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DIVERSIDADE

8 em cada 10 pessoas consideram o


Brasil um país racista, aponta
estudo
Ao se olhar no espelho, porém, poucos se enxergam como alguém capaz de ter atitudes
racistas
POR   MARIANA SERAFINI   |   27.07.2023 14H35

Marcha das Mulheres Negras Contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver, 2015, em Brasília - Foto: Marcello Casal
Jr/ABR

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33
homens
play_circle_outline grap
são
O Brasil é um país detidos
na
racista. O diagnóstico Venezuela
por
foi confirmado por estarem
em uma
81% das pessoas sauna
ouvidas em um gay

estudo inédito sobre a


Parlament
percepção do racismo criam a
primeira
na sociedade bancada
LGBT+ do
brasileira. Ao se olhar Brasil
no espelho, porém,
poucos se enxergam Por que
comemora
como alguém capaz o Dia
Internacio
de ter atitudes da Mulher
Negra
racistas – apenas Latino-
Americana
11% admitem o Caribenha
preconceito. A
pesquisa foi realizada Governo
lança
pelos pesquisadores programa
para
do instituto Ipec, com financiar a
pós-
brasileiros de mais de graduação
de
16 anos em 127 mulheres
negras no
municípios ao longo exterior
do mês de abril. A
amostra é semelhante
à de pesquisas
eleitorais de
abrangência
nacional. 

O estudo, elaborado a
partir da necessidade
dos movimentos da
luta antirracista de
obter um panorama
para se avançar rumo
a uma sociedade
menos
preconceituosa, foi
proposto pelo Instituto
de Referência Negra
Peregum, e pelo
Sistema de Educação
por uma
Transformação
Antirracista,
conhecido como
Projeto Seta. “Existem
muitos estudos sobre
racismo, mas nós
sentíamos falta de
uma abordagem
racializada, a partir de
organizações negras”,
explica Márcio Black,
coordenador de
projetos do Peregum.
“Com essa pesquisa,
temos o objetivo de
pautar o debate de
questões raciais na
opinião pública”. 

Para Ana Paula


Brandão, gestora do
Seta e diretora
programática na
ActionAid, a pesquisa
revela as marcas de
um passado
escravagista. “Se nós
olharmos por uma
perspectiva histórica,
a escravidão no Brasil
foi ontem. Então
ainda vivemos com os
resquícios de uma
sociedade que uma
parte da população foi
escravizada por
outra”, analisa. “O
problema é que a
percepção do racismo
é muito difusa”, alerta.
“Todo mundo percebe
que se trata de
racismo quando é
uma cena que choca,
como foi o episódio
do jogador Vinícius
Jr., ou aquela mulher
na Zona Sul carioca
que chicoteou uma
pessoa negra. A
grande dificuldade,
porém, está nas
pessoas perceberem
que o racismo é
estrutural e
estruturante”. 

Seu e-mail

A educadora observa
que o racismo mora
no cotidiano, na
diferença salarial
entre pessoas negras
e brancas, nas
hierarquias
estabelecidas nas
empresas, na
ausência do assunto
em sala de aula, na
naturalização de
trabalhos
considerados
subalternos serem
desempenhados na
maioria das vezes por
pessoas pretas e
pardas. “É um
preconceito enraizado
na sociedade
brasileira, e por isso
as pessoas não se
percebem como
racistas”. 

Segundo a pesquisa,
88% concordam que
pessoas negras são
mais criminalizadas
que pessoas brancas;
e 79% acreditam que
abordagens policiais
são baseadas na cor
da pele, tipo de
cabelo e tipo de
vestimenta; já 84%
percebem que
brancos são tratados
de forma diferente
pela polícia. Para a
urbanista e escritora
Joice Berth, “esses
números revelam
fatos que as pessoas
negras sabem desde
a infância, porque
sofrem com o
preconceito desde
pequenos”. 

 Fonte de ambos os gráficos:

Pesquisa “Percepções sobre

Racismo no Brasil”.

O Ipec consultou 2 mil brasileiros

com 16 ou mais anos de idade,

“Existe uma
resistência em
compreender o
racismo nas suas
mais variadas
camadas e assimilar
seus efeitos. Se a
sociedade não
assumir a
responsabilidade de
primeiro compreender
isso, não vamos
chegar a uma solução
porque não é possível
resolver aquilo que
você acha que não
existe”, pondera
Berth, autora do
livro Empoderamento,
da coleção
Feminismos Plurais,
coordenada pela
filósofa Djamila
Ribeiro.

O estudo mostrou que


os espaços de
formação, seja
escola, faculdade ou
universidade, são
extremamente hostis
às pessoas negras,
38% dos
entrevistados já
sofreram racismo
nesses espaços. As
mulheres pretas são o
principal alvo, 63%
delas relatam já ter
sido vítimas de
violência racial. Nos
ambientes de
educação básica,
29% dos alunos
negros já vivenciaram
agressão física, e
segundo 64% dos
jovens entre 16 e 24
anos, a escola é onde
mais sofrem racismo.
“Esses números são
importantes para a
gente pensar sobre
evasão escolar. A
escola é o primeiro
ambiente onde as
crianças passam a
criar seus próprios
vínculos, e costuma
ser também o primeiro
lugar onde as
crianças negras
começam a vivenciar
o preconceito”,
explica Iraneide
Soares da Silva,
presidenta da
Associação Brasileira
de Pesquisadores
Negros. 

A boa notícia é que a


maior parte da
sociedade hoje é a
favor das políticas de
cotas. Entre os
entrevistados, 74% 
são a favor da reserva
de vagas para
pessoas negras e/ou
indígenas em
faculdades,
universidades,
concursos públicos e
empregos em
empresas privadas. “A
luta antirracista teve
um impacto enorme
com a chegada de
mais pessoas negras
nas universidades,
mudou a forma de
pensar, a percepção
de questões sociais, e
isso foi possível,
claro, graças às
políticas afirmativas.
Mas agora a gente
precisa acelerar o
passo, criar mais
políticas públicas, e
para isso, é
necessário
investimento robusto”,
analisa Brandão. 

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