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A LGBTfobia se define, de uma forma geral, por qualquer tipo de conduta que seja

motivada por uma aversão à identidade de gênero ou orientação sexual de alguém, e que
possa causar danos morais ou patrimoniais, violências físicas, psicológicas ou sexuais. Essas
condutas violentas, discriminatórias e de cerceamento de direitos fazem com que o Brasil, de
acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), permaneça no topo
do ranking mundial de países que mais matam pessoas LGBTQIAPN+ no mundo pelo décimo
quinto ano consecutivo. A manutenção dessa violência se percebe, principalmente, na
institucionalização de discursos preconceituosos e projetos de omissão postos em prática, na
maior parte dos casos, por governos de extrema direita. Em 2022, a Confederação Nacional
dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em
Saúde (CNTS) denunciaram ao Supremo Tribunal Federal a instrumentalização do Disque
100, canal antes utilizado para denúncias de violações de direitos, que passou a ser usado
como uma ferramenta de perseguição política pelo então governo da época. Essas entidades
afirmaram que o canal, supervisionado pelo antigo Ministério da Mulher, Família e Direitos
Humanos, era utilizado para constranger profissionais da educação e demais cidadãos
contrários às visões ideológicas do governo anterior em temas como identidade de gênero e
orientação sexual. Percebem-se, a partir desse e de outros variados casos, sucessivas tentativas
de perseguição e opressão por parte tanto de instituições governamentais e entidades
abertamente anti-lgbt e anti-trans, quanto de figuras públicas, ligadas à política ou não, cujo
objetivo principal é o de traçar estratégias discriminatórias para manter o Brasil como um dos
países mais LGBTfóbicos do mundo, apesar de alguns avanços.
Uma das estratégias mais comuns e eficientes utilizadas por grupos conservadores que
promovem a violência à comunidade LGBTQIAPN+ é a propagação e disseminação de
notícias falsas, as chamadas “Fake News”. Dentro da era da tecnologia e da expansão de
cyber-espaços, as fake news se mantêm como o principal instrumento de violência sistemática
contra pessoas homossexuais, bissexuais, transexuais, travestis e todas as demais identidades
que a sigla da comunidade engloba. Essa disseminação massiva de notícias falsas objetiva
atacar socialmente grupos minoritários e incentivar discursos de ódio através do pânico moral,
transformando a LGBTfobia em um projeto político. Grupos e figuras anti-lgbt atacam a vida
e os direitos da comunidade por meio da desinformação e distorção de conceitos, seja
fabricando pesquisas e dados cientificamente inconsistentes, seja simplificando de forma
excessiva o conhecimento científico, a fim de adequar a (des)informação aos seus interesses
políticos e ideológicos. As fakes surgem das mais diversas formas, dos mais diversos lugares,
podendo ser compartilhadas tanto por perfis falsos, não identificados ou perfis programados,
quanto por figuras públicas influentes nas redes sociais. De acordo com um levantamento
realizado em 2023 pela Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getúlio
Vargas, o debate sobre pessoas trans, por exemplo, é dominado por grupos com perfil
ideológico de extrema direita na rede social Facebook. O estudo afirma que “O sentimento
atrelado às postagens encontradas em grupos com viés político de extrema direita é
predominantemente negativo. Os temas ‘Ideologia de gênero’ e ‘Banheiros neutros quanto a
gênero’ destacam-se neste padrão, com mensagens que interseccionam desinformação sobre
direitos de pessoas trans e discurso de ódio”. Ainda em 2023, o deputado Nikolas Ferreira
(PL-MG) postou uma fake news, em uma de suas redes sociais, relacionada à 27ª Parada do
Orgulho LGBTQIAPN+, ocorrida dia 11 de junho. Na ocasião, o deputado compartilhou
imagens descontextualizadas e as associou ao evento, seguido de falas preconceituosas e
discriminatórias. No mesmo ano, segundo dados publicados pela ANTRA, houve um aumento
de 10,7% no número de casos de assassinato de pessoas trans e travestis, e de janeiro a abril,
de acordo com a associação Grupo Gay Bahia, 80 assassinatos contra pessoas LGBTQIAPN+
foram registrados nos quatro primeiros meses de 2023 (pessoas trans e travestis representam
62,5% desse número). A partir da análise desses dados e do aumento de discursos
preconceituosos massivamente compartilhados por grupos conservadores, mostra-se inegável
a relação entre as propagandas de ódio disseminadas por meio de notícias falsas e o crescente
número de violência contra a comunidade LGBTQIAPN+, seja essa violência psicológica,
física ou pela violação de direitos, seja através do impedimento de acesso a espaços públicos,
tentativas de homicídios ou assassinatos.

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