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Interdisciplinar
3ª Edição
Vice-Presidente da República
Michel Miguel Elias Temer Lulia
Ministro da Educação
Aloizio Mercadante Oliva
Vice-Reitora
Maria de Fátima Freire Melo Ximenes
FICHA TÉCNICA
1. Ciência. 2. Tempo. 3. Terra. 4. Bioma. 5. Nordeste. I. Borba, Gilvan Luiz. II. Abreu,
Luiz Roberto Diz de. III. Título.
CDU 001.1
C955c
© Copyright 2005. Todos os direitos reservados a Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – EDUFRN.
Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa do Ministério da Educacão – MEC
Apresentação Institucional 5
A
Secretaria de Educação a Distância – SEDIS da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte – UFRN, desde 2005, vem atuando como fomentadora, no âmbito local, das
Políticas Nacionais de Educação a Distância em parceira com a Secretaria de Educação
a Distância – SEED, o Ministério da Educação – MEC e a Universidade Aberta do Brasil –
UAB/CAPES. Duas linhas de atuação têm caracterizado o esforço em EaD desta instituição: a
primeira está voltada para a Formação Continuada de Professores do Ensino Básico, sendo
implementados cursos de licenciatura e pós-graduação lato e stricto sensu; a segunda volta-se
para a Formação de Gestores Públicos, através da oferta de bacharelados e especializações
em Administração Pública e Administração Pública Municipal.
Para dar suporte à oferta dos cursos de EaD, a Sedis tem disponibilizado um conjunto de
meios didáticos e pedagógicos, dentre os quais se destacam os materiais impressos que são
elaborados por disciplinas, utilizando linguagem e projeto gráfico para atender às necessidades
de um aluno que aprende a distância. O conteúdo é elaborado por profissionais qualificados e
que têm experiência relevante na área, com o apoio de uma equipe multidisciplinar. O material
impresso é a referência primária para o aluno, sendo indicadas outras mídias, como videoaulas,
livros, textos, filmes, videoconferências, materiais digitais e interativos e webconferências, que
possibilitam ampliar os conteúdos e a interação entre os sujeitos do processo de aprendizagem.
Assim, a UFRN através da SEDIS se integra o grupo de instituições que assumiram
o desafio de contribuir com a formação desse “capital” humano e incorporou a EaD como
modalidade capaz de superar as barreiras espaciais e políticas que tornaram cada vez mais
seleto o acesso à graduação e à pós-graduação no Brasil. No Rio Grande do Norte, a UFRN
está presente em polos presenciais de apoio localizados nas mais diferentes regiões, ofertando
cursos de graduação, aperfeiçoamento, especialização e mestrado, interiorizando e tornando
o Ensino Superior uma realidade que contribui para diminuir as diferenças regionais e o
conhecimento uma possibilidade concreta para o desenvolvimento local.
Nesse sentido, este material que você recebe é resultado de um investimento intelectual
e econômico assumido por diversas instituições que se comprometeram com a Educação e
com a reversão da seletividade do espaço quanto ao acesso e ao consumo do saber E REFLETE
O COMPROMISSO DA SEDIS/UFRN COM A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA como modalidade
estratégica para a melhoria dos indicadores educacionais no RN e no Brasil.
5
Situando a Ciência
no Espaço e no Tempo
Aula
1
Apresentação
E
sta é a primeira aula da disciplina Ciências da Natureza e Realidade. Pretendemos viajar
pelo mundo, percebendo-o com um olhar físico, químico e biológico, abordando temas
relativos à natureza. Dessa forma, veremos que a ciência está presente em nosso dia-
a-dia em situações e acontecimentos dos quais muitas vezes, não nos damos conta. Durante
esse percurso, teremos o privilégio e o prazer de desenvolvermos juntos uma visão mais crítica
da realidade, ou seja, um olhar científico. Boa viagem!
Objetivos
Após estudar o material correspondente a esta aula, esperamos que
você seja capaz de:
Se respondeu viajar, ir para outro lugar, você faz parte da maioria das pessoas do mundo.
Por isso, dispomos de tantas estações rodoviárias, aeroportos e portos.
Esse comportamento, que vem desde a Pré-História, permitiu que ocupássemos todos os
recantos do nosso planeta: das geleiras polares aos tórridos desertos africanos, das savanas
do oeste americano aos sertões nordestinos, das florestas tropicais aos plácidos litorais.
Também nos levou a mergulhar nas profundezas oceânicas e a alçar vôos em direção à Lua; a
construir “casas no espaço”, as chamadas estações espaciais, que giram continuamente em
volta da Terra a uma altura aproximada de 400km com velocidades superiores a 15000km/h
(quinze mil quilômetros por hora); e a enviar naves para outros planetas, sonhando com
viagens interestrelares.
Viajar, conhecer lugares, falar sobre as viagens, registrar fatos e impressões... Foi e é
assim que deixamos marcas de nossa passagem pelo planeta. Graças a esse costume é que
conseguimos fazer a História. Hoje, por exemplo, podemos “rastrear” o percurso que o homem
pré-histórico fez para chegar ao nordeste brasileiro.
A B
PATAGÔNIA
Figura 1
A Figura 1 mostra uma possível rota migratória para a chegada do Homem ao Continente
sul-americano. Esse modelo propõe que oriundo da Ásia e atravessando o estreito de Bering,
o Homem chega tanto ao sul do nosso continente, a Patagônia, quanto ao nordeste brasileiro.
Atividade 1 Datações
Um dos principais aspectos que nos diferencia dos outros organismos vivos é nossa
competência para resolver problemas e armazenar vivências, acumulando conhecimentos, os
quais demonstram nossa capacidade de memória e de ação sobre a realidade. Esse processo
é possível devido ao desenvolvimento de um complexo sistema nervoso em nossa espécie,
que herdamos e aperfeiçoamos de nossos ancestrais.
Atividade 2
Pesquise e responda.
O estudo desse material indica serem esses os primeiros passos da mente humana
em direção às ciências e ao registro dos conhecimentos adquiridos a partir da observação.
Atividade 3
Observe a Figura 2. Como você descreve o que foi observado? Parece
1 uma cena comum de nosso dia-a-dia? Explique.
Existem as descrições religiosas e míticas em seus diversos matizes, mas não trataremos
delas aqui. Ressaltemos que as verdades científicas e filosóficas não são as únicas nem são
melhores ou piores que os outros tipos de verdades ou conhecimentos. Apenas representam
um modo específico de olhar o mundo e que é muito útil quando se pretende obter um
conhecimento mais sistematizado do que está acontecendo ao nosso redor.
Filosofia
A palavra Filosofia significa “amor ao conhecimento, ao saber (philos = amigo, amante
e Sophia = conhecimento, saber). Assim, o conhecimento filosófico busca a essência das
causas reais dos fenômenos, ou seja, a origem de tudo e as suas explicações. A filosofia se
caracteriza, então, como reflexão crítica da realidade considerada em sua totalidade, bem como
tentativa de refletir sobre as formas do fazer e do agir do ser humano, também considerado
aqui como totalidade.
A interpretação das informações que nos chegam pelos sentidos é uma característica
da busca filosófica. Nesse contexto, a questão “o que é real” faz parte do projeto filosófico,
indicando, assim, a possibilidade desse conhecimento ser contraditório à medida que discute
a realidade das coisas e o que é o real, ao mesmo tempo.
Por outro lado, a sistematização do conhecimento foi um processo lento que desponta em
diversas épocas e em diversos povos ao longo da civilização. Para o caso especial da cultura
ocidental, a maior influência vem do aparecimento na Grécia de uma organização peculiar das
idéias em um corpo chamado de filosofia.
A história do conhecimento ocidental está relacionada a nomes que você já deve ter
ouvido: Sócrates, Platão e outros. Propomos um breve resgate desses personagens históricos,
sugerindo que você visite a biblioteca de sua cidade e faça uma pesquisa mais aprofundada
sobre esse assunto.
Podemos afirmar que a origem da filosofia remonta ao Séc. VI antes da Era Cristã (a.C.),
na Grécia Antiga, com Tales de Mileto.
Ciência
As origens da ciência nos remetem a Aristóteles (384-322 a.C.) que, a partir da
obra filosófica de Platão, de quem foi discípulo, propõe um novo olhar para a realidade
objetiva.
Neste livro, Eratóstenes relatou que, em uma certa hora de um determinado dia, se
comparássemos a sombra gerada por uma haste vertical à luz do Sol no fundo de um
poço, em duas cidades diferentes, no caso Alexandria e Siene (Egito) respectivamente, Figura 4 – Aristóteles
Siena
Poço Haste
Alexandria
Terra
Figura 5
Quando ocorreu sua destruição, a Biblioteca de Alexandria tinha mais de quatrocentos mil
volumes ou papiros, contendo praticamente todo o conhecimento produzido até aquele momento.
Nessa época, à frente da direção da Biblioteca estava uma mulher, Hiparca, que muito fez
pelo saber e pela Ciência, mostrando até que ponto o mundo antigo avançou, ao reconhecer e
permitir à mulher ocupar espaços relevantes nas atividades intelectuais da humanidade.
Atividade 5
Procure em um dicionário ou enciclopédia o significado dos termos filósofo e
filosofia. Exponha com suas palavras as definições encontradas, não esquecendo
de citar a fonte consultada (nome e autor).
Cabe à Ciência classificar, medir, quantificar, formular e testar hipóteses, construir teorias
com as quais pode-se prever comportamentos de sistemas físicos, químicos e biológicos. A
Ciência também procura entender o funcionamento do universo e com isso produzir os saberes
necessários para tornar melhor a vida em nosso planeta.
Além disso, para nós que vivemos o Séc. XX e estamos emergindo no Séc. XXI, a Ciência,
com todas as suas realizações, trouxe para nossos lares uma quantidade imensa de aparelhos
tecnológicos cujo funcionamento é entendido a partir de leis e princípios gerais que formam
um tipo de conhecimento chamado científico.
Estabelecimento onde
se curtem couros.
Indústria que se dedica ao
tratamento de peles finas e
de couros. O método científico
Barbatimão Acreditamos que lançar mão da descrição de fenômenos é a melhor forma de se perceber
Árvore leguminosa de o significado da Ciência e seu método científico.
casca rica em tanino.
No texto a seguir, adaptado do livro Grande Sertão: veredas, de Guimarães Rosa, escrito
Angico
numa linguagem muito peculiar, o jagunço Riobaldo Tatarana relata um curioso fenômeno.
Nome comum de várias
árvores da família das
A pois, um dia, num curtume, a faquinha minha, que eu tinha, caiu dentro de um tanque;
leguminosas. era só caldo de casca de curtir, barbatimão, angico, lá sei que taninos. – Amanhã eu
tiro... – falei comigo. Porque era noite, luz nenhuma eu não tinha. Ah, então saiba: no
Taninos
outro dia, cedo, a faca, o ferro dela estava roído, quase por metade, carcomido por aquela
(plural de tanino) agüinha escura azeda, toda quieta, pouco borbulhando. Deixei, mais pra ver... Sabe o que
Substância encontrada foi? Pois, nessa mesma tarde, da faquinha, só se achava o cabo... O cabo – por não ser
em vários organismos de frio metal, mas de chifre de veado galheiro (ROSA, 2001, p.39).
vegetais, que torna as
peles imputrescíveis O jagunço, ao relatar o fato, utilizou a linguagem popular que se associa a um tipo de
(que não apodrecem),
conhecimento, o conhecimento popular. Suas principais características são típicas do sujeito, do
sendo, por isso, usada em
curtume. objeto e de seu meio ambiente, hereditárias e empíricas, mas desprovidas de espírito científico.
Metal No contexto explorado, o jagunço certamente fez uso dos cinco sentidos: visão, tato,
Corpo simples, dotado
audição, olfato e paladar, nossos sensores naturais. Através deles, ele coletou as primeiras
de brilho particular, informações a respeito da sua “faquinha” e do meio de onde ela caiu. Esses sensores naturais,
chamado brilho metálico. embora indispensáveis ao homem, apresentam limitações, tornando as informações colhidas
Geralmente bom condutor
do calor e da eletricidade,
a partir deles subjetivas, falhas e quase exclusivamente qualitativas.
possuindo, além disso, a
propriedade de produzir, Por outro lado, uma re-leitura científica do texto, também pode antever fenômenos
quando se combina com o científicos importantes. Caracterizando esse conhecimento como o que resulta da assimilação
oxigênio, pelo menos um
progressiva e racional de fatos e fenômenos, a partir da observação, prática e experimentação
óxido básico: o ferro é o
mais útil dos metais. (a qual envolve medidas e seu registro).
Serão discutidas brevemente, a seguir, cada uma das etapas do método científico.
Atividade 6
Uma outra hipótese possível seria, “o caldo formado pela água e as leguminosas é ácido”.
Assim, o ácido é capaz de atacar (enferrujar) o ferro. Hipótese verdadeira.
Conclusão
Embora a explicação rigorosa do ponto de vista da Química, isto é, de como ocorre a
oxidação, seja um assunto a ser estudado no curso de estrutura atômica, podemos agora,
como conhecimento geral, apresentá-la. Então, a faca é corroída pelo fato de:
em meio ácido, o Feo (ferro metálico) sofre oxidação, produzindo o íon Fe2+ (ferro dois mais);
Atividade 7
Com base nos conceitos de Ciência e Filosofia, complete a frase abaixo.
ao modelo mental estabelecido pelo jagunço e utilizado para relatar a queda da faca no
tanque contendo o caldo, pode-se associar à Psicologia, isto é, como ele imagina que
se deu o fenômeno, as formas de pensar que ele elabora;
o tanque contendo taninos e a queda da faca pode ser sucintamente descrito pelas
ciências: Física (queda dos corpos), Química (composição) e Matemática (geometria).
Atividade 8
A cozinha de nossa casa é um bom laboratório de ciências. Descreva o processo
de preparação de um prato, relacionando em cada etapa o ramo da ciência que
está envolvido.
Um exemplo bem conhecido é o da queda dos corpos. Comenta-se que Galileu estava
interessado em explicar o movimento de objetos que se deslocam em linha reta. Para isso, ele
elaborou um plano inclinado, como o mostrado a seguir.
B C
Figura 5
Soltou esferas de diversos pontos ao longo da parte AB do plano e verificou a altura que
as esferas atingiam no lado CD. Em seguida, alterou levemente a inclinação da parte CD e fez
novamente a experiência. Logo depois, alterou o grau de polimento das superfícies (das esferas
o do plano inclinado) até atingir uma situação de menor atrito possível. Dessa forma, observou
que quanto maior o polimento, mais distante as esferas iam antes de parar.
Com isso, ele estava preparado para responder à questão “o que faz os corpos pararem?”
e cuja resposta por ele obtida foi: a presença de forças de atrito. Concluiu também que se não
existisse atrito entre as esferas e o plano, se o percurso CD fosse na horizontal, uma vez atingido
o ponto B, as esferas continuariam se deslocando continuamente com velocidade constante e
só parariam quando terminasse a pista. Se esta fosse suficientemente grande, as esferas nunca
parariam de se mover com velocidade constante.
Após os resultados obtidos por Galileu, ficamos sabendo que “um corpo que se move em
linha reta, com velocidade constante e não sofre nenhuma interação com o meio, permanecerá
assim para sempre”, e que “tal corpo só mudará seu estado de movimento se aparecer uma
força externa atuando sobre ele”.
Essa fórmula representa um corpo se movendo com velocidade constante e em linha reta.
Na natureza, é muito difícil obtermos por muito tempo o movimento descrito. Mesmo assim,
seremos capazes de prever o que ocorre com o objeto que se move segundo essas condições.
Concluindo nossa aula, a Ciência procura elaborar modelos mais ou menos sofisticados que
permitam uma interpretação do que está ocorrendo na natureza e, além disso, que nos permita
prever o comportamento futuro dos sistemas estudados. Como produto humano, a Ciência está
sujeita a erros e enganos, mas é nela, mais do que em qualquer outra atividade humana, que
a busca pela descoberta dos próprios erros e enganos mais tem impulsionado a humanidade.
Resumo
Nesta primeira aula, aprendemos que a Ciência é uma produção humana e, como
tal, sujeita a erros e acertos. Mesmo assim, ela é uma ferramenta intelectual
de suma importância, ajudando na compreensão do mundo que nos rodeia.
Discutimos a existência de outros conhecimentos bastante relevantes para a vida
em sociedade, entendendo que o que os diferencia do conhecimento científico
é o fato deste basear-se em um método e não pretender ser um conhecimento
imutável nem conter verdades absolutas. Abordamos, por fim, que a Ciência
possui vários ramos, estando cada um preocupado em desenvolver um olhar
mais aprofundado em relação a uma dada faceta da natureza, mas cientes de que
necessitam uns dos outros para melhor descrever seu objeto específico de estudo.
Existem crenças populares que acabam por conter um fundo de verdade. Isto é, a
2 Ciência tem como justificar a crença. Outras não encontram apoio na Ciência.
Será que essa conclusão tem apoio científico? Vejamos, as chuvas na região do
Seridó têm origem na convergência inter-tropical, de modo que é comum começar
a chover primeiro no Piauí, em relação ao Rio Grande do Norte. Como a chuva
“vem” das regiões mais próximas à linha do Equador, quando, o gado saía para o
Piauí, e encontrava pasto pelo caminho e chegava lá gordo. Na falta de chuvas, o
pasto ficava mais escasso e o gado chegava magro. Então, a explicação científica da
convergência inter-tropical, no que diz respeito às nossas chuvas, pode ser verificado
pela experiência do boiadeiro.
Responda e justifique: você conhece alguma crença popular de sua região que seja
justificada pelo ponto de vista científico?
Faça uma pesquisa com os mais antigos e verifique o que eles sabem sobre as
estações chuvosas e secas no Nordeste. Anote os resultados e compare-os.
Referências
COLIN, Ronan. História ilustrada da ciência. São Paulo: Ed. Círculo do Livro, 1983. v.1.
GALDINO, Luiz. Peabiru: os Incas no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Estrada Real Ltda, 2002.
ROSA, Guimarães. Grande sertão: veredas. 19.ed. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 2001.
Aula
2
Apresentação
N
esta segunda aula, o tema a ser abordado é: Terra – litosfera e hidrosfera. Inicialmente,
situaremos nosso planeta no sistema solar, apresentando algumas das suas
características físicas em relação a outros planetas. Na seqüência, trataremos da sua
constituição estrutural e química enfatizando a formação de duas das suas camadas: a litosfera
e a hidrosfera. Ao final, levando em consideração a sistêmica, percebemos a necessidade de
visualizarmos a Terra como um sistema único, constituído de dois tipos de matéria: a inanimada
e a animada; e, assim, por vários subsistemas. Portanto, ao estudá-la na sua plenitude,
concentraremos a atenção na matéria que a constitui, na energia que a torna dinâmica e na
vida que a difere dos demais planetas.
Objetivos
Permitir que você defina a Terra como planeta, caracterize-a
estruturalmente e a veja como um amplo sistema, constituído de
vários subsistemas, dentre os quais destacam-se os reinos: animal,
vegetal e mineral.
formule definições;
1
aprecie contextos temáticos e extraia destes as informações
2 necessárias à compreensão da aula;
o que é a Terra?
Visões do que seja a Terra, nosso planeta, exige do interlocutor não somente uma cultura
geral, mas também, noções das leis e princípios que regem a sua dinâmica. A finalidade
maior de tais conhecimentos é saber aplicá-los a diversas situações do dia-a-dia, missão
extremamente complexa de ser realizada na íntegra por qualquer ser humano, sendo, por
isso, interesse da ciência.
As primeiras tentativas a esse respeito foram feitas pelos filósofos gregos. A visão de
mundo mecânica/religiosa, decorrente de um mundo em movimento e perfeito, obra da criação
geométrica de Deus, defendida por filósofos como Pitágoras, Parmênides e Platão, suplantou
as mais antigas, defendidas pelos organicistas como Tales, Anaximandro e Heráclito, que
consideravam todo o cosmos (o Universo) como vivo.
Entretanto, já bem próximo ao final do século XX, ressurge uma das vias de construção
da ciência. Nela, a visão mecanicista do mundo, com a qual convivemos por tanto tempo,
cedeu lugar à organicista, renascida da própria tecnologia gerada pelo mecanicismo. O homem
construiu um conhecimento que o permitiu desenvolver a teoria da relatividade, elaborar o
Uma das razões para se fazer uso da sistêmica com a finalidade de refinar o estudo da Terra
é que ela permite antever e pesquisar os vários micro-sistemas (subsistemas), constituintes
de macro-sistemas, na tentativa de aquisição de conhecimento do conjunto. Como exemplos
de sistemas, citamos: o homem – nervos, circulação, respiração, visão, audição, digestão,
entre outros; o carro – carburação, injeção, frenagem; os minerais – composição, estrutura,
simetria; e, até mesmo a Terra, que engloba os exemplos anteriores.
Essas questões servem também como princípio norteador para concentrarmos nossa
atenção no sistema em estudo, deixando de lado os detalhes menos importantes. Por exemplo,
ao escolhermos a Terra, perguntaríamos: quantas e quais são as partes que a integram? A
resposta quantitativa será três, enquanto a qualitativa será: matéria, energia e vida.
Olavo Bilac
O Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído por uma estrela de porte médio, o Sol, e pelos planetas
Plutão Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão (ver Figura 1).
Figura 1 – O Sistema Solar: constituição e distância do planeta ao Sol (Relativas à Terra e expressas em unida-
des astronômicas: 1 UA = 149.597.890 km)
Atividade 1
A partir das leituras do poema e do primeiro parágrafo do texto, o
1 qual trata a respeito do Sistema Solar, que título você atribui ao
poema de Olavo Bilac?
Atividade 2
Estrutura
A Terra, dentre suas peculiaridades, é vista como um planeta ativo e dinâmico com forma
aproximada de uma esfera, constituído por três compartimentos de natureza física diferentes
e que interagem de forma complexa. São eles:
a litosfera;
e a atmosfera.
Esses três meios definem a biosfera, região do planeta que congrega os seres vivos
e onde a vida é possível em permanência. Dentre os múltiplos aspectos que caracterizam a
biosfera, dois são extremamente importantes para sua dinâmica e sobrevivência. O primeiro,
a água, deve se encontrar em permanência no estado líquido. O segundo, a luz solar, banha
a biosfera em fluxo contínuo sendo o seu único aporte de energia, a partir da qual os vegetais
e, indiretamente os animais, elaboram todas as substâncias orgânicas de que necessitam
para produzir energia química e mecânica, vitais ao seu crescimento, reprodução e as suas
funções de relações.
Atividade 3
A resposta é bem fácil e talvez você já a conheça. Todos os objetos materiais com os quais
você tem contato no seu dia-a-dia são feitos de átomos, tijolos fundamentais, responsáveis
pela edificação da matéria. Eles são constituídos por três tipos de partículas presentes em
duas regiões distintas: a central, núcleo onde estão alocados os prótons, que são partículas
de carga positiva (+), e os nêutrons, partículas desprovidas de carga, e outra, onde estão os
elétrons, de carga negativa (-), partículas que descrevem órbitas em torno do núcleo, dando
origem à eletrosfera (ver Figura 3).
Os elementos são responsáveis pela edificação material dos planetas e da vida. Dada a
nossa fértil imaginação, somos levados a acreditar numa espécie de reencarnação cósmica, a
partir da qual cada átomo constituinte do nosso corpo tenha percorrido vários astros diferentes
antes da formação do Sol, que com sua luz banha o nosso planeta. Nesse percurso, cada um
dos átomos, certamente, fez parte da arquitetura da matéria de uma série de organismos
diferentes desde a formação da Terra. Portanto, planetas, estrelas e organismos nascem e
morrem, mas os elementos químicos, reciclados de um corpo a outro, obedecem às leis da
conservação que expressam: a matéria e a energia não podem ser criadas nem destruídas,
mas apenas transformadas de uma forma em outra. Isso nos permite afirmar que os
elementos são eternos.
A litosfera
Do grego líthos, pedra + sphere, esfera, como indica a própria etimologia da palavra, a
litosfera é parte sólida da Terra, constituída pelos continentes, ilhas e fundos oceânicos. Ela
não é contínua, mas sua crosta é formada por vários blocos de rochas chamados de placas
tectônicas, as quais se encaixam umas nas outras como na montagem de um grande quebra-
cabeça, cujo plano de encaixe é o manto, zona que apresenta certa plasticidade.
a Terra é oca?
os continentes se movem?
Com o objetivo de responder a essas questões, vamos, em uma primeira etapa, aprender
a caracterizar a estrutura da Terra, para em seguida, de posse dos argumentos necessários,
fornecer as devidas respostas.
Partindo do centro da Terra, podemos distinguir várias regiões, descritas a seguir, que
lhe são características (ver Figura 5).
• Mesosfera: região com espessura compreendida entre 700 e 2900 km. Quase
totalmente inserida no manto inferior, constitui-se em grande extensão por Silício,
Magnésio, Oxigênio e quantidades menores de Ferro, Cálcio e Alumínio.
Atividade 5
Com quais das regiões descritas na Figura 5 você interage no seu
1 dia-a-dia?
A Terra é oca?
Os continentes se movem?
A hidrosfera
Como já vimos, a hidrosfera forma o compartimento líquido da Terra, sendo praticamente
constituída por moléculas de água. Você sabe explicar a origem da água líquida em nosso planeta?
A hidrologia, área que estuda a dinâmica da água sobre a Terra, demonstra que, a cada
ano, evaporam-se dos oceanos cerca de 1,2 x 1014 m3 de água, os quais retornam na forma de
chuva diretamente para os oceanos ou, indiretamente, a partir dos continentes ou de outros
mananciais aquáticos.
Do Oceano Pacífico: 179,25 milhões km², incluindo Mar da China Meridional, Mar de Ojtsk,
Mar de Bering, Mar do Japão, Mar da China Oriental e Mar Amarelo (49,7% das águas)
Do Oceano Atlântico: 106,46 milhões km2, incluindo Oceano Ártico, Mar do Caribe, Mar
do Norte, Mar Mediterrâneo, Mar da Noruega, Golfo do México, Baia de Hudson, Mar da
Groenlândia, Mar Negro e Mar Báltico (29,5% das águas)
Do Oceano Índico: 74,92 milhões km², incluindo Mar da Arábia, Golfo de Bengala e Mar
Vermelho (20,8% das águas)
Atividade 7
Com base nos dados anteriores, você é capaz de determinar os
1 percentuais das áreas correspondentes:
às terras emersas;
ao oceano Pacífico;
ao oceano Atlântico;
ao oceano Índico.
Fonte: SUSSMAN, A. Guia para o planeta Terra. São Paulo: Cultrix, 2000.
Atividade 8
Prepare uma tabela como a fornecida no exemplo abaixo.
Atividade agrícola
Açu Rio Salobra Sim xxxxx 2000
e industrial
Consumo
humano e
Orós Açude Doce Não 10.000.000 xxxxx
atividades
recreativas
Assim, podemos utilizar, sempre que necessário, a palavra sistema para descrever algo
constituído de diversas partes que se juntam para formar um todo interligado. Por exemplo, o
homem, um micro-sistema, está interligado ao sistema Terra, um macro-sistema, de extrema
complexidade, conforme podemos visualizar na Figura 7.
Atividade 9
Como você analisa o verso de Olavo Bilac: a Terra é um todo?
Ao estudarmos a Terra como um sistema, devemos dedicar especial atenção aos seus
três constituintes mais nobres: a matéria, a energia e a vida, tríade indissociável. Portanto,
para compreendermos o sistema Terra de forma integrada, devemos dedicar a máxima atenção
a três princípios que atuam de forma conjunta e que são: os ciclos da matéria, os fluxos de
energia e as teias da vida. É isso que propomos fazer nos próximos quatro anos dos Cursos
de Licenciatura em Biologia, Física, Matemática e Química.
Autoavaliação
A palavra TERRA, originária do latim, apresenta vários sinônimos. Aqui, listamos
1 alguns (ver Figura 8). Consulte o dicionário de língua portuguesa e anote os
significados possíveis para cada um deles.
(1) Município
(2) Estado
(3) País
(4) Continente
(5) Planeta
(6) Sistema Solar
(7) Universo
Referências
ASIMOV, I. Asimov explica. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1986.
ASIMOV, I. 111 Questões sobre a Terra e o espaço. 2.ed. São Paulo: Best Seller, 1991.
Aula 2
50
Anotações
Aula
3
Apresentação
Nesta terceira aula, continuaremos discutindo a aplicação da abordagem científica visando
explicar o mundo a nossa volta.
Depois da superfície, nada está mais perto de nós que a atmosfera da Terra e é esse
imenso oceano gasoso no qual estamos imersos que estudaremos agora. De tão acostumados
a ela, nem a percebemos, mas através do clima e do tempo sofremos sua interferência em
nosso dia-a-dia, até mesmo na roupa que vestimos. Focalizaremos, nesta aula, as principais
características da atmosfera terrestre e algumas de suas influências sobre nossa vida.
Objetivos
Ao final desta aula, esperamos que você seja capaz de:
Atividade 1
Faça uma relação das coisas que você observa quando deseja saber se
vai chover. Se achar necessário, consulte outras pessoas para saber o que elas
observam e por que acham que os indícios apresentados serão importantes para
lhe dar uma resposta.
Você pode ter respondido que olha o céu para verificar se está nublado ou se existem
nuvens escuras formando-se no horizonte; verifica se a temperatura mudou; dentre outros
indícios. E, com isso, faz sua estimativa quanto à probabilidade de chuva, algumas vezes,
acertando, outras, não. Outros podem fazer estimativas de longo prazo à procura de indícios
para o comportamento da estação chuvosa (assunto de nossa aula 8: Clima e tempo).
Figura 1 – Imagem da América do Sul obtida pelo satélite LANDSAT disponibilizada na Internet pelo INPE/CPTE e
Imagem de um satélite de sensoriamento remoto mostrando a superfície da Terra vista por ele.
Fonte: CPTEC – Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos. Disponível em: <www.cptec.inpe.br>.
Essa é fácil! Sol e água no solo (em lagos, rios, mares e principalmente nos oceanos).
Sem isso, a natureza não pode iniciar o processo que leva à chuva. Além da água existente nos
oceanos (os oceanos são a principal fonte de nuvens, as quais levadas pelos ventos podem se
deslocar por centenas ou milhares de quilômetros para dentro dos continentes) e no solo, o
vapor produzido pelas plantas nas florestas e matas através da evaporação também contribui
para a formação de nuvens, por isso o desmatamento, além de outros problemas ambientais,
pode reduzir a quantidade de chuvas na região.
Começaremos imaginando um lago ou um açude cheio. Você já deve ter percebido que
mesmo não tirando água desses locais eles secam gradativamente com o tempo. Aqui, vale a
pena lembrarmos de que na maioria dos reservatórios a céu aberto, perde-se mais água por
evaporação do que por consumo, foi o que ocorreu com o Itans, em Caicó/RN, por exemplo.
Isso acontece por causa da evaporação.
Você deve, acertadamente, ter lembrado que a água evaporada vai, ajudada pelos ventos,
ser levada para cima e acaba formando as nuvens. Assim, devido à ação do sol (calor), a água
evapora e o vento se encarrega de conduzir o vapor até uma altura em que a temperatura seja
suficientemente baixa a ponto de permitir sua condensação. Nessas alturas, que são bastante
variáveis, temos as nuvens formando-se a partir daquela água que evaporou.
Muito bem, você sabe a que altura estão aquelas nuvens brancas que se movem no céu?
Uma dica para ajudá-lo a responder: as nuvens estão muito acima do edifício mais alto
de sua cidade. Imaginando agora que a altura de cada andar seja da ordem de 4,0 metros (a
abreviatura de metro é m), um prédio de 20 andares teria 20 × 4,0 = 80,0 m. Esse valor, 80,0 m,
é muito grande, se comparado com a altura média de um homem adulto, 1,70 m. No entanto,
ainda é muito pouco se comparado à distância das nuvens. Elas, em geral, estão a 3000 m de
altura, isto é, 3,0 quilômetros (a abreviatura de quilômetro é km).
Atividade 2
Pense e responda.
Mas, por que a água que evaporou se condensa a uma considerável altura? Pelo simples
fato de que, à medida que subimos na atmosfera, a temperatura ambiente diminui e quando
é atingida a temperatura de orvalho (aproximadamente 15oC), o vapor d’água começa a se
condensar.
Mas, como compreender melhor essa variação da temperatura de nossa atmosfera? É esse
o próximo tópico de nossa aula.
A atmosfera terrestre
Você sabe o que é a atmosfera?
Pois bem, chamamos de atmosfera a envolvente gasosa que circunda um corpo celeste
qualquer. Podemos ainda acrescentar que a atmosfera terrestre é uma massa de ar, formada por
diversos gases presos à crosta pela ação gravitacional do planeta, incolor, insípida e inodora. Ela
é má condutora de eletricidade e horizontalmente estratificada e transparente para a radiação
visível e opaca, por exemplo, para os raios-x oriundos do espaço.
Além da Terra, outros corpos celestes podem possuir atmosfera (mas, atenção! Nem todo
corpo celeste possui atmosfera). Como exemplo, nosso satélite natural, a Lua, não possui
atmosfera, mas Titan, satélite de Saturno, sim.
Mas, se a Terra atrai para o seu centro as gotículas de água que formam o vapor produzido
durante a evaporação, como é que elas conseguem vencer esta atração e subir, formando as
nuvens? Certamente, era nisso que você estava pensando, não era!
Muito bem, elas sobem pelo mesmo princípio de um balão alimentado com ar quente ou
cheio de hidrogênio, ou de um pedaço de isopor quando volta rapidamente à superfície ao ser
mergulhado na água. Isso tem a ver com a densidade e com uma força chamada de empuxo.
Atividade 3
Uma das perguntas com a qual, muitas vezes, nós, professores e alunos, nos
defrontamos é “Por que uma moeda afunda e um navio flutua?” Para identificar
o que ocorre nesse caso, procure solucionar o seguinte desafio: como você faria
para fazer flutuar um bastão de massa de modelar sem colocá-lo sobre um outro
corpo? Tente fazer essa experiência e relate como conseguiu resolver o problema.
Como sabemos, a água é mais densa que o ar, mas quando os raios do Sol aquecem a
água do açude, as gotinhas que evaporam, quando são aquecidas, se dilatam, aumentando de
volume sem variação de massa, logo, sua densidade diminui.
Dessa forma, com a densidade diminuindo até atingir um valor menor que a densidade
do ar é que essas gotinhas acabam subindo. E, como já dito, sobem até se condensarem.
Figura 2 – Comportamento da temperatura da atmosfera em função da altura. Note também que de acordo com
o comportamento da temperatura (curva tracejada) a camada recebe um nome específico.
Nossa pergunta está respondida. Contudo, precisamos entender melhor a atmosfera terrestre.
Em se tratando de Troposfera, a primeira questão que surge é: qual o motivo para tal
comportamento da temperatura da atmosfera, isto é, por que ela decresce com a altura?
No entanto, verificando novamente o gráfico, você verá que logo acima da Troposfera a
temperatura começa a subir. Essa foi uma descoberta importante. Ela indica que existe uma
fonte de calor acima dessa primeira camada que, ao contrário, faz com que haja aumento na
temperatura com a altura atingida.
A explicação para esse fato está na existência da camada de ozônio, que ao absorver
parte da radiação ultravioleta solar incidente na atmosfera se torna uma fonte de calor,
emitindo no infravermelho.
A camada de ozônio é duplamente importante para o nosso planeta: primeiro, por absorver
radiações que são nocivas aos organismos vivos habitantes da superfície; segundo, por contribuir
para a temperatura de nosso planeta, ajudando a mantê-la nos níveis que se encontra atualmente.
Será que essas preocupações têm fundamento? E, o que isso tem a ver com nossa aula?
Vejamos o que foi exposto no jornal Folha de São Paulo em sua edição de 07/11/2001:
Fonte: Folha On-Line. Disponível em: <www.folha.uol.com.br/folha>. Acesso em: 07 nov. 2001.
Verifica-se que o artigo não apresenta uma justificativa para o fato de nossos jogadores
serem afetados pela altura. Vejamos, então, qual pode ser a explicação. Agora, para
compreendermos essa relação, precisaremos dos conceitos de densidade e pressão.
Ou seja, verificamos que tanto a densidade quanto a pressão caem rapidamente com a
altura. A 25 km de altura, a densidade já é tão baixa que seria impossível para qualquer um de
nós respirar. A densidade é tão baixa que não permite que aviões voem a determinada altura.
20
16
ALTITUDE/km
4
12
3,5
PRESSÃO 3
8
DENSIDADE 2,5
2
4
0
0 0.6 0.7
0
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1
Atividade 5
Como você já sabe, a densidade pode afetar a respiração. Podemos
voltar a ler o texto do jornal e observar o gráfico da Figura 3 para responder
às questões propostas.
O valor 0,8, por exemplo, significa que à altura correspondente, ou seja 2,0 km, a
densidade é da ordem de 80% do valor na superfície. Assim, quando subimos 2,0 km, temos
menos 20% de oxigênio e nitrogênio disponíveis para respirar.
Como se verifica nas respostas que você deu à atividade anterior, os nossos locutores
e jornalistas desportivos não deixam de ter razão, a diferença relativa é da ordem de 30% e
nosso organismo necessita de algum tempo para se acostumar com esse ar mais rarefeito.
Uma das características mais interessantes da atmosfera, que nos passa despercebido,
é que ela possui peso e esse peso é responsável por aquilo que chamamos de pressão
atmosférica. A atmosfera exerce pressão sobre o nosso corpo, sobre a superfície terrestre e
sobre qualquer objeto que esteja em contato direto com ela. Estamos sofrendo o tempo todo
a ação da pressão, no entanto, todos os nossos órgãos internos e externos estão habilitados
pela natureza para conviver nesse ambiente. O que acontece conosco quando subimos muito
alto? Nosso ouvido dói. Isso ocorre porque a pressão externa diminui e a parte interna do ouvido
força os tímpanos para fora, provocando a sensação de dor.
Mas, muitas coisas acontecem no interior das nuvens de chuvas, o qual é um local bastante
conturbado. Ventos ascendentes e descendentes levam gotinhas para cima e para baixo e com
elas, cargas elétricas são acumuladas em distintas posições dentro das nuvens, o que cria fortes
campos elétricos nessa região. Quando esses campos se tornam “suficientemente altos”, acabam
por provocar o movimento de cargas elétricas que tentam assim neutralizar as nuvens. Esse
deslocamento, que nos fios elétricos de nossas casas é chamado de corrente elétrica, nas nuvens
E o trovão? Este nada mais é do que uma onda de choque produzida pela expansão súbita do
ar em virtude de seu rápido aquecimento, provocado pelo raio, ou seja, apenas um efeito sonoro.
Leia um pouco mais sobre esse assunto no trecho a seguir, extraído de uma reportagem
publicada na Revista Scientific American, Edição Nº 20 – janeiro de 2004.
Devemos lembrar ainda que nem todas as nuvens apresentam as condições necessárias
para que se tenha a formação de relâmpagos, os quais ocorrem basicamente em um só tipo de
nuvem: as cumulum nimbus (na aula 8, quando abordaremos clima, apresentaremos maiores
detalhes sobre esse tipo).
Além disso, assim como os raios, há três tipos de relâmpagos. O primeiro é o que ocorre
dentro das nuvens, isto é, em uma mesma nuvem ou naquelas que estão próximas. Um outro,
muito freqüente, é do tipo nuvem-solo, e o terceiro, muito mais raro, do tipo solo-nuvens.
Aqueles que tocam o solo (80%) podem ser divididos em descendentes (nuvem-solo)
e ascendentes (solo-nuvem). Os que não tocam o solo podem ser basicamente de três
tipos: dentro da nuvem, da nuvem para o ar e de uma nuvem para outra. O tipo mais
freqüente dos raios é o descendente. O raio ascendente é raro e só acontece a partir de
estruturas altas no chão (arranha-céus) ou no topo de montanhas (torres, antenas). Os
raios ascendentes têm sua ramificação voltada para cima.
(SABA, 2001)
É interessante lembrarmos que entre os benefícios oriundos da ação dos raios está a
própria vida. Sabemos que a síntese de material orgânico na atmosfera terrestre primitiva se
dá na presença de descargas elétricas. Essa síntese passa pela formação dos coacervados
(sobre esse assunto, você pode consultar a Internet, por exemplo, o site www.portalbrasil.
net/educacao_seresvivos_origem.htm), tijolos fundamentais que antecedem a matéria viva.
Por outro lado, ao cair em regiões como a dos cerrados brasileiros, provocando incêndios,
os raios ajudam na renovação do solo e da vida do ecossistema. Lembre-se: os incêndios do
tipo queimada e outros são muito diferentes dos provocados por raios, pois não respeitam
os ciclos da natureza e em geral acabam poluindo o ar e empobrecendo o solo, ao destruírem
importantes nutrientes.
Autoavaliação
Uma pessoa conta que durante uma tempestade ouviu um forte estrondo. Ela acredita
1 ter sido causado pelo maior trovão que já existiu.
Logo depois, viu um clarão que iluminou todo o terreiro e o alpendre da casa (um
relâmpago!). Essa história tem consistência física? Ou seja, a seqüência de eventos
está correta? Justifique sua resposta.
troposfera Negativo
30−50 Positivo
Mesosfera 50−80
acima de 80km
Figura 4
Supondo que a densidade do ar ao nível do mar seja de 1,2 kg/m3, qual a densidade do
4 ar em La Paz ? E a densidade do ar a 12000 m (a altura em que os aviões a jato voam)?
INPE: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – São José dos Campos SP, Brasil.
Referências
CPTEC – Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos. Disponível em: <www.cptec.inpe.
br>. Acesso em: 20 jun. 2005.
GOODY, Richard M.; WALKER, James,C.G. Atmosferas planetárias. São Paulo: Ed. Blucher, 1996.
PINTO JÚNIOR, Osmar; CARDOSO, Iara. Relâmpagos. São Paulo: Edusp, 1992.
Aula
4
Apresentação
N
esta aula, estabeleceremos alguns conceitos, tais como: biosfera e bioma. Em
seguida, caracterizaremos o Bioma Caatinga, que representa o semi-árido do
Nordeste do Brasil, temática de nosso curso. Abordaremos aspectos amplos desse
ambiente, com uma caracterização do solo e dos recursos minerais, denominados de fatores
abióticos. Na aula seguinte (aula 5 – Bioma Caatinga – recursos hídricos), terminaremos de
estudar os fatores abióticos com os recursos hídricos, e na aula 6 (Bioma Caatinga – recursos
florestais e fauna), estudaremos os fatores bióticos do Bioma Caatinga, representados por
sua flora e fauna. Enfoques sociológicos, econômicos, culturais, filosóficos e políticos, em
relação à Caatinga, você verá na disciplina “Educação e Realidade”.
Objetivos
Você deverá, ao final desta aula, ser capaz de:
E
ntende-se por biomas, grandes unidades geográficas, caracterizadas por um determinado
clima e formações vegetais peculiares e neles predominantes. Os biomas são fortemente
influenciados pelo clima, sendo assim independentes do continente em que estão
presentes (Europa, Américas, África, Ásia ou Oceania). Há semelhanças entre algumas
paisagens nesses diferentes continentes, desde que sejam de climas parecidos. Os biomas
são separados primariamente pela latitude (e indiretamente, pelo clima).
Savana,
Deserto Quente,
Mediterrâneo,
Deserto Frio,
Tundra Ártica,
Pradaria Temperada e
Mata Atlântica,
Cerrado,
Pantanal,
Amazônia Central e
Caatinga.
Esses tipos estão também incluídos na classificação dos biomas terrestres, mas de acordo
com o país onde ocorrem, eles podem ter uma denominação diferente, por exemplo, a savana
da África é chamada de cerrado no Brasil.
Bioma Caatinga
Atividade 1
As regiões naturais que formam as Caatingas são também chamadas de Sertão, Seridó,
Curimataú e Carrasco. O termo Caatinga tem origem tupi-guarani e significa mato (caa)
branco (tinga).
A Caatinga é uma região que se caracteriza por clima seco e semi-árido, com grande
fragilidade ambiental e econômica devido à escassez e distribuição irregular das chuvas,
englobando uma área de aproximadamente 1.048.957 km2 (cerca de 12,14% do território
nacional), com relevo modesto, altitude variável entre 40 e 1.100 metros acima do nível do
mar. Abrange os estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco (inclusive o Distrito Estadual
de Fernando de Noronha), Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Maranhão e o norte de
Minas Gerais (Polígono das Secas), onde estão inseridos 1.280 municípios com uma população
aproximada de 28.098.321 habitantes (IBGE, 2000).
Você terá uma caracterização melhor da flora da Caatinga na próxima aula e quando
estudar a disciplina “Biodiversidade”.
Atividade 2
De acordo com a sua importância biológica, muitos locais do Nordeste estão tendo
tratamento especial com programas de preservação de seus recursos naturais, incentivo
a projetos de pesquisa que visem o estudo de suas características naturais, incentivo ao
ecoturismo e trabalhos de educação ambiental com as comunidades locais.
Essas unidades apresentam diferentes climas, relevos e seres vivos. Sendo que umas já
foram mais bem estudadas do que outras.
Atividade 4
Tente identificar em qual ecorregião sua cidade situa-se e verifique se em seu
município, ou próximo a ele, existem unidades de conservação do meio ambiente.
Área com insuficiente conhecimento e, portanto, prioritária para pesquisa científica (25 áreas).
Sendo assim, a riqueza de um solo está relacionada a sua fertilidade e aos elementos que
possui em suas camadas superficiais ou profundas. Você já estudou, na terceira aula desta
disciplina, aspectos em relação à litosfera, porção de nosso planeta que constitui as terras.
Do uso que fazemos do solo, depende o futuro de nossa sociedade!
Solo
Quando nos referimos ao solo, imediatamente nos vem à mente a sua utilização
econômica, principalmente para a agricultura. Esse aspecto está relacionado à disponibilidade
de água (a permeabilidade do solo à água) e aos seus recursos minerais.
Nas áreas de solos menos férteis, existem afloramentos de rochas graníticas, que ainda
não sofreram intemperismo, permeadas por pequenos pedaços de rochas de diferentes
tamanhos. A vegetação reflete a escassez de água e de nutrientes e ocorre em manchas de
solo específicas e até mesmo nas frestas de rochas graníticas, com numerosa variedade de
cactáceas e bromeliáceas. No interior e em torno dessas plantas, encontramos ambientes
propícios para a proliferação de outras espécies vegetais.
Figura 4
Fonte: Figura adaptada de SUASSUNA, João. O processo de salinização das águas superficiais e subterrâneas no Nordeste brasileiro.
Disponível em: <http://www.fundaj.gov.br/docs/tropico/desat/orig2.html>. Acesso em: 12 jul. 2005.
O Escudo Cristalino é formado por solos geralmente rasos, com cerca de sessenta
centímetros de profundidade. Possui baixa capacidade de infiltração, alto escorrimento
superficial e reduzida drenagem natural. Possibilitando pouco armazenamento de água entre
fendas e fraturas na rocha, que se denomina de aqüífero fissural. Em regiões de solos aluviais,
formam pequenos reservatórios superficiais e de baixa qualidade (águas ricas em cloro),
sujeitos à ação da evaporação e a bombeamentos. Essas águas de fendas de rochas cristalinas
são, em sua maioria, de qualidade inferior e normalmente servem apenas para o consumo
animal; no entanto, algumas vezes, devido à escassez de água, atendem ao consumo humano
e mais raramente à irrigação.
Esse tipo de solo localiza-se em praticamente todo o interior do Ceará; na parte meridional
do Rio Grande do Norte; em todo o interior da Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe;
bem como no centro-sul do Estado da Bahia, constituindo um conjunto que corresponde a
720 mil km2, cerca de 45% de superfície do Nordeste.
Figura 6
Fonte: Figura adaptada da obra de SUASSUNA, João. O processo de salinização das águas superficiais e subterrâneas no Nordeste brasileiro.
Disponível em: <http://www.fundaj.gov.br/docs/tropico/desat/orig2.html>. Acesso em: 12 jul. 2005.
Uma das formas de se classificar os solos está associada à sua erodibilidade, ou seja,
sua susceptibilidade de sofrer erosão, a qual ocorre devido ao trabalho mecânico de desgaste
realizado por águas correntes ou ventos. Sendo assim, os solos podem possuir erodibilidade:
A maior parte do solo da Caatinga apresenta limitações para o uso sustentável com
atividades agrícolas. Apesar disso, agriculturas dependentes de chuva, familiares e, em menor
proporção, as empresariais, continuam presentes em áreas de solos com alta vulnerabilidade
à degradação. O uso inadequado dessas áreas pode levar à degradação, à desertificação e ao
assoreamento de rios e reservatórios de água.
Atualmente, sabe-se que o estado dos solos de alguns locais da Caatinga é reflexo de
pelo menos 57 anos de uso inadequado, principalmente nas áreas onde foram implantadas
culturas voltadas para a industrialização, como é o caso das culturas de algodão até o início
da década de 1990.
Com relação à agricultura familiar, podemos dizer que, mesmo sendo menos agressiva,
ela foi historicamente realizada em áreas mais vulneráveis e, apesar do sistema de reciclagem,
os períodos de espera foram insuficientes para a recuperação ideal desses solos.
Os recursos minerais
Os recursos minerais representam materiais com valor econômico presentes no solo
ou subsolo. Na Caatinga, podemos destacar pelo menos 71 diferentes minerais; destes, três
ocorrem de forma generalizada: água mineral, argila e areia. Os estados com maior riqueza
em números de substâncias são: o Ceará, a Bahia e o Rio Grande do Norte. As substâncias
de maior distribuição regional são: o caulim (em cinco estados), o berilo, o ferro, o gipsito, o
ouro, o quartzito e a turmalina (em quatro estados).
Na maioria das vezes, a utilização dos recursos minerais como fonte de renda, deve-
se principalmente à degradação da situação econômica da região. Tal prática proporciona
geração de renda, em geral, sem que fatores de preservação ambiental sejam considerados,
levando a uma rápida degradação do meio ambiente e esgotamento das possibilidades
econômicas dessa atividade.
É necessário que exista um acompanhamento dos diversos impactos que podem ser
causados ao meio ambiente na atividade mineradora através do EIA-RIMA (Estudo de Impacto
Ambiental – Relatório de Impacto Ambiental), Relatório de Controle Ambiental e Plano de
Recuperação de Áreas Degradadas, levando à utilização sustentável dos recursos naturais,
através de um manejo adequado dos recursos disponíveis no Bioma Caatinga.
poluição ambiental (do ar, da água e do solo), devido à utilização de produtos químicos
nos processos de extração e processamento mineral, como o ouro, por exemplo;
Atividade 7
Pesquise e procure informações sobre a existência em sua cidade de recursos
minerais e os processos de exploração, buscando responder às questões seguintes.
Autoavaliação
1 Conceitue, diferenciando e relacionando, biosfera, bioma e ecorregião.
Referências
AUDRY, Pierre; SUASSUNA, João. A qualidade da água na irrigação do trópico semi-árido: um
estudo de caso, In: SEMINÁRIO FRANCO-BRASILEIRO DE PEQUENA IRRIGAÇÃO, PESQUISA
E DESENVOLVIMENTO, Recife. Anais..., Recife: SUDENE; Embaixada da França, 1990.
BRASIL. Agência Nacional de Águas. Disponível em: <www.ana.gov.br>. Acesso em: 20 jun. 2005.
CONSELHO NACIONAL DA RESERVA BIOMA CAATINGA. Cenários para bioma caatinga. Recife:
SECTMA, 2004.
DEMÉTRIO, José Geilson Alves; DOHERTY, Frederico Roberto; ARAUJO FILHO, Paulo Frassinete
de; SCHEFFER, Simone. Qualidade de água subterrânea no Nordeste brasileiro – comunicação
oral. In: Reunião Anual da SBPC, 45, Recife. Anais da Reunião..., Recife, 11 a 16 de julho de
1993. p. 79.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Atlas nacional do Brasil: Região Nordeste:
Rio de Janeiro, 2000.
MELLO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina. Disponível em: <http://www.nilc.icmc.
usp.br/literatura/morteevidaseverina.htm>. Acesso em: 12 jul. 2005.
PURVES, Willian; et al. Vida: a ciência da biologia. Tradução Anapaula Somer Vinagre. 6.ed.
Porto Alegre: Artmed, 2002.
SAMPAIO, E. V. S. B.; GIULIETTI, A. M.; VIRGÍNIO, J.; et al. Vegetação e flora da caatinga.
Recife: Associação Plantas do Nordeste; Centro Nordestino de Informações sobre Plantas,
2002.
Anotações
Aula
5
Apresentação
Euclides da Cunha, em Os Sertões, sintetiza de uma forma emblemática o drama da seca
para o homem nordestino do semi-árido (Bioma Caatinga).
Nesta aula, traçaremos um perfil da situação da água no mundo para então caracterizarmos
o semi-árido nordestino em relação a seus recursos hídricos e à escassez de água no período
entre os chamados “invernos”, quando ocorrem as chuvas. Com esse enfoque, concluiremos
a caracterização dos fatores abióticos desse ambiente, iniciada na aula passada com o estudo
do solo e dos recursos minerais.
Objetivos
Após estudar esta aula, você deverá ser capaz de:
C
omo você deve estar lembrado da aula 2 de nosso curso, estima-se que exista 1
bilhão e 600 milhões de km3 de água em nosso planeta. Subtraindo a água cristalizada
quimicamente e a associada às rochas, o volume que resta é em torno de 1 bilhão
e 370 milhões de km3. No entanto, cerca de 97,2% desse volume corresponde à água do
mar que, como você sabe, é salgada e não serve para a maioria dos usos que fazemos dela.
Dos 2,8% restantes, quando subtraímos a água presa nas calotas e nas geleiras polares
e a que existe na forma de vapor d’água na atmosfera, que são indisponíveis para o nosso
uso, restarão apenas 8 milhões e 200 mil km3 de água doce na fase líquida. Esse valor
representa apenas 0,6% do total! Por isso, a água doce disponível é considerada um bem
indispensável e primordial para a sobrevivência dos seres vivos, devendo ser utilizada de
forma racional e parcimoniosa.
Algo que impressiona ainda mais é o fato de que os recursos hídricos superficiais
correspondem a apenas cerca de 2% de nossas reservas, ou seja 164 mil Km3, dos 8
milhões e 200 mil km3 da água doce! Ela está distribuída nos rios, lagos, barragens e
açudes. Os restantes 98%, ou um pouco mais desse volume, está “escondido” no subsolo,
representando o que se denomina de “água subterrânea”.
Existem registros indicando que desde os longínquos tempos, antes da era cristã, o
homem já utilizava essas águas. Inicialmente em nascentes e lençóis freáticos rasos, através
de escavações simples, a água era obtida para uso doméstico. Essa metodologia evoluiu
para cacimbas revestidas de pedra e posteriormente de tijolos. Novas formas de perfuração
hoje em dia consistem em sistemas mecanizados, possibilitando a construção de poços a
profundidades maiores e com maior vazão.
Nas três últimas décadas, segundo dados da UNESCO (United Nations Educational,
Scientific and Cultural Organization – http://www.un.org/), foram perfurados mais de 300
milhões de poços no mundo. A utilização da água subterrânea varia entre os países. A
Europa, por exemplo, é responsável por 75% da água utilizada pela população (podendo
esse percentual atingir 90% em países como Suécia, Holanda e Bélgica).
Atividade 1
A Carta da água é um documento assinado pelos principais países do mundo,
visando à preservação e ao uso racional desse inestimável recurso. Ela é composta
por 12 itens. Realize uma pesquisa e escreva todos os itens dessa carta, fazendo
uma breve interpretação de cada um.
As águas superficiais
do Nordeste brasileiro
Entendemos por águas superficiais as reservas de água doce depositadas na crosta do
planeta que compõem os reservatórios na forma de rios, lagos, açudes e outros.
Entre outros fatores, a qualidade das águas superficiais está relacionada com a natureza
da rocha, o tipo de solo e com o seu modo de acomodação. Por exemplo, o tipo de solo e do
subsolo são dois dos principais fatores que explicam as variações de qualidade das águas dos
riachos. O Brasil tem nove bacias hidrográficas, as quais estão representadas no mapa a seguir.
A Região Nordeste é permeada por partes de três bacias, e apenas a do São Francisco é
grande o suficiente para fazer parte desse macro-conjunto de bacias hidrográficas, como se
percebe na Figura 1. Mesmo assim, no Nordeste brasileiro, de acordo com a disponibilidade
das águas superficiais, foi feita uma classificação das várias bacias hidrográficas, todas
relacionadas com os principais rios da região, destacando-se a Bacia do São Francisco e a
Bacia do Parnaíba.
A Bacia do rio São Francisco é a terceira bacia hidrográfica do Brasil. Drena uma área
de 640.000 km² e ocupa 8% do território nacional. Cerca de 83% dessa bacia encontra-se nos
estados de Minas Gerais e Bahia, 16% em Pernambuco, Sergipe e Alagoas e 1% em Goiás e Distrito
Federal. Entre as cabeceiras (na Serra da Canastra, em Minas Gerais) e a foz (no oceano Atlântico,
localizada entre os estados de Sergipe e Alagoas), o rio São Francisco percorre cerca de 2.700
km. Entre outras coisas, o São Francisco é um rio com características que o tornam apto para a
produção de hidroeletricidade, além disso é navegável em um longo trecho dos estados de Minas
Gerais e Bahia. A figura a seguir mostra um mapa da Bacia do São Francisco.
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Atividade 2
Faça uma redação sobre a importância do “Velho Chico” abordando suas
características econômicas como fonte de energia elétrica e como hidrovia.
Discuta também aspectos culturais nordestinos relacionados a esse rio, como,
por exemplo, as carrancas do São Francisco.
Figura 3 – Mapa da bacia do Parnaíba e do São Francisco. Veja que a do São Francisco é muito maior que a do
Parnaíba e que ambos desaguam no Oceano Atlântico.
Fonte: CODEVASF – Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba. Recursos hídricos subterrâneos.
Disponível em: <http://www.codevasf.gov.br/menu/os_vales/municipios>.
Atividade 3
Faça uma redação sobre a importância do Rio Parnaíba abordando suas
características econômicas como fonte de energia elétrica, de turismo e como
hidrovia. Discuta também aspectos culturais nordestinos relacionados a esse rio.
Na região Nordeste, perfuram-se poços desde o século XIX, mas apenas a partir da
década de 60 do século passado, com a criação da SUDENE (Superintendência para o
Desenvolvimento do Nordeste – www.sudene.gov.br), a água subterrânea começou a ser
tratada com mais seriedade.
Um dos problemas com o aumento do uso da água subterrânea é que não houve planejamento
técnico para sua utilização, sendo resultado de consecutivos programas emergenciais de combate
aos efeitos da seca e de esforços isolados de companhias de saneamento.
Atividade 4
Tente identificar em qual das províncias hidrogeológicas citadas no texto o
seu município está inserido. Quais os principais rios que cortam sua cidade? Eles
são perenes? Sua cidade é abastecida por açudes, poços, por ambos, ou por rios?
Isso explica em parte o motivo pelo qual as secas continuam a afetar tanto a vida do
nordestino.
Seca
Leia a seguir um fragmento do poema “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de
Mello Neto.
O suprimento hídrico para o homem e os seres vivos na Caatinga está baseado em águas
subterrâneas de baixa e média profundidade, represadas em barreiros e açudes, e nas pequenas
reservas de água armazenadas no corpo de algumas plantas. Águas disponíveis nos aluviões
que constituem os fundos dos vales no Bioma (leitos secos e áreas adjacentes aos cursos de
água temporários) são extremamente insuficientes.
Como sabemos, na região Nordeste do Brasil, a quantidade de chuva anual está relacionada
à quantidade de meses sem chuva, levando à carência de água para o consumo humano e
animal, assim como, também refletindo na cobertura vegetal da região.
Atividade 5
Fonte: REDE GLOBO DE TELEVISÃO. Jornal Nacional. Seca castiga Pernambuco. (Matéria televisiva exibida em 10 fev. 2005). Disponível em:
<http://jornalnacional.globo.com/Jornalismo/JN/0,3586-p-10022005,00.html>. Acesso em: 23 mar. 2005.
Atividade 6
A partir de documentos de época ou na tradição oral que as registrou,
Euclides da Cunha em Os Sertões listou as maiores secas de que se tem notícia
desde o século XVIII até meados do século XX. Consulte o referido livro e
complete a tabela a seguir.
Como curiosidade, conta-se que a seca que ocorreu entre os anos 1877-79, chamada dos “três
setes”, é considerada a pior de todos os tempos, isso porque, somado à estiagem, houve um grande
surto de varíola, tifo e cólera, que levou à morte cerca de meio milhão de sertanejos.
No século XX, foram registradas secas nos anos de: 1900, 1915, 1932, 1942, 1951-53, 1970
e 1979-83. A grande seca que ocorreu entre os anos de 1979-83, apesar de sua intensidade, não
culminou com uma calamidade pública devido a melhorias nos meios de transporte que facilitaram
o êxodo das populações do interior para a periferia das capitais nordestinas. Esse fenômeno social
diferiu dos anteriores registrados nesse século, que devido à crise econômica as pessoas não
migraram como antes para as capitais do sudeste e sul do Brasil.
Problemáticas da Caatinga
A Caatinga enfrenta dois importantes problemas, o primeiro diz respeito ao processo
de salinização da água disponível e o segundo, à desertificação. Ambos podem causar sérios
danos ao meio ambiente com impactos sobre os seres vivos que habitam a região. Vejamos
cada um deles.
1) Salinização
Um problema no semi-árido nordestino é a crescente salinização de suas águas. Esse fato
deve-se principalmente a três fenômenos: dissolução ou intemperização (hidrólise hidratação,
solução, oxidação e carbonatação) dos minerais primários existentes nas rochas e no solo,
tornando-os mais solúveis; concentração dos sais pela ação do clima (nesse caso, pela taxa
de evaporação ser maior do que a precipitação pluviométrica); e através do fenômeno do
endorreísmo que não facilita a drenagem do solo.
Temos na região uma precipitação média anual entre 400 e 800 mm e uma evaporação
média anual de 1.500 a 2.200 mm! Como conseqüência, ocorre um aumento no teor de sal
das águas e do solo, fenômeno este denominado de salinização. Esses números refletem uma
situação extremamente grave, que exige das autoridades competentes providências no sentido
de minimizar os danos causados pelo homem ao meio ambiente.
Concentrações salinas altas podem causar distúrbios nos seres vivos. Segundo Laraque
(1991), as conseqüências causadas pela ingestão de concentrações salinas em diversos níveis
(considerar 640 mg/l de sais = CE 1000 usiemens/cm), nos organismos de animais (rebanho
e aves), podem ter as implicações a seguir.
< 1000 Teor de sal relativamente fraco. Excelente para todas as categorias de rebanho e aves.
Muito bom para todas as categorias. Mas, pode ocasionar uma diarréia temporária e leve nos
1000 – 3000
animais, que não estão habituados a essa quantidade, e fezes aquosas em aves.
Muito bom para os rebanhos, mas pode causar diarréia temporária naqueles animais que
3000 – 5000 não estão habituados ou ser rejeitada por estes no começo. Medíocre para aves, originando
evacuações líquidas e uma grande mortalidade, principalmente nos perus.
Razoavelmente segura para os rebanhos leiteiros e de corte, carneiros, porcos e cavalos. Evitar
5000 – 7000 a ingestão por animais gestantes ou para aqueles que estão amamentando. Não aceitável
pelas aves.
Impróprias para aves e provavelmente para o porco. Risco considerável se for utilizada por
vacas, jumentos ou ovelhas gestantes ou que estão amamentando, ou mesmo por seus filhotes.
7000 – 10000 Em geral, é preciso evitar sua utilização pelos ruminantes e monogástricos. Os riscos ligados
à utilização dessas águas muito salgadas são tão consideráveis que torna-se impossível a sua
utilização para quaisquer que sejam as circunstâncias.
Figura 4
Fonte: AUDRY, Pierre; SUASSUNA, João. A qualidade da água na irrigação do trópico semi-árido: um estudo de caso. Recife: SUDENE;
Embaixada da França, 1990. Disponível em: <http://www.fundaj.gov.br/docs/tropico/desat/estcaso.html>. Acesso em: 12 jul. 2005.
Como você estudou nas aulas passadas, a disponibilidade de água de determinada região
é dependente do índice pluviométrico dessa região. Se considerarmos uma área de 800 mil
Km2 com precipitação média anual de 600mm, teremos um volume anual total de precipitação
de 48 milhões de mm3. Desse valor, teremos uma perda em cerca de 88% (42.240 mm3) por
evaporação ou evapotranspiração; 8,5% (4.128 mm3) por escoamento superficial e 3,3%
(1.632mm3) por escoamento subterrâneo. Esse alto valor de evaporação e evapotranspiração
pode chegar em certas situações a 90%. Verificamos dessa forma uma enorme perda nesses
processos da água precipitada com a chuva, restando apenas cerca de 0,2% (96 mm3).
Além disso, outros fatores comprometem a água disponível para o consumo humano, a
pecuária e agricultura, entre eles: drenagem deficiente, má qualidade da água, características
físico-químicas do solo, manejo inadequado da irrigação, e erosão do solo e assoreamento
dos rios, causados pelo desmatamento das matas ciliares.
2) Desertificação
Esse fenômeno é resultado da remoção da cobertura vegetal da região, assoreamento dos
rios e baixo índice pluviométrico anual. Estudos importantes vêm sendo realizados quanto à
crescente desertificação de locais da região Nordeste, e também de outros estados brasileiros,
como no Rio Grande do Sul. No caso nordestino, esse problema é muito mais dramático pela
própria sensibilidade do Bioma Caatinga.
Atividade 9
Pesquise sobre iniciativas que estão em andamento para minimizar o
1 problema da desertificação e anote algumas que tenha considerado
particularmente importantes.
Será que, uma vez desviada, haverá, principalmente nos meses de seca, água suficiente
para as hidrelétricas e transposição? E o fator evaporação, será que não levará a uma redução
drástica nos volumes de água, assim como o impacto sobre a dinâmica climática do semi-
árido? Outro fator é o custo energético, já que são necessárias várias elevações de nível
de água. Por último, não devemos esquecer do impacto ambiental que um projeto dessa
envergadura pode ocasionar.
Atividade 10
Pesquise em fontes como jornais, revistas ou mesmo em conversa com
pessoas sobre as principais vantagens e desvantagens da transposição do São
Francisco. Faça uma tabela colocando de um lado as vantagens e de outro as
desvantagens e, finalmente, apresente em um breve texto sua opinião.
Resumo
Nesta aula, você estudou a presença e distribuição da água no mundo e no
Nordeste brasileiro, na superfície e no subsolo. Além disso, enfocamos
também, os problemas da seca e os impactos causados pelo clima semi-árido:
desertificação e salinização das águas.
Referências
AUDRY, Pierre; SUASSUNA, João. A qualidade da água na irrigação do trópico semi-árido:
um estudo de caso. Recife: SUDENE; Embaixada da França, 1990. Disponível em: <http://www.
fundaj.gov.br/docs/tropico/desat/estcaso.html>. Acesso em: 12 jul. 2005.
CARVALHO, Otamar de. Plano integrado para o combate preventivo aos efeitos das secas
no Nordeste. Brasília: MINTER, 1973. (Série desenvolvimento regional, 1)
DEMÉTRIO, José Geilson Alves; DOHERTY, Frederico Roberto; ARAUJO FILHO, Paulo Frassinete
de; SCHEFFER, Simone. Qualidade de água subterrânea no Nordeste brasileiro – comunicação
oral. In: Reunião Anual da SBPC, 45, Recife. Anais..., Recife, 11 a 16 de julho de 1993. p. 79.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Atlas nacional do Brasil: região nordeste:
Rio de Janeiro, 2000.
MELLO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina. Disponível em: <http://www.portrasdasletras.
com.br/pdtl2/sub.php?op=resumos/docs/textomorteevida>. Acesso em: 12 jul. 2005.
MOLLE, François; CADIER, Eric. Manual do pequeno açude: construir, conservar e aproveitar
pequenos açudes. Recife: SUDENE/ORSTOM/TAPI, 1992.
REDE GLOBO DE TELEVISÃO. Jornal Nacional. Seca castiga Pernambuco. (Matéria televisiva
exibida em 10 fev. 2005). Disponível em: <http://jornalnacional.globo.com/Jornalismo/
JN/0,3586-p-10022005,00.html>. Acesso em: 23 mar. 2005.
SUASSUNA, João; AUDRY, Pierre. Salinidade das águas disponíveis para a pequena irrigação
no sertão nordestino: caracterização: variação sazonal: limitações de uso. Disponível em: <http://
www.fundaj.gov.br/docs/tropico/desat/salrede.html>. Acesso em: 12 jul. 2005.
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Vitória
Oceano Atlântico
RJ
Rio de Janeiro
Aula
6
Apresentação
Caracterizaremos nesta aula a biodiversidade do Bioma Caatinga em relação a sua flora e
fauna. Inicialmente, apresentaremos um panorama dos tipos de vegetação encontrados nesse
ambiente e em seguida o tipo de vegetação chamado caatinga.
Objetivo
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de traçar um perfil dos
recursos bióticos do Bioma Caatinga a partir de sua flora e fauna.
V
ocê já deve ter ouvido falar em biodiversidade. Atualmente, tem sido dada muita atenção
ao meio ambiente e conseqüentemente a esse assunto. Mas, afinal, o que significa
essa palavra tão utilizada nos dias de hoje? Entende-se por biodiversidade a variedade
de espécies de seres vivos (animais, vegetais, fungos e bactérias) que habitam determinada
região geográfica.
flora silvestre, que são os vegetais naturais e nativos de uma região ou de um país. Por
exemplo, o Pinheiro-do-Paraná na Floresta de Araucária, a seringueira e a pupunha da
Floresta Amazônica e a Jurema da caatiga nordestina;
flora exótica, vegetais não nativos de uma região, introduzidos e adaptados a ela. Em
nossa região, podemos apresentar muitos exemplos de flora exótica, por exemplo, as
mangueiras, laranjeiras, limoeiros, tangerineiras e o café, que são originários da Ásia e
vieram para cá com o europeu; a algaroba do Peru e a batata dos Andes da América do Sul.
Atividade 1
Se você lembrar, na aula sobre o Bioma Caatinga (aula 4) vimos que os conhecimentos
sobre a caatinga começaram com botânicos estrangeiros que viajaram pelo interior do Nordeste
durante o século XIX, tal como: Johann Baptist von Spix, Carl Friedrich Phillip von Martius,
Auguste de Saint-Hilaire e George Gardner, e a estudos realizados por brasileiros, tais como:
Joaquim Monteiro de Caminhoá, J. Mariano da Conceição, Freire Alemão e Albert Loefgren.
Mesmo assim, passados aproximadamente 200 anos, dispomos de poucas informações sobre
a caracterização e quantificação dos vegetais desse Bioma.
Estima-se que existam cerca de 8.760 espécies de plantas no Nordeste do Brasil. Cerca de
1.981 dessas espécies (aproximadamente 23%) estão presentes na caatinga, podendo chegar
a um valor entre 2.000 e 3.000 espécies. Giuliett lista 318 espécies endêmicas (16,1%) em 42
famílias; destas, 80 são de leguminosas, 41 de cactáceas, 17 euforbiáceas, 15 malváceas, 14
bromeliáceas e 451 espécies de fungos distribuídos em 203 gêneros.
Cerrado;
Campos;
Campo Inundável;
Vegetação Litorânea;
Caatinga.
São matas pluviais tropicais das planícies costeiras e das encostas montanhosas do trecho
norte do Nordeste. Esse tipo de vegetação faz parte da Zona da Mata Costeira, Florestas Orientais
ou Mata Atlântica. Prolongava-se paralelamente ao litoral, desde o Cabo de São Roque (RN)
até o Rio Grande do Sul. Atualmente, resta muito pouco desta floresta e algumas espécies a
caracterizam: maçaranduba (Manilkara rufula), pau-d’arco-roxo (Tabebuia avellanedae), pau-ferro
(Caesalpinia leiostachya) e o pirauá (Basiloxylon brasiliensis), entre muitos outros. Os arbustos
e ervas mais comuns são: erva de rato (espécies do gênero Psychotria), acantáceas, gramíneas,
marantáceas e rubiáceas (Basanacantha sp). Existem poucos cipós e epífitas, destacando-se:
Bauhinia radiana, Strychnos divaricans, orquidáceas e aráceas.
Também é chamada de Floresta dos Tabuleiros Terciários. Suas características não diferem
muito da Mata Atlântica, já que possui árvores altas de troncos grossos. Ocorre principalmente
no sul da Bahia e norte do Espírito Santo. As espécies mais comuns encontradas são: muirajuba
(Apuleia molaris), cumaru (Dipteryx odorata), ingá-xixi (Ingá Alba), visueiro (Parkia pendula),
açaí (Euterpe oleracea), entre outras dezenas de espécies.
6) Cerrado
7) Campos
Ocorre no oeste da Bahia, na Chapada do Espigão. Caracteriza-se por ser uma transição de
campo para o cerrado ralo. Vegetação baixa de quatro a seis metros. Ocorrem muitas espécies
tais como: pau-de-terra-mirim (Qualea gardneriana) e outras características do cerrado.
8) Campo Inundável
9) Vegetação Litorânea
Incluem-se nesta categoria as diversas formas de vegetação que ocorrem nos litorais
arenosos, como os mangues, a vegetação de praias arenosas, de dunas e as restingas. A
vegetação de praia e as dunas sofrem contínua ação dos ventos marinhos, carregados de sal.
Tal combinação confere à vegetação litorânea um aspecto particular. O capim-da-areia (Panicum
racemosum), o alecrim-da-praia (Remirea maritima), a salsa-da-praia (Ipomoea pés-caprae) e
o capim-paraturá (Spartina alternifolia) estão entre as espécies vegetais encontradas nessas
áreas. Os mangues, por sua vez, constituem-se de espécies que se desenvolvem em solos de
pequena declividade, sob a ação das marés de água salgada. No Maranhão e no litoral norte, as
espécies alcançam porte bem mais elevado, formando verdadeiras florestas. As espécies mais
representativas são: o mangue vermelho (Rhizophora mangue), o mangue siriuba (Avicenia
tomentosa) e o mangue branco (Laguncularia racemosa). A vegetação de restinga caracteriza-se
pela presença de bromélias, orquídeas e cactáceas.
10) Caatinga
Tipo de vegetação que caracteriza o Nordeste Semi-Árido. Os índios, como sempre com
muita precisão, denominaram esse tipo de vegetação de Caatinga, que significa mato branco,
esbranquiçado ou ralo; aparência que esse tipo de vegetação tem no período mais seco. Martius
a denominou “silvae aestu aphyllae”, isto é, floresta sem folhas no estio.
A caatinga é considerada por muitos como a mais heterogênea vegetação do Brasil, por
existirem muitas variáveis em sua estrutura, principalmente em relação à altura das árvores
e à densidade da vegetação, que ocorre desde a forma de moitas baixas e isoladas até como
uma mata fechada. Possui as seguintes formas: arbórea-arbustiva aberta, arbórea-arbustiva
fechada e arbórea fechada. Alguns vegetais apresentam-se como indivíduos arbóreos em certos
locais e como arbustos raquíticos em outros.
Segundo Egler, a caatinga em Pernambuco pode ser subdividida, para uma melhor
caracterização, em: seca e agrupada, seca e esparsa, arbustiva densa, das serras e da Chapada
do Moxotó.
Ocorre ao sul do estado nas margens do Rio São Francisco onde o relevo é pouco
acidentado, a altitudes em torno de 300 m com baixa pluviosidade (média anual inferior a 500
mm), entre nove e onze meses sem chuva, e acentuada irregularidade na estação chuvosa.
Área idêntica a essa é encontrada na Paraíba e no Rio Grande do Norte (Seridó). São comuns
xerófitas (cactáceas e bromeliáceas). As plantas se agrupam formando capões de várias ou
de uma só espécie, como xique-xique (Cereus gounellei) e macambira (Bromelia laciniosa),
deixando espaços sem qualquer vegetação. Esses agrupamentos podem ser emoldurados por
cactáceas. Ocorrem também arbustos maiores de umbuzeiro (Spondias tuberosa), umburana
(Torresea cearensis), catingueira (Caesalpinia sp.), faveleira (Jatropha phyllacantha), jurema
(Mimosa sp.), marmeleiro (Combretum sp.) e mandacaru (Cereus jamacaru).
Ocorre também às margens do rio São Francisco. Nesse caso, os arbustos não formam
aglomerados, são isolados e faltam as cactáceas. Possui dois estratos, o mais alto de umburanas
(Torresea cearensis) e o mais baixo de pereiro (Aspidosperma pirifolium), correspondendo a
cerca de 60%; e de faveleira (Jatropha phyllacantha), catingueira (Caesalpinia sp.) e marmeleiro
(Combretum sp.), entre outros. Não ocorre cobertura herbácea. Entre a Paraíba e o Seridó (Rio
Grande do Norte) encontramos uma vegetação semelhante, mas com uma cobertura exclusiva
de capim panasco (Aristida sp.). Essas áreas possuem alta probabilidade de desertificação.
Esse tipo de vegetação recobre a maior parte do semi-árido nordestino. Ocorre em todo
o agreste e na floresta estacional caducifólia espinhosa de Pernambuco (também chamada
de Caatinga arbórea). Possui maior número de árvores e um adensamento do estrato
arbustivo, interrompido somente em locais onde há afloramento de rochas não decompostas.
Encontramos o caroá (Neoglaziovia variegata), planta de valor econômico por fornecer fibra, a
baraúna (Schinopsis brasiliensis), a aroeira (Astronium urundeuva), o angico (Anadenanthera
macrocarpa), a jurema (Mimosa hostilis), a catingueira (Caesalpinia pyramidalis), a faveleira
(Jatropha phyllacantha), o pinhão-bravo (Jathropha pohliana), o marmeleiro (Cróton sp.),
cactáceas (xique-xique e palma de espinho) e bromeliáceas (macambira e caroá).
Apresenta maior número de árvores e maior densidade da cobertura herbácea, com o solo
quase totalmente recoberto pelo manto vegetal. Por ocorrer em maiores altitudes, a umidade
é maior. Os vegetais também perdem as folhas nos períodos mais secos.
Área de solo arenoso muito profundo com vegetação baixa e arbustiva. Ocorrem
palmeirinha ouricuri (Syagrus coronata) e facheiro (Cereus squamosos) que podem atingir
até 5 metros de altura.
Atividade 3
A partir dos nomes populares, tente identificar espécies nativas e
representantes da caatinga em sua cidade, tentando encontrar seus nomes
científicos. Como jurema, Mimosa hostilis.
Como o texto retirado de “Morte e Vida Severina” nos indica, muitos são os problemas
enfrentados pelo sertanejo em relação à agricultura, desde ervas daninhas, solos improdutivos,
seca, falta de financiamento etc. Esses problemas são decorrentes de condições meteorológicas
adversas, como a falta de chuvas, passando muitas vezes por solos não apropriados ao plantio,
manejo inadequado do solo, até a falta de uma política que incentive a agricultura dessa região.
Em declínio – são principalmente as culturas de subsistência que, por não terem sido
aperfeiçoadas as tecnologias de seus cultivos e por serem predominantemente familiares,
dependem muito das condições climáticas: milho, feijão, mandioca, batata doce e mamona.
Atividade 4
Faça um levantamento em relação às principais culturas agrícolas que são
cultivadas em sua região. A maioria delas é familiar ou para fins comerciais?
Ocorre monocultura?
Matas são cortadas para a utilização da lenha em fornos de cerâmicas, caieiras, padarias,
fabricação de carvão, retirada de estacas e mourões, implantação de pastos, ou ainda, para
projetos imobiliários. Muitas vezes, associada ao desmatamento, ocorre a queima da área,
levando à morte dos microrganismos do solo. Esses fenômenos levam geralmente à erosão, ao
empobrecimento do solo e ao assoreamento dos rios, refletindo de forma impactante no clima
da região. Grandes porções de terra, como visto na aula 4, estão em processo de desertificação
devido ao uso indiscriminado do solo.
Atividade 5
Observe no seu município quais os maiores riscos a que a vegetação
está sujeita.
Existem ainda 143 espécies de mamíferos, sendo 12 endêmicas (8,4%) e 187 de abelhas
(no Brasil, existem cerca de 3.000 espécies de abelhas). Destas, 30 espécies são endêmicas
(16%).
Atividade 6
Você observa muitos animais em sua região? Quais são eles? Em que
épocas aparecem mais? Existem espécies raras e ameaçadas de extinção?
Em declínio – A criação de gado para corte vem diminuindo gradativamente (18 milhões
para 15 milhões). Sendo os maiores criadores os estados do Ceará, Bahia e Minas Gerais.
E a caprinocultura também apresenta panorama semelhante (10 para 7,5 milhões).
Estável – Somente a ovinocultura tem se mantido estável, mas não dispomos neste
momento de números oficiais para a região Nordeste.
Resumo
Nesta aula, você estudou a flora e fauna do Nordeste brasileiro e observou que
essa região possui uma paisagem florística muito variada e rica. Com relação à
fauna, apesar dos poucos estudos, identificou várias áreas muito importantes
com relação aos animais que ali existem.
Autoavaliação
Trace um perfil do Bioma Caatinga em relação à flora, diferenciando os diversos tipos
1 de vegetação dessa região.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Atlas nacional do Brasil: Região Nordeste:
Rio de Janeiro, 2000.
MELLO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina. Disponível em: <http://www.nilc.icmc.
usp.br/literatura/morteevidaseverina.htm>. Acesso em: 12 jul. 2005.
SAMPAIO, E.V.S.B.; GIULIETTI, A.M., VIRGÍNIO, J. et al. Vegetação e flora da caatinga. Recife:
Associação Plantas do Nordeste; Centro Nordestino de Informações sobre Plantas, 2002.
Aula
7
Apresentação
Nesta sétima aula, retornamos ao tema do ambiente externo ao nosso planeta e de sua
influência em nossas vidas. Voltaremos nosso olhar para o meio interplanetário e para o Sol,
como também para alguns efeitos importantes que surgem da interação do Sol com a Terra.
Como você deve lembrar, na aula 3, aprendemos que a atmosfera da Terra funciona como
um escudo que nos protege, contribuindo para o clima e para a preservação das condições
de vida do planeta. Sem a atmosfera não haveria vida. A atmosfera também nos protege das
radiações e das baixas temperaturas existentes no ambiente interplanetário.
Mas, existe uma proteção de natureza magnética que protege a própria atmosfera e se
estende a uma distância da ordem de dezenas de raios terrestres, limitando nosso planeta com
o meio extra-terrestre. Essa região limítrofe que reduz a ação do vento solar é a magnetosfera
terrestre.
Além disso, tal interação (entre o vento solar e a magnetosfera) produz transferência
de energia para a atmosfera, de modo que algumas partículas chegam a ganhar velocidades
suficientes para fugir da atração gravitacional terrestre e escapar para o espaço exterior. Assim,
essa relação constitui-se em mais um mecanismo de perda de material atmosférico para o
espaço exterior.
O Sol
A partir de agora, teremos várias palavras e conceitos novos para estudar, por exemplo,
vento solar, magnetosfera, auroras e tempestades magnéticas. Apesar de serem novos, estão
relacionados a problemas típicos do homem do século XX e XXI, o qual se utiliza de satélites
artificiais e de toda uma parnafenalha eletrônica que nossos avós nem imaginavam algum dia
existir.
Uma enorme quantidade de energia radiante é continuamente liberada pelo Sol, sendo
em torno de 1023 kJ/seg. Parte dessa energia, entre 0,5kW/m2 e 1,0 kW/m2, tem aquecido e
iluminado a Terra por mais de 4,6 bilhões de anos. O Sol também emite grandes quantidades
de matéria, ou, mais exatamente, prótons, elétrons e outras partículas. Ao fluxo de prótons e
elétrons (partículas eletricamente carregadas, como você já sabe), chamamos de vento solar.
Ele é ejetado ininterruptamente como um jato aspersor. Isso ocorre porque o Sol, assim como
Uma outra conseqüência de o Sol ser gasoso é que ele gira mais rápido na linha do equador
do que nos pólos, gerando um período médio de rotação (25 dias terrestres no equador e 33
dias próximo aos pólos), ou seja, um dia solar médio, o que equivale a 29 dias terrestres. Além
disso, o Sol apresenta outro comportamento estranho, seus pólos magnéticos mudam com o
tempo, de tal modo que a cada 22 anos completa-se o ciclo de inversão da polaridade do seu
campo magnético. Tudo indica que a Terra também apresenta esse mesmo fenômeno, só que,
no nosso caso, o período dessa inversão é da ordem de cem mil anos. Atenção, perceba que o
que muda é a polaridade magnética e não os pólos geográficos.
Atividade 1
Identifique na conta de energia elétrica quantos KWh você consome
1 em sua residência. Supondo um valor da ordem de 0,7KWh/m2 para a
energia fornecida pelo Sol, compare com ela o seu consumo.
Qual a área que um painel solar deveria ter para abastecer sua
Antes, é necessário definir a palavra albedo, a qual consiste na relação entre a energia total
incidente no planeta e a energia por ele refletida. No caso da Terra, é da ordem de 35%. Por
outro lado, a quantidade de energia que atinge o topo da atmosfera terrestre oriunda do Sol é
de 1352,8 J/m2.s. Essa energia é suficiente para acender, em cada m2, 1.000.000 lâmpadas de
100 Watts. E desse total, 42% alcança a superfície, sendo responsável pelo seu aquecimento,
enquanto 13% ficam retidos na atmosfera.
Note que isso ocorre no lado do dia (o lado da Terra iluminado pelo Sol) e o destino dos
42% que ficam na superfície nesse período é o seguinte:
35%
8%
100%
13% Atmosfera
Calor
42%
2% Terra
Terra
Figura 2 – O Sol e a Terra vistos durante um evento de massa coronal. A inserção da Terra na figura é para mostrar a
relação de escala entre esses dois corpos celestes, não fazendo originalmente parte da imagem captada
pelo satélite SOHO, em 14 de setembro de 1999.
Fonte: Extraída do site.
Acesso em: http://www.achetudoeregiao.com.br/Astronomia/sol_2.htm.
A massa do Sol corresponde a mais de 99% da massa total do sistema solar. Ou seja, a
soma das massas de todos os planetas e luas que formam esse sistema corresponde a 2%
da massa do Sol. Como esses, outros números relativos ao Sol são imensos; sua distância ao
centro de nossa galáxia é da ordem de 3 x 10 16 km, enquanto sua velocidade angular em torno
do centro galácteo é 200 km/s. E nesse movimento ele carrega todos os planetas que, como
a Terra (observada Figura 2 como um minúsculo ponto), giram em torno dele.
Por ser ainda relativamente novo, a idade do Sol é aproximadamente 5 bilhões de anos,
enquanto a do Universo é por volta de 15 bilhões. Ele é também um astro rico em atividade (as
estrelas, quando envelhecem, acabam por exaurir toda a sua energia, cessando suas atividades
e, com isso, “morrem” ou explodem), gerando continuamente energia através de conversão
de Hidrogênio em Hélio em seu interior.
Figura 3 – Foto do Sol obtida pela estação espacial Skylab da NASA em 19 de dezembro de 1973. No lado superior
direito, nota-se um dos maiores solar flares já gravados. A proeminência atingia, no momento dessa
foto, uma distância da superfície do Sol superior a 250 000 km.
As manchas solares, como os solar flares, são interessantes, não apenas por
representarem um dos mais intrigantes fenômenos observados no Sol, mas por sua possível
interferência na dinâmica da atmosfera terrestre. No caso específico dessas manchas, existem
teorias associando sua periodicidade de 11 anos com a periodicidade das secas no nordeste
brasileiro. Um comentário interessante sobre essa correlação, encontramos na obra Os Sertões,
de Euclides da Cunha .
[...] Impressionado pela razão dessa progressão raro alterada [aqui ele está se referindo
à seca e a sua quase periodicidade de 11 anos], e fixando-a um tanto forçadamente em
onze anos, um naturalista, o Barão de Capanema, teve o pensamento de rastrear nos
fatos extra-terrestres, tão característicos pelos períodos invioláveis em que se sucedem,
sua origem remota. E encontrou na regularidade com que repontam e se extinguem,
intermitentemente, as manchas da fotosfera solar, um símile completo [...] (CUNHA,
2003, p.60-61).
100
0
1600 1650 1700 1750 1800 1850 1900 1950 2000
DATA
Figura 4 – Série temporal mostrando a variação da atividade solar em termos do número de manchas solares
Atividade 4
A informação em destaque refere-se aos anos de ocorrência de grande
secas, segundo relato do livro Os Sertões, ocorridas nos séculos XVII e XVIII.
Identifique qual a periodicidade delas. Compare com o gráfico de manchas solares
e identifique quais os casos em que as secas ocorreram em período de alta
atividade solar.
Secas: 1711; 1724; 1737; 1745; 1778; 1809; 1825; 1837; 1845; 1879.
Um outro efeito muito interessante da interação do Sol com a Terra são as auroras:
fenômenos luminosos que ocorrem na alta atmosfera (entre 80 e 200 km de altura) nas regiões
polares, tanto no hemisfério norte quanto no hemisfério sul.
Figura 5 – Uma aurora boreal, fotografada por Dick Hutchinson©Shot próximo ao Círculo Polar, Alaska. A parte
inferior da aurora estava a aproximadamente 80 km de altura.
Para compreender melhor essa ação, falaremos um pouco sobre o vento solar e o campo
magnético terrestre.
O vento solar
A região coronal do Sol, isto é, sua camada mais externa, a qual se estende para o
meio interplanetário, apresenta-se tão quente que nem mesmo a enorme força gravitacional
dessa estrela é capaz de reter as partículas que a compõem. Como já sabemos, o Sol emite
continuamente luz e calor, mas o nível dessa emissão aumenta muito durante os flares e
quando a região solar ativa é visível.
Por outro lado, ao contrário da atmosfera terrestre, a corona solar não está em
equilíbrio hidrostático. Dessa forma, parte da coroa (o mesmo que corona) está continuamente
“evaporando”, de modo que, fisicamente, o que se observa é a corona se expandindo e lançando
matéria e energia para o meio interplanetário, formando o que denominamos de vento solar,
Figura 6 – O campo magnético terrestre, visto como semelhante ao campo gerado por uma barra imantada
Sua origem está nas partículas carregadas que preenchem a região próxima ao núcleo
terrestre e que, ao se movimentarem, geram campos elétricos locais e o campo magnético
planetário. Este último tem suas extremidades situadas nos pólos e é praticamente horizontal
na região equatorial. Isso tem um efeito interessante. As partículas eletricamente carregadas
que chegam à Terra são aprisionadas por esse campo, que induz uma direção preferencial ao
movimento delas. Ou seja, as partículas se movem ao longo das linhas de campo, assim, seu
movimento é norte-sul. Observando a Figura 6, percebe-se que as linhas do campo magnético
chegam à superfície terrestre nos pólos e a região geográfica onde isso ocorre é chamada de
Produto dessa colisão, átomos da atmosfera ficam excitados e acabam emitindo fótons.
Essa emissão luminosa é chamada de aurora, boreal (quando ocorre no pólo norte), ou austral
(quando ocorre no pólo sul).
Atividade 5
Tente explicar o motivo pelo qual não ocorrem auroras no nordeste brasileiro.
Talvez você não tenha conseguido responder. Mas, olhando a figura que ilustra o campo
magnético da Terra como o de um imã, verifica-se que, como as partículas eletricamente
carregadas se movem ao longo das linhas do campo magnético, elas não teriam como entrar
em contato com a atmosfera terrestre sobre a linha equatorial, pois, nessa região, as linhas de
campo passam muito distantes da camada atmosférica. Na verdade, esse contato só ocorre,
como percebemos na figura que mostra a região polar, nos dois hemisférios. Por isso, não
temos auroras no Brasil!
Mas, como você sabe, não estamos isolados no universo e, em função da presença do
vento solar, o campo magnético terrestre fica confinado a uma cavidade conhecida como
magnetopausa, a qual assume uma configuração semelhante a uma vasta cabeleira feminina
balançando ao vento. Isso faz com que, a uma distância de poucos raios terrestres, o campo
magnético da Terra se diferencie muito do campo de dipolo, já mencionado. A interação do
vento solar (que transporta campos magnéticos) com o campo magnético terrestre gera uma
configuração, ilustrada na Figura 7.
Figura 7 – Vista estilizada do Sol, com evento de ejeção de massa, da Terra com seu campo magnético e da
envoltória gerada pelo vento solar.
Observando essa figura, você pode perceber que do lado do dia as linhas do campo
magnético terrestre são comprimidas pela ação do vento solar, enquanto do lado da noite (o
lado não iluminado) elas se estendem. Medidas realizadas por satélites indicam que no lado
não iluminado o campo tem extensão superior a 400.000 km, isto é, vai além da lua.
É através dos pólos que as partículas provenientes do vento solar penetram na atmosfera
do nosso planeta e um dos fenômenos mais belos associados a essas partículas é o das
auroras. Como você deve ter respondido na atividade 3, esse fenômeno nunca irá acontecer
em nossa região, devido à configuração do campo magnético terrestre que aqui no equador
funciona como um escudo, ao desviar as partículas eletricamente carregadas oriundas do
vento solar e impedindo-as de penetrar até a atmosfera equatorial, mas permitindo que tal
Em sua base, que se situa acerca dos 80 km de altura, a aurora costuma apresentar tom
de verde, depois um vermelho, com se fosse a barra de uma cortina, que pulsa e ondula.
Em 1621, Galileu Galilei, enquanto investigava o movimento dos astros, tentou explicar o
fenômeno dessas luzes. Por algum motivo, do qual ele não suspeitava, a luminosidade noturna,
relatada por centenas de observadores, quase sempre ocorria no Norte da Europa, assim, ele
chamou esse fenômeno de “aurora boreal”. Essa expressão, inventada para designar a aurora
polar, é usada por todos nós até hoje!
Autoavaliação
Existem, circulando em nosso meio, diversas concepções alternativas que tratam
dos conceitos abordados nesta aula, como as crenças de que o Sol é sólido ou
de que nós vivemos no interior da terra, por exemplo.
Se você já é professor, elabore uma atividade para realizar em sala de aula, com
seus alunos, visando a descobrir o que eles pensam sobre o tema e, em seguida,
discuta a abordagem científica correta. Por exemplo, comece perguntando o
que é o Sol. Proponha que cada aluno escreva, em uma folha, sua resposta.
Construa um painel com as respostas dadas. Permita agora, que todos as leiam.
Reúna a turma em pequenos grupos e solicite a cada um a elaboração de uma
nova resposta, que será a do grupo. Repita o procedimento de exposição das
respostas e de sua leitura por parte dos alunos. Proponha a formação de dois
grandes grupos para a produção de uma resposta mais elaborada e direcione
essa atividade de tal modo que a turma chegue a um conceito mais amplo do que
é o Sol e, se possível, de algumas de suas características.
Se você não é professor, converse sobre o Sol com pessoas próximas e escreva
um texto comparando as concepções de cada entrevistado com as abordadas
no texto. Com isso, identifique os conceitos errados mais comuns, se existirem.
Referências
BEZERRA, Arnaldo Mouro. Energia solar: aplicações práticas. São Paulo: Ed. Nobel, 1990.
CUNHA, Euclides da. Os sertões. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003. (Coleção prestígio)
DEUS, Jorge Dias de; PIMENTA, Mário; NORONHA, Ana; PEÑA, Teresa; BROGUEIRA, Pedro.
Introdução à física. São Paulo: McGraw-Hill, 1992.
Anotações
Aula
8
Apresentação
Como você sabe, a seca no Nordeste é um problema recorrente. Nesta aula, trataremos
um pouco de assuntos que nos permitem entender melhor esse fenômeno: o clima, o tempo
e as estações do ano.
Podemos começar lembrando que nos noticiários e jornais diários, encontramos frases
do tipo “tempo bom” ou “tempo instável e sujeito a chuvas durante o período”, ou também
“clima quente e úmido”. Mas, afinal, qual o significado das palavras clima e tempo no contexto
da meteorologia?
Para responder a essa questão, temos que retomar alguns conceitos e definições que
você aprendeu nas aulas anteriores, como a Terra, a atmosfera, o bioma e o Sol, lembrando
que existem diversos ciclos na natureza e entre eles o da água, já que o clima e o tempo estão
relacionados a todos esses assuntos.
Objetivos
Ao final da aula, você deverá ser capaz de:
Por outro lado, quando falamos de tempo, estamos nos referindo à condição momentânea
da atmosfera. Trata-se de uma análise envolvendo um período de observação relativamente
curto: horas, dias ou, no máximo, semanas. Contudo, numa abordagem geográfica, o tempo
atmosférico só começa a fazer sentido se observado segundo sua regularidade a partir da
interpretação de dados derivados de anos de coleta sistematizada. Então, o que aparece nos
noticiários em geral são previsões do tempo.
Da próxima vez que você ler ou assistir a um noticiário que contenha previsões
climatológicas, preste atenção se estão usando corretamente os dois conceitos que você
acaba de aprender.
Periodicidades
Desde o começo da formação da Terra, o clima vem se modificando, ora mais
intensamente, como nos períodos glaciais, ora mais lentamente, nas eras inter-glaciais, como a
que vivemos atualmente. Essas mudanças têm diversas origens, algumas são provocadas por
agentes externos, oriundos do meio interplanetário, no caso da tremenda mudança climática
que pôs fim a era dos dinossauros; outras estão relacionadas aos movimentos do planeta,
sendo passíveis de previsão por apresentar uma razoável taxa de repetitividade. Também é
notável que a própria ação do homem sobre o planeta tem afetado o clima de uma maneira
que ainda não é possível quantificar totalmente, mas de um modo certamente não periódico.
Tudo indica que esse efeito irá aparecer como uma flutuação sobre as mudanças periódicas,
tornando-as mais intensas, ou seja, invernos mais rigorosos, verões mais intensos, cheias e
secas maiores, entre outros.
07h
12h
17h
07h
12h
17h
Você deve ter percebido que sua resposta será influenciada pela pequena quantidade de
dados que coletou, isto é, você não poderá garantir que os valores obtidos irão se repetir nas
próximas semanas ou nos próximos meses. Por isso, é preciso fazer observações contínuas
do nosso planeta para que os modelos matemáticos que permitem fazer previsões climáticas
(previsão do tempo) fiquem mais precisos, confiáveis.
Por outro lado, possivelmente, sua resposta indica que as variações são da ordem de
alguns graus, no máximo 10oC a 15oC, não ocorrendo mudança significativa nessa diferença
com a época do ano. No entanto, existem regiões no Brasil em que as condições do tempo
variam muito durante o dia, bem como durante o ano. Isso ocorre devido a nossa proximidade
com o equador geográfico, região onde a quantidade de radiação solar que chega é praticamente
a mesma durante todo o ano. É por isso, também, que não necessitamos de um horário de
verão específico.
Atividade 2
Você sabe por que existem as estações do ano? Tente responder a questão
antes de prosseguir seu estudo.
Muitas vezes, pensa-se erradamente que as estações do ano estão relacionadas com a
maior ou menor distância da Terra ao Sol. Isso não é verdade. Do ponto de vista da Física,
elas estão relacionadas às faixas da Terra que são iluminadas pelo Sol com maior ou menor
intensidade. Assim, como se percebe na Figura 2, as estações do ano são simétricas em relação
à linha do equador, ou seja, quando é verão no hemisfério norte, é inverno no hemisfério sul.
Note que isso não tem relação com a distância da Terra ao Sol!
Se você recorda bem, na segunda aula, quando falamos da Terra, foi dito que seu eixo de
rotação é inclinado e devido a esse fenômeno, ocorrem as estações do ano. Sem inclinação,
não as teríamos. Isso também explica o motivo pelo qual nós, que moramos perto do equador,
praticamente não as percebemos.
No equador, todas as estações são muito parecidas: temos Sol o ano todo, que fica
visível acima do horizonte, todos os dias do ano por um período de 12 horas; por um mesmo
período de 12 horas, fica abaixo do horizonte, quando não se pode vê-lo. Portanto, a altura
do Sol ao meio-dia no Equador não muda muito ao longo do ano e, conseqüentemente, não
existe muita diferença entre inverno, verão, primavera e outono. Por outro lado, à medida que
nos afastamos do Equador em direção aos pólos, as estações ficam mais acentuadas, de tal
modo que as maiores diferenças entre as estações do ano irão acontecer nos pólos (passam
períodos de seis meses iluminados e seis meses às escuras).
Fonte: Movimento anual do sol e as estações do ano. Disponível em: <http://astro.if.ufrgs.br/tempo/mas.htm>. Acesso em: 12 maio 2005.
Figura 3 – Visão estilizada do movimento de transição da Terra em torno do Sol. Note que em 21 de junho temos o
inverno no hemisfério sul e verão no hemisfério norte, enquanto em 21 de dezembro ocorre o contrário
devido à inclinação do eixo imaginário da terra que no primeiro caso inclina-se para o Sol e no segundo,
contrário ao Sol.
Fonte: EMPARN – Empresa de Pesquisa Agropecuária Rio Grande do Norte. Disponível em: <www.emparn.gov.br>.
Uma pergunta que se faz constantemente é sobre as causas da seca no Nordeste. Para
pensarmos um pouco sobre esse assunto, temos que situar o que entendemos sobre “seca”. O
Nordeste brasileiro não é, certamente, uma das regiões do planeta onde chove menos. Mesmo
no continente sul-americano temos desertos muito importantes como o Atacama, no Chile.
Por outro lado, a região amazônica é um dos lugares em que mais chove no mundo.
Exemplos
Suponhamos uma casa no sertão, cuja área coberta seja de 50m2. Através de calhas,
os moradores dessa casa conseguem armazenar toda a água de chuva que cai no telhado.
Imagine um ano de estação chuvosa fraca, isto é, um ano em que a precipitação foi de apenas
360mm. Determine:
a) o volume, em litros, de água que essa família teria armazenado em uma cisterna;
b) supondo uma família de quatro pessoas, em que cada uma consumisse 30 litros de água
por dia, por quanto tempo essa água armazenada duraria.
Resolução
a) A chuva que caiu em um metro quadrado foi de 1,0m2 360,0mm. Para fazer esse
cálculo, temos que transformar milímetros em metros (1,0mm = 10-3m). Assim,
o volume de água que caiu durante o ano foi 1,0m 2 360 10 -3m = 0,36 m 3.
Como o telhado da casa tem 50m2, então, o volume de chuva foi de 0,36 50 = 18m3.
Precisamos agora transformar metros cúbicos (m3) em litros ( l ). Como 1,0m3 = 1000l,
temos: 18m3 = 18 1000l = 18.000 litros. Portanto, a família armazenaria dezoito mil
litros de água.
b) Queremos determinar quanto tempo essa água poderia abastecer a família. Como são
quatro pessoas, e cada uma consome por dia 30l, o total diário seria de 30 X 4 =
120l. Como eles teriam armazenado 18.000l, dividindo-as 18.000/120 = 150 dias, isso
corresponde a aproximadamente 5 meses de consumo de água.
Fonte: BONELLI, E; MEDEIROS, R. T.; BORBA, G. L. O Sol e a seca no Nordeste. O Jornal. Afonso Bezerra/RN, 27 de Out./1997.
Esse artigo aborda alguns pontos importantes, como a interação do Sol com a atmosfera
terrestre, assunto discutido na aula 3, que levanta a questão da necessidade de termos medidas
contínuas e por grandes intervalos de tempo, para fazermos uma análise estatística a qual
permita alguma previsão de comportamentos futuros. Afinal, como você deve lembrar, na
primeira aula aprendemos que um dos objetivos da ciência é elaborar modelos que possibilitem
a previsão de como se comportará o sistema sob estudo. No caso do artigo, os autores aventam
a possibilidade de prever a ocorrência de secas a partir de um estudo do comportamento das
manchas solares.
Explicaremos melhor essa situação analisando a figura a seguir na qual escolhemos uma
“parcela de ar” da atmosfera e acompanhamos seu movimento.
B C
A D
Figura 4 – Ar em movimento
Como não podem ficar espaços vazios, alguma massa de ar terá de ocupar aquele deixado
pela parcela que se moveu (A). Isso faz com que a parcela de ar do ponto D se desloque
horizontalmente indo ocupar o espaço que seria deixado em A. Ao mesmo tempo, a parcela
de ar que estava em C desce para ocupar a posição D, com isso, a parcela de ar que estava em
B se desloca para C. Esse movimento chama-se vento e o ciclo A, B, C e D chama-se célula de
circulação. Em nosso planeta, temos diversas células de circulação, algumas bastante grandes,
como as que levam o ar quente das regiões equatoriais para as polares, outras pequenas, como
as que levam o ar do mar para a praia e da praia para o mar.
Agora como você já sabe, as áreas de circulação do ar são criadas pela transferência de
calor na linha do equador e, além disso, pela rotação da Terra. As células de circulação definem
regiões restritas, específicas – como os trópicos, de clima temperado, ou as polares, de clima
frio – o que influencia o seu clima.
Podemos, então, enunciar uma lei geral que explica o movimento dos ventos: Primeira
Lei da Circulação Atmosférica – “os ventos sempre sopram das áreas de alta pressão para as
áreas de baixa pressão” (de Buys Ballot, cientista holandês, em 1800). Além disso, precisamos
considerar que a Terra gira e esse movimento de rotação afeta o dos ventos. Para entendermos
um pouco como isso ocorre, imagine um carrossel girando e uma pessoa querendo andar
em linha reta em direção ao seu centro. Ela seria desviada dessa linha reta devido à rotação,
porque, nesse caso, surge a força de Coriolis. Essa mesma força que ocorre em sistemas Coriolis
em movimento circular, como a Terra, irá fazer os ventos apresentarem, além do movimento A força de Coriolis aparece
meridional (norte-sul), o zonal (leste-oeste). Um dos resultados possíveis em que podemos como um componente
suplementar da força
visualizar a ação da força de Coriolis é a ocorrência de furacões como o mostrado na figura 5.
centrípeta, sendo sentida
por um corpo em
movimento relativo a um
referencial em rotação.
Para que ocorram fenômenos climáticos intensos, como tornados e furacões, é necessário
que surjam fortes mudanças na pressão atmosférica associadas a variações de temperatura e ao
aumento de umidade do ar. Aqui, o relevo de poucas montanhas contribui para que as variações
de pressão sejam modestas, não propiciando o surgimento desses eventos.
Frente fria
Foi o meteorologista norueguês Vilhelm Bjerknes (1882) que cunhou o nome “frente”
(inspirado em frentes de batalhas) para explicar o movimento de grande escala do ar. Ao vento
que se desloca dos pólos em direção ao equador, ele chamou de frente fria e, como uma
“frente de batalha”, ela pode colidir com uma frente de ar quente que se desloca em direção
aos pólos. No nosso hemisfério, as frentes frias se deslocam do pólo sul para o Equador,
enquanto as massas de ar quente se deslocam do equador em direção aos pólos. Quando
ocorre de uma frente fria interagir com uma massa de ar quente, na interface entre elas ocorrem
as tempestades. Isso se dá porque o ar frio e, portanto mais denso na frente fria, força ainda
mais para cima o ar quente, criando regiões de grandes instabilidades com ventos circulando
em diversas direções
Ar mais quente
19º 22º
Frente Fria N
Figura 6 – Uma frente fria é uma zona onde ar frio substitui ar quente. Os valores numéricos apresentados na
figura indicam a temperatura do ar.
Assemelham-se a um véu
transparente, que finas e
esbranquiçadas, não ocultam nem
o Sol nem a Lua. Essas nuvens
Cirrostratus
apresentam cristais de gelo e são
boas precursoras da precipitação,
indicando que isso pode ocorrer
dentro de 12 e 24 horas.
Figura 7 – Existe uma classificação para as nuvens, a qual corresponde a dez tipos. Sugerimos que você consulte
a referência a seguir, se pretende aprofundar-se nesse assunto.
Fonte: Classificação das nuvens. Disponível em: <http://www.brasgreco.com/weather/nuvens/n_tipos.html>. Acesso em: 15 maio 2005.
Você deve ter notado que o texto anterior apresenta critérios para a previsão de chuvas.
Esse é um assunto que já estudamos. Antes de continuar seu estudo, responda:
Atividade 5
Identifique no texto “Festa de São José” qual ou quais os critérios usados
pelo repórter para dizer se vai chover. Você concorda com esse critério?
Hoje, sabemos que existem duas fontes principais que provocam mudanças climáticas
globais. A primeira, de longo prazo, é representada pela dinâmica natural do próprio planeta,
o qual ao longo de sua história já foi tremendamente quente, já foi um mundo praticamente
tropical (na época dos dinossauros, por exemplo) e já foi um mundo gelado, durante o
período glacial. Todas essas mudanças envolveram escalas de tempo da ordem de milhares
de anos. A outra grande fonte é a atividade humana sobre o planeta. O Homem age de tal
forma que as mudanças que ele provoca em poucos dias ou anos, a natureza levaria séculos
para fazê-las. Assim, em pouco tempo, criamos ou destruímos montanhas, destruímos
florestas, alteramos cursos de rios, criamos gigantescos lagos artificiais (como aqueles
usados para as hidroelétricas) e, finalmente, jogamos na atmosfera uma tal quantidade de
gases capazes de alterar suas propriedades físicas e químicas.
Com uma ação tão intensa, não seria de se admirar que o clima de nosso planeta
sofresse mudanças significativas e cujas conseqüências fossem ainda hoje imprevisíveis e
motivo de debates entre cientistas, políticos e a sociedade.
Resumo
Nesta aula, vimos que os conceitos de clima e tempo são distintos e que o tempo
varia bastante em uma mesma região de acordo com a hora do dia e a época do
ano. Por outro lado, entendemos que o clima representa o comportamento médio
e é o parâmetro mais estável, permitindo assim, caracterizar uma dada região
geográfica. Vimos também que, fruto da inclinação do eixo da Terra, existem as
estações do ano e que a mudança de uma estação para outra é pouco notada
pelas pessoas que moram próximo ao equador geográfico.
Em Kyoto, Japão, em
1997, foi assinado o
Protocolo de Kyoto, um
novo componente da
Compare o texto “Festa de São José” com o texto “O Sol e o clima no Nordeste”, Convenção que contém,
2 observando os pontos abaixo: pela primeira vez, um
acordo vinculante
que compromete os
c) identifique as semelhanças ou diferenças de linguagem; países do Norte a
reduzir suas emissões
de gases poluentes.
d) ambos falam de previsão de chuvas. Qual, nesse caso, é a principal diferença (GREEENPEACE, 2005)
entre eles?
Referências
CPETEC – Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos. Disponível em: <http://www.
cptec.inpe.br/>. Acesso em: 15 maio 2005.
BONELLI, E.; MEDEIROS, R.T.; BORBA, G.L. O Sol e a seca no Nordeste. O Jornal (Afonso
Bezerra/RN), 27 de out./1997.
EMPARN – Empresa de Pesquisa Agropecuária Rio Grande do Norte. Disponível em: <www.
emparn.gov.br>. Acesso em: 20 maio 2005.
SONNEMAKER, João Baptista. Meteorologia. 13.ed. São Paulo: Artes Gráficas LTDA, 1991.
Anotações
Aula
9
Apresentação
A
nossa nona aula tem como título O Homem – origens. Inicialmente, estabelecemos
as condições físico-químicas necessárias à gênese da célula precussora da vida. A
seguir, a partir das teorias científicas estabelecidas, traçamos o perfil químico-biológico
da evolução da célula que deu origem à biodiversidade da Terra. Por fim, considerando as
eras geológicas e as transformações biológicas operadas, evedenciamos a evolução humana,
delineando também a árvore genealógica do homem.
Objetivos
Permitir que você identifique as vias que
3 da vida na Terra.
E
m uma noite de verão, de muito calor, imagine-se acampado próximo a um sítio
arqueológico a alguns quilômetros de seu município. O tempo passa, a conversa com
os amigos está animada, mas o sono chega. De repente, buscando relaxar, você deita
sobre a relva e trava contato com o céu repleto de estrelas, sendo, assim, induzido a refletir
sobre a vida. De imediato, uma questão lhe vem à mente: o que é vida? Quase que de repente
você se transfigura, busca uma resposta, mas não a encontra e se sente impotente diante
da complexidade da questão. Mesmo assim, não se entrega e, sob a luz do luar, olha para
o ambiente que o cerca e observa que tudo a sua volta constitui provas de uma Terra física,
química e biológica. As rochas, as nuvens, a água do riacho próximo ao acampamento são
provas reais da Terra física e química. Como também, os pequenos pontos luminosos que
anunciam a presença de vaga-lumes, o zumbir dos insetos, o canto da ave noturna e até mesmo
você são provas de uma Terra biológica.
Todos esses atributos são partes integrantes de um grande reator, que opera a rendimento
máximo, com um único intento: a vida. As suas fronteiras são móveis e estendem-se sobre a
atmosfera, o solo, os mares e seus abismos, os desertos, as regiões geladas e as florestas. Ele
opera em contínuo, produzindo o alimento, o ar e a água, ingredientes necessários à geração e
manutenção da vida. Não obstante a sua diversidade quanto a formas, dimensão e condições
a que está submetido, a integração das suas partes é perfeita.
Para comprovar tal integração, tomamos como exemplo a química do corpo humano.
Ela se desenvolve com base nos mesmos elementos químicos, a energia envolvida decorre
das mesmas reações e mecanismos físico-químicos de regulação semelhantes em qualquer
ser humano.
Como veremos, o corpo humano é um verdadeiro histórico da vida sobre a Terra, visto
que suas células são mantidas em um ambiente contendo alto teor de Carbono e Hidrogênio,
semelhante ao do meio que as originou. Ainda hoje, elas estão imersas em uma solução
composta por água e sais de elementos essenciais à vida, de composição semelhante à dos
oceanos primitivos.
Mesmo que essas condições não tenham sido estabelecidas até a presente data, é de
extremo interesse da ciência, baseada em hipóteses formuladas a respeito das variáveis
físico-químicas que caracterizavam a biosfera primordial, determinar as condições mínimas
necessárias ao surgimento da vida sobre a Terra.
Atividade 1
Qual a estrela do sistema solar? Qual o seu tamanho, a sua massa, a sua
densidade e como ela favorece o surgimento da vida?
Atividade 2
Forneça uma descrição qualitativa dos elementos químicos presentes no
solo da sua região.
a distância da estrela responsável pelo aporte de energia ao planeta esteja em acordo com
as leis da natureza, favorecendo assim as condições físico-químicas reinantes;
o planeta possua uma litosfera, ou seja, uma superfície sólida, que favoreça o processo
de agregação de pequenas moléculas para formar as grandes moléculas estáveis e, então,
concentrá-las.
Atividade 3
Você é capaz de justificar cada uma das condições listadas anteriormente
e necessárias à gênese da vida em um planeta?
A célula
A gênese da vida e a sua evolução só foi possível ocorrer após a Terra alcançar a sua
estabilidade físico-química. Antes dessa fase, nosso planeta era totalmente estéril. Daí,
a necessidade de relembrarmos algumas noções básicas associadas à vida, tal como a
conhecemos na atualidade.
Muitos seres vivos são unicelulares e se constituem de uma única célula. Já nós, seres
humanos, apresentamos um número elevado de células, o que nos faz pluricelulares. Por isso,
a célula, unidade vital, difere em forma e tamanho. O ovo de avestruz, a maior célula conhecida,
é dimensionalmente superior a muitos animais, enquanto a menor, a de certas bactérias, mal
pode ser visualizada pelos modernos microscópios eletrônicos, uma vez que seu tamanho é da
ordem de grandeza de 1,0 x 10-6 a 1,0 x 10-4 metros. Cada uma das células do corpo humano
atua como uma indústria química na qual as máquinas e reatores possuem vida e são ajustados
para produzirem um rendimento máximo, tendo como funções:
produzir cópias exatas de si mesma, de modo que o organismo possa continuar a viver
mesmo depois das células-mãe terem morrido.
Como a indústria química moderna, cada uma das células é subdividida em vários
compartimentos por membranas. Possui ainda uma central de energia que funciona a partir
da luz solar ou da ingestão de alimentos e um centro de controle (núcleo). A central, destinada
a fornecer energia ao sistema; e o núcleo, a fornecer informações a máquinas e reatores
para que estes operem as transformações necessárias. Na linha de produção, algumas
máquinas são responsáveis pelo transporte dos reagentes. Os reatores, organelos (ou
organitos ou organóides) operam as transformações químicas propriamente ditas, enquanto
outras máquinas, as vesículas de transporte, são responsáveis pelo acondicionamento dos
produtos finais e pelos descartes de produtos secundários ao processo. Como vemos,
a célula funciona como uma verdadeira fábrica química e será estudada em detalhes na
disciplina Química da Vida.
ORGÂNULOS
8. Retículo
1. Nucléolo
Endoplasmático Liso
5. Ergastoplasma ou Retículo
12. Lisossomas
endoplasmático rugoso (RER)
7. Microtúbulos
Várias tentativas de explicar a origem da vida têm sido empreendidas pelo homem desde
épocas remotas. As primeiras propostas surgiram na Grécia Antiga e até a presente data servem
de motivação ao homem moderno na tentativa de elucidar e explicar o enigma da vida. Algumas
delas são descritas a seguir.
A Teoria do Criacionismo admite que o universo e a vida em suas origens foram moldados
a partir da intervenção de um ser primordial ou matéria primordial.
• e por fim, uma fonte de energia (por exemplo: energia térmica, o sol).
As moléculas simples, geradas em meio aquoso, deram origem a uma sopa primitiva,
a partir da qual moléculas orgânicas complexas como, aminoácidos, açúcares e bases
nitrogenadas, evoluíram. Você estudará essas moléculas na disciplina Química da Vida.
Ao balão de 500 ml, Miller adicionou um pouco de água e com o auxílio de uma bomba
de vácuo extraiu o ar residual. Adicionou ao balão de 5,0 litros uma mistura dos gases Metano
Todavia, em laboratório, ainda não foi possível produzir um sistema capaz de cumprir
cada uma das etapas mecanísticas necessárias a dar origem à vida. Sobretudo, porque,
diferentemente da Terra primitiva, os cientistas, além de desenvolverem as reações fazendo
uso de soluções diluídas, trabalham com uma escala de tempo de apenas algumas semanas.
Enquanto, na Terra primitiva, todo o oceano líquido, ainda pouco profundo, esteve exposto à
radiação solar por bilhões de anos.
De uma coisa, porém, devemos estar certos. A vida não resulta de um milagre, mas de
uma combinação de moléculas simples em condições físico-químicas favoráveis, capaz de
evoluírem para moléculas mais complexas, estas sim, suas precursoras.
Não obstante, nomeamos de ser vivo todo o ser que para o exercício da vida, além de
apresentar uma constituição celular, sinta a necessidade de
Atividade 5
Mesmo sabendo que a ciência ainda não encontrou elementos para definir
a vida, qual a sua opinião a respeito dela?
Atividade 6
Descreva os requisitos necessários ao desenvolvimento da evolução
química da vida.
Por outro lado, a evolução biológica se deu através de uma sucessão de eventos como
a geração de diferentes aminoácidos e açúcares a partir das condições físico-químicas
do ambiente, somadas à presença de algumas moléculas simples de gases constituintes
da atmosfera terciária. Os aminoácidos assim formados se combinaram, originando as
proteínas primitivas. Estas, envoltas por moléculas de lipídios, evoluíram quimicamente para
macromoléculas, protegidas das intempéries do ambiente por uma película que, no decorrer
do tempo, adquiriu a textura da membrana celular.
Uma outra teoria explica a formação da célula levando em consideração o fato das
moléculas de lipídios (gorduras), formadas nos oceanos primitivos a partir de processos
semelhantes ao desenvolvido por Miller e Urey em laboratório, se fundirem para gerar pequenas
bolhas. No interior destas, os aminoácidos formados evoluíram quimicamente, originando as
cadeias de proteínas e os açúcares semelhantes às do RNA e DNA (Figura 4).
A primeira célula viva gerada por uma das hipóteses formuladas levou centenas de
milhões de anos para se consolidar. Além de estar isenta de toda e qualquer ameaça de
destruição, ela era exclusiva. Porém, passada essa fase, as suas descendentes povoaram em
um curto espaço de tempo os mares e consumiram grande parte da matéria orgânica da qual
se originaram, reduzindo a possibilidade de surgir um outro tipo de célula espontaneamente.
Ela é, na realidade, a grande responsável por toda a diversidade de vida na Terra: vegetais,
amebas, bactérias e o homem, decorrente do processo de seleção natural.
Com isso, Darwin quis dizer que a vida é uma verdadeira competição por recursos
existentes, porém escassos. Para sobreviver, o indivíduo, além de vencer a competição, deve
resistir às intempéries da natureza. Por exemplo: a seca.
As críticas feitas ao trabalho de Darwin são motivadas porque ele não explica as razões
pelas quais os filhos não são idênticos aos pais, fato que os geneticistas só aprenderam a
justificar quando aconteceu a descoberta e a elucidação da estrutura do DNA. Sabe-se hoje que
as diferenças existentes originam-se de pequenos erros ocorridos no momento da duplicação
do DNA.
Atividade 8
De acordo com a Teoria da Evolução de Darwin, qual a origem do homem?
Para se ter uma idéia a respeito da diversidade animal gerada por esse ato primordial,
basta empreendermos o senso da natureza a partir do qual contabilizamos a existência de
mais de:
8.400 espécies de peixes de água doce e 13.300 peixes de água salgada, alguns dos quais
com até 18 metros de comprimento. Esses números não computam os invertebrados
(seres sem coluna vertebral) e as espécies ainda não conhecidas.
Para que você compreenda o significado dessa última afirmação, relataremos o que se
passa com o cérebro de uma criança recém-nascida.
Uma criança nasce com cerca de aproximadamente 100 bilhões de células cerebrais,
chamadas neurônios, conhecidas por armazenar e transmitir informações. Ao nascer, a
maior parte delas não está conectada à rede nervosa, mas não tarda, após o nascimento
a se lançarem em um turbilhão de atividades e a se reunirem para formar os circuitos
neuronais. São estas conexões que permitem a criança ver, escutar, sentir, caminhar,
falar, pensar, entre outras ações.
(CCCF/CICH, 2001)
O homem, durante muito tempo, aceitou a idéia de ser parte integrante de um mundo
estacionário, material e temporalmente. A resposta dada a qualquer questionamento feito a
respeito da origem do mundo e da vida tinha como fonte de pesquisa os textos religiosos. Os
sábios, até o final do século XIII, pensavam que a aparição do homem sobre a Terra tinha uma
data (ano 3761 a.C.): a criação do mundo de acordo com o Velho Testamento.
apresentam mobilidade dos dedos, capacidade preênsil nas mãos e cinco dedos nos pés;
fácil mobilidade nas árvores, tendo em vista a sua facilidade de agarrar-se nos galhos;
Atividade 10
Você já tem conhecimento suficiente para definir o homem. Vamos tentar?
O conhecimento do ser humano exige um estudo das diferentes fases pelas quais a
humanidade passou, desde a sua fase mais primitiva, Hominídea, até a fase presente, a do
homem atual. Para isso, precisamos responder à pergunta: onde e quando surgiu o homem?
Os antropólogos e paleontólogos modernos, consensualmente, admitem que o berço da
humanidade é a África. A descoberta de fósseis humanos no vale da garganta de Olduvai, no
Quênia (Tanzânia), na África Oriental, reforça ainda mais essa idéia.
o Paleolítico, do grego paleos, antigo, e lithos, pedra: primeiro período da era quaternária,
durante a qual apareceram os primeiros homens a trabalhar a pedra;
Atividade 11
Construir a árvore genealógica da sua família.
Autoavaliação
O que é um sítio arqueológico? Na sua região existe algum? Caso a sua resposta
1 seja afirmativa, faça uma breve descrição do sítio.
2 Qual o papel desempenhado pela principal estrela do sistema solar na origem da vida?
3 Qual a sua opinião a respeito das teorias que buscam explicar a origem da vida?
4 Por que a escrita é tida como a interface que separa o período paleolítico do neolítico?
BRODY, D. E.; BRODY, A. R. As sete maiores descobertas científicas da História. São Paulo:
Companhia das Letras, 2000.
Ce que nous savons au sujet du cerveau. CCCF/CICH, 2001. Canadá. Disponível em: <http://
www.cccf-fcsge.ca/projects/What%20We%20Know-f.pdf>. Acesso em: 07 fev. 2005.
EL-HANI, C. N.; VIDEIRA, A. A. P. O que é vida? Rio de Janeiro: Relume – Dumará, 2001.
HAZEN, R. M.; TREFIL, J. A grande aventura da ciência. Portugal: Fórum da Ciência, 1991.
Aula
10
Apresentação
N
esta aula, você verá como houve uma modificação, ao longo dos séculos, na maneira
de entender o mundo. Se no início predominavam visões fantásticas e mitológicas da
Terra e do universo e depois passamos para uma descrição de um mundo subordinado
aos nossos desejos e do qual éramos donos, hoje, entendemos nosso planeta como um sistema
dinâmico e integrado, com capacidade de responder a modificações em suas partes. Essa
abordagem retoma uma discussão holística conhecida como Hipótese Gaia, muito parecida em
sua abordagem com a do índio Seatle, cuja carta nós já discutimos. As implicações desse novo
olhar é um assunto muito interessante que faz parte da história da ciência e do pensamento
do homem.
Objetivos
Após estudar esta aula, você deverá ser capaz de:
A
maneira como nós, os seres humanos, entendemos o mundo tem mudado incrivelmente
através dos tempos. O homem primitivo tinha uma visão limitada de tudo. Seu universo
resumia-se às imediações de onde habitava. Com pouco conhecimento sobre os seres
vivos e o meio ambiente que lhe cercava, tinha uma descrição mágica e mítica, como você viu
em nossa primeira aula.
No entanto, nossa espécie sempre se destacou por possuir uma grande curiosidade,
capacidade de experimentação e aprendizado. Quando analisamos as inscrições rupestres,
percebemos um acurado modo de observação e registro da realidade pelos nossos ancestrais,
sendo esse processo o início do acúmulo de conhecimentos sobre o mundo em que vivemos.
Figura 1 – Pintura rupestre encontrada em uma caverna na França, mostrando cena de animais em movimento.
Tais pinturas foram produzidas por nossos ancestais que ali habitaram há milhares de anos, durante
o período Paleolítico.
Fonte: FRANÇA. Ministère de la Cultere et de la Comunication. La grotte de lascaux. Disponível em: <http://www.culture.gouv.fr/culture/arcnat/lascaux/en/>.
Acesso em: 10 maio 2005.
Anaxímenes (c. 525 a.C.) afirmou que a Terra flutuava no ar e que o Sol se escondia
atrás de partes altas da terra, tal como atrás de grandes montanhas. Por isso, tínhamos uma
variação de dia e noite. Uma representação dessa idéia está mostrada na Figura 3.
Fonte: Empedocles double sphere system: day and night. Disponível em: <http://
www.perseus.tufts.edu/GreekScience/Students/Ellen/Empedocles.jpg>.
Aristóteles (384-322 a.C.), um dos maiores gênios que já existiu, imaginava que o
mundo era constituído, na verdade, por três mundos:
o terrestre (formado pelos quatro elementos: água, terra, fogo e ar);
E a sua “física” vai explicar os fenômenos naturais levando em conta esses três mundos,
cada um com suas próprias leis naturais. Por exemplo, ele dizia que o fogo tinha sua chama
sempre subindo porque seu estado natural era o espaço. Uma pedra caía pelo simples fato de
que era esse seu estado natural e, por isso, quanto maior sua massa, maior sua tendência a
permanecer nesse estado. Em conseqüência, ele acreditava que uma pedra mais pesada caía
mais rápido do que uma mais leve (esse engano passou quatrocentos anos para ser corrigido,
e o foi por Galileu).
Mesmo durante a Idade Média, ainda pensava-se que existia o mundo dos mortos abaixo
de nós, o Hades; o Paraíso ou Éden, acima, residência dos deuses e eleitos; e que a terra era
plana e cercada por águas.
Figura 4 – Visão mitológica do mundo onde a Terra era plana e envolvida por uma campândula de cristal na qual
estavam fixadas as estrelas.
Fonte: The mytological world view. Disponível em: <http://nrumiano.free.fr/Images_cg/Anccosm_E.gif>.Acesso em: 10 maio 2005.
Nicolau Copérnico (1453-1543), em 1543, demonstrou que a Terra gira em torno do Sol
e que não é o centro do universo, derrubando, assim, o geocentrismo e substituindo-o pelo
heliocentrismo. Com essa teoria, inicia-se o processo de conduzir o homem ao seu devido lugar
no cosmos. Essa mudança de referencial da Terra para o Sol representa o que para muitos foi
a primeira grande revolução científica na história da humanidade.
Das revoluções nos céus, passamos agora para as terrestres. Charles Darwin (1809-1882)
derrubou mais um grande mito que nos colocava como o centro da criação, o antropocentrismo.
Com sua teoria da evolução, demonstra a origem animal do homem, a qual descende de seres
tidos, até então, como inferiores, derrubando junto a teoria criacionista cristã.
Outra grande revolução deu-se quando deixamos de ver nosso planeta como algo inerte,
estático, ou seja, como um planeta onde coexistem organismos vivos e uma porção inanimada
e independente formada pelos continentes, montanhas, nuvens e oceanos. Por incrível que
pareça, até o início do século XX era assim que pensávamos.
Aquela forma limitada de ver a Terra foi auxiliada pela separação das ciências em suas
áreas específicas. Os geólogos e biólogos (para ficar só com essas duas especialidades), em
sua maioria, possuíam visões restritas sobre nosso planeta. Do ponto de vista dos geólogos,
a Terra era uma bola de rochas sobre um núcleo líquido, umedecida pelos oceanos e com uma
tênue camada de ar nos isolando do espaço sideral. Já para os biólogos, os organismos vivos
eram entidades isoladas tão adaptáveis que estavam preparados para quaisquer mudanças
materiais que pudessem ocorrer durante a história do planeta.
Figura 5 – James Lovelock (1919), químico britânico independente com doutorado em Medicina e Biofísica, é o
formulador da Hipótese Gaia.
Fonte: James Lovelock. Disponível em: <http://www.makingthemodernworld.org.uk/stories/the_age_of_ambivalence/02.ST.06/img/IM.0208_zl.jpg>.
Acesso em: 10 maio 2005.
O nome da teoria foi sugerido pelo escritor britânico William Golding (1911-
1993), amigo de Lovelock, e é o nome da Deusa da mitologia grega Gaia ou Geia,
a personificação da Terra, que representa o elemento primordial do qual saíram as
raças divinas. Nasceu depois do Caos (personificação da vida primordial, anterior
à criação) e antes de Eros (Deus do amor). Sem o auxílio de nenhum elemento
masculino, engendrou o Céu (Urano), as Montanhas e o Mar. Os antigos gregos
consideravam que Gaia possuía o segredo dos destinos.
Outro marco no desenvolvimento desse pensamento foi em 1900, com a teoria das placas
tectônicas formulada pelo geólogo, meteorologista e explorador alemão, Alfred Wegener (1880-
1930), afirmando que os continentes movem-se envolta do planeta como cubos de gelo em
um copo. Dessa forma, foi formulada a teoria da deriva continental, isto é, os continentes
não possuíam no passado a conformação como vemos hoje em dia e continuam afastando-se
uns dos outros.
Segundo Lovelock, a atmosfera de um planeta onde não existe vida deve estar em
equilíbrio, isto é, todas as reações químicas possíveis já ocorreram e os gases da atmosfera
estão relativamente inertes. Por outro lado, se existe vida, os gases não estão em equilíbrio e
muitas reações acontecem. A exceção seria o início e fim da existência de organismos vivos,
quando poderia haver uma atmosfera em equilíbrio químico mesmo na presença de vida.
Levando isso em consideração, podemos traçar um paralelo entre as atmosferas de
Vênus, de Marte, da Terra atual e primitiva (tabela a seguir). Observe que Vênus e Marte
possuem atmosferas em equilíbrio químico, ricas em dióxido de carbono, com pouco
nitrogênio e praticamente sem oxigênio.
O planeta Terra possui atualmente uma atmosfera rica em nitrogênio, pobre em dióxido
de carbono e com bastante oxigênio, mas no passado, quando ainda não existia vida, possuía
uma atmosfera muito parecida com as dos outros dois planetas.
A Terra atual, rica em vida, possui uma atmosfera altamente oxidante e reativa devido à
presença de oxigênio (O2). A atmosfera de hoje é constituída por uma rara e instável mistura
de muitos gases, indicando que não está em equilíbrio químico, estando, no entanto, bem
adaptada às necessidades da vida. Por essa óptica, espera-se que exista vida na Terra, o que
todos nós sabemos ser verdade.
Os níveis atuais de oxigênio e dióxido de carbono em nossa atmosfera são ideais. Menos
oxigênio comprometeria a respiração dos seres vivos; mais (por exemplo, 25 ao invés dos
21%), o planeta arderia em chamas espontaneamente. Sem o dióxido de carbono não haveria
a fotossíntese e uma quantidade maior levaria a um aquecimento do mar e da atmosfera. Ao
consumir e exalar esses gases, os seres vivos ajudam a mantê-los em equilíbrio. Lovelock
sugere que a vida em si mantém a composição da atmosfera.
Um novo olhar
Ao voltar o olhar do espaço sideral e dos planetas do sistema solar para a Terra, Lovelock
lançou uma nova forma de ver nosso planeta como até então ninguém havia feito.
A primeira vez que Lovelock expôs essa teoria foi em 1972, em uma nota na revista
Atmospheric Environment, com o título “Gaia vista através da atmosfera”. Utilizou como
embasamento a composição química da atmosfera e seu estado de desequilíbrio químico.
Posteriormente, ele publicou artigos juntamente com a bióloga e evolucionista americana Lynn
Margulis (1938). Em 1979, publicou o primeiro livro sobre o assunto, Gaia, um novo olhar
sobre a vida na Terra. Esse livro começou a ser escrito em 1975, quando o módulo espacial
Viking estava para aterrissar em Marte.
O ponto chave da hipótese Gaia é que esta prevê que o clima e a composição química
da Terra são mantidos em equilíbrio. Nosso planeta age como um sistema que se auto-
regula, sendo estabilizado por mecanismos físicos, químicos, geológicos e biológicos que
interagem para manter o que podemos chamar de homeostasia. Assim, precisamos ver o
planeta Terra como uma entidade complexa envolvendo a biosfera terrestre, a atmosfera,
a hidrosfera e a litosfera. Através de Gaia, a Terra mantém um equilíbrio com condições
relativamente constantes.
Essa teoria deixa de lado a visão de nosso planeta como um monte de rochas resfriadas
na superfície e líquidas em seu interior, como até então se considerava, e a descreve como
uma espécie de superorganismo, que funciona como um sistema dinâmico capaz de regular
a composição atmosférica, o clima e a salinidade dos mares, o que manteria esse sistema
sempre adequado para a vida.
A hipótese Gaia pressupõe que nosso planeta esteja vivo, levando-nos ao conceito de vida.
Essa é uma tarefa difícil. Todos nós sabemos o que ela é, mas como objeto de investigação
científica, que exige uma definição precisa, fica muito difícil de formular.
Atividade 3
Fonte: VELOSO, Caetano. Terra [letra de música]. Disponível em: <http://www.caetanoveloso.com.br/>. Acesso em: 10 maio 2005.
Note que a temperatura de uma superfície escura é maior do que de uma superfície clara,
como acontece quando pisamos descalços sobre o asfalto ou sobre uma calçada branca. Isso
ocorre porque superfícies escuras absorvem mais do que refletem os raios do sol, fato que se
dá inversamente nas superfícies claras.
As margaridas pretas, devido a sua cor, absorvem mais energia solar e se aquecem
mais rápido do que as margaridas brancas. Imaginemos que o mundo das margaridas esteja
inicialmente muito frio. Nessa condição, as margaridas pretas teriam vantagem biológica
sobre as brancas e cresceriam mais rapidamente, aumentando sua população e escurecendo
a superfície do planeta.
Com a superfície mais escura, o planeta absorve mais energia solar e começa a se aquecer.
O aumento da temperatura faz com que as margaridas brancas comecem a ter vantagem sobre
as pretas e cresçam mais depressa, aumentando sua população. Brevemente, haverá mais
flores brancas do que pretas e a superfície do planeta irá refletir mais energia solar e voltará
Segundo Lovelock, esse modelo pode ser representado com muito mais espécies de
matizes intermediários. Mas, sempre obedecerá aos mecanismos adaptativos postulados por
Charles Darwin.
Visto que os oceanos cobrem dois terços da superfície terrestre, eles têm uma
importância fundamental na formação das nuvens e são o principal elemento na regulação da
temperatura do nosso planeta. Principalmente devido à produção do gás carbônico produzido
por organismos marinhos do fitoplâncton, que através do efeito estufa mantém a Terra na
temperatura à qual estamos acostumados. Assim, aumentando artificialmente a quantidade
de CO2, estamos contribuindo para o aumento do efeito estufa e, portanto, para a elevação
da temperatura do planeta.
Os indus acreditam que não existe fim, e que a morte é sempre seguida pelo renascer,
sendo o Deus Brama o responsável pela destruição e renascimento. Os antigos islandeses
acreditavam que Odim, ainda jovem, teve a visão de que o mundo terminaria em uma grande
batalha quando homens e deuses sucumbiriam. Uma tribo do gabão, os Fang, imaginam que
um dia o Sol caçará as estrelas e a Lua e as comerá.
Os cientistas hoje acreditam que uma estrela média como o Sol, que tem cinco bilhões
de anos, vive em média dez bilhões de anos. Como você já estudou na aula sobre o Sol, o
processo de extinção de uma estrela ocorre porque, devido à alta pressão e temperatura em
seu interior, ocorre a fusão do hidrogênio, que ao se fundir transforma-se em hélio. Nesse
processo, a massa inicial é menor que a final e essa diferença é transformada em energia. Por
outro lado, o He assim gerado é mais denso e impede que a energia do Sol se dissipe, levando
a um aquecimento progressivo da estrela, que culmina com a sua explosão. Nesse momento,
a temperatura solar chegaria a 100 milhões de graus centígrados, expandindo-se violentamente.
Nesse caso, a Terra será carbonizada pela alta temperatura. Mercúrio e Vênus, por estarem mais
próximos, serão os primeiros a sucumbirem à catástrofe.
Mas, não se deprima. Isso provavelmente ocorrerá daqui a cinco bilhões de anos! Até
lá, caso nossa espécie ainda exista, provavelmente teremos desenvolvido tecnologia que nos
permita colonizar planetas fora de nosso sistema solar.
Mais preocupante são os acontecimentos atuais que dizem respeito a extinções de seres
vivos. Na história de nosso planeta, já ocorreram várias extinções. Destas, pelo menos duas
foram em grande escala. A primeira ocorreu há 250 milhões de anos, quando cerca de 90%
de todos os seres vivos do planeta pereceram (alguns autores se referem a um número entre
92-95%). A segunda grande extinção ocorreu há 65 milhões de anos, quando 50% de todas as
espécies morreram, incluindo os últimos dinossauros. Para nosso alívio, e por isso estamos
aqui agora, os primeiros ancestrais mamíferos do homem sobreviveram à primeira catástrofe
e nossos ancestrais primatas, à segunda.
Dez mil anos atrás a população mundial era de cerca de cinco milhões de habitantes.
Em 1850, havia 1 bilhão, em 1950, 2,5 bilhões. Acredita-se que em 2020 haverá pelo menos
8 bilhões de seres humanos no planeta. Nossa espécie alcançou esse sucesso graças ao
somatório de alguns aspectos, desde uma forma impressionante de adaptação ao meio
ambiente, ao desenvolvimento de um sistema nervoso altamente eficiente. Aparentemente,
somos os únicos seres vivos capazes de olharmos criticamente para nosso passado e presente
e sonharmos com nosso futuro.
Encontramo-nos hoje em uma encruzilhada nunca dantes atingida por nenhuma das
civilizações que nos precederam. De um lado, temos a ciência e a técnica necessárias para
levar nosso planeta adiante, preservando ao mesmo tempo o ambiente, a vida e a sociedade.
Por outro lado, temos o poder, a ambição e o fanatismo suficientemente aguçados para utilizar
essa mesma ciência e técnica para provocar a destruição do meio ambiente e de nossa própria
espécie. Desse modo, é pertinente afirmar que o nosso futuro depende cada vez mais das
decisões individuais e coletivas que tomamos hoje.
Autoavaliação
Sistematize o pensamento do homem em relação ao nosso planeta no decorrer dos
1 anos, desde a Antigüidade Clássica até os dias de hoje.
Empedocles double sphere system: day and night. Disponível em: <http://www.perseus.tufts.
edu/GreekScience/Students/Ellen/Empedocles.jpg>. Acesso em: 10 maio 2005.
LOVERLOCK, James. Gaia: a new look at life on earth. Oxford: Oxford University Press, 1979.
_______. Healing Gaia: practical medicine for the planet. [s.l]: Harmony Books, 1991.
TURNEY, Jon. Lovelock & Gaia: signs of Life. Columbia: Columbia University Press, 2003.
Aula
11
Apresentação
N
esta aula, trataremos de um tema que afeta a todos nós enquanto seres humanos e ao
planeta como um todo: a poluição. Esse é, provavelmente, o maior problema enfrentado
por nossa sociedade. O estudo de suas causas e de ações que buscam minimizar seus
efeitos envolve, atualmente, grandes somas de recursos e tempo em pesquisa. Nesse contexto,
estão envolvidos desde o pneu velho que é atirado no rio e o lixo jogado na rua, ao reator
nuclear que, por um mau funcionamento, libera material radioativo para o meio ambiente.
Objetivos
Após estudar a presente aula, você deverá ser capaz de:
Poluição
Vejamos uma resposta técnica. Do ponto de vista científico, “a poluição pode ser definida
como a introdução no meio ambiente de qualquer matéria ou energia que venha a alterar as
propriedades físicas, químicas ou biológicas desse meio, afetando, ou podendo afetar, por isso,
a ‘saúde’ das espécies animais ou vegetais que dependam ou tenham contato com ele, ou que
nele venham a provocar modificações físico-químicas nas espécies minerais presentes”. (Gil
Portugal citado por GPCA - Meio Ambiente, 2005a)
Assim, muitas de nossas atividades cotidianas são potencialmente poluentes. Além disso,
existem atividades profissionais que envolvem um alto potencial poluidor e que, portanto,
deveriam estar subordinadas a rígidos controles sociais.
Atividade 2
Com base na definição anterior, como você responderia à seguinte questão:
no ambiente em que você mora ou trabalha, existe poluição?
Para respondê-la, você deve ter pensado em algum critério para definir se uma coisa
representa ou não poluição. Ou seja, que impacto ambiental ela provoca. Uma primeira
observação é que a poluição costuma afetar um ou mais de nossos órgãos sensitivos, como
o olfato e a visão que são afetados pela poeira e fumaça. Substâncias tóxicas prejudicam a
pele, provocando, por exemplo, coceiras e outros sintomas. Mas, cada pessoa responde de
modo diferente a tais estímulos. Ao se fazer um estudo sistemático da poluição, precisamos
classificá-la em categorias e analisar seus efeitos e formas de controle.
Um exemplo do tipo provocado por agente físico é a sonora; por agente químico, a
contaminação do ar pela fumaça expelida pelos ônibus, carros e caminhões; e biológico, por
introdução em um dado ambiente de plantas e animais que não pertencem ao ecossistema.
Também se pode abordar o problema da poluição a partir do efeito ambiental mais próximo,
nesse caso, teríamos a atmosférica, a hídrica e a dos solos. Vejamos cada uma delas.
Poluição atmosférica
Quando falamos de poluição atmosférica, estamos nos referindo a mudanças provocadas
na qualidade do ar. Já sabemos, desde a aula 3, que o ar é, entres outras coisas, inodoro,
transparente. Assim, quando se trata da poluição do ar, estamos falando de alterações de uma
ou mais dessas características. Essas alterações podem ser de curta, média ou longa duração e
seus efeitos são atualmente sentidos em escala cada vez maior nos grandes centros urbanos.
Atividade 3
Pesquise e identifique o tipo de poluição do ar (se existir) mais comum em
sua região. Existe alguma atividade local com o objetivo de controlar tal agente
poluidor?
Um dos efeitos globais relacionados com esse tipo de poluição é o chamado “aquecimento
global” que vem alterando a temperatura do planeta e, com isso, afetando os ciclos biológicos
importantes. Por exemplo, o pássaro “papa-mosca-preto” todos os anos, migra da África em
direção à Holanda, onde se reproduz. Nessa mesma época, na região de nidificação desses
pássaros, a mariposa Operophtera brumata começa a nascer das lagartas. Essas mariposas são
o alimento dos filhotes do “papa-moscas”. Com o aquecimento global, a época de reprodução
desses pássaros foi alterada por algumas semanas e, assim, quando eles nascem, já não
encontram mais seus alimentos, visto que a reprodução das mariposas não foi alterada.
Sobre esse assunto, consulte a excelente reportagem “O calor aumenta”, dos repórteres Tim
Appenzeller e Dennis R. Dimick, da revista da National Geographic – Brasil, publicado em
setembro de 2004 na página 68.
Atividade 4
Você já notou alguma mudança na flora, na fauna ou no clima de sua região?
O que mudou? Explique.
Vemos assim que são inúmeras as fontes de poluição atmosférica. E que por se propagar
livremente no ar e ser levada pelos ventos, esse tipo de poluição não respeita fronteiras
geográficas e não fica circunscrita à região da fonte poluidora. Assim, devido aos fenômenos
de circulação global (veja a aula 3), a poluição gerada em uma casa pode atingir toda uma rua
ou a produzida num país pode atingir outro ou mesmo atravessar continentes.
Poluição sonora
Quando o homem surgiu há mais de 100.000 anos, nosso planeta já era um mundo
de sons e, por isso, foi dotado de um sistema auditivo adequado para tais sons, que na sua
maioria, eram provocados por seres vivos, na faixa de 60dB (dB = decibéis, unidade de medida
da intensidade de uma onda sonora).
E, por outro lado, no mundo antigo, o intervalo de tempo em que nossos ouvidos “podiam
descansar” sem serem submetidos a ruídos significativos era muito grande. Podemos, então,
definir a poluição sonora como o conjunto de todos os ruídos provenientes de uma ou mais
fontes sonoras, manifestadas ao mesmo tempo, num ambiente qualquer.
Esse tipo de poluição tem reflexos em todo o organismo e não apenas no aparelho auditivo.
Ruídos intensos e permanentes podem causar vários distúrbios, alterando significativamente
o humor e a capacidade de concentração nas ações humanas. Provoca interferências no
metabolismo de todo o organismo com riscos de distúrbios cardiovasculares, inclusive a
perda auditiva.
Alguns efeitos da poluição sonora são: perda da concentração; perda dos reflexos; irritação
permanente (mau humor); dores de cabeça; fadiga (sensação permanente de cansaço).
Em geral, hoje nas grandes cidades, as maiores fontes de poluição sonora são veículos
com motores pesados, automóveis, fábricas, construção civil, aeroportos, carros de
propaganda, entre outros.
Na faixa de até 90dB, o nosso ouvido reage bem e qualquer dano é de natureza
psicológica. Por exemplo, pessoas que moram em cidades grandes, quando se deslocam
para o interior apresentam, nos primeiros dias, dificuldade para dormir, pois o cérebro está
acostumado a um alto nível de ruído e sente quando esse nível cai. O mesmo ocorre com
uma pessoa acostumada com o ruído baixo do campo e vai para uma cidade movimentada.
Ao contrário da poluição do ar, a das águas afeta a região próxima das fontes poluidoras,
podendo eventualmente também se propagar por muitos quilômetros, acometendo regiões
relativamente distantes dessas fontes.
Fundamental para a vida, nosso próprio corpo é composto fundamentalmente por água (70%).
Ela é um bem precioso e raro que apresenta distribuição geográfica não uniforme na superfície
terrestre (lembre-se da aula 2 desta disciplina). Observe como se dá a distribuição da água na Terra,
descrita nos próximos parágrafos.
Quase 96% de toda a água do planeta está concentrada nos oceanos (portanto, água salgada).
Restando, assim, apenas uma pequena fração da ordem 4% que seria potável e disponível para a
vida. Desses 4%, temos 3%, ou seja, a maior parte, na forma de gelo, neve ou abaixo da superfície
compondo as águas subterrâneas e os chamados lençóis freáticos.
Assim, só resta para alimentar praticamente todas as espécies vivas do planeta uma pequena
fração de cerca de 1% de toda a água terrestre, a qual se encontra armazenada em lagos e rios como
umidade presente no solo ou na atmosfera formando as nuvens e o vapor d´água.
Dividindo esse 1% com o restante do planeta (animais e plantas), fazemos uso da água de uma
forma muito mais intensa e diversificada que as outras espécies vivas, pois, no nosso caso, além de
indispensável à vida, a água é também indispensável em praticamente qualquer atividade humana,
seja nas indústrias, na agricultura, na pecuária, nos lares ou no lazer. De tão importante, a água é um
critério básico utilizado pelos cientistas que procuram indícios de vida fora da Terra. A não existência
de água significa a não existência de vida.
A canavieira, muito comum em nossa região, é uma atividade que envolve sérios riscos
ambientais. A começar pelo plantio da cana-de-açúcar, caracterizado como uma monocultura,
que ocupa vastas áreas e que provoca sérios desequilíbrios na flora e na fauna da região onde
é plantada. Assim, inicia-se o processo pelo desmatamento.
Nessa atividade, animais e plantas nativos são mortos e destruídos. Logo em seguida
prepara-se a terra com material químico de natureza diversa procurando adequar o solo às
necessidades da cana. Nesse processo, ele é poluído quimicamente. Na colheita, as queimadas
poluem o ar e enfraquecem o solo ao destruir, pelo fogo, nutrientes e microrganismos.
Finalmente, na fase industrial, os efluentes líquidos dessa atividade, como a vinhaça, são
atirados em rios e córregos, matando peixes e deixando a água contaminada com resíduos
químicos típicos do preparo do açúcar e do álcool.
Muitas vezes, a própria água de chuva contribui para a disseminação, no solo e nas águas,
de resíduos poluentes através do escoamento pluvial, sendo o material deixado no solo levado
até os reservatórios aqüíferos.
No Nordeste, está surgindo uma atividade comercial que tem um extremo potencial
poluidor do solo e da água: a carcinocultura (criação de camarão em cativeiro). A preocupação
com essa atividade já ultrapassa os limites da nossa região e do Brasil, inquietando inclusive
pesquisadores de outros países, por exemplo.
REDE DE JUSTIÇA AMBIENTAL. Relatoria nacional para o direito humano ao meio ambiente.
Disponível em: <http://www.justicaambiental.org.br/conteudo.asp?conteudo_id=1944&sec=destaques>. Acesso em: 20 jun. 2005.
Como você pode perceber, apesar de bons frutos financeiros, a criação de camarões,
se não respeitar o meio ambiente, pode se tornar uma grande fonte de degradação do meio
ambiente e, portanto, de poluição. Não se pode ignorar os manguezais e sua importância para
o ciclo da vida em regiões costeiras.
Atividade 7
Pesquise na Internet a importância dos mangues e as pessoas que tiram
seu sustento a partir desse ecossistema.
Outra atividade comum é a de queimar lixo. Essa tanto polui o ar quanto o solo. Deve ser
evitada e, na medida do possível, totalmente combatida.
Por outro lado, em vários países, existe em andamento leis que tentam combater a
poluição e regular o consumo. No Brasil, poderá chegar em breve a chamada Lei das Águas,
que obrigará a todos os usuários o pagamento de taxas pelo volume tomado do copo d’água
e pelo acréscimo de poluentes que a atividade acrescentou à água originalmente tomada.
Dessa forma, para amenizar esse ônus extra que está por vir, os controles da carga
poluidora e do consumo deverão ser bem cuidados. Os tratamentos dos efluentes líquidos
deverão ser eficientes e a busca da recirculação das águas servidas deverá ser permanente.
Atividade 8
Que ações você pode propor e levar adiante, visando à preservação do seu
meio ambiente mais próximo?
Resumo
Aprendemos nesta aula o que vem a ser poluição, seus tipos e alguns de seus
efeitos. Aprendemos também que existem ações legais que visam à preservação
do meio ambiente, e também que cada um de nós pode desenvolver ações que
individualmente colaborem para a melhoria do nosso planeta.
Fonte: MADOV, Natasha; SAMPAIO, Flávio; COUTINHO; GRECO, Alessandro. Leonardo. A Terra pede socorro. Revista Veja, n. 1765, ago. 2002.
d) Compare o texto com a carta do índio Seattle. Podemos dizer que, de algum modo,
o cacique estava prevendo o que está acontecendo hoje?
Fonte: MADOV, Natasha; SAMPAIO, Flávio; COUTINHO; GRECO, Alessandro. Leonardo. A Terra pede socorro. Revista Veja, n. 1765, ago. 2002.
Por que o texto afirma que “num mundo em desequilíbrio, até a boa notícia embute
riscos para o futuro”?
a) Qual é a boa notícia que o texto apresenta e qual é o risco que ela traz?
b) Dizemos que o Brasil pode vir a ser o celeiro do mundo. No contexto apresentado,
que vantagens trariam essa postura política e quais os seus riscos?
MADOV, Natasha; SAMPAIO, Flávio; COUTINHO; GRECO, Alessandro. Leonardo. A Terra pede
socorro. Revista Veja, n. 1765, ago. 2002.
SLADEN, W.J, MENZIE, C. M, REICHEL, W. L. DDT residues in Adelie penguins and a crabeater
seal from Antarctica. Nature, v.210, n.37, maio, 1966, p.670- 673.
Anotações
Aula
12
Apresentação
Como você deve ter percebido, desde o início de nosso curso, temos enfatizado a ciência
como produção humana, e como tal, subordinada às características sociais, culturais e aos
anseios da mente.
Nesta aula, discutiremos alguns aspectos relacionados à produção do saber, de seu uso
social através das tecnologias e as ações políticas visando delimitar sua ação.
Objetivos
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
Esse tema remete nosso estudo mais uma vez à Grécia (berço do conhecimento ocidental,
vide aula 1), ao encontro dos grandes filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles, os quais
colocaram o tema da ética e da felicidade no centro da discussão filosófica. Para o primeiro
deles, o homem só é feliz quando é bom e só é bom quando conhece. Por isso, a maldade
seria fruto da ignorância, enquanto o bem, a suprema virtude.
Platão amplia o conceito socrático, afirmando que não basta ao indivíduo ser eticamente
bom, mas ser um bom cidadão, e que cabe ao Estado harmonizar a sociedade de forma que
esta possibilite o desenvolvimento da virtude do bem. Para tanto, o Estado deve conter em
seu cerne a suprema virtude coletiva: a justiça.
O que caracteriza a ética aristotélica e dos seus seguidores é que ela estuda o agir a partir
de uma concepção do homem como sendo: um animal político, que tem linguagem e
muitas vezes age logicamente (ou deveria fazê-lo) e que precisa desenvolver-se dentro de
uma sociedade concreta, num período de tempo, dentro de formas concretas de governo
de uma cidade, se quiser ser feliz.
Fonte: VALLS, Álvaro L. M. Ética na contemporaneidade. Disponível em: <http://www.bioetica.ufrgs.br/eticacon.htm>. Acesso em: 10 ago. 2005.
Atividade 1
Segundo o texto que você acaba de ler, qual a principal diferença do discurso
sobre a ética em Sócrates, Platão e Aristóteles?
Nesse contexto, um
exemplo importante de ética na ciência pode ser tirado de um
famoso diálogo entre os físicos Niels Bohr (físico dinamarquês,
1885-1962, reconhecido como um dos criadores da física
moderna) e Albert Einstein, nos momentos que precederam a
implantação, nos E.U.A., do projeto Manhattan. Como se sabe,
o início desse projeto se deu a partir de duas cartas que Einstein
enviou ao Presidente Roosevelt, alertando-o da necessidade da
construção da bomba atômica. A seguir, reproduzimos parte
desse diálogo.
O dilema e a angústia que os dois cientistas deixam transparecer no texto refere-se ao fato
de que a energia nuclear, a qual havia se beneficiado da famosa equação de Einstein (E=mc2),
cujo objetivo era a geração de energia para melhorar a vida das pessoas, estava agora sendo
transformada na mais mortífera das invenções humanas – a bomba atômica – capaz, inclusive,
imaginava-se na época, de destruir toda a humanidade.
Atividade 2
Tente descobrir, na história do Brasil, uma outra invenção feita por um ilustre
brasileiro que inicialmente tinha fins pacíficos, voltados para o transporte e lazer,
mas que acabou servindo para a guerra.
Dica: existe um caso muito importante envolvendo esse tema, e que acabou,
inclusive, em suicídio.
Aparentemente, o trabalho científico visa muito mais à verdade última das coisas do
que benefícios à sociedade. Mas, muitas vezes, o desdobramento das descobertas, como no
caso anterior, mostra ao mundo as mais belas facetas da alma humana. Um exemplo típico
está, mais uma vez, ligado à física e à química nuclear e a uma mulher extraordinária, Marie
Curie, que descobriu o elemento químico rádio e o polônio, descobertas que lhe valeram um
dos maiores reconhecimentos que a sociedade científica mostra aos seus pares: o prêmio
Nobel. Mas, se sua pesquisa científica a levou ao topo, sua grande tarefa humanitária ainda
estava por vir. Em 1914, ela acabava de criar o Instituto de Rádio da Universidade de Paris.
No mesmo ano, começou a I Guerra Mundial, e encontramos Marie empenhada totalmente
Mas, antes disso, seus trabalhos provocaram intensas polêmicas na sociedade européia, a
qual acreditava que os raios-X poderiam ser usados para ver “através das roupas” das pessoas,
invadindo suas intimidades. Felizmente, a ciência ignorou a pressão social e continuou sua
tarefa. Hoje, não podemos imaginar consultórios odontológicos e hospitais funcionando sem
aparelhos de raio-X.
Atividade 3
Pare um pouco, pense e responda: quais das modernas tecnologias mais
têm afetado sua vida? Você poderia listar alguns possíveis benefícios e malefícios
dessa tecnologia?
É possível que você tenha respondido aparelho celular, televisão ou até computador. Tenha
sentido alguma facilidade em apresentar os benefícios trazidos por tais aparelhos, mas nem
sempre tenha clareza de que existem transtornos que podem ser provocados pelo uso indevido
dessa tecnologia, como dirigir e falar ao celular ao mesmo tempo (ao contrário do que se pode
pensar, não existem evidências científicas de que o uso de aparelho celular provoque câncer)
ou o fato de ficar horas em frente a um aparelho de TV ou computador reduzir a sociabilidade
das pessoas.
Certamente, hoje essa discussão está obsoleta e a vacinação, financiada pela própria
sociedade, é um dos poderosos instrumentos de cidadania.
Para respondê-la, temos que pensar bastante. Primeiro, quando se fala em poder, se está
falando em nós enquanto sociedade. Ou seja, a sociedade para se defender de uma eventual
epidemia, pode “invadir a privacidade de um lar”?
Não, essa não é uma questão fácil de ser respondida e ela é um pequeno exemplo dos
problemas enfrentados pela Bioética. Nela, aparece a dicotomia entre os deveres e direitos
individuais e os direitos e deveres coletivos, como também os motivos que levam uma pessoa
a tomar essa ou aquela atitude, tanto individual quanto coletivamente.
Em um âmbito maior, temos os problemas relativos às atividades de pesquisa no campo
da saúde, envolvendo desde as cobaias humanas até portadores de doenças, como a AIDS
(Síndrome da Deficiência Imunológica Adquirida) socialmente estigmatizadas.
Comumente, questões associadas à Bioética acabam atingindo grandes proporções e
são exploradas pela mídia. Um caso interessante é o de pessoas que são mantidas vivas,
em estados chamados vegetativos, em hospitais, graças à ação de “aparelhos” os quais, se
desligados, levam o paciente à morte.
E o que se pergunta é se se deve ou não desligar tais aparelhos, quem pode ou deve tomar
esse tipo de decisão e se é socialmente aceitável manter ou não um indivíduo indefinidamente
inconsciente preso ao leito hospitalar.
A questão fica ainda mais complicada quando se sabe que em países como o Brasil o
número de leitos hospitalares é insuficiente e os custos da assistência médica muito altos, tendo
o próprio Estado limitações nessa área. Por outro lado, se está tratando da vida das pessoas
e das emoções e crenças de seus familiares em uma cultura na qual se deseja conservar a
vida a todo custo.
Assim, o desenvolvimento de toda uma tecnologia médica voltada para a preservação da
vida é colocada em xeque. Mas, nessa mesma linha, acontecem situações bastante complicadas,
como a da preservação de corpos congelados (criobiologia – um ramo da criogenia) à espera
de que a ciência descubra a cura para a doença da qual o indivíduo era portador para, então,
ressuscitá-lo e proceder posterior tratamento do mal.
Mais comum é o caso da inseminação artificial, não pela reprodução assistida, mas pelo
contingente de embriões congelados que acabam sendo destruídos sem que a sociedade
tome conhecimento. No entanto, sem os embriões congelados, não é possível a reprodução
assistida, uma técnica fundamental para casais que não conseguem ter filhos.
Se somos pacifistas – e aqui vale à pena citar Einstein: “A paz é a única forma de nos
sentirmos realmente humanos” –, a produção do conhecimento para fins bélicos seria
naturalmente danosa. Armas químicas e biológicas ou nucleares representam para a sociedade
atual uma verdadeira Espada de Dâmocles, em que só a sua produção já implica um perigo Espada de Dâmocles
tremendo, pois existe o risco de “cair em mãos erradas”, como bem nos mostram os atentados
Quando se diz que alguém
terroristas que invadem os noticiários. Por outro lado, nações que não investem em sistemas “está sob a espada de
de segurança correm o risco de serem invadidas por potências hostis ou mesmo sofrerem Dâmocles” se quer dizer
os famigerados atentados terroristas. Desse modo, a decisão de realizar ou não pesquisas que, a qualquer momento,
algo de muito ruim pode
relacionadas com armamento envolve mais que posturas morais. acontecer a ela.
Como foi dito no começo, ao iniciar seu projeto de pesquisa, o cientista, em geral, não
pode garantir os rumos que esta irá tomar, ocorrendo que muitas vezes o projeto parece ganhar
vida própria, levando o cientista em direções totalmente distintas da que ele pensava. Mas,
existem também os projetos que envolvem grupos de pesquisadores os quais, de um modo
geral, sabem como guiar seu trabalho e aí ocorre que geralmente eles tentam atrair a simpatia
da sociedade, de grupos políticos ou de corporações para o seu trabalho. A parte visível dessa
atividade aparece algumas vezes nas propagandas que recheiam as revistas que lemos, na
forma de remédios mágicos, cremes irradiantes e bebidas rejuvenescedoras, tudo sob o selo
da ciência. Será que as propagandas que apregoam efeitos fabulosos são éticas?
Finalmente, podemos olhar o que ocorre com as ciências que estudam o espaço exterior.
De suas pesquisas, resultaram todo o sistema de satélites e comunicações que permite o
trânsito global das informações que varrem o planeta quase à velocidade da luz. Também
permitiu chegarmos a Marte e pensar em projetos mirabolantes, como torná-lo habitável
mudando sua atmosfera a partir da introdução em sua superfície de algas ou outros seres
que produzam oxigênio em grande escala. Mas, é lícito mudar outro planeta, quando não
resolvemos nossos problemas ambientais? Mesmo sabendo que “as intervenções no meio
ambiente exigem agora uma percepção científica e filosófica da sua organização acrescida de
preocupações éticas”? (CARVALHO, 1994, p. 47).
Olhamos a placa e vemos que o nome do “porto” é razão, poderia ter sido outro o nome
do “barco”, curiosidade, ou poderia ter sido outro, mistério; mas este é o nome do próximo
porto, ou será o nome do mar?
Autoavaliação
Podemos dizer que a sociedade atual é uma sociedade tecnológica em que os
valores da ciência ocupam cada vez mais espaço em detrimento de outros valores
sociais. Escreva um texto (prosa, verso, conto, ou outro que você escolha) com
aproximadamente 30 linhas sobre os perigos de uma sociedade dependente da
tecnologia e da ciência sem as “rédias” da ética.
Referências
CARVALHO, Adalberto Dias. Utopia e educação. Porto – Portugal: Ed. Porto, 1994.
GAROZZO, Filippo. Albert Einstein. São Paulo: Editora Três, 1974. p. 117. (Os homens que
mudaram a humanidade).
KITTEL, Charles; KNIGHT, W. D.; RUDERMAN, M.A.. Curso de física de Berkeley: mecânica.
Brasília: Editora Universidade de Brasília / Editora Edgard Blucher, 1965.
SILVA, Fernando Correia da. Osvaldo Cruz: médico, cientista: 1872 – 1917. Disponível em:
<http://www.vidaslusofonas.pt/osvaldo_cruz.htm>. Acesso em: 10 ago. 2005.
Aula
13
Apresentação
E
studaremos a tríade Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS). Para atenuar as dificuldades
de compreensão do tema proposto, consideramos pertinente abordar isoladamente
cada um dos itens nele implicados. Isso porque a sociedade atual, superficial e
consumista, vive imersa em uma ciência irreal para a grande maioria, a qual envolve átomos
e seus constituintes, moléculas, vôos espaciais, genes, DNA, chips, buracos negros, todos
decorrentes de descobertas científicas. Assim, enquanto a ciência busca através das suas
pesquisas a verdade, a tecnologia se rende à eficiência de suas máquinas. Enquanto a ciência
procura incessantemente formular as leis que regem a natureza, a tecnologia faz uso dessa
formulação para criar as ferramentas que permitam ao homem reger a natureza. No entanto,
ciência e tecnologia buscam caracterizar os sistemas que constituem o universo complexo
a partir das ações de agentes, instituições, produtos, conhecimentos, técnicas, entre outras,
tendo a frente o ser humano, principal articulador na busca por desvendar a natureza como
representante da sociedade.
Objetivos
Permitir a você:
Atividade 1
Existe um problema? Caso a sua resposta seja afirmativa, caracterize- o.
1 Ele exige solução imediata? Como se pode resolvê-lo?
Origens da Ciência
A ciência sempre existiu?
A resposta para essa questão pode assumir ares afirmativos ou negativos. Ela só depende
do que você entende por ciência. As primeiras civilizações estudavam os temas que hoje são
considerados científicos. Por exemplo, a revolução Neolítica ocorreu há cerca de dez mil
anos e, com ela, se deu a invenção da agricultura e de outras atividades artesanais. Hoje, os
agrônomos, profissionais qualificados que trabalham com a agricultura, são considerados
cientistas. No entanto, há 700 anos a.C., o poeta grego Hesíodo, em sua obra Os Trabalhos
e os Dias, fez uma mítica narrativa de como a agricultura se desenvolvia na sua época, aqui
resumida nos versos que seguem:
Nosso personagem, pois, jaz há centenas de milhões de anos ligados a seus amigos
mais íntimos, Oxigênio e Cálcio [...]. A certo momento da história, um golpe de picareta
o destacou e o encaminhou para o forno de cal, precipitando-o no mundo das coisas que
mudam. Foi aquecido a fim de separar-se do Cálcio, ainda firmemente agarrado a dois
daqueles três amigos Oxigênios de antes, escoou pela chaminé e tomou o caminho do
ar. Sua história, de imóvel, fez-se tumultuosa.
[...] Dissolveu-se por três vezes na água do mar, uma vez na água de uma torrente
em cascata, e ainda foi expulso. Viajou com o vento por vários anos: ora alto, ora baixo,
sobre o mar e entre as nuvens, sobre florestas, desertos e imensidões desmedidas de
gelo; depois se viu capturado na aventura orgânica.
De fato, trata-se de um elemento singular: é o único que liga-se a si mesmo
formando longas cadeias estáveis sem grande dispêndio de energia, e para a vida na
terra (a única que até agora conhecemos) se necessita justamente de longas cadeias.
[O átomo de que falamos, na companhia de seus dois satélites, foi então conduzido
pelo vento, ao longo das videiras do vale do São Francisco. Teve a fortuna de roçar uma
folha, nela penetrar e ser fixada por um raio de sol.]
Adere a uma grande e complicada molécula que o ativa, e simultaneamente recebe
a mensagem decisiva do céu sob a forma fulgurante de um feixe de luz solar: num
instante, como um inseto prisioneiro da aranha, é separado de seu oxigênio, combinado
com o hidrogênio e (acredita-se) o fósforo, e por fim inserido numa cadeia; longa ou
curta, não importa, é a cadeia da vida. Tudo isto acontece rapidamente, em silêncio, sob
a temperatura e a pressão da atmosfera, e grátis: caso você desvende como operar essa
transformação, terá resolvido o problema de fome no mundo.
[...] esta química fina e elegante se deu pela primeira vez, há dois ou três bilhões
de anos [...]. (LEVI, 1994, p. 226)
Conceito de Ciência
A ciência é apenas uma fração da tentativa da humanidade de compreender o mundo em
todos os seus aspectos. Descreveremos a seguir algumas das suas definições gerais.
Sentido antigo: conhecimento racional que versa sobre a essência do real (por oposição
à opinião).
Por sua vez, Russ, em seu Dicionário de Filosofia (1994, p. 35), apresenta afirmações de
alguns filósofos sobre a ciência.
Platão: “A ciência não reside nas impressões, mas no raciocínio sobre as impressões,
pois é por esta via, parece, que se pode atingir a essência da verdade.”
Bernard: “A ciência [...] consiste em encontrar as causas próximas dos fenômenos, isto
é, suas condições materiais de existência.”
Origens da Tecnologia
A tecnologia sempre existiu?
O fogo foi outro elemento essencial à evolução da tecnologia humana, obtido pelo homem
primitivo através de um dos modos mencionados a seguir (CASCUDO, 2004, p. 168):
O domínio do fogo pelo ser humano foi a origem da primeira grande revolução tecnológica.
Lembramos que ainda hoje, em pleno século XXI, o fogo continua sendo a principal fonte de
energia do mundo. Ele foi conhecido pelo homem primitivo há quatrocentos mil anos. O
primeiro ancestral a conhecê-lo foi o Homo erectus, que deixou vestígios do seu uso nas
cavernas do Homem de Pequim. A verdade é que quando o homem apareceu na sua versão
sapiens, o fogo já assava a carne e clareava as grutas por ele habitadas há mais de 8 mil
séculos. Assim, o fogo serviu como elemento de agregação da raça humana e foi utilizado
para fixar, auxiliar e defender os primeiros agrupamentos humanos.
Por sua vez, o homem, na versão batizada por Bérgson (JANET, 1935 p. 7) de Homo faber,
passou a tirar proveito da iluminação das cavernas para execução de trabalhos noturnos como:
tratamento de peles e couro, o fabrico de armas e colares, pinturas rupestres, entre outros.
Com o decorrer dos séculos, uma outra revolução tecnológica estava prestes a acontecer,
como descreve o soneto Lápide, do poeta e escritor paraibano Ariano Suassuna, citado por
Trancoso (2005).
(SUASSUNA, 2005)
Ainda hoje, em nossa região, como também em várias outras regiões do mundo, o fogo
é bastante utilizado como fonte de aquecimento, de cozimento de alimentos, como forma de
afugentar animais, limpar terrenos (as queimadas), em processos de secagem e endurecimento
de madeira, no cozimento de cerâmicas e em vários outros processos.
Conceito de Tecnologia
A palavra tecnologia (do grego: techne) significa arte ou habilidade. Percebemos, assim,
que a tecnologia é uma atividade essencialmente prática que consiste mais em alterar, com o
objetivo de aperfeiçoar, do que em compreender os sistemas.
a Tecnologia aproveita-se dos conhecimentos, das informações que o diálogo limpo deu
à Ciência para fazer artefatos, instrumentos. Ora, todo artefato serve a alguma vontade, a
do inventor ou de seu patrão. Isto tem a ver com poder, por pequeno ou grande que seja.
É uma atitude impositiva, é o contrário da atitude básica da Ciência, que é contemplativa.
Muito embora no mundo atual vivamos envoltos pela tecnologia, a sua definição é tarefa
extremamente complexa. Por exemplo, podemos dizer que tudo aquilo que é fabricado pelo
homem, e não pela natureza, é tecnologia. No entanto, essa definição torna-se muito simples
em uma discussão envolvendo profissionais da Engenharia Genética. Se os genes de certa
variedade de cana-de-açúcar são fabricados por um cientista, esta cana será natural ou
artificial?
A tecnologia também pode ser definida como todo utilitário fabricado pelo homem para
ajudá-lo nas tarefas a serem empreendidas no seu ambiente natural. Essa definição permite
a inclusão de instrumentos, como: parafusos utilizados na construção de casas, móveis e
equipamentos em geral, assim como um simples zíper, componente dos jeans e de vestimentas
diversas.
Tendo em vista que grande parte dos seres não conseguem sobreviver isolados, mas
unicamente em sociedade, e que as sociedades humanas são compostas por redes complexas
de ritos e costumes, desde muito cedo, os pensadores orientais e ocidentais se pronunciaram
a respeito do termo sociedade. Alguns deles apresentamos a seguir:
Auguste Comte (1852, p. 154): “a sociedade repousa permanentemente sobre uma livre
concorrência, nela não existem transações duráveis e modificações legítimas, exceto
as que resultam de consentimento voluntário de diversos cooperadores.” Quanto a sua
organização, pode ser: igualitária, totalitária, permissiva, religiosa ou laica; quanto a sua
acessibilidade a outros grupos: fechada ou aberta.
Esse último conceito nos faz viajar no tempo e antever que as criações humanas são
produtos de uma estrutura genealógica complexa decorrente de influências culturais e esforços
conjugados pela sociedade. Do ábaco ao computador, do 14 Bis à nave espacial, é à sociedade
humana que devemos atribuir a capacidade analítica de criar e inventar e que a torna distinta
das outras sociedades animais.
Atividade 8
Levando em consideração o sentido concreto de sociedade, forneça alguns
exemplos de agrupamentos sociais.
Pessoas de nações distintas, unidas por tradições, crenças, ideais ou valores políticos e
culturais comuns, em certas ocasiões são vistas como uma sociedade (por exemplo, Judaico-
Cristã, Oriental, Ocidental etc.). Quando usado nesse contexto, o vocábulo tem por objeto
comparar duas ou mais sociedades, cujos membros representativos se caracterizam por
possuírem visões de mundo alternativas, competidoras e conflitantes.
As revoluções
industriais modernas
A idéia de ciência como empreendimento social surgiu com a Revolução Industrial, na
Inglaterra, iniciada por volta de 1750, perdurando até 1880. As invenções decorrentes dessa
revolução foram resultantes de experimentos empíricos, produtos do engenho artesanal e de um
trabalho árduo e intenso de pessoas comprometidas com o desenvolvimento industrial. Durante
esse período, as invenções não foram tantas, mas foram determinantes para o desenvolvimento
tecnológico do mundo, sobretudo, no que diz respeito ao seu principal implemento, a máquina
a vapor, desenvolvida por empresários habilidosos que só empregaram ocasionalmente os
métodos científicos, já que seus conhecimentos científicos eram limitados. A medicina, por
sua vez, progrediu principalmente no que diz respeito à higiene a ao combate das epidemias,
fazendo surgir a vacina contra a varíola e aumentando a esperança de vida.
Uma outra revolução industrial se dá entre 1880 e 1975, tendo como característica as
primeiras utilizações da informação. O homem aprende a lidar com a energia elétrica, o que faz
da máquina a vapor um instrumento obsoleto. As principais características dessa revolução são:
a racionalização sistemática;
Moore, em 1975, refez seu prognóstico. A partir da análise das dificuldades tecnológicas
presentes, anunciou que daquele momento em diante, uma duplicação do número de
transistores por unidade de superfície dos processadores se daria a cada dois anos.
Essas afirmações ficaram conhecidas como Leis de Moore. Não se trata de leis
matemáticas ou físicas, mas de simples regras hipotéticas que permitem avaliar a evolução
dos computadores. Elas foram marcantes para o desenvolvimento da informática, visto
que serviram como desafio a ser vencido pelos fabricantes de microprocessadores e, mais
particularmente, para a Intel.
melhoria da saúde (expectativa de vida) e do conforto (moradia), bens ainda não acessíveis
à classe pobre.
O problema lhe tinha sido apresentado pelo rei Hierão, soberano de Siracusa
e seu amigo íntimo. O rei havia recebido de presente uma coroa de ouro, mas tinha
certa desconfiança de que o ourives o tinha enganado e colocado prata na liga. Essa
contaminação não teria sido visível e o problema era como determinar se, de fato, havia
prata na coroa.
Arquimedes sabia que o ouro é mais denso do que a prata, de modo que o volume
de uma coroa feita de ouro puro seria menor que o de uma coroa de mesmo peso que
contivesse ouro e prata. Visto que havia uma única coroa, a que estava em discussão, com
o que ela poderia ser comparada? É daí que a banheira se torna útil já que uma peça de
ouro que pese um quilo, quando depositada em uma banheira, deslocará o mesmo volume
de água, seja ela uma massa informe ou uma coroa delicadamente trabalhada. Arquimedes
precisava apenas encontrar uma peça de ouro que tivesse o mesmo peso da coroa e depois
comparar o volume de água deslocado por cada uma delas.
HEUREKA!!
a) Egípcio;
b) Grego;
c) Romano;
d) Árabe.
e) a viscosidade da água;
f) a densidade da água;
g) a densidade dos metais;
h) a dureza dos metais.
Por fim, lembramos que a educação e a alfabetização científicas são processos voltados
não somente para a aquisição do conhecimento acumulado pela ciência. Mas também, para
a auto-afirmação do cidadão autônomo, capaz de visualizar em escala histórica os grandes
problemas que vêm assolando a sociedade, como também tomar parte no debate e se empenhar
em resolvê-los.
Desde já, esperamos que a partir deste momento você seja capaz de formular a sua
própria definição do que seja Ciência, Tecnologia e Sociedade.
Leitura complementar
CASCUDO, L. C. Civilização e Cultura. São Paulo: Global, 2004.
Autoavaliação
Assistir ao filme Tempos Modernos (Charles Chaplin) e fazer as anotações necessárias
1 à preparação de um resumo que retrate a mensagem dele. Após assisti-lo, como
você conceitua tecnologia?
Com base nos conceitos trabalhados nesta aula e no resumo preparado na atividade
2 anterior, estabeleça as diferenças existentes entre ciência e tecnologia.
DELAHAYE, J-P. Jusqu’où l’ordinateur calculera-t-il? Revue Pour la Science. n. 283, 2001.
Disponível em: <http://www.pourlascience.com/php/pls/article_integral.php?idn3=1500>.
Acesso em: 16 mar. 2005.
FURLAN, F. M. Integração & soberania: o Brasil e o Mercosul. São Paulo: Aduaneiras, 2004.
INGRAM, J. A ciência na vida cotidiana. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S. A., 2004.
LALANDE, A. Vocabulário técnico e crítico da filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
SIMAAN, A.; FONTAINE, J. A imagem do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
Aula
14
Apresentação
D
urante todo o nosso curso de Ciências da Natureza e Realidade, abordamos o estudo
do ambiente em que vivemos, ora olhando o que mais proximamente nos cerca, ora as
realidades mais distantes. Nessa penúltima aula do curso, enfocaremos o tema mais
geral de todos os que até agora tratamos: a origem do universo. Aqui, mais uma vez, você se
deparará com termos e palavras que estão na mídia, como “buracos negros”, “super-novas”,
“expansão do universo”, “big-bang”, telescópio espacial Hubble, entre outros. E, como tem
sido característica de nossas aulas, não pretendemos esgotar o tema, mas apenas mostrar
um quadro geral do que sabemos sobre o Universo. É importante lembrar que alguns pontos,
quando pertinentes, serão aprofundados, e outros, quando aguçarem sua curiosidade, podem
ser encontrados com mais profundidade em textos específicos e em filmes técnicos.
Objetivos
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
N
osso sistema solar, como mostrado esquematicamente na Figura 1, é formado por uma
estrela de porte médio, o Sol, e pelos planetas: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter,
Saturno, Urano, Netuno e Plutão. Juntamente com os satélites naturais e artificiais que
circundam esses planetas (Mercúrio e Vênus são os únicos que não possuem satélite e a Terra
é o único que possui satélites artificiais), temos ainda centenas de cometas, um cinturão de
asteróides (este situado entre Marte e Júpiter) e meteoróides (meteoros e meteoritos), além,
é claro, do próprio meio interplanetário, rico em campos e partículas.
Figura 1 – Uma visão estilizada dos planetas que formam nosso sistema solar, mostrando o curioso comportamento
do eixo de rotação de cada uma deles.
Sua origem remonta há pouco mais de 5 bilhões de anos, quando na periferia da Via
Láctea uma nuvem gasosa formada por, entre outras coisas, restos de explosões estelares
do tipo super-nova começa a se condensar, isso acontece ao mesmo tempo em que inicia o
processo de rotação em torno de um eixo. Esse processo, alimentado pela força gravitacional
leva, por um lado, à concentração de massa e, por outro, ao aumento de temperatura. Desse
sistema turbulento e catastrófico surge inicialmente o Sol. Depois, a partir de restos de matéria
que ficaram presos em torno da estrela, vão surgindo aglomerados que formarão os planetas.
Aglomerados esses que não possuem massa suficiente para se transformarem em estrelas,
mas velocidades suficientes para permanecer em órbita em torno das estrelas nascentes. Foi
assim que surgiu o Sol e todo o sistema solar e é assim que, ainda hoje, nossos telescópios
observam o nascimento de estrelas em vastos berçários estelares, como as nuvens gasosas
na nebulosa de Órion.
Relembrando um pouco sobre nosso planeta Terra, sabemos que é um pequeno corpo
celeste se movendo em um sistema planetário periférico, o sistema solar, situado em um dos
braços de uma das inúmeras galáxias que existem no Universo, a Via Láctea, a 2/3 de seu
centro. A estrela mais próxima do Sol, nossa vizinha, é a Alfa da Constelação do Centauro,
que se situa a uma distância de 4.3 anos-luz (ano-luz é unidade de distância e não de tempo).
Quando, em uma noite escura e sem nuvens, olhamos para o céu, o primeiro sentimento que
nos envolve é o de admiração. Mas, o que de fato estamos vendo é apenas uma pequena fração
do Universo, algo da ordem de 3000 estrelas! E isso é muito pouco, pois na nossa galáxia existem
aproximadamente 400.000.000.000 (quatrocentos bilhões) desses objetos celestes.
A palavra universo vem da junção de dois termos do latim, como ocorreu com filosofia,
lembra da primeira aula? Ela é formada por unus, que significa um, e por versus, particípio
passado de vertere, que significa gira. Portanto, Universo quer dizer “girar tudo junto”.
Atualmente, essa palavra tem uma conotação um pouco diferente: “tudo o que existe”. Assim,
tanto nós como as estrelas que observamos no céu noturno, bem como o pequeno inseto que
passa desapercebido ou a grande montanha que nos desafia faz parte do Universo.
Atividade 1
Até meados dos anos 90, só conhecíamos um sistema planetário: o nosso. Hoje, graças
aos sofisticados satélites e vigorosos cálculos matemáticos, já identificamos mais de uma
dezena de sistemas planetários em nossa galáxia.
Desse modo, podemos inclusive indicar nosso endereço no Universo, o qual seria:
moramos em um planeta chamado Terra, que pertence a um sistema planetário chamado
Solar, que faz parte de uma galáxia denominada Via Láctea. Assim, como será mostrado na
Figura 2, dissemos como somos, indicamos o nosso endereço e o colocamos em duas naves
chamadas Pioneer 10 e Pioneer 11.
Nosso
sol Posição relativa do Planeta de onde a sonda foi
sol em relação ao lançada
centro da via lactea
Figura 2 – Placa de ouro enviada pela NASA visando comunicar a eventuais culturas extraterrestres quem
somos, o que sabemos e onde moramos.
Se, por um lado, o envio desse recado indica que, de alguma forma, reconhecemos a
possibilidade de não estarmos sozinhos no Universo, por outro, até agora não temos nenhuma
prova objetiva de que não estamos sós.
Seguindo os caminhos das sondas Voyageres, foram lançadas duas naves da série Pioneer:
a dez e a onze. A 10, que foi lançada pela NASA em março de 1972, mandou sua última mensagem
em 31 de março de 1997, quando se encontrava a uma distância da ordem de 70 vezes a distância
da Terra ao Sol, dela não mais tivemos notícias. Já a 11, lançada em 5 de abril de 1973, mandou
sua última mensagem em novembro de 1995, momento em que estava se dirigindo para a
constelação de Áquila, onde deverá chegar daqui a 4 milhões de anos.
Atividade 2
Antes de prosseguir, tente decifrar algumas das informações
1 contidas nos elementos gráficos representados na Figura 2 e anote
as suas descobertas.
Atividade 3
Como você sabe, a luz gasta pouco mais de 8,0 minutos para se propagar
do Sol até a Terra. Quanto tempo levaria uma mensagem para vir da Voyager até a
Terra quando ela se encontrava a uma distância equivalente a 18 vezes a distância
do nosso planeta ao Sol? E, em 2025, quanto tempo gastará a mensagem para
chegar até nós?
De toda essa nossa conversa anterior, deve ter ficado em você a idéia de que o Universo
é muito grande, que contém tudo o que existe (espaço, tempo, matéria e energia). Nele, como
nos átomos, existe “mais vazio que matéria”, isto é, as distâncias interestelares (entre estrelas)
e intergalácticas (entre galáxias) são da ordem de centenas ou milhares de anos-luz.
Como você já viu, mesmo uma nave espacial, viajando a mais de vinte mil de quilômetros
por hora, levaria alguns milênios para chegar à estrela mais próxima.
No entanto, com a vasta informação que colhemos até agora, através das sondas como a
Voyager ou a Pioneer, e por imagens geradas pelo telescópio espacial Hubble, o COBE (satélite
Explorador da Radiação Cósmica de Fundo, lançado em novembro de 1989 pela NASA) e mais
recentemente pelas Cassini-Huygens (essas naves atingiram o planeta Saturno e sua lua Titã
em julho de 2004), podemos descrever com relativa segurança como se deu a evolução de
nosso sistema solar e do Universo.
A Via Láctea – nome dado pelos gregos, por imaginarem que o rastro de estrelas no nosso
céu se parecia com um caminho leitoso – tem uma dimensão fabulosa: algo como 100.000
anos-luz de diâmetro.
Atividade 4
Agora você já sabe: um ano-luz é uma medida de distância muito usada em
astronomia e corresponde ao espaço percorrido pela luz no vácuo ao se propagar
durante um ano.
Existe atualmente uma teoria muito forte que trata da origem do Universo, segundo
essa lógica. A teoria do Big-Bang (grande explosão), proposta pelo físico russo, naturalizado
americano, George Gamow (1934-1956), afirma que o Universo surgiu de uma grande explosão.
A força dessa teoria está em que suas previsões sobre algumas das características fundamentais
do Universo têm sido comprovadas a partir de cuidadosas medidas de velocidade das galáxias,
temperaturas do meio intergaláctico e sínteses de substâncias químicas e emissões de sinais
de radiofreqüências realizadas com o auxílio de instrumentos colocados em satélites.
Um Universo de números
Talvez a melhor forma de nossa mente se apropriar das imagens relativas ao Universo
seja através dos números e de comparações numéricas. Observe: se chamamos a distância
da Terra ao Sol de 1 UA (uma unidade astronômica), então nossa distância ao belo planeta
dos anéis (Saturno) seria de 10 UA e ao limite de nosso sistema seria de 39 UA. Ainda nessa
escala, a distância entre o Sol e Alfa de Centauro seria 20.000 vezes a distância Sol-Saturno,
ou seja, de 200.000 UA. E, à medida que nos afastamos, maiores se tornam os números com
os quais representamos o Universo.
Fonte: LAROCCO, Chris; ROTHSTEIN, Blair. The big bang: it sure was big. Disponível em: <http://www.umich.edu/~gs265/bigbang.htm>.
Você poderia agora estar se perguntando: Qual deve ser o tamanho de um Universo capaz
de conter mais de 100 bilhões de galáxias, cada uma com mais de cem bilhões de estrelas,
afastadas umas das outras por mais de 4 trilhões de quilômetros?
Para responder a tal pergunta, precisaremos solucionar uma outra questão tão difícil
quanto aquela: Qual seria, então, a idade do Universo?
Como você já sabe, o Universo deve ter em torno de 15 bilhões de anos. O modo de se fazer
essa conta começa com a estimativa de sua temperatura. Uma visão bastante simplificada do
problema seria: se nos aproximamos de um local onde foi feito uma fogueira, pela temperatura
do local podemos estimar se ela é recente ou não. Assim, a temperatura pode ser usada para
determinar a idade da fogueira, dentro de um certo intervalo de tempo. Uma outra informação
importante, e que complementa esta, é que os corpos a uma dada temperatura, de qualquer
que seja, desde que não seja zero absoluto, emite radiação. Seu comprimento de onda é
proporcional à temperatura. Assim, conhecendo a temperatura inicial de um dado objeto,
sabendo quanto tempo ele leva para esfriar, medimos sua temperatura e então podemos dizer
quando ele começou seu resfriamento. Podemos ainda determinar a temperatura de corpos
distantes, como as estrelas, medindo seu espectro, ou seja, o comprimento de onda da radiação
emitida por ele.
Por outro lado, em 1964, dois astrônomos, Arno Penzias e Robert Wilson, trabalhando
nos EUA, detectaram microondas oriundas do espaço exterior, descobrindo assim um ruído
de origem extraterrestre. Posteriormente, descobriu-se que, na verdade, esse ruído nada mais
era que o resto da radiação originada durante a grande explosão e que corresponde hoje ao
Para saber, então, o tamanho do Universo, seria necessário multiplicar sua idade (em
segundos) pela velocidade da luz e como o Universo, acreditamos, é simétrico, podemos
multiplicar o resultado por dois.
Atividade 5
Determine, usando as informações do texto, o tamanho do Universo.
Ao longo de sua jornada diária em torno do Sol, a Terra é bombardeada por centenas
de meteoros que, ao atingirem nossa atmosfera à altura de 82 km, sofrem abrasão devido ao
atrito com esta e se incendeiam em um espetáculo, ao qual chamamos de estrelas cadentes,
quando acontece à noite. Assim, mesmo que uma eventual colisão com um objeto celeste de
grandes proporções não seja um evento impossível, hoje, mais que em qualquer outro momento
da história de nossa civilização, estamos preparados para detectá-los e prever trajetórias com
dezenas de anos de antecedência, tendo, em princípio, tecnologia para impedir sua eventual
queda sobre nosso planeta. No entanto, certamente, em alguns milhares de anos, nosso planeta
se extinguirá, seja por esgotamento de suas reservas, por uma colisão inevitável ou até pela
expansão da atmosfera solar. Sobre essa última possibilidade, vamos tratar a seguir.
Como você já sabe, o Sol, nossa fonte de energia, uma estrela gasosa, se mantém em
equilíbrio pelo balanço entre a força de atração gravitacional – que tenta reduzir seu tamanho
– e a forte pressão – que tenta fazê-lo expandir-se. Assim, de um lado, temos a massa e, de
outro, a temperatura.
Um dos resultados mais importantes da física moderna foi o da equivalência entre massa
e energia. A famosa equação de Einstein:
E = mc2
Em que
E é a energia do corpo,
m, sua massa e
c, a velocidade da luz.
Isso significa que se a massa m de um corpo for convertida em energia, a
energia obtida terá uma quantidade que é igual ao produto da massa pela
velocidade da luz elevada ao quadrado. Por exemplo, se nós conseguíssemos
converter uma massa de 1,0 kg de água em energia, a quantidade de energia
que seria fornecida por esse quilograma de água seria:
E =?
m = 1, 0kg
c = 300.000.000m/s → c2 = 9 × 1016 m2 /s2
Ou seja,
E = mc2 = 1, 0 × 9 × 1016
E = 9 × 1016 J
Como 1, 0KW h = 3 × 106 J e como o Brasil produz da ordem de
4, 8 × 107 kW então, a energia liberada na transformação de 1,0 kg de água
seria suficiente para abastecer o Brasil durante uma hora.
Após esse período de expansão, ele sofrerá uma grande queda de temperatura, permitindo
que mais uma vez a gravidade vença e, então, voltará a se contrair, ficando menor do que antes.
Durante a contração, a temperatura do Sol irá aumentar, ficando nesse movimento de expansão
e contração, até extinguir sua energia, quando se transformará, em dezenas de bilhões de anos,
em uma estrela morta. Esse é o destino de todas as estrelas semelhantes ao Sol.
Outras, mais massivas (isto é, com massa maior), durante o processo de contração,
acabam atingindo tão grande densidade que se transformam em um objeto super-massivo,
A origem desse nome deriva do seguinte fato: quando se aponta um telescópio para
um local no Universo onde existe um desses objetos (um buraco negro), de lá, não vem
nenhum tipo de radiação e o que se observa é uma verdadeira escuridão em toda a faixa do
espectro eletromagnético.
Assim, vemos que o destino das estrelas e planetas é semelhante, mas se dá através de
processos físicos muito diferentes. É através desses processos, entretanto, que o Universo
e a vida se renovam, pois se não fossem as explosões de estrelas, as super-novas, não
existiria, por exemplo, o oxigênio, já que essa substância química, como muitas outras, é
gerada em ambientes de temperaturas muito altas, como os que existem nas estrelas em
processo de explosão.
Próximos passos
No dia 20 de julho de 1969, o Homem chegou à Lua. Essa façanha foi muito bem resumida
na frase de Neil Armstrong “Esse é um pequeno salto para o Homem, mas um grande salto para
a Humanidade”. De lá para cá, não enviamos seres humanos para longe da Terra, o mais que
fazemos é enviá-los para estações espaciais que giram em torno da Terra, a atual é a estação
internacional. No entanto, nosso conhecimento sobre o Universo tem se expandido em escala
astronômica. Atualmente, veículos robôs deslizam sobre a superfície de Marte, nos revelando
a cada dia um planeta surpreendente onde a água já jorrou em abundância e hoje é um mundo
árido e inóspito. Chegamos a Saturno, atravessamos seus anéis com a sonda Cassini-Huygens,
uma missão espacial desenvolvida em conjunto pela NASA e ESA (Agência Espacial Européia,
envolvendo ao todo 16 países) e, de lá, mergulhamos com a sonda Huygens através da densa
atmosfera de Titã, a maior lua de Saturno, e atingimos sua superfície, gerando, durante a descida,
uma quantidade fabulosa de dados e imagens sobre essa Lua distante (visite o site http://esa.
int/SPECIALS/Cassini-Huygens/SEM696HHZTD_0.html para obter maiores informações sobre
essa missão espacial).
Autoavaliação
O filme Cosmos, documentário apresentado pelo famoso biólogo da NASA, Carl Sagan,
trata do Universo, de nosso lugar nele e na Terra, nos alertando sobre a importância e a
singularidade do nosso mundo no Universo conhecido. Esse documentário, dividido em 12
partes e produzido ainda nos anos 70/80, merece ser visto por todos os que têm interesse em
ciências, desde a Física e a Astronomia até a Biologia e a Ecologia.
O Brasil desenvolve atividade espacial desde a década de 60. Faça uma pesquisa na
2 Internet sobre o “Programa Espacial Brasileiro”. Veja, por exemplo, o site www.aeb.
gov.br ou www.inpe.gov.br.
dizem que
em algum ponto no cosmos
(le silence éternel de ces espaces infinis m’effraie)
um pedaço negro de rocha
– do tamanho de uma cidade –
voa em nossa direção
perdido em meio a muitos milhares de asteróides
impelido pelas curvaturas do tempo e do espaço
extraviado entre órbitas e campos magnéticos
voa em nossa direção.
e quaisquer que sejam os desvios
e extravios de seu curso
deles resultará, matematicamente,
a inevitável colisão
não se sabe se quarta-feira próxima
ou no ano quatro bilhões e cinqüenta e dois
da era cristã.
(GULLAR, 2005)
BEZERRA, Arnaldo, M. Aplicações práticas da energia solar. São Paulo: Ed. Nobel, 1990.
LAROCCO, Chris; ROTHSTEIN, Blair. The big bang: it sure was big. Disponível em: <http://
www.umich.edu/~gs265/bigbang.htm>. Acesso em: 20 maio 2005.
LONGAIR, Malcolm. As origens de nosso universo. Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 1994.
(Coleção Ciência e Cultura).
MORRIS, Richard. O que sabemos sobre o universo: realidade e imaginação científica. Rio
de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 1999. (Coleção ciência e cultura).
Aula
15
Apresentação
Esta é a última aula da disciplina Ciências da Natureza e Realidade. A partir de uma
perspectiva sistêmica, você aprenderá a caracterizar e correlacionar a região Nordeste, o
homem que a habita e a seca, seu problema mais eminente, a conceitos e apreciações físicas,
químicas e biológicas já descritas nas aulas anteriores.
Objetivos
Permitir a você:
o que é o Nordeste?
o que é a seca?
A primeira, de âmbito geral, tem por objetivo situar e caracterizar a região sob o ponto
de vista físico, químico e biológico. A segunda, mais específica, tem como intento distinguir
as variáveis que contribuem para ocorrência do fenômeno da seca e discuti-las de forma que
no decorrer de nossa progressão científica possamos apontar soluções que contribuam para
atenuar o problema em foco.
A região Nordeste
A divisão do Brasil em regiões no decorrer do Império (1822-1889) até a República Velha
(1889-1930) era pouco precisa, constando das províncias e Estados do Norte, do Pará à Bahia;
das províncias e Estados do Sul, do Espírito Santo até o Rio Grande do Sul. Até então, inexistia
a Amazônia brasileira e as regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul.
O quadro que caracterizou o Nordeste como região principiou com as secas que abateram
a região no final do século XIX e início do século XX e que motivaram dois atos de extrema
importância para a região emergente: o primeiro sendo a criação da Inspetoria Federal de Obras
Contra as Secas (IFOCS), em 1906, pelo então presidente do Brasil, Nilo Peçanha; o segundo,
a delimitação, em 1936, do polígono da Seca, compreendendo uma área de 936.993 km2.
O Nordeste físico
Situada entre os paralelos de 01o02’30’’ de latitude norte e 18o20’07’’ de latitude sul, entre
os meridianos de 34o47’30’’ e 48o45’24’’ a oeste de Greenwich (Figura 2), a região Nordeste
limita-se a norte e a leste com o Oceano Atlântico; ao sul com os Estados de Minas Gerais e
Espírito Santo e a oeste com os Estados do Pará, Tocantins e Goiás.
Duas são as características que marcam essa região. A primeira, a vasta extensão litorânea
banhada pelo Oceano Atlântico que atesta o alto grau de maritimidade da região, 2,5 vezes
maior que o brasileiro; e a segunda, a grande extensão semi-árida interior que se estende desde
o Piauí à Bahia e que representa 62% da área total da região (ALBUQUERQUE, 2005, p. 08).
A maior parte da sua extensão é constituída por um planalto de formação geológica antiga.
No entanto, devido à diversidade de características físicas da região, ela é dividida em quatro
sub-regiões: Zona da Mata, Agreste, Sertão e Meio Norte (ANDRADE,1998, p. 25).
Atividade 1
Fazendo uso da Internet, site (http://www.heavens-above.com/), determine
as coordenadas geográficas do seu município.
Por sua vez, a classificação dos minerais é feita de acordo com critérios químicos e
cristalográficos, a partir dos quais estes são agrupados em nove famílias a serem trabalhadas
brevemente na disciplina Mineralogia.
O Nordeste hidrográfico
Como já sabemos, a hidrosfera é a parte da biosfera correspondente ao meio líquido que
recobre sete décimos da superfície planetária. A ciência que estuda a ocorrência, a distribuição
e a dinâmica da água na Terra é nomeada de Hidrologia, do grego hýdor, água + lógos, tratado.
A Hidrogeologia, do grego hýdor, água + gê, terra + logos, tratado, é o ramo da geologia
que estuda a circulação das águas no solo e subsolo e as interações da geologia com as águas
da superfície terrestre.
Bacias Hidrográficas
1 Amazônica
2 São Francisco
3 3 Platina
Por sua vez, a Hidrografia, do grego hýdor, água + graph, resíduo de graphein, descrever,
é o ramo da Geografia associado ao estudo dos diversos lugares ocupados pelas águas, na
superfície da Terra.
As três principais bacias hidrográficas do Brasil são, segundo VESENTINI (1990, p. 184):
a Amazônica (AM), a Platina (PT) e a do São Francisco (SF) (ver Gráfico 2a). São bacias
secundárias as das regiões Nordeste (NE), Leste (LE) e Sudeste-Sul (SS) (ver Gráfico 2b).
Gráfico 2 – Brasil – Bacias Hidrográficas
gráfico 2a
A dinâmica da água no planeta é caracterizada pelo seu ciclo biogeoquímico (ver Figura
4). Como sabemos, são os estados de agregação que caracterizam a matéria, e a água co-
existe nos estados: líquido, sólido e gasoso. Portanto, ela circula facilmente entre os três
compartimentos que caracterizam a biosfera terrestre, dentre os quais o que armazena maior
volume de água é a hidrosfera, 363 milhões de km2 sobre um total de 510 milhões de km2,
seguido da litosfera e, por fim, da atmosfera (RAMADE, 1984, p. 239).
Condensação
Sol
Atmosfera
Fusão
Oceano Filtração
Escoamento Lençol
d’água freático
por percolação (filtração, sob pressão, de um líquido através de um meio sólido), migrando
lentamente através dos solos.
A partir das vias de circulação da água por infiltração e percolação, ocorre a alimentação
dos lençóis freáticos (reservatórios de água subterrâneos).
A interação da água com o meio litosférico ocorre de duas maneiras: a primeira, lenta,
contribuindo quimicamente para a fertilização do solo; e a segunda, rápida, a partir da qual
observa-se a erosão progressiva do solo, fato extensivamente comum na região Nordeste.
O clima
De acordo com o Glossary Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC – (Painel
Intergovernamental sobre Mudança de Clima),
Como vemos, a região Nordeste sofre a influência de fenômenos de natureza física como
El Niño, além de ser uma zona de confluência de climas, tais como:
Clima Tropical tendendo a Seco pela irregularidade das massas de ar (Clima Semi-
Árido) – abrange o Sertão Nordestino, sendo ponto de convergência das massas de
ar Equatorial Continental (mEc), Tropical Atlântica (mTa), Equatorial Atlântica (mEa),
e Polar Atlântica (mPa), ver Figura 6;
Não é a brisa que chega do mar Aqui posso levantar uma tempestade
Mas um frio húmido de rachar Mais além um enorme furacão
Até nosso corpo todo se arrepia Em qualquer lado provoco um terremoto
Quando agredido por forte ventania. Crio o fogo das entranhas dum vulcão.
A Flora
A região Nordeste possui uma cobertura vegetal diversificada. Na sua diversidade,
encontramos resquícios da Mata Atlântica, o cerrado que campeia o sul do Maranhão, o
sudoeste do Piauí e oeste da Bahia, a caatinga que tão bem caracteriza o semi-árido, as dunas
e os mangues, partes integrantes do litoral da região.
A Mata Atlântica, a mais extensa, se estende desde o cabo de São Roque, no Rio Grande do
Norte, até o Rio Grande do Sul. Ela avança do litoral para o interior do continente, estendendo-
se por uma faixa média de 200 km, compreendendo a Zona da Mata litorânea (ver Figura 2).
Por sua vez, a restinga, formação vegetal pouco densa, apresenta como característica
árvores de troncos finos que eclodem normalmente em terrenos arenosos do litoral. Em meio
a costa associada com a vegetação típica das praias e dunas encontram-se gramíneas, salsa
de praia, capim de areia, entre outras, submetida à ação contínua dos ventos impregnados de
spray salino provindos do mar. Com aspecto peculiar resultante da combinação envolvendo
água e areia salgada, essa vegetação com características arbustiva e herbácea praticamente
se estende por quase todo o litoral tropical do mundo.
• Árvore: Vegetal lenhoso que apresenta mais de três metros de altura constituído por
tronco, galhos, ramos e folha.
• Arbusto: Vegetal lenhoso, desprovido de tronco que tem ramificações desde a base.
• Erva: Vegetal pequeno, de talo macio, cujas partes verdes morrem em menos de um ano.
Atividade 3
A partir dos versos de “Matança” escritos por Jatobá, você é capaz de identificar
algumas das espécies vegetais presentes na sua região? Faça um inventário das
espécies mais comuns da sua região.
Matança
Elomar Figueira De Melo - por Jatobá; Interpretes: Elomar, Geraldo Azevedo, Vital Farias e Xangai
O ar que se respira
Flora (1) (2) >56.000 ... ... (3) 932 380 ... 4.400 ... ... ... 8.000 ... ...
Aves 1677 550 32 107 60 180 29 113 ... 197 188 ... 2
Répteis 468 (4) 1.000 340 348 ... 837 20 346 5 (5) 849 60 476 ...
Anfíbios 517 163 12 47 ... 113 32 ... ... 340 87 ... ...
Insetos 10.000.000 ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Invertebrados 13.320 ... ... ... 14.425 ... ... ... ... ... ... ...
Peixes H2O
3.000 ... ... 185 106 ... ... 283 ... 350 133 50 12
Doce
END. = Endêmicas; (1) O número de espécies da flora dos Biomas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica é estimado entre 10.000 e 21.000
espécies fanerogãmicas. (2) Para os Biomas Cerrado e Mata Atlântica são apresentados números estimados de espécies vegetais endêmicas.
(3) O número de espécies da flora do Bioma Caatinga corresponde às espécies vegetais, já registradas e catalogadas cientificamente. (4) Valor
aproximado. (5) Exclui as espécies citadas como acidentais, marinhas, insulares, introduzidas e visitantes.
Fonte: IBGE – Indicadores de desenvolvimento sustentável – Brasil 2004 Dimensão Ambiental - Biodiversidade.
Muito embora a caatinga aparente ser um bioma pobre, de acordo com a Tabela 1,
ela revela ser um celeiro de espécies endêmicas e de múltipla constituição vegetal. Além
disso, enfatizamos que dentre os ecossistemas brasileiros, a caatinga é o menos conhecido,
fato atestado pela descoberta e caracterização de novas espécies, com base em trabalhos
desenvolvidos por botânicos e zoólogos.
A partir do Cordel Fauna Nordestina, escrito por Daniel Fiúza, Usina de Letras, http://
www.usinadeletras.com.br/, você é capaz de identificar alguns dos animais presentes
na sua região? Faça um inventário dos animais mais comuns da sua região.
Fauna Nordestina
Autor: Daniel Fiúza
Figura 7A Figura 7B
Quanto à migração humana para as terras brasileiras, entre 12.000 e 9.000 anos
a.C., duas áreas férteis em dados arqueológicos são levadas em consideração, a primeira
compreende a Bacia Amazônica e a segunda ao Planalto Central, ambas ocupadas por incursões
sucessivas do Homo Sapiens. Por sua vez, a ocupação do nordeste brasileiro ocorreu ao final
do Período Pleistoceno, dando-se a partir do Planalto Central por incursões de caçadores
que se estabeleceram próximos aos mananciais aquáticos, o que possibilitou a adaptação
progressiva da espécie às condições áridas da região. Nesse mesmo período, coabitavam
a região espécimes como o tigre dente-de-sabre, o mastodonte, a preguiça e o tatu gigante,
componentes da mega-fauna local (MARTIM, 1999, p. 24-26).
De acordo com o censo de 2000, realizado pelo IBGE, a população da região Nordeste
foi estimada em 47.819.334 habitantes, valor correspondente a 28% da população nacional,
sendo a sua taxa média de crescimento anual igual a 1,1%. Ela está distribuída nos estados
conforme mostra a Tabela 2.
Estado População
Maranhão 5.660.255
Piauí 2.847.489 Nos Estados que compõem a região
Ceará 7.444.000 Nordeste do Brasil, encontra-se inserida
a região semi-árida (969.589,4 km²) mais
Rio Grande do Norte 2.780.176
populosa do planeta, com 19.343.579
Paraíba 3.445.125
habitantes, assim distribuídos: 10.936.851
Pernambuco 7.930.964 habitantes na área urbana e 8.406.728
Alagoas 2.826.575 habitantes na área rural.
Sergipe 1.788.747
Bahia 13.096.003
Fonte: IBGE
Por ser dentre as regiões semi-áridas do planeta a mais populosa, o Nordeste brasileiro
enfrenta problemas sérios que interferem efetivamente no seu desenvolvimento, os mais
comuns são: a distribuição de terras, a concentração de renda, a seca e, sobretudo, o
analfabetismo.
A Seca
Evoluindo em meio ao Nordeste brasileiro, a região Semi-Árida (o Sertão) apresenta um
balanço hídrico deficitário, decorrente das precipitações médias anuais inferiores a 800 mm
de água. O seu clima se caracteriza por apresentar temperaturas médias anuais no intervalo de
24° a 30°C, enquanto a insolação média que permeia o ambiente, tempo durante o qual o sol
está descoberto irradiando localmente, situa-se entre 2800 e 2900 horas/ano. Outro fenômeno
a ser enfatizado é a evapotranspiração resultante de duas contribuições: a primeira, sendo a
evaporação direta (evolução física sofrida pela água ao passar do estado líquido para o estado
de vapor) que se dá a partir da água dos solos humidos e dos diferentes mananciais aquáticos
da região; e a segunda, a transpiração dos vegetais. Relatamos que boa parte do vapor d’água
presente na atmosfera resulta da transpiração das plantas. As raízes dos vegetais captam a
água presente no solo e a conduz por osmose através dos seus vasos capilares; nas suas
folhas, através de seus estômatos (microporos), parte da água se evapora e parte é utilizada
pelo vegetal para a realização do processo de fotossíntese.
Autoavaliação
Acesse a Internet, no endereço http://earth.google.com/, e grave a versão livre (free) do
programa Get Google Earth, em seguida, instale-a em seu computador. De posse do programa,
visualizando o globo terrestre, mais especificamente, a América do Sul:
localize cada uma das capitais dos Estados da região Nordeste descrevendo-as
2 brevemente a partir da imagem visualizada;
Nesta atividade, o aluno, além de já ter o programa GET Google Earth instalado no
computador em que trabalha, deverá contar com a ajuda do tutor com a finalidade
de aprender a manipular as opções oferecidas pelo programa.
IPCC Glossary 2001. Intergovernmental Panel on Climate Change, “Third Assessment Report
– Annex B, Glossary of Terms”, 2001, p.368. Disponível em: <http://www.ipcc.ch/pub/syrgloss.
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