imagem de Deus a partir de Cristo e sua missão, segundo o relato de
Lucas, é a de alguém sensível aos necessitados. Pensando no senso
comum, ou na maior parte da igreja evangélica contemporânea que
conhecemos, qual das duas opções abaixo melhor a representaria?
a. A igreja contemporânea se aproxima dessa percepção uma vez que
entende que sua missão, que ao mesmo tempo revela o Deus em quem
crê, é, principalmente, a de cuidar dos necessitados;
Exercício de Fixação - 17
Como podemos descrever as principais diferenças de abordagem entre
os três grupos de escritos do Novo Testamento (sinóticos, paulinos e
joaninos) na construção do conhecimento sobre Deus?
a. Os sinóticos focam o ministério prático de Jesus, os paulinos reinterpretam
o judaísmo à luz do evento Cristo e os joaninos dialogam com a cultura greco-
romana;
b. Os sinóticos focam a divindade de Jesus, os paulinos dialogam com a cultura
greco-romana e os joaninos reinterpretam o ministério prático de Jesus;
c. Os sinóticos reinterpretam judaísmo à luz da cultura greco-romana, os
paulinos reinterpretam o ministério prático de Jesus e os joaninos reinterpretam
a divindade de Cristo;
d. Os sinóticos focam o ministério prático de Jesus, os paulinos dialogam com a
cultura greco-romana e os joaninos reinterpretam o judaísmo à luz o evento Cristo;
Teologia Sistemática I | FTSA | 195
e. Os sinóticos, os paulinos e os joaninos abordam da mesma forma a construção
do conhecimento sobre Deus.
Reação: Relembrando aquilo que foi discutido nesta unidade, podemos
compreender os sinóticos a partir dos relatos sobre a vida e ministério
de Cristo. Estes escritos, de fato, comprometem-se a expor a questão
prática de seu ministério. Já Paulo, sendo um judeu por formação e
tradição familiar, dedica-se a reinterpretar a cultura judaica a partir
da vida e reinterpretações que Cristo traz ao judaísmo. Os escritos de
João, por sua vez, apresentam-se como ponte dialogal com a cultura e o
mundo greco-romano, por exemplo, como quando usa o termo Logos no
seu evangelho.
Exercício de Aplicação - 18
No que implica para a teologia a consideração de que a construção bíblica
sobre a Trindade é algo frágil, isso considerando os textos, desafios e
dilemas presentes nas Escrituras, como um todo, no desenvolvimento
do tema?
a. Implica no entendimento de que a Bíblia não está em acordo com as doutrinas
elaboradas pela igreja, ou seja, a Bíblia está errada no tocante ao conceito de
Trindade;
b. Implica no entendimento de que a igreja não está em acordo com a doutrina da
Trindade apresentada na Bíblia, ou seja, a igreja está errada em sua construção
do conceito de Trindade;
c. Implica em uma percepção da doutrina da Trindade como um assunto não
acabado e, assim, propondo mais estudo, análise e diálogo quanto à sua
elaboração;
d. Tal consideração é um erro, pois a Bíblia sendo inspirada por Deus e inerrante
não poderia ter doutrinas elaboradas de maneira frágil.
Reação: O exercício acima não tem por proposta apontar falhas da igreja
ou mesmo das Escrituras, independente das questões de inspiração
e inerrância. A questão propõe uma observação daquilo que ocorreu
como um processo histórico e de aplicação ao contexto eclesial de fé
em função da complexa doutrina da Trindade. O que se pretende aqui é
Exercício de Fixação - 19
Levando-se em consideração o tratamento que Emil Brunner dá aos
atributos divinos, qual a principal objeção que ele aponta como sendo
responsável pelo tipo de entendimento mais comum entre os crentes?
a. A formulação dos atributos pela imaginação criativa e uso da revelação bíblica;
b. A formulação dos atributos pela especulação filosófica e pela da via da
eminência;
c. A formulação dos atributos pela via da causalidade e pelo testemunho da
igreja;
d. A formulação dos atributos pela especulação filosófica e uso da revelação
bíblica;
e. A formulação dos atributos pela via da eminência e uso da revelação bíblica.
Reação: Brunner defende a ideia de que a nossa formulação de entendimento
dos atributos divinos não é, primordialmente, baseada naquilo que a Bíblia
nos revela. Ao contrário, nos acostumamos, desde os primórdios da igreja,
a pautarmos a construção dos atributos tendo como argumento a lógica
filosófica da eminência, que extrapola os atributos humanos para indicar
aquilo que seria divino, e a via da causalidade, que indica a origem dos
fenômenos numa idealização de um tipo de divindade.
Exercício de Reflexão - 20
A partir daquilo que foi estudado nesta disciplina, como você avalia a sua
interação com esses conteúdos? Como você percebe que foi o impacto
do processo de construção teológica na sua vida até aqui?
Reação: Com esta provocação o que se busca é incentivar a busca pelo
conhecimento contínuo da revelação divina para nós. Mesmo que esse
processo possa trazer os seus questionamentos e, quem sabe, crises, o
objetivo é sempre o crescimento e a busca por autonomia e maturidade na
construção do conhecimento para a vida pessoal e ministerial de cada um.
Teologia Sistemática I | FTSA | 197
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