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Pesquisa “Percepções sobre o racismo” do Instituto de Referência Negra

Peregum e Projeto Seta é divulgada na imprensa nacional

A pesquisa encomendada pelo Instituto de Referência Negra Peregum e Projeto Seta, e realizada pelo
IPEC (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica) foi divulgada em recentes publicações da
imprensa nacional. Dados importantes sobre como a população brasileira enxerga o racismo ganharam
espaço nas três edições do Jornal da Globo, na Folha de São Paulo, no Estadão, Nexo, Carta Capital e
também na mídia independente.

A grande imprensa citou dados relevantes da pesquisa. O Jornal da Globo, da TV Globo, por exemplo, fez
um levantamento das principais percepções da população onde 51% dos entrevistados afirmam já ter
presenciado alguma situação de racismo e 81% concordam que o Brasil é um país racista. A emissora
também divulgou sobre a percepção de tratamentos diferenciados pelas instituições de segurança
pública, onde 79% acreditam que a polícia se baseia na cor da pele e fenótipos como cabelo, roupa na
hora da abordagem e 84% afirma que a polícia trata de forma diferente pessoas brancas e pessoas
negras.

Em entrevista ao Jornal o coordenador executivo de projetos do Peregum, Marcio Black fala como a
população brasileira vem reconhecendo o racismo no seu dia a dia. “Reconhecem que o racismo é o
principal fator gerador de desigualdade hoje no Brasil, que as pessoas negras sofrem mais violência
policial, que as pessoas negras têm menos acesso a oportunidades de trabalho, de acesso a renda, de
educação. Isso abre uma oportunidade também de entender onde estão as lacunas nas quais a gente
precisa atuar para superar justamente essas desigualdades que o brasileiro já consegue perceber”,
afirma o coordenador

O Jornal da Globo também destacou um dado que aponta para as instituições de ensino, 38% das
pessoas que afirmam ter sofrido algum tipo de racismo relatam que a violência ocorreu dentro dos
espaços de educação formal. Marcio Black fala da ausência de uma abordagem profunda sobre racismo
dentro das escolas que afasta a compreensão da diversidade e faz com que jovens continuem
reproduzindo e perpetuando o racismo, o coordenador cita também a importância de pautarmos uma
educação antirracista.

“Como que a gente qualifica melhor esse espaços para que as nossas crianças não precisem passar
por essas violências logo cedo, e a gente entende que, por um lado, elas vão sofrer essas violências ao
longo da vida, se a gente não conseguir estancar isso ali na escola, os estudantes brancos vão continuar
reproduzindo a violência sem estarem bem informados sobre o que está acontecendo”, explica o
coordenador Marcio Black.

Um país que reconhece o racismo, mas não reconhece os racistas

Em publicação, na Folha de São Paulo, foi destacado que os brasileiros afirmam viver em um país
racista, mas negam descriminação. A pesquisa mostra que 81% das pessoas entrevistadas, o Brasil é
um país racista. No entanto, apenas 11% afirmaram ter atitudes discriminatórias.

Em entrevista para o jornal, a historiadora Ana Paula Brandão, gestora do projeto Seta, aponta o motivo
pelo qual a pesquisa leva a uma contradição: a população, majoritariamente, reconhece a existência do
preconceito motivado por raça, mas não acredita reproduzi-lo. “Há um desconhecimento sobre o
racismo ser algo estrutural”, diz.
O podcast de notícias “Durma com essa”, do Nexo Jornal, aponta que essa contradição já foi
identificada em outros estudos. Em entrevista, o sociólogo Thales Vieira que é co-diretor do centro de
pesquisa “Observatório da Branquitude” comentou sobre o dado.

“É sintomático que diferentes institutos, organizações, com diferentes metodologias, em diferentes


tempos, tenham chegado à mesma conclusão, que o brasileiro concorda que vive num país racista, mas
não pratica racismo, e não conhece quem o pratica. É como se houvesse um crime que só produzisse
vítimas, mas não tivesse algoz”.

Nas palavras do sociólogo, não é à toa que houve um crescimento muito forte de estudos sobre a
branquitude, que buscam colocar em perspectiva o racismo sobre a ótica de quem o exerce e garante
vantagens simbólicas e materiais diante dessa estruturalidade. “Não é mais possível analisar esses
fenômenos sócio-raciais brasileiros se elencar o branco e suas estruturas de privilégio que são fincadas
nesse racismo que tem raízes históricas lá na escravização, mas que são reificadas diuturnamente, sem
essa implicação o racismo seguirá como esse crime sem autoria”. afirma Thales Vieira.

O jornal O Estado de São Paulo também abordou essa contradição na forma como a população
brasileira reconhece as formas de materialização do racismo. O jornal destacou dados sobre como o
racismo é percebido em ambientes sociais, onde apenas 10% dizem que trabalham em instituições
racistas, 13%, que estudam em instituições educacionais racistas, 12% que integram uma família racista,
36%, que convivem com pessoas que têm atitudes racistas.

Para Marcio Black, esses dados deixam claro o poço de contradições que é o racismo no Brasil. “Por
isso mesmo a gente consegue entender porque ele se perpetua tanto no tempo e no espaço. Ele vai
criando essas contradições e vai mascarando muitas das relações sociais que a gente vive.”

A criminalização tem cor

A mídia independente que atua cotidianamente na desconstrução da narrativa hegemônica também


divulgou a pesquisa. O enfoque foi em apresentar os dados sobre criminalização e descriminação racial.
O Alma Preta Jornalismo divulgou a avaliação unânime entre os brasileiros de que pessoas pretas são
as que mais sofrem com o racismo (96%), indígenas (57%) e imigrantes do continente africano (38%)

O Uol também divulgou dados sobre a criminalização da população negra, onde uma maioria expressiva
(88%) alega que essa parcela da população é mais criminalizada do que os brancos.

Tivemos destaque também no portal “Periferia em Movimento” que trouxe dados sobre o
reconhecimento do racismo em abordagens policiais e evidenciou a fala de Ana Paula Brandão, gestora
do Projeto Seta e Diretora Programática da Actionaid.

“Esses dados escancaram o racismo no Brasil, e demonstra que a população em geral reconhece o
racismo em uma das suas faces mais cruéis: a violência institucional, no caso específico, a policial. De
forma prática, ela é reflexo do racismo que estrutura nossas instituições, da maneira como
naturalizamos a violência contra as pessoas negras e as moradoras de periferia – cuja a maioria é
negra”, analisa Ana Paula

Fonte:
https://peregum.org.br/2023/08/02/pesquisa-percepcoes-sobre-o-racismo-do-instituto-de-referenci
a-negra-peregum-e-projeto-seta-e-divulgada-na-imprensa-nacional/

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